Rumos de uma cultura tecnológica abraham moles

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Cole<;iio Debates Dirigida por J. Guinsburg Conselho Editorial: Anatol Rosenfeld, Anita Novinsky, Aracy Amaral, Boris Schnaiderman, Carlos Guilherme Mota, Cclso Lafer, Gita K. Guinsburg, Haroldo de Campos, Leyla Perrone-Moises, Maria de Lourdes Santos Machado, Regina Schnaiderman, Rosa R. Krausz, Sabato Magaldi, Sergio Miceli e Zulmira Ribeiro Tavares

abraham moles RUMOS DEUMA CULTURA TECNOLOGICA

Equipe de realiza<;ao: Tradu<;ao: Perala de Carvalho; Revisยง.o: Mary Amazonas Leite de Barros, P6rola de

Carvalho e Denise Bollman; Produ<;ao: Lucio Gomes Machado; Capa: Moyses Baumstein.

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EDITORA PERSPECTIVA


9 FUNc;;OES SOCIAlS DO OBJETO 0 objeto e_ urn dos elementos essenciais do nosso meio ambiente路. Constitui urn dos dados primaries do contacto do indivfduo com o mundo. A prOpria no<;8.o

de objeto esHi lig8.da a uma semi6tica, vista que o objeto emanipulado conceptualmente com base no substantive que serve para desigm\-lo, o que em geral corres-ponde a id6ia de recortamento, de isolamento e mobilidade do observado em rela98.0 a um quadro, isto e, na verdade, aos universais de Arist6teles. 0 substantive j3 e uma primeira generaliza'rao, vista que admite a priori, atrav6s do seu plural - ":irvores", "casas", "cinzeiros" ._____, a existencia de urn gtande ntlmero de elementos identicos sob o mesmo nome, e justifica lo197


gicamente a ideia fundamental das. - estatCsticas type-token que enumeram no universe circundante os elementos pertencentes a urn mesmo tipo. A civilizac;ao industrial do Extrema Ocidente e caracterizada, entre outras coisas, pela fabricariio dos elementos do meio circundante. Cria ela urn ambiente artificial do homem, a que da o nome de cultura, ambiente povoado de palavras, formas, objetos, e onde e cOmodo distinguir-se: urn mundo dos signos, urn mundo das

situa~Oest

um mundo dos objetos. 0 termo objeto ganhou recentemente uma importfmcia maior, em decon:_enci'!_ da muWplicag3.o 4os objetos em nosso meio ambiente. H<l uma esp6cie de proliferarao dos objetos que tem como causas: 1) o desenvolvimento da tendencia para a aquisitividade ligado a civiliza,ao bedonista; 2) 0 desenvolvimento do objeto de serie, is to e, da multiplicidade de elementos dotados de urn 'Ilaior grau de identidade ( normaliza9ao). 0 objeto de mat6ria phlstica talvez seja o exemplo Par cxcelencia, em oposig8.o ao objeto artesanal, sempre urn pouco variavel de uma para outra amestra; 3) o consumo ostensivo (Veblen), ligando paulatinamente 0 status social a posse- de objetos. 0 individuo que possui dais autom6veis, ou duas televis6es ou tres r8.dios ou cinco refrigeradores, sera tido como situade num status social mais altO do que outro que possui apenas urn de cada urn desses objetos. 0 Homo faber tornou-se, em proporc;ao ampla, mais urn consumidor de objetos do que urn fabricante de utensllios. 0 quadro de nossa vida cotidiana, verJadeiro determinante social, vai sendo pouco a pouco invadido pelos objetos, passando a existir (como seria de prevcr) uma verdadeira Sociologia do objeto, que aplica os m6todos e o quadro de pensar da ci8ncia dos seres em grupes (socius) ao universe dos objetos, de 198

maneira mais ou menos independente da sua rela~ao significativa com o ser humane. 0 objeto e, de fato, vetor de comunicay6es, no sentido sociocultural do tenno: e]emento de cultura, constitui ele a concretizac;ao de urn grande nUmero de ag6es do homem dentro da sociedade e se inscreve na categoria das mensagens que o meio social envia ao indivfduu ou, reciprocamente, que o Hom路o Faber traz para a sociedade global. Mais precisamente, o objeto cetidiano - caneta, autom6vel, telefone, radiador, pec;a de mobilia -, todos esses objetos sao Zeichentraeger, portadores de forma, de uma Gestalt, no sentido precis<> da Psicologia: a propria existencia do objeto e, pais, uma mensagem de urn indivlduo para o outro, do coletivo criador ou vendedor para o pesse8.1. Tra-z cori.sigo morfemiis reunidos Duma certa ordem, reconheciveis individualmente, combin3.veis de mUltiplas maneiras com base em ceeq;Oes muito gerais ( topologia, continuidade, materialidade, eposic;E.e路 entre cheio e vazio), que, pouco 路a pouco, se decomp6em em coert;-5es mais especlficas, conhecidas do engenheiro de produc;ao, do designer, do analisador de desejos etc ... 0 objeto e. portanto, comunicac;ao, comunica,ao por multiples tftulos, e foi apenas par falta de urn distanciamento suficiente que as Ci8ncias Sociais tradicionais ainda n8o o encararam sob esse aspecto~ pondcrse, e clara, de lado algumas tentativas dos etn6logos (Leroy-Gourhan) e designers. Nesse sentido vern a calhar maravilhosamente a f6rmula de McLuhan, "the medium is the message", o objeto portador de forma e mensagem, fora e mesmo alem dessas materialidades. Algumas vezes, essa func;ao de Gestalttraeger ultrapassa a fun9ao que contribuiu para cria.'lo. E: mister distinguir varies aspectos no papel desempenbado pelo objeto como modo de comunica,ao. 1掳) Inicialmente ba a no9ao de portador de formar, par exemplo: as linhas curvas da torneira do nosso banheiro, concomitantemente sensiveis aos nossos olhos e ao nosso tacto, preparam reag6es e estimulam reflexes motores. (]sse, o ponto de vista do criador de forma, do artista, do artesao, do designer, ponto de vista que provem da Estetica e da Teoria funcionalistY 199


2") Pode-se isolar o papel desempenhado pelo objeto no contacto que o homem mantem com as outros; e 0 problema de uma cultura de objetos, .de uma ampliac;iio da noc;ao de cultura, que com demasiada imagens, freqtiencia temos a tendencia de restringir aos sons e aos tcxtos enterrados nas bibliotecas, nos museus e discotecas, esquecendo-nos de entre eles incluir os supermercados, os entrepostos, as exposic;Oes de

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modelos, Aqui, as objetos cotidianos do nosso ambiente, comprados, utilizados e rejeitados, exercem as mesmas func;6es de comunica9iio que os jornais, as c6pias. do museu imagimirio ou os concertos radiof6nicos; sua circulac;ao na sociedade obedece, de urn modo geral, rilesmas leis e exerce as mesmas ac;Oes, quais sejam:~uarnecimento do c6rebro do indiv.iduo de form-as e- reat;Oes;--originalidade aU banaliZa~ao, alien3.<;8.oou dominio do meio ambient~

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39) 0 objeto por outro !ado, ocasiao de contacto humano interindividual. Ao inv6s de ehviarmos urn telegrama, podemos enviar uma j6ia, portadora d~ mensagens funcionais e simb6licas. 0 objeto e mais au menos personalizado, mais ou menos assinado, menos pelocriador do que por seu expedidor. Ha uma linguagem dos presentes e uma atividade pessoal ligadas a especificidade no interior de um display, de urn sorti- (' menta, que constitui objeto de elei<;ao para o _,etn6logq ) contemporaneo, passando do_kula e ~~cl_cl1~ ( etn6logos a mecanismos de relat;6es mais ou menos ' sutis. 49) 0 objeto e ocasiao de contacto humano: fazer compras, comprar produtos ou coisas e, pelo menos {:IC·visori:imente, entrar em relag5.o com certo nUmero de indivf4uos: vendedoras de lojas, balconistas, mascates etc ... , num relacionamento muito particular cujo ideal explfcito 6 o de reduzir o ser humano vendedor a uma maquina perfeitame_nte regulada, ornamentada com urn sorriso e mesmo eventualmente munida dessc Q supremo requinte servigo Hpersonalizado" - que de irn personalidade, vis to que todos os consumidores sao iguais no seu direito a ele. Enfim, uma Sociologia do objeto e levada a considerar os objetos em massa, a invocar a id€ia de co-

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ler;do, de arranjo, de s6ric, de display ou sortimcnto, isto e, a estudar certa massa de objetos pcrtcn'centes a tipos distintos (listing, inventario etc ... ) que se preste a uma ancllise estatistica num nUmero de casas bastante grande. Pode-se aqui, cometendo uma impropriedade voluntaria e discrcta, falar tamb€m em comunicat;Oes de massa, fazendo-se alusi:i.o a massa dos ob. jetos ou a complexa mensagem de determinada massa de elementos.

2.

Defini~O·es

e Fenomenologia

0 que e um objeto? Etimologicamente, objectum significa ~<jogado contra", coisa que- existe fora de n6s mesmos, coisa colocad a 3 nossa frente, dotada de urn car8ter Il}.aterial: tudo aquila que se oferece vista e afeta os sentidos (Larousse). Qs. fi16sofos em pre gam o termo no senti do daquilo que 6 pensado e se op6e ao ser pensante au sujeito. 0 termo objeto c.onstitui-se, portanto:

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de urn lado, com base no aspecto de resist6ncia ao individuo;

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do outre, sobre o caniter material do objeto.

Em alemao, Gegenstand ex prime a mesma ideia: o que esta colocado contra, e cuja materlalidade se op5e, portanto, aos seres de pensamento ou de razao ( objetivo, objetivavel etc ... ) . Defini<;ao extremamente ampla, que uma fenomenologia da vida co.tidiana nos leva a restringir consideravelmente, distinguindo os objetos das coisas em geral, seus sin6nimos mais freq·Uentes (Dinge). Em nossa civilizayao, o objeto nao natural. N iio se falar8. numa pedra, numa ra ou numa B.rvore como urn objeto, mas antes como uma coisa. A pedra s6 se tornara objeto quando for promovida a peso de papeis. 0 objeto tern urn cad.ter passivo, mas ao mesmo lempo fabricadu. E o produto do Homo Faber e, mais puramente ainda, o produto de uma civilizar;§o indus-

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trial: urn isqueiro, urn ferro de passat roupa siio objetos no mais plena sentido da palavra. 0 soci6lo_go interessar-se-3. precisamente por esse aspecto, a fim de construi_r uma. teoria dos objetos. 0 objeto e igualmente caracterizado por suas dim:ens6es: sua escala e a esca]a do homem a qual e, o. mais das vezes, ligeiramente inferior. Um :itomo ou um micr6bio nao saar "objetos", a niio ser por urn esfon;o de racionalidade alem da percepc;ao; de fato, sao apenas "objetos de estudo", no sentido filos6fico. Uma montanha, embora sendo o "objeto da Vista", nffo 6 urn objeto DO sentido COrrente do termo, Tampouco uma casa. Urn raspador de silex e urn objeto, mas o silex nao. Ali:is, as paleont6logos tem-se entregue a s:ibias discuss6es sabre o terna. Afinal, o que e··um objeto? .... -· .... ....

0 objeto e um elemento do mundo exterior fabricado pelo homem e que este pode segurar ou manipular. Urn objeto e independente e m6vel. Urn m6vel, pe9a de mobilia, niio 6 urn objeto porque, contrariamente a sua etimologia, e im6vel e geralmente volumoso. S6 adquire a qualidade de objeto .quando se torna m6vtl, transport8.vel ou transportado, como uma mesa de centro ou uma cadeira. 0 objeto situa-se, portanto, a um certo nivel do ·Modular tal como e definido por Le Corbusier na pesquisa dos m6dulos dos elementos do mundo exterior em relac_;;fio com o homem. Para sabermos a que € urn "objeto objetivo", tomaremos mil sujeitos e dez ·mil elementos do mundo industrial; estes se a cham igualmente distribufdos pelas diferentes casas da grade do Modular quanta as dimen· s6es. Pediremos aos mil sujeitos que digam o que entendem par "objeto". Seu julgamento recusara o titulo de objeto as pid.mides au as casas, atribuindo-o aos telefones ou aos 13pis; tampouco o darao as amebas ou as bact6rias. De suas respostas depreender-se-fi. uma fenomenologia estatistica do objeto. Enfim, urn objeto tern urn cadter se niio passive, pelo menos submisso a. vontade do homem: pode ser

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manipulado vontade, e embora urn gato nao seja urn objeto, urn gato cibernetico pode se-lo.

3.

Estudo intrinseeo de um objeto ou sistema complexo

A noc;ao de complexidade mede uma propriedad•o inerente a urn universe combinat6rio e comporta tantos aspectos, isto 6, tantas dimensOes quantos forem os novos pontos de vista descobertos pelo individuo sabre o mundo exterior. Duas dessas dimens6es est3.o ligadas a descri<;ao de urn sistema ou organismo unita· rio: a complexidade estrutural e a complexidade fundonal. . A complexidade funcional esta ligada as necessic dades dos indivfduos membros do mercado; uma rnaquina de escrever e feita para "escrever", comporta certo numero de func;6es ligadas ao estudo dos postos de trabalho, visando a realizar certo nUmero de produtos: a pagina datilografada e as diversas fun<;0cs elementares (giraf o rolo, marginar, espacejar, 1 ·ariipular as teclas etc ... ) intervem com freqtiencias de ocorrencia muito diversificadas,· dando lugar, por conseguinte, a urn repert6rio de fum;:5es e, daf, a uma expressao estatistica da ac;ao global datilografada, que e uma reunifio mais ou menos complexa de ar;6es mais simples, condicionadas, por exemplo, pelos reflexos nervosos do individuo. A complexidade funcional e uma dimensao estatlstica dos usos. A complexidade estrutural da mesma m3.quina de esctever esta) par exemplo, ligada ao conjunto das per;as elementares reunidas pelo construtor. Uma rnaquina de escrev;er "6 ~eita de ....;', e segue-se uma lista de pec;as. Tambem ai algumas dessas pec;as sao identicas: parafusos, molas etc ... ; tambem ai, algumas dessas per;as sao diferentes: os tipos, cujo conjunto constituid. o arrnazem dos aces§6rios para o t6cnico em consertoS 1 sao mais ou menos fteqtientemente utili..:. zados. E natural que a complexidade estruhual esteja Jigada variedade do repert6rio de e/ementdS e pbS" slvel mostrar que nao h3. diferenc;a entre essa complexi-

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dade estrutural e a "informa~ao", no___ sentido da teoria do mesrno nome, fornecida pela mensagem que seria o esquema organico da maquina ou do objeto tabricado. As rela96es entre "complexidade- funcional" c "complcxidade estrutural" de urn mesmo organismo levantam, par exemplo, o problema da reconversao de uma empresa industrial em termos num6ricos. Complexidade estrutural e complexidade funcional sao, portanto, dimens6es essenciais do mundo dos objetos au dos organismos, e permitem tra9ar urn nwpa do mundo dos objetos, Uma Sociologia dos objetos procuraria, entre outras coisas, explicar as conformav5es geograficas desses objetos, a porcentagem de objetos industriais simples de fun9ao unica e reduzida, situ ada na base do -diagram a e, ao contnirio, as zonas de concentra<;ao ou de rarefa<;ao dos diferentes objetos, com isso suscitando a ques- . tao: por que, num dado mercado, objetos dotados de certo grau de complexidades estruturais e funcionais existem em grande ntlmero ou, reciprocamente, objetos dotados deste ou daquele grau de complexidade estru路tural nao sao fabricados pela industria humana? :f: patente, aqui, o procedimento metodol6gico com base no conceito universal da complexidade. 0 ser humano define dimensoes e levanta para si mesmo problemas sabre as anomalias na repeti~iio dessas dimens5es, isto 6, sabre "fenOmenos" que assim fez emergir. N otar-se-3, par exemplo, uma tendencia dos pontos representatives ligados aos sistemas ou organismos muito complexos, com grande nUmero de elementos ( exemplo: maquina de calcular, centrais telefonicas), para evolufrem aproximando-se pouco a pouco -da diagonal do diagrama, isto .搂, para adotarem uma complexidade estrutural proporcional a complexidade funcional, isso pela inte..Ven,ao de pe\'as ou de elementos standards repetidos e combinadas de maneira diferent~ (no9ao de redundfincia estrutural), o que lhes aumenta a inteligibilidade. Podemos pOr em evidencia outras aplica96es desses conceitos a urn estudo das empresas: assim, a reconversi'io de uma empresa apresentar-se-3. como axioma de evoluc;ao em domfnios de produtos cujas complexi204

dades funcionais e estruturais nao forcm demasiadamente diferentes das dos produtos antes fabricados, do contnirio a empresa perdcria seu car2.ter e essa brusca transformac;ao a desper:;onalizaria, par assim dizcr. Uma f<ibrica de autom6veis nfio se rcconverteni se passar a fabricar pentes de materia pHistica. Podem-se Jevar tais considera,oes mais Ionge, observando que a complexidade estrutural de urn objelO fabricado esta ligada, por uma correlal'ao bastante estreita, a complexidade (funcional, desta vez) da oficinn de trabalho ou da fabrica que serve para proJuzir tais objetos. Para cada pe9a elementar, com efc.ito, h:l um ou vS.rios postos de trabalho, achando-se cada urn destes combinadas aos demais, num con junto que e de funl'iiO global ~ a fab!ica(,'aO do organismo, por exemplo, a fabrica~ao de uma maquina de escrever___ou de um autom6vel. A empresa, como organismo humano, realiza uma simbiose dos homens e das m:iquinas, e tern, portanto, a sua propria wmplexidade funcional. Considerando-se a conexao diversificada das fun~6es element ares de trabalho e sua propria complexidade estrutural, ligada a similitude ou a diferen9a dos postos de trabalho, sob o angulo da organizayao, a empresa com partad., por exernplo, uma oficina de corte, uma.de prensa, uma de p18.stica, uma de moldagem, uma de eletricidade, urn servi9o de secretariado, urn servic;o de contabilidade, uma administra98.0 etc. Concebe-se que, ao !ado do p/ai1JO dos objetos. fabricados, que represent am os universes dos objetos, se situe urn outro plano o das empresas que fabricam os objetos, cada uma delas caracterizada por sua propria complexidade funcional e estrutural. Come~a al uma teoria das relac;6es entre a indUstria e o mercado. 4.

Civiliza~iio

industrial e hist6ria sociol do objeto

Uma civilizac;ao industrial, dizfamos n6s, 6 uma civilizac;i'io que povoa o meio ambiente com certo nUmero de objetos; surge dai, espontaneamente, a iU6ia de caracterizarrnos a nivel de tal civiliza9fio par esse nUmero. Assim, se recensearmos os objetos upossuidos" pela dona de casa da !dade da Pedra, e depois 205


pelo campones de Rouergue, em seguida pelo tuaregue, em seguida, ainda, pelo cidadao media da Italia do Sui au da Itillia do Norte, da Rolanda ou dos Estados Unidos, veremos crescer pouco a pouco o nllmero dos objetos que possuem. E a no<;ao de in.ventdrio do quadro da vida cotidiana. Concebe-se.que esse inven· t;lrio possa ser urn dos elementos que determinam mua tcoria das necessidades, vista que o indivlduo se cerca de uma "concha de objetos". A varia~ao desse nUmero ocorre, conforme as civiliza96es, numa gama bastante extensa, t8.o extensa que, para exprimi-la, somas obrigados a adotar uma cscala logaritmica. Considera96es tiradas da Teoria da Informagao mostram que essa fun9iio crescente nao 6 simplesmente proporcional ao nlimero_ de objetos, e que o grau de desenvolvimento da civilizat;5o industria] esta ligado nfio s6 ao nllmero absoluto de objetos mas tambem, c sobretudo, a diversidade de sua colegao. A Teo ria da Informa<_;§.o fornece, sob o nome- de complexidade de urn con junto de elementos, uma medida dessa grandeza de natureza estatistica (entropia da complei,ao form ada pe!os objetos).

Ademais, aludimos aqui a urn "cidadao m6dio'' · dessas d-iferentes civiliz8.;;5es ou de uma mesm-a civilizac;ao em suas diferentes fases temporais, tais como as descreve, par exernplo, Max Weber. Mas a sociedade industrial se caracteriza por uma disparidade cada vez maier dos cidadaos, fruto da divisiiO do trabalho e do nfvel social. 0 inventcirio dos objetos "possufdos" na esfera pessoal da vida do individuo comporta, partanto, uma primeira vari3.vel desenvolvimento da sociedade - e uma segunda variavel - Iugar do indivlduo nessa sociedade. A seguir, faremos nossas observa96es girar em torno da separac;iio, nesse indivlduo, entre esfera profissional, onde os objetos por ele utilizados nem sempre lhe pertencem, situando-se amiUde em lugares diferentes daquele onde reside, e esfera pessoal, que constitui seu quadro de vida aut6nomo. A sociedade de consumo prop6e ao individuo urn sortimento de objetos muito diversificado, muito amj:-10, e com base no qual forma ele outro sortimento, urn subconjunto que seu quadro de vida cotidiano.

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A aquisi;;8.o de certo sortimento minima foi, dentro d8 sociedade burguesa, urn dos aspectos caracterfsticos do accsso a idade adulta, a respeitabilidade. Alguns soci6logos estudaram o invent3.rio dos objetos "possuidos" pelo burgues tipico nos diferentes seculos da hist6ria e em diferentes paises. 0 enxoval da noiva constituiu durante muito tempo urn aspecto das preocupa96es femininas sabre o qual autores como Balzac ep-ilogaram longamente. A socicdade do seculo XIX toma uma consciencia muito nftida do valor do objeto. Urn aspecto importante da vida burguesa consistia em acumular no decorrer da vida certo nUmero de objetos bastante ~61idos para, segundo se imaginava, durarem para sernpre e poderem ser transmitidos - eventualmente por hcran9a. 0 nivel de urn burguSs na escala Social era ·entaD caract6i'izado~ entre outras cois-a-s, pelo nlimero de objetos diferentes que se encontravam em sua sala de visitas: a arte kitsch nffo pass a da express§.o estetica desse ponto de vista. A ideia de peremp,ao do objeto aparece claramente como dominante entre 1920 e 1940, no momenta em que a indUstria fabril, rodando toda, esparramou pelo mercadq uma consider3.vel quantidade de · objetos. 0 funcionalismo 6 me nos uma rea9ao ·contra a quantidade absoluta de objetos do que contra a inutilidade destes ou a inadequa9fio ao seu prOprio objetivo declarado. A peremp,ao do objeto, que pode ocorrer pela fadiga do possuidor, pelo desgaste ou por acidente ( destrui9ao), introduz a ideia de vida media e leva, destarte, a no~ao de demografia do mundo tlos objetos.

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5.

Semantica e estetica do objoto

0 objeto, portanto, apresenta-se ora como um elemento (mica, e sera muitas vezes urn objeto em si mesmo composto, ora ele prOprio como elemento de urn conjunto vista par uma multidfio, que caracterizaremos pelo termo display. Um dos mais importantes algoritmos das Ci€ncias Humanas e a Teoria da lnformayio, o-u teoria dos sistemas gerais, que deve seu exito ao fato de assimilar, noma an3.lise estruturalista, todo 207


chaves de parafuso para apertar etc., e se a posse de urn arsenal de frigideiras numa cozinha tern um sentido simb6lico quanta ao status social do propriet3rio (Ruesch & Kees), cumpre significar tambi!m que ele freqi.ientemente cozinha.

sistema composto de elementos reCO"flheciveis a uma mensagem, e procura estudar as caracteristicas dessa mensagem, particu1armente no que concerne a sua novidade em rela9ao a urn observador, a urn consumidor ou a urn receptor dado. Urn pouco mais adiante, estudaremos sua aplica<;ao pelo angulo da no<;ao de "complexidade". A aplica<;ao da Teoria da Informa<;iio as Ciencias Humanas mostrou rapidamente a necessidade de obscrvarmos, em todo tipo de mensagem, dais aspectos distintos, que n6s particularmente denominamos m,;;nsagem semdntica e mensagem estetica, distin~tao tarnbern coberta pela oposi~ao entre estruturas denotativas c estruturas conotativas em Lingtiistica, ou ainda entre significw;iio e- evocac;iio, o -que a teoria informacional da percep<;iio chama de "campo de liberdade estetica", existente em torno de cada signo e formado na medida em que 0 afastamento n§.o e tal que destrua a norma recognoscivel. Sua utilizag§.o constitui a mensagem estetica, o que os psicolingi.iistas chamam de carga conotativa, isto 6, todo 0 conjunto das constela96es de atributos que vern carregar o signa, ou as conex6es de signos, de urn a- segunda mensagem, independente do que est<i dito no sentido eStrito e que seria traduzive1 sem erro em qualquer sistema de signos enunci3veis. E importante assinalar, dentro do quadro de urn sistema de objetos, essa dupla articula<;i1o dos objetos, nos quais a fun gao, no sentido chissico (urn capo e feito para beber), corresponde aproximadamente ao sentido denotative e objetivavel traduzivel em outra linguagem (hJ outras maneiras de beber), eo sistema est6tico ou conotativo ligado ao campo emocional ou sensorial de flutua~ao que, sem modificar a fun~ao do capo, acrescentar-lhe-a caracteres ornamentais, emocionais, ostentat6rios etc. Para o especialista das comunicag6es de massa, o campo estetico ou dispersional ou conotativro do objeto tern prioridade sobre sua "significa<;ao", que se exprime em sua fun~t8.o "utilitfu-ia" no sentido convencional. A simboliza<;iio tern prioridade sobre a significa<_;iio funcional imediata. B mister, todavia, evitarem-se excesses nesse dominic: os hipis continuam a ser feitos para escrever, as 18.mpadas para iluminar, as

6.

A vida dos objetos

Os especialistas do marketing definem uma no<_;ao equivalente a no<;ao de popula<;iio e dao-lhe o nome de Pare, terrno que tomam de ernprestimo a Loglstica. Com a introdu<_;ao da peremp<;8.o, isto e, da morte inelutavel dos objetos, na consciencia do cidadao do Welfare state, introduz-se _a mecanisme fundamental da sociedade moderna:-o sonho, a transformagao dos desejos em necessidades, ;':¡

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depois a satisfa<;ao dessas necessidades, e em seguida, quando a cole\(3.0 se torna suficientemente rica, a cria(_(Uo artificial pela motivar;ao publicit8:ria de novas necessidades a partir de novas d..:;.se .. jos etc ... - 0 mecanisme psicol6gico que daf resulta ja foi bern analisado por Hegel e Maqc nos famosos textos sabre a aliena98.o. 0 individuo encontra-se atado ao objeto atraves de seu prOprio desejo., e depois atraves de seu prOprio prazer, e depois atrav6s da pr6prln !alta que dele sente. 0 desejo decorre do sonho. E fantasista, aleat6rio, provis6rio, transit6rio. Se o desejo nao for sati:sfeito, o indivfduo nao o sente como falta. A nece.ssidade, ao contr2.rio, e precisa, quantificavel, perrnanente ate a satisfar;ao. Se o individuo nao possui o objeto da necessidade, ele o sente como falta e orienta seu comportamento visando a adquiri-lo. No desenvolvimento da ligag[o entre o indivfduo e o objeto podem-se distinguir cinco fases:

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a) Desejo do objeto. Desejo que assume uma forma vari::lvel segundo seu aspecto temporal. Distinguiremos, por exernplo, .como elementos tipol6gicos: 209

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0 desejo longo, Jevado a ~atarse atrav6s da posse ou da aquisi<_;fio, e crescendo progressivarnente

em fun<;;Bo do tempo; exemplo: adquirir uma geladeira; - a necessidade, que apresentando flutua<_;6es;

e uma

fun<_;§o pcrmancnte

o desejo impulsivo, prodlito de uma pulsao passageira que se atenua com o esquecimento mas pode ressurgir em fuw;§o de ocasi6es exteriores. Pode-se admilir que a fun~ao de esquecimento ou de extinc;:§.o e vagamcnte exponencial, ou em todo caso caracteriz::ivel por uma certa constante do tempo, e pensar que, para que 0 desejo de lugar a ac;:ao, deve encontrar ocasi6es de satisfazer-se no prazo dessa constante de tempo. Boa_ parte do mcrcado de consumo, especialmente a vitrina dis lojas, ]Oga com e-ssas ---[un\=6cs--"iinpulsivas- :~ busca satisfaze-las.

b) Prezar o objeto. A posse do objeto acarreta urn prazer de ccrta rnaneira lesado au atenuado pela descoberta progressiva dos seus defeitos, isto e, da inadequao;:ao entre suas propriedades e a soma das qualidades que se emprestava a sua imagem mais ou menos idealizada. Observe-sc que esse mccanismo fornece uma defini,ao de que se pode chamar de objeto perfeito. Os especialistas do marketing sabem fazer Jistas, por freqi.H~ncias ctecrescentes, das propriedades ou das qualidades que uma populac;ao empresta ou pede a uto objeto. Detendo essa lista a urn nlvel razo<ivel de ~re­ qtiencias, define-se, assim, empregando-se escalas de mensurac;ao, urn con junto de propriedades que e a "descri<;ffo ideal", tal como a concebem os cidad3os da sociedade de consumo. Se o conjunto das- propriedad~s de certo objeto real no minima igualar e, praticamente, suplantar o conjunto das propriedades assim defintdas, pode-se dizer que o objeto proposto atingiu a "perfei<;8.o", vista que supera a imagem ideal que dele se fez. Tal no9Uo e. Util, par exemplo, para definir uma politica da fabricac;ao. c) Habituar-se ao objeto. Uma vez possuido e explorado 0 objeto, 0 processo seguinte e 0 da habitua210

0 objeto recua progressivamente no palco da conscitnC1a. Produz-se uma esp€cie de deprecia~ao cognitiva: o objeto faz parte integrante do mundo cir cundante, e neutro; s6 tornaria a existir par sua prOpria ausencia sentida como falta ( acidente, guebra, desaparecimento etc.), em fun,ao• de sua freqtiencia media de utitizac;ilo, da natureza de sua fun~ao em rela~§o aos mecanismos da vida cotidiana.

<;Cio.

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d) Manter o objeto. Mas o objeto pode tornar a existir e impor sua presen<;a prendendo o individuo a si no momenta em que o consertamos, isto e, em. que ele exige aten9ao e ato positive. 0 conserto sera geralmente sentido como urn agravo em relayao ao objeto, mas nao necessariamente. A todo objeto, quer se trate de uma esferografica, de -um telefone ou de urn moedor de cafe, esta ligada, pelo individuo, uma esperan~a de vida, fun~3.o da cultura do indivlduo, do pre<;o re1ativo do objeto etc. Se 0 intervale medio entre OS consertos for nitidamente superior dura9ffo de vida normal esperada, o conserto n3.o sera concebido como urn dano, mas, ao contr8.rio, como uma virtude ("mas ele era resistente").

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e) Finalmente, o objetC> se impoe no momenta em que o individuo o substitui e em que se pronuncia um julgamento a seu respeito. Pode morrer de esquecimento, nao sendo, no caso, substituldo. 0 individuo esta., enfim, ligado ao objeto atraves desses mUltiplos modos, e essa ligac;ao e mantida e refor~ada pela sociedade consumidora, pelo prestfgio social e pelos mass m·edia que definem urn retrato ideal do ser social. Assim e que o filme norte-americana apontad como outcast todo individuo que nao possua nem te1evis3.o nem ice-box nem autom6vel. Quando a popula9ao de objetos do mundo circundante se multiplica, estabelece-se uma especie de saturac;i:io, funr;ao da grandeza (Rendimcntos liguidos - Necessidades sociais) do sortimento do mercado exterior, e de caracteristicas individuais que se podem deixar de \ado numa primeira analise. E ao crescimento desse limiar de saturac;ao do meio ambiente que visa a sociedade de consume.

211


0 fato de que esse ambiente, quando lirnitado no cspat;o ou no tempo, se torne uma percep~ao cultura.t e possua, por isso mesmo, um valor estetico, implica uma liga9Jo entre atitudes est&ticas e numcrosos obie· tos circundantcs. Par exemplo, as teorias da cela caiada de branco, do paHicio maneirista, do universo rococO, do interior kitsch ou das salas nuas implicam um nivel de satura~ao mais ou menos elevado em bibel6s ( pequenos objetos imlteis que servem apenas para canter seus pr6prios dejetos), em enfeites ou em acess6rios da vida. ve-se aqui 0 inlcio de uma rela~i:io entre filosofia estftica de uma 6poca particular e atividade consumidora, e portanto, produtora. Se uma sociedade de consumo preconizar tambt.m a func_i_onalidade, _sera levada a uma contradit;iiD interna, da qual s6 escapafa se ciritr.alizar seu esfon;:o no enriquecimento do universo das fun<;:Oes, mais do que no universo dos objetos. Caber-lhe-3., assim, elaborar e promover teorias da gratuidade, teorias de Estetica etc ...

7.

Da demogra!ia dos objetos

Uma teoria dos objetos de cunho sociol6glco repousara, antes de mais nada, sabre uma an8.lise do existente. Procurara construir uma "demografia" nc• sentido etimol6glco de descrigiio das popula<;Oes e suas varia~6es - termo que freqtientemente sera substituido pela. denornina<;8.o de Pare dos objetos. Pode esse estudo voltar-se seja para o universo global dos objetos seja para o das especies definidas, o que levanta 9_ problema de uma tipologia e de urna classifica(:ao dos objetos. Essa tipologia pode ser realizada de diferen. tes maneiras pelQ fil6sofo, pelo engenheiro, pelo construtor, pelo soci6logo, pelo econornista. Estes dois Ultimos, por exemplo, interessar-se-iio por classificay6es dos objetos baseadas nos prec;os, par exemplo, ou entao no tamanho ou no peso, na freqUencia de uso, no on;amento-tempo de uso, e eventualmente, no tocante aos objetos compostos, na complexidade estrutural ou funcional - a saber, na entropia da distribui<;3o das pe~as elementares que constituem esse objeto para fabrici-lo 212

(nUmcro de pe.;;as c.p..ie servem para constnJir L;L s~c~·-. -rolhas, uma m8.quina de c.screver ou urn televisor). 0 mundo dos objetos comport<l diferentes tipo~. comprcendendo, cada urn deles, ccrto nUmero de arnostras, na esfera da sociedade global ( quantas escovas de clente elftricas existem na sociedade francesa?). Es5ctl estatisticas - chamadas type-token - foram bern estudadas sobretudo por Zipf e Willis, que tentaram delas extrair crit6rios objetivos de classificagao em esp€cies e subespecies. 0 Pare e definido pelo conjunto dos objetos em situa9§.0 de ('vida'\ istO e, pela fun9fi0 Soma das produ<;6es - Soma dos 6bitos, que da Iugar de maneira geral a uma taxa de reprodw;ao liquida dos objetos, ligada, entre outras coisas, a durar;ii.o mi¥ dia de _vida. Com_ bas~ nesse ~studo, chega-se a um modo de vida medio dos objetos, comportando, entre outras coisas, a determina~§.o- de elementos tais como a taxa de natalidade, a mortalidade infantil: no<;:3o de refugo de fabrica~ao, especialmente interessante nas indllstrias incipientes (exemplo: Iconosc6pio), no<;:3.o de taxa de senescencia (grau de peremp<;ao), estudo das causas de rnortalidade. Estas, par exemplo, entram em q~atro categorias:

doen<;a

dcsgaste addente esquecirnento. 0 estudo das doen~as dos objetos leva naturalmente a defini9iio de robustez e a nog6es mais sutis, tais como os cuidados com que se cercam os objetos, ligadas ao conceito de manutent;:ao que determina o servi<;o p6s-venda . Essa analogia entre universo biol6gico e univ~rso Jos objetos pode ser levada mais Ionge ainda. mostrando-se, par exemplo, o paralelismo entre prevenyao m~­ dica e manuten<;:3o, as rela(_;:Oes entre acidentes e doen9a etc ... De qualquer forma, a inventirio do modo de 6bito dos objetos e. urn aspecto importante da sua demografia. Em domfnios bern particulares (relfs telef6nicos,

213


blmpadas incandescentes, barbeadores el6tricos, refrigeradores etc ... ) , estuda.s bastante s6rio-s foram efetuados no plano t6cnico sabre o assunto. Tal demografia encerra, como natural, urn problema interessante: o da Ecologia, ciSncia do equilibria das esp6cies e das reas:6es das modificas:6es umas em rclas:fio as outras. Urn estudo desse genera, de cunho interdisciplinar, deveria ser levado a efeito, para1elamente, par dem6grafos, ecologistas, biomatematicos, engenheiros, economistas e soci6logos. Note-se que ele prop6e um problema pouco tratado ate o momenta: o de urn universe onde as novas esp6cies surgem permanentemente, ao contrclrio da Ecologia tradicional, em grande parte fundamentada na fixidez das especies.

e

8.

Estudo das cole~iies de objetos ou ile sistemas corn-u display

Pode-se, portanto, esquematizar a civiliza9ao i.ndustrial sob o angulo do que ela faz. N a fase terminal, esses caracteres se generalizam numa oferta ao consumidor devorante, que a id6ia de sortimento. Todos esses obj.etos industrials (ou, pelo menos, os mnis accssfvcis clcntre elcs) .sao em geral propostos ao consumidor, n§.o mais em pra9a pUblica, se bern que se continue falando em "mercado", mas dentro das grandes lojas (department stores, supermercados) que oferecem ao indivfduo uma exposi9ao (display) de objetos diversos (abajures de escrivaninha, autom6veis, m:iquinas de lavar, aquecedores e16tricos, cabertares, aparelhos de mesa ou televisores, e ate mesmo coroas fUncbres). Esses objetos sao par ele comprados, chegando mesmo alguns utopistas a pretender que eles !he serao dados para constitufrem o quadro de sua vida material de "homem consumidor". Ele os reline em seu apartamento, em sua casa, em sua cidade, num pattern espdcio-temporal que condiciona seu modo de vida. Trata-se, aqui, de uma combina91io feita pelo indivfduo, e lembrarnos o mobiliB.rio como urn exemplo simples e muito generaliz:ivel. Uma caracteristica da civilizac;ao moderna, na sua cotidianidade, e 01 inventario dos artigos fornecidos pelo supermercado, o cat8.-

e

214

logo das grandes lojas. Af encontramos urn brevi<'trio da civiliza~ao tecno16gica, prOprio para a estatfstica, comportando, !ado a ]ado, desde os produtos mais corriqueiros (o dedal, o fecho eclair) ate as mais raros. Como considerar esses cat::ilogos a nao ser em sua minudencia imediata, como uma longa. enumera<;B.o de artigos diversos? £ certo que se podcm (e foi o que fizeram alguns s6cio-humoristas) deles extrair alguns produtos sintorn::iticos Hio caracteristicos da nossa civiliza<;fio, como a escova de dentes el€trica, as tesouras para decapitar ovos a Ia coque ou a faca de partir grape-fruits, mas trata-se apenas de uma ironia f8.cil derramada sabre os arrancos imprevistos de uma rnaquina s6cio-econ6mica que as vezes funciona no vazio. De fato, o conjunto dessc sortiment_o corresponde a uma esp6cie de mensagem que a sociedade industrial endere9a ao indivfduo consumidor e que obedece a teoria geral das mensagens tal como a estabelece a Teoria da Informa~fio. Vimos acima que a unidadc de medida dessa mensagem € a sua complexidade, definida na fOrmula de Shannon, que apreende, numa expressao estatfstica, a diversi.dade dos elementos que cornp5em a mensagem - aqui, a diversidade dos objetbs que comp5erri o sortimento (repert6ri0) ~, ponderando-os em fun<;8.o da freqi.iSncia de sua ocorrencia no mundo exterior, no caso, a civilizac;ao tecnol6gica emissora da mensagem, is to e, no -nUmero de artigos de certa esp6-cie, produzidos e estocados nos entrepostos, para serem adquiridos nas lojas. H:i artigos raros (as j6ias de exemplar Unico) e artigos freqiientes ( os pregas). Naturalmente, a posse de urn artigo rare ou a sua compra representa, na vida psicol6gica do cidadao da sociedade t6cnica, urn acontecimento rnais importante, urn estfmulo mais sensivel do que a posse de um artigo extremamente freq_iiente.

E exatamente isso o que exprime a fOrmula de Shannon: seja Pi a freqti§ncia de- venda, e portanto de compra, de urn artigo particular da categoria i, seja n o nUmero do Ultimo artigo do cat::ilogo e N, o l).limero total de artigos vendidos. A complexidade do sortimento sera medida pela fOrmula: 215


\'"

Cs I

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Pi·log2P1

-'-'II

Par ai chegamos, pondo-se de lado diversas ques. tOes da hierarquia e subcategorias, a uma aprecia~ac metrica da complexidade do equipamento que a sociedade industrial fabrica. Trata-se de uma medida estatfstica dos produtos do Homo Faber ao qual tao perfeitamente se assimilou o modele do homem ocidental. Mas, ao mcsmo tempo, a ser humano jamais scpara

os produtos, utensHios e objetos, de seu emprego: as m3.quinas que nao servem para nada s6 existem nas

1•. ,

narrativas dos humoristas e as aparentes exceg6es a essa regra funcionalista n§.o passam de falhas de amilise. 0 homem pede ao mundo exterior e a sociedadc tecnol6gica que eles !he respondam. Faz-lhes uma "pergunta generalizada", expressa atraves de suas necessidades. Pede, e as vezes exige, a satisfa~au de suas necessidades dentro de uma dialetica do consume e da prodw;ao que e urn dos motores fundamentais de sua atividade. Mais acima, definfamos o objeto como o que ··e feito para", paralelamente a defini<;ao do produtor, que o ve como C• que He feito de". 0 conjunto das necessidades do homem reflete-se num vasto quadro de necessidades que da Iugar, atualmente, por parte de certos fi16sofos, a urn embrHio de teoria, e adquire, ele prOprio, uma variedade dependente do estado. da civilizac;ao. Ser "civilizado" e, em certo sentido, ter muitas necessidades, e nassa ciVilizagao visa a adequac;fio dos objetos as necessidades dentro de urn ciclo incessantemente renovado, pais novas objetos secretam novas necessidades ( cf. Marx). As necessidades representam, portanto, uma im~n­ sa mensagem- que o homem enderec;a ao mundo ou que o conjunto dos homens endere<;a ao conjunto da produc;ao. Essa mensagem, par sua vez, pode ser analisada como uma soma de necessidades elementares, de func;Oes, de atos etementares, das quais algumas s8.o freqi.ientes e outras raras, algumas satisfeitas e outras recalcadas. Estas correspondem a urn verdadeiro repert6rio, cujo estc:~J::c),_>::im::nto {. C' fi:rlJ L'!'.\.n:.eh·-::-· J,._ T,"':C 211!

ria das Necessidadcs. Conhecemos alguns de seus ek meritos, mas nada de muito sistematico foi realizado attn momenta. Trata-se, contudo, de urn problema essen. . ial para a nossa sociedade moderna, vista que uma das finalidades dos governos e conservar a dire~§o econ6mica, isto e, satisfazer as necessidades de seus sUdii.os. Ja. se concebe, em todo o caso, a possibilidadc de urna expressao estatfstica das necessidades, atraves da medida de uma complexidade do conjunto das nccessidades de uma na<;ao, par exemplo, ou de urn grupo de homcns, au ainda de uma classe social, podendo-se relc.mar, a rcspeito, a analise que a fOrmula de Shannon nos prop6e sabre a complexidade au sabre a informa~ao.

Pode-se, par conseguinte, tentar tragar urn diagrama no qual se situaria uma civiliza~ao au urn estado polltico, quanto ao rnercado e a utilizayao que e feita desse mercado, mediante urn ponto desse diagrama. Colocaremus horizontalmente a complexidade das necessidades, ligada a ideia de fun<;iio a desempenhar, medida pela fOrmula de Shannon com base no repert6rio das necessidadeS- elementares levantado pdos especialistas das necessidadcs sociais, e onde cada um dos elementos 6 assinalado par uma freqi.H~ncia relativa: Iavamos as m§.os certo nUmero de vezes par dia, pintamos o.s apartarnentos certo nUmero de vezes por ano, os pr6dios, certo nUmero de vezes por seculo. Verticalmente, colocaremos a complexidade do surtimentv, isto e, a variedade do repert6rio dos objetos previamente levantado, assinalando-se esses objetos par certa freqUencia de ocorrencia no mercado. Seres simples, civilizac;Oes rudimentares terao urn n(Imero de necessid ades satisfeitas pelos objetos matedais que sera infinitesimal em compara98.0 com as necessidades do adulto ocidental moderno, cercado, nas esferas sucessivas de seu Umwelt, par urn nUmero incrivel de objetos (pensemos no Velho de Hemingway ou no ca(_(ador das tribes prirnitivas comparados a- none.-arnericana media). Objetos e necessidades acham-se }igadc.s numa diah~:tica de perguntas e respostas, cujo 217


aspecto dimensional acabamos de definir: cornplexidade das necessidades, de urn lado, e complexidade do sortimento material, do outro, constituem as duas dimens6es dessa situac;3o do Homo faber. Situando-se, par exemplo, as diferentes nac;6cs por urn ponto, ou a falta de precisao, por uma zona, obtcremos assim_ um mapa econ6mico da funqiio fabricadora. Se as unidades de base forem homogeneas, horizontal e verticalmente, a diagonal podeni significar a adequa~ao do sortimento do mercado econOmico variedade das necessidades sociais para a conjunto da popula~ao e, se a felicidade estiver de alguma forma ligada a satisfac;ao das nccessidades, ela podera representar urn "feliz optimum", v8.lidn, em todo o caso, para o . destino .do Ocidente. agora .sabemos que os Estados Unidos, par exernplo, se situam acima dessa diagonal: ha mais produtos do que necessidades; e, portanto, uma civilizagao de consume. Sabemos, ao contrario, que a U.R.S.S. se situa abaixo dessa diagonal; ai a complexidade das necessidades e superior a dos produtos: a dona de casa russa nao acha. nas grandes lojas nuan<;as suficientes em tecidos de decorac;§.o para satisfazer sua necessidade· de variedade e seu gosto· de arranjo domestico; a dona de casa norte-americana desiste de explorar os fundos de prateleira da Macy's porque n3o quer afundar-se na quantidade enorrne de modelos, e o chefe de se~ao organiza urn grande desfile para seduzi-la e retS-la em sua compra.

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A distftnci a do ponto de origem exprime o progresso da civiliza~ao no sentido tecnol6gico. As mais primtivas civiliza<;6es, as que (mas estas j8. n§.o existem) vi vern de quatro folhas de palmeira, situar-se-iam totalmente nas proximidades da origem, e o conjunto de seu desenvolvimento traduzir-se-ia par um deslocarnento pro.gressivo do ponto representative, seja abaixo da diagonal (paises subdesenvolvidos) seja acima da diagonal (paises superdesenvolvidos em re1ac;3o as suas necessidades). Pode-se dizer que essa diagonal de optimum separa as sociedades de produc;ao, qU:: tem moliva<;6es para produzir, das sociedades de consume, onde a produg3o supera as necessidades e, per con218

seguinte, se d8. maior enfase as motiva(_;6es consu·· mit6rias. A distfrncia que vai de um ponto representat~vo de uma dada sociedade a diagonal concretiza, em si, certo tipo de jon;a econ6-mica, da qual ate c momenta nao se ton1ara consciencia; a analise das com poncntes dessa fon;a urn tema que se prop6e ac interesse dos economistas e tecnocratas. Para as sociedades de. consumo, em particular, essa dist5.ncia estanl ligada as fon;as auxiliares que deverao ser introjuzidas no meio sodal para deslocarem esse ponto e o chamarem de volta a diagonal. Dessas for10as, a mais conhecida e a publicidade. Uma diagonal desse tipo deveria, portanto, sugerir aos nossos tecnocratas, que se defrontam com o problema do mercado em paises de consumo para onde exportam, a intensidade do esfor\'O publicitario que lhes cumpriria realizar. No outro sentido, para as sociedades de produgaQ, esse afastamento traduz a inadequa,ao relativa do mundo exterior as necessidades do indivfduo, e portanto certo descontentamento difuso em relac;ao ao mundo tal como e, expresso sob forma estatistica: descontentamento bern conhecido. Ora, n6s sabemos que urn dos fateres fundamentais da criatividade e a capacidade de insatisfa~ao c.liante do mundo exterior: '~Este mundo nao esta born, varnos mud3.-lo" - essa e uma das molas propulsoras da pesquisa de soluc;6es originais. No estado atual de nossos conhecimentos, fica difkil tragar esse diagrama de maneira precisa. Tal seria urn dos objetivos da demograjia dos atos e objetos, que e urn dos trope<;os com que tapa a Sociologia atual, razao pela qual as indicag6es acima podem ser apenas qualitativas. Podemos construir sabre_ o mesmo principia series de diagramas relativos a grupos de homens diferentes: em lugar de estudarmos as nac;6es, podemos estabelecer como objetivo o estudo das culturas ou dos subgrupos de uma dada sociedade; assim, podem as comunidades de acampamentos hippies pretender insurgir-se contra a civiliza~ao de consumo que sua situac;ao nesse diagrarna, em relayao a outras categorias sociais, nos dar8. a medida do fundamen.to de suas pretens6es. Outros tipos de diagramas poderiam ser feitos para categorias particulares de objetos e servir de ajuda a politica de venda das grandes lojas.

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219


'!.

Sociologia geral d,os objctos em gmpn

0 termo "Sociologia dos Objetos'" e perfeitamentc adequado, do ponto Ue vista etimo16gico: socius vcm de sequor (seguir, acompanhar) e nada indica implicitamente que urn socius deva necessariamente constituir-se de seres humanos ..E na medida em que o conjunto dos objetos se acha ligado por rela<;oes 16gicas ou e.statfsticas que se podeni constituir uma Sociologia dos Objetos, ou Ciencia dos Objetos em grupo. Pode-se ainda ir mais longe e tentar reter do progresso da demografia certo nllmero de conceitos. A no~ao de pirilmide social ( e n3o mais simplesmente de piramide demogr:ifica) dos objetos leva a distingao de classes desses objetos, e dai, a pesquisa de crit€rios dessas classes. Podem ser clas-ses Ciilegorials simplesmcnte justapostas, ou classes de prestigio ou de valor, que implicam, na sua definic;3o, uma "dinllmic1 social". Exemplos: objetos de arte, objetos utilit8.rios, objetos t€cnicos, objetos inUteis. Desembocamos par al nuina mobilidade social rela~ tiva a evolu<;iio desta ou daquela categoria de objetos, que mudam de classes em func;Jo de certo nUmero de outras categorias, exemplos: decorac;ao, - funcionalidade etc ... Em que medida urri peso de papeis 6 objeto de arte ou objeto funcional? Em que medida urn aparelho fotogratico e urn objeto funcional ou utilit3rio? D<i-se assim infcio a uma s€rie de perguntas que servirao para construir uma ciSncia dos objetos. A esse respeito, a escolha de bons exemplos, ao mesmo tempo caracterlsticos de urn problema corrente, mas par outre lado dotados de um nllmero de aspectos essenciais suficientementc reduzido para que se possa resolve-los, sera em si uma contribuic;3.o para uma tipologia importante, A lampada eletrica e urn objeto teenice, o ferro de passar roupa, urn objeto utilit<irio; a partir de que grau de aperfeigoamento o ferro passa tk

220

~ecnica

a utilidade? lsso permite dar urn enfoque ~-tJ·· ciona1 a distinc;ao entre "ttcnico" e "utilit3rio" que tern uma impordincia sociol6gica bastante grande ma~; nao foi corretamcnte tratada at-6 o momenta. A trajet6ria, ao longo do tempo, de certos objetos dentro de uma pir3.mide social dos objctos, e um fenOmeno de "promoc;fio social" muito visfvel, por exemplo, a prop6sito dos tclefones. A descri<;ao do U mwell centrado em torno de tal ou tal indivlduo, continua a ser, sem dUvida alguma, urn dos ·quadros mais importantes de referencias. Uma sociologia dos objetos s6 ter<i urn sentido profunda na medida em que tamar o homem consumidor como fator integrante. Niio pode, fundamentalmente, bastar-se a si prOpria. Surge, enta:o, o problema da adapta<;ao do objeto ao homem, e o conceito de "dist8.ncia funcional'' entre a posi<,;§.o de urn objeto situado num espa<;o de representa<;B.o, ou "sem8.ntica funcional" ( espa~o das necessidades), e uma necessidade situada por urn ponto no mesmo espac;o, sed. urn dos instrumentos te6ricos que nos devera permitir chegarmos ate !a. . Conceitos mais especfficos_ podem apresentar gran~ de interesse; citemos, por exemplo, as familias de ob[etos ligadas por uma "rela<;fio de parentesco" ja evocada por Miches a prop6sito dos centros de interesse) isto e, onde uns engendram os outros dentro de uma funcionalidade global (exemplo: o servi<;o de mesa ou o "aparelho de ch2."). Distinguir-se-a urn nUmero bastante grande dessas famllias) que serao estudadas quantitativamente, buscando-se suas relac;Oes concorrenciais criadas peia icteia de urn limite de emprego. 0 que faz uma pesso a que possui um aparelho de ch3, outro de cafC e outro de chocolate? ou outra que possui simu1taneamente urn aparelho de radio e urn projetor de diapositivos, mas que nao disp6e de urn or~amento-ternpo ilimitado? Outro criteria de estudo retomara as distin~Oes cta Sociometria e tentara definir "microgrupos" de objetos estreitamente ligados por rela<;-Oes nJo mais funcionais mas estatlsticas) isto e, por probabilidades de ligac;Oes temporals au espaciais. 0 estabelecimento de tais estatlsticas, atraves da literatura de fic~ao, por exemplo,

221


u pelo estudo do hod.rio dos individuos, define, atra-,r6s dos objetos, cadeiar; de ar;Oes objetivaveis ligadas a cadeias de objetos aproximados no tempo e, par conseguintc, no espirito dos indivlduos, segundo leis de associaqao derivadas daquelas, propostas por W. James. A coloca~ao em evidencia de fragmentos dessas cadeias apresentaria interesse para a pesquisa dos produtos novas; exemplos: a isgueiro corta-charuto ou o batom-espelhinho. Em oposic;ao aos microgrupos, ligados par rela.;:oes estatisticas e setas de intera~ao, definir-se-8.o os Hmacrogrupos", ligados pela simples posse comum de certas propriedades. A inexistencia no dominic dos objetos, vistas sob seu iingulo geral, de tabelas de valores tao nltidas como as que regem quase neccssariamcnte o soCi6logo "no estudo das sociedades· huinanas, -pode levar a procura, aplicando-se sistematicamente 0 "metado de estranheza", de crit6rios de classificagao outros que nao aqueles definidos pelo usa, e que maior interesse apresentarao, par isso mesmo, para os fabricantes de objetos. Para classificarmos os objetos, dispomos em geral de tres possibilidades. Inicialmente, a t.entativa de classificac;ao pdo metoda de Zipf-Willis, no qual se definem classes arbitdrias com base num crit6rio quantitativa qualquer (exemplo: o pre~o) e se procuram distribuir os objetos entre essas classes. Sabemos, pelo exame exaustivo do catalogo de grandes lojas de venda por correspondencia, que essa distribui~ao segue uma reta de Zip! e que, destarte, se podem definir subclasses em numero K tal que_ cada uma contenba N/K objeto. Com base nessa dimens8.o de variabilidade, somas levados a adotar uma s6rie de outros crit6rios, igualmente arbitnirios: o peso, a dimensao etc., e definirmos urn e5par;o de configuraf(iiO comportando camadas esf€ricas eqliidistantes, dentro das quais a densidade dos elementos decresce regularmente a medida que nos afastarnos de urn centro. Somas, assim, levados a uma classificayao racional, totalmente estranha as classifica-;6es corrcntes, mas da qual se pode dizer, com base no axiom a de continuidade dos fen6menos naturais, que toda

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anomaiia na distribuir;fw, ou varia~iio dpida dessa distribui9iio, e 0 trar;o caracteristico de wn: fenbmeno do universe dos objetos, fenOmeno que convem descrever e e mister explicar atraves de causas humanas, reencontrando, assim, a razao de ser ~nicial do universo dos objetos. Pode-se tambim definir certo nUmero de caracteristicas m€trkas dos objetos com base em seus espa,os de atributos, que diferem do precedente por uma funcionalidade maior, e em seguida estudar nesse espa~o o clustering, o ato do agrupamento, a associayao dos elementos considerados. Nessas condi<;Oes, encontramos grupos dotados de centros de gravidade que definem tipos, podendo-se, mesmo, a essa altura, procurar formular uma teoria desses tipos. Artiflcios bastante complexos, como a rotayao dos cixoS ap6s uma analise faterial, embora permitarn nesse dominic renova~6es de ponto de vista, tern o inconveniente de se manterem a um nivel de abstray§.o excessiva, escapando assim, em certa medida, aos soci6logos praticantes. Certo nUmero de crit6rios de agrupamentos )lOS sao propostos pela evolu~ao dos objetos. A miniaturizar;ao, por exemplo, e perfeitamente conhecida no dominic t€cnico, em toda a parte onde o objeto nao conserva rela~Oes diretas com o tamanho do homem (exemplo: transistores) e onde pode prazerosamente 223


rscapar 3s dimens6es humanas. As panelas n3.o podem :.eguir o exemplo dos transfs to res, mas a bateria de cozinha, no seu conjunto, pode procurar adotar, na esfera cotidiana, dimcns6es proporcionais a import5.ncia das suas fun<;Oes na vida real. Pode-se adrnitir que ccrto nlimero de objetos tendam de maneira contfnua para uma dimcnsao 6tima, intimamente ligada as suas fun<_;6es, exemplo: gravadores, rel6gios de pulso, televisores.

Outm caniter, proposto por uma Sociologia dos Ob-jetos que se prenda

cada,

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a no9ao

de famflia acima evo-

dos objctos desmontaveis ou miiltiplos ( bo-

necas russas, mesas el<isticas ou cadeiras de bar).

A

evolw;ao futura de ccrtos objetos pode, par fim, leva-los a desapareccr da.pr6pria categoria dos objetos, embora conservando func;6es que lhes s搂o inerentes.

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