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_Sustentabilidade_casa bandeirista

obra e 800 pessoas trabalharam simultaneamente na fase de pico. “Houve um cuidado muito grande com segurança e a mão de obra do restauro e da obra foram independentes”, conta Albuquerque. Para um trabalho tão específico quanto um restauro, é preciso encontrar trabalhadores com perfil mais artístico do que um pedreiro comum. Segundo Alberto de Arruda, arquiteto-restaurador que conduziu a obra na Casa Bandeirista, “a mão de obra precisa ser habilidosa, cuidadosa e disciplinada”. Antes de iniciar os trabalhos, os canteiros, marceneiros e taipeiros precisam entender qual é a situação histórica do prédio que estão ajudando a restaurar e até mesmo sugerir como o trabalho pode ser melhorado. “É uma mão de obra que nós formamos. Os antigos explicam o trabalho para os mais novos, pois não há uma escola onde aprender. A base do restauro é o savoir faire, o saber fazer na prática”, complementa. Na fase de auge do restauro, havia 31 marceneiros trabalhando simultaneamente. O projeto de restauro da Casa Bandeirista do Itaim Bibi, tombada em 1982 pelo patrimônio histórico do estado, teve que passar pela aprovação de dois órgãos: o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo e o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. “Uma obra de restauro tem princípios, não pode ser descaracterizada”, afirma a arquiteta e urbanista Helena Saia. Além da pesquisa histórica que precisa ser feita para entender como era a construção original e recuperá-la, é preciso sanar problemas de estrutura e goteiras, por exemplo. Helena conta que a casa do pátio estava bem conservada até a década de 80, quando uma tentativa de demolição a deixou em ruínas. Ao recuperar uma construção secular, um dos grandes desafios é encontrar materiais atuais equivalentes aos usados na época. Ou descobrir como imitar o que foi feito pelos construtores muitos anos atrás. “Parte do material de restauro vem do próprio terreno. Afinal, naquela época, os taipeiros tinham que usar o que estava mais próximo deles”, explica Arruda. Os trabalhos de pesquisa conduzidos

De refúgio a sanatório Há sete Casas Bandeiristas na cidade de São Paulo e mais duas fora da capital, que ficam em Piracicaba e São Roque. Feitas sempre próximas aos rios, as construções que serviam como base dos bandeirantes em meio às suas viagens de desbravamento e também abrigavam suas famílias têm características similares. “Há uma distinção entre o quarto e a sala e os ambientes que são frequentados por estranhos à família, como a capela e o quarto de hóspedes”, conta a arquiteta Helena Saia, que fez o projeto de restauro da Casa Bandeirista do bairro Itaim Bibi. A varanda também pode ser encontrada em todas elas. E, além de morada, as Casas Bandeiristas também serviam como pousada aos demais viajantes que passavam pelo local. Segundo Helena, o estado de conservação das casas remanescentes não é tão ruim. Mas, mesmo reformadas, a maioria quase não é vista pela população da cidade. “A do bairro Butantã ainda ganhou uma praça ao seu redor, já a do Tatuapé é encoberta por uma fábrica”, explica. Para fazer o projeto de restauro da Casa Bandeirista do Pátio Victor Malzoni, Helena contou com a ajuda de fotos documentadas e também teve acesso ao relatório do Instituto

Arqueológico da USP, que fez pesquisas no local em 1988. O primeiro registro da Casa Bandeirista do Itaim Bibi data de 1846, mas estudos revelam que ela foi construída no final do século 18. No local havia pomares, senzalas, estábulos, moinho e uma plantação de chá. Dados de 1898 mostram que o terreno da casa era conhecido como sítio Itahy ou Rio das Pedras. Leopoldo Alberto Couto Magalhães, proprietário nessa época, tinha o apelido de Bibi e vem daí o nome atual do bairro, Itaim Bibi. Entre 1927 e 1980, a casa abrigou o Sanatório Bela Vista. Reformada e devolvida ao povo paulistano, a vontade de Helena é que o local vire um espaço para as pessoas relaxarem da correria da cidade grande, rodeadas pelas árvores frutíferas que voltaram ao local.

Foto José Saia

concluído. Cerca de 4 mil funcionários passaram pela

A Casa Bandeirista possui 450 metros quadrados de área construída e ocupa uma área de proteção permanente de 2 mil metros quadrados.

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