Centros históricos n º1

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sobre a necessidade de empreender medidas relativas ao tecido antigo de Lisboa, que como é sabido existe num estado de negligência acentuado, que provavelmente irá ser objecto de actuações que se encontram em curso. Gostaríamos de relembrar que durante anos um dos factores que impediu uma maior destruição da cidade de Lisboa foi um documento que José Augusto França inteligentemente produziu, delimitando as zonas antigas de Lisboa a preservar, e que foi aprovado por um dos Presidentes da Câmara Municipal de Lisboa nos finais dos anos 60. No entanto, paradoxalmente, o período democrático após o 25 de Abril traduziu-se por uma intensificação da construção da capital, processada um pouco por todo o labor ao sabor dos interesses instalados e com a concordância senão com o impulso dos técnicos da Câmara. Alguns espaços que se tinham mantido incólumes ao longo dos anos anteriores ao 25 de Abril, apesar das pressões exercidas, acabaram também por ser urbanizados, incluindo os jardins do Palácio Ratton. Entretanto os bairros antigos da capital chegavam a um completo descalabro como acontece no Bairro Alto sujeito a uma alteração de usos e a uma valorização do espaço comercial e de habitação que há bem pouco seria

impensável. Na ausência de iniciativa por parte dos proprietários, torna-se urgente a iniciativa camarária que deverá no entanto ponderar cuidadosamente as obras para impedir a afectação da qualidade das edificações, que apesar das consições de degradação deverão ser cuidadosamente aferidas. No entanto não bastará intervir nos bairros históricos fortemente degradados havendo que considerar a cidade na sua estrutura global que urge salvaguardar, impedindo uma acelarada transformação de usos e o predomínio do terceário sobre a habitação, com todas as consequências negativas consequentes. Através de um estudo preliminar em curso conjuntamente com o Dr. Vitor Matias Ferreira, procuramos aprofundar o conhecimento das antigas vias de circulação radial de Lisboa e o modo como foram absorvidas pelo tecido urbano, tornando-se estruturantes ao desenvolvimento de Lisboa. Consideramos que será através de estudos desta natureza que poderemos atingir um melhor conhecimento da cidade e sobre ela intervir, dado que as obras isoladas, se bem que importantes para atenuar a degradação, deverão ser completadas por outras que sejam essencialmente para valorizar o seu carácter global.

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BEJA — Património cultural a preservar (Fábrica de moagem do séc. XIX - Foto Luís Pavão - ed. CMB).

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