Catálogo Arte Pará 2003

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Arte Pará 2003 - 22ª edicão


22a Edição O Modernismo como Inspiração e Diálogo Museu do Estado do Pará Galeria da Residência Fundação Romulo Maiorana Belém-PA Outubro 2003

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Ao longo dos seus vinte e dois anos de atuação, a Fundação Romulo Maiorana vem

1982 - “Um novo espaço”. Assim escreveu João de Jesus Paes Loureiro no texto de

assumindo um papel cada vez mais importante para o cenário artístico do Pará,

abertura do primeiro Salão Arte Pará. Passaram-se vinte e dois anos, com mudanças no

notadamente o das artes plásticas.

mundo, no país, no Estado e no tempo; e o salão Arte Pará está vivo e vive na busca de

De um sonho que passou de pai para filha, o trabalho exercido nesta fundação ganha,

aprender para poder ser visto.

ano a ano, uma dimensão mais profissional e organizada, realizando projetos que unem

O Salão Arte Pará é um espaço ainda novo, de vinte e dois anos felizes e de um trajeto

arte e educação. Não só para a formação de um futuro público para exposições de arte,

de idéias concretizadas. Sua finalidade, através dos seus espaços, MEP e Galeria da

mas para a formação de cidadãos mais esclarecidos e cientes de seus papéis sociais.

Residência, é educar com a arte, revelando um tempo passado e o contemporâneo. É

Uma missão que procuramos seguir em todas as empresas que compõem as

um trabalho de vida longa.

Organizações Romulo Maiorana.

2003 - Estamos na maturidade e no crescimento, o Salão ousa mais em sua curadoria e,

Na apresentação de mais uma edição do Arte Pará, que hoje temos o orgulho de ver como

como vem fazendo há alguns anos, investe em atividades didáticas, com o apoio dos

o mais importante salão de arte da região Norte, agradeço a todos que têm feito com que

monitores da Universidade Federal do Pará. Temos um compromisso com a educação. O

seja possível continuar o sonho e ampliá-lo, dando a abertura para um diálogo entre artistas

Salão evoluiu. Seu percurso é de um trabalho em conjunto, de uma equipe infatigável na

de todas as partes do Brasil. Agradecemos especialmente às empresas que patrocinam o

busca de realizar um sonho dividido com todos.

evento deste ano: REDE Celpa, Unimed-Belém, Supermercados Nazaré e Sistema Del Rey Casa Própria.

Lucidéa Maiorana

Roberta Maiorana Diretora Fundação Romulo Maiorana

Presidente

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Seleção 8 Premiação

9 Galeria da Residência 75 Fotografia

Museu do Estado do Pará 11 Artes Plásticas O modernismo como inspiração e diálogo Alberto da Veiga Guignard Aldo Bonadei

Quantos salões no Brasil têm a permanência do Arte Pará? Virou tradição. E tão inarredável quanto o Círio de Nazaré, integrando-se a ele tanto no calendário, quanto na expectativa e nos zelosos preparativos que antecedem ambos. A feliz semente do seu criador, Romulo, amadureceu nas mãos diligentes da filha, Roberta, a lhe dotar de novos ares e rumos, mas sem perder jamais os objetivos traçados desde a

Alfredo Volpi

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Grande Prêmio

Fotógrafos Selecionados

Fichas Técnicas

Ismael Nery

Tarsila do Amaral

novos valores, sem descurar aqueles que já estão consagrados; ampliar o debate do

Vicente do Rego Monteiro

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conceito de arte, particularmente a contemporânea, refletindo sobre a sua inserção social. Entre a Figura e a Abstração

decisão de manter viva a chama, e que continue a iluminar os tempos que vão chegar.

44 Benedicto Mello 46 João Pinto Martins 48 50

Roberto de La Rocque Soares

Secretário Executivo

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Augusto Morbach

Mário Pinto Guimarães

Paulo Chaves Fernandes

93 Agradecimentos 95 Patrocinadores 96 Apoio Cultural 97

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simbólicas entre os nossos artistas e os do restante do país; estimular o surgimento de

assumido com o bem fazer. Celebremos, sem dúvida de qualquer índole, a obstinada

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artes visuais que fosse referência nacional; propiciar condições ideais para as trocas

Bem, obrigado - assim caminha o nosso Arte Pará nessas duas décadas de compromisso

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84 Segundo Prêmio 85 Aquisição 86

20 Antônio Gomide 22 Cândido Portinari 24 Clóvis Graciano 26 Antônio Bandeira

Fulvio Pennacchi

Caixa de Luz Luiz Braga Mostra Competitiva Fotografia

Emiliano Di Cavalcanti

primeira versão: estabelecer um espaço competitivo de excelência para as chamadas

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Ruy Meira

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56 Waldemar da Costa 58 Yoshio Yamada 60 Tadashi Kaminagai

Mostra Competitiva Artes Plásticas

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64 Segundo Prêmio 65 Aquisição 66 Grande Prêmio

Artistas Selecionados

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Seleção A comissão que fez a seleção dos artistas participantes do Arte Pará 2003 foi formada

Premiação

pelo curador Marcus de Lontra Costa, pelo jornalista e crítico de arte Celso Fioravante, pela jornalista Daniela Name, pelo fotógrafo Orlando Maneschy e pelo artista plástico

A premiação do Arte Pará 2003 aconteceu no dia 6 de outubro e deu o grande prêmio de

Emanuel Franco, que presidiu os trabalhos.

artes plásticas para Marcone Moreira (PA) e o grande prêmio de fotografia para Eduardo

A seleção aconteceu no dia 12 de setembro de 2003, na Galeria da Residência, totalizando 53 artistas escolhidos, sendo 33 deles em artes plásticas e 20 em fotografia. Na avaliação das obras, foram observados os critérios de contemporaneidade e adequação dos meios técnicos às propostas apresentadas.

Kalif (PA). O segundo lugar em artes plásticas foi dado a Lúcia Gomes (PA) e, em fotografia, a Miguel Chikaoka (PA). O júri também concedeu prêmios de aquisição para Danielle Fonseca (PA), Alexandre Monteiro (RJ), Frederico Dalton (RJ), Dirceu Maués (PA) e Alexandre Sequeira (PA). O júri de premiação foi formado pelos fotógrafos Evandro Teixeira e Orlando Maneschy, pelos curadores Jussara Derenji e Marcus de Lontra Costa e pelo artista plástico Emanoel Franco, que presidiu os trabalhos. Eles mantiveram os mesmos critérios usados para a seleção, acrescentando os itens de pesquisa e adequação da obra ao projeto expositivo.

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Di Cavalcanti Carnaval (detalhe da obra), 1972 Óleo sobre Tela, 1,67x1,97m Acervo do Banco Central

Museu do Estado do Pará Artes Plásticas

O modernismo como inspiração e diálogo Curadoria Marcus de Lontra Costa

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O modernismo como inspiração e diálogo

sempre: “Se foi Higienópolis que fez a Semana de Arte Moderna de 1922, foram Cambuci e adjacências que fizeram a Família Artística Paulista na outra etapa. Se o local em que se

A mostra reúne 31 obras da coleção do Banco Central, um dos mais importantes acervos sob a guarda de instituições públicas no Brasil. Esse pequeno e exemplar conjunto de obras selecionadas pela curadoria traça um roteiro sintético do período “heróico” do

realizou a Semana foi o majestoso foyer do Teatro Municipal de São Paulo, a sede da Família era uma sala do edifício Santa Helena, no largo da Sé, onde desde 1933 se localizava a maior parte dos sindicatos novos criados com a Revolução de 30.”

modernismo brasileiro, que se esboça nas duas primeiras décadas do século XX, se cristaliza na emblemática Semana de 22 e avança até a criação de instituições voltadas

Esse projeto modernista, de caráter nacionalista, encontra eco nas propostas do novo

para a difusão específica da arte moderna, como os Museus de Arte Moderna do Rio de

governo e se estrutura através do embate político provocado pela revolução bolchevista

Janeiro e de São Paulo, criados no final dos anos 40.

de 1917 e os movimentos nazi-fascistas que alcançam o poder na Itália e na Alemanha. O Brasil dos anos 30 assinala a formação de um modernismo nacionalista, disposto a

De Tarsila do Amaral a Alfredo Volpi, a curadoria buscou traçar um eixo crítico no qual se evidencia o principal desafio da arte moderna em nosso país: criar uma obra autônoma num país periférico e contribuir para a formação de um olhar brasileiro que incorporasse elementos do nosso passado e, ao mesmo tempo, viesse projetar as bases do nosso futuro. O modernismo surge, portanto, como um desejo, uma ânsia de um país jovem e republicano disposto a criar um novo “projeto visual” que substituísse a velha ordem imperial representada pela Academia, oriunda da Missão Francesa de 1815, trazida ao Rio de Janeiro por D. João VI. Agrícola e conservador, o Brasil desses “tempos heróicos” sofria as pressões de uma pequena classe média dos grandes centros urbanos que clamava por uma mudança no quadro político nacional. Essa reação espalhava-se com destaque no meio militar, no movimento “tenentista” e numa espécie de ímpeto desenvolvimentista que colidia com a política da Velha República. Nas artes, o modernismo vem a se manifestar inicialmente com os herdeiros dessa aristocracia, privilegiados estudantes que voltavam da Europa

colaborar efetivamente para a formação do olhar e do sentimento brasileiro. A exuberância das mulheres de Di Cavalcanti e o lirismo e sofisticação das paisagens e naturezas-mortas de Guignard são elementos característicos dessa situação. Porém, se Tarsila, sob todos os aspectos, é o símbolo da ânsia modernista dos anos 20, Portinari, filho de imigrantes italianos, de origem campesina, de grande técnica e extraordinário talento, incorpora elementos acadêmicos, dialoga com os muralistas mexicanos e traz, definitivamente, o homem brasileiro para o centro da discussão, tema principal da arte e do nosso modernismo, híbrido e necessário na sua tentativa de se fazer presente numa arena nacional por vezes tão erma e cruel para a afirmação do novo. A presença de Le Corbusier, o surpreendente arrojo da arquitetura moderna brasileira e a construção do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro acabam por resolver definitivamente os dilemas do nosso modernismo e contribuem para a implantação de novas diretrizes teóricas, nas quais se resolve a dicotomia entre o nacional e o internacional, entre o Mundo e o Eu.

com novas informações, novos projetos. Nesse sentido, as obras de Antônio Bandeira se afirmam como explosão de vitalidade e Ao mesmo tempo, os ímpetos nacionalistas, já despertados na segunda metade do século XIX com os movimentos artísticos de valorização do índio brasileiro, ressurgem com força total na literatura e nas artes, visando a valorização da língua “brasileira” e das

ousadia cromática, enquanto o genial Alfredo Volpi detona conceitos tradicionais com a elaboração de uma obra poética na qual a clareza e a sofisticação estabelecem um dos mais belos diálogos de toda a história da arte brasileira.

nossas lendas e costumes nacionais, muitas vezes sufocados pela valorização estética excessivamente européia imposta pelos padrões da Academia.

Surge, então, já nos anos 50, um país estruturado e pronto a enfrentar os grandes dilemas estéticos com os quais o mundo se defronta. Graças a esses artistas, o Brasil começa a

Assim, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Antônio Gomide e Vicente do Rego Monteiro trazem esse jovem e aguerrido espírito modernista patrocinado por uma aristocracia disposta a épater les bourgeois, ao mesmo tempo em que refletem o compromisso de um país disposto a estabelecer novos pactos de convívio e ação política e social. Nesse sentido, a pintura ao mesmo tempo moderna, surrealista e ingênua de Tarsila, a “caipira

estruturar um olhar substantivo e coerente e cria uma linguagem na qual elementos internacionais e nacionais se fundem de maneira ousada e harmônica. A abstração geométrica e informal, os grandes movimentos culturais dos anos 50 (concretismo e neo-concretismo, bossa nova, cinema novo, etc...) tornam-se possíveis graças à ação ousada e pioneira desses grandes artistas, que estruturam a base de nosso saber.

vestida por Poiret”, aluna de Léger, esposa de Oswald de Andrade e herdeira e afilhada da República Velha, é exemplar como emblema e síntese dos anos 20 e das curiosas e

Vê-los aqui, reunidos, nessa Feliz Lusitânia, querida Belém, é mais que uma honra e um

intrincadas relações da arte moderna com as forças conservadoras do poder constituído.

prazer. É um reencontro sempre necessário com o que temos de mais puro e valioso, a nossa história, os nossos valores, a nossa maneira de ver e dialogar com o mundo. Tudo

Na verdade, a arte moderna acaba por se estruturar como realidade concreta e como

o que nos une...

estratégia real de formação de um pensamento crítico coerente somente nos anos 30, seja com a ação efetiva dos artistas modernos na então capital brasileira, Rio de Janeiro , seja com o surgimento de uma nova geração de artistas oriundos da classe operária em

Marcus de Lontra Costa

São Paulo. Conforme anota o grande Mário Pedrosa, com a inteligência e precisão de

Belém, setembro de 2003.

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Alberto da Veiga Guignard Nova Friburgo - RJ, 1896 / Belo Horizonte - MG, 1962

Marcada pela singeleza, a obra de Guignard guarda algo de extremamente autêntico, que revela a própria personalidade amorosa e solitária do artista, em trabalhos cujo despojamento das pinceladas e a estruturação aparentemente simples do desenho ocultam uma ciência compositiva sóbria e apurada. Suas paisagens, recriadas em uma atmosfera onírica, e que sugerem referências orientais, são trabalhadas com delicadeza e dramaticidade. Amante do desenho, com o qual organiza suas composições, Guignard foi ainda um grande retratista, autor de cenas brasileiras e de naturezas-mortas muito sensíveis, tendo mesmo se aventurado pela temática religiosa e incursionado tardiamente pela pintura histórica. Introvertido e apaixonado, carinhoso e solitário, Guignard, atento à ciência da pintura, levou para sua obra a dolorida ternura de sua alma. Menção Honrosa no Salão Nacional de Belas Artes de 1924, quando esteve rapidamente no Brasil, Medalha de Bronze no salão de 1929 e Prata no salão de 1939, ganhador do Prêmio de Viagem ao País em 1940 e Medalha de Ouro em 1942, Guignard conquistou aos poucos amplo respeito e admiração, construindo, ao longo dos anos, uma obra sólida e fiel aos seus princípios estéticos. Convidado por Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, Guignard mudouse em 1944 para Minas Gerais, onde viveu até o fim da vida como professor de um curso livre de desenho e pintura.

Vaso de Flores, 1958 Têmpera sobre Tela, 0,50x0,70m Acervo do Banco Central

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Aldo Bonadei São Paulo - SP, 1906 / São Paulo - SP, 1974

Aldo Bonadei foi aluno de Pedro Alexandrino entre 1923 e 1928, período em que freqüentou ainda o ateliê de Antonio Rocco e o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. No começo dos anos 30, foi para a Itália, onde estudou na Academia de Belas Artes de Florença, aprofundando-se no estudo do nu. Retornou a São Paulo e passou a integrar a Família Artística Paulista e o Grupo Santa Helena, do qual faziam parte artistas como Rebolo, Zanini, Pennacchi, Clóvis Graciano e Volpi. O artista faz parte da segunda fase do modernismo brasileiro, caracterizada pelos artistas proletários que, com cavalete às costas e caixas de tintas nas mãos, trabalhavam suas telas ao ar livre, diante do assunto - em geral paisagens dos arredores da cidade. Rompendo com o rigor inicial do aprendizado acadêmico, Aldo Bonadei alcançou, progressivamente, uma simplificação de seus planos pictóricos, absorvendo os exemplos de Cézanne e de um cubismo moderado. Sua liberdade criativa, no entanto, o levou por caminhos variados e pessoais, com uma paleta de alturas cromáticas muitas vezes intensas. Suas experimentações no campo da abstração expressam a tensão entre uma representação figurativa lírica e uma racionalidade muito subjetiva, operando assim, em um só artista, uma multiplicidade de forças plásticas em constante elaboração. A arte abstrata foi praticada por Bonadei esporadicamente, entre 1940 e 1968, sempre em paralelo à obra figurativa. Apesar dessas interessantes experiências com a abstração, o artista produziu as melhores obras dentro dos temas cezanianos prediletos: as naturezasmortas e as paisagens.

Igreja, 1955 Óleo sobre Tela, 0,55x0,74m Acervo do Banco Central

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Alfredo Volpi Lucca - Itália, 1896 / São Paulo - SP, 1988

Chegou ao Brasil ainda criança. Foi entalhador, carpinteiro, encadernador e pintor decorativo e se dedicou progressivamente ao estudo da pintura. Após uma primeira premiação em 1928, começou a freqüentar o Grupo Santa Helena, saindo em expedições pictóricas pelos arredores da cidade e se relacionando com artistas como Rebolo Gonzales, Bruno Giorgi, Mario Zanini e Aldo Bonadei. Mestre de um colorido tonal sucinto e harmonioso, Alfredo Volpi iniciou sua pintura ainda sob os efeitos de um impressionismo tardio, ampliando seu universo estético no contato com outros artistas. Alcançou uma alta maturidade expressiva já em suas primeiras paisagens e marinhas, julgadas por Sérgio Milliet como algumas das melhores de nossa pintura, junto aos trabalhos de Castagnetto e Pancetti. A atenção sobre alguns aspectos da arquitetura colonial, somando-se ao influxo dos prérenascentistas italianos, transparece em sua produção construtiva que, se aproximando da abstração, não rompe com as referências do mundo exterior. Após participar da XXVI Bienal de Veneza em 1952, dividiu com Di Cavalcanti, no ano seguinte, o Prêmio de Pintura da II Bienal de São Paulo. Novamente na Bienal de Veneza, em 1954, Volpi foi apontado pelos artistas do abstracionismo geométrico como um de seus precursores, participando como convidado especial de exposições de arte concreta no Rio de Janeiro (1956) e São Paulo (1957).

Bandeiras e Mastros, Sem data Têmpera sobre Tela, 1,02x0,70m Acervo do Banco Central

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Antônio Bandeira Fortaleza - CE, 1922 / Paris - França, 1967.

Começou nas artes de modo praticamente autodidata. Desde jovem, atuou na vida cultural de sua cidade, fundando, com outros artistas, o Centro Cultural Cearense de Belas Artes. Entre 1942 e 1945, expôs localmente suas pinturas e desenhos figurativos de índole expressionista, ligados tematicamente a uma ambiência regional. Mudou-se em 1945 para o Rio de Janeiro, com Aldemir Martins e Inimá de Paula. Foi onde realizou com sucesso uma primeira individual no Instituto dos Arquitetos do Brasil. No mesmo ano, conseguiu uma bolsa de estudos do governo francês e se mudou para Paris. Pintor de grande liberdade criativa, mesmo em sua produção figurativa, Antônio Bandeira é dono de uma obra de certo modo intimista, apesar dos gestos largos de algumas de suas pinceladas, que materializam plasticamente uma espécie de paisagem interior e psicológica e uma busca pela verdade da própria pintura, sem compromissos com a realidade imediata do mundo exterior. Sem deixar de lado a qualidade e importância de suas obras na fase cearense, é a ida do artista para Paris, entretanto, que o coloca na linha de frente dos debates artísticos de seu tempo, com o abstracionismo informal se impondo naturalmente como sua linguagem preferencial, o que fez de Bandeira um dos expoentes internacionais dessa vertente.

Olhos Saindo na Escuridão do Bosque, 1953 Guache sobre Cartão, 0,98x0,68m Acervo do Banco Central

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Antônio Gomide Itapetininga - SP, 1895 / Ubatuba - SP, 1967

Antônio Gonçalves Gomide foi aluno da Escola Normal de São Paulo antes de se mudar com a família, em 1913, para Genebra, onde freqüentou a Academia de Belas Artes local até 1918. Estudou com Gillard e Ferdinand Hodler. Naquela mesma época, entrou em contato com Sérgio Milliet, também na Suíça. Na década de 20, após viagens entre Espanha, Portugal e Brasil, o artista se fixou na França. Foi onde aprendeu com Marcel Lenoir a técnica do afresco, colaborando na execução de murais para o Institut Catholique e conventos da região de Toulouse. Instalado em Paris, entrou em contato, nesse período, com Picasso, Braque, Lhote, Picabia, Severini e os brasileiros, como Brecheret, Anita Malfatti e Vicente do Rego Monteiro. Realizou, também nesse período, vitrais, cartazes e desenhos em tecidos, expondo no Salon des Indépendants (1924) e no Salon d’Automne (1926). Expôs seus trabalhos com sucesso também em São Paulo, em 1927, quando executou afrescos em algumas residências da cidade. Logo depois, retornou definitivamente ao Brasil e participou, em 1930, junto a Tarsila do Amaral e outros artistas, da exposições da Casa Modernista e de arte brasileira no Roerich Museum de Nova Iorque. Em 1931, expôs no chamado Salão Revolucionário, no Rio de Janeiro e, em 1932, participou da fundação da Sociedade PróArte Moderna e do Clube dos Artistas Modernos, com Di Cavalcanti, Carlos Prado e Flávio de Carvalho. Dono de uma técnica controlada, Gomide constrói seus quadros em composições figurativas muito equilibradas, nas quais as texturas e tons terrosos de alguns trabalhos evidenciam as pesquisas do artista que, dominando o afresco, percorre ainda um conjunto diferenciado de linguagens, em desenhos, gravuras, aquarelas, relevos, cerâmicas e esculturas. Seguro e dinâmico, o artista dá à figura humana um tratamento quase abstrato, destacando-se em sua produção a elevada sensibilidade de suas pinturas religiosas, a beleza de suas paisagens e marinhas, e o extraordinário movimento de suas cenas populares.

A Despedida, 1930 Óleo sobre Tela, 1,05x1,31m Acervo do Banco Central

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Cândido Portinari Brodósqui - SP, 1903 / Rio de Janeiro - RJ, 1962

Considerado o mais importante pintor moderno brasileiro, Cândido Portinari traduz o conteúdo freqüentemente dramático de suas obras em um cromatismo sóbrio e equilibrado que, trazendo a presença de um certo classicismo, denota algo de sua origem peninsular. De família de agricultores imigrantes no interior paulista, Portinari auxiliou na decoração interna da paróquia de sua cidade em 1912, ainda menino. Em 1918, matriculou-se no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, onde, em 1921, começou a estudar pintura na Escola Nacional de Belas Artes. Participou regularmente do salão anual da instituição e ganhou, em 1928, o cobiçado Prêmio de Viagem ao Estrangeiro. Partiu para a Europa, onde permaneceu até 1931, quando retornou definitivamente ao Rio de Janeiro. Realizou sua primeira individual em São Paulo, em 1934 e, no ano seguinte, sua obra “Café” foi premiada na International Exhibition of Paintings de Pittsburgh, EUA. Foi quando passou a reger a cadeira de pintura do Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal. Após uma vasta produção pictórica, na qual se destacam seus inúmeros retratos e cenas brasileiras, foi convidado, em 1953, para realizar um painel na sede da ONU em Nova York. Intitulado “Guerra e Paz”, o painel foi inaugurado quatro anos depois, sendo premiado com o Guggenheim’s National Award e o Hallmark Art Award. Ainda em 1953, Portinari pintou os murais para a igreja de Batatais, no interior paulista, e expôs no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foi eleito pelo International Fine Arts Council dos Estados Unidos como o melhor pintor de 1955.

Samba, 1956 Óleo sobre Tela, 1,67x1,97m Acervo do Banco Central

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Clóvis Graciano Araras - SP, 1907 / São Paulo - SP, 1988

Clóvis Graciano mudou para a capital paulista em 1934, após participar da Revolução Constitucionalista de 1932. Até então autodidata, seu contato com Cândido Portinari o levou a freqüentar o ateliê de Waldemar da Costa. No mesmo período, cursou a Escola Paulista de Belas Artes. Em 1937, instalou-se no Palacete Santa Helena, onde se integrou ao chamado Grupo Santa Helena, que congrega, entre outros, Francisco Rebolo, Mario Zanini e Aldo Bonadei. Membro também da Família Artística Paulista, foi eleito presidente do grupo em 1939, participando regularmente dos Salões do Sindicato dos Artistas Plásticos. A partir dos anos 50, dedicou-se à pintura mural e realizou mais de cem trabalhos em edifícios de diversas cidades brasileiras. Clóvis Graciano produziu também ilustrações para obras literárias, cenários e figurinos. Na década de 70, o artista assumiu o cargo de diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo e a função de adido cultural em Paris. Em sua obra, que se destaca no ambiente artístico da época, convivem harmoniosamente elementos figurativos distintos, extraídos tanto do expressionismo, quanto de certo realismo social. Dono de um desenho estruturante de grande talento, o artista dedica atenção especial à figura humana e atinge, com sua linguagem compositiva e cromática, um lirismo comedido e rigoroso.

Retrato de Tarsila, Sem data Óleo sobre Tela, 0,50x0,65m Acervo do Banco Central

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Emiliano Di Cavalcanti Rio de Janeiro - RJ, 1897 / Rio de Janeiro - RJ, 1976

Di Cavalcanti começou a exprimir suas propensões artísticas ainda muito jovem, ao publicar, em 1913, sua primeira caricatura na revista Fon-Fon e participar, em 1916, do I Salão dos Humoristas no Rio de Janeiro. Já estudante de Direito, em 1917, mudou-se para São Paulo, passando a estudar na Faculdade do Largo São Francisco. Mas logo envolveu-se com a imprensa, trabalhando como revisor no jornal O Estado de São Paulo e publicando ilustrações em O Pirralho. No mesmo ano, realizou uma individual de caricaturas. Freqüentando, a partir de 1918, o ateliê de Georg Fischer Elpons, começou a estreitar o contato com o círculo da vanguarda paulista, vindo a servir como uma ponte entre os jovens intelectuais e artistas do Rio de Janeiro e São Paulo, e participou ativamente da Semana de Arte Moderna de 1922. Abandonando definitivamente o Direito, mudou-se para Paris, onde conheceu Breton, Léger, Max Ernst, De Chirico, Matisse, Braque e Picasso. Emiliano Di Cavalcanti fez de sua obra, unindo vida e criação, uma ode aos tipos mais simples do Brasil, com os quais se sentia em comunhão, retratando-os com caloroso e desprendido afeto, destacando-se, sobretudo, como um artista brasileiro que traduz com lirismo, em um cromatismo intenso e vibrante, os personagens e ambientes do país.

Figura Mitológica, 1969 Óleo sobre Tela, 0,50x0,73m Acervo do Banco Central

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Fulvio Pennacchi Garfagnana, Toscana - Itália, 1905 / São Paulo - SP, 1992

Pintor, ceramista, desenhista, ilustrador e professor, Fulvio Pennacchi formou-se na Academia Real de Pintura de Lucca em 1927, onde foi aluno de Pio Semeghini, a quem substituiu em 1927. Pennacchi veio para o Brasil em 1929 e se estabeleceu em São Paulo, realizando, inicialmente, além de sua produção artística, outras atividades para se sustentar. Chegou a trabalhar em um açougue. Convidado pelo escultor Galileo Emendabili, em 1932, passou a dividir com ele um ateliê e a colaborar em algumas das obras dele. Integrou ainda o Grupo Santa Helena e a Família Artística Paulista, junto de Rebolo, Bonadei, Volpi e Clóvis Graciano, entre outros, e participou da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Entre 1930 e 1935, Fulvio Pennacchi realizou uma série de obras de temática religiosa. Um ano depois, tornou-se professor de desenho no Colégio Dante Alighieri.

Figura de Homem, Sem data Óleo sobre Painel, 0,30x0,58m Acervo do Banco Central

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Ismael Nery Belém - PA, 1900 / Rio de Janeiro - RJ, 1934

Em 1923, Nery iniciou uma intensa produção de desenhos e pinturas que retratam encontros entre personagens masculinos e femininos. Em sua segunda viagem à Europa, em 1927, teve contato com o movimento surrealista e com a obra de Marc Chagall. Em seu retorno, realizou duas exposições, primeiro em Belém do Pará (1928) e depois no Rio de Janeiro (1929), quando vendeu apenas um trabalho para Graça Aranha. Adoeceu em 1930 e passou os últimos quatro anos de sua vida dedicando-se também à poesia. Ismael Nery morreu, precocemente, aos 33 anos de idade. Em 1935, o escritor e poeta Murilo Mendes, o primeiro entre os defensores da obra de Nery, organizou uma exposição póstuma, publicando ainda uma série de artigos em sua homenagem no jornal O Estado de São Paulo. Caso raro de pintor filósofo, em que construção plástica e preocupação metafísica unemse harmoniosamente, Ismael Nery (chamado também de pintor maldito do início do modernismo) é tido por alguns como um autêntico surrealista, embora haja em suas obras aspectos também cubistas e expressionistas. As imagens criadas pelo artista, porém, ultrapassam estas classificações, atingindo uma originalidade que as colocam além de qualquer escola ou estilo.

Perfil e Alma, Sem data Óleo sobre Madeira, 0,35x0,28m Acervo do Banco Central

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Tarsila do Amaral Capivari - SP, 1886 / São Paulo - SP, 1973

Filha de ricos fazendeiros do café, Tarsila do Amaral estudou em colégios religiosos de São Paulo e de Barcelona. Regressou ao Brasil e casou-se em 1912, tornando-se mãe de uma menina. Em 1916, começou a executar, em São Paulo, modelagens em barro com William Zadig e Mantovani, iniciando-se, em 1917, no desenho e na pintura com Pedro Alexandrino. Em 1920, mudou-se com a filha para Paris, onde continuou os estudos e expôs no Salon Officiel des Artistes Français (1922). De volta a São Paulo, aproximou-se dos jovens modernistas, formando o Grupo dos Cinco, com Menotti del Picchia, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Mário de Andrade. Influenciada por Anita, sua pincelada tornou-se mais livre. Após expor no Salão de Belas Artes de São Paulo e colaborar na revista Klaxon, retornou a Paris, para onde também seguiu Oswald de Andrade. Trabalhando em 1923 com André Lhote, Tarsila começou a elaborar uma temática mais pessoal e brasileira e, através da amizade com Blaise Cendrars, freqüentou o círculo intelectual e artístico de Paris (Brancusi, Jean Cocteau, Eric Satie, etc). Nesse período, recebeu ainda os modernistas brasileiros na cidade (Vicente do Rego Monteiro, Di Cavalcanti, Brecheret, entre outros). Por se preocupar cada vez mais em ser uma pintora do seu país, após a convivência com Léger e Gleizes, retornou ao Brasil em fins de 1923, firmando sua busca por uma visualidade mais pura, baseada na recuperação de uma estética popular.

O Porto, 1953 Óleo sobre Tela, 0,70x1,00m Acervo do Banco Central

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Vicente do Rego Monteiro Recife - PE, 1899 / Recife - PE, 1970

Vicente do Rego Monteiro iniciou precocemente seus estudos artísticos no Rio de Janeiro, em 1908, acompanhando a irmã Fedora na Escola Nacional de Belas Artes. Durante viagem com a família para a França, em 1911, freqüentou, em Paris, as academias Colarossi, Julien e La Grande Chaumière. Dois anos depois, entrou em contato com Modigliani, Léger, Braque, Miró, Gleizes, Metzinger e Marcoussis. Voltou para o Rio de Janeiro em 1915, onde se interessou pela música e dança populares e trabalhou como escultor, realizando bustos em gesso. Em 1918, realizou sua primeira exposição individual no Teatro Santa Isabel, no Recife. Em 1920, expôs em São Paulo, quando se aproximou de Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Pedro Alexandrino e Victor Brecheret. Naquele mesmo ano, começou a se interessar pela arte marajoara e, em 1921, após realizar alguns figurinos teatrais no Rio de Janeiro, viajou novamente para a França, deixando algumas pinturas e aquarelas para serem expostas na Semana de Arte Moderna de 1922. Foi o ano em que viajou pela Bélgica e Alemanha na companhia de Gilberto Freyre. Vicente do Rego Monteiro, além de pintor, foi autêntica e multifacetada personalidade cultural. Contaminado por certo fauvismo nos anos 20, incorpora em suas obras elementos do expressionismo, do cubismo e da abstração geométrica. Excelente desenhista e artista de alto apuro técnico, ele atingiu a maturidade de um estilo figurativo próprio, no qual se constróem volumes de um geometrismo muito sensível, em pinturas de grande beleza e sobriedade.

Mulher Sentada, Sem data Óleo sobre Painel, 1,00x1,20m Acervo do Banco Central

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Ruy Meira Caixa d’água (detalhe da obra), 1958 Óleo sobre Tela, 0,94x0,73m Acervo Secult

Museu do Estado do Pará Artes Plásticas

Entre a Figura e a Abstração Curadoria Jussara Derenji

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Entre a Figura e a Abstração

Descobrir a própria pátria, reinterpretar o exotismo das paisagens tropicais e examinar com novos olhos a arquitetura tradicional eram algumas das preocupações dos intelectuais que, nos anos 20, começaram a delinear os rumos do modernismo brasileiro. A partir de 1925, os modernistas se empenham em viagens pelo Norte e Nordeste do Brasil buscando uma renovação das artes, a ser fundamentada em valores nacionais. A arquitetura popular receberia uma nova valorização e, no Manifesto Pau-brasil (1924), Oswald de Andrade declarava “... A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre, nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos”. A aceitação de uma fase do passado comum como o genuinamente nacional implicava na condenação da arquitetura mais recente, a do ecletismo, que dominava o centro das cidades nortistas, como Belém, onde os raros vestígios coloniais seriam celebrados na viagem modernista à cidade em 1927. O mesmo Oswald de Andrade diria do ecletismo que não mais mereceria ser chamado de moderno - “Veja as cores destas casas antigas: excelentes. Repare na pintura destas casas modernas: horríveis. Horríveis para nós, para nosso ambiente.” A arquitetura espontânea, as cores vivas das favelas, as singelas ruas de subúrbio, os mercados e portos, com seu colorido peculiar, integram-se, nos anos seguintes, às obras de nossos principais artistas. Contribui para a disseminação de temas populares e para as alegorias do trabalho (que são constantes na produção artística dos anos 40 e 50), o surgimento, nas principais cidades brasileiras, de grupos de artistas que teriam papel decisivo na renovação das artes e num fenômeno característico do período, a formação dos museus de arte moderna no país. O Núcleo Bernardelli, no Rio de Janeiro, a Família Artística Paulista e o Grupo Santa Helena, em São Paulo, agregariam os principais artistas do período, muitos deles oriundos das classes operárias e de famílias de imigrantes italianos, enquanto o Grupo 15 e o Seibi reuniam os artistas de origem japonesa. As chaves temáticas que se impõem nas décadas seguintes privilegiam, sob estas influências, o papel social dos imigrantes e estrangeiros e uma representação inédita de tipos e motivos populares. A nova composição das associações de artistas mantinha as influências da Europa, em especial a de movimentos como o “Retorno à ordem” ou o “Novecento” italiano. No Brasil, a vinculação a esses movimentos europeus amenizaria os pontos mais polêmicos e reduziria a ousadia dos modernistas de primeira hora. No Pará, forma-se, desde os anos 40, um grupo de artistas que se reúne nas matas do Utinga, reserva de águas da cidade, para pintar ao ar livre. Do grupo de artistas de Belém, informalmente chamado Grupo do Utinga, fariam parte Ruy Meira, Arthur Frazão, Ângelus Nascimento, Irene Teixeira, Benedicto Mello, Joaquim e João Pinto, Leônidas Monte e Roberto de La Rocque Soares, que se consolidariam como alguns dos mais importantes artistas do período.

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As cenas da vida urbana, os subúrbios e casebres louvados pelos mestres

Em Belém, se estrutura, à época, outro grupo, o Clube de Artistas Plásticos da

modernistas recebem tratamento fortemente pós-impressionista pela maioria desses

Amazônia e nele constam, quase sem mudanças, os nomes do Grupo do Utinga: Ruy

artistas nos anos 40, 50 e 60, por influência da atuação e dos ensinamentos de mestres

Meira, Benedicto Mello, Dionorte Drummond, Paolo Ricci, Concy Cutrin, Roberto de La

estrangeiros como Raul Devezza, Armando Balloni e Tadeshi Kaminagai.

Rocque Soares e José Pires de Moraes Rego. Em 1960, cinco componentes desse clube

É por meio de um integrante da Família Paulista, o paraense Waldemar da Costa, que a cidade de Belém receberia, em 1937, a primeira exposição modernista. Montada anteriormente em Fortaleza, a mostra era produto do I Salão Paulista de Pintura. Waldemar da Costa estudou na Escola Nacional de Belas Artes de Lisboa e, em 1924, transferiu-se

iriam participar da I Exposição Coletiva de Pintura Abstracionista do Pará, que aconteceria na sede do Clube do Remo. Ruy Meira seria deles o que mais se identificaria com o abstracionismo1. Ele participa, em 1967, da IX Bienal de São Paulo com uma tela abstrata e seguiria, nas décadas de 70 a 90, na mesma direção.

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para Paris, onte teve contato com artistas como De Chirico, Foujita e Portinari. De volta ao

Na década de 60, a Universidade Federal do Pará começaria a ter participação

Brasil em 1931, Waldemar da Costa seria um dos fundadores da Família Paulista em

importante nas artes plásticas, promovendo salões universitários e trazendo artistas da

1937, junto com Paulo Rossi Ozir e Vittorio Gobbis. Em 1941, premiaria ao artista Augusto

vanguarda nacional. O curso de arquitetura, criado em 1964, acolheria engenheiros como

Morbach, que apresentara um desenho a nanquim, técnica na qual se notabilizaria nas

Roberto de La Rocque Soares e formaria muitos arquitetos que seriam artistas importantes

décadas seguintes.

da década de 1970 em diante.

Em 1940, tinha início o Salão Oficial de Belas Artes do Pará, que somente em 1947,

As obras destacadas nesta exposição permitem a visualização de traços da arte

na sua oitava edição, finalmente estabeleceria uma seção moderna ao lado da tradicional

moderna que começam a ser impressos sobre a cidade de Belém durante a II Grande

seção acadêmica. É também em 1947 que chega a Belém o jornalista e colecionador

Guerra Mundial e se espraiam até os anos 60 e 70. Ainda que distante das discussões

Frederico Barata, com a tarefa de dirigir os órgãos dos Diários Associados na região: um

exaltadas de outros países e mesmo de outras regiões do Brasil, os artistas locais, alguns

jornal, uma rádio e uma emissora de TV. A pinacoteca - de excepcional qualidade - que

com permanências no exterior, tentavam responder ao desafio de produzir uma arte

Barata traz para a cidade contém: Portinari, Visconti, Pancetti, Oswaldo Goeldi, Quirino

internacional com acento brasileiro.

Campofiorito, Roault, Balloni, Goeldi, Burle Marx e até cerâmicas de Picasso.

Na maioria das trajetórias, a figura vence a abstração, mas em quase todas elas

Frederico Barata seria uma influência importante na transformação do meio e

há idas e vindas que não devem ser interpretadas como avanços e retrocessos. Apenas

atualização de artistas locais. Num período no qual eram poucas as exposições e as

como parte do caminho de sinuosas metamorfoses da arte moderna em nossa região. É

trocas de informação, a presença dele e do acervo que tornou disponível aos jovens

a pontuação dessa trajetória rica e complexa que procura oferecer esta exposição, ao

artistas foi decisiva para as trajetórias posteriores desses artistas.

observar as diferentes interpretações de um tema recorrente: o do mercado do Ver-o-

Em 1951, acontece em São Paulo a primeira Bienal, num momento em que a disputa conceitual mais acirrada procura delimitar os territórios entre figurativos e abstratos. A Bienal paulista, nos moldes da Bienal de Veneza, surge como uma grande

peso, ou as cenas de cotidiano e trabalho, ou os tipos populares, e perceber que estas pinturas convivem com a abstração, surpreendendo inusitadas convergências onde se poderia supor distanciamentos.

exposição internacional para qual os países participantes mandavam sua representação e disputavam prêmios. Na disputa entre figurativos e abstratos, a Bienal, ao dar o prêmio a Max Bill em 1951, contribuiu para legitimar a posição teórica dos abstracionistas e, em especial, dos concretistas, que tinham em Bill um de seus representantes mais ortodoxos. A Bienal de São Paulo teve, dentre outros méritos, um inegável: o de agilizar a atualização dos artistas

Para percorrer esse caminho sinuoso e inusitado, privilegiamos o olhar de nove artistas. Os paraenses Waldemar da Costa, Ruy Meira, Benedicto Mello, Roberto de La Rocque Soares, João Pinto e Mário Pinto Guimarães; os que vieram e ficaram, como Augusto Morbach e Yoshio Yamada; e uma curta e marcante presença, a de Tadeshi Kaminagai. Esperamos que os visitantes desta mostra sintam a esperança e a poética que permeia os trabalhos de um período de sereno equilíbrio, de um interlúdio de paz.

brasileiros, que não mais dependeriam exclusivamente de viagens para examinar a produção de outros centros.

Jussara Derenji Outubro de 2003

Parece difícil admitir que a arte abstrata, hoje tranqüilamente aceita, era motivo de brigas e disputas que chegavam a agressões físicas há apenas 50 anos. No ano de 1952, surge em São Paulo o Grupo Ruptura e, em 1953, o Grupo Frente, no Rio. Nos anos de 1956, em São Paulo, e 1957, no Rio de Janeiro, acontece a I Exposição de Arte Concreta, da qual participam os dois grupos, com divergências já perceptíveis e, em 1959, acontece a cisão que dá origem ao neo-concretismo.

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Mokarsel, Marisa. Panorama da Pintura do Pará, MEP, 2000

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Augusto Morbach Santo Antônio da Cachoeira - GO, 1911 / Belém - PA, 1981

Augusto Bastos Morbach chegou ao Pará com oito anos de idade. Viveu com a família, por muitos anos, em Marabá, interior do Pará. Parte de sua obra, que lança um olhar sobre os modos de produção, especialmente da castanha, é oriundo dessa experiência. Nessa fase, foi premiado em salões realizados em Belém. Transferindo-se para Belém em 1961, trabalha com ilustrações de livros e revistas e convive com o Grupo do Utinga. Participou, por escolha e rigor pessoal, de poucas exposições. Sua forma preferida de expressão foi o nanquim, embora tenha feito incursões na pintura a óleo, por sugestão de Armando Balloni. Essas obras revelam uma aproximação com temáticas do modernismo, como as atividades cotidianas e cenas relacionadas com a produção. No nanquim, produziu séries abordando mitos e lendas. “Morbach cria, expressa e traduz o seu mundo - o da realidade e da ficção - através do desenho, que nele é beleza, graça, ritmo, força e movimento...”, disse o crítico Machado Coelho em 1976.

Comércio do Cacau, 1961 Óleo sobre Tela, 1,20x0,90m Acervo Museu da UFPA

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Benedicto Mello Nascido em Belém - PA, 1926

Benedicto Antônio Soares de Mello é bacharel em Direito, mas dedicou-se às artes plásticas e à restauração, com estágio no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1983. Dirigiu a Pinacoteca Municipal, promovendo e ministrando cursos de restauração e mostras do acervo. Talvez um de nossos artistas mais profícuos, Benedicto Mello recebeu inúmeras premiações em pintura, cerâmica, escultura e caricatura. Suas obras encontram-se em museus e galerias, além de coleções particulares. “As qualidades perceptíveis do pintor, afinadas ao tempo em que viveu, fizeram dele um universal, como universais foram seus amigos Ruy Meira e João Pinto, com os quais formou uma trindade moderna, ex-modernista e ex-tudo que foi esta, exceto a forma humanista, da qual jamais se afastaram...”, escreveu João Carlos Pereira na retrospectiva “Benedicto Mello - Arte e Fatos” (1995). Luz e Sombra, 1963 Óleo sobre Tela, 0,52x0,62m Acervo Museu da UFPA

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João Pinto Martins Belém - PA, 1911 / Belém - PA, 1992

Artista versátil, João Pinto dedicou-se à caricatura, pintura, murais e, principalmente, foi um incansável escultor. Desenhava e esculpia sem orientação formal e só nos anos 30 teria aulas de desenho e modelagem com Lassance Cunha. Na década de 40, participava, com seu irmão Joaquim, do Grupo do Utinga, fase de alguns de seus melhores óleos sobre tela, que demonstram as experimentações que o grupo executava em suas reuniões nas matas da periferia de Belém. Suas premiações, porém, incidem sobre a escultura , nos Salões Oficiais de Belas Artes, na década de 40, e nos Salões de Artes Plásticas da UFPA, nos anos 60. Em 1977, sua obra foi exposta no Museu do Homem, em Paris, numa exposição coletiva de artistas paraenses. Trabalhou com mármore, madeira, alumínio, cobre, bronze e argila. Deixou vários e importantes painéis, com temática do cotidiano local, pintados na técnica de afresco em prédios públicos e particulares de Belém. Foi de sua autoria o busto do presidente Kennedy, que ficava na praça de mesmo nome. A temática preferida de sua extensa e diversificada obra sempre foi a figura da mulher.

Mulher, 1966 Escultura em Madeira, 2,10x0,48x0,48m Acervo Banco Central

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Mário Pinto Guimarães Santarém - PA,1930 / Belém - PA, 1997

No final dos anos 40, Mário Pinto Guimarães recebeu o 3° premio no 1º Salão de Artes Plásticas do Estudante, em Belém. Participou, nos anos 60, dos salões e bienais da Universidade Federal do Pará. Em 1963, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde estudaria com Domenico Lazarini e Ivan Serpa. Em 1965, foi premiado no I Salão da UFPA, num período em que a universidade assumia um papel importante no estímulo e divulgação das artes no panorama local, e que tinha como pólo irradiador o recém-criado curso de arquitetura (1964) . No retorno ao Pará, sua obra expressaria não só uma visão sobre a cidade de Belém, onde passa a viver, como retoma o imaginário amazônida e interiorano de sua adolescência em Santarém. Em 1980, fundou a Debret Galeria de Arte, onde se reuniam artistas, intelectuais e colecionadores. Suas últimas obras tomam grandes dimensões e as cores de uma vibrante interpretação de mitos indígenas.

Canto de Rua, 1965 Óleo sobre Tela, 0,70x0,90m Acervo Dióris Guimarães/Galeria Debret

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Roberto de La Rocque Soares Belém - PA, 1924 / Belém - PA, 2001

Artista plástico que transita pelo desenho, pintura, escultura e gravura, Roberto de La Rocque Soares teve formação universitária em engenharia, depois em arquitetura e ainda em restauro e preservação de monumentos históricos e artísticos, sendo o responsável pelo restauro (anos 70) e pela reforma (anos 90) do Palácio Lauro Sodré. Recebeu muitos prêmios e realizou inúmeras exposições individuais e coletivas. Lecionou desenho na escola de engenharia e no curso de arquitetura, iniciando vários de nossos maiores artistas da atualidade. Participou ativamente das discussões sobre o ensino de artes plásticas e foi premiado nas exposições mais significativas do início do período moderno no Pará, dentre estas a I Coletiva de Arte Abstrata (1960) e os I e II Salão de Artes Plásticas da UFPA (1963 e 1965). Foi um incansável pesquisador da história da arquitetura e seu livro “Vivendas Rurais no Pará” demonstra a perfeita fusão que fazia das disciplinas técnicas com as artes plásticas. Profundo conhecedor do desenho, La Rocque destaca-se, dentro de uma obra irretocável, como aquarelista.

Sem Título, 1962 Óleo sobre Tela, 0,80x0,47m Acervo Elza Lobo Soares

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Ruy Meira Belém-PA, 1921 / Belém-PA, 1995

Desde o início da década de 40, estava se formando um grupo de artistas em Belém, informalmente chamado Grupo do Utinga. Em 1942, o estudante de engenharia Ruy Meira

tinha conhecido, durante o Salão Oficial de Belas Artes, na Biblioteca Pública,

artistas como João Pinto, Arthur Frazão, Ângelus Nascimento e Irene Teixeira. Começaria, incentivado por eles, a sua trajetória nas artes plásticas. Ruy Meira, Benedicto Mello, Joaquim e João Pinto, Arthur Frazão, Leônidas Monte, Roberto de La Rocque Soares estavam entre eles e se consolidariam como alguns dos mais importantes artistas do período. Ruy Meira era engenheiro e começou a pintar sem ter estudos específicos. Levado pela vontade de se aprimorar que nunca o abandonou, estudou no Rio de Janeiro com Manuel Santiago e com Raul Devezza, e em Belém, com Tadashi Kaminagai e Armando Balloni. Também fez parte do Clube de Artistas Plásticos da Amazônia, já no fim dos anos 50, com vários outros nomes do Grupo do Utinga. Em 1960, cinco componentes do clube participaram da I Exposição Coletiva de Pintura Abstracionista do Pará, no Clube do Remo. Dentre eles, Ruy Meira, segundo Marisa Mokarsel, foi o que mais se identificou com o abstracionismo. Participou da IX Bienal de São Paulo em 1967, com uma tela abstrata e seguiu a mesma direção nas décadas de 70 a 90.

Caixa d’água, 1958 Óleo sobre Tela, 0,94x0,73m Acervo Secult

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Tadashi Kaminagai Hiroshima - Japão, 1899 / Paris - França, 1982 O meio local receberia em 1953 e 1954 a presença do artista Tadashi Kaminagai, pintor cujo trabalho oscila entre o pós-impressionismo e o expressionismo. Kaminagai fazia parte do grupo Seibi, do qual Flavio Shiró ( Sapporo, Japão, 1928) participava também. Shiró chegou ao Brasil pelo Pará, onde morou em Tomé-açu nos anos 30 e fez parte do Grupo Santa Helena e dos grupos de japoneses Seibi e Grupo 15. Shiró e também Fukushima foram alunos de Kaminagai no estúdio do artista em Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Kaminagai, assim como Waldemar da Costa, é considerado por Zanini como “ mestreprofessor”, em alusão não só ao trabalho dele em escolas, como a uma vocação de transmitir conhecimentos e difundir técnicas. A passagem deste artista pelo Pará a convite do governo do Estado (mas com participação e influência de Frederico Barata) é um exemplo dessa disposição. Nos dois anos nos quais permaneceu em Belém, o pintor privilegiou o trabalho fora do atelier e muitas vezes era acompanhado por artistas locais, como Ruy Meira. Teve estreito contato, também, com o artista Yoshio Yamada, de quem pintou um retrato. Ver-o-Peso, 1953 Óleo sobre Tela, 0,72x0,49m Acervo Lutfala de Castro Bitar

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Waldemar da Costa Belém - PA, 1904 / Curitiba - PR, 1984 Levado pela família com seis anos de idade para viver em Lisboa, Waldemar da Costa estudou na Escola Nacional de Belas Artes daquela cidade e transferiu-se, por discordar da orientação acadêmica da mesma, para Paris em 1924. Foi onde teve contato com artistas como De Chirico, Foujita e Portinari. De volta ao Brasil em 1931, seria um dos fundadores da Família Paulista em 1937, junto com Paulo Rossi Ozir e Vittorio Gobbis. Foi por meio dele que a cidade de Belém recebeu em 1937 sua primeira exposição modernista. Montada anteriormente em Fortaleza, a mostra era o produto do I Salão Paulista de Pintura. Pouco se sabe, como registra a pesquisadora Mariza Mokarsel, da repercussão local desta exposição, num ambiente marcadamente academicista como era o de artes plásticas em Belém àquela época. Mas pode ser um indício revelador constatar que Waldemar da Costa está representado em pelo menos dois museus de Belém, o Museu do Estado do Pará e o Museu de Arte de Belém , com obras desse período.

Descanso, 1935 Óleo sobre Tela, 0,79x0,95m Acervo do MEP

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Yoshio Yamada Shizuoka - Japão, 1896 / Belém - PA, 1973 Nascido no Japão, veio ao Brasil pela primeira vez em 1928 e retornou definitivamente na década de 30. Começou a desenhar no período de reclusão imposto a alguns membros da colônia japonesa do Pará durante a II Grande Guerra Mundial, na cidade de Tomé-açu. Sem ter tido acesso ao ensino formal e atraído pelos mestres do impressionismo, o artista encontrou em Tadashi Kaminagai um interlocutor privilegiado. Trabalhou, porém, com várias técnicas, fazendo desenhos em carvão e nanquim, nestes casos com aproximações da arte tradicional japonesa; pastel e óleo sobre tela, técnica na qual executa grandes panoramas do mercado de Belém, o Ver-o-Peso, que estão entre suas obras mais expressivas.

Ver-o-Peso, Sem data Óleo sobre Tela, 1,19x0,98m Acervo da Família Yamada

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Salão Arte Pará 2003 Qual é o papel dos salões de arte no complexo contexto da arte contemporânea? Esta pergunta vem perturbando instituições, críticos e jovens artistas há pelo menos duas décadas, mas, alheios ao debate, os salões se multiplicam pelo país. Inspirados em modelos franceses do século 19 e inseridos no contexto brasileiro a partir da chegada da Missão Artística Francesa ao país, em 1816, os salões possuem um formato básico que se mantém até hoje e que se divide basicamente nas fases de inscrição, seleção, premiação e exibição. Poucas iniciativas culturais apresentam uma longevidade tão grande quanto os salões de arte e isto talvez se deva justamente ao fato de eles não terem se transformado substancialmente, ao sabor das modas. Em 1984, em um artigo publicado no jornal “O Estado de S. Paulo”, a crítica e curadora Sheila Leirner elencou problemas e virtudes desse tipo de iniciativa. “O salão é um lugar de artistas jovens, talentos em progresso que ainda não atingiram o circuito comercial, museológico ou universitário e ainda não possuem as prerrogativas necessárias para um confronto com as estrelas internacionais de uma Bienal”, escreveu Leirner. “Um salão pode (e deve) oferecer prêmios de estímulo. Ser compreendido como um espaço coletivo preliminar, prospectivo, de futuras ocupações culturais”, acrescentou. No mesmo artigo, a curadora criticou: “O salão é uma instituição imposta de cima, impensada, mal reformulada no decorrer dos anos e diante das modificações da arte. Longe de orientar-se pelas estruturas que o próprio processo artístico sugere, é um evento sem ideologia, num processo quase mecânico de repetição”, escreveu ainda a curadora. O curador Marcus Lontra é um incansável defensor da permanência e crescimento dos salões. “O motivo real do sucesso permanente dos salões é ser um evento democrático, comprometido com o caráter prospectivo da arte e com o pluralismo das vertentes contemporâneas. O salão é o espaço da inquietação e da incerteza e por isso toda comissão julgadora deve ter a coragem de provocar o novo, de se abismar e de apostar no que há de vir. O júri deve ser a expressão prática do axioma socrático ‘sei que nada sei’ e, por isso mesmo, incorporar a dúvida e a coragem de garimpar o novo”, escreveu Lontra no catálogo do 3° Salão Nacional de Arte de Goiás. O Salão Arte Pará, organizado pela Fundação Romulo Maiorana, reflete as questões colocadas por Sheila Leirner e Marcus Lontra, mas a cada edição trabalha para que as virtudes se sobreponham aos problemas. Esta 22ª edição do Salão é um exemplo disso. Os artistas selecionados e seus trabalhos representam um grande espectro da produção contemporânea paraense e nacional que, com o Salão, ganha atenção e visibilidade.

Mostra Competitiva Artes Plásticas

Ao júri, cabe sempre a ingrata tarefa de decidir quem entra e quem fica de fora, de preferência sempre seguindo o espírito democrático do Salão. Para isso, o júri deste Salão, do qual fiz parte (assim como Marcus Lontra), se absteve por alguns momentos de seu ímpeto de curador rigoroso e deixou que o evento se revelasse como um panorama da diversidade de técnicas, estilos, aprendizados e desejos contemporâneos deste país.

Celso Fioravante Jornalista e crítico de arte Júri do Arte Pará 2003 Marcone Moreira Sem Título (detalhe da obra)

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Mista, 0,76x0,51m

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GRANDE PRÊMIO ARTES PLÁSTICAS

SEGUNDO PRÊMIO ARTES PLÁSTICAS

Marcone Moreira

Lúcia Gomes

Tempo, Instalação Belém/PA, 2003

Sem Título (0,76x0,51m), Urucu (0,57x1,33m), Esteio (1,02x0,67m), Mista Marabá/PA, 2003

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AQUISIÇÃO ARTES PLÁSTICAS

AQUISIÇÃO ARTES PLÁSTICAS

Alexandre Monteiro

Danielle Fonseca

Casa (0,60x0,60m), Mista Belém/PA, 2003 Jse-ren-de, Mista Rio de Janeiro/RJ, 2003

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ARTISTAS SELECIONADOS

Acácio Sobral Instalação; Despojos Avenida Gov. José Malcher, 2845, casa 04 São Braz – Belém/PA Tel.: (91) 2262216/ 99953041

ARTISTAS SELECIONADOS

Daniel Dias Instalação: Reciclar e criar criar e reciclar, Criar e reciclar reciclar e criar, Reciclar e criar criar e reciclar Passagem Beira Mar, 42 Guamá - Belém/PA Tel.: (91) 2499732

Danielle Fonseca Mista; Poema-cimento, Cabana-box, Casa Travessa 14 de Março, 663 Umarizal – Belém/PA Tel.: (91) 2221182/ 91637050 Afonso Falcão Oliveira Escultura; Cabo I, II e III Travessa Teófilo Conduru, 718 Canudos – Belém/PA Tel.: (91) 2741419 Alberto Bitar e Leo Bitar Vídeo; Paisagem urbana em três atos Avenida Serzedelo Corrêa, 322, apto. 301 Nazaré – Belém/PA Tel.: (91) 2420726

Alexandre Monteiro Mista; Jose re-nd-, Jse-ren-de, Jose resend-e Rua Corrêa Dutra, 47, apto. 801 Flamengo - Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 25122098

Bettina Vaz Guimarães Pintura; Sem Título Rua Bandeirante Sampaio Soares, 601 Morumbi - São Paulo/SP Tel.: (11) 37592122

Cláudio Lima Assunção Mista; Trânsito I, II e III Passagem Santo Antônio, Quadra 30, casa 61 Cabanagem – Belém/Pará Tel.: (91) 81140914

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Elieni Tenório Mista; Pedaços de mim, Espelhos da alma, Toma... Não diga nada a ninguém Conjunto Ipuan, rua A, casa 38 Marambaia –Belém/PA Tel.: (91) 2315515

Fabrício Melo Desenho; 2, 4, 5 Travessa 14 de Março, 222 Umarizal – Belém/PA Tel.: (91) 2252722

Geraldo Teixeira Objeto; Náufragos - devoção, Náufragos - viagem Avenida Alcindo Cacela, 1924, apto. 902 Nazaré – Belém/PA Tel.: (91) 2498808/ 2294349

Glauce Patrícia da Silva Santos Gravura; Biombos I, II e III Conjunto Cidade Nova 8, Rua WE 40-A, casa 271 Coqueiro – Ananindeua/PA Tel.: (91) 88017585

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ARTISTAS SELECIONADOS

Jair Jr. Objeto; De Pablo a Long Dong todo mundo tem uma pomba entre as pernas, Com os dedos e as pombas... te segura!, Cabeças vão rolar... ainda bem! Avenida Assis de Vasconcelos, 213 Reduto – Belém/PA Tel.: (91) 2241504/ 81122098

Jocatos Gravura; SB-10, G. C, S. K. Travessa Dr. Liberato de Castro, 405 Guamá – Belém/PA Tel.: (91) 2299078

ARTISTAS SELECIONADOS

Manoel Veiga Pintura; Sem Título Rua Benjamin Egas, 66, apto. 3 Pinheiros - São Paulo/SP Tel.: (11) 30889685

Marcone Moreira Mista; Sem Título, Urucu, Esteio Rua Santo Antônio, 250 Amapá – Marabá/PA Tel.: (94) 3945258

Jorge Margalho Instalação; Raízes do mundo Rua José de Alencar, 45 Marambaia – Belém/PA Tel.: (91) 96250925 Marcos Costa Objeto; Objeto desusado I, II e III Rua Santana, 160 Casa Forte – Recife/PE Tel.: (81) 34424374 Keyla Sobral Desenho; Sem Título Avenida Gov. José Malcher, 2845, casa 07 São Braz – Belém/PA Tel.: (91) 2595422

Lúcia Gomes Instalação; Banquete das águas, Tempo Travessa São Francisco, apto. 101 Batista Campos – Belém/PA Tel.: (91) 2426589

Luzia Velloso Mista; Bubu, Planeta Utopia, Limite I - cubo Rua Leila Diniz, 365 São Francisco – Niterói/RJ Tel.: (21) 27103136

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Marinaldo Santos Mista; Caixa prego, Caixa do agiota, Caixa do fura-dedo Avenida Visconde de Souza Franco, 1395 Nazaré – Belém/PA Tel.: (91) 2121962/ 81124228

Murilo Pintura; De tempo, Era, Memorial Rua Coronel José do Ó, Alameda Ceci, 2 Mosqueiro – Belém/PA Tel.: (91) 37715498

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ARTISTAS SELECIONADOS

Nina Matos Mista; Mantendo-se bela na longa espera, Perder seus cabelos já é envelhecer, Rio - Paris sem escalas Travessa Arcipreste Manoel Teodoro, 329, apto. 1304 Batista Campos – Belém/PA Tel.: (91) 2232978/ 2198252

Nio Mista; Sem Título Travessa Joaquim Távora, 275 Cidade Velha – Belém/PA Tel.: (91) 224-5695

Raimundo Calandrino B Júnior Mista; Sem Título Rua Nova, 451 Pedreira – Belém/PA Tel.: (91) 2547536

Reginaldo Braga Moraes Mista; Mangue I, II e III Belém/PA

Ruma Mista; Raio = lado, Raio infinito Travessa Padre Eutíquio, 2527, apto. 301 Batista Campos – Belém/PA Tel.: (91) 2723329

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ARTISTAS SELECIONADOS

Saint Clair Dias Objeto; A vida por um fio III Travessa Rui Barbosa, 237 Reduto – Belém/PA Tel.: (91) 99611083

Sanchris Instalação; Imaculados filhos de Eva Travessa Vileta, 688, apto. 107 Pedreira – Belém/PA Tel.: (91) 2331875

Telma Saraiva Mista; Chuva preciosa Travessa Capitão Pedro Albuquerque, 432 Cidade Velha – Belém/PA Tel.: (91) 2220986

Tetê Raiol Instalação; As janeleiras Travessa Lomas Valentinas, 1412, apto. 302 Marco - Belém/PA Tel.: (91) 2772292/ 2430384

Vera Bellato Instalação; Toucas para pensamentos aéreos Avenida Guararapes, 86, sala 802 Santo Antônio – Recife/PE Tel.: (81) 34246077

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Foto Luiz Braga

Galeria da Residência Fotografia

Caixa de Luz Luiz Braga Curadoria Marcus de Lontra Costa

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Mundo Vasto Mundo

“O destino poético do homem é o de ser o espelho da imensidão, ou mais exatamente ainda, a imensidão vem tomar consciência de si mesma no homem. Para Baudelaire, o homem é um ser vasto”. G.Bachelard, “A Poética do Espaço”

Todo fotógrafo é um prisioneiro da paisagem. Enamorado, projeta sobre ela a ânsia de sua paixão. O mundo, compreendido e sentido pelo Ser em seu estado de Totalidade, é seccionado pelo registro da ação artística, enquadrado pelo olhar e esquartejado como um corpo que se fragmenta em estilhaços, destroços, resíduos, lembranças. Dessa paisagem destruída, uma nova ordem renasce, uma linguagem, uma experiência de interpretar o mundo: essência da arte. Luiz Braga insere-se numa espécie de tradição romântica da fotografia brasileira, oriunda da pesquisa formal, da documentação temática e dos compromissos com a clareza e a elegância da

composição. A partir daí, o artista constrói a sua linguagem utilizando-se da cor como um instrumento ativo, elemento substantivo da obra, articulando uma poética particular e sensível. A partir dela, o mundo se refaz e relações se articulam, descobertas são reveladas. O olhar vê o que vê e enxerga além, invade a vastidão, o território dos mistérios, a profundeza que transcende os limites da fotografia e viaja na construção de um novo cenário, uma nova paisagem, uma nova realidade. Todo o trabalho de Luiz Braga é prenhe dessa metafísica, desse véu, dessa visão que nos mostra um mundo real e hipotético, concreto e abstrato, palpável e misterioso. Se em Miguel Rio Branco, outro mestre da fotografia, a cor é compreendida pelo viés expressionista, com predominância dos vermelhos e carmins, em Luiz Braga a cor é elemento estrutural, base dessa nova ordem criada pelo artista. Se Rio Branco dialoga com Goya, Luiz Braga identifica em Cézanne alguns pontos essenciais de contato no tocante à elaboração de uma ordem e de um método construtivo. Por isso, é sugestivo que, na entrada dessa mostra, o espectador se defronte com uma enorme e extraordinária fotografia que repete, em seqüência, algumas maçãs, tema tão caro e identificável no grande mestre francês, e na qual a reprodutibilidade da imagem evidencia a revolução provocada pelo advento da fotografia na percepção humana. A reunião desse conjunto de fotos revela um artista com pleno domínio de seus meios

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técnicos, criando uma linguagem artística determinada pela clareza da composição e uma estrutura definida pela cor. Trata-se de um clássico, no sentido modernista da palavra, para o qual a ação perpétua da arte é organizar e refazer o mundo. Diante das fotografias de Luiz Braga, o espectador é instado a descobrir um mundo poético e possível, regido pela Ordem, no âmbito da construção artesanal, e pela Utopia, no campo da estruturação conceitual. Por isso, aqui não há espaço para sobressaltos e estrondos. Estamos no território das palavras sussurradas e da simplicidade. E a contemplação silenciosa desse universo faz brotar um afeto romântico povoado de nostalgia, uma beleza austera e emocionada que povoa o nosso ser de encantamento e mistério. E como nos lembra ainda – e sempre – G. Bachelard: “Na alma relaxada que medita e sonha, uma imensidão parece esperar as imagens da imensidão. O espírito vê e revê objetos. A alma encontra no objeto o ninho de uma imensidão”.

Marcus de Lontra Costa Belém/Rio, setembro de 2003.

Luiz Braga, 46 anos, nasceu em Belém. Teve o primeiro contato com a fotografia aos 11 anos. Em 1975, abraçou a fotografia como profissão, ao mesmo tempo em que ingressava na Escola de Arquitetura, onde se graduou em 1983. Realizou mais de 70 exposições, entre individuais e coletivas, tanto no Brasil, como no exterior. Sua obra está presente em coleções importantes como a Pirelli, do Museu de Arte de São Paulo (Masp), a Fundação Cultural de Curitiba e o Museu de Arte Moderna de São Paulo, entre outras. Participou da primeira versão do Salão Arte Pará, foi premiado no anos de 1985, 1987 e 1988 e também já atuou como jurado por duas vezes. Até 1981, seu trabalho era desenvolvido apenas em preto e branco e suas primeiras exposições eram esboços multifacetados de um autor em formação. Após essa fase inicial, descobre a cor vibrante da visualidade popular amazônica e inicia o que considera seu primeiro ensaio, exibido na mostra “No Olho da Rua”, composto por recortes da geometria colorida de barcos, brinquedos e casas da região ribeirinha de Belém. Em “A Margem do Olhar” (1985 a 1987), retorna ao preto e branco dos primeiros tempos, retratando a dignidade do caboclo amazônico em seu ambiente nativo. Exibido nacionalmente, o ensaio rendeu-lhe o Prêmio Marc Ferrez de 1988, conferido pelo Instituto Nacional de Fotografia da Funarte. O encantamento pela cor da sua região e as possibilidades de confronto entre a luz natural e as múltiplas fontes de luz dos bares, parques e barcos populares resultaram na mostra “Anos Luz” (1986 a 1991), premiada em 1991 com o “Leopold Godowsky Color Photography Awards” da Boston University. As fotografias desse ensaio são as mais conhecidas e exibidas pelo autor. Excertos de “Anos Luz” foram exibidos na Alemanha, Inglaterra, Suíça, México, Estados Unidos e publicados em diversas revistas e livros. Sua mais recente individual, intitulada “Desenhos do Olhar”, foi mostrada durante a III Bienal Internacional de Fotografia de Curitiba em outubro de 2000. Trabalhando como fotógrafo independente a partir de Belém, Luiz Braga tem dado continuidade à busca de uma Amazônia profunda, com inúmeras incursões em cidades da região. Este ano, sua obra foi agraciada com o Prêmio Porto Seguro Brasil de Fotografia. A exposição exibida no 22º Salão Arte Pará é fruto de mais de uma década de trabalho e traz, em sua grande maioria, imagens inéditas ao público paraense. Como diz Braga: “Certamente, não é preciso nascer na Amazônia para fotografá-la. Entretanto, é preciso cumplicidade com a paisagem e seus personagens. Há que se envolver com ela, compreendê-la no sentido literal de fazer parte. Mais que fotografar na Amazônia, fotografar a Amazônia é um exercício de desenvolvimento do olhar, algo que não se aprende em expedições isoladas”.

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Algumas Imagens no Mundo

Vimos configurando processos de vinculação, através da produção de imagens, desde o início da humanidade. Estes sistemas de elaboração sígnica ficam mais extensos com o tempo, o que faz com que vivamos, no cenário contemporâneo, em campos mediados por imagens de naturezas as mais distintas, onde relações, conceitos e decisões estão sob o seu poder de fogo. Um novo paradigma passa a se constituir nos processos de conhecimento do mundo e nos sistemas de vinculação entre o homem e a cultura, a partir do surgimento da fotografia, ainda no século XIX. Essa nova maneira de mediação entre o homem e seus diversos territórios foi se tornando cada vez mais complexa e, no cenário da arte, encontra espaço para alguns de seus exercícios mais fecundos. Se a fotografia nasce como fruto do desejo da apreensão do “real” e de nos projetarmos para além da morte, constituindo um gigantesco repertório de duplos congelados em papel, ela vem perfazendo, ao longo de toda a sua história, um percurso errático, com os mais diversos empregos, em que um de seus caminhos perpassa pelo campo da arte. É nesse território, um dos mais intrincados da humanidade - por encontrar suas raízes fincadas no assentar de nossa cultura -, que a fotografia tem a chance de se manifestar como potência de criação. Longe de se apresentar como técnica aplicada a uma necessidade formal de uso, na arte, a fotografia amplia seu campo de articulação, de empreendimento, de linguagem e, por fim, de subjetivação. Ao se reconfigurar, expande sua possibilidade enquanto sentido, nos dando algo além da mera representação imagética. É dessa natureza de imagem que tratamos aqui. Ela cria fissuras, desestabiliza a percepção, estabelece conexões instigantes e articula poéticas vigorosas. Estas relações operam num território hiper-inflacionado por imagens que é o da cultura. Entretanto, propiciam outro tipo de mediação, ao acenar com uma capacidade de amplificação da imagem para além da mera objetividade técnica. A imagem, no campo da arte, afeta nossos sentidos e constitui novas experiências para aquele que a vê. Aí está a sua razão de ser, a complexidade que ela nos propõe ao ser vista e ao nos devolver este olhar.

Mostra Competitiva Fotografia

Orlando Maneschy1

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Artista, é pesquisador em linguagem visual, mestre e doutorando em Comunicação e Semiótica na PUC-SP. Coordenador

do Caixa de Pandora – Núcleo de Imagens. Tem participado de exposições, publicações e projetos no Brasil e no exterior. Eduardo Kalif Bonequinhas de Cheiro (detalhe da obra)

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GRANDE PRÊMIO FOTOGRAFIA

SEGUNDO PRÊMIO FOTOGRAFIA

Eduardo Kalif

Miguel Chikaoka

Hagakure 37, Hagakure 11, Hagakure 15A Belém/PA, 2003

Bonequinhas de cheiro I, II e III Belém/PA, 2003

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AQUISIÇÃO FOTOGRAFIA

AQUISIÇÃO FOTOGRAFIA

Alexandre Sequeira

Dirceu Maués

Identidade calcinada I e III Belém/PA, 2003

Peixeiro e Mercado de ferro Belém/PA, 2003

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AQUISIÇÃO FOTOGRAFIA

FOTOGRAFOS SELECIONADOS

Frederico Dalton Adriana Ferla SCSQ5 I e II Rua Dr. Carlos Norberto Souza Aranha, 145 Alto de Pinheiros – São Paulo/SP Tel.: (11) 30216528

Alan Soares Ah! Se ela pensasse, Ah! Se ela soubesse, Ah! Se ela falasse Avenida Senador Lemos, 26 Umarizal – Belém/PA Tel.: (91) 2234109

Alexandre Sequeira Identidade calcinada I, II e III Avenida Gov. José Malcher, 1631 Nazaré – Belém/PA Tel.: (91) 2237391

Ponha-se no meu lugar Rio de Janeiro/RJ, 2003 Cláudia Tavares Paisagens privadas Rua Alice, 1658, apto. 301 Laranjeiras - Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 25571341

Dirceu Maués Peixeiro, Gurijuba, Mercado de ferro Travessa Mariz e Barros, 3066, apto. 302/A Marco – Belém/PA Tel.: (91) 2468162/ 81127731

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FOTOGRAFOS SELECIONADOS

Eduardo Kalif Bonequinhas de cheiro I, II e III Travessa São Francisco, 550, apto. 101 Batista Campos - Belém/PA Tel.: (91) 2426589/ 99832447

Fagner Monteiro Silva e Simone de Oliveira In Uterus I, II e III Travessa Lomas Valentinas, 1897, apto. 1802 Marco – Belém/PA Tel.: (91) 2282735/ 99623625

Frederico Dalton Memento Mori, Ponha-se no meu lugar, O curso de tato Rua Cândido Mendes, 98, apto. 1203 Glória - Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 22335414

Jair Lanes Brasília: O silêncio das formas, Brasília: O silêncio das formas, Brasília: O silêncio das formas Rua Francisco Pernoti, 638 Jardim Ademar - São Paulo/SP Tel.:(11) 37224217/ 91357841

João Castilho Sem Título Rua Lavras, 935, apto. 502 São Pedro - Belo Horizonte/MG Tel.: (31) 96153291

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FOTOGRAFOS SELECIONADOS

Kátia Abreu Polvo de luz, Lua na cabeça, Três coroas e a lua SQN 416, Bloco Q, apto. 202 Asa Norte – Brasília/DF Tel.: (61) 3496994

Leopoldo Plentz Sem título Travessa Azevedo, 115, apto. 03 Floresta - Porto Alegre/RS Tel.: (51) 33468254/ 99633954

Marcelo Reis Ritus II e III Rua Anfilófio Reis, 3 Itapuã – Salvador/BA Tel.: (71) 2489797

Miguel Chikaoka Hagakure 37, Hagakure 11, Hagakure 15A Travessa Frutuoso Guimarães, 611 Campina – Belém/PA Tel.: (91) 2614240/ 99833185

Nailana Thiely E o amor resultou inútil I, II e III Avenida Pedro Miranda, 1712, Casa 23 Pedreira – Belém/PA Tel.: (91) 2447974

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FOTOGRAFOS SELECIONADOS

Patrícia Gouvêa Sem título Rua Cândido Gafrée, 18, apto. 504 Urca - Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 22950184

Polescena Marco Eternidade I, II e III Travessa 14 de Março, 205 Umarizal – Belém/PA Tel.: (91) 2244006 Lucidéa Maiorana Presidente Roberta Maiorana Diretora Roberto Menezes Sem Título Avenida Almirante Tamandaré, 814, apto. 603 Campina – Belém/PA Tel.: (91) 2251337/ 91140400

Daniela Oliveira Assessora de Projetos Ana Cristina Prata Assistente Executiva Jorge Martins Gerente de Exposições

Rogério Assis Sonho I, II e III Rua Ernest Friedrich Jost, 38 Pinheiros - São Paulo/SP Tel.: (11) 30310233/92172224

Fundação Romulo Maiorana Av. 25 de Setembro, 2473 - Marco - CEP: 66093-000 Fones: (91) 2161142 / 2161125 - Fax: 2161125 E-mail: fundrm@oliberal.com.br Telegramas: Jornal O LIBERAL, Cx. Postal 487 - Belém-Pará-Brasil Website: www.frmaiorana.org.br

Wagner Santana Ilusões I, II e III Rodovia BR-316, Passagem Haidê, 208 Souza – Belém/PA Tel.: (91) 2103039/ 99942479

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A Fundação Romulo Maiorana agradece

Luciano Oliveira • Oswaldo e Rose Mendes • Ronaldo Salame

Banco Central Henrique Meireles • Inês do Rosário Palmeira • Joéton Gomes de Ornelas • Roberto Reis

Salão Arte Pará 2003

Catálogo

Coordenação Geral Roberta Maiorana Daniela Oliveira

Design Gráfico Luciano e Daniela Oliveira

Curadoria Marcus de Lontra Costa Curadoria Sala “Entre a abstração e a figura” Jussara Derenji Assistente de Coordenação Ana Cristina Prata Projeto de Montagem Marcus de Lontra Costa Jussara Derenji Roberta Maiorana Coordenação de Montagem Juba Mello Antônio Sérgio de Oliveira Rodrigues Jorge Martins Museologia/Dossiê Antônio Visco Bruno Assessor de Comunicação e Pesquisa Fabrício de Paula Gomes Apoio Aureliano Ferreira Lins

Coordenação Editorial Aline Monteiro Biografias dos Convidados Fabrício de Paula Gomes Edição e Execução das Fotos Raimundo Paccó Editoração Eletrônica Nonato Moreira Tratamento de Imagens Fabrício Pereira Fotolitos Nikkei Design Impressão Gráfica Supercores

Secretaria Executiva de Cultura Paulo Chaves Fernandes • Rosângela Britto • Tadeu Lobato • Equipe do MEP

Secretaria Executiva de Obras Públicas Joaquim Passarinho • Sérgio Massoud • Benedito Melo de Moura • Gilberto Massoud

Setrans-Bel Mário Martins • Luiz e Carmem Peixoto

Fábio Andrade • Silvana Scorcini • Flávia Gama • Marie Claire Carmona • Afonso Gallindo

Evandro Teixeira • Celso Fioravante • Orlando Maneschy • Jussara Derenji • Daniela Name Emanuel Franco • Marcos Lontra

Maria Angélica Meira • Elizabeth Meira • Milton Nobre • Roberto Reis • Gileno Müller Chaves Elza Lobo Soares • Henrique Bernardo Lobo • Dióris Pinto Guimarães • Lutfala Bitar • Maria Lúcia Koury • Benedito Nunes • Neuza Yamada • Museu de Arte de Belém • Museu do Estado do Pará • Museu da UFPA Exposição Caixa de Luz Luiz Braga • Antônio Pires (Fuji/São Paulo) • Bolsa Vitae de Artes (1996) • Camila Souza Neto (Colégio Antônio Lemos) • Carla Abreu • Comunidade da Passagem Pedreirinha • Dorvalino Braga • Elza Lima (Caraparu) • Família Bruno de Menezes • Florentina Sales Cardias - In Memorian • Gildo Sarmento e Família (Vigia) • Irmã Otávia/ Filhas de Santana (Colégio Antônio Lemos) • João Lucas Braga • Jussara Derenji • Kátia Abreu • Laurene da Costa Ataíde - Pássaro Colibri (Outeiro) • Lília Helena Braga, Lu Guedes e Luciana Vasconcelos (Seleção de Imagens) • Loriene Ataíde Moraes • Marcos e Simone Silva (Manaus) • Maria Helena Braga • Maria Lúcia Medeiros (Bragança) • Michele Farias (Manaus) • Nélio Palheta (Vigia) • Paola Watrin • Rosa Lourenço Maneschy (Barcarena) • Rosely Nakagawa (São Paulo) • Rubens Fernandes Jr. (São Paulo) • Sávio Mileo (Oriximiná) • Simone Pureza • Tainá Godinho • Toniele Malcher (Barcarena) • Ulli Braga • Uyandara (Mosqueiro)

Design Gráfico Ricardo Harada Plotagens Canvas Digital RM Graphics Logomarca José Fernandes Fonseca Neto

A todos que colaboraram para que fosse possível a realização deste salão.

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Patrocinadores

Apoio

Rede Celpa

Secretaria Executiva de Cultura

A REDE Celpa tem se destacado como uma das empresas que mais investe no desenvolvimento cultural do Pará. Então, patrocinar o maior salão de arte do Norte é uma satisfação e a prova do nosso comprometimento com toda a sociedade paraense. Assim como fez o jornalista Romulo Maiorana, idealizador do salão, a REDE Celpa acredita e investe na produção cultural local. O Arte Pará é hoje um instrumento facilitador da cultura como bem de consumo e de produção, é um exemplo claro de que em nosso Estado a arte se materializa em ações concretas de incentivo e apoio cultural.

O Arte Pará vem incentivando os novos artistas e investindo na inserção social. O Arte Pará virou tradição, nessas duas décadas de compromisso assumido com o bem fazer.

Unimed Belém Cultura é vida, movimento, criação. É progresso, desenvolvimento. Para a Unimed Belém, apoiar o Arte Pará 2003 é uma forma natural de valorizar tudo o que a cultura traz de benefício para o homem e para a sociedade. Como investimento, a cultura gera bem-estar e resulta no aprimoramento de valores e instituições. Fica claro para um plano de saúde como a Unimed Belém que investir na cultura é investir no ser humano. É transformar arte em ação, para o bem de todos.

Secretaria Executiva de Obras Públicas Desde sua criação, o Salão Arte Pará cumpre com a sua função maior de revelar talentos e proporcionar um encontro significativo e prazeroso com a arte. A Secretaria Executiva de Obras Públicas sente-se honrada em apoiar o 22o Arte Pará, um agente de vanguarda que congrega as mais diversas manifestações artísticas.

Sindicato das Empresas de Transpote de Passageiros de Belém Há anos o Arte Pará vem ampliando o olhar do povo paraense a partir da arte, como um elemento de educação. Para nós, apoiar este evento é uma grata parceria em favor da cidadania.

Supermercados Nazaré Os valores sobre os quais se constrói uma sociedade se expressam inequivocamente na sua cultura e na sua arte. O Arte Pará se constituiu ao longo dos anos como a mais privilegiada vitrine da arte paraense, destacando-se no cenário nacional. Não é tarefa fácil. É preciso renovar e inovar o tempo todo, a despeito das dificuldades. O sucesso do Salão é, portanto, resultado de uma rebeldia constante de seus organizadores. Como o foi o movimento modernista, tema escolhido para a mostra deste ano. Tais valores inspiram também nossa organização, sendo uma das razões pelas quais o Grupo Nazaré se une à Fundação Romulo Maiorana neste evento.

Mendes Publicidade A agência do Arte Pará.

Imagem Produções Produzindo os filmes publicitários para o Arte Pará, ajudamos a apresentar para um grande público a cultura através de imagens, o conhecimento através do som e o saber através da emoção.

Construtora Villa Del Rey Falar da importância do Arte Pará é uma tarefa extremamente grata para nós. Evento consagrado no cenário nacional, tem revelado novos talentos das artes plásticas numa contribuição inestimável aos artistas de nossa terra. Neste ano, decidimos que o Sistema Del Rey Casaprópria, uma iniciativa plenamente vitoriosa de nossa empresa, emprestaria seu apoio ao evento. Afinal, engenharia e arquitetura também são manifestações de arte, daí acharmos que a ligação com o Arte Pará 2003 é mais do que pertinente.

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