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ENTREVISTA

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©DIVULGAÇÃO

João Carlos Marchesan

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Presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ

“Quanto mais rápida a vacinação, mais rápida a retomada”

João Carlos Marchesan é administrador de empresas, empresário e presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos. Desde 1995 é vice-presidente da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. É conselheiro do CIESP – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – desde 1995 e também é diretor do Departamento de Ação Regional da FIESP desde 2005.

Nesta entrevista para Borracha Atual, João Carlos Marchesan, faz um balanço do setor de máquinas e equipamentos em 2020, perspec� vas para 2021, do desempenho deste segmento industrial nos úl� mos anos, e também fala sobre os efeitos da pandemia da Covid-19 e como a indústria se prepara para voltar a crescer após a crise.

BORRACHA ATUAL: Quais os investimentos previstos para este ano pelo setor de máquinas?

João Carlos Marchesan: Estudo recente realizado pela ABIMAQ entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021 mostrou que os fabricantes de máquinas e equipamentos estão dispostos ampliar o inves� mento em 2021, mas, basicamente o aumento se deve à retomada de parte dos inves� mentos suspensos em razão da crise causada pela pandemia do Covid-19. O setor previa inves� mentos da ordem de R$ 7,6 bilhões em 2020, destes apenas R$ 5,1 bilhões foram efe� vamente reali-

“O Brasil nunca deixou de ser um polo atraente de investimentos devido ao tamanho do seu mercado doméstico.”

zados, queda de 32%. Para 2021 a previsão é de inves� mento de R$6,7 bilhões. Ainda abaixo do previsto em 2020, mas 31% superior ao efe� vamente realizado.

A maior parte dos fabricantes (36%) preveem u� lizar este recurso para ampliação da capacidade produ� va e 34% para modernização tecnológica do setor. Uma mudança na estratégia do setor, que até o úl� mo ano previa, na maioria, inves� mentos para reposição de máquinas depreciadas.

Como se comportarão as exportações de máquinas este ano?

O setor fabricante de máquinas e equipamentos é um dos maiores exportadores da indústria de transformação, cerca de um terço das suas vendas são realizadas no mercado externo. Nos úl� mos dois anos, no entanto, o setor amargou forte queda nas suas exportações. Incialmente em razão da guerra comercial entre Estados Unidos e China, desaceleração do mercado europeu e crise nos países da América La� na, com destaque à Argen� na, um dos nossos principais parceiros comerciais. Posteriormente em razão das medidas internacionais e nacionais para controle da pandemia do novo coronavírus. Assim, as exportações encolheram 5,9% em 2019 e 23,7% em 2020.

Em 2021, a recuperação da economia internacional – o FMI prevê crescimento do PIB de 5,5% – deverá favorecer as exportações do setor. Ademais, temos como fator posi� vo a paridade cambial, que mesmo com a valorização esperada para este ano, con� nuará favorável às exportações. O Brasil será um pólo atraente para investimentos? O que precisará ser feito para isto ocorrer?

O Brasil nunca deixou de ser um polo atraente para inves� mentos devido ao tamanho do seu mercado domés� co. Contudo, é primordial que se torne compe� � vo para que inves� dores possam também usá-lo como plataforma para exportação de produtos e serviços.

A ABIMAQ monitora, há anos, os fatores responsáveis pela perda de compe� � vidade da indústria instalada no Brasil. Tratam-se das assimetrias sistêmicas que encarecem o processo produ� vo, aquelas denominadas como “Custo Brasil” e inviabilizam desenvolvimento tecnológico e maior presença no cenário internacional. Cerca de 80% das assimetrias lá dimensionadas poderiam ser reduzidas com a correção de três fatores: 1. Custo do capital; 2. Sistema tributário e 3. Custo do insumo.

A mão de obra brasileira está treinada para os novos desafi os?

Na medida em que as novas tecnologias aumentem a par� cipação no cenário domés� co e que a indústria de transformação ganhe peso no desenvolvimento econômico, haverá demanda por mão de obra com alta qualifi cação, o que elevará a renda per capita do país. O tema da capacitação está intrinsicamente ligado à inovação, dado que o desenvolvimento tecnológico depende, em primeiro lugar, da existência de pessoas capacitadas, com vistas ao desenvolvimento de produtos e processos inovadores.

Esta qualifi cação, na maior parte das vezes, é feita dentro das fábricas. A indústria de máquinas e equipamentos, por exemplo, setor cuja mão de obra possui renda superior à média da indústria de transformação por ser altamente qualifi cada, é na sua maioria formada dentro do setor. Por isso a importância de se apostar na indústria de transformação para � rar o país da armadilha da renda média.

A formação profi ssional para a inovação tem alto impacto, tanto na trajetória do indivíduo como para a empresa. Nos países que lideram a Quarta Revolução Industrial os sistemas de formação profi ssional já foram ou estão sendo rapidamente adaptados para este novo paradigma, com a ampliação do sistema dual de aprendizagem, que concilia o ensino profi ssional e a prá� ca nas empresas.

No Brasil, estamos muito atrás neste ponto, que é nevrálgico. Precisamos urgentemente adequar nossas grades curriculares nos ensinos técnicos e superiores, alinhando a oferta de cursos às demandas do setor produ� vo, es� mulando o interesse nas áreas de ciências exatas, agrárias, saúde, tecnologia e engenharias, desde o ensino básico, e fundamentalmente, revisar os currículos de ensino superior, promovendo uma abordagem mais prá� ca, empreendedora e interdisciplinar, implementando o ensino dual, unindo a teoria na escola com a prá� ca nas empresas.

O nível tecnológico das empresas nacionais foi afetado pela pandemia?

Sempre que ocorre crise há impactos nega� vos no estoque de capital e no nível tecnológico das nações. No Brasil, as duas úl� mas crises reduziram as taxas de inves� mento em cerca de 5 p.p na úl� ma década. E foi com este quadro de inves� mento, em nível historicamente reduzido, que o Brasil foi surpreendido pela crise da pandemia da Covid-19.

“No Brasil, até o passado é incerto.”

Ainda que as vendas de máquinas e equipamentos produzidos localmente tenham melhorado em 2020, os inves� mentos – ainda não divulgados pelo IBGE – deverão registrar queda de 5% em 2020.

Perspectivas futuras. Quais os segmentos que poderão crescer de maneira sustentável este ano?

A expecta� va é que aqueles setores ligados ao setor agrícola, à infraestrutura e também alguns ligados ao setor de bens de consumo, tais como os de embalagem, alimentos industrializados e produtos de higiene pessoal e de limpeza sejam novamente os que puxarão a economia em 2021. Alguns também devem � rar vantagem da melhora do mercado internacional, são eles: fabricantes de componentes e máquinas para construção civil.

Qual é a capacidade ociosa média do setor no momento? Qual era na pandemia e é possível estabelecer um prazo para a produção voltar ao normal?

Hoje o setor de Máquinas e Equipamentos está com uma capacidade ociosa em torno de 27%, mas chegou a fi car com 35,5% durante a pandemia. Se considerarmos o valor normal como o pré-covid, o setor já voltou aos níveis normais, mas é importante salientar que já faz alguns anos que o setor está com baixos pedidos em carteira. Desta forma, a situação com bons níveis, ou seja, com ociosidade abaixo de 20%, como já observado em outras épocas, ainda levará um tempo. Quanto mais rápida a vacinação, mais rápida a retomada. Segundo dados recentes do IBGE, o setor de máquinas e equipamentos está entre os que mais cresceram no último trimestre dentro da indústria de transformação. Qual a receita para crescer dentro de uma crise tão intensa quanto a que estamos vivendo?

O setor de máquinas costuma apresentar um comportamento antecedente dos demais, ou seja, cresce e diminui antes. Isso se deve basicamente porque o setor responde aos inves� mentos dos demais. Poderíamos chamar o setor de Máquinas e Equipamentos como a “Indústria das Indústrias”.

Desta forma, quando os setores vislumbram algum crescimento no futuro, já se posicionam para atender àquela demanda, aumentando seus inves� mentos, o que consequentemente gera uma compra de máquinas, que podem ser para ampliação ou reposição de alguma já deteriorada. Contudo, ocorre o mesmo fenômeno quando a expecta� va é de queda, um dos primeiros itens a cortar são os inves� mentos.

Exposto isto, enxergamos como natural este comportamento um pouco melhor que os demais setores, neste início de retomada da atividade econômica.

Muito se tem falado na desindustrialização do país, principalmente após o caso Ford. A ABIMAQ acredita que este fenômeno esteja ocorrendo no setor?

A desindustrialização é um fenômeno que vem ocorrendo no Brasil há pelo menos 30 anos e que a� nge todos os setores industriais, com maior ou menor magnitude.

Há diversos fatores que levaram a esta situação, mas eu arriscaria dizer que os diversos anos de polí� cas macroeconômicas equivocadas que, mesmo em anos de crescimento do PIB, levaram ao encolhimento do market

“O Brasil deve transformar seu legado em potencial para construir uma agenda ativa e visível nos temas de meio ambiente.”

-share da indústria nacional e à redução das receitas, é um deles.

Vimos naquele período, de forte valorização do real e elevadas taxas de juros, cadeias produ� vas se desintegrarem, que geraram forte dependência nacional de insumos importados. A crise que culminou na subs� tuição da Presidente da República também teve sua importância. Depois daquele período, o País não conseguiu retomar o crescimento. Os inves� mentos públicos e privados caíram ao seu pior nível. A ausência de mo� vação ao desenvolvimento de novas tecnologias, da agregação de valor, de ações que permi� ssem a maior diversifi cação da pauta de exportação de bens manufaturados predominou. Há ainda a insegurança jurídica, no Brasil até o passado é incerto, a complexidade do sistema tributário entre muitos outros fatores. A lista pode ser imensa.

Existe clima político para aprovar as tão necessárias reformas estruturais no país?

Nossa expecta� va é que, com as eleições na Câmara e no Senado, pelo menos a reforma tributária evolua. Outras reformas, como a administra� va, vêm perdendo a relevância diante do aumento de casos de infecções; tudo indica que a prioridade no momento serão ações que permitam à economia brasileira superar em defi ni� vo esta crise de saúde.

A taxa Selic foi mantida em dois pontos percentuais. Para o setor de máquinas e equipamentos essa estabilidade é boa?

A taxa Selic em 2% a.a fi nalmente deixou de concorrer com o retorno dos inves� mentos produ� vos. Neste patamar, o inves� mento na indústria passa a ser uma a� vidade que remunera melhor que � tulos do tesouro. Nossa expecta� va agora é que os spreads bancários sigam esta tendência e permitam ao setor produ� vo a aquisição do capital de giro em níveis internacionais. Esperamos ainda que as taxas de juros de longo prazo disponíveis para fi nanciamento de inves� mentos também se reduzam; hoje quase 80% das vendas de máquinas e equipamentos são feitas com recursos próprios em razão das elevadas taxas de juros.

Qual é o refl exo para a indústria da transformação brasileira a mudança na presidência dos Estados Unidos?

Além de ocuparem o posto de maior economia do mundo, os Estados Unidos são atualmente o segundo maior parceiro comercial do Brasil, sendo o primeiro do setor de máquinas e equipamentos. Apesar da recessão econômica mundial causada pela pandemia da Covid-19, a corrente de comércio entre os países alcançou, em 2020, a marca de US$ 45,5 bilhões, representando 10,2% do total das exportações brasileiras. Para o setor de máquinas e equipamentos, a estabilidade das relações comerciais é especialmente importante, uma vez que cerca de 30% do mercado externo do setor é representado pelo país.

Apesar da pauta de comércio internacional não fi gurar entre as prioridades do novo governo, ao menos no início da gestão Biden, há espaço para a construção e aprofundamento da aliança entre o Brasil e os Estados Unidos. A consistência histórica da relação comercial e de inves� mentos mútuos e a assinatura recentemente do Pacote Comercial, aliadas a novos elementos favoráveis, como o fato de Biden ter conhecimento sólido sobre a relevância geopolí� ca e estratégica do Brasil na região da América La� na, podem ser facilitadores desta aproximação. Sendo referência mundial nos temas de produção de energia limpa e renovável, no qual está inserido o setor de máquinas e equipamentos, o Brasil deve transformar seu legado em potencial para construir uma agenda a� va e visível nos temas de meio ambiente, impactando assim não só a sua relação comercial com os Estados Unidos, mas com outras importantes economias. O pragma� smo deve ser o principal fator a conduzir a relação com os Estados Unidos, ampliando bene� cios para ambos os países.

Como fi caram os eventos organizados pela ABIMAQ em relação à sua realização? Há a possibilidade de acontecerem ainda em 2021, ainda que no formato virtual?

Alguns dos eventos realizados pela ABIMAQ e previstos para acontecerem em 2021 � veram suas datas alteradas devido ao cenário ainda desfavorável causado pela pandemia do Covid-19, caso da Plás� co Brasil, que teve sua data de março postergada para novembro/21. A Agrishow também mudou de abril para o fi nal de junho/21 e a Expomafe permanece com a sua data inicial para realização em maio próximo. Apesar da grande preocupação com o cenário atual da pandemia, há uma expecta� va posi� va com relação à vacinação neste primeiro semestre que possibilite a realização dos eventos com segurança para todos, porém, todas as possibilidades estão sendo analisadas em conjunto com a organizadora das feiras, a Informa Markets. Os eventos que não aconteceram em 2020 � veram suas edições realizadas virtualmente pela Informa Markets e esta estratégia deverá ser adotada novamente caso não seja possível a realização das feiras neste primeiro semestre. A realização virtual tem sido uma alterna� va posi� va para os organizadores, expositores e visitantes diante da situação atual, mas todos esperam ansiosos pela realização presencial das feiras industriais que são responsáveis por impulsionar a geração de negócios, contribuindo para o desenvolvimento e fortalecimento dos diversos setores da economia e da região onde acontece o evento. 

PERSPECTIVAS 2021

Economia vai ao reboque da ciência

©KONSTANTIN KOLOSOV/PIXABAY

Empresários e representantes governamentais de todo o mundo são unânimes em afi rmar que, quanto mais rapidamente a vacinação em massa ocorrer, menos tempo irá demorar para as economias retornarem aos cenários prépandemia do novo coronavírus.

Empresários e representantes governamentais de todo o mundo são unânimes em afi rmar que, quanto mais rapidamente a vacinação em massa ocorrer, menos tempo irá demorar para as economias retornarem aos cenários pré-pandemia do novo coronavírus. O próprio FMI – Fundo Monetário Internacional, em sua mais recente projeção, afi rmava que as economias dos países desenvolvidos (peso de 40% da economia mundial) devem decrescer 1% em 2020 e também em 2021, enquanto nos países emergentes (peso de 60%), devem crescer 1%, também nos dois anos. O desastre que se alinhavava no primeiro semestre de 2020 acabou perdendo força no decorrer do ano, e a segunda onda da pandemia, apesar de assustadora, encontrou governos mais preparados para enfrentá-la, com o ines� mável apoio da ciência – representada pelos laboratórios da indústria farmacêu� ca, responsáveis pelo desenvolvimento das imprescindíveis vacinas. No Brasil, 2020 não foi um ano dos sonhos em termos de desenvolvimento econômico, longe disso. Mas nossa economia conseguiu se recuperar em muitos setores com o decorrer do ano. O Índice de A� vidade Econômica do Banco Central (IBC-Br), referência para o cálculo do PIB, após uma queda acentuada de 9,2% em abril, subiu em todos os meses seguintes, até a úl� ma medição divulgada, de novembro. Falavase no começo da pandemia em uma queda catastrófi ca do PIB, mas o tombo deve ser menor que o previsto. Ainda segundo o FMI, a contração do Produto Interno Brasileiro em 2020 deverá ser de 4,5%, e para 2021 as perspec� vas são de uma melhora acentuada, com crescimento de 3,5%.

Navegando na onda da recuperação econômica, o ministro Paulo Guedes foi ainda mais o� mista que o FMI, durante evento com empresários no fi nal de janeiro. “O Brasil pode crescer, de repente, 5%. Depende. Se todo mundo entrasse na mesma vibração que é: estamos recuperando, com vacinação rápida”, afi rmou, ressaltando, entretanto, que sua equipe trabalha com um índice mais conservador, os 3,5% projetados pelo FMI. O ministro da Economia prevê um crescimento sustentável da economia através de inves� mento privado que será atraído após as reformas administra� va e tributária, e também dos marcos regulatórios. Guedes projeta que tais medidas resultem na entrada no caixa do governo entre R$ 80 e R$ 90 bilhões.

Além dos efeitos da pandemia, o obstáculo mais sério a ser enfrentado pelo governo federal, há outros que podem atrapalhar na caminhada (sem contar a polarização que divide o país há anos). Um deles é a infl ação, que pode começar a preocupar a par� r deste ano. O IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -, usado para boa parte das métricas de infl ação, de 2020, fi cou em 4,52% em 2020, acima do centro da meta (4,53%) e, embora esteja sob controle, mostra que os preços estão com tendência de alta. Com o fi m do auxílio emergencial e consequente queda no consumo, as persperc� vas não são boas neste sen� do.

Setor agrícola, sempre com boas notícias

João Mar� ns, presidente da CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – é o portador das melhores no� cias para a economia brasileira em 2021. Para Mar� ns, os preços dos alimentos não terão o mesmo cenário de alta em 2021 devido à previsão de maior equilíbrio entre oferta e demanda. Em 2020 o aumento no preço dos alimentos foi impulsionado por um conjunto de fatores com impactos em toda a cadeia produ� va, entre eles o aumento no custo de produção, principalmente com insumos (fer� lizantes, herbicidas, ração). Além disso, a alta nos preços internacionais dos alimentos de 10,9% de maio a outubro e a desvalorização da taxa de câmbio (46,5%) também favoreceram o aumento dos preços no Brasil.

Quanto à produção, deve con� nuar batendo recordes nos próximos anos. Segundo es� ma� vas da CNA, o Produto Interno Bruto (PIB) do Agronegócio irá crescer 3% em 2021 (R$ 1,8 trilhão), e o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) deve aumentar 4,2%, superando R$ 903 bilhões. Para 2020, a previsão para o PIB do agro é um crescimento de 9%, enquanto o VBP deve ter alta de 17,4%.

Vendas de pneus fecham o ano com viés de baixa

As vendas totais da indústria brasileira de pneus fecharam o ano de 2020 com baixa 12,9% em comparação com o ano anterior. Tal baixa no acumulado do ano foi observada nas vendas de todos os segmentos: pneus de passeio (-19,2%), comerciais leves (-13%), carga (-1,8%) e moto (-1,2%). Nota-se, com isso, que mesmo apresentando sucessivos meses de boas vendas, incluindo um mês de dezembro 9,5% maior em 2020 do que foi em 2019, o setor não conseguiu reverter as perdas dos meses de grande baixa. Esse comportamento pode ser observado nos segmentos de comerciais leves (27%), carga (25,8%) e motocicleta (20,3%). Os dados fazem parte do levantamento setorial divulgado pela Associação Nacional da Indústria de Pneumá� cos (ANIP).

“Em um ano totalmente único, com suspensão de produção por um período determinado e de amplas medidas de prevenção em relação ao covid-19 que ainda permanecem, a indústria de pneumá� cos no Brasil respondeu prontamente às necessidades de todos os mercados, inclusive com crescimento no fornecimento do equipamento original”, analisa Klaus Curt Müller, presidente execu� vo da ANIP.

©HANNAHLMYERS/PIXABAY

Indústria automotiva com a mão no freio

Os fabricantes de veículos no Brasil projetavam, no período pré-pandemia, um crescimento de 10% em 2020. Nos primeiros meses de crise, a expecta� va foi totalmente inver� da para o lado nega� vo. Porém, no acumulado do ano, os números apresentaram quedas acentuadas, mas não tão drás� cas,

Segundo dados da ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores –, as vendas ao mercado interno fecharam com 2.058.437 unidades, queda de 26,2%, recuando ao patamar de 2016, auge da úl� ma crise econômica brasileira. E poderia ter sido pior. A grande injeção de recursos emergenciais na economia e a força do agronegócio ajudaram a amenizar as perdas do segundo trimestre, quando boa parte das fábricas e lojas permaneceram fechadas.

A produção de 2.014.055 autoveículos encolheu 31,6% em 2020, deixando a indústria automobilís� ca com uma ociosidade técnica de quase 3 milhões de unidades. Já as exportações de 324.330 de unidades foram as piores desde 2002, um retrocesso de quase duas décadas. Em valores, a receita de US$ 7,4 bilhões foi menos da metade do que se exportou em 2017 (US$ 15,9 bilhões).

O segmento de caminhões, impulsionado pelo agronegócio e pelo crescimento do ecommerce, foi o que teve as menores perdas entre os autoveículos, com queda de 11,5% nos licenciamentos em relação a 2019. Comerciais leves caíram 16%, automóveis 28,6% e ônibus 33,4%. Já as máquinas agrícolas e rodoviárias venderam 7,3% mais que no ano passado.

Em 2021 a ANFAVEA prevê aumento de 15% no licenciamento de autoveículos, 9% nas exportações e 25% na produção, índices insufi cientes para a retomada a patamares de 2019, pré-pandemia. No setor de máquinas, a expecta� va é de crescimento de 7% nas vendas, 9% nas exportações e 23% na produção. “Nunca foi tão di� cil projetar os resultados de um ano, pois temos uma neblina à nossa frente desde março, quando começou a pandemia”, explica Luiz Carlos Moraes. Infelizmente, observamos uma segunda onda de covid-19 em países do hemisfério norte, que parece ter chegado também ao Brasil. E sabemos que uma imunização pela vacina será um processo demorado, que tomará quase todo o ano, impedindo uma retomada mais rápida da nossa economia. Some-se a isso a pressão de custos, as necessidades urgentes de reformas e surpresas desagradáveis como o aumento do ICMS paulista, e temos diante de nós um quadro que ainda inspira muita cautela nas nossas previsões”, resume o presidente da ANFAVEA.

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Duas rodas: setor espera vacina para crescer mais

Alguns dos efeitos da pandemia do novo coronavírus serviram para, se não alavancar, ao menos impedir a queda brusca de setores como o de serviços de entrega. Usando na maioria das vezes de motos e bicicletas, estes serviços � veram grande procura em 2020, o que mo� va os fabricantes a terem boas expecta� vas em relação a 2021. A Abraciclo – Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e similares, projeta crescimento de 10,2% na produção destes veículos neste ano, na comparação com o ano passado, que teve 961.986 unidades fabricadas.

A en� dade es� ma que as fábricas localizadas no PIM (Polo Industrial de Manaus) deverão produzir 1.060.000 motocicletas em 2021. O volume representa alta de 10,2% na comparação com as 961.986 unidades que saíram das linhas de montagem em 2020.

No varejo, a expecta� va da Associação é de que sejam licenciadas 980.000 unidades, alta de 7,1% na comparação com as 915.157 motocicletas emplacadas em 2020. As exportações deverão totalizar 40.000 unidades, volume 18,5% maior em relação às 33.750 unidades registradas no ano passado.

O presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, afi rma que a expecta� va do setor é recuperar, em 2021, parte das perdas do ano anterior. “A chegada da vacina será o ponto chave para recuperarmos as perdas provocadas pela maior crise, tanto sanitária quanto econômica, que já enfrentamos. Por isso, acreditamos que a tendência é que a produção de motocicletas siga em ascensão nos próximos meses”, afi rma.

Fermanian explica que a demanda pelo modal está em alta, tanto no mercado interno quanto externo, mas ressalta que as fabricantes seguem trabalhando com medidas restri� vas em suas unidades industriais, o que impacta no volume produ� vo e, consequentemente, nas vendas. “Recentemente, com a implantação do toque de recolher pelo governo do Amazonas, todas as associadas adequaram seus turnos de trabalho. Além disso, redobramos os cuidados com as medidas de saúde e segurança para garan� r a saúde dos colaboradores”, diz.

Indústria em processo de franca recuperação

Os úl� mos dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgados pelo IBGE – Ins� tuto Brasileiro de Geografi a e Esta� s� ca –, mostram a indústria brasileira � rando o atraso causado pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus. Em novembro, a produção industrial brasileira registrou a sé� ma alta seguida e apontou crescimento de 1,2%, na comparação com o mês de outubro, na série com ajuste sazonal.

A a� vidade industrial indicou recuperação da perda de 40,7%, acumulada entre o período de março e abril — quando havia caído ao seu menor nível da série — e se encontra 2,6% acima do patamar de fevereiro, quando a pandemia ainda não havia a� ngido a produção industrial do País. Dentre os setores com maiores destaques no crescimento da produção industrial está a indústria de máquinas e equipamentos, que teve alta de 4,1% em novembro, na comparação com o mês anterior.

No balanço de 2020, o desempenho deste setor foi ainda melhor, em se tratando de faturamento. Segundo dados da ABIMAQ – Associação da Indústria Brasileira de Máquinas e Equipamentos –, no ano passado a renda líquida foi de R$ 144 bilhões, que representa um crescimento de 5,1% em relação a 2019. Segundo a en� dade, o fi nal do ano sinalizou a normalização das vendas internas e melhoria das exportações para 2021.

O ganho de fôlego do setor de máquinas contou com expressivo desempenho das vendas internas a par� r do segundo semestre. Em dezembro a renda domés� ca aumentou 50,9% em relação ao mesmo mês de 2019. No total do ano passado, as vendas internas cresceram 11,1%.

Em relação às exportações, estas cresceram 0,9% em 2020 na comparação com o ano anterior, interrompendo uma longa sequência de quedas. No acumulado do ano, entretanto, as vendas externas de máquinas registraram a maior queda desde 2009. Entre janeiro e dezembro as exportações caíram 23,7%. Para 2021 a en� dade espera uma normalização na compra de máquinas à medida que a a� vidade interna ganhe tração, e uma retomada sustentável das importações.

Indústria química tem défi cit de US$ 30,4 bilhões

Importante agente no momento de crise sanitária, a indústria química nacional registrou forte défi cit em 2020. O saldo nega� vo da balança comercial de produtos químicos totalizou US$ 30,4 bilhões no ano passado – superando recentes es� ma� vas da Abiquim – Associação Brasileira da Indústria Química – fazendo com que pela quarta vez em toda a história da balança setorial em produtos químicos tal indicador superasse a marca dos U$ 30 bilhões (anteriormente foram os anos de 2013, US$ 32 bilhões, de 2014, US$ 31,2 bilhões, e de 2019, US$ 31,6 bilhões).

O setor importou US$ 41,4 bilhões em produtos químicos em 2020, valor total pago pela aquisição das mais de 51,5 milhões de toneladas, recorde em volume importado pelo País ao longo de toda a série histórica de acompanhamento da balança comercial setorial pela Abiquim (desde 1989). Na comparação com os resultados de 2019, foi registrada uma redução de 6,3% no valor monetário das importações, mas uma signifi ca� va elevação de 8,2% nas quan� dades � sicas adquiridas, em especial tendo em vista as graves conjunturas econômicas global e nacional decorrentes da pandemia de Covid-19.

Para o presidente-execu� vo da Abiquim, Ciro Marino, o ano de 2020 será lembrado com um momento em que todos, em especial a indústria química, concentraram seus esforços no enfrentamento dos desafi os sanitários, econômicos e sociais impostos pela pandemia, garan� ndo pleno abastecimento para as diversas cadeias de valor e evitando o caos na vida diária das pessoas. “Toda a indústria, par� cularmente a de transformação, teve, tem e con� nuará tendo papel decisivo no enfrentamento da pandemia e na transformação do movimento de retomada econômica em um

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sustentável ciclo de recuperação e crescimento, salvando vidas, trazendo ainda mais inovação e soluções baseadas em ciência e gerando empregos e renda”, destaca Marino.

Quando comparadas com as 37,5 milhões de toneladas de 2013, ano em que foi registrado o maior défi cit no histórico da balança comercial de produtos químicos, de US$ 32 bilhões, observa-se um aumento de 37,5%, sobretudo em produtos químicos orgânicos e para o agronegócio, para os quais o Brasil tem domínio técnico e exper� se empresarial de produção e poderiam ser fabricados no País, diminuindo a dependência externa em cadeias estratégicas, caso as condições de compe� � vidade em fatores de produção como energia, gás natural e logís� ca, fossem favoráveis para a atração de inves� mentos. Entre os grupos acompanhados, os intermediários para fer� lizantes foram percep� velmente o principal item da pauta de importação do setor com compras de pra� camente US$ 7,2 bilhões em 2020, equivalentes a 61,7% (31,8 milhões de toneladas) das 51,5 milhões de toneladas em compras externas de produtos químicos.

As exportações brasileiras de produtos químicos, por sua vez, de US$ 10,9 bilhões, em 2020, � veram uma sensível redução de 13,6% na comparação com o ano anterior, considerando uma movimentação de 14,7 milhões de toneladas para os mercados de des� no, com reduções consideráveis nas quan� dades exportadas de gases industriais (37,1%), de produtos orgânicos (8%), de resinas e elastômeros (13,3%) e de químicos diversos (2,2%), todos esses grupos de mercadorias centrais no enfrentamento da pandemia, refl e� ndo e comprovando o fi rme compromisso da indústria química brasileira em priorizar a manutenção de suprimento no mercado interno tanto nos momentos mais crí� cos da Covid-19 quanto também agora no movimento de retomada da economia.

Produção e exportação de calçados caem em 2020

Outro setor que teve em 2020 um ano esquecível foi o de calçados. O período foi bastante di� cil para o setor calçadista brasileiro. Conforme dados divulgados pela ABICALÇADOS – Associação Brasileira das Indústrias de Calçados –, o setor pode ter perdido 21,8% da sua produção em 2020, retornando a patamares de 16 anos atrás. Na exportação a queda foi de 18,6%, pior número desde 1983. Já para 2021, a es� ma� va é de incremento tanto em produção (+14,1%) quanto na exportação de calçados (+14,9%). O crescimento, porém, não será sufi ciente para recuperar o “tombo” verifi cado no ano passado.

Para o presidente-execu� vo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, a a� vidade vem em recuperação gradual, tendo criado mais de 30 mil postos de julho a novembro (úl� mo dado disponibilizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego). “A abertura do varejo, que absorve mais de 85% das vendas do setor, foi fundamental para o resultado”, comenta. Por outro lado, o crescimento não foi sufi ciente para reverter as perdas de postos nos meses mais crí� cos da pandemia e das restrições ao varejo � sico. Entre março e junho do ano passado mais de 60 mil trabalhadores perderam seus empregos. O dado até novembro mostra que o setor está empregando 255 mil pessoas, 13% menos do que no mesmo mês de 2019.

Quanto à produção de calçados, a queda no acumulado até novembro foi de 23,4% (para 654,1 milhões de pares fabricados), sendo que o ano deve fechar com uma queda de 21,8%, indicando pequena melhora no úl� mo mês de 2020. “Fecharemos o ano com a produção de 710 milhões de pares, nível registrado em meados dos anos 2000”, destacou Ferreira. Para 2021, a expecta� va é de que o setor cresça 14,1% sobre a base fraca do ano passado (para 811 milhões de pares). “Porém, ainda que a es� ma� va se realize, estaríamos 10,3% abaixo do desempenho de 2019 (908 milhões de pares), na pré-pandemia”, projeta o dirigente. “O estrago foi muito grande, mas esperamos que com a vacinação em massa e as coisas retornando ao normal possamos experimentar uma recuperação. Mas ainda vamos fi car longe do ideal”, acrescenta o execu� vo, ressaltando que para que o crescimento seja sustentável é preciso que o Estado brasileiro promova as reformas estruturantes necessárias, especialmente a tributária. “Vivemos em um manicômio tributário. Não havendo uma reforma neste sen� do, não teremos como sustentar a recuperação”, afi rma. Exportações – Respondendo por cerca de 15% das vendas do setor calçadista brasileiro, as exportações terminaram 2020 com um revés de 18,6% em pares (93,8 milhões de pares) e de 32,3% em dólares (US$ 658,3 milhões) no compara� vo com 2019, pior resultado em quase quatro décadas. Com o retorno gradual das negociações internacionais, especialmente as grandes feiras comerciais, a expecta� va é de um crescimento de 14,9% ao longo de 2021 (108 milhões de pares). “Ainda assim fi caremos 6,5% aquém de 2019”, diz Ferreira.

Segundo Ferreira, os principais des� nos das exportações, em 2020, seguiram sendo Estados Unidos (9,3 milhões de pares e US$ 137,8 milhões, quedas de 22,1% e 30,8%, respec� vamente); Argen� na (7,7 milhões de pares e US$ 72,6 milhões, quedas de 23,5% e 30,8%) e França (7,1 milhões de pares e US$ 59,2 milhões, quedas de 10,7% e 2,1%). As principais origens dos embarques foram Rio Grande do Sul (22 milhões de pares e US$ 292,5 milhões de pares, quedas de 28,8% e 34,8%); Ceará (33 milhões de pares e US$ 167 milhões, quedas de 14,5% e 28,1%); e São Paulo (6,4 milhões de pares e US$ 66,8 milhões, quedas de 16,5% e 35,3%). 

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