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GALERIA – Emerson Caetano

ÉMERSON CAETANO

“Uma história contada pelas mãos”

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por Mário Britto

“Dentro do meu pequeno mundo eu me sinto uma princesa, com um castelo enorme com torres gigantes, dentro desse meu mundo só eu sei o que posso ser e sei que você não vai me entender, porque você não vê o castelo, não vê a princesa, porque está cheio de preconceitos que não te deixam enxergar. Aí você chama de princesa aquelas que são tão feias que só tem beleza ou aquelas que são tão pobres que só tem riqueza. No meu mundo, sou a princesa que eu quiser”.

Émerson Caetano

Nascido no agreste pernambucano, na cidade de Caruaru, no dia 27 de fevereiro de 1987, Émerson Caetano, filho de pais separados, desde os dois anos de idade foi criado pelo padrasto com quem não tinha uma relação de afeto, o que tornou a sua infância muito triste e sofrida. Em razão das dificuldades financeiras de sua humilde família, com apenas oito anos de idade, precisou trabalhar para ajudar com as despesas domésticas, tendo sido o “barro” – material encontrado em abundância em sua região –, a via natural para ganhar dinheiro extra e ajudar os seus familiares.

A sua vida sempre esteve associada ao barro. No primeiro momento, ainda criança, extraía-o do Rio Ipojuca e vendia-o para os inúmeros artesãos da sua cidade. Por fim, modulava-o. Foi desta forma que deu início ao que viria a ser a sua profissão.

Recorda-se que, com 8 anos, ao observar a sua mãe, Maria Sueli, e o seu padrasto fazendo com argila peças para jogar xadrez, sentiu-se motivado para criar as próprias obras e, assim, fez a sua primeira arte: um pequeno boneco de barro representando um dentista. A sua avó, Adélia Balbina, sua maior incentivadora, vendo aquela delicada miniatura, percebeu o talento nato do neto e levou a obra para ser vendida em uma das lojas da cidade. Ao retornar, disse que fora vendida... Se a venda, de fato, aconteceu até hoje não se sabe, por este motivo a dúvida perdura, mas, para Émerson, ficou a certeza de que tal acontecimento foi fundamental para que ele seguisse criando novas obras.

Mesmo sofrendo todos os tipos de preconceitos por não ser filho de mestres em uma cidade que respira arte e tradição, Émerson Caetano não se curvou diante das adversidades. Foi discriminado pelos próprios amigos por não ser filho de uma das personalidades de sua região, e, o que seria motivo de desistência, foi para ele combustível para incentivá-lo ainda mais. Aos 12 anos, fez a obra que considera o marco inicial de sua trajetória artística: um caminhão pau de arara. Foi a partir desse feito que se reconheceu como artista, e não mais parou de trabalhar.

Casado com Mykaelly Silva e pai de dois filhos, o artista mora no bairro Alto do Moura, na cidade de Caruaru, que há mais de um século é conhecida pela arte figurativa representada, notadamente, por dois grandes mestres locais: Manuel Galdino e Vitalino; considerados como importantes artistas na arte do barro no Brasil.

Artista em ascensão, Émerson Caetano tem participado de feiras de arte e de exposições coletivas. Em 2009, foi agraciado com a outorga da “Medalha de Honra ao Mérito”, por ocasião da celebração do centenário do seu conterrâneo: o Mestre Vitalino.

As criações de Émerson Caetano, representadas por figuras e acontecimentos resgatados de suas memórias juvenis, cumprem um dos importantes papéis da arte que é o de provocar e denunciar temas sociais relevantes. Romeiros, retirantes, sertanejos, caboclas, seca, fome e releituras de vultos populares e épicos desfilam pelo seu imaginário. Sua arte, quase sempre acompanhada por textos questionadores, impacta-nos não só pela beleza estética e pelo fino acabamento, mas, sobretudo, pela dramaticidade protagonizada pelos seus personagens. E, assim, apaixonado pelo seu ofício e sobrevivendo dele, o artista segue contando histórias pelas mãos.