Revista da APM 728 - Set/Out 2021

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ESPECIAL

ser louvada. “Alguns fatores colaboraram para a agilidade, como estudos de vacinas para outros coronavírus já estarem em curso. Bem como as diferentes tecnologias desenvolvidas para a produção e para o processamento de etapas, além de um investimento financeiro global”, ele lembra. Por outro lado, o conselheiro responsável pela Câmara de Vacinação acredita que, durante a pandemia, os discursos políticos interferiram na produção, na

“Fomos obrigados a ouvir coisas que não podíamos acreditar, vindas de autoridades, envolvendo jacarés e chips” GUIDO CARLOS LEVI Membro da SBIM

aquisição e na aceitação das vacinas ao redor do mundo. “Há correntes e contracorrentes que promovem um desserviço à imunização em geral, particular e especialmente em relação à vacina contra a Covid-19. Infelizmente, o nosso País é prova disso.” O aumento de cidadãos antivacina durante a pandemia, para Levi, tem relação direta com essas narrativas. “Tivemos, pelo mundo, presidentes e ministros que hesitaram em indicar e adquirir a vacina para a população. Temos muitos mortos por Covid-19, pois houve atraso na aquisição das imunizações, causadas por preconceito e informações incorretas. Fomos obrigados a ouvir coisas que não podíamos acreditar, vindas de autoridades, envolvendo jacarés e chips. Uma porção de coisas ridículas que atrapalharam muito a vacinação na pandemia.” O especialista da SBIM, onde também faz parte das Comissões de Ética e de Revisão dos Calendários Vacinais, chama atenção ao fato que a população brasileira, felizmente, está fazendo filas para tomar vacinas,

mesmo com toda essa circulação de fake news. “São pessoas que não se incomodam com os horários restritos, a falta de vacinas, em deixar alguém cuidando das crianças para poderem se imunizar. De qualquer forma, estamos melhor que a maioria dos países do mundo em termos de população vacinada.”

Sucesso das vacinas no Brasil

Em 1973, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu uma certificação indicando que a varíola havia sido erradicada no Brasil. O País tinha recém-concluído uma campanha contra a doença, iniciada em 1962, e o sucesso da empreitada foi fundamental para o estabelecimento de políticas públicas em Saúde mais robustas. Nesse contexto, nasceu o Programa Nacional de Imunizações (PNI), naquele mesmo ano. Atualmente, como nos mostra o artigo “46 anos do Programa Nacional de Imunizações”, publicado nos Cadernos de Saúde Pública (indexado nas principais bases bibliográficas internacionais), o Brasil é um dos países que oferece o maior número de vacinas de forma gratuita e o alto índice de cobertura vacinal, possibilitado pelo PNI, trouxe diversos avanços em termos de saúde pública. As taxas positivas contribuíram, por exemplo, para a significativa redução no número de casos de doenças imunopreveníveis, que nos anos 1980 eram endêmicas no País – ocorriam anualmente, cerca de 100 mil casos de sarampo, 80 mil casos de coqueluche e 10 mil casos de poliomielite. Entre diversos benefícios, a vacinação no Brasil diminuiu a incidência da meningite e de doenças meningocócicas, retirou o tétano neonatal da lista de problemas de saúde pública e reduziu os casos do tétano acidental. Também

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