ANAIS - I Congresso de Arquitetura e Cidade & IX Coletânea Arq Urb

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ANAIS

Foto: STRAYA FILMES

I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

24 A 26 DE OUTUBRO DE 2017 VILA VELHA - ES


Para receber o registro ISBN, é necessário que os Anais de eventos sejam produções seriadas, que tenham continuidade nos anos seguintes. Portanto, os Anais deste evento somente poderão receber o registro ISBN a partir de sua segunda edição.


ANAIS

I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

24 A 26 DE OUTUBRO DE 2017 VILA VELHA - ES

1ª EDIÇÃO 2018


CAMPUS BOA VISTA Av. Comissário José Dantas de Melo, 21 Boa Vista -Vila Velha ES - CEP 29102-920 27 3421-2001 www.uvv.br PPGAC - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E CIDADE www.uvv.br/ensino-presencial/mestrado/arquitetura-e-cidade | ppgac@uvv.br 27 3421-2297 COORDENAÇÃO DE ARQUITETURA E URBANISMO arqurbuvv.wixsite.com/arqurb-uvv | arquitetura@uvv.br 27 3421-2099 NEP - NÚCLEO DE ESTUDOS E PRÁTICAS DE ARQUITETURA E URBANISMO, DESIGN DE PRODUTO E ENGENHARIA CIVIL nepuvv.wixsite.com/uvvnep | nep.uvv@gmail.com 27 3421-2066


COMISSÃO ORGANIZADORA Profª. Dra. Ana Paula Rabello Lyra Profª. Ms. Andreia Fernandes Muniz Prof. Dr. Giovanilton A. C. Ferreira Profª. Dra Larissa Letícia Andara Ramos Profª. Ms. Priscilla Silva Loureiro


COMITÊ CIENTÍFICO Profª. Drª. Ana Paula Rabello Lyra – UVV lattes.cnpq.br/7838650581814622 Profª. Drª. Andrea Coelho Laranja – UFES (andreacoelholaranja@gmail.com) lattes.cnpq.br/5555191350817421 Profª. Ms. Andreia Fernandes Muniz – UVV lattes.cnpq.br/5915327993457924 Profª. Drª. Cynthia Marconsini Loureiro Santos – UVV lattes.cnpq.br/3706058796757750 Profª. Drª. Erica Coelho Pagel – FAESA (erica.pagel@gmail.com) lattes.cnpq.br/2730586463151339 Prof. Dr. Giovanilton A. C. Ferreira – UVV lattes.cnpq.br/1393675429251087 Prof. Dr. Gilton Luis Ferreira – UFES e FAACZ (gilton87@hotmail.com) lattes.cnpq.br/31337027700990830 Profª. Drª. Karla Moreira Conde – UFES (karlamconde@hotmail.com) lattes.cnpq.br/0604130516216395 Profª. Drª. Larissa Letícia Andara Ramos – UVV lattes.cnpq.br/2687764478783021 Prof. Dr. Leopoldo Eurico Gonçalves Bastos – UFRJ (leopoldobastos@gmail.com) lattes.cnpq.br/0596410148228433 Profª. Drª. Liziane Oliveira Jorge – UFPEL (lizianej@gmail.com) lattes.cnpq.br/9337220113834468 Profª. Drª. Luciana Aparecida Netto de Jesus – UFES lattes.cnpq.br/9111947062667117 Profª. Drª. Luciana Teles Moura – UVV lattes.cnpq.br/8727079412292477 Prof. Dr Marcos Antônio Spinassé – UNISALES (spinasse@msn.com) lattes.cnpq.br/9668472344703533 Prof Dr Mário Márcio Santos Queiroz – UFF (mariom.queiroz@gmail.com) buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4207770E1 Profª. Drª. Michelly Ramos de Angelo – UVV lattes.cnpq.br/2784190661882479 Prof Dr Milton Esteves Junior – UFES (m.estevesg3@gmail.com) lattes.cnpq.br/9980479684154642 Profª. Drª. Simone Neiva Loures Gonçalves – UVV lattes.cnpq.br/4737984493494834 Prof Dr Tarcisio Bahia de Andrade – UFES (tbahia65@gmail.com) lattes.cnpq.br/7728338032362932 Profª. Drª. Teresa Cristina da Silva Rosa – UVV lattes.cnpq.br/5488672627941326


APRESENTAÇÃO O I Congresso de Arquitetura e Cidade e IX Coletânea ArqUrb, evento que aconteceu entre os dias 24 e 26 de outubro de 2017, na Universidade Vila Velha, promoveu a aproximação entre Instituições Acadêmicas, Gestão Pública e Sociedade, através do intercâmbio e socialização de experiências de pesquisa e extensão universitárias bem sucedidas, relacionadas à complexidade dos espaços contemporâneos das cidades, desenvolvidas por Instituições de Ensino Superior do Brasil. Assim, o evento contribuiu para ampliar os horizontes a respeito das matrizes conceituais e ideológicas que balizam a abordagem técnica e metodológica inerente à complexidade da arquitetura e das cidades; estimular na comunidade acadêmica o intercâmbio na produção de conhecimento a respeito destas ações que norteiam o planejamento urbano; qualificar o processo de transformação urbana e superação das crises vivenciadas pelas cidades contemporâneas; e estimular a aplicação de métodos e instrumentos desenvolvidos em pesquisas e projetos de extensão na resolução de problemas urbanos. Foram adotadas como referência para os projetos apresentados, as linhas de pesquisa do Mestrado em Arquitetura e Cidade. As referidas linhas definiram a programação das comunicações. As temáticas apresentadas no segundo dia do evento tiveram afinidade com a linha “Gestão e Desempenho do Projeto de Arquitetura e Urbanismo”​ . No terceiro dia do evento as temáticas apresentadas seguiram a linha “Teoria e Prática do Projeto de Arquitetura e Urbanismo”. A programação contou ainda com a participação de convidados especializados que conduziram palestras, mesas redondas e workshops.


SSO SSO SSO

PROGRAMAÇÃO Douglas Aguiar (UFRGS) Douglas Aguiar (UFRGS) Douglas Aguiar (UFRGS) Alexandre Nicolau – Projeto Adote uma Casa (UVV) Mirim Magdala Pinto - Laboratório de Tecnologia Alexandre Nicolau – Projeto Adote uma Casa (UVV)de Apoio a Redes de Inovação - LABTAR (UFES) Clara Luisa Miranda Urbanismo (UFES) Mirim Magdala Pinto - Arquitetura Laboratório Tecnologia de Apoio a Redes de Inovação - LABTAR (UFES) Alexandre Nicolau ––Projeto Adoteede uma Casa (UVV) Clara Miranda MirimLuisa Magdala Pinto–- Arquitetura LaboratórioedeUrbanismo Tecnologia(UFES) de Apoio a Redes de Inovação - LABTAR (UFES) Clara Luisa Miranda – Arquitetura e Urbanismo (UFES)

Cynthia Marconsini Loureiro Santos (UVV) Cynthia Marconsini Loureiro Santos (UVV) Cynthia Marconsini Loureiro Santos (UVV) João Sette Whitaker Ferreira (USP) João Sette Whitaker Ferreira (USP) João Sette Whitaker Ferreira (USP) Aline Trigueiro Vicente - Grupo de Estudos e Pesquisas em Populações Pesqueiras e Aline Trigueiro Vicente Grupo de Estudos Desenvolvimento no ES -(GEPPEDES - UFES)e Pesquisas em Populações Pesqueiras e Aline Trigueiro e Pesquisas Populações Pesqueiras Desenvolvimento no ES -(GEPPEDES -Bairro UFES)Divino Giovanilton A. C.Vicente Ferreira –Grupo PlanodedeEstudos EspíritoemSanto, Vila Velha ES (UVV)e Desenvolvimento no ES (GEPPEDES UFES) Giovanilton A. C. –Ferreira – Plano de-Bairro Espírito Santo, Vila Velha ES (UVV) Geraldo Benicio Adote sua rua, Vila VelhaDivino ES (UVV) Giovanilton A. C.–Ferreira – Plano de Bairro Espírito Santo, Vila Velha ES (UVV) Geraldo Benicio Adote sua rua, Vila Velha Divino ES (UVV) Geraldo Benicio – Adote sua rua, Vila Velha ES (UVV)

* A inscrição do wo pacotedodewo fra *deAum inscrição Práticas (NEP-UVV) de pacote do de wo fra * Aum inscrição outubro de 2017. Práticas (NEP-UVV) de um pacote de fra outubro 2017. Práticasde (NEP-UVV) outubro de 2017.

Larissa L. Andara Ramos (UVV) e Luciana Aparecida Netto de Jesus (UFES) Larissa L. Andara Ramos (UVV) e Luciana Aparecida Netto de Jesus (UFES) Larissa L. Andara Ramos (UVV) e Luciana Aparecida Netto de Jesus (UFES) Raquel Tardin (UFRJ) Raquel Tardin (UFRJ) Inscrições aqui: https://certificado.uvv.br/CertificadoFormulario/Preencher/31003 Raquel Tardin (UFRJ) Inscrições aqui: https://certificado.uvv.br/CertificadoFormulario/Preencher/31003 CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO Inscrições aqui: https://certificado.uvv.br/CertificadoFormulario/Preencher/31003 EM ARQUITETURA CIDADE (PPGAC-UVV) PROGRAMA DEEPÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA CIDADE (PPGAC-UVV) PROGRAMA DEEPÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E CIDADE (PPGAC-UVV)

UNIVERSIDADE VILA VELHA (UVV) CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO UNIVERSIDADE VILA VELHA (UVV) CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO UNIVERSIDADE VILA VELHA (UVV)


WORKSHOP 1 Dias 25 e 26/10 – 14h às 17h

WORKSHOP 2

- LABTAR (UFES) Dias 25 e 26/10 – 14h às 17h

WORKSHOP 3 Dias 25 e 26/10 – 14h às 17h

WORKSHOP 4

Dia 26/10 – 14h às 17h

es Pesqueiras e Velha ES (UVV)

* A inscrição do workshop somente será efetivada mediante doação de um pacote de fralda infantil a ser entregue no Núcleo de Estudos e Práticas (NEP-UVV), de segunda à sexta, de 13h às 18h, até o dia 17 de outubro de 2017.

UFES)

CertificadoFormulario/Preencher/310038003400

TETURA E URBANISMO

E VILA VELHA (UVV)

NÚCLEO DE ESTUDOS E PRÁTICAS DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E DESIGN (NEP-UVV)


SUMÁRIO por temas e títulos

TEMÁTICA 1

GESTÃO E DESEMPENHO »» A CONTRIBUIÇÃO DOS MERCADOS PÚBLICOS: O CASO DA CIDADE DE VITÓRIA/ES............................................................. 80 »» A LUZ NATURAL COMO MODELADORA DO ESPAÇO NAS OBRAS DE LOUIS KAHN................................................................ 26 »» ATORES SOCIAIS EM ÁREAS VULNERÁVEIS DE VILA VELHA - ES: O CASO DE COMUNIDADES SOCIOAMBIENTALMENTE VULNERABILIZADAS.................................................................. 31 »» AVALIAÇÃO DOS PLANOS DIRETORES MUNICIPAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA: ESTUDO DE CASO PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE CARIACICA - ES.................................................................................... 41 »» DESAFIOS DA PROMOÇÃO DA ACESSIBILIDADE EM ESPAÇOS LIVRES DE USO PÚBLICO NO MUNICÍPIO DE VILA VELHA - ES: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O PARQUE URBANO DE COCAL ������������������������������������ 101 »» DIAGNÓSTICO SANTOS DUMMOND: UM ESTUDO DE PLANO LOCAL DE BAIRRO................................................................. 76 »» ENSAIOS URBANOS PARA O ENTORNO DE EMPREENDIMENTOS HABITACIONAIS “MINHA CASA MINHA VIDA NO MUNICÍPIO DA SERRA”..................................................................................................... 59 »» ESTUDO SOBRE OS ESPAÇOS LIVRES DE USO PÚBLICO DA REGIONAL GRANDE IBES, MUNICÍPIO DE VILA VELHA - ES......... 36 »» FATORES INFLUENTES NO USO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO INOVADORES EM EDIFICAÇÕES NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA............................................................................................................................ 50 »» GESTÃO DEMOCRÁTICA DA CIDADE: AVALIAÇÃO DO PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE VILA VELHA...................................... 55 »» GESTÃO DEMOCRÁTICA DA CIDADE: AVALIAÇÃO DO PLANO DIRETOR URBANO DE VITÓRIA - ES ��������������������������������������� 106 »» METODOLOGIA DE PESQUISA: ORIENTAÇÕES PARA CONSTRUÇÃO DE QUESTIONÁRIO........................................................ 91 »» MULTIPLICIDADE CULTURAL E IDENTIDADE CAPIXABA..................................................................................................... 80 »» PARQUES URBANOS BRASILEIROS: DA IMPLANTAÇÃO À GESTÃO URBANA........................................................................ 96 »» PLANO DE GERENCIAMENTO DE RISCOS NA ADMINISTRAÇÃO DE CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS........................................ 64 »» PROCESSO DE COLETA DE DADOS PARA ETIQUETAGEM DE EDIFICAÇÕES MULTIFAMILIARES: MÉTODO PRESCRITIVO DO PBE EDIFICA............................................................................................................................ 85 »» PROPOSTAS PARA PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM NA CIDADE DE ITAGUAÇU - ES................................................................. 15 »» REFLEXÕES SOBRE A ARQUITETURA ISOLADA E SEUS EFEITOS NO ESPAÇO URBANO ......................................................... 21 »» UM ESTUDO DOS MUNICÍPIOS DE SÃO PAULO (SP) E VITÓRIA (ES).................................................................................... 96 »» UNIDADE TERRITORIAL DE PLANEJAMENTO E GESTÃO: COMO DEFINI-LA? ........................................................................ 70


TEMÁTICA 2

TEORIA E PRÁTICA »» A CONCEPÇÃO ARQUITETÔNICA ASSISTIDA POR COMPUTADOR: O PAPEL DO ARQUITETO NA CONCEPÇÃO COMPARTILHADA �������������������������������������������������������������������������������������������� 187 »» A PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM EM ÁREAS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: COMUNIDADE ALTERNATIVA DE PATRIMÔNIO DA PENHA, CAPARAÓ - ES ������������������������������������������������������������������������ 168 »» ARQUITETURA DO MEDO E PREVENÇÃO DO CRIME ATRAVÉS DO DESENHO URBANO-AMBIENTAL (CPTED): UMA ANÁLISE COMPARATIVA ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 200 »» ARQUITETURA E FABRICAÇÃO DIGITAL: A PROPOSTA DE UM FAB LAB EM VITÓRIA ���������������������������������������������������������� 178 »» ARQUITETURA PÚBLICA: INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO URBANO E INCLUSÃO SOCIAL ��������������������������������������� 195 »» A TERRITORIALIDADE DA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS EM JESUS DE NAZARETH, VITÓRIA - ES ���������������� 122 »» AVALIAÇÃO DOS PLANOS DIRETORES MUNICIPAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA: ESTUDO DE CASO PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE CARIACICA - ES ���������������������������������������������������������������������������������� 132 »» DA MAQUETE CONCEITUAL E DE SEUS USOS ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 191 »» DESEMPENHO TÉRMICO EM FACHADA: SIMULAÇÃO DA APLICAÇÃO DE ARGAMASSA TERMOACÚSTICA A BASE DE VERMICULITA COMO REVESTIMENTO DE FACHADA EM UM PROTÓTIPO PARA ANÁLISE DE DESEMPENHO ������������������� 153 »» HUMANIZAÇÃO DIGITAL DE PROJETOS: UM REPERTÓRIO DE IMAGENS ���������������������������������������������������������������������������� 113 »» MERCADO PÚBLICO E REQUALIFICAÇÃO URBANA: ENSAIO PROJETUAL PARA A CIDADE DE VITÓRIA - ES ������������������������� 163 »» METODOLOGIA PARA PRODUÇÃO DE MAPEAMENTOS URBANOS: COMUNICANDO COM A FERRAMENTA DO ARCGIS �������� 173 »» MODOS MÍNIMOS DE MORAR: ANÁLISE ERGONÔMICA SOBRE PADRÕES DIMENSIONAIS DOS EMPREENDIMENTOS HABITACIONAIS MULTIFAMILIARES | O CASO DO BAIRRO JARDIM CAMBURI/VITÓRIA - ES ���������������������������������������������� 142 »» MUSEU SOLAR MONJARDIM: REQUALIFICAÇÃO PAISAGÍSTICA ��������������������������������������������������������������������������������������� 137 »» O ESPAÇO PÚBLICO EM BUSCA DE UMA CIDADE VIVA ����������������������������������������������������������������������������������������������������� 127 »» O MERCADO PÚBLICO COMO PROMOTOR DA TRANSFORMAÇÃO URBANA: A CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DAS CIDADES �������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 158 »» O NOVO PDM DE VILA VELHA: SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO DE DISCUSSÃO DA LEGISLAÇÃO URBANA DO MUNICÍPIO E OS ATRAVESSAMENTOS COM O TEMA DA SEGURANÇA PÚBLICA ����������������������������������������������������������� 148 »» PATRIMÔNIO CULTURAL COMO FERRAMENTA DE VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE LOCAL: O CASO DO CONJUNTO JESUÍTICO DA IGREJA NOSSA SENHORA DA AJUDA-ARAÇATIBA-VIANA ��������������������������������� 118 »» PLANOS URBANÍSTICOS E A HISTÓRIA DAS CIDADES: A CONFORMAÇÃO DO BAIRRO BENTO FERREIRA EM VITÓRIA - ES ����������������������������������������������������������������������������������� 205 »» PRÁTICA DIGITAL E CONCEPÇÃO ARQUITETÔNICA: EXPERIMENTOS DE AUGUSTO ALVARENGA ����������������������������������������� 183



TEMÁTICA 1

GESTÃO E DESEMPENHO Estudo e reflexão sobre os conhecimentos relacionados à formação, produção e gestão do ambiente construído contemporâneo consolidado a partir de projetos de Arquitetura e Urbanismo. Análise e avaliação dos aspectos relacionados aos condicionantes e ao desempenho ambiental, cultural, tecnológico, comportamental, legal e social do ambiente construído. Gestão e avaliação do fenômeno arquitetônico e urbano, no que se refere às políticas públicas, planos, programas e projetos, sua eficácia, e seus resultados nas diferentes escalas espaciais.


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I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

PROPOSTAS PARA PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM NA CIDADE DE ITAGUAÇU - ES MENESES, Amanda Guimarães (1); SILVEIRA, Aline Vargas da (2); (1) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, IFES - Campus Colatina, amandagumeneses@gmail.com; (2) Professora Mestra, IFES - Campus Colatina, arq.alinevargas@gmail.com

RESUMO A paisagem vem ganhando espaço nos estudos brasileiros e, atualmente, pode ser classificada em paisagem natural e paisagem cultural, que é tema deste trabalho. A paisagem cultural pode revelar a história de um povo, sendo assim um testemunho da história. Entende-se que a paisagem muda constantemente e assim também acontece na cidade de Itaguaçu, Espírito Santo. Com o tempo, algumas edificações verticalizadas começaram a surgir e bloquear visuais importantes, como o caso de um dos principais monumentos da cidade, a Igreja Católica Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. A cidade não possui Plano Diretor Municipal, apenas o Código de Obras de 2013, e nenhum outro tipo de legislação que controle esse crescimento. O presente trabalho propõe então, diretrizes para a preservação da paisagem cultural, enfatizando a principal visual escolhida para o estudo, a Igreja Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças e para isso foram utilizadas simulações computacionais, pesquisas iconográficas, mapeamento das edificações e levantamentos fotográficos. PALAVRAS-CHAVE: Paisagem; Preservação; Itaguaçu.

1 INTRODUÇÃO De acordo com Ribeiro (2007), existem dois tipos de paisagem: a paisagem natural e a paisagem cultural. A primeira, nada mais é que a paisagem que ainda não foi adulterada pelo homem e a segunda é a paisagem já transformada pelo trabalho do homem - resultado das ações humanas no espaço em que vive. Entende-se que a paisagem muda com o passar do tempo e essa transformação é evidenciada através da alteração da paisagem cultural, fato que pode ser percebido na cidade de Itaguaçu - ES, foco deste trabalho. O município, situado no interior do Espírito Santo, possui aproximadamente 15 mil habitantes, com superfície de 530,39 Km² e está a 132 Km da capital Vitória, segundo censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016). Seu desenvolvimento se deu de acordo com o crescimento populacional, porém sem legislações que pudessem organizá-lo. A cidade não possui Plano Diretor Municipal devido ao número de habitantes, que é menor que 20 mil, possui apenas um código de obras elaborado em 2013. Este documento se encontra na Prefeitura Municipal de Itaguaçu (PMI), e na Seção IX, Art. 56, destaca as alturas permitidas para a construção das edificações na região central da cidade: “[...] esta altura deve ser inferior ou igual ao valor determinado pela soma da largura da rua, mais os passeios públicos e o afastamento frontal deixado pela edificação em relação ao seu lote” (BRASIL, 2013). Porém existe um caput que permite que a prefeitura autorize alturas superiores caso seja de seu interesse.

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Até o ano de 2011, praticamente não existia edificações no Centro que interferissem na visualização do principal monumento da cidade, a Igreja Nossa Senhora Medianeira de Todas as graças, que está presente na cidade desde 1880 (Loureiro, 2016). Todavia, nos últimos anos, o gabarito das edificações no centro da cidade começou a crescer e este crescimento pode provocar futuramente a obstrução dessa visual de alguns pontos.

2 OBJETIVOS Objetiva-se com esse trabalho encontrar diretrizes para a preservação da paisagem cultural do município de Itaguaçu, com intenção de minimizar os impactos causados pelo crescimento da cidade sobre o elemento mais importante da paisagem cultural da cidade, a Igreja Católica Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças.

3 METODOLOGIA Os processos metodológicos escolhidos para o presente trabalho foram extraídos de Mendonça (2005) e reformulados para a cidade de Itaguaçu. Inicialmente foi realizada uma fundamentação teórica, em livros e periódicos, buscando conceitos de paisagem. Com esses conceitos foi definido o elemento cuja visual será preservada, a Igreja Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, levando em consideração, além dos conceitos encontrados anteriormente, fatos históricos que comprovam a importância desse elemento na cidade de Itaguaçu. Depois disso, foram identificadas as zonas de visualização a serem preservadas, através de pesquisas iconográficas e histórias da cidade, com isso, foram realizadas as simulações computacionais (Photoshop), com possíveis ocupações futuras, obedecendo ao código de obras vigente atualmente. Por fim, foram realizados levantamentos fotográficos para comparações com as simulações gráficas e as pesquisas iconográficas, para melhor percepção das perdas ocasionadas pela evolução urbana na cidade, propondo assim diretrizes para ajudar a preservação da paisagem cultural na cidade de Itaguaçu - ES.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES O bairro Centro, local de estudo do presente trabalho, se desenvolveu naturalmente, crescendo em torno da capela, atual Igreja Matriz (Figura 1) e do rio que corta a cidade, o Santa Joana. Suas edificações possuem um gabarito médio de 2 pavimentos, alternando algumas construções que possuem o gabarito mais elevado. As visuais escolhidas para este estudo vão do ponto 1 ao 5 (Figura 2). Segundo Mendonça (2005), os pontos de visualização devem estar em lugares com referenciais históricos ou percursos com intensa circulação de pessoas, por esse motivo os pontos 1, 2 e 3, estão localizados nas ruas de maior fluxo de pessoas e automóveis da cidade de Itaguaçu, Avenida (Av.) 17 de Fevereiro e Rua Cel. Antônio Martinho Barbosa e os pontos 4 e 5 estão localizados em ruas de passagem intermunicipal, ou seja, as pessoas que vêm de outros municípios passam por essas ruas, dentro da cidade, para ir para outros municípios. Figura 1. Igreja Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças.

Fonte: Acervo pessoal.

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Figura 2. Mapa com pontos de visualização definido.

Fonte: Elaborado pela autora sobre mapa cedido pela PMI, 2017.

4.1 Resultados O ponto 1, o ponto 2 e o ponto 4 estão localizados na Av. 17 de Fevereiro, no bairro Centro da cidade de Itaguaçu. Esta rua possui, aproximadamente, 20 metros de largura e é a principal avenida da cidade. Seguindo o código de obras, que permite que a altura máxima das edificações seja a largura da rua mais o afastamento, nessa Avenida, a edificação poderia ter 23 metros de altura (aproximadamente 7 pavimentos), considerando afastamento frontal de 3 metros, mas como a maioria das edificações no centro da cidade não possui afastamento, e em caso de ampliações as mesmas características podem ser mantidas, foram desconsiderados os três metros de afastamento em todas as simulações, o que resulta, nestes pontos em 20 metros de altura, aproximadamente 6 pavimentos. As três figuras a seguir (Figura 3, 4 e 5), mostram comparações nos pontos 1, 2 e 4 respectivamente, a primeira imagem uma foto antiga, a segunda uma foto atual e a terceira uma simulação de possível ocupação futura. Figura 3. Imagens do ponto 01 - linha do tempo.

Fonte: Elaborada pela autora, 2017.

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Figura 4. Imagens do ponto 02 - linha do tempo.

Fonte: Elaborada pela autora, 2017. Figura 5. Imagens do ponto 04 - comparação.

Fonte: Elaborada pela autora sobre foto de acervo pessoal, 2017.

O ponto 03 está localizado na rua Cel. Antônio Martinho Barbosa e a altura máxima permitida nesse ponto, segundo o código de obras é de 10 metros (aproximadamente 3 pavimentos), sem considerar o afastamento de 3 metros (Figura 6). Figura 6. Imagens do ponto 03 - linha do tempo.

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

O ponto 05 está localizado na esquina da rua Valério Cózer com a rua Josias Domingues dos Reis (Figura 7). Neste ponto, a rua possui uma largura de aproximadamente 14 metros, o que dá a possibilidade de altura máxima das edificações de 14 metros (aproximadamente 4 pavimentos), desconsiderando os 3 metros de afastamento. Figura 7. Imagens do ponto 05 - Comparação.

Fonte: Elaborada pela autora sobre foto de acervo pessoal, 2017.

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Percebe-se que, todos os pontos, com exceção do ponto 3, sofrerão perdas consideráveis caso as edificações cheguem a altura máxima permitida pelo código de obras da cidade, e mesmo o ponto 3, onde não há obstrução, pode sofrer com o fenômeno chamado competição. Repara-se também, que já existem edificações ultrapassando a altura máxima permitida, como pode ser constatado na figura 5.

4.2 Diretrizes propostas Os pontos 01, 02, 04 e 05 deverão possuir altura máxima de 3 metros, permitindo assim acima desse valor elementos como platibandas e telhados até a altura máxima de 4,5 metros. As edificações existentes permanecem, mas, em caso de reforma e ampliações, as mesmas não podem ultrapassar a altura antecessora à reforma. O ponto 03 permanecerá como o descrito no Código de Obras vigente no município, no qual a altura permitida é a largura da rua mais o afastamento, neste caso aproximadamente 13 metros (aproximadamente 4 pavimentos). Em casos excepcionais, a PMI poderá considerar parâmetros construtivos diferenciados dos previstos, quando o empreendedor apresentar demonstração técnica consubstanciada de que, em decorrência de sua inserção urbanística, a intervenção proposta não oferece impacto à visibilidade e ambiência do elemento preservado. A Tabela 01 traz um resumo das alturas propostas para a preservação da paisagem cultural na cidade de Itaguaçu. Tabela 01 — Tabela resumo das alturas propostas para as edificações localizadas nos cones de visualização.

Ponto

Altura da edificação

Altura adicional (telhados e platibandas)

Altura máxima

Ponto 01

3 metros

1,5 metros

4,5 metros

Ponto 02

3 metros

1,5 metros

4,5 metros

Ponto 03

-

-

13 metros

Ponto 04

3 metros

1,5 metros

4,5 metros

Ponto 05

3 metros

1,5 metros

4,5 metros

Fonte: Elaborada pela autora, 2017.

Para que as diretrizes sejam executadas de forma eficaz, todos os projetos para novas construções ou alteração de altura em construções existentes inseridas nos cones de visual descritos anteriormente deverão ser submetidos a PMI para análise e aprovação.

5 CONCLUSÕES Por meio deste, foi comprovado que a verticalização das edificações na cidade de Itaguaçu pode gerar perdas parciais ou totais da visual definida para o estudo. Pôde-se perceber que, em alguns pontos, a obstrução já existe e em outros que, caso as edificações cheguem a altura máxima permitida pelo código de obras vigente, haverá a perda total da visual. Verificou-se, também, que existem edificações que excedem a altura máxima permitida atualmente. Para amenizar as perdas futuras, o trabalho propõe diretrizes para o controle da verticalização nos pontos mais críticos, as alturas máximas adequadas e as edificações que entram nas áreas onde as diretrizes podem ser aplicadas. As diretrizes apontadas no estudo podem auxiliar os governantes na hora de reconsiderar as normas redigidas no código de obras e, podem ajudar na preservação da paisagem cultural do município e, consequentemente, a conservação da sua história.

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REFERÊNCIAS IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Itaguaçu. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/ xtras/perfil.php?codmun=320270>. Acesso em: 13 out. 2016. LOUREIRO, Regina Menezes. ITAGUAÇU: Primeiras fazendas - dias atuais. Itaguaçu: GM Gráfica e Editora, 2016. 209 p. MENDONÇA, Eneida Maria Souza. Instrumentos para ocupação urbana em favor dos referenciais da paisagem. In: XI ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL, 2005, Salvador, Bahia. Anais... Disponível em: <http://www.xienanpur. ufba.br/324.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2017. BRASIL. LEI Nº 1.494/2013 - Institui o código obras municipal e dá outras providências. Prefeitura do Município de Itaguaçu. Itaguaçu, E.S, 2013. Disponibilizado através de correio eletrônico - infraestrutura@ itaguacu.es.gov.br. RIBEIRO, Rafael Winter. PAISAGEM CULTURAL E PATRIMÔNIO. Rio de Janeiro, IPHAN, 2007, p.151. Disponível em: < http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/SerPesDoc1_PaisagemCultural_m.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2016.

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REFLEXÕES SOBRE A ARQUITETURA ISOLADA E SEUS EFEITOS NO ESPAÇO URBANO MARANHÃO, Fernanda Rozo (1); RAMOS, Larissa Andara (2); (1) Mestranda em Arquitetura e Cidade, UVV, fernandarozo@yahoo.com.br; (2) Professora Doutora, UVV, larissa.ramos@uvv.br.

RESUMO A vitalidade urbana é diretamente influenciada pela forma arquitetônica e motivada por um conjunto de fatores, como dimensões físicas e sistemas de atividades, que interagem para que a cidade se torne atraente para o uso, possibilitando a vida em comunidade. Os complexos habitacionais isolados vêm prevalecendo nas novas urbanizações prejudicando a vitalidade do espaço urbano. Este trabalho apresenta uma reflexão sobre como o medo social vem influenciando a escolha dos consumidores pela arquitetura isolada e as consequências da fixação deste modelo, tal como os condomínios residenciais recentemente construídos no bairro Praia das Gaivotas em Vila Velha - ES. Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica, utilizando os autores Netto (2017), Gehl (2014), Jacobs (2013), Lira (2014), Caldeira (2011), Speck (2016) e Montaner (2009); onde o estudo da morfologia arquitetônica de dois complexos multifuncionais aliados aos aspectos geradores da caminhabilidade na configuração urbana apresentam-se como os possíveis dinamizadores da vitalidade. PALAVRAS-CHAVE: vitalidade urbana; morfologia arquitetônica; caminhabilidade; segurança pública.

1. INTRODUÇÃO De acordo com Netto (2017), a sociedade está presenciando uma transformação ainda silenciosa do contexto urbano. Um modelo arquitetônico como unidade absoluta da forma está sendo replicado em áreas urbanas inteiras. São edificações focadas em públicos específicos, funcionalmente e socialmente segregadas das demais, onde o espaço é utilizado como forma de restringir o contato com outras classes sociais. A reprodução dos condomínios isolados, verticalizados e com grandes afastamentos frontais e laterais fragmentam o espaço urbano pois se desconectam de seus entornos, dificultando a apropriação do pedestre ao espaço público, induzindo a dependência veicular, produzindo altos custos ambientais e sociais. Analisando o funcionamento de alguns bairros americanos, Jacobs (2013) cita os empreendimentos isolados planejados para a classe média como monótonos, repetitivos, padronizados, sem vida urbana. Faz uma reflexão de como os moradores criam relações com a vizinhança e estas com os bairros e distrito - através da interação nas ruas e calçadas. Como observa Gehl (2014), enquanto as cidades antigas foram construídas e justapostas ao longo dos espaços públicos - um modo eficiente de estimular a vida social e microeconômica dos bairros as novas áreas urbanas estão se agrupando por edifícios isolados entre estacionamentos. Trata-se de uma revisão bibliográfica sobre o tema dos enclaves fortificados na qual foram utilizados os autores Netto (2017), Jacobs (2013), Gehl (2014), Lira (2014), Caldeira (2011), Speck (2016) e Montaner (2009). O trabalho ainda apresenta dois empreendimentos urbanos polifuncionais como ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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alternativa ao edifício isolado, são eles: o conjunto residencial Odhams Walk, em Londres e a Compact City, localizada em Viena, na Áustria.

2. A INFLUÊNCIA DO MEDO E O CONTEXTO DA VIOLÊNCIA CAPIXABA De acordo com Lira (2014), a população urbana capixaba passou de 29,2% em 1960 para 79,5% no ano 2000. O fluxo migratório de pessoas vindo do Rio de Janeiro, oeste de Minas Gerais, sul da Bahia e do interior do Espírito Santo foi intenso, acompanhando a expansão industrial do estado. Num primeiro momento, na fase de construção das indústrias, os operários sem qualificação foram absorvidos. Porém, na fase de operação os mesmos foram dispensados e, sem condições de retornar à cidade natal, começaram a ocupar as encostas dos morros. A ausência de políticas públicas adequadas fez com que o uso e ocupação do solo urbano desencadeassem processos sócio espaciais contraditórios, o que agravou intensamente os problemas sociais e o aumento da violência na Grande Vitória, se destacando negativamente em relação ao restante do estado, como relatado a seguir: Em 2008, a Grande Vitória registrou 80 homicídios por 100.000 habitantes, enquanto o Espírito Santo e os demais municípios capixabas computaram 55 e 34 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes. Quando são analisados os números absolutos, constata-se que a aglomeração da Grande Vitória concentrou 66% dos 1.903 homicídios do Espírito Santo neste mesmo ano LIRA (2014, p. 71).

Ainda segundo Lira (2014) o aumento da violência nas últimas três décadas influenciou as estruturas e as novas formas urbanas das principais cidades brasileiras. As classes média e alta passaram a adotar o enclausuramento como estilo de vida, buscando os condomínios excessivamente auto protegidos, descritos por Caldeira como “enclaves fortificados” (2011, p. 211). A autora utiliza este termo para designar os exageros das estratégias de autoproteção dos centros comerciais, conjuntos empresariais e principalmente os condomínios residenciais. O medo do crime impulsiona os proprietários a buscarem moradias que adotem uma série de medidas funcionais, com elementos de autoproteção para prevenir danos à sua integridade, sua família e patrimônio, como descreve Lira: Os espaços privados incorporam uma série de elementos em suas formas, a saber, muros altos, grades, guaritas, cercas elétricas, torres, alarmes, circuito de vídeomonitoramento, entre outros. Isso se torna explicitamente perceptível em bairros ocupados por camadas sociais mais privilegiadas e, principalmente, em espaços residenciais. Não que outros espaços, como ambientes comerciais, estejam isentos das representações da arquitetura do medo, mas são as casas e condomínios que adotam com vigor os elementos da arquitetura do medo. LIRA (2014, p. 131)

A procura pela arquitetura isolada está associada ao pânico em relação à violência urbana. Sentimento que é diariamente fomentado através das mídias (noticiários na televisão, rádio e internet), que têm como principal enfoque as notícias criminais. O Bairro Praia de Gaivotas foi fundado na década de 90 em Vila Velha - ES, através da parceria de uma cooperativa de trabalhadores, a Coopgranvit, e o Instituto de Orientação das Cooperativas habitacionais no ES (INOCOOP/ES). O bairro tem passado por grandes transformações nos últimos anos. Muitos empreendimentos habitacionais multifamiliares surgiram na região, com fachadas cegas, segregados do contexto urbano, configurando-se como os “enclaves fortificados” (figura 1). São empreendimentos cercados por muros altos e opacos, com pouca relação com o exterior. Essa tipologia “vende” segurança, no entanto, promove um entorno não convidativo à caminhabilidade e à permanência de pessoas nas ruas.

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Figura 1: Bairro Praia de Gaivotas, Vila Velha-ES.

Fonte: arquivo pessoal.

Em contraposição à procura por áreas habitacionais isoladas, Speck (2016) analisa uma nova geração de profissionais, conhecida como “geração y” que opta por morar em áreas adensadas e se locomove através de bicicletas e/ou transporte coletivo. O fato de não possuir casa e carro é visto como flexibilidade e autonomia pessoal. O desejo de morar nos centros urbanos também é notório, 64% escolhem primeiro onde querem morar e só depois vão procurar trabalho. Outro grupo que almeja abandonar a vida nos grandes loteamentos isolados são cônjuges que já estão com filhos independentes e agora procuram caminhabilidade. Para Speck (2016) a prosperidade, saúde e sustentabilidade são os três principais fatores determinantes das cidades caminháveis. Ao longo de sua obra analisa dez principais condicionantes das cidades caminháveis, são eles: 1- Recuperar a cidade para o pedestre pois o carro tem sido o fator determinante para a formação das cidades. 2- Mesclar usos e atividades oferecidas numa distância que permita que as pessoas optem por caminhar. 3- Adequar as áreas de estacionamento para que elas não tomem espaços nobres da cidade. 4- Investir em transporte público eficiente. 5- Proteger o pedestre adequando as sinalizações, largura de faixas e vias, controle da velocidade do automóvel, e outros fatores que combinados a este garantem a integridade física do passante. 6- Acolher as bicicletas não só com a determinação de locais para circulação, mas também com espaços para estacioná-las. 7- Criar espaços confortáveis e de transição, alternando áreas total e parcialmente abertas para que o pedestre não se sinta vulnerável. 8- Arborizar calçadas para contribuir no conforto térmico durante a caminhada. 9- Construir fachadas ativas que despertem o interesse do passante. 10- Analisar com critério a escolha das ruas que serão preferencialmente para tráfego de veículos automotores.

3. A SOLUÇÃO NOS COMPLEXOS POLIFUNCIONAIS? Montaner (2009) sugere um novo olhar da arquitetura contemporânea tomando como ponto de partida a crise do objeto arquitetônico isolado, enfatizando especialmente as relações entre os edifícios e os valores do espaço público definido por eles. Baseando-se no conceito de sistema, o autor destaca a capacidade de novas propostas arquitetônicas que se adaptem melhor ao contexto urbano. Como exemplo, cita os complexos polifuncionais que configuram o tecido urbano pensado para promover a densidade e mistura de usos, favorecendo o pedestre e o meio ambiente. Essa proposta ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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foi inicialmente experimentada em Londres (1974-1981). O conjunto residencial Odhams Walk (figura 2) foi construído em Covent Garden pelo Conselho da Grande Londres (GLC) e teve sua origem com um desenvolvimento liderado pela comunidade. Seus planos escalonados organizados em torno de pátios comuns, galerias elevadas e terraços privados resultou numa mistura de ambientes bem diversificados. Figura 2: Odhams Walk, Covent Garden – Londres.

Fonte: http://tavistockbow.com/property/odhams-walk-covent-garden-wc2/ Figura 3: Fluxograma de usos e circulação Compact City

Fonte: MONTANER (2014, p. 169)

Foram projetados 102 apartamentos acima de um centro comercial e estacionamento, com uma praça pública conectada por rampas para pedestres à rua, permitindo acesso público ao complexo. Mais 73 apartamentos foram localizados nos dois níveis inferiores, organizados em pátios internos e galerias abertas, que se comunicam com um terceiro nível, dando acesso a mais 29 moradias. Do lado de fora, Odhams Walk parece escultural e sólido. O design baseia-se na combinação de geometrias básicas (planos quadrados e planos em forma de L), que criam único ambiente de espaços de diferentes dimensões e caracteres: uma praça, corredores elevados e plataformas para uso público, pátios comuns e terraços privados. Esta variedade de espaços gera uma interação entre público e privado, entre a agitação da rua em contraste com a tranquilidade das casas. Também em busca de alternativas para a cidade contemporânea, o escritório Bus Architektur liderado por Laura Spinadel, projetou em 1995 a Compact City, localizada em Viena, na Áustria. A construção que terminou em 2002 ocupa um quarteirão e possui uma área de 32.420m². Segundo Montaner (2009) é o exemplo contemporâneo mais valioso, que mistura vários usos em uma quadra e se propõe supermercados, lojas, restaurantes, oficinas, escritórios, depósitos, creche e residências 24

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de diferentes tamanhos e características. Cria-se um sistema próprio de espaços públicos, acessos, marquises, passarelas e praças (figura 3). O conceito de Homeworkers (trabalhadores de casa) integrados na “Cidade Compacta” com seus espaços públicos, constituem uma mudança nas proporções do mundo de trabalho a ser observada. A proposta aponta para um futuro onde a relação moradia e trabalho tendem a se aproximar e muitas vezes se fundir. Diante das inúmeras possibilidades de se vender e comprar produtos e serviços virtualmente, o recrutamento da sociedade de trabalho contemporânea exige uma nova transformação no desenvolvimento de hábitos. Com isso, o apartamento perdeu seu caráter monofuncional. Na Compact City o trabalho pode ser realizado dentro e fora dos apartamentos, pois são combinados com estúdios, escritórios, lojas e acesso aos pátios internos e comércio. O plano urbano pode ser usado como lugar de reunião ou pequenos encontros cotidianos. Surge uma nova possibilidade de sociedade integrada, conectadas através das interfaces de redes locais e globais.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com as análises de Netto (2017), a vitalidade urbana é diretamente influenciada pela forma arquitetônica, pois está associada ao uso do espaço urbano. A presença de pessoas nos espaços públicos faz com que eles sejam percebidos como vivos e seguros. Speck (2016) destaca alguns parâmetros a serem seguidos para aumentar caminhabilidade, e consequentemente, a densidade de usos e pessoas nas ruas. Parâmetros esses que aliados à solução dada pelos edifícios de múltiplos usos com a presença de comércios e serviços diminui a dependência veicular reduzindo a poluição, além de movimentar as calçadas aumentando a vigilância mútua e a consequente diminuição da incidência de crimes contra a população. Apesar de Praia de Gaivotas ser um bairro consolidado, ainda possui áreas livres a serem ocupadas. Com base nos autores mencionados, foi possível identificar os impactos negativos da implantação desta tipologia e em contrapartida levantados os principais fatores que condicionam a vitalidade e caminhabilidade urbana. Espera-se com este trabalho abrir novas reflexões sobre o tema além de contribuir para projetos de intervenções futuras no bairro.

REFERÊNCIAS CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. 3. ed. São Paulo, SP: EDUSP: Ed. 34, 2011. 399 p. GEHL, Jan. Cidades para pessoas. 2. ed. São Paulo, SP: Perspectiva, 2014. xv, 262 p. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed. São Paulo, SP: WMF Martins Fontes, 2013. xiv, [1], 510 p. (Coleção cidades). LIRA, Pablo Silva. Geografia do crime e arquitetura do medo: uma análise dialética da criminalidade violenta e das instâncias urbanas. Vitória, ES: GSA, 2014.186p. MONTANER, Josep Maria. Sistemas Arquitetônicos Contemporâneos. Ed. Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2009. NETTO, Vinicius M. Efeitos da Arquitetura. Os impactos da urbanização contemporânea no Brasil. In:______ A cidade como resultado: consequências das escolhas arquitetônicas. Brasília: FRBH, 2017. p. 25-49. SPECK, Jeff. Cidade caminhável. São Paulo, SP: Perspectiva, 2016. 270 p. (Coleção perspectivas).

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A LUZ NATURAL COMO MODELADORA DO ESPAÇO NAS OBRAS DE LOUIS KAHN QUEIROZ, Grace Rodrigues (1) (1) Arquiteta Urbanista, mestranda em Arquitetura e Cidade pela Universidade de Vila Velha, grqueiroz@uol.com.br.

RESUMO Para os mestres da arquitetura, a luz sempre foi considerada uma matéria construtiva, um elemento para a percepção dos fenômenos que ocorrem no espaço, com possibilidades funcionais, estéticas, simbólicas e poéticas. Para Kahn nenhum espaço arquitetônico é realmente um espaço a menos que tenha luz natural (MONTANER, 2001). A transição entre a modernidade e a pós-modernidade é um período de grandes modificações na teoria e prática da arquitetura. Kahn se insere neste período como uma personalidade de grande influência, tentando conciliar a continuidade da arquitetura moderna com a necessidade de renovações. O objetivo deste artigo é relacionar a importância da luz natural como elemento qualificador do espaço arquitetônico e sua relação com as obras de Kahn. A estratégia principal foi a revisão bibliográfica, autores que estudam a luz como matéria prima de composição do espaço, bem como autores de teoria, história e crítica da arquitetura, são suportes para a pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE: luz natural; Louis Kahn; modernidade; pós-modernidade.

1 INTRODUÇÃO O processo de concepção em arquitetura depende fundamentalmente da opção por parâmetros que orientam o projeto, um desses parâmetros é a luz natural. A criação de ritmos e movimentos é possível de ser acentuada quando se estabelece uma relação entre luz e forma, claro e escuro, enfatizando e revelando a riqueza dos elementos arquitetônicos para assim ter uma maravilhosa experiência de percepção visual. As variações de luz ou de tom são meios pelos quais se distingue oticamente a complexidade da informação visual do ambiente (OLIVEIRA, 2009). De acordo com Santaella (2012), estudos mostram que 75% da percepção humana referem-se ao sistema visual, 20% a percepção sonora e 5% aos outros sentidos. A importância da luz para o homem também é vista nas pesquisas sobre o controle do sistema circadiano - cerca de um dia. Segundo Boyce (2003) a luz é o mais importante estímulo ambiental de regulação do sistema circadiano e incide sobre o ânimo, a saúde e o comportamento das pessoas, bem como regula o relógio biológico interno. A luz também nos atrai e emociona, as suas gradações se mostram para nós em um espetáculo de variações de cores ao longo do dia e das estações do ano. Estas imagens ficam registradas em nossa memória, a luz amarelada do amanhecer, o azul do meio dia e os matizes do entardecer, estão sempre associamos a nossas emoções. Nossa memória de luz está relacionada com a natureza (BARBOSA, 2010). As explorações da qualidade da luz podem ser vistas ao longo da história. Ela não se limitava apenas a visão, muitas vezes era movida por mitos, crenças religiosas e associada a um simbolismo de veneração e exaltação dos deuses. Assim, a luz não vai apenas clarear, mas provocar emoções.

2 KAHN ENTRE A MODERNIDADE E A PÓS-MODERNIDADE Depois da Segunda Guerra Mundial a Europa passa por uma profunda crise. Muitos intelectuais, artistas e arquitetos emigram para os Estados Unidos, acrescentando ao já enorme potencial existente 26

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as idéias e iniciativas destes europeus. A partir deste momento a arquitetura norte-americana passa a ter uma enorme influência (MONTANER, 2001). Nos Estados Unidos essas influências internacionais atuaram sobre a grande variedade da arquitetura existente e também sobre o enorme potencial econômico do país, proporcionando a formação de grandes escritórios de arquitetura, ações no campo do desenho industrial e nas artes plásticas, com a criação do expressionismo abstrato e logo após a pop-art, o “land-art”, o “minimal”, o conceitual, etc. (MONTANER, 2001). Frampton (2008) afirma que enquanto Gropius na direção de Harvard consolida uma abordagem funcionalista e anti-historicista, a escola de arquitetura de Yale, onde Kahn lecionava, desempenhou um papel no desenvolvimento da monumentalidade norte americana do pós-guerra. Através do projeto da Galeria de Arte de Yale, Kahn se destaca na monumentalidade americana, com ênfase na estrutura e nos materiais, em nada se comparando a arquitetura que estava sendo construída. Neste mesmo período, ele passa a se preocupar com a tradição histórica, por meio da criação da ordem hierárquica a partir de forma estrutural pesada. Para Nesbitt (2006), a partir da década de 1950 novas mudanças de valores acontecem no contexto da sociedade, levando a uma rejeição da ideologia do movimento moderno, que passou a receber críticas pela ausência de recursos quanto a suas soluções formais, funcionais e sua ideologia. Sem o seu programa social e seu caráter ideológico, a estética moderna na América se torna um estilo usado nas áreas comerciais como símbolo de inovação. Nos anos 60, já se sabia do fracasso do seu elemento social na arquitetura moderna Européia, levando a uma frustração profissional. Jamerson (2006) coloca que: Os anos 1960 foram, de muitas maneiras, o período chave de transição, um período no qual a nova ordem internacional (neocolonialismo, Revolução Verde, disseminação do uso do computador e informação eletrônica) ao mesmo tempo se estabeleceu e foi abalada e conturbada por suas próprias contradições internas e pela resistência externa (NESBITT, 2006, p.21).

As incertezas depois de segunda guerra, a complexidades do capitalismo tardio e a diversidade das relações humanas trouxeram o fim do ideal único da arquitetura funcionalista. Características formais da arquitetura passam por variações notáveis, a transformação do exclusivismo do movimento moderno foi se tornando um modelo aberto, onde a natureza, o vernáculo, as formas orgânicas e escultóricas, a textura dos materiais, as formas tradicionais e outros fatores passam a predominar. As questões da relação do homem com a natureza, do corpo e do lugar, que não foram reconhecidas pelo movimento moderno, se tornam o paradigma da perfeição formal para muitos arquitetos. Esta mudança está muito ligada a influência das ciências sociais nos anos cinqüenta e sessenta, como sociologia, antropologia, arte e psicologia social, que assumiram um papel importante na idéia do arquiteto de revalorização da vida cotidiana (MONTANER, 2001). Kahn posiciona-se como figura significativa do período intermediário entre o movimento moderno e o pós-moderno, atravessando o período desde a implantação da arquitetura modernista até sua crise e busca de novos significados. É considerado como arquiteto da terceira geração do Movimento Moderno, pela época em que viveu e por ter se destacado nos anos de 1950 (MONTANER, 2001). Kahn nasceu em 1901 na Estônia, mudou-se para os estados Unidos em 1905. Formou-se arquiteto na escola de Beaux-Arts da Universidade da Pensilvânia em 1924 e logo em seguida começou a trabalhar no escritório de Paul Cret. Em 1941, constituiu uma sociedade com George Howe e em 1947 começou a lecionar na Escola de Arquitetura de Yale. Influenciou uma geração de arquitetos com sua ideologia, de acordo com Papademetriou (2002, p.11) “seu livro Function trouxe a discussão noções de significado e intenção, de usos da história e de representação formal que viriam a ser o ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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cerne do debate pós-modernista das déc. de 70 e 80”. Sua relação com o pensamento de Heidegger também é assimilado de maneira profunda, como a dignidade da existência do homem baseada em ser sobre a terra, sob o céu. A preocupação de Heidegger é com a incapacidade do homem de refletir sobre a existência (Ser), essa reflexão é o que define a condição humana. Um dos trabalhos de Heidegger de maior influência na arquitetura é “Construir, Habitar e Pensar” (2002), onde assinala que a dignidade do homem se realiza no lugar arquitetônico onde habita (MONTANER, 2011).

3 A LUZ NA ARQUITETURA DE KAHN Segundo Kahn, os estágios básicos do projeto arquitetônico são três: o início, a idéia, quando é feita a escolha entre os diversos tipos formais. Em um dos seus escritos ele afirmou: “amo os começos, (...) de passar do silêncio à luz”, (MONTANER, 2001, p.64). O segundo a introdução da ordem, sempre no rigor e nas leis da geometria, momento quando a forma surge como vontade concreta de existir e se opta por uma que possa se expressar com a mesma força do início ao fim; e na última fase o desenho, que através dos detalhes define sua iluminação, seus elementos construtivos e materiais (MONTANER, 2001). As obras de Kahn tinham uma poesia e uma personalidade, para ele o arquiteto deveria ir além do programa, ele se perguntará em cada caso “o que o edifício quer ser?” (MONTANER, 2001, p.63). Colocando na obra a expressão emocional, o significado de projeto, sustentando sua alegação que os edifícios possuem uma essência, e a forma tem um papel preponderante, na medida em que ela foi inventada primeiro, a partir de uma compreensão da obra como um todo (MONTANER, 2001). Os lugares criados por Kahn, são lugares destinados a vida das pessoas, ele se preocupava em criar lugares que despertassem o sentimento de bem estar do homem, pois não se trata apenas de tecnologia. Nas suas obras se observa uma transição paulatina do ruído para o silêncio, da luz para a penumbra, das zonas públicas para as privadas. A alternância de “luz” e “não luz” é o que definia o seu conceito de espaço (GIURGOLA, 1980). Os interiores e suas resoluções de luz são um dos aspectos da arquitetura de Kahn. Para ele nenhum espaço arquitetônico é realmente um espaço a menos que tenha luz natural. Os interiores são para ser vividos, para penetrar nele, segundo Kahn: “o espaço interior é um segredo que deve ser descoberto deleitando-o” e ainda “estou me acostumando a pensar em termos de silêncio e luz” (MONTANER, 2001, p.68). Uma planta de um edifício deve ser lida como uma harmonia de espaços na luz. Mesmo um espaço que busca ser escuro deve receber um pouco de luz através de alguma abertura misteriosa, apenas para nos dizer o quão escuro ele realmente é. Cada espaço deve ser definido por sua estrutura e pelo caráter de sua luz natura (KAHN, 2010, p.25).

Giurgola (1980) afirma que Kahn utiliza os materiais da mesma forma que eles existem na natureza e para ele “as principais fontes luminosas cintilam e fazem destacar, por seu fulgor, as qualidades dos materiais” (KAHN, 1980, p.17). Kahn declara que todos os materiais inclusive nós somos feitos de luz convertida em matéria, que é meio e recurso na mão do artista e do arquiteto. A partir do projeto da Galeria de Arte de Yale, Kahn começa a imprimir um caráter mais pessoal em suas obras. O interior da galeria é uma estrutura que impacta e emociona o visitante, com quatro clarabóias que recebem luz direta do zênite e são sustentadas por uma viga em forma de uma grande cruz de concreto. Os espaços mudam de aspecto e cor de acordo com a variação da luz em diferentes horas do dia e também com a mudança das estações do ano. O Kimbell Art Museum (fig. 1), em Fort Worth (1972) é um dos trabalhos de Kahn considerado uma obra prima pela forma como a luz natural é trabalhada. O edifício é composto por seis abóbadas paralelas de 6m de largura; as galerias são iluminadas por uma luz zenital que atravessa difusores de alumínio perfurado e se refletem nas superfícies de concreto abobadadas. O edifício também possui três pátios com grandes painéis de vidro para reforçar a iluminação natural. A coleção exposta 28

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consiste em obras do séc. XIX e na opinião de Kahn, se um objeto foi criado à luz do dia, deve ser exposto com luz natural (GIURGOLA, 1980). Figura 1: Kimbell Art Museum

Fonte: KIMBELL ART MUSEUM. Architecture. Kahn Films and Imagens. Diponível em:<https://www.kimbellart.org/architecture/kahn-building/kahn-films-and-images>. Acesso em: maio 2017.

Não só nas grandes obras, mas também nas várias casas projetadas por Kahn, a sua preocupação com a luz foi uma constante. Giurgola (1980) faz uma seleção das casas que são mais características, onde as soluções aplicadas nelas foram sendo aperfeiçoadas ao longo de suas obras. Na casa Weiss a parede exterior da área de estar tem painéis que movem verticalmente, graduando a luz com a necessidade. Na casa Morris a solução formal adotada cria um ritmo de luzes no interior. Na casa Fisher, a luminosidade é dada pela variação dos desenhos das janelas, com amplas superfícies envidraçadas e outras menores que estão em recuos profundos (GIURGOLA, 1980). Kahn tinha um envolvimento apaixonado por cada projeto e nunca deixava de discutir temas como monumentalidade, forma, ordem e luz. Através de suas obras escritas e de suas construções ele nos ensina o que é uma boa arquitetura. Para ele a arquitetura falava através de imagens silenciosas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Kahn foi um dos grandes arquitetos do séc. XX. Iniciou a fase mais importante de sua carreira na década de 50, período de crise do pensamento moderno. Como alternativa, propõe novo método de projetação invertendo os procedimentos da arquitetura moderna e do funcionalismo - onde forma segue a função - afirmando que as edificações possuem uma essência que determina sua solução, que a forma tem sempre papel preponderante. Ele trata a monumentalidade como forma capaz de transmitir a eternidade, buscando referências no passado e reinterpretando-as ao invés de copiá-las. Outras questões como significado, o entorno, a relação do homem e suas obras com a natureza, a luz e os espaços internos mais humanizados, são preocupações que fazem com que a arquitetura de Kahn seja singular, e se aproxime mais do pensamento pós-moderno. O mestre Kahn, sempre tratou a luz natural como matéria prima, elemento para composição dos espaços, nunca a desconsiderando nos processos de projeto. Não só as possibilidades funcionais e estéticas, mas também o sentido poético e simbólico que a luz tem. A luz natural com sua variedade de mudanças, de acordo com o tempo, clima, estações do ano, é um elemento que pode dar qualidade a uma obra de arquitetura, emocionando através do jogo de luz e sombra, colaborando na composição dos ambientes para que estes sejam mais agradáveis, desta forma produzindo espaços que nos dê uma experiência sensorial, um sentimento de pertencimento, uma arquitetura feita para o homem.

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REFERÊNCIAS BARBOSA, Cláudia Verônica Torres. Percepção da iluminação no espaço da arquitetura: preferências humanas em ambientes de trabalho. 2010. 238p. Tese de doutorado em Arquitetura e Urbanismo - Programa de pós graduação em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2008. GIURGOLA, Romaldo. Louis I. Kahn. Barcelona: Gustavo Gili, 1980. JAMESON, Frederic. In: Uma nova agenda para a arquitetura. Antologia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2006. KAHN, Louis. Forma e designer. Tradução por Raquel Peev. São Paulo: Martins Fontes, 2010. KIMBELL ART MUSEUM. Architecture. Kahn Films and Imagens. Diponível em:<https://www.kimbellart.org/architecture/kahn-building/kahn-films-and-images>. Acesso em: maio 2017. MONTANER, Josep Maria. Depois do movimento moderno. Arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2001. NESBITT, Kate (org). Uma nova agenda para a arquitetura. Antologia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2006. OLIVEIRA, André Manuel dos Santo. Desenhar a luz - a luz natural como matéria prima na composição arquitetônica. 2009. 195p. Prova final de Licenciatura em Arquitetura. Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2009. PAPADEMETRIOU, Peter. Lou um ícone. In: Louis I. Kahn. Conversa com estudantes. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. SANTAELLA, Lucia. Percepção: fenomenologia, ecologia e semiótica. Cengage Learning, 2012.

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ATORES SOCIAIS EM ÁREAS VULNERÁVEIS DE VILA VELHA - ES O caso de comunidades socioambientalmente vulnerabilizadas DA-SILVA-ROSA, Teresa (1); MOZINE, Tayná Oliveira (2) (1) Professor Doutor, Programa de pós-graduação em Sociologia Política e Arquitetura e Cidade, UVV-ES, teresa.rosa@uvv. br; (2) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UVV, taynamozine@hotmail.com

RESUMO Esse trabalho se insere na pesquisa “Compreendendo a construção de vulnerabilidades socioambientais em contextos urbanos modernos: o caso de Vila Velha (ES)”. O objetivo desse artigo é o mapeamento sistemático das atividades desenvolvidas e não desenvolvidas pelos atores sociais em cinco bairros selecionados de Vila Velha, compreendendo o papel dos atores quando a organização espontânea da comunidade, a percepção sobre as vulnerabilidades e inserção de ações e princípios de redução de riscos de desastres. O método de mapeamento foi utilizado por imagens de satélite, uma base cartográfica digital pelo programa Arcgis e visitas de campo. O estudo mostra: um esquecimento que se reverte em momentos como um desastre acontece; os cidadãos têm pequena capacidade de publicizar suas demandas; e o Estado se omite diante dessa situação.

PALAVRAS-CHAVE: Atores sociais; Vulnerabilidade; Vila Velha.

1 INTRODUÇÃO O processo de urbanização de Vila Velha começou com sua expansão na década de 70, e com isso, foi se tornando um território fragilizado devido ao crescimento urbano acelerado e desordenado. É importante destacar que, por causa desse crescimento, a pressão urbana sobre as áreas verdes e elementos naturais é grande, pressão que, consequentemente, se concretiza com a expansão da malha urbana procurando responder a função da cidade moderna. Nesse contexto, diferentes atores sociais emergem com o intuito de atuar segundo seus interesses. Para Michelin (2010), “... os atores sociais manifestam interesses sociais, econômicos, políticos, culturais de forma articulada, geralmente expressos através de formas perceptíveis e legítimas.” (p. 88). Tomando em consideração essa definição, esse artigo trabalha com uma classificação à partir de características do território em si. Consequentemente, classifica-se dentro da categoria ator social, as seguintes subcategorias: o ator não estatal (movimentos sociais, associações de moradores, igrejas, os próprios moradores enquanto indivíduos), o ator estatal (prefeitura, governo estadual, ou seja, é o ator ligado a configuração institucional do território nos setores públicos) e o ator econômico, que, no presente trabalho, são as empresas privadas no Espírito Santo, atuando no setor portuário, ou seja, um ator econômico de natureza nacional tendo influência no mercado internacional – em função dessa especificidade no território estudado, houve a necessidade de não considerar esse ator dentro das sub categorias anteriormente citadas. Considerando esse cenário de governança socioambiental local, cabe chamar a atenção da complexidade que emerge em função dos interesses diversos que estão em jogo. Afinal, são esses atores que estão atuando sobre o espaço urbano. Ou seja, segundo Corrêa (1997), “o espaço urbano é o resultado da ação, muitas vezes conflitante, de diversos atores sociais.” (p. 02). O objetivo desse artigo é o mapeamento sistemático das atividades (não) desenvolvidas pelos atores sociais em cinco bairros selecionados de Vila Velha, compreendendo o papel dos atores quanto a organização espontânea da comunidade, a percepção sobre as vulnerabilidades e inserção de ações e princípios de redução de riscos de desastres. Neste trabalho, se foca em áreas de risco ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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socioambiental de Vila Velha (ES, Brasil) intensificados, muitas vezes, pelo uso e ocupação do solo urbano. A identificação dos atores sociais foi feita em três regionais da cidade, nos bairros: Argolas e Paul, Boa Vista e Itapoã, e São Torquato. Os bairros de Boa Vista e Itapoã (Regional 1) são áreas vulneráveis à inundação. Argolas, Paul (Regional 3) e São Torquato (Regional 4) sofrem impacto de construções de infraestrutura portuária em função da constante ampliação do porto e têm risco geológico em função da topografia local. Por exemplo, no Morro de Boa Vista, em São Torquato, há tendências de uma área suscetível à deslizamentos de massa como o ocorrido em janeiro de 2016.

2 MATERIAL E MÉTODOS Inicialmente, foram realizadas leituras bibliográficas referentes a urbanização, uso e ocupação do solo e vulnerabilidade. A identificação das áreas vulneráveis foi feita por imagens de satélite e dados geográficos disponibilizados pelo Google Earth e pela Prefeitura Municipal de Vila Velha (PMVV) além da consulta ao Plano Diretor Municipal de Vila Velha de 2007 e do emprego de shapefiles de 2007 disponibilizados através do site da prefeitura para produção dos mapas no programa Arcgis. A identificação de atores por bairro foi feita com base em pesquisa, em reportagens e artigos científicos disponibilizados na internet. Bem como através de trabalhos de campo com o uso de questionários para entrevistar os moradores. Com base nos trabalhos de campo, foram produzidos mapas demarcando áreas dos bairros com pouca ou nenhuma atuação de atores sociais.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Paul e Argolas Paul e Argolas não tem um histórico de desastres de alagamento e deslizamento, porém os bairros têm a presença do porto, cuja expansão faz com que eles, consequentemente, se tornem vulneráveis, com os riscos relacionados aos materiais das instalações industriais e portuárias. Os atores sociais identificados nesses bairros foram classificados nas 3 categorias: ator não estatal, a Associação de Moradores; ator estatal, a PMVV; e ator econômico, o porto. Pode-se depreender da análise dos dados que: (1); De acordo com a PMVV, os apontamentos, ou seja, os problemas de infraestrutura e habitação identificados no PDM 2007, são: (1.1) as moradias precárias debaixo do viaduto de Paul, casas pequenas para o tamanho da família residente e barracos; (2.2) a falta de equipamentos comunitários como a Capela Mortuária e Creche. Paul só possui 01 creche (a UMEI Padre Edmundo “Corradino de Ciccio”) e Argolas não possui; (2) Com base nas entrevistas, (2.1) a demanda por escolas é grande por ter muitas crianças que residem nos dois bairros; (2.2) a creche de Paul não possui infraestrutura adequada para as crianças; (2.3) a expansão do porto podendo causar doenças respiratórias; (2.4) A Associação de moradores é o ator que a presença marcante no local, buscando contemplar as reivindicações e atender as necessidades do bairro; (3) o ator econômico, o porto, que impacta consideravelmente o bairro devido a sua atividade e o uso do solo próximo às moradias além da ferrovia cortando o bairro. Com base nos apontamentos e com a sistematização das entrevistas, produziu-se o Mapa 01 que mostra uma área onde a presença dos atores sociais é praticamente inexistente. Durante o trabalho de campo, observou-se que Paul e Argolas possui uma rede de tratamento de esgoto precária, necessitando de tratamento de rede pluvial mitigando as inundações, o que leva a população adequar suas habitações a conviver com esse fenômeno recorrente principalmente em Paul.

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Mapa 01: Localização dos Atores Sociais nos bairros Argolas e Paul

Fonte: Acervo da pesquisa, 2016.

3.2 Boa Vista e Itapoã Os bairros Boa Vista e Itapoã foram analisados juntos por terem características comuns quanto a vulnerabilidade em relação às condições de habitação e de inundação da população de baixa renda. São bairros próximos, que sofrem impactos quanto à especulação imobiliária, o que altera a capacidade dos bairros lidarem com os eventos hidrológicos. Os atores sociais identificados nesses bairros foram classificados nas 3 categorias: ator não estatal, a Associação de Moradores; ator estatal, a PMVV; e ator estatal municipal, a Polícia Militar. No bairro de Boa Vista, é vulnerável no aspecto de habitação, elas são precárias e se localizam em alguns lotes irregulares. No Plano Diretor de 2007, a Prefeitura não pontua em quais locais possuem moradias precárias. Com visitas ao local, pode-se perceber a precariedade de habitações na forma de construção. Outro aspecto carente é pavimentação precária das vias e a presença de ruas de pequena extensão, facilitando a formação de becos, fator urbanístico que acaba favorecendo a vulnerabilidade por dificultar o acesso de serviço es urbanos à nessas áreas, exceto a Polícia Militar. Durante o período da pesquisa, muitas reportagens sobre Boa Vista apontam a Polícia tendo uma presença forte no bairro devido aos assaltos e tiroteios. No bairro Itapoã, a área estudada se restringe a área de margem do Canal da Costa, caracterizada por moradias precárias, com presença de uma população de baixa renda, onde pode-se perceber a precariedade da infraestrutura urbana, muitas ruas sem pavimentação, sem calçadas ou estreitas. Durante o campo, pode-se identificar a falta de espaços públicos; falta de tratamento de esgoto, identificando caixas de esgoto danificadas e a céu aberto. Um fator que o bairro está vulnerável, é a inundação agravada pelas habitações ocupando as margens do canal (áreas de preservação permanente/APP) que, em época de período de cheias e chuvas intensas, sofrem com o acúmulo de água nas ruas e dentro das moradias. Fazendo com que a comunidade fique exposta à outro fator de vulnerabilidade que são as doenças. Pode-se observar no Mapa 02 e Mapa 03 abaixo da área de falta de presença dos atores sociais dos bairros.

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Mapa 02: Localização dos Atores Sociais nos bairros Boa Vista I e Boa Vista II

Mapa 03: Localização dos Atores Sociais no bairro Itapoã

Fonte: Acervo da pesquisa, 2016.

Fonte: Acervo da pesquisa, 2016.

3.3 São Torquato Em São Torquato, foi feito um estudo de caso no Morro de Boa Vista, onde ocorreu o deslizamento de rocha ao longo de 200 metros, no dia 01 de janeiro de 2016. Os atores sociais identificados anteriores ao dia do evento foram: Associação de Moradores, Prefeitura de Vila Velha e o Porto. Logo após o evento, foram identificados os atores: Associação de Moradores, Prefeitura de Vila Velha, CPRM, moradores da comunidade, Instituto Geotécnica, Departamento de Estrada de Rodagem do Espírito Santo, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Porto e Escola Jairo Mattos. De acordo com os questionários aplicados em 2016, foi demarcado a atuação dos atores sociais nessa área de risco, onde a comunidade de Morro da Boavista se situa. Pode-se perceber que a área marcada com a cor azul, são áreas não consideradas regularizadas pela Prefeitura, que não deveria ser ocupado de forma alguma, pois são APP. A área marcada da cor rosa são áreas consideradas pela Prefeitura como regularizada. Esse arquivo dos lotes é do ano de 2007, disponibilizado no site da PMVV. Na comunidade do Morro de Boa Vista, há a falta de fiscalização do poder público referente às questões de moradia, falta de espaços públicos, rede de tratamento de esgoto e infraestrutura urbanística precária. Pode-se observar no Mapa 04 abaixo da área de falta de presença dos atores sociais.

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Mapa 04: Localização dos Atores Sociais no bairro São Torquato

Fonte: Acervo da pesquisa, 2016.

4 CONCLUSÃO Durante a pesquisa, foi possível construir uma visão mais ampla sobre os atores sociais de Vila Velha nos bairros acima citados. Com a realização de diversas metodologias, pôde-se perceber que os bairros estudados são áreas “esquecidas” pelos atores sociais em geral. Os setores de urbanismo, infraestrutura, educação e saúde precisam de mais atenção para poder melhorar a qualidade de vida dos seus moradores. O que a população quer, são às vezes, coisas de fácil realização: melhoria de um espaço público, limpeza da rua, melhor segurança pública. Existem pessoas, existe vida nesses bairros. O que emerge com esse estudo é que não se pode lembrar do bairro apenas quando um desastre acontece, existem cidadãos com baixa capacidade de publicizar suas demandas e, principalmente, um Estado que se omite diante dessa situação. Cada ator cumprindo o seu papel faria com que esses territórios fossem menos vulneráveis a qualquer tipo de situação, trazendo bem-estar a todos. Agradecimentos: CNPq e UVV-ES, pelos financiamentos; aos pesquisadores, bolsistas de Iniciação Científica e voluntários do Núcleo de Estudos Urbanos e Socioambientais (NEUS); aos mestrandos dos Programas de Pós-Graduação em Sociologia Política e Arquitetura e Cidade (UVV-ES).

REFERÊNCIAS Garcia, Daniela Goldner. Configuração urbana do município de Vila Velha/ES: Reflexões sobre os espaços livres e áreas ambientalmente fragilizadas. Espírito Santo, 2011. CELANTE, Suelem Simão Alves. Gentrificação: impactos do mercado imobiliário sobre a Colônia de Pescadores de Itapoã – Vila Velha. Dissertação (Mestrado em Sociologia Política) – Universidade Vila Velha, 2014. SIQUEIRA, M. da P. S. Industrialização e empobrecimento urbano: o caso da grande Vitória 1950-1980. Vitória: Edufes, 2010. 179p. Corrêa, Roberto Lobato. O espaço urbano. Editora Ática, Série Princípios, 3a. edição, n. 174, 1995. p.1-16. VILA VELHA. Lei nº 4.575/2007, de 26 de novembro de 2007. Plano Diretor Municipal de Vila Velha. Vila Velha, 2007.

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ESTUDO SOBRE OS ESPAÇOS LIVRES DE USO PÚBLICO DA REGIONAL GRANDE IBES, MUNICÍPIO DE VILA VELHA – ES ALMEIDA, Rhaiani Almeida (1); RAMOS, Larissa Andara (2); JESUS, Luciana Aparecida Netto (3); (1) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UVV, Rhaiani.almeida@gmail.com; (2) Professor Doutor, UVV, larissa.ramos@ uvv.br; (3) Professor Doutor, UVV, luciana.jesus@uvv.br;

RESUMO Os espaços livres de uso público são essenciais para a vitalidade urbana pois favorecem a permanência de pessoas e a prática de atividades sociais. Este trabalho apresenta um levantamento do sistema de espaços livres de uso público de práticas sociais do município de Vila Velha -ES, tendo como recorte a Regional 02 - Grande Ibes, a fim de identificá-los, quantificá-los, classificá-los e compará-los no contexto urbano. Para o mapeamento foi utilizado o programa de georreferenciamento ArcGIS, com base nos dados extraídos do Plano Diretor Municipal, bem como análises dos espaços realizadas através do Google Earth e visitas aos locais. Como resultado, percebeu-se um número relevante de espaços livres para prática social, mas escassa manutenção e desequilíbrio na distribuição destes espaços.

PALAVRAS-CHAVE: Espaços livres de uso público; Práticas Sociais; Qualidade urbana; Planejamento Urbano.

1 INTRODUÇÃO O processo de urbanização das cidades, impondo a substituição de áreas naturais por centros construídos, aconteceu de forma acelerada e repentina voltada para os interesses econômicos e políticos, prejudicando a qualidade de vida e da saúde das pessoas. Maricato (2001), no seu livro “Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana”, afirma que as cidades de médio porte passaram a apresentar, a partir da década de 80, como constatado pelo Censo do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), um crescimento urbano intenso, inclusive superior ao das cidades de maior porte. É importante ressaltar que todas as pessoas têm o direito de usufruir dos espaços da cidade de forma igualitária e saudável. Para que isso aconteça de forma plena, é preciso que a cidade seja viva. A cidade viva, segundo Gehl (2014), é aquela que convida as pessoas a caminhar, pedalar, ou permanecer nos espaços livres que ela oferece. A palavra “público” indica que esses espaços são abertos e acessíveis a todas as pessoas (ALEX, 2011). Os espaços livres de uso público, além de servirem como espaços de atividades recreativas e de lazer, também garantem uma importante arena para grandes encontros, manifestações e protestos políticos (GEHL, 2014). Deste modo, os espaços livres abrangem os espaços públicos como praças, parques, ruas, praias urbanas além de terrenos privativos sem construções e vazios com ou sem potencial para áreas sociais. Entende- se como praças, os espaços de uso público que estão implantados numa infraestrutura já existente no contexto urbano, servindo até mesmo como organizador do sistema viário local e que incentiva o uso comunitário, possuindo canteiros, mobiliários e equipamentos públicos. Os parques urbanos são espaços de uso público voltados ao lazer, cultura e recreação, ocupando uma área superior à de uma quadra (CARNEIRO E MESQUITA, 2000). Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo apresentar um levantamento das áreas livres de uso público tendo como recorte a Regional 02 – Grande Ibes, a fim de identificá-las, classificá-las e compará-las no cenário urbano. 36

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2 MATERIAL E MÉTODO Leituras de bibliografias referentes a espaços livres públicos e áreas verdes foram necessárias na realização deste trabalho, a fim de contextualizar e conceituar as áreas estudadas. A identificação das áreas foi realizada utilizando imagens de satélite e dados geográficos disponibilizados pelo programa Google Earth, confrontando as informações referentes ao zoneamento urbano, mapa 06 da Lei nº 4.575/2007, Plano Diretor Municipal de Vila Velha, Estado do Espírito Santo e visitas nos locais. Após a identificação dos espaços livres de uso público, foi desenvolvida uma base cartográfica digital, no programa ArcGIS, de geoprocessamento via satélite, com legendas de identificação específicas. Também foi utilizado o Mapa Interativo, disponibilizado no site do IBGE, onde foi possível acessar dados demográficos baseados no Censo 2010. As áreas foram mapeadas, considerando a classificação utilizada por Mendonça (2015) que classifica os espaços livres de usos público em três grupos: espaços livres públicos de equilíbrio ambiental; espaços livres públicos de práticas sociais e espaços livres potenciais. Ressalta-se neste trabalho, a análise de do grupo consolidado de espaços livres de uso público para práticas sociais.

3 RESULTADOS 3.1 Caracterização da Regional 02 – Grande Ibes De acordo com a Lei Municipal nº 4707/2008, que dispõe sobre a institucionalização dos bairros nas Regiões Administrativas, os limites e denominação dos mesmos, assim como os critérios para organização e criação de bairros no perímetro urbano do Município, a Região 02 – Grande Ibes (evidenciada na figura 1 na cor verde), abrange 21 (vinte e um) bairros. São eles: Ibes; Araçás; Brisamar; Cocal; Darly Santos; Guaranhuns; Ilha dos Bentos; Jardim Asteca; Jardim Colorado; Jardim Guadalajara; Jardim Guaranhuns; Nossa Senhora da Penha; Nova Itaparica; Novo México; Pontal das Garças; Santa Inês; Santa Mônica Popular; Santa Mônica; Santos Dumont; Vila Guaranhuns e Vila Nova. As primeiras ocupações territoriais da regional que aconteceram na década de 70 foram aonde hoje são os bairros do Ibes, Santa Inês, Vila Nova e Jardim Colorado. As ocupações mais recentes, a partir da década de 90, são nos bairros Pontal das Garças e Darly Santos. Figura 1. Localização do Município de Vila Velha - ES e suas regiões administrativas

Fonte: Imagem gerada pelo ArcGIS, com base na Lei nº 4707/2008, modificada pelas autoras, 2016. ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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A Regional 02, segundo o Plano Diretor Municipal de Vila Velha, é constituída por Zona Especial de Interesse Ambiental (ZEIA –B), Zona Especial de Interesse Urbanístico (ZEIU - I, ZEIU - II), Zona Especial de Interesse Econômico – Empresarial e Retroportuária (ZEIE) e Zona de Ocupação Prioritária (ZOP 4, ZOP 5). Destaca-se na Região uma grande área de interesse empresarial, onde atualmente funciona uma pedreira, e também áreas de interesse ambiental, com destaque para o Morro do Cruzeiro e o Parque de Cocal, este último inaugurado em 2016 (Figuras 2 e 3). Figura 2. Parque de Cocal

Figura 3. Parque de Cocal

Fonte: Imagem fotografada por Larissa Ramos,2017.

3.2 Identificação dos espaços livres de uso público para práticas sociais Os espaços livres de uso público para práticas sociais são áreas destinadas ao lazer, esporte e recreação. Fazem parte deste grupo as praças, parques urbanos, os trechos de orlas marítimas urbanizada, espaços residuais associados à malha viária e faixa de areia da praia (MENDONÇA, 2015). Como forma de identificar os bairros e a quantidade de pessoas que utilizam os espaços livres de uso público para prática social da Regional 2, foi inserido, a partir do perímetro dos espaços (praça, parques, campo de futebol e quadras poliesportivas), um raio de 300 metros, considerado como área de influência, para que se pudesse identificar a população contemplada por estes espaços, conforme ilustrados na Figura 4. O raio de 300 metros foi considerado, em uma primeira análise, pois equivale a um intervalo de tempo médio de 3 a 4 minutos de percurso a pé, para que a população do entorno acesse as áreas com facilidade. Sendo assim, considerando a abrangência de um raio de 300 metros, foi possível constatar que 56% da população da área de estudo tem acesso, com facilidade a estas áreas. Destaca-se também uma maior concentração e diversidade de espaços livres para práticas sociais nos bairros da Regional 2 com ocupação mais antiga, década de 70, como é o caso do Ibes, Novo México e Araçás. Se for considerado um raio de 500 metros de abrangência, em torno dos espaços públicos para práticas sociais, cerca 89% da população da Regional é contemplada. Esse raio de 500 metros fez-se necessário para as análises, tendo em vista que grande parte dos espaços identificados possuem quadras, (equipamento este desloca usuários de distâncias maiores). Logo, percebe-se uma boa distribuição dos espaços livres de uso público destinados a práticas sociais na regional estudada. O bairro Nossa Senhora da Penha é classificado, pelo PDM, como uma Zona Especial de Interesse Econômico (ZEIE) pela sua vocação empresarial e localização retroportuária. Grande parte do bairro Darly Santos e o bairro Pontal das Garças são classificados como Zona de Interesse Urbanístico, pois possuem predomínio do uso industrial e por isso baixa densidade habitacional. São também bairros situados em regiões alagadiças. Esses bairros não apresentam espaços livres de uso público, entretanto, quando analisadas as influências dos raios de 300 metros e 500 m, nota-se que uma pequena parcela desses bairros

também é abrangida pelos espaços para práticas sociais presentes na regional. 38

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Figura 4. Mapeamento das áreas livres de uso público de para práticas sociais da Regional 02. A esquerda, análise no raio de 300m. A direita, análise no raio de 500m.

Fonte: Imagem gerada pelo ArcGIS, com base na Lei nº 4707/2008, modificada pelas autoras, 2016.

Apenas 6 (seis) dos 21 bairros da Regional possuem total ausência de espaços livres públicos para práticas sociais. São os bairros Nossa Senhora da Penha, Darly Santos, Jardim Guaranhuns, Vila Guaranhuns, Nova Itaparica e Portal das Garças. A maior quantidade de espaços livres de uso público destinados a práticas sociais encontra-se no bairro do Ibes. Este possui 4 praças e 1 campo de futebol, tendo 60% da população do bairro acesso a estas áreas, em um raio de 300 metros. Na regional estudada foram identificadas 22 praças, sendo elas distribuídas de forma a atender uma grande parcela da população residente, sendo possível acessá-las de forma rápida e fácil, pois as mesmas estão implantadas bem próximas umas das outras. As praças possuem características e usos diversos, absorvendo demandas da população do entorno. Por exemplo, as praças dos bairros Novo México e Jardim Colorado possuem equipamentos voltados para recreação e entretenimento, como quadras esportivas, playground, academia popular/idoso, áreas de permanências arborizadas e espaços de alimentação onde acontecem atividades noturnas voltadas para alimentação. Já as praças dos bairros Santa Mônica e Ilha dos Bentos são mais arborizadas e voltados para o descanso dos usuários, utilizadas principalmente nos finais de semana. Ao analisar nas praças da regional estudada as infraestruturas básicas para a qualidade das mesmas, percebe-se que todas as praças são iluminadas e limpas, entretanto sofrem com a falta de policiamento e a carência por meio de acesso a praças através do transporte público ou particular. Em relação a acessibilidade e ao desenho universal, aproximadamente 50% das praças analisadas atendem os requisitos da NBR 9050/2015 (Figura 5). No âmbito de atrativos e vivência (Figura 6) em todas as praças foram encontrados espaços para descanso e em 85% delas, locais para alimentação, com bancos e mesas. Algumas praças fornecem equipamentos atrativos de uso coletivo, como quadras esportivas, playgrounds e academias de idosos, sendo este último equipamento característico dos novos modelos de praça. O que mais se destaca nas praças da Regional 2 é a presença de áreas de descanso sombreadas por vegetaçã arbórea, que proporcionam maior conforto térmico e qualidade ambiental urbana.

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Figura 5. Infraestrutura das praças

Figura 6. Atração e vivência das praças

Fonte: Imagem gerada pelo Excel a partir de dados coletados na pesquisa, 2017.

4 CONCLUSÃO O município de Vila Velha, principalmente no final do século XX, passou por um processo de adensamento populacional significativo e com isso vem sofrendo uma série de mudanças no uso do solo urbano, na estrutura da paisagem e na mobilidade urbana, fazendo com que a cidade apresente carência de áreas livres de uso público. Esse crescimento desordenado e a falta da cobertura vegetal acarreta principalmente nos espaços públicos um desinteresse de praticar atividades ao ar livre. A falta de infraestrutura, manutenção, qualidade e visibilidade dos espaços de prática social acaba gerando ambiente ociosos por falta de atividades dos usuários e vulnerabilidade por falta de segurança. De acordo com o mapeamento das áreas livres de uso público para prática social da Regional Grandes Ibes, nota-se um número relevante desses espaços, com predominância de praças, atingindo e integrando uma boa parcela da população da regional.

REFERÊNCIAS ALEX, Sun. Projeto da Praça: Convívio e Exclusão no Espaço Público. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2ª Ed., 2011. ARCGIS. Software. Disponível em <http://www.esri.com/software/arcgis/index.html > Acesso em 08 de maio 2016. CARNEIRO, A. R. S.; MESQUITA, L. B. Espaços livres do Recife. Recife: Prefeitura da Cidade do Recife/ Universidade Federal de Pernambuco, 2000. GEHL, Jan. Cidade para Pessoas. São Paulo: Perspectiva. 2014. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. CENSO DEMOGRÁFICO 2010. Características da população e dos domicílios: resultados do universo. Rio de Janeiro: IBGE, 2010 MARICATO, E. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. p.25. MENDONÇA, E. M. S. A importância metropolitana do sistema de espaços livres da região de Vitória – ES – Brasil. In EURO ELECS 2015, Guimarães, Portugal. In Anais EURO ELECS 2015, Guimarães, Portugal, Vol. III, 2015. ISBN 978-989-96543-8-9. RAMOS, Larissa Leticia Andara. Parque do Cocal. 2017. 2 fotografia. VILA VELHA. Lei nº 4.575 de 26 de novembro de 2007. Plano Diretor Municipal de Vila Velha. Prefeitura Municipal de Vila Velha- ES, 2007. VILA VELHA. Lei nº 4.707 de 10 de setembro de 2008. Institucionalização dos bairros nas Regiões Administrativas, os limites e a denominação dos mesmos e os critérios para organização e criação de bairros, no perímetro urbano do Município. Prefeitura Municipal de Vila Velha- ES, 2008.

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AVALIAÇÃO DOS PLANOS DIRETORES MUNICIPAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA: ESTUDO DE CASO PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE CARIACICA – ES FERREIRA, Giovanilton André Carretta (1); SANTOS, KEYLA GIOVANA F. (2) (1) Professor Doutor, UVV, giovanilton.ferreira@uvv.br; (2) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, kgiovanasantos@hotmail.com

RESUMO O artigo aborda os planos diretores municipais da Região Metropolitana da Grande Vitória, tendo como foco o município de Cariacica. Em 2001, o Estatuto das Cidades foi criado para regulamentar a política urbana da Constituição Brasileira com os princípios básicos para o desenvolvimento urbano dos municípios. O Plano Diretor Municipal (PDM) é um dos instrumentos básicos da política urbana municipal e seu objetivo de política local é ordenar o pleno desenvolvimento dos municípios e os aspectos econômicos, físicos e sociais.

PALAVRAS-CHAVE: PDM; Cariacica; Estatuto das Cidades.

1 INTRODUÇÃO Este artigo aborda o Plano Diretor Municipal de Cariacica, município do Espírito Santo e pertencente a Região Metropolitana da Grande Vitória, tendo como foco a análise da legislação em si, a lei 4575/2007. Para isso, são examinados o histórico da legislação, a redação do Plano Diretor Municipal em vigor e a relação com o cenário atual da cidade. O histórico de ordenamento territorial é tratado brevemente, relatando especialmente como o Plano Diretor Municipal em vigor foi realizado. O interesse neste aspecto é relatar o desenvolvimento e produção da legislação e como este processo reflete após 10 anos de sua implantação. O intuito da abordagem do texto do PDM é ressaltar como o mesmo foi desenvolvido, quais aspectos considera em sua composição, a integração com a Região Metropolitana e como o Plano está em conformidade com as características e especificidades do município. Neste caso, enfatizando em como o Plano Diretor Municipal de Cariacica trata a questão ambiental e rural com predominância devido à natureza do município.

2 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DE ORDENAMENTO TERRITORIAL De acordo com o histórico da legislação da Prefeitura do Município de Cariacica, o Plano Diretor Municipal vigente de 2007 foi o primeiro e único criado na história do município. O Plano Municipal de Cariacica (Lei Complementar 018/2007) foi formulado e criado no ano de 2007, pela Prefeitura Municipal de Cariacica e consultoria (Fundação Ceciliano Abel de Almeida – FCAA / Instituto Cidades) contratada pelo município para realização do PDM. Segundo Fernandes (2010), autor da tese Participação Popular e Plano Diretor Municipal (PDM): Estudo de Caso de Cariacica – Região Metropolitana de Vitória – ES, ...o processo de elaboração do PDM de Cariacica teve início apenas no mês de maio

de 2006, ou seja, poucos meses antes do prazo limite de cinco anos (10 de outubro de 2006) estipulado a partir da entrada em vigor do Estatuto da Cidade (10 de ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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outubro de 2001) confeccionassem seus PDM ou adequassem seus antigos planos diretores ao Estatuto da Cidade”. Como ressaltado anteriormente, foi somente em maio de 2006 que se iniciou o processo de confecção do PDM de Cariacica, o que reduziu fortemente o tempo para a realização do plano já que o prazo final estipulado pelo Estatuto da Cidade era outubro de 2006. A primeira dificuldade, de muitas, foi a inexistência de qualquer tipo de ferramenta de ordenamento territorial. Além disso, somaram-se problemas como a falta de informações sistematizadas sobre o município que pudessem servir como subsídio para diagnósticos iniciais, bem como carência de materiais e de infraestrutura mínima para a confecção do futuro plano. Para além dos obstáculos já citados, a gestão municipal que assumiu em 2005 enfatizou também como causa do atraso na elaboração do PDM a falta de recursos financeiros municipais. Cariacica teve sua lei do PDM aprovada somente em junho de 2007. No entanto, o projeto do PDM foi encaminhado à Câmara de Vereadores em setembro de 2006. Ou seja, aproximadamente nove meses se passaram do encaminhamento do projeto até sua aprovação na Câmara. Por outro lado, todo o processo de confecção do PDM ocorreu em apenas três meses, incluindo aspectos de levantamentos técnicos e, principalmente, leitura comunitária e discussão do projeto de lei com a população, que foram realizados em alguns poucos encontros ao longo dos três meses. (Fonte: Participação popular e Plano Diretor Municipal (PDM): estudo de caso de Cariacica / Flávio Palhano Fernandes. – 2010)

O Plano Diretor Municipal de Cariacica teve que ser elaborado em decorrência da exigência da nova legislação da política urbana, o Estatuto da Cidade. Como descrito anteriormente, o PDM Cariacica teve diversas dificuldades em sua execução e com isso sua estruturação pode ser considerada desproporcional a outros municípios.

2.1 Plano Diretor Municipal de Cariacica Segundo o site da Prefeitura Municipal de Cariacica o PDM tem em seu conteúdo quatros leis complementares: Lei Complementar 018, desenvolve em si a estruturação do plano diretor; As Leis Complementares 020, 022, 023 são descritas as alterações feitas no mesmo ano do Plano Diretor; e anexos. Ao iniciar a descrição da lei, com base nestas diretrizes da política urbana e nas características locais do município, o Plano Diretor Municipal de Cariacica define os temas prioritários para garantir o desenvolvimento sustentável e o cumprimento das responsabilidades sociais, ambientais, econômicas, culturais e de política. O ordenamento territorial do município de acordo com o Plano Diretor Municipal de Cariacica possui dois tipos de divisões do território, sendo eles o macrozoneamento e o zoneamento municipal. O Macrozoneamento consiste na divisão do município em unidades territoriais contínuas que fixam os princípios fundamentais de uso e ocupação do solo, em concordância com as estratégias da política urbana, definindo uma visão de conjunto que integra todo o Município. O zoneamento municipal consiste na divisão do território em zonas, estabelecendo as diretrizes para o uso e a ocupação do solo no Município, tendo como referência às características dos ambientes naturais e construído. As Zonas são subdivisões das Macrozonas em unidades territoriais que servem como referencial mais detalhado para a definição dos parâmetros de uso e ocupação do solo, definidos as áreas de interesse de uso onde se pretende incentivar, coibir ou qualificar a ocupação. Após o ordenamento territorial, o PDM Cariacica tem como base para o planejamento e gestão do desenvolvimento urbano os instrumentos de política urbana previstos na lei de Estatuto da Cidade (entre eles, Do Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV; Do IPTU Progressivo no Tempo; Das Operações Urbanas Consorciadas; Do Direito de Superfície; entre outros). Finalizando a lei, com O Sistema Municipal de Desenvolvimento Territorial de Cariacica apresentando 42

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o Órgão coordenador responsável pelo desenvolvimento territorial; Conselho Municipal do Plano Diretor de Cariacica; Fundo Municipal de Desenvolvimento Territorial; e Sistema de Informações Municipais para o Desenvolvimento Territorial e as Disposições Finais. A avaliação conclui que o Plano Diretor Municipal de Cariacica é um documento de lei sutil, fica claro durante a análise que o seu escopo é pouco detalhado. Após a interpretação do estudo de caso elaborado por Flávio Palhano Fernandes sobre o Plano Diretor de Cariacica podemos concluir em base que o plano diretor é um documento superficial pois, o seu desenvolvimento foi realizado às pressas. De acordo com o autor o plano teve diversos problemáticas em ser feito, por exemplo por não possuir algum tipo de material ou informações antecessoras sobre o município, diferente de outros municípios da Região Metropolitana; Entretanto, pode-se observar uma predominância da questão ambiental e rural no Plano Diretor Municipal. Na lei, a questão é um dos temas prioritários de desenvolvimento territorial do município com a Política de Patrimônio Ambiental, é tratada novamente no ordenamento urbano pelo macrozoneamento e zoneamento municipal. Este predomínio é resultado do caráter do município que, embora a sede do município esteja localizada à 15,8 Km da capital, trata-se de uma sede histórica de característica rural. Na divisão territorial de Cariacica, a área rural corresponde mais de metade da área geográfica de Cariacica, como demonstra a figura 1 (54%, segundo dados do IBGE). Figura 1. Divisão territorial do município de Cariacica.

Fonte: Anexo 01, Plano Diretor Municipal de Cariacica, 2007.

Em todos os aspectos em que a questão ambiental é tratada, têm em comum o objetivo principal de preservação, conservação e a promoção de qualidade do meio ambiente. Iniciando pelo tema prioritário, a Política de Patrimônio Ambiental tem parâmetros preservacionistas e propõe integração com a Política de Desenvolvimento Econômico e Social, porém não ordena e esclarece como este desenvolvimento em conjunto deve ser realizado. Em relação ao ordenamento territorial, o macrozoneamento aborda a totalidade do município, porém destaca-se as macrozonas rurais, sendo das 9 macrozonas estabelecidas, 5 estão relacionadas às áreas rurais. O PDM de Cariacica aborda as macrozonas rurais de acordo com suas especialidades e características locais. Porém, o macrozoneamento não determina nenhuma política de desenvolvimento, orientação para ocupação deste território ou quais investimentos estas áreas podem receber, sendo assim considerado generalizado os aspectos. O Zoneamento do Município de Cariacica fica dividido em dez tipos de zonas, três zonas são relacionadas a questão ambiental, sendo elas: Zona Natural – ZN 1 e 2; Zona de Preservação Ambiental – ZPA 1 e 2 e Zonas Urbanas. As três zonas possuem o principal objetivo de preservação da área rural e ambiental e também possui o intuito de conter o avanço urbano para a área. Este ordenamento territorial está relacionado com o cenário atual da cidade, Cariacica além de possuir 54% de área rural também possui diversas Unidades de Conservação e principais áreas ambientais que compõem a maior parte do patrimônio ambiental do município. Em Cariacica existem cinco unidades de conservação, cujas categorias de manejo se enquadram nas ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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tipologias previstas pelo SNUC. São elas: Reserva Biológica de Duas Bocas, Parque Natural Municipal do Monte Moxuara, Área de Proteção Ambiental do Monte Moxuara, Parque natural Municipal do Manguezal de Itanguá, Reserva do Desenvolvimento Sustentável Municipal do Manguezal de Cariacica. A Reserva Biológica de Duas Bocas, sob responsabilidade do IEMA, é uma unidade de conservação de proteção integral, de domínio público, que tem como objetivo a preservação integral dos recursos naturais. A Área de Proteção Ambiental (APA) do Monte Moxuara, uma UC de uso sustentável, tem como objetivo conservar os recursos naturais, bem como usá-los de forma sustentável. As áreas, Parque Natural Municipal do Monte Moxuara e a Área de Proteção Ambiental do Monte Moxuara encontram-se com Planos de Manejo contratado, utilizando-se do recurso de Compensação Ambiental provenientes da Vale. Criada em 2007, a Reserva do Desenvolvimento Sustentável (RDS) Municipal do Manguezal de Cariacica tem 740 ha de área e o Parque Natural Municipal do Manguezal de Itanguá, criado em 2007, possui 47,19 ha localizados no perímetro urbano. Relativo aos manguezais, no âmbito da Grande Vitória, Cariacica ainda preserva uma área importante ocupada por esse ecossistema que estão localizados totalmente no perímetro urbano. Embora o Plano Diretor Municipal Cariacica ser uma lei superficial, em relação a questão rural e o patrimônio ambiental o mesmo apresenta parâmetros mais específicos e até induz novo tipo de desenvolvimento dentro destas áreas, estabelecendo critérios de parcelamento do solo ou estímulo a criação de novos parques urbanos e hortos municipais a fim de criar mais áreas ambientais, a recuperação de áreas degradadas, o enriquecimento florestal, além da preservação dos espaços rurais e de todo patrimônio ambiental e paisagístico visando o desenvolvimento sustentável do município.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Do exposto, constatou-se então na avaliação do Plano Diretor Municipal de Cariacica que em toda a composição a lei é relatada breve e um tanto resumida e raramente são regulamentados de forma a garantir sua aplicação. Fica evidente que o plano foi apenas realizado por ser obrigatório e pelo governo da cidade estar sujeito a penalidades caso o plano não fosse apresentado ao Estatuto. O plano Diretor Municipal de Cariacica está de acordo com o Estatuto da Cidade, mas não em conformidade, hoje, com a cidade. A lei está descrita, mas não ordenada territorialmente da melhor forma que o município necessita para possuir uma estrutura urbana sustentável. A questão ambiental e rural apenas é uma questão mais específica do Plano, porém em relação a questão urbana do município muito ainda deve ser analisado. Deste modo, o plano e o município precisam de um estudo aprofundado, de ferramentas e informações coerentes com as necessidades atuais do município e junto com a população criar um Plano Diretor completo e eficiente. Atualmente, o Plano está sendo revisado pelo município e um novo sendo criado, com expectativa que este conjunto de questões se solucionem transformando Cariacica no futuro em um município mais desenvolvido.

REFERÊNCIAS BRASIL. Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade e Legislação Correlata. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2002. CARIACICA. Prefeitura Municipal de Cariacica. Agenda Cariacica – Meio ambiente, humanização da cidade e saneamento. Cariacica: Prefeitura de Cariacica, 2012. CARIACICA. Prefeitura Municipal de Cariacica. Plano Diretor Municipal de Cariacica. Lei complementar 018. Cariacica: Prefeitura de Cariacica, 2007. FERNANDES, FLÁVIO PALHANO. Participação popular e Plano Diretor Municipal (PDM): estudo de caso de Cariacica/ Flávio Palhano Fernandes. – 2010.

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PROPOSTAS PARA AUMENTO DA ÁREA DE MASSA VERDE E MELHORIA DA QUALIDADE AMBIENTAL NA REGIONAL 1 DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA A PARTIR DA VERIFICAÇÃO DA ESCASSEZ DESSAS MASSAS E DO BAIXO IAV QUALIDADE AMBIENTAL URBANA

JESUS, Luciana Aparecida Netto (1); PALHANO, Patrícia Scarpat Thompson (2); RAMOS, Larissa Letícia Andara(3) (1) Professor Doutor, UFES, luciana.jesus@gmail.com; (2) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, patstpalhano@ gmail.com; (3) Professor Doutor, UVV, larissa.ramos@uvv.br

RESUMO Com o objetivo de avaliar a qualidade ambiental da Regional I do município de Vila Velha/ES, o presente estudo identificou e mapeou os espaços públicos de equilíbrio ambiental da referida região. Além desses espaços, foram mapeadas as árvores de vias públicas, parques, praças, praias e calçadão, por contribuírem significativa e positivamente para a qualidade do ambiente urbano. As áreas correspondentes aos espaços públicos de equilíbrio ambiental e as copas das árvores foram medidas em relação à população de cada bairro através do índice de áreas verdes. O mapeamento e os índices gerados indicaram o modo como a massa verde é distribuída entre os bairros da região, mostrando os respectivos pontos de concentração e escassez, contribuindo para um possível e necessário planejamento pelo Poder Público que venha a suprir as carências identificadas como meio de garantir a todos um meio ambiente ecologicamente equilibrado conforme determina o art. 225 da Constituição Federal.

PALAVRAS-CHAVE: áreas verdes; arborização urbana; qualidade ambiental; espaços públicos,

planejamento urbano.

1 INTRODUÇÃO A arborização e os espaços verdes no ambiente urbano acarreta inúmeros benefícios. O manual técnico de arborização de São Paulo (2015, p.12/17) lista esses benefícios, que incluem: conforto térmico, bem-estar psicológico, contribuição para regulação do ecossistema, aumento da permeabilidade do solo, controle da temperatura e da umidade do ar, interceptação da água da chuva, sombra, redução da poluição do ar, formação de corredor ecológico, dentre outros. Nicodemo e Primavesi apud Trentini (2016) destacam para o efeito da vegetação no controle do estresse, que em conjuntos habitacionais de áreas mais pobres situados próximos a áreas verdes há um índice menor de agressão e violência do que naqueles conjuntos situados em áreas com menos vegetação. Quando as áreas verdes e a arborização urbana se interconectam formam uma rede ecológica que, conforme o Manual Técnico de Arborização de São Paulo (2015, p. 13), viabiliza a “conexão entre as populações de fauna e fragmentos maiores” e “enriquecem o ecossistema urbano aumentando a sua biodiversidade”. Assim, contribuem para um dos objetivos do programa “Cidades Sustentáveis” (2012, p. 8): “Proteger, regenerar e aumentar a biodiversidade, ampliar as áreas naturais protegidas e os espaços verdes urbanos”. Para Mascaró (2012, p. 3) “a infraestrutura verde consiste em redes multifuncionais de fragmentos permeáveis e vegetados, preferencialmente arborizados (inclui ruas e propriedades públicas e privadas), interconectados que reestruturam o mosaico da paisagem”. Não havendo os corredores ecológicos ou a infraestrutura verde a cidade cede espaço para o que ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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Mascaró (2012, p. 1) chama de infraestrutura cinza que favorece inundações e deslizamentos. (Farr e Herzog apud Mascaró, 2012, p. 1). Pretende-se com esse trabalho disponibilizar subsídios para aumento da massa verde com propostas para sua distribuição e interconexão, de forma a distribuí-la de forma proporcional e suficiente na regional I.

2 MATERIAL E MÉTODOS Leituras de bibliografias referentes a espaços livres públicos e áreas verdes foram utilizadas para contextualizar e conceituar as áreas estudadas. As áreas foram identificadas por imagens de satélite e dados geográficos disponibilizados pelo programa Google Earth, confrontando as informações presentes na Lei nº 4.575/2007, Plano Diretor Municipal de Vila Velha, Estado do Espírito Santo. Após a identificação das áreas, foi desenvolvida uma base cartográfica digital para criação de base de dados no programa ArcGIS de geoprocessamento via satélite, com legendas de identificação específicas. As áreas mapeadas foram identificadas segundo Mendonça (2012, apud Mendonça 2015) que classifica os espaços livres de uso público em três grupos: espaços livres públicos de equilíbrio ambiental; espaços livres públicos de práticas sociais e espaços livres potenciais. Ressalta-se neste trabalho, a análise de dois grupos consolidados: espaços livres públicos de equilíbrio ambiental e espaços livres potenciais. Com as áreas identificadas e mapeadas foi possível realizar análises e comparações gerais entre as informações coletadas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A cidade de Vila Velha limita-se com os municípios de Vitória, Guarapari, Viana e Cariacica e com o oceano Atlântico. De acordo com a Lei Municipal nº 4707/2008, a Região 01 – Grande Centro abrange 18 (dezoito) bairros da cidade de Vila Velha-ES. Foi escolhida como recorte por ter grande importância no eixo cultural, econômico e político do município. É também a regional de maior extensão territorial, densamente povoada que atrai grande quantidade de pessoas todos os dias, devido à concentração de comércio e serviços. Foram consideradas no mapeamento dos espaços livres públicos de equilíbrio ambiental as Zonas Especiais de Interesse Ambiental (ZEIAs), restinga, área das copas das árvores das vias públicas, calçadão, praia, praças e parques públicos (Fig. 01). Não foram consideradas as palmeiras, em razão de promoverem pouca sombra. Alguns espaços privados, de significativo valor ambiental e com potencial para transformação em parques públicos urbanos, foram mapeados como área verde por disporem de considerável área coberta por vegetação, sendo nomeados como áreas verdes de valor paisagístico. No entorno de cada área verde mapeada foi estipulado um raio de 300m com o objetivo de identificar a população por elas beneficiadas. O IAV indica a quantidade de área verde (m²) por habitante e foram encontrados através da combinação das áreas verdes mapeadas, combinando diferentes cenários de áreas verdes, (áreas de preservação permanente, restinga, áreas de potencial paisagísticos, arborização de vias e praças), conforme ilustrado na tabela 01 abaixo. Consideradas todas as áreas verdes mapeadas, o índice da região (IAV 1) alcança 16,97 m²/hab. O valor atingido dá-se em razão das áreas de preservação permanente (APP), predominantes entre os espaços públicos de equilíbrio ambiental. Excluídas as APPs, não existem espaços verdes públicos significativos distribuídos pelos bairros. As APPs são concentradas em apenas cinco (Praia da Costa, Centro, Olaria, Jaburuna e Glória) dos 18 bairros da Regional 1, não beneficiando diretamente os demais bairros. Além disso, essas áreas são formadas, em sua grande maioria, por relevo acentuado, tornando-se espaços de difícil acesso ou até mesmo inacessíveis para parte da população.

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Figura 01. Mapeamento dos espaços públicos de equilíbrio ambiental

Fonte: Acervo da pesquisa, 2016. Tabela 01. Combinação para calculo de Índices de áreas verdes.

Fonte: Acervo da Pesquisa, 2016.

4 CONCLUSÃO Outros espaços potenciais, diferentes dos indicados na figura 01, encontram-se espalhados de forma equilibrada na região, mas não dispõem de áreas verdes e podem ser trabalhados para criação de novos espaços verdes, parques e praças, com vegetação e infraestrutura para atividades sociais. As praças, parques e calçadão já existentes são espaços potenciais para serem transformados em áreas verdes. A figura 2 mostra as áreas de preservação permanente, áreas verdes de potencial paisagístico, praças, parque da Prainha, calçadão, espaços potenciais e o raio de 300m a partir desses espaços, o que supõe a população por eles beneficiada, abrangendo, de acordo com o mapeamento, quase toda a população da Regional 1 do município. Todos esses espaços, quando ainda não beneficiados por farta vegetação, são potenciais para se tornarem áreas verdes. Portanto, a figura 2 mostra que, com o devido planejamento urbano e respectiva execução, é possível criar áreas verdes acessíveis a toda população da Regional 1.

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Figura 2. Áreas de Preservação Permanente, Áreas Verdes de Potencial Paisagístico, Espaços Potenciais, Praças, Parque da Prainha, Calçadão e respectivos raios de 300 m no entorno.

Fonte: Acervo da pesquisa, 2016.

A transformação de todos os espaços potenciais em áreas verdes elevaria o IAV da região contribuindo para aumentar a qualidade ambiental urbana e, consequentemente, a qualidade de vida da população. Além disso, se os espaços potenciais forem transformados em áreas verdes podem propiciar a formação de corredor ecológico juntamente com as áreas de preservação permanente existentes. Para isso, seria necessário arborizar as vias que interligam essas áreas, com árvores de espécies adequadas para o ambiente urbano e espaçamento mínimo entre elas que favoreça a formação do corredor. A figura 3 mostra um exemplo de corredor ecológico formado entre as áreas de preservação permanente e os espaços identificados como potenciais, que podem, inclusive, aqueles que não já o forem, serem transformados em espaços de práticas sociais. Neste mapa está incluído o Parque do Cocal, que apesar de não fazer parte da Regional I tem potencial para agregar massa verde na formação do corredor. O estudo viabiliza a proposta de outras medidas cabíveis ao Poder Público no planejamento ambiental urbano: inserir um plano de arborização urbana nos novos projetos de loteamento; incluir no projeto “Calçada Legal” orientações para o plantio de árvores nas calçadas e prever jardins de chuva e pavimentação permeável; quando a largura da calçada não comportar o plantio de árvores, trabalhar a alternativa de plantá-las em locais do leito carroçável, destinados aos estacionamentos de veículos, como extensão da própria calçada, mantendo um número razoável de vagas para estacionamento; prever a pavimentação permeável para áreas de estacionamento em vias cuja pavimentação seja impermeável ou tenha permeabilidade reduzida; para construções de grande porte, como edifícios verticais multifamiliares, incluir no EIV a avaliação do impacto ambiental e paisagístico no entorno; limitar o número diário de visitantes nas áreas de preservação permanente; estabelecer um percentual mínimo de permeabilidade do solo em praças e parques.

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Figura 3. Formação de corredor ecológico entre as Áreas de Preservação Permanente, Áreas Verdes de Potencial Paisagístico, Espaços Potenciais, Praças, Parques e Calçadão

Fonte: Acervo da pesquisa, 2016.

REFERÊNCIAS CIDADES SUSTENTÁVEIS. Metas de Sustentabilidade para os Municípios Brasileiros (Indicadores e Referências). Programa Cidades Sustentáveis. São Paulo, ago. 2012. < http://www.cidadessustentaveis.org.br/downloads/ publicacoes/publicacao-metas-de-sustentabilidade-municipios-brasileiros.pdf> Acessado em 26.08.2016. MANUAL TÉCNICO DE ARBORIZAÇÃO URBANA – Prefeitura de São Paulo. Disponível em <https://www.sosma. org.br/wp-content/uploads/2015/03/MANUAL-ARBORIZACAO_22-01-15_.pdf> Acessado em 01/03/2016. MASCARÓ, Juan José. A Infraestrutura Verde Como Estratégia de Sustentabilidade Urbana. Disponível em < http://www.infohab.org.br/entac2014/2012/docs/1032.pdf> Acessado em 16.02.2016. MENDONÇA, E. M. S. A importância metropolitana do sistema de espaços livres da região de Vitória – ES – Brasil. In EURO ELECS 2015, Guimarães, Portugal. In Anais EURO ELECS 2015, Guimarães, Portugal, Vol. III, 2015. TRENTINI, Sérgio. The City Fix Brasil. Wri Brasil – Cidades Sustentáveis. 19 jan. 2016. Disponível em < http:// thecityfixbrasil.com/2016/01/19/a-importancia-da-arborizacao-urbana-e-o-que-nao-sabemos-sobre-overde/> Acessado em 01.03.2016.

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FATORES INFLUENTES NO USO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO INOVADORES EM EDIFICAÇÕES NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA ZANI, Matheus Carreiro (1); MOREIRA, André Araujo Amato (2); VERMELHO, Lázaro Colodette (3); WOELFFEL, Anderson Buss (4); REMBISKI, Fabrícia Delfino (5) (1) Graduado em Engenharia Civil, FAESA, matheus.c.zani@gmail.com; (2) Graduado em Engenharia Civil, FAESA; (3) Graduado em Engenharia Civil, FAESA; (4) Professor Mestre, FAESA; (5) Professora Doutoranda, UBB (Chile)

RESUMO A busca pela racionalização dos métodos, processos e sistemas construtivos gera melhorias na construção da edificação. Diminuem-se desperdícios, gera-se economia e redução do impacto ambiental. Este trabalho tem por objetivo analisar o nível de conhecimento de Engenheiros Civis, de Arquitetos e Urbanistas e da mão de obra direta, visando identificar os fatores influentes no uso da argamassa polimérica de vedação. A metodologia abrangeu pesquisa bibliográfica, aplicação dos questionários e análise de dados. Como resultado, verifica-se que apesar da argamassa polimérica ser conhecida pela maioria dos entrevistados, seu uso não se consolidou na Região Metropolitana da Grande Vitória. Um fator determinante para isso é a resistência a inovações construtivas do setor.

PALAVRAS-CHAVE: argamassa polimérica; materiais de construção; inovação.

1 INTRODUÇÃO A Indústria da Construção Civil (ICC) é um dos setores econômicos importantes para o desenvolvimento do Brasil. Apesar da retração de 3,6% e da redução dos investimentos nos subsetores edificações e construção pesada, é responsável por 5% a 15% do Produto Interno Bruto (PIB) e sua cadeia produtiva setorial origina cerca de 10 milhões de empregos (CBIC, 2016). Em contrapartida, segundo Silva et al. (2013), em termos ambientais, os impactos provocados pela ICC ao longo dos anos são consideráveis. Com o indicativo de escassez de recursos naturais renováveis e não-renováveis, rigor da legislação ambiental, a ICC busca processos e tecnologias construtivas que unam o desenvolvimento econômico ao sustentável. Dentre os diversos materiais usados pela ICC, não há uma estimativa sobre a quantidade de argamassa convencional consumida no Brasil (SILVA; NAKAKURA, 2001). No entanto, percebe-se um elevado consumo dos materiais (recursos não-renováveis) constituintes da argamassa convencional (cimento, areia e cal): em 2013, 71 milhões de toneladas de cimento (SNIC, 2013); em 2014, 439 milhões de toneladas de areia (ANEPAC, 2015), e em 2014, 8,2 milhões de toneladas da cal (DNPM, 2015). Nesses materiais, os processos de extração, fabricação, transporte, uso e destinação final geram impactos ambientais. Entretanto, verifica-se crescimento de pesquisas relacionadas a materiais de construção mais sustentáveis. Nesse contexto, surge à argamassa polimérica usada na alvenaria de vedação, que substitui a argamassa convencional no assentamento de blocos (SILVA et al., 2013). Segundo CBIC (2011), a argamassa polimérica de alvenaria é uma argamassa pronta para o uso, sendo uma tecnologia não cimentícia, que tem em sua composição a aplicação de nanotecnologia, específica para o assentamento de blocos e tijolos.

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Para Silva et al. (2013), apesar da primeira formulação de uma argamassa polimérica ter sido publicada em uma revista norte americana em 1981, este produto foi pouco explorado no Brasil até 2011, quando começou a ser oferecida por alguns fabricantes no mercado nacional. Click; Micklenthwaite (2004) relatam que os principais obstáculos para especificação de novos materiais mais sustentáveis são a falta de informação dos especificadores, o aumento do custo de empreiteiros e a criação de políticas públicas que incentivem seu uso. Nesse cenário, esse artigo analisa o nível de conhecimento de profissionais da construção civil, na Região Metropolitana da Grande Vitória, sobre o uso de argamassa polimérica para alvenaria de vedação, através de uma pesquisa de levantamento, visando identificar os fatores influentes no seu uso.

2 MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi classificada como descritiva (KÖCHE, 2009) e os procedimentos metodológicos adotados contemplaram: pesquisa bibliográfica; recorte da região de estudo e da amostra de profissionais; pesquisa de campo nas empresas; aplicação de questionários junto a Engenheiros Civis, Arquitetos e Urbanistas, e profissionais responsáveis pela execução de alvenaria, finalizando com a estatística descritiva dos dados. Inicialmente, realizaram-se pesquisas bibliográficas e documentais, em livros, artigos científicos e catálogos de fabricantes de materiais, que possibilitaram o recorte da região de estudo e a definição dos profissionais atuantes no setor. A amostra dos participantes era composta por 48, entre Engenheiros e Arquitetos, além de 93 profissionais (mão de obra direta), que atuavam em obras em 7 diferentes empreiteiras do setor. Para realização da pesquisa de levantamento com Engenheiros e Arquitetos elaborou-se um questionário com 7 perguntas para obter: nível de conhecimento; tempo de experiência profissional; recorrência do uso e especificação; desvantagens, vantagens e nível de satisfação dos usuários do material. A aplicação dos questionários ocorreu de duas formas, presencialmente nas obras e por correio eletrônico, devido à dificuldade de contato com alguns profissionais. Na sequência, realizou-se uma pesquisa de levantamento com a mão de obra direta, na qual foram entrevistados oficiais (pedreiros), mestres e encarregados de obras sobre o nível de conhecimento da argamassa polimérica. O questionário aplicado com 7 perguntas buscou obter: nível de conhecimento; recorrência da aplicação; vantagens, desvantagens e nível de satisfação dos usuários do material, e a preferência entre os tipos de argamassas (convencional ou polimérica). Ao final da pesquisa de campo, os questionários foram agrupados conforme os tipos de profissionais e as respostas foram tabuladas, sendo os resultados apresentados na forma de gráficos e análises descritivas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Pesquisa com Engenheiros Civis e Arquitetos e Urbanistas Um dos principais fatores responsável pela consolidação de um material inovador na construção civil é a familiaridade com produto. Na pesquisa observou-se que 67% respondentes conhecem a argamassa polimérica para assentamento de blocos de vedação (Gráfico 01). Os 67% dos respondentes que conhecem a argamassa polimérica são profissionais que atuam no mercado há pouco tempo, devido a esse produto ter sido explorado no Brasil a partir de 2011 (Gráfico 2).

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Gráfico 01: Nível de conhecimento.

Gráfico 02: Experiência dos que conhecem.

Fonte: Autoria própria

Além disso, 72% dos entrevistados que conhecem a argamassa não trabalharam ou especificaram esse material, já que na ICC é fácil identificar baixo uso de inovações, sendo esse processo externo à empresa. Gráfico 3: Quantidade de entrevistados que já trabalharam ou especificaram argamassa polimérica.

Fonte: Autoria própria

Os 23 respondentes que não trabalharam/especificaram a argamassa polimérica foram questionados sobre os fatores influentes nessa decisão. Os fatores mais citados foram: falta de estudos técnicos que comprovem o desempenho do produto em médio e longo prazo; poucos fornecedores disponíveis no mercado regional e não aprovação do produto pelos gestores da empresa. O Quadro 1 apresenta as principais vantagens e desvantagens identificadas durante o processo produtivo citadas pelos 9 entrevistados que trabalharam ou especificaram a argamassa polimérica. Quadro 1: Vantagens e desvantagens mencionadas pelos entrevistados.

VANTAGENS

DESVANTAGENS

Redução de mão de obra

Maior consumo de blocos

Aumento de produtividade

Treinamento da mão de obra

Redução na quantidade de insumos e equipamentos

Resistência por parte da mão de obra

Diminuição na quantidade de resíduo

Exigência de blocos de maior qualidade

Simplificação da logística no canteiro de obras

Uso da argamassa convencional na primeira fiada

Redução nos custos referentes a alvenaria

Não é recomendada para alvenaria estrutural Fonte: Autoria própria

Apesar de apresentar vantagens, apenas 28% dos profissionais (Engenheiros, Arquitetos e urbanistas) já trabalharam ou especificaram o material, demonstrando a dificuldade do material em ter espaço no mercado, os principais fatores: dificuldade de encontrar fornecedores e obras de referência, poucas opções similares ao produto, entre outros. Por sua vez, um fator importante para a consolidação de um novo material no mercado é o nível de satisfação dos envolvidos, em sua especificação e aplicação. O Gráfico 4 expõe o resultado com os nove entrevistados que trabalharam com a argamassa polimérica.

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Gráfico 4: Satisfação dos entrevistados no uso da argamassa polimérica.

Fonte: Autoria própria

Os 78% os profissionais que utilizaram voltariam a usar o material, indica que a mudança pode apresentar bons resultados. Além disso, uma questão a ser analisada são os benefícios sustentáveis do material, que não utiliza cimento, redução do consumo de água, geração de embalagens e índice de desperdícios.

3.2 Pesquisa com mão de obra direta Escassez de mão de obra qualificada, resistência a novas tecnologias, especificação de novos materiais são alguns fatores que impedem o desenvolvimento do setor da construção civil. Questionados se possuíam algum conhecimento sobre a utilização da argamassa polimérica no assentamento de blocos de vedação, 63% dos respondentes afirmaram não conhecer o produto (Gráfico 5). Os entrevistados que afirmaram conhecer a argamassa polimérica, se já trabalharam no assentamento de blocos de vedação utilizando este tipo de argamassa, 82% afirmaram positivamente (Gráfico 6). Gráfico 5: Nível de conhecimento da mão de obra.

Gráfico 6: Entrevistados que já utilizaram argamassa polimérica.

Fonte: Autoria própria

O aumento da eficiência dos processos está relacionado à qualificação da mão de obra e a Construção Civil necessita romper paradigmas. Questionado aos respondentes, que tinham experiência com a argamassa polimérica, foram listadas as vantagens e as desvantagens evidenciadas durante o uso (Quadro 2). Quadro 2: Vantagens e desvantagens citadas pelos entrevistados.

VANTAGENS

DESVANTAGENS

Maior produtividade

Dificuldade com nivelamento

Ancoragem direta em pilares

Rápida secagem

Rápida secagem

Menos empregos Fonte: Autoria própria

Em relação a preferência, 64% da mão de obra direta prefere a argamassa convencional, indicando possível resistência à inovação em materiais e processos construtivos no setor.

4 CONCLUSÕES A pesquisa demonstrou que apesar da argamassa polimérica ser conhecida pela maioria dos profissionais, seu uso ainda não se consolidou nos canteiros de obras da Região Metropolitana da Grande Vitória. Àqueles que já trabalharam ou especificaram esse material foram capazes de identificar um número maior de vantagens, em relação à substituição da argamassa convencional ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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pela argamassa polimérica, por isso em sua maioria, os profissionais aprovaram o produto e voltariam a especificá-la em futuras obras. Por sua vez, considerando os resultados da pesquisa com a mão de obra direta, concluiu-se que um dos fatores que mais contribuem para a não consolidação da argamassa polimérica no mercado é a resistência cultural apresentada pelos usuários. Nesse caso, a ICC necessita romper paradigmas, processos devem ser revistos, em virtude das alterações de mercado, da introdução de novas tecnologias e da demanda por obras sustentáveis, no Brasil e no mundo. Dentre os fatores influentes para uso em escala do material, no mercado nacional, está a cultura do setor resistente às mudanças. Contudo, o momento atual de recessão econômica no país é uma oportunidade para a evolução da mão de obra, pois uma demanda menor de empregos faz com que os cargos sejam preenchidos por profissionais qualificados e acessíveis a novos aprendizados e métodos construtivos.

REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS ENTIDADES DE PRODUTORES DE AGREGADOS PARA CONSTRUÇÃO (ANEPAC). O Mercado de Agregados no Brasil. São Paulo. 2015. Disponível em: <http://www.anepac.org.br/ agregados/mercado/item/8-mercado-de-agregados-no-brasil>. Acesso em: 20 ago. 2017. CÂMERA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO (CBIC). Argamassa polimérica para assentamento de tijolos ou blocos. 19. Ed. Concurso Falcão Bauer. 2011. Disponível em: <http://www.cbic.org.br/ premioinovaçãoesustentabilidade/baixar6.php?file=ARGAMASSA%20POLIM%C3%89RICA%20PARA%20 ASSENTAMENTO %20DE%20TIJOLOS%20OU%20BLOCOS%20.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2017. CÂMERA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO (CBIC). PIB e Construção Civil - 2016. Disponível em: <http://www.cbicdados.com.br/menu/pib-e-investimento/pib-brasil-e-construcao-civil>. Acesso em: 20 ago. 2017. CHICK, A.; MICKLETHWAITE, P. Specifying recycled: understanding UK architects’ and designers’ practices and experience. Design Studies, v. 25, n. 3, p. 251–273, 2004. DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL (DNPM). Sumário Mineral - 2015. Disponível em: < http://www.dnpm.gov.br/dnpm/sumarios/sumario-mineral-2015>. Acesso em: 20 ago. 2017. KÖCHE, J. C; Fundamentos de Metodologia Científica: Teoria da ciência a inciação de pesquisa. Ed. Digital. Petrópolis. Vozes. 2009. Cap. 5. Pag 124 -126. SILVA, C. O; NAKAKURA, E. H. A utilização de argamassa de revestimento em obras de pequeno porte – Estudo de caso de argamassa preparada em obra x argamassa industrializada. Brasília, 2001. In: IV Simpósio Brasileiro de Tecnologia das Argamassas. SILVA; et.al. Utilização de argamassa polimérica no assentamento de tijolos ou blocos. Associação Educacional de Bosco. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: <http://www.aedb.br/wp-content/uploads/ 2015/05/101114.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2017. SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIIMENTO (SNIC). Relatório - 2013. Disponível em: <http://www. snic.org.br/pdf/relatorioanual2013final.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2017.

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GESTÃO DEMOCRÁTICA DA CIDADE:

AVALIAÇÃO DO PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE VILA VELHA FERREIRA, Giovanilton André Carretta (1); PLACEDINO, Lorena De Nardi (2); (1) Professor Doutor, UVV, giovanilton.ferreira@uvv.br; (2) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UVV, lorena.denardip@ gmail.com

RESUMO O presente artigo visa avaliar o Plano Diretor Municipal de Vila Velha vigente, no intuito de subsidiar a implementação da Lei Federal nº 10.257/2001 – Estatuto da Cidade, bem como analisar as possibilidades de integração dos instrumentos contidos no PDM. PALAVRAS-CHAVE: Plano Diretor; Vila Velha; Estatuto da Cidade.

INTRODUÇÃO A Constituição de 1988 e a aprovação da Lei Federal 10.257/2001 - Estatuto da Cidade, apesar de algumas conquistas relacionadas à ampliação do direito à cidade, consubstanciam a escala municipal e a figura do Plano Diretor Municipal como principal instrumento para direcionar o desenvolvimento e controle da expansão urbana das cidades no país. Passados pouco mais de quinze anos da aprovação do Estatuto da Cidade uma nova ordem jurídico-urbanística e institucional relacionada às políticas urbanas se estabeleceu no país. Esta nova ordem já apresenta inúmeros estudos e trabalhos que passam a questionar os reais avanços e retrocessos que vem ocorrendo nas cidades brasileiras a partir deste novo quadro instituído.

METODOLOGIA Na primeira etapa da pesquisa foi elaborada uma breve caracterização da organização territorial e demográfica do município, do seu sistema de planejamento e gestão do território, do histórico da legislação de ordenamento territorial (PDM) e do processo de elaboração/revisão do atual PDM, com base em dados oficiais do município pesquisado e de órgãos e instituições oficiais de pesquisa. A segunda etapa envolveu a análise específica da Lei nº 4575 de 2007 do Plano Diretor Municipal de Vila Velha inicialmente em relação a existência ou não do conteúdo básico de um Plano Diretor e posteriormente uma análise qualitativa, a partir de três aspectos principais: indução ao desenvolvimento urbano; acesso à terra urbanizada e gestão democrática da cidade. Este último aspecto, além da Lei do PDM foram levantadas e analisadas as Atas das reuniões dos Conselhos do PDM, no ano de 2016. Ao final foi elaborado relatório final da pesquisa destacando os principais aspectos analisados e apontamentos em relação às necessidades de avanços do atual PDM no sentido do cumprimento do que está estabelecido no Estatuto da Cidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO O histórico de Planos Diretores de Vila Velha se inicia com a Lei Municipal n° 1.980, 01 de fevereiro de 1982, que dispôs sobre o parcelamento do solo no Município. Em 1990, foi criada a Lei Municipal n° 2.621, de 26 de novembro de 1990 – Plano Diretor Urbano, que dispôs sobre o planejamento e desenvolvimento urbano no município de Vila Velha e instituiu as normas de uso e ocupação do solo urbano (PREFEITURA DE VILA VELHA, 2014). ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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Em 2001 é criado o Estatuto da Cidade que obrigava os municípios a reformularem seus planos diretores, para implantar as novas ferramentas. Em 2006 o prefeito da época, fez a proposta de um Plano Diretor Municipal através do projeto de lei 034/2006. A partir de então inicia o processo legislativo de discussão, com as audiências públicas, reuniões na Câmara e debates, para complementar, ajustar para que o PDM fosse criado. No dia 26 de novembro de 2007 foi sancionada a Lei nº 4575, que instituiu o Plano Diretor Municipal de Vila Velha (PREFEITURA DE VILA VELHA, 2014). Em 2009 um novo prefeito assumiu o cargo. Em seis meses de mandato lançou um edital de convocação para discussão de um novo PDM. Em 2011 é lançado um novo PDM sem participação popular. Devido às circunstâncias ilegais, em 2012 a lei foi considerada inválida. Assim, o Plano Diretor em vigor no município de Vila Velha continua sendo o sancionado em 2007. A lei nº 4.575, de 26 de novembro de 2007 é subdividida em oito títulos e seus respectivos capítulos, seções e subseções. O título III trata das “estratégias de desenvolvimento sustentável”, descreve diretrizes, direcionamentos dos setores de desenvolvimento urbano por capítulos, tratando da conservação do patrimônio ambiental e cultural, da inclusão territorial e promoção da moradia digna, do desenvolvimento econômico, da mobilidade e acessibilidade, da qualificação do saneamento ambiental e da integração metropolitana. Esses são setores básicos para o organização e planejamento da cidade. No mencionado título, das estratégias de desenvolvimento sustentável, são indicadas diretrizes e ações, que em geral, são feitas com pouca especificidade, sem definir as áreas e bens que essas diretrizes devem ser aplicadas, programas que devem ser desenvolvidos. São mencionados a criação de planos setoriais para o desenvolvimento de projetos e propostas, referente a setores específicos. Outro fator a ser ressaltado é a falta de integração entre os setores, gerando diversos prejuízos para o planejamento, econômicos e de funcionamento da cidade. O macrozoneamento é constituído por áreas urbanas e rurais, estabelecidas segundo condições de uso e ocupação do solo. No PDM-VV são divididas em quatro macrozonas urbanas, uma de transição e três rurais. Sendo as áreas rurais sem lei específica, são tratadas com pouca especificidade no PDMVV, havendo pouca diferenciação nos objetivos específicos das diferentes macrozonas. Sendo as macrozonas rurais áreas frágeis ambientalmente, que precisam ser preservadas, há incoerência quando é determinado na macrozona rural de apoio logístico objetivos que induzem à industrialização. Portanto, é possível analisar que são traçados estratégias e objetivos a serem alcançados nas macrozonas, porém essas diretrizes são generalizadas, sem planos, propostas específicas e projetos predeterminados. O zoneamento urbano institui as regras de uso e ocupação do solo urbano para cada uma das zonas criadas, com o objetivo de consolidar e otimizar a infraestrutura básica instalada de maneira a evitar vazios urbanos e a expansão desnecessária da malha urbana. No município de Vila Velha são estabelecidas sete tipos de zonas: de ocupação prioritária, ocupação controlada, ocupação restrita, de proteção do ambiente cultural, de equipamentos especiais, eixos de dinamização urbana e as zonas de especial interesse. No PDM-VV, o capítulo que trata sobre o zoneamento é subdividido em seções que descrevem cada zona e determinam seus objetivos, diretrizes e planejamentos. Muitos dos itens são apenas citados objetivos e diretrizes a serem cumpridos, sem determinar ações, planos e propostas a serem realizadas a fim de atingir os objetivos propostos. Não são mencionados, por exemplo, novos modelos de ocupação, que tem como finalidade trazer vitalidade, adensamento para as cidades. Também não possui planos destinados à requalificação urbanística, ou a previsão de alguma Operação Urbana Consorciada, apenas são descritas suas finalidades e conceito do que é uma Operação Urbana Consorciada e diretrizes que deverão ser seguidas. No PDM de Vila Velha há um título destinado aos instrumentos “Título VII: dos instrumentos da política urbana”. Esses instrumentos são regulamentados pelo Estatuto da Cidade e servem como garantia do cumprimento da função da propriedade e da cidade. No plano são estabelecidos os seguintes 56

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instrumentos: parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; Imposto Territorial e Predial Urbano (IPTU) progressivo no tempo; desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública; Zonas Especiais de Interesse Social; outorga onerosa do direito de construir; transferência do direito de construir; operações urbanas consorciadas; consórcio imobiliário; direito de preferência; direito de superfície; estudo prévio de impacto de vizinhança; licenciamento ambiental; tombamento; desapropriação e; compensação ambiental. O Imposto Territorial e Predial Urbano (IPTU) progressivo no tempo, a desapropriação com pagamentos em títulos e a outorga onerosa do direito de construir, estão previstos que serão aplicados sempre que necessário, as determinações, restrições e regras foram estabelecidas com base no Estatuto da Cidade. A lei determina os coeficientes mínimo, básico e máximo, porém não é regulamentado impossibilitando a cobrança de recursos, quando o coeficiente de aproveitamento não é atingido ou ultrapassado. Por exemplo, é necessário que a pessoa ao utilizar o terreno construa o mínimo do coeficiente de aproveitamento, a fim de não subutilizar o terreno, mas na lei do PDM-VV algumas zonas não são determinadas os coeficientes mínimos nem máximos. Referente às operações urbanas consorciadas, por exemplo, a lei explica sua finalidade, determina o que deverá conter, seguindo o Estatuto da Cidade, menciona a Certificado de potencial construtivo (CEPAC) e como será aplicada. Não é estabelecida alguma área para ocorrer a operação. As especificações dos instrumentos em geral, são descritos como no Estatuto da Cidade ou semelhantes, havendo pouca especificidade em planos, projetos e determinação das áreas (quando necessário). Os instrumentos poderiam ser muito mais explorados e exemplificados, a fim de cumprir as funções sociais da propriedade e da cidade. As ZEIS, zonas especiais de interesse social, são aquelas destinadas prioritariamente à regularização fundiária, à urbanização e à produção de habitação de interesse social. Tendo como um dos objetivos implementar políticas e programas de investimentos e subsídios, promovendo e viabilizando o acesso à habitação voltada à população de menor renda. No município de Vila Velha, as ZEIS são subdivididas em três categorias, tipo A: destinadas à regularização fundiária e urbanística, tipo B: ocupação de terrenos não edificados e edificações subutilizadas e o tipo C: terrenos não edificados e imóveis localizados em áreas destinadas à implantação de Operações Urbanas Consorciadas. Segundo o IBGE 2010, de 134.556 domicílios particulares ocupados em Vila Velha, 17.947 estão em aglomerados subnormais, 13,33%, número considerado alto. Sendo a área mapeada no PDM da ZEIS do tipo A, considerada área ocupada por aglomerações subnormais com objetivo de promover a regularização fundiária e urbanística de 10,48km². Considerando um estudo realizado por Ferreira (2015), indica que a área do perímetro urbano de Vila Velha é de 135,67km², 11,34km² dessa área é de vazios com elevado potencial de edificação e 82,45km² são de vazios urbanos. Também mostra que 19,36% da área são de vazios urbanos em áreas densas em relação a mancha urbana consolidada. No Plano Diretor Municipal de Vila Velha, são citadas algumas das formas de arrecadação por meio da utilização de alguns instrumentos previstos no PDM. Como a outorga onerosa do direito de construir, onde os recursos arrecadados serão utilizados para regularização fundiária, programas habitacionais de interesse social, constituição de reserva fundiária, expansão urbana, implantação de equipamentos urbanos e comunitários, criação de espaços públicos de lazer e área verde e criação de unidades de conservação ou proteção de áreas de interesse ambiental. Sendo que: Art. 286. As áreas passíveis de Outorga Onerosa são aquelas onde o Direito de Construir poderá ser exercido acima do permitido pela aplicação do Coeficiente de Aproveitamento Básico até o limite estabelecido pelo uso do Coeficiente de Aproveitamento Máximo, mediante contrapartida financeira. (VILA VELHA, 2007, p. 117)

Também a operação urbana consorciada, em que o município emite certificados de potencial ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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adicional de construção (CEPAC), que serão utilizados para pagamento de obra, desapropriações necessárias à própria operação e para aquisição de terrenos para a construção de habitação de interesse social. Outros instrumentos do planejamento urbano são capazes de arrecadar recursos, porém não são regulamentados na Lei

CONCLUSÃO O PDM de Vila Velha está atualmente passando pelo processo de revisão, assim é esperado que a Lei seja mais específica e detalhada, que os instrumentos elaborados pelo Estatuto da Cidade sejam implementados e regulamentados a fim de cumprir a função social da propriedade. Além da efetivação da integração dos planos setoriais a fim de melhorar a cidade.

REFERÊNCIAS BRASIL., IBGE. Censo Demográfico, 2010. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/temas. php?codmun=320520&idtema=1&lang=>. Acesso em 20 jul. 2017. FERREIRA, Francismar cunha Ferreira. Propriedade fundiária, os “vazios urbanos” e a organização do espaço urbano: o caso de serra na região metropolitana da Grande Vitória – ES (RMGV-ES). 2015. P. 222. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para obtenção do título de mestre em Geografia. Disponível em: <http://portais4.ufes. br/posgrad/teses/tese_9061_francismar.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2017. VILA VELHA. Lei n. 4.575/2007, de 26 de novembro de 2007. Plano Diretor Municipal de Vila Velha – ES (P.D.M.). Disponível em: <http://www.vilavelha.es.leg.br/>. Acesso em: 04 set. 2016. VILA VELHA, Prefeitura Municipal. Concorrência n. º 006/2014, processo nº. 11.464/2014, objeto: Contratação de consultoria especializada ou consórcio de empresas para consultoria especializada para a revisão do plano diretor municipal. 2014. SANTOS JÚNIOR, Orlando Alves dos et al. Os Planos Diretores Municipais pós-Estatuto da Cidade: balanço crítico e perspectivas. 2011.

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ENSAIOS URBANOS PARA O ENTORNO DE EMPREENDIMENTOS HABITACIONAIS “MINHA CASA MINHA VIDA NO MUNICÍPIO DA SERRA” SANTOS, Cynthia Marconsini, c.marconsini@gmail.com (1); JORGE, Liziane de Oliveira, lizianej@ gmail.com (2); TALIULI, Iuri Ferreira, iuritaliuli123@gmail.com (3), MARQUETTI, Letícia Gobetti, leticia.gobetti@hotmail.com (4), DRAGO, Lídia Oliveira, lydiadrago@hotmail.com (5) (1, 3, 4, 5) Grupo ArqCidade, Universidade Vila Velha (UVV), Brasil; (2) Grupo ArqCidade, Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Brasil

RESUMO O município da Serra, no Espírito Santo, a partir dos anos 2000 passou a abrigar uma porção generosa de lançamentos imobiliários oriundos dos programas subsidiados pelo governo federal. Esta pesquisa propõe o desenvolvimento de pequenos ensaios projetuais, apresentando uma proposta de transformação da realidade estabelecida no município. Apresenta estratégias de transformação que possam ser incentivadas pela legislação municipal e executada pelos condomínios. O desenvolvimento das propostas foi norteado por seis princípios para uma melhor relação entre os limites dos empreendimentos e o espaço urbano: acessibilidade, sombreamento, mobiliário, visibilidade, permanência e multifuncionalidade. Os ensaios propõem intervenções sobre o construído através da aplicação destes princípios em propostas de alterações nos limites estabelecidos pelos empreendimentos residenciais multifamiliares. Busca-se refletir sobre a relação entre a forma arquitetônica e vitalidade urbana e incentivar processos de transformação da realidade a partir de ações que resgatam o interesse do pedestre para circular e permanecer no espaço público. PALAVRAS-CHAVE: Vitalidade Urbana, Forma Urbana, Minha Casa Minha Vida, Microplanejamento urbano.

1 INTRODUÇÃO No que concerne ao estudo da forma urbana o escopo é abrangente: dimensão e traçado das ruas, desenho e a dimensão de lotes e quadras, limites estabelecidos entre edifícios e calçada, densidade urbana, forma da massa edificada, paisagem. No cerne deste escopo, um recente interesse se destaca na investigação sobre os efeitos sociais da morfologia arquitetônica e sua contribuição sobre a vitalidade urbana (AGUIAR, 2010; NETTO et al, 2012; HOLANDA et al, 2012; GEHL, 2013). A inserção urbana do edifício, a forma da massa edificada, o arranjo programático, a implantação, o tratamento dos limites, a permeabilidade espacial, são essenciais na qualificação do espaço urbano. Verifica-se nas últimas décadas uma forte tendência no mercado imobiliário brasileiro na produção de empreendimentos voltados para a habitação coletiva que ofertam tipologias configuradas como enclaves fortificados. Sobressaem-se pela presença de obstruções físicas bem delineadas, que reforçam o discurso da segurança e delimitam uma fronteira abrupta dos demais espaços públicos urbanos. Para tanto o critério está pautado na rentabilidade e os efeitos “colaterais” são comuns em todo o Brasil (ROLNIK, 2015): inserção urbana periférica, lotes de grandes dimensões, predomínio da monofuncionalidade, repetição e monotonia arquitetônica, presença de grandes extensões de muros opacos no perímetro. Cria-se assim um círculo vicioso: os edifícios se isolam do espaço urbano inóspito e por sua vez o espaço urbano configura-se como um espaço exclusivamente de passagem. O município da Serra, localizado na região da Grande Vitória, no Estado do Espírito Santo, a partir da década de 2000, passou a abrigar uma porção generosa de lançamentos imobiliários destinados à ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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habitação multifamiliar, em grande maioria configurados como enclaves fortificados verticalizados (Figura 1). A pesquisa desenvolvida por Santos e Jorge (2016) no período entre 2013 a 2015, mapeou e avaliou a inserção urbana de 84 empreendimentos habitacionais verticais multifamiliares implementados após os anos 2000, no município. Destes, mais de 50% foram implementados após 2009, com o lançamento do programa Minha Casa Minha Vida. Figura 1. Empreendimentos habitacionais multifamiliares construídos no Município da Serra, na região da Grande Vitória após o ano de 2000.

Características comuns aos empreendimentos: Localização periférica, monofuncionalidade, lotes de grandes dimensões, grandes extensões de muros opacos, repetição e monotonia arquitetônica. Fonte: os autores

2 OBJETIVO Esta pesquisa propõe o desenvolvimento de ensaios urbanos de transformação dos limites estabelecidos em empreendimentos habitacionais multifamiliares configurados como enclaves fortificados. A partir do estabelecimento de princípios qualitativos para melhor relação entre os limites do empreendimento e o espaço público contíguo, visa propor soluções viáveis de intervenção sobre o construído.

3 MÉTODO DE PESQUISA O método de pesquisa se desenvolve em duas etapas: definição de seis princípios qualitativos (acessibilidade, sombreamento, mobiliário, visibilidade, permanência, multifuncionalidade) para os limites de empreendimentos habitacionais multifamiliares e aplicação dos princípios em estratégias de transformação de empreendimentos construídos. Tabela 1. Princípios qualitativos para limites de empreendimentos habitacionais multifamiliares inseridos em áreas de baixa vitalidade urbana.

Acessibilidade O Princípio da acessibilidade contempla a proposição de calçadas acessíveis, com percursos livre de obstáculos, convidativa ao pedestre, evitando as passagens em níveis. Contempla ainda o acesso seguro ao condomínio, preferencialmente próximo das faixas de pedestres, proporcionando conforto aos usuários.

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Sombreamento O princípio do “sombreamento” contempla a proposição de arborização ao redor dos condomínios, permitindo caminhadas confortáveis ao pedestre e a composição de paisagens urbanas mais dinâmicas. A presença da vegetação colabora ainda para permanência dos usuários no espaço público e para uma melhor paisagem sonora no entorno dos condomínios. Mobiliário A possibilidade de inserção de mobiliários nas calçadas colabora para a permanência de pessoas no espaço público, garantindo sua vitalidade. Os mobiliários podem estar estrategicamente posicionados em locais com aglomeração de pessoas: próximo a pontos de ônibus, próximos a equipamentos comerciais. Esse princípio pode estar associado ao princípio da multifuncionalidade. Visibilidade O princípio da visibilidade está relacionado a maior integração visual entre o interior de empreendimentos residenciais e o espaço urbano circundante, permitindo “ver e ser visto”. Colabora para a vigilância natural do espaço público e maior segurança do pedestre que caminha ao redor do condomínio. Deve-se priorizar a composição de muros permeáveis. Permanência Existe atualmente uma forte discussão sobre a ampliação dos espaços públicos de uso livre em detrimento do espaço urbano dedicado ao automóvel. Algumas ações, como a substituição de estacionamento por praças ou a inserção de elementos móveis, como os parklets: soluções flexíveis e rápidas para a ampliação do espaço público, permitindo maior permanência das pessoas no espaço urbano.

Multifuncionalidade O espaço urbano deve permitir funções heterogêneas e complementares. A inserção do uso misto em empreendimentos habitacionais colabora para que o espaço térreo dos empreendimentos e seus limites possuam fachadas mais ativas, com maior vitalidade, garantindo maior fluxo e permanência de pessoas ao longo do dia. Fonte: Autoria própria

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A proposta de intervenção propõe a utilização de quatro princípios qualitativos: sombreamento, visibilidade, permanência e multifuncionalidade. Propõe-se o sombreamento da calçada com árvores proporcionando conforto ao caminhar; a substituição do muro por gradis para maior visibilidade da calçada; a inserção de módulos comerciais aos limites para dinamizar o entorno e a inserção de mobiliários permitindo a permanência de pessoas (Figura 2. 3 e 4). A inserção do módulo está vinculada à conjunta de mobiliários urbanos apropriado para a permanência das pessoas ao redor do condomínio (Figura 3), ampliando a oferta e o uso de espaço público e garantindo a vigilância natural da rua. Em locais onde a calçada é pequena e não há possibilidade de inserção de mobiliários de apoio sugere-se a utilização de parklets: solução emergencial, flexível e rápida para conciliar permanência de pessoas com uso comercial pretendido. Os parklets podem ser financiados pela microempresa interessada em alugar o módulo comercial, como contrapartida para sua utilização. Figura 2. Estratégias de intervenção no condomínio Paço da Serra (esquerda: implantação; direita: esquema tridimensional).

Novo tratamento dos limites. Em vermelho as transformações propostas: gradis, módulos comerciais e parklets. Fonte: os autores. Figura 3. Proposição de inserção de módulo comercial e parklets em local com calçada estreita.

Fonte: Autoria própria Figura 4. Transformação proposta nos limites do condomínio Paço da Serra.

Á esquerda foto dos limites existentes. Á direita fotomontagem com proposições: substituição do muro por gradis, inserção de módulo comercial e parklet. Fonte: Autoria própria

5 CONCLUSÕES Os ensaios alertam as possíveis soluções para os limites de empreendimentos habitacionais multifamiliares que prezam pela vitalidade urbana. Verifica-se atualmente uma incapacidade generalizada nos instrumentos de gestão e regulamentação urbana em atuar de fato na forma e na 62

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paisagem urbana. Essa incapacidade revela-se principalmente nas novas periferias, impulsionadas desde o lançamento do MCMV. A rentabilidade nos empreendimentos populares é garantida através da implantação de empreendimentos colossais, monofuncionais e padronizados, em locais pouco adensados e de baixa vitalidade urbana. Proliferam-se os enclaves fortificados, tipologia difundida pelo mercado, como oferta de uma segurança forjada, trágica do ponto de vista social e urbano, repetindo-se nas grandes cidades brasileiras e com uma discussão sobre como garantir a qualidade urbana nos novos bairros em processos de consolidação desde o lançamento do MCMV. Algumas soluções para essa situação podem ser feitas, a partir de maior atuação dos planos diretores, ao estímulo de estratégias que possam colaborar para a vitalidade do espaço público: a) Incentivo e regulamentação da destinação de parte da área construída dos novos empreendimentos residenciais localizados em áreas centrais com alto valor da terra, para habitações de interesse social; b) Incentivo ao uso multifuncional nos novos empreendimentos habitacionais, principalmente naqueles localizados em áreas periféricas e ainda não abastecidas de serviços e comércios; c) Criação de mecanismos eficazes para limitar a dimensão dos empreendimentos, evitando grandes extensões de muros opacos, cujo percurso é exaustivo e inseguro ao pedestre, desestimulando a caminhada; d) Estratégias relacionada ao tratamento dos limites dos edifícios, possibilitando visibilidade e permeabilidade.

REFERÊNCIAS AGUIAR, Douglas. Alma Espacial: corpo e o movimento na arquitetura. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2010 GEHL, Jan. Cidades para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. HOLANDA, F.; CAVALCANTE, A. P.; FRANÇA, C.; RIBEIRO, R.; MELLO, S; MEDEIROS, V. Ordem e Desordem: Arquitetura & Vida Social. Brasilia: Ed. FRBH, 2012. NETTO, Vinicius; VARGAS, Julio Celso; SABOYA, Renato T. (Buscando) Os efeitos sociais da morfologia arquitetônica. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 4, n. 2, p. 261-282, jul./dez. 2012 ROLNIK, Raquel. Guerra dos Lugares. A colonização da terra e da moradia na era das finanças. São Paulo: Editora Boitempo, 2015. SANTOS, Cynthia Marconsini Loureiro e JORGE, Liziane de Oliveira. Avaliação da qualidade arquitetônica dos conjuntos habitacionais e seus impactos sociais e urbanos. O caso da expansão imobiliária no município da Serra. Relatório técnico de pesquisa. Grupo ArqCidade. Universidade Vila Velha, 2016.

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PLANO DE GERENCIAMENTO DE RISCOS NA ADMINISTRAÇÃO DE CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS MICHEL, Mariana Vallory (1); DAMASCENO, Alana Tristão Netto (2); CONDE, Karla Moreira (3); (1) Arquiteta e urbanista, Pós-Graduada em Gestão de Projetos, alanatdn.arq@gmail.com; (2) Arquiteta e Urbanista, Pós-Graduada em Gestão de Projetos e em Design de Interiores; Mestranda Bolsista do Programa de Pós–Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo, Laboratório de Planejamento e Projeto, marianavallory@yahoo.com.br; (3) Professora Dra. em Arquitetura, Tecnologia e Cidade do Departamento de Engenharia Civil, UFES, karla.conde@ufes.br

RESUMO O gerenciamento de riscos possibilita o aumento da probabilidade e do impacto dos eventos positivos, assim como a diminuição dos eventos negativos ao projeto. Dessa maneira, é um importante mecanismo para auxiliar na administração de condomínios residenciais, onde questões como quando intervir, qual o custo a ser despendido e quais são as prioridades são frequentes principalmente quando passam por situações de mudança. O objetivo deste artigo é exemplificar o emprego do plano de gerenciamento de riscos em projeto de reforma como auxílio na administração de condomínios residenciais. Para tal, este artigo apresenta um estudo de caso desenvolvido em um edifício residencial no município de Vila Velha (ES). O estudo abrange as etapas de identificação, análises qualitativa e quantitativa de riscos e o planejamento de respostas a riscos. Os resultados mostram que riscos de menor impacto e probabilidade podem requerer maior atenção pela sua alta motricidade e baixa dependência.

PALAVRAS-CHAVE: Plano de gerenciamento de riscos; administração de condomínio; Brainstorming; matriz FOFA.

1 INTRODUÇÃO O Gerenciamento de Riscos é uma entre as dez áreas do conhecimento do Gerenciamento de Projetos previstas no Guia PMBOK (PMI, 2014). Essa área vem cada vez mais sendo destacada nas atualizações do PMBOK por abordar as chances (entendidas como riscos) de o projeto se desviar do planejado, seja de forma negativa ou positiva. Assim, o Gerenciamento de Riscos de um projeto contempla os processos para se potencializar os riscos positivos e para minimizar os negativos, considerando as probabilidades e impactos desses eventos. Os riscos são inerentes ao projeto e se diferencia de um fato por não ter 100% de probabilidade de acontecer. O Plano de Gerenciamento de Riscos estrutura gerencialmente como os riscos serão trabalhados, classificando os riscos em termos de prioridade de execução e como cada um deve ser tratado. Como os riscos podem ser de qualquer espécie (como custo, tempo e gerencial), o Plano de Gerenciamento de Riscos se revela como uma solução gerencial de organização do projeto. Destacase ademais que o grande diferencial entre gerenciar os riscos e ignorá-los é o reflexo que se tem no custo de execução do projeto: quanto antes e melhor identificados e gerenciados eles o são, menor será o impacto no custo total do projeto. (MOREIRA, 2012; ELIAS, 2014; PMI, 2014; CARVALHO; RABECHINI, 2015; FIGUEIREDO; CATARINA, 2016).

2 OBJETIVO O objetivo deste artigo é exemplificar o emprego do plano de gerenciamento de riscos em projeto de reforma como auxílio na administração de condomínios residenciais.

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3 MATERIAL E MÉTODOS O plano de gerenciamento de riscos foi elaborado para um projeto de reforma de edifício residencial multifamiliar no bairro Praia da Costa no município de Vila Velha (ES). O condomínio é o Edifício Ponta Negra; ano de entrega do edifício: 2003; finalidade: residencial multifamiliar; 8 pavimentos, sendo 1 pav. subsolo, 1 pav. térreo, 6 pav. tipo com 4 apartamentos cada, totalizando 24 unidades e 1 pav. cobertura. E a reforma do edifício era com a finalidade de melhorar a estética e segurança, além de fazer adaptações para adequação às exigências de acessibilidade. O método empregado se fundamenta nas referências: Guia PMBOK (Project Management Institute, 2014) e normas “ISO/IEC/ FDIS 31010. Risk management: Risk assessment techniques”, (ISO, 2009) e “NBR ISO 31000. Gestão de Riscos: princípios e diretrizes” (ABNT, 2009). Estrutura-se, pois, nas seguintes etapas: 1. Identificação dos riscos: determinação dos riscos que podem afetar o projeto e documentação de suas características; 2. Análise qualitativa dos riscos: priorização dos riscos para análise ou ação adicional subsequente através de avaliação e combinação de sua probabilidade de ocorrência e impacto; 3. Análise quantitativa dos riscos: análise numérica do efeito dos riscos identificados nos objetivos gerais do projeto; 4. Planejamento de respostas aos riscos: desenvolvimento de opções e ações para aumentar as oportunidades e reduzir as ameaças aos objetivos do projeto.

3.1 Etapas metodológicas Na etapa 1, de identificação dos riscos, os itens cruciais da reforma do condomínio foram levantados por Brainstorming em Assembleia Geral e pela percepção da própria síndica. Com isso, foram tabulados através da matriz FOFA (forças, oportunidades, fraquezas e ameaças) os pontos fortes e fracos da reforma (ambiente interno) e as suas ameaças e oportunidades em relação aos demais condomínios existentes na região (ambiente externo). Dessa forma, foram selecionados os principais riscos, classificando-os em termos de probabilidade e impacto conforme os parâmetros apresentados no Quadro 1. Quadro 1 – Pesos dos impactos e probabilidades dos riscos.

Impacto

Probabilidade (%)

Muito pertinente

5

Quase certa ou certa

81 – 100

É pertinente

4

Muito provável

61 – 80

Medianamente pertinente

3

Provável

41 – 60

Pouco pertinente

2

Pouco provável

21 – 40

Não é pertinente

1

Improvável

0 – 20

Fonte: autoras (2017) – adaptado de PMI (2014).

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Na etapa 2, encontrou-se a classificação dos riscos da reforma, estipulando a prioridade de tratamento de cada risco segundo os critérios de Carvalho e Rabechini Jr (2015) (Quadro 2): Quadro 2 – Estratégia de resposta aos riscos.

Quadrante

Tratamento dos riscos

I II III IV

Atenção imediata Monitoramento sistemático Resposta rápida de planejamento Pequenos problemas Fonte: Carvalho e Rabechini Jr (2015).

Na etapa 3, foi feita a matriz de impactos cruzados do projeto de reforma relacionando a motricidade e dependência entre dos riscos complementando a etapa anterior quanto ao tratamento que se deve dar a cada um dos riscos. Quanto maior a motricidade, maior a influência que o risco tem de gerar outros riscos; e quanto maior a dependência, mais circunstâncias precisam ser desencadeadas para ele acontecer (menor a chance de o risco acontecer). Conseguiu-se, assim, chegar ao panorama de gerenciamento geral dos riscos do projeto de reforma deste condomínio.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme reunião e experiência da síndica, foram levantados e selecionados os riscos relacionados ao projeto de reforma estética, de segurança e de acessibilidade do condomínio apresentados no quadro 3, com a identificação de suas siglas respectivas, assim como de suas probabilidades (%) e impacto (I). Quadro 3 – Identificação e classificação dos riscos.

AMBIENTE INTERNO

%

I

f1

Aumento de inadimplência nas taxas condominiais

30

5

f2

Mão-de-obra terceirizada exceder tempo e custo contratados

25

4

f3

Reforma se estender por um longo prazo

10

3

f4

Surgir novas taxas extras

20

3

Melhorar condições do edifício F1 em termos estéticos, de 90 acessibilidade e de segurança

f5

95

I 5

4

F2 Gerar transtornos aos usuários durante a obra - como barulho, sujeira e falta de privacidade e bloqueios momentâneos às áreas coletivas

%

Melhorar satisfação dos usuários com o prédio reformado

90

5

AMBIENTE EXTERNO

%

inesperados de preços de 15 A1 Aumentos material e fornecedores

I 3

O1

Valorização imobiliária

possibilidades de O2 Minimizar asroubo.

Fonte: autoras (2017).

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%

I

90

2

40

4


Os riscos levantados no quadro 3 foram compilados no gráfico 1. Conforme gráfico 1, percebe-se que F1, F2 e f5 se encontram na situação que requer maior cuidado, que necessita de atenção imediata; f1, f2 e O2 requerem monitoramento sistemático, assim como f3, f4 e A1, porém estes estão quase no quadrante dos pequenos problemas; e já O1 requer resposta rápida de planejamento. Nota-se, pois, que entre os riscos negativos que carecem de maior atenção, tem-se apenas o f5, que deverá ser tratado de modo a ser minimizado ao máximo ao passo que os outros dois que requerem mais atenção são riscos positivos que devem ser explorados, compartilhados e realçados para contribuir com o sucesso do projeto como um todo. Gráfico 1 – Distribuição dos riscos nos quadrantes.

Fonte: autoras (2017).

Em seguida, foram relacionadas a motricidade e a dependência entre os riscos (tabela 1). Com os resultados da tabela 1, pôde-se elaborar o gráfico 2, classificando a motricidade (M) e dependência (D) de cada risco. Quanto maior a motricidade e menor a dependência do risco, mais importância ele deve receber, pois depende de menos variáveis para acontecer e acontecendo, impulsiona outros riscos a virem à tona. Assim, destaca-se principalmente o risco A1 que tem alta motricidade e nenhuma dependência – isto é, que, ainda que pela análise dos quadrantes ele seja quase considerado como um “pequeno problema”, ele deve ter um gerenciamento adequado devido a sua relevância de motricidade/ dependência. Tabela 1 – Motricidade x dependência dos riscos.

O2

DW

0

0

4

1

0

0

4

0

1

0

0

5

0

0

1

0

0

4

X

1

0

0

0

0

1

0

0

X

0

0

0

1

2

1

1

0

1

X

0

0

1

4

0

0

0

0

0

0

X

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

X

1

2

O2

0

0

0

0

0

1

0

0

0

X

1

M

4

3

3

4

2

4

0

4

0

3

f1

f2

f3

f4

f5 F1 F2 A1 O1

f1

X

1

1

1

0

0

0

1

f2

1

X

0

1

1

0

0

f3

1

1

X

1

1

0

f4

1

1

1

X

0

f5

0

0

0

0

F1

1

0

0

F2

0

0

A1

0

O1

Fonte: autoras (2017). ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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Gráfico 2 – Motricidade e dependência dos riscos.

Fonte: autoras (2017).

5 CONCLUSÕES A pesquisa baseou-se na exemplificação do emprego do plano de gerenciamento de riscos em projeto de reforma como auxílio na administração de condomínios residenciais. Com a identificação e classificação dos riscos através da análise dos quadrantes e da matriz de motricidade e dependência entre os riscos, pôde-se ter um plano de como tratar os riscos. Com as análises percebe-se a importância de classificar as chances de o projeto fugir do planejado, seja essa fuga positiva ou negativa, o que potencializa as chances do sucesso do projeto, maximizando as potencialidades e amenizando as fragilidades. Nota-se também a relevância da complementação entre as análises. Como riscos prioritários no atendimento e monitoramento, foram detectados: (1) melhorar condições do edifício em termos estéticos, de acessibilidade e de segurança; (2) melhorar satisfação dos usuários com o prédio reformado; e (3) gerar transtornos aos usuários durante a obra - como barulho, sujeira e falta de privacidade e bloqueios momentâneos às áreas coletivas. O interessante é que dois desses riscos são positivos o que sugere uma viabilidade do projeto. Destaca-se nesse cenário que o risco “aumentos inesperados de preços de material e fornecedores” requer um cuidado especial em seu controle, visto que é o que apresenta maior motricidade e menor dependência. Ressalta-se a importância de planos de gerenciamento de riscos específicos para cada tipo de projeto e o potencial de aplicação de plano de gerenciamento de riscos como suporte à tomada de decisão e apoio ao planejamento e gestão de projetos diversos e em condomínios residenciais.

REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR ISO 31000. Gestão de Riscos: princípios e diretrizes. 2009. CARVALHO, Marly Monteiro de; RABECHINI JR, Roque. Fundamentos em Gestão de Projetos: Construindo competências para gerenciar projetos. 4. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2015. 482p. ELIAS, Eduardo M. Controle de projetos com métricas: não deixe que seu projeto vire uma melancia atômica! 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Brasport, 2014. FIGUEIREDO, Gonçalo; CATARINA, Artur. Análise de riscos: identificação e descrição dos riscos no desenvolvimento de um empreendimento imobiliário na visão de um investidor não gestor. Iberoamerican Journal of Industrial Engineering, Florianópolis, SC, Brasil, v. 8, n. 15, p. 01-16, 2016.

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INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO/IEC/FDIS 31010. Risk management: Risk assessment techniques, 2009. MOREIRA, Katia Beatris Rovaron. O processo de produção e gestão de segurança patrimonial de edifícios residenciais verticais na cidade de São Paulo. Tese (Doutorado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, 2012. 283 p. PMI. Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos. Guia PMBOK® 5 ed. EUA: Project Management Institute, Inc. 2014. 496p.

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UNIDADE TERRITORIAL DE PLANEJAMENTO E GESTÃO COMO DEFINI-LA?

SANTOS, Juliana Silva Almeida (1); CONDE, Karla Moreira (2); ALVAREZ, Cristina Engel (3) (1) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, Multivix, Juliana.arq1@gmail.com; (2) Professor Doutor, UFES, karla.conde@ ufes.br; (3) Professor Doutor, UFES, cristina.engel@ufes.br

RESUMO Conforme a área do conhecimento, a unidade bairro pode apresentar diferentes conceitos. Como unidade de planejamento e gestão, os limites do bairro devem ser bem definidos, considerando que ações públicas são direcionadas de acordo com semelhanças ou diferenças de cada região. O objetivo desta pesquisa foi avaliar como a unidade urbana denominada bairro, é conceituada por estudiosos da área, em diversas áreas do conhecimento. Considerando ainda a importância da percepção do usuário, foi realizado um estudo específico no bairro Jardim da Penha em Vitória/ES, visando identificar quais são os elementos que efetivamente prevalecem no conceito de unidade para a delimitação territorial. Os resultados indicam que a percepção do conceito de bairro está mais relacionada à vivência dos espaços públicos e a estrutura disponível no bairro para as atividades cotidianas. Tais percepções influenciam na identificação dos limites do bairro e, por vezes, tendem a ir de encontro aos reais limites geográficos pré-estabelecidos.

PALAVRAS-CHAVE: bairro; unidade urbana; percepção; planejamento urbano.

1 INTRODUÇÃO A cidade, como resultado do processo de urbanização, torna-se cada vez mais complexa em sua estrutura, onde o espaço urbano encontra-se em constante transformação. Questões políticas, econômicas e sociais influenciam diretamente nos aspectos territoriais, seja no meio urbano mais consolidado ou nas áreas periféricas ainda em desenvolvimento. O planejamento urbano configura-se como um importante mecanismo para o ordenamento e a gestão do território, visando direcionar as ações relacionadas ao crescimento urbano, buscando promover seu desenvolvimento aliado à melhor qualidade de vida dos cidadãos. Para facilitar a gestão político-administrativa do meio urbano e, tendo em vista a sua vasta dimensão territorial, há necessidade da delimitação de escalas urbanas de planejamento, que podem ocorrer tanto no âmbito regional, municipal, quanto nas menores escalas, como um bairro. No entanto, é perceptível que a unidade “bairro” possui várias interpretações, sendo, inclusive, inexistente em alguns países ou mesmo em cidades diferenciadas brasileiras, como Brasília, por exemplo. Diante do exposto, o objetivo desta pesquisa foi avaliar como a unidade urbana denominada bairro, é conceituada sob múltiplos enfoques de áreas do conhecimento, tais como da arquitetura, geografia e sociologia. A partir da conceituação do termo nas diferentes áreas, foram realizadas entrevistas junto aos usuários do bairro Jardim da Penha na cidade de Vitória/ES a fim de verificar qual conceito teórico que mais se aproxima da percepção dos usuários. O bairro Jardim da Penha foi selecionado para esta pesquisa por, teoricamente, ter características formais e territoriais bem definidas bem como por ser fruto de um processo de planejamento ordenado, com processo de desenvolvimento distinto quando comparado às porções urbanas resultantes de um crescimento espontâneo.

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2 UNIDADE URBANA BAIRRO - CONCEITOS A unidade urbana bairro apresenta diversos conceitos que variam de acordo com a interpretação do termo pelas diferentes áreas do conhecimento, podendo representar um ponto de convergência entre questões urbanas, políticas, sociais, culturais, entre outras. Entretanto, considerando que a gestão deve ocorrer através de legislação que visa estabelecer regras gerais por unidades de semelhante, é necessário delimitar esta unidade urbana de maneira representativa para a comunidade e adequada sob o ponto de vista do planejamento e gestão urbana. Conceituado por pesquisadores na área de Arquitetura, o bairro possui três formas diferentes de compreensão, ou seja, sob o aspecto morfológico-dimensional; o político-administrativo e o histórico-social. No primeiro, a unidade urbana bairro atua como um espaço-social e apresenta morfologia social e espacial simultânea. A morfologia social é resultado da soma dos diversos aspectos inerentes a um determinado espaço que o caracteriza como unidade homogênea, ou seja, a sua paisagem urbana, suas características sociais, estruturais, entre outros. A partir da materialização destas características no território, a unidade urbana é constituída, cujo processo, ao mesmo tempo, a diferencia das demais áreas da cidade, consolidando limites e dando origem a uma morfologia espacial específica (BARROS, 2004; BEZERRA, 2011). Desta maneira o bairro constitui uma forma física, cuja delimitação é estabelecida em função do seu caráter formal. A cidade, consequentemente, é formada por diversos bairros existentes que diferenciam entre si pela leitura espaço-social característica de cada um, o que lhes atribui identidade (LYNCH, 1960/2011; BARROS, 2004; BEZERRA, 2011; LOBO, 2013). Din e outros (2013) complementam ressaltando o bairro enquanto unidade espacial que deve ter autossuficiência para garantir o estabelecimento de interações sociais entre os moradores. Em síntese, um bairro representa uma área relativamente independente conformada pela diversidade de usos, tais como habitações, comércio, serviços e lugares públicos, cuja vivência o identifica em termos de atitudes sociais, econômicas e estilos de vida. Sob o aspecto político-administrativo compreende-se como bairro uma dimensão territorial de limites físicos pré-definidos pelo órgão gestor do município no qual ele está inserido e, cuja delimitação, é estabelecida com o intuito de organizar e facilitar o planejamento do território. Esta concepção engloba ainda o conceito de bairro como unidade política. Esse entendimento é pautado tanto no histórico de formação do bairro – que por vezes é marcado por conflitos pela ocupação do espaço –, quanto na compreensão deste como espaço de mobilização, organização por melhorias de serviços, entre outros (BARROS, 2004; BEZERRA, 2011). Já sob o enfoque histórico-social leva-se em consideração para a compreensão da unidade urbana bairro, o histórico social local, ou seja, as interferências físicas realizadas no meio urbano decorrentes da ocupação do espaço pela população, assim como as experiências vivenciadas naquele espaço. Dessa maneira, o bairro é definido não só como um espaço físico, mas também como um local que possui memória, identidade e cultura com traços específicos segundo o modo de viver e se relacionar dos indivíduos que o habitam revelando um caráter de comunidade local (BARROS, 2004; BEZERRA, 2011). Segundo o filósofo e sociólogo Lefebvre (1971) o peso da história assegura, em parte, a sobrevivência de alguns bairros, entretanto eles não se mantêm em inércia. A ideologia de bairro como um local de importância urbana e social pode sofrer mudanças em decorrência das mudanças de valores adotados pela população, que pode ocorrer em virtude da variação da realidade social no espaço-tempo, assim como, em consequência do crescimento da cidade que implicam transformações territoriais. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE “bairros são subdivisões ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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intraurbanas legalmente estabelecidas por meio de leis ordinárias das Câmaras Municipais e sancionadas pelo Prefeito”. (IBGE, 2017). Conforme aponta Teixeira (1986) a partir de 1980 a base setorial de IBGE promoveu uma coleta de amostras para fazer uma análise espacial que agregou grande importância e utilização aos dados censitários. Ainda segundo a autora, em decorrência desse estudo a delimitação dos bairros, na prática, passou por adaptações, no qual os limites dos setores censitários estabelecidos pelo levantamento do IBGE foram sendo incorporados aos limites urbanos dos bairros. Assim, ao longo dos anos, o conceito da unidade urbana e a delimitação dos limites territoriais foram sendo cada vez mais definidos levando em consideração os dados geográficos, sendo então reduzida a importância das características locais e a percepção dos moradores quanto à identidade e sensação de pertencimento local. Atualmente, os dados censitários são utilizados como referência para a delimitação de bairro pelos municípios. No entanto, de acordo com a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro (PMRJ, 1981 apud Teixeira, 1986, p. 68), entende-se por bairro como “(...) porção do território que reúne pessoas que usam o mesmo equipamento, que mantêm relações de vizinhanças e que reconhecem seus limites pelo mesmo nome (...)”.

3 MATERIAIS E MÉTODOS Sendo parte de uma ampla pesquisa interdisciplinar e interinstitucional relacionada à proposição de indicadores para avaliação de sustentabilidade urbana voltada para as menores parcelas de gestão, ou seja, os bairros, esta parte da pesquisa teve por objetivo identificar o conceito atribuído à nomenclatura por diferentes áreas do conhecimento e, principalmente, avaliar como a população de um determinado bairro compreende essa limitação territorial. Como objetivos específicos para a definição da metodologia de obtenção de dados no estudo de caso, foram levantadas as seguintes questões: (i) como a população define a palavra bairro; e (ii) quais os critérios para se definir os limites do bairro habitacional em estudo. Considerando a importância da percepção do usuário e a verificação do sentimento de pertencimento da população, foi então selecionado o bairro Jardim da Penha em Vitória/ES, sendo o principal instrumento para obtenção de dados e informações a aplicação de um questionário – na forma de entrevista dirigida – junto aos moradores ou usuários locais. O bairro Jardim da Penha possui uma população de 30.571 habitantes e densidade populacional bruta de 208,45 hab./ha, sendo a população composta por 55,2% de mulheres e 44,8% de homens. Jardim da Penha representa o bairro de Vitória/ES com o maior percentual de população em idade ativa, 78,5%, quando considerada a faixa etária de 15 a 64 anos e a taxa de pessoas alfabetizadas do bairro ultrapassa os 99% (IJSN, 2012). A fim de determinar o tamanho da amostra (n) utilizou-se o cálculo de amostragem aleatória, conforme apresentado por Santos (2017) na Equação 1. Para efeito de cálculo foram adotados os seguintes parâmetros: (Z) = 1,96, que corresponde ao número de desvios padrão da distribuição normal com base no nível de confiança adotado de 95%, considerando o tamanho do universo estudado (N) de 30.571 habitantes; erro amostral (e) de 5% e o percentual máximo (p) de 8%.

Equação 1

Onde: n – tamanho da amostra N – população Z - variável normal padronizada associada ao nível de confiança p – verdadeira probabilidade do evento e – erro amostral

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Desta forma, obteve-se um total de 25 entrevistas como tamanho mínimo da amostra no universo de habitantes considerado. A pesquisa de campo com os usuários do bairro foi realizada com o auxílio de um questionário estruturado em três partes, sendo: (1) dados de registro; (2) dados individuais e (3) delimitação da unidade urbana bairro. Para a última parte, foi utilizado como instrumento auxiliar um mapa do bairro Jardim da Penha e adjacências disponibilizado pela Prefeitura de Vitória. Para cada participante da pesquisa, foi solicitado que identificassem os limites do bairro estudado sendo feitas duas perguntas abertas relacionadas à definição ou entendimento da palavra bairro, e quais foram os critérios utilizados para definir os limites do bairro. Destaca-se que somente foram entrevistados moradores ou usuários frequentes do bairro, sendo descartados aqueles que estavam no local aleatoriamente. Observa-se ainda que na pergunta relacionada aos limites do bairro, na eventual dificuldade do respondente em se orientar no mapa, o entrevistador foi instruído em localizá-lo por meio de pontos de referência, como escolas, supermercados, entre outros.

4 RESULTADOS Foram realizadas 26 entrevistas, sendo 38,5% de homens e 61,5% de mulheres. A faixa etária predominante foi de 22 a 30 anos e a maioria possui nível superior incompleto de educação formal. Quanto ao significado de bairro, 30,8% das respostas foram relacionadas à morfologia urbana, 50% abordavam aspectos de identidade e vida em comunidade, e 50% das respostas incluíam a estrutura disponível no local para as atividades cotidianas, como comércio, serviços e lazer. A Tabela 1 apresenta algumas respostas dos entrevistados à pergunta: O que é um bairro para você? Tabela 1. Exemplo de respostas à pergunta: O que é um bairro para você?

Morfologia Urbana

Integração/Identidade

Estrutura disponível

“ Uma comunidade” “Lugar onde as pessoas moram e que possa atender o máximo de necessidades possíveis do morador” “Local composto de moradia, onde os moradores se interagem” “Um local delimitado onde as pessoas vivem” “Local com moradias e comércio” “Um espaço com local de habitação, comércio, área de lazer e atividades” “Local onde tem casas, prédios, bairros vizinhos, onde as pessoas moram, frequentam e exercem atividades” “Local que ofereça estrutura para se viver bem, segurança” “Conjunto de prédios, casas e comércio” “Uma parte da cidade que une os habitantes com lugares específicos próximos” “Onde moro e vivo socialmente” Fonte: elaborado pelas autoras. ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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Observou-se que 69,2% dos respondentes indicaram limites territoriais semelhantes ao estabelecido pela Prefeitura Municipal de Vitória para o bairro Jardim da Penha. Destes, 77,8% eram moradores do bairro. No entanto, foi possível constatar também que o tempo de moradia do entrevistado não exerceu forte influência na delimitação dos limites, visto que pessoas com menor tempo de moradia delimitaram limites similares a antigos residentes do bairro. Quanto à motivação da seleção dos limites, 46,1% dos entrevistados justificaram suas escolhas baseados na vivência pessoal do bairro, 26,9% utilizaram equipamentos e comércios como referência para a delimitação, 15,4% se referenciaram por vias e praças, 7,7% responderam por intuição e 3,8% indicaram como referência a tipologia dos edifícios. Destaca-se, ainda, que 42,3% dos respondentes incluíram ao limite de Jardim da Penha áreas de bairros do entorno. Seja por manter a tipologia em ambos os lados dos limites legais estabelecidos, seja por as mudanças tipológicas não serem efetivamente reconhecidas pelos usuários. 57,7% dos entrevistados desconheciam a existência do bairro Pontal de Camburi, localizado ao sul do bairro Jardim da Penha, e 26,9% destes o julgaram parte integrante de Jardim da Penha.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando que a limitação de um bairro pressupõe a proposição de regras de funcionamento específicas, a compreensão do conceito, especialmente para planejadores e gestores do espaço público, deve ser clara e, também, facilmente perceptível aos usuários do local. Não se pode exigir uma gestão participativa da comunidade para a definição de diretrizes e regras para o desenvolvimento urbano quando não há uma identificação clara dos aspectos que diferenciam esta ou aquela parcela urbana, comumente denominada como “bairro”. Os estudos indicam que a percepção do conceito de bairro está mais relacionada à vivência dos espaços públicos e a estrutura disponível no bairro para as atividades cotidianas. Tais percepções influenciam na identificação dos limites do bairro e, por vezes, tendem a ir de encontro aos reais limites geográficos pré-estabelecidos.

REFERÊNCIAS BARROS, Sandra Leão. Que Recorte Territorial Podemos Chamar de Bairro? O caso de Apipucos e Poço da Panela no Recife. Revista de Urbanismo, N°9, Santiago de Chile, publicación electrónica editada por el Departamento de Urbanismo, F.A.U. de la Universidad de Chile. Jan. 2004. BEZERRA, Josué Alencar. Como definir o bairro? Uma breve revisão. Geo Temas. v.1. n.1. Pau dos Ferros, RN. jan./jun. 2011. p. 21-31. DIN, Hamam Serag; SHALABY, Ahmed; FAROUH, Elsayed, ELARIANE, Sarah. Principles of urban quality of life for a neighborhood. Housing and Building National Research Center. n. 09. 2013. p. 86-92. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatística de gênero. Notas técnicas. Divisão territorial. Divisão político-administrativa. Bairros. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/apps/snig/ v1/notas_metodologicas.html>. Acessado em: 10 de agosto de 2017. IJSN. Instituto Jones dos Santos Neves. VESCOVI, A. P. V. (coord.). Censo demográfico 2010 - Indicadores socioeconômico dos bairros dos municípios do Estado do Espírito Santo. IJSN. Nota técnica 29. Vitória, ES, 2012. LEFEBVRE, Henri. Barrio y vida de barrio. In: De lo rural a lo urbano. Barcelona: Ediciones Península, 1971. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. 3. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.227 p. LOBO, Inês. A Casa e a Cidade - Episódio 2 - Bairro | Reabitar.pt - Reabi(li)tar. Carvalho, R. (Coordenador

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Científico). Nov. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=WObLb_eA-N4>. SANTOS, Glauber Eduardo de Oliveira. Cálculo amostral: calculadora on-line. Disponível em: <http://www. calculoamostral.vai.la>. Acesso em: 16 set. 2017. TEIXEIRA, Marlene P. V.; MACHADO, Rosa Maria. Conceito de bairro: unidade popular ou técnica? In: CASTRO, Iná Elias (org.) Anuário do Instituto de Geociências, V. 10, UFRJ, 1

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DIAGNÓSTICO SANTOS DUMMOND UM ESTUDO DE PLANO LOCAL DE BAIRRO

(1) SANTOS, Anna Carolina; (2) PEREIRA, Fernanda; (3) TALIULI, Iuri; (4) DOANO, Juliana; (5) MARQUETTI, Leticia; (6) DRAGO, Lidia. (1) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, carol_lamas@outlook.com; (2) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, fernanda.rodrigues95@hotmail.com; (3) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, iuritaliuli123@gmail.com; (4) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, julianacoserd12@gmail.com; (5) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, leticiagobetti@hotmail.com; (6) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, lydiadrago@gmail.com

RESUMO Santos Dumont é um bairro localizado no município de Vila Velha, Espírito Santo. O presente resumo expandido representa o trabalho apresentado na disciplina de Planejamento Urbano I, no qual pretendeu-se gerar um diagnóstico do bairro Santo Dumont visando a elaboração de um Plano Local de Bairro. O diagnóstico compreende a análise atual do bairro. Por isso, os objetivos específicos são: estabelecer um panorama real das condições físicas, sociais e urbanas do local. Além disso, foi analisado o impacto das estratégias gerais municipais, como os parâmetros estabelecidos pelo Plano Diretor Municipal de Vila Velha. Foram identificadas deficiências e potencialidades locais, para que fossem aproveitadas nas ações do planejamento.

PALAVRAS-CHAVE: plano de bairro; urbano; planejamento; diagnóstico.

1 INTRODUÇÃO Tendo a linha de pensamento de Gehl como edificador desse plano de bairro se pode introduzir que o usuário dos espaços urbanos é muitas vezes esquecido e negligenciado, a escala humana não sendo pensada, as distâncias de visuais pouco valorizada, as fachadas pouco atrativas e uma desvalorização dos pedestres em relação aos outros meios de locomoção, são pontos fundamentais para se analisar e serem norteadores de mapeamento, transformando-se em ideias e proposições para um plano mais benéfico e humano. “Os convites basicamente determinam se os espaços da cidade têm a vitalidade que favorece o encontro entre as pessoas” (GEHL, 2014, p.23). Devido a isso foi proposto um bairro mais humano, com maior segurança, tentando trazer mais vitalidade e vivacidade. Logo, o presente trabalho tem como objetivo geral a elaboração do diagnóstico do bairro Santos Dumont, que se localiza no município de Vila Velha – Espírito Santo, visando a elaboração de um Plano Local de Bairro. O plano é um instrumento do Planejamento Urbano para a elaboração de estratégias e diretrizes em uma escala maior que, posteriormente a sua setorização através de programas, resultará em projetos. Sabe-se que o Planejamento Urbano é uma atividade minuciosa que, para ser executada, necessita de quatro principais etapas: o diagnóstico, o prognóstico, as propostas e a gestão. O diagnóstico compreende a análise atual do bairro. Por isso, os objetivos específicos são estabelecer um panorama real das condições físicas, sociais e urbanas do local. Além disso, pretende-se analisar o impacto das estratégias gerais municipais, como os parâmetros estabelecidos pelo Plano Diretor Municipal de Vila Velha. Serão identificadas deficiências e potencialidades locais, para que sejam aproveitadas nas ações do planejamento. Visando o estudo da morfologia urbana, da composição ambiental e indicando os anseios da população residente objetiva-se a integração dos conceitos formais aplicados a ações de planejamento para o bem-estar do cidadão e garantia da urbanidade. 76

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2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 O bairro analisado Santos Dumont é um bairro localizado no município de Vila Velha, Espírito Santo (Figura 1), fica próximo aos bairros: Ibes, Itaparica e Jardim Colorado assim como da Rodovia Carlos Lindemberg, via responsável de distribuir os fluxos vindos dos municípios vizinhos pelo município. Figura 1. Mapa da localização de Santos Dumont.

Fonte: mapa produzido pelo grupo no software ArcGIS, 2016.

O bairro pertence a Regional 2 – Grande Ibes. Vila Velha foi organizada em regionais administrativas pela prefeitura municipal para melhor atender as demandas da população. Teve sua origem na década de 1970 como um conjunto habitacional da antiga COHAB (Companhia Habitacional).

2.2 Instrumentos utilizados para elaboração da pesquisa Para realização do diagnóstico foi preciso conhecer o bairro Santos Dumont, saber de fato como é o dia a dia, como é a vida dos moradores. E para propor estratégias é necessário ir às raízes, descobrir as necessidades gerais, o que sentem falta, as dificuldades e até mesmo os benefícios do bairro. Assim foram feitas visitas frequentes ao bairro em que puderam ser observados os aspectos físicos e sociais como traçado das vias, lotes, usos, topografia, fluxos, precariedades, mobiliário urbano, gabaritos, afastamentos, massas de vegetação, vazios urbanos, equipamentos comunitários, tipologias construtivas das edificações, locais de insegurança, áreas de risco, condições de mobilidade, valorização imobiliária, comportamento, percepção ambiental, projetos e investimentos de impacto sobre a região do bairro. Além da realização de entrevistas com moradores e integrantes da associação de moradores que foram de fundamental importância para elaboração do trabalho. Foi efetuada uma análise da legislação e dos índices de órgãos municipais através de consulta a documentos disponibilizados pela Prefeitura Municipal de Vila Velha (PMVV). Assim como foi analisado o mapeamento do Google Earth e exploradas as ferramentas de 3D e fotografia para facilitar o reconhecimento da localidade. A partir dos dados recolhidos e das análises feitas para cada aspecto observado obteve-se o diagnóstico que contém a análise detalhada e um mapa síntese que foi feito com o auxílio do programa ArcGIS em que propõem os pontos de intervenção imediata para o bairro.

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3 RESULTADO E DISCUSSÃO A partir da elaboração do diagnóstico foi criado um mapa síntese (Figura 3), nele pode-se observar pontos que seriam de relevante intervenção, como é o caso da via principal do bairro que é a Rua Gil Bernardes da Silveira, uma importante rua de ligação entre bairros e a rua comercial de Santos Dumont, nela existem conflitos de automóveis e pedestres, precariedade nas calçadas, demanda cicloviária e mobiliário urbano em ruins condições de uso. Além disso, a insegurança no bairro é muito presente, mas principalmente próximo a igreja e a praça. Outro ponto importante a ser lembrado é a drenagem das ruas do bairro, mesmo com algumas obras realizadas os moradores ainda reclamam que em muitas ruas a situação só piora. No bairro existe um limite que é um muro de uma área de preservação, esse muro sofre com a ausência de humanização, sendo mais um ponto importante a ser melhorado (através de áreas de convivências e contemplação) para que as pessoas se sintam confortáveis ao passar próximo a ele. A apropriação de lotes vazios para propor algum tipo intervenção que pudesse ser de uso popular dispersando assim um pouco as concentrações da rua principal foi outro ponto com relevância a ser observado. O grupo também achou interessante apropriar-se de algum lote vazio para propor um tipo de intervenção que pudesse ser de uso popular dispersando assim, em parte, as concentrações da rua principal. Figura 3. Mapa Síntese

Fonte: mapa produzido pelo grupo no software ArcGIS, 2016.

4 CONCLUSÃO Com a elaboração do diagnóstico pode-se concluir que Santos Dumont tem pontos que precisam de melhorias, como os citados nos resultados e discussão e pontos que poderiam ser exaltados como a participação da comunidade em assembleias, aspecto de suma importância que contribui para urbanidade na cidade. Afinal, sem a presença dos moradores nenhum ponto segue adiante.

REFERÊNCIAS GEHL, Jan. Cidades para Pessoas. São Paulo, SP: Perspectiva, 2013. 262 p. LIRA, Pablo Silva. Geografia do Crime e Arquitetura do Medo: Uma Análise Dialética da Criminalidade Violenta e das Instancias Urbanas. Vitória: Gsa, 2014. 186 p. MACHADO, Antônio Marcus Carvalho. Vila Velha, Perfil Socioeconômico por Bairros. 2013. Disponível em: <http:// www.vilavelha.es.gov.br/midia/paginas/Perfil%20socio%20economico%20R2.pdf>. Acesso em: 19 out. 2016.

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MAPA. Disponível em: <http://pdm.vilavelha.es.gov.br/mapas/>. Acesso em: 7 out. 2016. MORADORES e comerciantes reclamam de assaltos e violência em Santos Dumont, em VV. Disponível em: <http://www.folhavitoria.com.br/policia/noticia/2013/03/moradores-e-comerciantes-reclamam-deassaltos-e-violencia-em-santos-dumont-em-vv.html>. Acesso em: 10 out. 2016. POPULAÇÃO Santos Dumont - Vila Velha. Disponível em: <http://populacao.net.br/populacao-santosdumont_vila-velha_es.html>. Acesso em: 21 out. 2016.

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MULTIPLICIDADE CULTURAL E IDENTIDADE CAPIXABA

A CONTRIBUIÇÃO DOS MERCADOS PÚBLICOS: O CASO DA CIDADE DE VITÓRIA/ES MENEZES, Raína de Alencar (1); MUNIZ, Andreia Fernandes (2) (1) Graduada em Arquitetura e Urbanismo, UVV, rahmenezes@gmail.com; (2) Professor Mestre, UVV, andreia.muniz@uvv.br

RESUMO O mercado é um forte elemento de atração de público e se revela como importante ferramenta para promover interação social e para estimular o uso do espaço público, além de espaço de difusão e divulgação da cultura de um povo. O Mercado é dinâmico por reunir aspectos de importância econômica, ao concentrar diferentes níveis de atividades comerciais; social, ao promover o encontro de pessoas; ambiental, ao propiciar a interação com a paisagem da cidade; cultural, pois é capaz de representar a identidade de um grupo social; e de entretenimento, apresentando potencial turístico. Neste contexto, aborda-se a identidade do povo capixaba a partir da correlação com seus espaços de mercados públicos. Pode-se compreender que os mercados públicos apresentados apostam, de alguma forma, na valorização de elementos da cultura local. Mas como estão situados em bairros distintos, e alguns comercializam produtos muito específicos, não se tem uma referência emblemática de Mercado.

PALAVRAS-CHAVE: mercado público; cidades; cultura; identidade capixaba.

1 INTRODUÇÃO Pode-se perceber através de uma análise dos aspectos históricos da civilização ocidental que o espaço do mercado aparece não só como um elemento importante para a atividade de troca de bens, mas como um espaço de encontro. As últimas décadas foram marcadas por uma mudança de comportamento acarretada pelos avanços tecnológicos e estímulos de um consumo globalizado. Dessa forma, o comércio se afastou da sua configuração mais primitiva e se agrupou em hipermercados, grandes centros comerciais ou shoppings centers. Essa mudança de comportamento também trouxe consequências para as cidades e seus usuários. A centralização dessas múltiplas atividades num único edifício fez com que as pessoas diminuíssem seus percursos para resolverem suas demandas, se afastando, assim, das atividades da cidade. Olhando para o cidadão, este globalizado, que consome o fast food americano, veste roupas que vem da Europa e utiliza eletrônicos asiáticos, percebe-se que sua sensação de pertencimento local está cada vez mais fragilizada. É necessário, então, reintroduzir no cotidiano desses indivíduos a caracterização do local, estimulando a valorização de produtos, manifestações regionais e identidades locais. Dessa maneira, o Mercado Público se mostra como um espaço importante para a cidade de Vitória/ ES por estimular a requalificação do seu entorno; promover usos múltiplos, concentrando no mesmo local diversas atividades; ser um ponto atrativo de passagem e permanência; e por fim, receber uma aglomeração de pessoas, enriquecendo o valor turístico da região onde está implantado. Neste contexto, este trabalho aborda a identidade do povo capixaba a partir da correlação com seus espaços de mercados públicos localizados na capital Vitória.

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2 A IDENTIDADE CAPIXABA O Espírito Santo (ES), localizado na região Sudeste do Brasil, se limita ao norte pelo estado da Bahia, faz fronteira ao sul com o Rio de Janeiro, ao leste faceia o Oceano Atlântico e ao oeste o estado de Minas Gerais. Em seus 46.078 km², que abriga quase 4 milhões habitantes atualmente (CENSO, 2010), o estado apresenta uma diversidade de relevos e climas, que muito contribuiu para o seu povoamento diversificado, e consequentemente para a formação da identidade capixaba. Para entender como isso ocorreu, é necessário remontar a história da ocupação do Espírito Santo. Assim como aconteceu na maior parte do litoral brasileiro, a ocupação do Espírito Santo se dá a partir da chegada de fidalgos portugueses em busca de novas terras para a coroa, no século XVI. Recepcionados por indígenas muito agressivos, os portugueses investiram numa batalha pelo domínio do território, que após alguns anos de luta, se estabelecem na região com cota mais elevada da vila, delimitada pelo mar, pelo maciço central e pelas áreas alagadiças, hoje conhecida como Cidade Alta, no Centro de Vitória, capital do estado. Durante o período colonial, as atividades da vila se concentraram nos seus arredores (OLIVEIRA, 2008). Dessa época, pode-se pontuar a influência – mesmo que reprimida – dos povos primitivos desta terra, os indígenas, bem como dos negros africanos que vieram nas embarcações portuguesas como escravos. É também nesse período que se inicia o intercâmbio entre o Espírito Santo e a cultura europeia, com a introdução de costumes portugueses (DADALTO, 2007). No século XVI, a capitania do Espírito Santo era considerada uma das mais prósperas das capitanias por conta da sua atividade de engenhos de açúcar. Entretanto, a descoberta de ouro e pedras preciosas na parte mais continental do país acarretaram num entrave no desenvolvimento da Villa da Victória. A capitania do Espírito Santo apenas recebia reforços para a estrutura de defesa, a fim de salvaguardar o território de exploração mineradora. Por isso, a cidade não passa por grandes transformações até o fim do século XIX (OLIVEIRA, 2008). Segundo Oliveira (2008), o declínio da mineração auxiliou para que outras atividades econômicas se desenvolvessem, como o comércio e a cultura do café. Esse progresso gerou uma demanda de expansão da vila. É neste período que grande parte dos imigrantes estrangeiros e migrantes chega ao estado. A explosão da atividade cafeeira e a abolição da escravatura impulsionou a vinda de imigrantes europeus para trabalhar nas lavouras. De acordo com Dadalto (2007), são inúmeras as etnias europeias que desembarcaram em terras capixabas, mas as de contribuição mais representativa são das populações italianas e alemãs, que se estabeleceram nas regiões serranas, de clima mais ameno, por fatores de adaptação. Também é válido ressaltar a migração nacional espontânea. O café impulsiona a procura de fazendeiros do Rio de Janeiro e de Minas Gerais por novas terras para expandir sua produção agrícola, principalmente na região Centro-Sul do Estado (DADALTO, 2007). Este período é, portanto, de grande importância para a construção da identidade do indivíduo capixaba, resultado da troca entre índios, negros africanos, europeus, cariocas e mineiros, dividindo um mesmo espaço. Justamente aí está a nossa identidade, um produto da fusão, da interação de rica mistura, processada em um ambiente rico em relevos e recursos naturais que enriqueceu ainda mais essa pluralidade, adaptando as nuances culturais segundo a convivência dos espaços encontrados por cada cultura, mas interagindo entre si (GUIZZARDI, 2001, p. 199).

Pode-se entender, então, que o capixaba é multicultural na sua essência. Seus costumes misturam traços de todas as culturas que se estabeleceram no Espírito Santo, talvez por isso seja tão delicado ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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apontar apenas um elemento que represente essa diversidade. Tem-se na panela de barro e na moqueca capixaba, herança indígena, um forte símbolo muito associado quando se fala de cultural local. A torta capixaba, outro item culinário típico da região, resultado de contribuições da cozinha portuguesa, africana e indígena, também é bastante lembrada. Mas a identidade não se molda apenas por hábitos alimentares. Garcia (2004) aponta outros elementos de igual importância, citando as manifestações artísticas culturais, como as congadas e as procissões religiosas; o artesanato, utilizando cerâmica e conchas; e a própria paisagem, composta por praia, mangue e montanhas. Trata-se, portanto, de uma combinação de elementos simbólicos que, associados, constroem o perfil dessa identidade. O capixaba é a culinária que mistura a polenta italiana e a farinha de mandioca indígena; é o ritmo africano misturado com a religiosidade portuguesa; é a cachaça e o café, remanescentes do seu cultivo durante a história desta terra. O capixaba remonta dentro do seu pequeno território a miscigenação tão própria do povo brasileiro. Na contemporaneidade, o sujeito não se apresenta em uma identidade fixa. Ele se comporta de formas diferentes dependendo do momento e o lugar em que está. Essa contradição contribui para a crise de identidade (ARAÚJO, 2011). Por isso se torna tão relevante a questão de reforçar o valor do local, a essência do lugar. A atmosfera do Mercado Público permite que produtos mais modernos sejam comercializados, assim como em grandes centros comerciais, mas estes se embaralham com produtos regionais. Em meio às ofertas dos comerciantes e seus jargões para atrair clientes, na confusão de cheiros e cores, tudo que está exposto nesse espaço se integra harmonicamente e remete às lembranças de outros tempos, “[...] que colaboram com a identificação de momentos da vida destes sujeitos: infância, adolescência e fase adulta” (ARAÚJO, 2011, p. 240). Compreende-se até aqui que o capixaba possui uma identidade caracterizada pela diversidade cultural, sob influência de diversas etnias, e que esta concepção não se deve estar associada somente ao trio “panela-de-barro/moqueca capixaba/torta capixaba”. Este é, sim, um símbolo muito representativo, mas não é o único. Na cidade de Vitória existem alguns lugares, cada um com suas especificidades, que contribuem para a valorização da identidade capixaba através da comercialização de produtos típicos regionais. Entretanto, são estruturas de pequeno e médio porte, localizadas isoladamente, o que dificulta a associação dessas culturas de maneira integrada. Pode-se citar, no Centro de Vitória, a Vila Rubim e o Mercado Capixaba; no bairro de Jucutuquara, o Mercado de São Sebastião; em Goiabeiras, o galpão das Paneleiras; e na Enseada do Suá, o Horto Mercado (figuras 1 a 3).

3 MERCADOS PÚBLICOS DE VITÓRIA/ES E DIFUSÃO DA IDENTIDADE CAPIXABA O tradicional Mercado da Vila Rubim existe desde a década de 1940. Como a sua formação se deu de maneira espontânea, com o comércio de rua, sua composição não se limita apenas a um edifício, mas ocupa várias ruas do bairro Vila Rubim. São aproximadamente 425 lojas que comercializam os mais diversos produtos, de artesanato e artigos religiosos, á ervas medicinais e produtos de pesca (RIBEIRO, 2010). O Mercado de São Sebastião em Jucutuquara, foi reinaugurado em 2010 para abrigar o Centro de Referência do Artesanato Capixaba. O edifício de 1949 esteve abandonado por 20 anos, e reabriu as portas com o intuito de abrigar trabalhos feitos manualmente, como bordados, peças customizadas, artesanato em palha, bambu, madeira e material reciclado. Além do comércio, o espaço também é palco de atividades culturais periódicas – Mercado Literário, Mercado do Samba e Mercado da Música –, organizadas pela Secretaria de Cultura de Vitória (RIBEIRO, 2010). Localizado em um edifício eclético da década de 1920 na Av. Princesa Isabel, também no Centro de Vitória, o Mercado Capixaba possui um pátio interno, por isso suas lojas são distribuídas como internas e externas. As lojas internas comercializam principalmente artesanato e peças de madeira, cerâmica e cestaria. Já as lojas externas atendem demandas mais comuns, como farmácia e alimentação. Por consequência de um incêndio ocorrido em 2002, o prédio teve a cobertura comprometida e permanece com essa patologia, contribuindo para a degradação do edifício (RIBEIRO, 2010). 82

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Goiabeiras é a casa do Ofício das Paneleiras, em que se confeccionam, de maneira mais tradicional, as Panelas de Barro. No galpão inaugurado em novembro de 2011, é possível acompanhar o processo de feitura desse item típico do Espírito Santo, além de adquirir um exemplar, dentre tantos modelos expostos nos boxes (REIS, 2012). Figura 1. Mercado da Vila Rubim (1) e Mercado São Sebastião (2)

(2)

(1) Fonte: Ribeiro, 2010. Montagem dos autores.

Figura 2. Fachada do Mercado Capixaba (1) e Merc Galpão das Paneleiras em Goiabeiras (2)

(2)

(1) Fonte: acervo dos autores, 2015. Montagem dos autores.

O Horto Mercado situado na Enseada do Suá, possui uma diversidade de lojas, que comercializam desde produtos artesanais, a itens de cervejaria e cachaçaria, todos com foco na produção local. Abriga também um supermercado e restaurantes. O ambiente climatizado e privativo se distancia da atmosfera de um Mercado Público, apesar da valorização do produto regional (RIBEIRO, 2010) Figura 3. Hortomercado, Enseada do Suá.

Fonte: acervo dos autores, 2015.

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4 CONSIDERAÇÕES A atividade do Mercado colabora para o desenvolvimento econômico e para a expansão dos limites urbanos, é ponto de encontro para trocas intelectuais, culturais e sociais, e se estabelece como um lugar onde a cultura de um povo pode ser representada graças a exposição de produtos típicos regionais. A ascensão da industrialização e o fenômeno da Globalização estabelecidos no século XX contribuíram para o afastamento do homem para com o seu lugar. Quanto mais distante e impessoal a relação do homem com o seu lugar, mais ameaçada está a sua cultura. Por isso, o Mercado Público é visto como uma solução, seguro suas devidas proporções, para reaproximar o homem, a cultura e a cidade. Devemos restituir à cidade as funções maternais, nutridoras da vida, as atividades autônomas, as associações simbióticas que por muito tempo têm estado omitidas ou esquecidas. Com efeito, deve a cidade ser um órgão de amor; e a melhor economia das cidades é o cuidado e a cultura dos homens (MUMFORD, 2004, pp. 620-621).

Em Vitória/ES é possível compreender que os mercados públicos apresentados apostam, de alguma forma, na valorização de elementos da cultura local. Mas como estão situados em bairros distintos, e alguns comercializam produtos muito específicos, não se tem uma referência emblemática de Mercado, que na cidade de Vitória, são estruturas de pequeno e médio porte, localizadas isoladamente, o que dificulta a associação dessas culturas de maneira integrada. O Mercado Público se torna, então, um equipamento de grande valor para a cidade, visto a sua capacidade de unir no mesmo espaço mercadorias e costumes das mais variadas origens de maneira holística.

REFERÊNCIAS ARAÚJO, G. de A. F. Continuidade e Descontinuidade no Contexto da Globalização: Um estudo de feiras em Portugal e no Brasil (1986-2007). Tese de Doutorado em História (Especialidade em Idade Contemporânea – UMINHO e História Social – UFBA) – Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Minho; Programa de PósGraduação em História Social, Universidade Federal da Bahia. 2011. Censo 2010. Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br>. Acesso em: 17 de outubro. 2014. DADALTO, M. C. Os rastros da diversidade da identidade capixaba. In: SINAIS – Revista Eletrônica – Ciências Sociais. Vitória: CCHN, UFES, Edição Especial de Lançamento, n. 01, v.1, Abril, 2007. p. 57-74. GARCIA, A. L. A identidade capixaba em questão: uma análise psicossocial. In: Psicologia & Sociedade. n. 16 (3), Set/Dez, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/psoc/v16n3/a10v16n3>. Acesso em: 04 de outubro. 2014. GARCIA, A. L. A identidade capixaba em questão: uma análise psicossocial. In: Psicologia & Sociedade. n. 16 (3), Set/Dez, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/psoc/v16n3/a10v16n3>. Acesso em: 04 de outubro. 2014. GUIZZARDI, S. Capixaba: um ser multicultural. In: SECRETARIA DE CULTURA DA PREFEITURA DE VITÓRIA. Escritos de Vitória 20: Identidade Capixaba. Vitória: A Secretaria, 2001. MUMFORD, L. A Cidade na História. Suas Origens, Transformações e Perspectivas. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. OLIVEIRA, J. T. de. História do Estado do Espírito Santo. Coleção Canaã, v. 8, 3. ed. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, Secretaria de Estado da Cultura. 2008. RIBEIRO, M. Vitória 459 Anos. Disponível em: <http://www.guiaeturismo.com/2010/12/vitoria-459-anos>. Acesso em: 08 de novembro. 2014.

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PROCESSO DE COLETA DE DADOS PARA ETIQUETAGEM DE EDIFICAÇÕES MULTIFAMILIARES MÉTODO PRESCRITIVO DO PBE EDIFICA

GIACOMIN, Regiane Faria (1); CALMON, João Luiz (2); (1) Instrutora de Educação Profissional, SENAI, rgiacomin@findes.org.br; (2) Professor Doutor, PPGEC, UFES, calmonbarcelona@gmail.com

RESUMO O PBE Edifica, Programa Brasileiro de Etiquetagem de Edificações, avalia a eficiência energética de empreendimentos residenciais, públicos, comerciais e de serviços, fornecendo a etiqueta nacional de conservação de energia, ENCE. Assim como nos equipamentos e veículos, a ENCE permite ao usuário identificar edificações com melhores classificações no consumo de energia, motivando o mercado consumidor a utilizar imóveis mais eficientes. Para tanto é necessário coletar dados como dimensões dos ambientes, características das aberturas, orientação solar e características térmicas dos materiais da envoltória. Sendo assim, este artigo tem o objetivo apresentar a análise do processo de coleta de dados para o cálculo da eficiência de 4 edifícios multifamiliares situados em Jardim Camburi, Vitória, ES. O resultado é uma planilha que auxilia na organização do processo de obtenção dos dados necessários para a alimentação do método prescritivo, visando auxiliar os profissionais da construção civil na aplicação do RTQ-R.

PALAVRAS-CHAVE: Procel, PBE Edifica, RTQ, eficiência energética, etiquetagem.

1 INTRODUÇÃO Considerando que cerca de 54% do consumo de energia elétrica brasileira é dos setores residenciais, comerciais, públicos e de serviços (BRASIL; MME; EPE, 2016) e o atual cenário de mudanças climáticas, ressalta-se a importância de repensar o planejamento das edificações, seus projetos arquitetônicos, ciclo de vida e processos construtivos. Deve ser previsto que as edificações são construídas para funcionarem por décadas, e que as melhorias após sua construção são mais difíceis e onerosas para serem implantadas. Em esfera internacional, têm sido desenvolvidas iniciativas visando a conservação de energia, como programas de etiquetagem e certificações ambientais. A crise energética de 2001 impulsionou as primeiras iniciativas brasileiras, como a Política Nacional de Conservação de Energia (BRASIL, 2001), e o Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações – Procel Edifica, instituído pela Eletrobrás/Procel em 2003. Desta forma, foram desenvolvidos os regulamentos técnicos da qualidade para o nível de eficiência energética de edifícios comerciais, de serviços e públicos (RTQ-C aprovado em 2009) e de edificações residenciais (RTQ-R aprovado em 2010), a partir de uma ação Procel e Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), e pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem de edificações, PBE Edifica. O objetivo é fornecer parâmetros para a classificação do nível de eficiência energética das edificações, consentindo a ENCE, Etiqueta Nacional de Conservação de Energia. (BRASIL; MDIC; INMETRO, 2009; BRASIL; MDIC; INMETRO, 2012). Por tanto, atendendo a necessidade de pesquisas, iniciativas e avanços sobre conservação de energia em edificações residenciais nas cidades brasileiras, o objetivo desta pesquisa é apresentar a análise do processo de coleta de dados para o cálculo da eficiência de 4 edifícios multifamiliares situados em Jardim Camburi, Vitória, ES.

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2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Método prescritivo do RTQ-R O RTQ-R é regido pela Portaria Inmetro nº 18, de 16 de janeiro de 2012 (BRASIL; MDIC; INMETRO, 2012). Possui como documentos complementares o RAC, Requisitos de Avaliação da Conformidade para Eficiência Energética de Edificações, (BRASIL; MDIC; INMETRO, 2013) e manual para sua aplicação (LABEEE et al., 2014). Com adesão voluntária, especifica métodos e requisitos técnicos para a classificação de edificações residenciais quanto à eficiência energética, possibilitando a etiquetagem de edificações unifamiliares, multifamiliares e das áreas de uso comum, ou seja, para cada um desses há uma ENCE específica. De tal modo que nesta pesquisa foram analisados critérios pertinentes a etiquetagem de unidades habitacionais (UHs) e edificações multifamiliares, não sendo objeto de estudo a etiqueta de Áreas de Uso Comum. Quanto às UHs, são avaliados os pré-requisitos e requisitos relativos ao desempenho térmico da envoltória, sistema de aquecimento de água e bonificações. O método de avaliação pode ser prescritivo ou por simulação computacional. Conforme a pontuação obtida é concedida a classificação que varia do nível A (mais eficiente) a E (menos eficiente). Essa classificação com outros dados do desempenho energético é documentada na ENCE fornecida ao imóvel avaliado. O método prescritivo do RTQ-R classifica as UHs através de uma equação (Equação 1) que fornece a pontuação total do nível de eficiência da UH (PTUH), envolvendo o EqNumEnv, equivalente numérico da envoltória, o coeficiente (a) correspondente à zona bioclimática (ZB) da edificação, o equivalente numérico do sistema de aquecimento de água (EqNumAA) e total de pontos obtidos com bonificações. PTUH = (a x EqNumEnv) + [(1 – a) x EqNumAA] + Bonificações

Eq. 1

Com aplicação do coeficiente para a região sudeste (0,65), verifica-se que o maior peso é pertinente à envoltória da edificação. Fernandes (2009) disserta que a envoltória é entendida como as superfícies de fachadas e coberturas expostas da edificação, determinando a carga térmica para o ar condicionado, e definindo a quantidade de luz natural e radiação direta, essenciais para o conforto térmico e luminoso. O desempenho térmico da envoltória é obtido através do equivalente numérico da envoltória naturalmente ventilada (EqNumEnv), sendo considerados o EqNumEnv para resfriamento (EqNumEnvResfr) e para aquecimento (EqNumEnvA). Nas ZBs de 5 a 8, o EqNumEnvA não é calculado. O sistema de aquecimento de água depende dos equipamentos utilizados, não sendo avaliada previsão para futuras instalações. Para cada sistema de aquecimento existem critérios de avaliação: solar, a gás, caldeiras e elétrico; inclusive sobre as tubulações e isolamentos térmicos. As bonificações são pontuações extras que visam incentivar o uso de soluções sustentáveis e referemse à pontuação atribuída a iniciativas que aumentem a eficiência da edificação, como ventilação e iluminação natural e uso racional da água, além da análise de condicionamento de ar, ventiladores de teto, iluminação artificial e refrigeradores. Podem somar até 1 (um) ponto na classificação geral da UH. O RTQ-R possui metodologia de cálculo que determina a obtenção de cada bonificação. Para garantir níveis de eficiência elevados, pré-requisitos devem ser atendidos, caso contrário a classificação máxima será “C”. Os pré-requisitos gerais são medição individualizada de água fria e eletricidade, com exceção dos edifícios construídos antes da publicação do RTQ-R (16 de jan. 2012). Além desses, há os pré-requisitos relacionados à transmitância térmica, capacidade térmica, absortância solar, ventilação e iluminação natural, que também devem ser respeitados; são aplicadas aos ambientes de permanência prolongada (APP): salas e quartos. Áreas mínimas para passagem de ventilação natural devem ser respeitadas nos APPs. Para a ZB8 o percentual de abertura para ventilação (fator Fvent) em relação à área útil do ambiente (A) deve ser maior ou igual a 10%. Deve ser utilizada para o cálculo, a tabela de descontos das esquadrias, disponível no Anexo II do RTQ-R (BRASIL; MDIC; INMETRO, 2012). Para atingir nível A, a UH deve possuir pelo menos 50% dos banheiros (exceto lavabos) com ventilação natural. Para iluminação natural, a soma das áreas de aberturas de cada ambiente deve corresponder a no mínimo 12,5% da área útil do ambiente, considerando também a tabela de descontos das esquadrias. Considerando as características de aberturas, além do fator Fvent, caso a abertura de um APP possua elemento externo que proporcione sombreamento, deve 86

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ser considerado o fator somb, que corresponde ao fator de sombreamento da abertura. Seu cálculo é feito de acordo com o Anexo I do RTQ-R. Esta pontuação varia de 0 (quando não há elemento de sombreamento ou quando não pode ser pontuada) a 1 (quando houver venezianas que cubram 100% da abertura se fechada).

2.2 Coleta de dados para aplicação do método prescritivo Vários são os dados necessários para alimentação do método prescritivo do RTQ-R. Torna-se importante o estudo do processo de etiquetagem através do RTQ-R, RAC, manual de aplicação e ambiente virtual do PBE Edifica. Análise de pesquisas acadêmicas sobre o tema também contribuem para o entendimento amplo do processo. Giacomin e Calmon (2016) apresentam uma revisão com análise de pesquisas que aplicaram a regulamentação específica do PBE Edifica. Além disso, eventuais dúvidas podem ser esclarecidas no fórum disponível no portal do PBE Edifica (acesso em 5 jul. 2017). Recomenda-se, para o cálculo, o uso da planilha editável desenvolvida pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações, LabEEE, disponível também no portal do PBE Edifica. Os dados coletados para a classificação dos edifícios desta pesquisa não consideraram a influência do entorno. Este critério foi utilizado, pois no RAC é informado que a eficiência energética atestada na ENCE “[...] pode ser comprometida ao utilizar o sombreamento das edificações vizinhas para melhorar seu nível de eficiência energética, caso estas edificações sofram alguma alteração construtiva” (BRASIL; MDIC; INMETRO, 2013, p. 18).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram coletados dados de 4 edifícios em Jardim Camburi com base no método prescritivo do RTQ-R e a partir das anotações feitas nas visitas técnicas e entrevistas com moradores e/ou engenheiros responsáveis, além de consultas aos projetos arquitetônicos aprovados na PMV e fotos da construção. Conforme consultado na ABNT NBR 15220-3 (2005), a zona bioclimática de Vitória é a ZB 8. Quanto à orientação solar das edificações, o método prescritivo do RTQ-R utiliza o norte geográfico e a implantação é definida dentro de um quadrante considerando norte (de 0 a 45,0° e de 315,1° a 360,0°), leste (de 45,1° a 135,0°), sul (de 135,1° a 225,0°) e oeste (de 225,1° a 315,0°) (BRASIL; MDIC; INMETRO, 2012). Nos produtos Google Geo as coordenadas são geográficas. Assim, foi utilizado o norte indicado pela seta no Google Earth (acesso em 16 dez. 2016) e conferido pelo método de verificação do norte verdadeiro pela carta solar. As cores externas foram definidas através de análise visual in loco. Com referência no item B do anexo geral V do RTQ-R e NRB 15220-2 (ABNT, 2008), foi adotada a cor correspondente mais próxima e seu valor de absortância (α). É necessário calcular o valor ponderado quando um ambiente possui mais de uma cor em suas paredes externas. Para a definição dos valores de transmitância térmica (U), foi necessário verificar com o morador /síndico ou em visita técnica as composições de materiais de paredes externas e cobertura, sendo adotado valor de referência conforme item B do anexo geral V do RTQ-R. Para a cobertura de um dos edifícios, foi realizado cálculo U de acordo com a NBR 152202 (ABNT, 2008), pois não há a sua composição no anexo geral V do RTQ-R (laje plana tensionada 18cm com telha de fibrocimento). As áreas de paredes externas e internas foram calculadas para atendimento ao método prescritivo do RTQ-R. Para tanto, foram determinadas as áreas das paredes externas de cada orientação, excluindo a área das aberturas de cada ambiente. As áreas de paredes internas também foram calculadas livres de aberturas, como as portas. Através das visitas técnicas, observou-se a presença de rebaixamento com placas de gesso em alguns apartamentos, alterando o pé-direito original. O Quadro 1 apresenta uma planilha com os dados necessários para a alimentação do método prescritivo do RTQ-R e a(s) fonte(s) utilizada(s), de acordo com a experiência de coleta dos 4 edifícios estudados em Jardim Camburi, Vitória, ES.

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Quadro 1 – Dados necessários para o cálculo pelo método prescritivo e fontes para a coleta. Dados coletados

Projeto Arquitetônico

Visita in loco

Entrevista com moradores/ Síndico e/ ou Registro fotográfico

Zona Bioclimática

ABNT

Anexos RTQ-R

X

Norte geográfico Ano de aprovação do projeto na PMV

X X

Medição individualizada de energia

X

X

Medição individualizada de água fria

X

X

Medição individualizada de água quente

X

X

Área da UH

X

Área útil da UH (sem paredes e varandas)

X

Número de Pavimentos

X

Número de UHs por Pavimento

X

Pé-direito (piso a teto)

X

Número de Quartos por UH

X

Número de Banheiros por UH

X

Número de Banheiros com ventilação natural por UH

X

UH com ventilação cruzada

X

X

Sistema de aquecimento de água

X

X

Elementos economizadores de água potável

X

X

Transmitância térmica (U) das paredes externas

X

X

Capacidade Térmica (CT) das paredes externas

X

X

Absortância (α) das cores das paredes externas

X

X

Transmitância térmica (U) da cobertura

X

X

Capacidade Térmica (CT) da cobertura

X

X

88

Google Earth

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Absortância da cobertura

X

Se o APP possui cobertura voltada para o exterior

X

Se o APP possui laje em contato com o solo

X

Se o APP possui laje sobre pilotis

X

Área útil do APP sem corredor

X

Área útil do APP com corredor

X

Área de paredes internas do APP

X

Área de paredes externas do APP

X

Área e tipo das aberturas externas do APP

X

Elementos de sombreamento externos

X

X

Centro geométrico das aberturas de APP

X

X

Refletância do teto dos APPs, cozinha e área de serviço

X

X

Profundidade dos APPs, cozinha e área de serviço

X

X

Distância entre o piso e altura máxima da abertura, sem os caixilhos, nos APPs, cozinha e área de serviço

X

X

ENCE A ou Selo Procel em fontes de iluminação artificial, ventiladores de teto, refrigeradores

X

X

X

X

X

4 CONCLUSÕES Para que a classificação e desempenho energético dos edifícios residenciais seja calculada, foi definida a metodologia e, de acordo com esta, coletados os dados. Foram necessárias informações referentes às características físicas e geométricas (como área de paredes, ventilação, pé direito, materiais componentes das paredes e coberturas, cor, entre outros), além do tipo de sistema de aquecimento de água, existência nas UHs de elementos economizadores de água potável e eficiência das lâmpadas e aparelhos, zona bioclimática do bairro e posição das edificações em relação ao norte geográfico. Para a análise e coleta dos dados, torna-se fundamental visita à edificação e acesso a registro documental e fotográfico da situação atual do imóvel e a informações sobre os elementos de composição de paredes e cobertura. Estes últimos nem sempre estão disponíveis, cabendo entrevistas a moradores/ síndico que já reformaram ou fizeram alguma manutenção nos imóveis. Outra dificuldade é a definição da absortância do revestimento externo de paredes, pois suas cores geralmente são definidas visualmente e a absortância consultada no anexo geral V do RTQ-R, sendo utilizada a cor que mais se aproxima e considerando o acabamento pintura. Há aparelhos que fazem essa medição, no entanto não são tão disponíveis para aluguel ou empréstimo. Uma sugestão é que os fabricantes de materiais disponibilizem tais dados em catálogos técnicos e que os projetistas especifiquem os materiais informando esses valores em projeto. Outra sugestão é que a academia contribua na elaboração de um ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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catálogo de materiais mais abrangente, que complemente o anexo V do RTQ-R. O método prescritivo atende a formas geométricas mais simples, como o caso dos 4 edifícios estudados. No entanto, para formas mais complexas, entende-se a simulação computacional ser mais adequada. Espera-se que os resultados apresentados contribuam para melhor entendimento da aplicação do método prescritivo do RTQ-R quanto à coleta de dados, cooperando para seu uso inclusive na fase de concepção projetual e divulgando o processo brasileiro de etiquetagem para edificações residenciais.

AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPES – Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do ES.

REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-2: Desempenho térmico de edificações. Parte 2: Método de cálculo da transmitância térmica, da capacidade térmica, do atraso térmico e do fator solar de elementos e componentes de edificações. 5 partes. Rio de Janeiro, 2005, Versão Corrigida: ABNT, 2008. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-3: Desempenho térmico de edificações. Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. 5 partes. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. BRASIL. Lei nº 10.295, de 17 de outubro de 2001, Lei de Eficiência Energética. Dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e dá outras providências. Brasília, 2001. BRASIL; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior (MDIC); Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (INMETRO). Portaria nº 163, de 08 jun. 2009. Aprova a revisão do Regulamento Técnico da Qualidade do Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C). BRASIL; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior (MDIC); Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (INMETRO). Portaria nº 18, de 16 de janeiro de 2012. Aprova a revisão do Regulamento Técnico da Qualidade - RTQ para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Residenciais (RTQ-R). BRASIL; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior (MDIC); Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (INMETRO). Portaria nº 50, de 01 de fevereiro de 2013. Aprova o aperfeiçoamento dos Requisitos de Avaliação da Conformidade para a Eficiência Energética de Edificações (RAC). BRASIL; MME; EPE. Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2016: Ano base 2015. Rio de janeiro: EPE, 2016. FERNANDES, Júlia Teixeira. Código de Obras e Edificações do DF: Inserção de conceitos bioclimáticos, conforto térmico e eficiência energética. 2009. 249 p. Dissertação - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UnB. Brasília, 2009. GIACOMIN, Regiane Faria; CALMON, João Luiz. Processo de Etiquetagem de edificações (PBE Edifica): Uma revisão. In: SBE16 Brazil&Portugal, 2016, Vitória. Anais Eletrônicos... Disponível em: <http://sbe16.civil.uminho. pt/app/processo-de-etiquetagem-de-edificacoes-pbe-edifica-uma-revisao/>. Acesso em 30 ago. 2016. LABEEE; UFSC; PROCEL EDIFICA; ELETROBRÁS; INMETRO. Manual para Aplicação do RTQ-R 4.2, com base na Portaria nº18/2012, Versão 1, atualizada em 2014. PBE EDIFICA. Portal do PBE Edifica. Disponível em: <http://www.pbeedifica.com.br/>. Acesso em 05 jul. 2017.

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METODOLOGIA DE PESQUISA

ORIENTAÇÕES PARA CONSTRUÇÃO DE QUESTIONÁRIO SANTOS, Paula Emely Cabral Torres (1); MESQUITA, Raquel Corrêa (2); LYRA, Ana Paula Rabello (3); (1) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UVV, paulaemely@gmail.com (2) Mestranda em Arquitetura e Cidade, UVV, raquel_cm13@hotmail.com; (1) Professor Doutor, UVV, ana.lyra@uvv.br

RESUMO O questionário na pesquisa científica se faz importante tendo em vista a coleta para produção de informações a partir de fontes primárias, para a compreensão das diferentes realidades a partir do ponto de vista do usuário de um dado espaço. O objetivo deste resumo é socializar alguns procedimentos que se mostraram relevantes na construção e aplicação do questionário desenvolvido para a pesquisa “Estratégias socioambientais para inibição de ações anti sociais: um estudo de caso do Bairro Bento Ferreira e seu entorno, em Vitória, ES”. Para isto, foi realizada uma revisão bibliográfica de forma a levantar aspectos da pesquisa de campo, seguida de um treinamento da equipe e realização de dois pré-testes que resultou em um questionário de 20 questões, contemplando cinco eixos temáticos da pesquisa. O questionário foi aplicado aos moradores do bairro Bento Ferreira, como forma de avaliação da Vitalidade Urbana na região na perspectiva dos usuários do espaço.

PALAVRAS-CHAVE: metodologia; questionário; pesquisa.

1 INTRODUÇÃO O projeto de pesquisa “Estratégias socioambientais para inibição de ações anti sociais: um estudo de caso do Bairro Bento Ferreira e seu entorno, em Vitória, ES” surgiu da necessidade de produção de informações que pudessem justificar morfologicamente o aumento do número de ocorrências de crimes na área de estudos. A escolha da área de pesquisa foi determinada a partir de uma análise do território da capital que identificou que os bairros do entorno de Bento Ferreira (Gurigica e Jesus de Nazareth) evidenciavam historicamente elevados registros criminais com altos níveis de homicídios enquanto no bairro mais privilegiado do ponto de vista socioeconômico sobressaiam os crimes violentos contra o patrimônio. Partindo do princípio da demanda por espaços urbanos, que favoreçam uma reação corporal inclusiva e estimulante as relações interpessoais, o projeto de pesquisa propôs investigar, a luz da metodologia da Prevenção do Crime Através do Desenho Urbano, a vulnerabilidade dos espaços compreendidos no bairro Bento Ferreira, em Vitória. Conhecer os dados a partir da fonte primária, segundo Serra (2006), possibilita a coleta de informações diretamente da realidade, desta forma, quando busca-se compreender um determinado fenômeno social é de fundamental importância conhecer os sujeitos que estão envolvidos no processo e como eles percebem a realidade na qual estão inseridos. Para conseguir obter os dados primários, optouse pela aplicação de questionários, através de entrevista ou auto aplicação, uma vez que o uso de questionários é uma técnica de investigação relevante para a tradução de objetivos da pesquisa em perguntas específicas, conforme descrição de Gil (2008). O uso desse instrumento tornou possível testar as hipóteses da pesquisa e o conhecimento de informações ainda não coletadas, como a percepção dos moradores acerca da Vitalidade Urbana no Bairro.

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2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Revisão Bibliográfica A relação entre violência e espaço urbano é direta ao esvaziamento das cidades. Quanto mais inseguras as pessoas se sentem menor é o convívio social nos espaços públicos. A violência presente nas cidades e divulgada pela mídia tem afastado as pessoas dos espaços públicos isolando-as em enclaves fortificados (CALDEIRA, 2011). Esta situação é agravada na medida em que a cidade formal cresce isolada em condomínios que reproduzem uma arquitetura introspectiva e o espaço urbano se adensa carecendo de opções que estimulem o convívio social. A cidade é entendida como um fenômeno social complexo, pois nela acontecem diversas atividades que influenciam no cotidiano da população. Com relação a segurança, existem fatores que explicam em parte o fato de determinado lugar ser inseguro e estratégias que podem ser aplicadas para que estes se tornem mais atrativos a partir da presença de pessoas. Neste contexto, surge o método do CPTED, que traduzido significa Prevenção do Crime através do Desenho Urbano, que consiste em estratégias para intervir no espaço físico construído para diminuir ou eliminar incidências criminosas. Este método trabalha com base em quatro estratégias, que visam identificar aspectos da morfologia da cidade e formas de utilização do espaço urbano pelo usuário, que podem garantir a redução ou eliminação de delitos. As estratégias são a vigilância natural, a territorialidade, o controle natural dos acessos e a manutenção dos espaços públicos. Atrelado a esta realidade, estão estudos de autores como Jacobs (2011) e Gehl (2013), que tratam de aspectos da vitalidade urbana, que se relaciona com a diversidade de usos que um bairro ou cidade oferecem, com a qualidade dos espaços públicos, que favoreçam a passagem e permanência de pessoas, dentre outros. Deste modo, locais com maior quantidade de pessoas circulando, tende a garantir maior segurança e vitalidade para a cidade. Com base nestas questões, um dos objetivos da aplicação do questionário, voltado apenas para moradores, foi identificar se o bairro de Bento Ferreira contempla elementos que estejam de acordo com a teoria estudada e quais são os motivadores ou inibidores da presença de pessoas nas ruas, buscando verificar a aplicação do método do CPTED e dos elementos de vitalidade urbana através da percepção dos usuários.

2.2 Elaboração do questionário Serra (2006) aponta que toda pergunta que compõe um questionário é uma forma de coleta de dados em fontes primárias e devem ser elaborados de forma objetiva, para que não haja perda de tempo tanto do entrevistado quanto do entrevistador, além de perguntas que não sejam inúteis ou secundárias para o resultado esperado. Tendo em vista estas informações e o questionamento que o autor traz como sendo importante o entrevistador fazer ao elaborar as questões, como “que fim darei a essa informação?” (SERRA, 2006, p.135), o questionário foi proposto para responder às demandas da pesquisa e que fosse de fácil compreensão para o entrevistado, com questões claras e objetivas de forma que o entrevistado pudesse, eventualmente, responder sem o auxílio do entrevistador e de forma que o tempo máximo estivesse em torno de 10 minutos, podendo se estender ou reduzir conforme objetividade nas respostas dos entrevistados. O questionário aplicado aos moradores do bairro foi utilizado como uma forma de levantamento de dados relativo a percepção dos moradores sobre a Segurança e Vitalidade Urbana de Bento Ferreira. Para isto foram elaboradas questões abertas, semiabertas e fechadas divididas em cinco eixos temáticos, que tinham por objetivo completar informações de diferentes áreas dentro da pesquisa. Eixo 01- Perfil do Entrevistado (questões 1, 2 e 3) Eixo 02 – Caracterização do Uso do Bairro pelas Pessoas (questões 4, 5 e 7) Eixo 03 - A Dinâmica do Entorno na Vida dos Moradores (questão 6) Eixo 04 – Como as Pessoas Percebem e Interagem na Segurança Urbana (questões de 8 a 19) Eixo 05 – História Oral (questão 20)

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O questionário era composto de questões de diferentes padrões, tendo perguntas de múltipla escolha, mapas e tabelas a serem preenchidos. Para sua elaboração, utilizou-se o programa Microsoft Word juntamente com o software ArcGis, para a elaboração dos mapas. Foi criado também um questionário online através da plataforma Google Docs, que auxiliou na tabulação dos resultados obtidos.

3 CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO O primeiro modelo de questionário foi construído com base nas informações teóricas estudadas pela equipe e com base em informações que precisavam ser coletadas para a continuação da pesquisa, que estavam relacionadas a percepção dos moradores acerca da vitalidade urbana do bairro. Com isso, o modelo desenvolvido continha questões referentes aos cinco eixos temáticos destacados anteriormente que visavam responder as questões necessárias. Tendo este modelo elaborado, foi feito um preparo da equipe para realizar a aplicação do questionário, através de uma oficina que tratou sobre métodos de abordagem em pesquisa. Com a equipe treinada, no mês de agosto de 2016, foi feito um trabalho em conjunto com uma turma do primeiro período do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, dentro da disciplina de Cidade, Segurança e Saúde, ministrada pela professora orientadora e coordenadora da pesquisa, cujo objetivo foi integrar pesquisa e extensão e inserir os alunos no âmbito acadêmico de coleta de informações, além de auxiliar na aplicação do primeiro pré-teste do questionário. Os alunos, divididos em grupos e espalhados por trechos do bairro, foram orientados pelas bolsistas treinadas da pesquisa e tiveram a tarefa de aplicar alguns questionários a moradores que caminhavam pela rua e dispostos a responder as perguntas, cientes do objetivo e tempo médio de duração da aplicação do questionário. Neste primeiro momento, com a devida autorização dos entrevistados, foi feita a gravação do áudio das perguntas para que fosse possível, no futuro, identificar eventuais questões que pudessem gerar algum conflito e que precisassem de alteração, ou até mesmo determinada fala do morador que pudesse indicar uma questão em potencial. Com o resultado desta coleta inicial foi possível o grupo de pesquisa verificar se havia alguma necessidade de alteração nas perguntas, seja na redação ou formato da questão ou mesmo a eliminação ou acréscimo de alguma outra indagação. A partir desta etapa, foram feitos ajustes no questionário e nos meses de setembro e outubro de 2016 a equipe realizou um segundo pré-teste no bairro, com quantidade menor de entrevistados, que auxiliou a verificar se as adaptações realizadas atendiam ao objetivo proposto pelo questionário. Com o segundo pré-teste finalizado, foi possível realizar os últimos ajustes e chegar ao resultado final do questionário, que ficou composto por vinte questões. Ambos os pré-testes foram fundamentais, também, para identificar possíveis questões que pudessem estar induzindo a resposta do entrevistado, de forma que estas fossem alteradas para garantir a confiabilidade da pesquisa, conforme aponta Serra (2006). Para a coleta de dados primários através de questionário, o pré-teste se torna um procedimento um procedimento fundamental, pois é a partir dele que é realizado o refinamento do questionário, chegando assim a um questionário mais adequado às demandas da pesquisa e no caso do presente estudo os pré-testes realizados auxiliaram na construção de um questionário que pudesse responder as questões levantadas na pesquisa sem induzir o entrevistado em suas respostas. Nos meses de março a junho de 2017 foi realizada a aplicação final do questionário aos moradores do bairro. Foi nesta etapa a maior dificuldade encontrada pela equipe, visto que o método utilizado no pré-teste de abordar os moradores na rua estava se mostrando ineficiente tendo em vista o número de entrevistados necessários e o tempo para a conclusão da pesquisa. Recorreu-se então, a outras estratégias para alcançar os moradores e a primeira dela foi identificar aqueles locais onde na fase de mapeamento do bairro, realizada antes do pré-teste, possuíam maior concentração de pessoas, como as padarias e praça, assim como os horários com maior circulação, comuns para ambos os locais, sendo o fim do horário comercial e o início da noite. Com isso, as idas a campo permaneceram, porém foram agendadas reuniões, através da associação de moradores, para que o grupo apresentasse a pesquisa aos residentes e estes, indo a reunião, pudessem responder as perguntas; contato com o presidente da associação de moradores, que auxiliou na aplicação a moradores conhecidos e contato de moradores através de pessoas conhecidas dos membros da pesquisa que se disponibilizaram ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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e/ou indicaram pessoas disponíveis a entrevista. Com isso, o contato com grupos locais, como o grupo de pessoas que passeiam com os cachorros no bairro e associações de moradores, foram de fundamental importância para a coleta de dados. Com isso, utilizou-se dois formatos de aplicação, o primeiro foi presencial, onde o pesquisador aplicava o questionário realizando as perguntas e preenchendo as respostas, individualmente ou em dupla com outro pesquisador e no segundo formato o instrumento era entregue ao entrevistado e retirado por algum membro da equipe de pesquisa assim que seu preenchimento estivesse concluído. Outro fator determinante para o levantamento de fonte primária através de aplicação de questionário é o tempo e forma de deslocamento dos entrevistadores e o custo para aplicação do mesmo (SERRA, 2006). Para esta pesquisa, a equipe teve o apoio da Universidade Vila Velha e da FAPES, que custearam a compra de pranchetas e impressão dos questionários. Em relação a deslocamento grande parte das visitas foram realizadas com o transporte da Universidade, entretanto, tendo em vista a necessidade de voltar a campo diversas vezes na semana e em horários alternativos, foi utilizado transporte particular para deslocamento, o que não estava previsto anteriormente, mas que com a necessidade fez-se necessário, ficando este custo por conta particular, fora das verbas e recursos destinados à pesquisa. A amostra atingida foi de 100 pessoas, correspondendo assim a um dado com 95% de confiabilidade e margem de erro de 9,75%. Esta amostra se baseia em um universo de 5562 pessoas, quantidade de moradores do bairro conforme censo do IBGE de 2010. Não é a amostra ideal, que atingiria uma margem de erro de 5 a 6% que corresponderia de 278 a 236 entrevistas, entretanto, devido às intercorrências e prazo de finalização da pesquisa, não foi possível alcançar um número maior de moradores. Seria importante a aplicação do questionário de forma mais distribuída no território, porém não foi possível atingir esse campo devido ao prazo de finalização da pesquisa. O uso desse instrumento possui muitas variáveis que fogem do controle do pesquisador, assim acredita-se que sua aplicação ao longo de toda a pesquisa torna o alcance da amostra ideal mais viável. As entrevistas realizadas ocorreram de modo equilibrado, à medida que os poucos pontos de concentração de entrevistados correspondem às regiões com gabaritos mais altos. A escolha de distribuição a partir de concentração de moradores por região torna a amostra equilibrada no viés de proporção de pessoas, porém ela não é equilibrada no quesito de distribuição absoluta no espaço.

4 CONCLUSÃO O uso do questionário como instrumento de coleta de dados se mostrou de fundamental importância para a pesquisa, pois através dele foi possível ouvir as pessoas que vivem no bairro e conhecer a realidade a partir do usuário. A construção do questionário foi um trabalho complexo que demandou dedicação de todos os membros da equipe nas suas diversas etapas: revisão de literatura; identificação das questões que precisavam de respostas e que não poderiam ser adquiridas por outra fonte; construção do questionário; pré-teste; coleta de dados; tabulação. Destacou-se nesse processo a execução do pré-teste pois sem a sua aplicação não seria possível um conhecimento real do cenário pesquisado, onde as perguntas poderiam não proporcionar as respostas necessárias ou gerar um falso resultado. Um planejamento detalhado de todas as etapas que envolvem a aplicação deste tipo de instrumento é elemento primordial para a sua aplicação adequada, inclusive as possíveis intercorrências advindas do fato da fonte de informações ser um objeto que não se tem controle: os moradores. Desta forma, uma gestão do processo por toda a equipe é essencial para se alcançar os objetivos, o uso deste tipo de instrumento demanda muito tempo e esforço dos pesquisadores.

REFERÊNCIAS CALDEIRA, Teresa Pires. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34 / Edusp, 2011 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo, SP: Perspectiva, 2013. xv, 262 p.

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GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª Ed. São Paulo: Editora Atlas S.A, 2008 JACOBS, Jane. Morte e Vida nas Grandes Cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. (Coleção a) SERRA, Geraldo Gomes. Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo: guia prático para o trabalho de pesquisadores em pós-graduação. São Paulo: Edusp / Mandarim, 2006

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PARQUES URBANOS BRASILEIROS: DA IMPLANTAÇÃO À GESTÃO URBANA

UM ESTUDO DOS MUNICÍPIOS DE SÃO PAULO (SP) E VITÓRIA (ES) MESQUITA, Raquel Corrêa (1); LYRA, Ana Paula Rabello (2) (1) Mestranda em Arquitetura e Cidade, UVV, raquel_cm13@hotmail.com; (2) Professor Doutor, UVV, ana.lyra@uvv.br

RESUMO Os parques urbanos surgem da necessidade de dotar as cidades de espaços de lazer e promover a qualidade de vida de seus usuários. Entretanto existem algumas deficiências em relação a definição de suas características, ficando a responsabilidade pelo estabelecimento e gestão destes espaços para o poder municipal. Este trabalho visa entender como o município de São Paulo (SP) faz a gestão destes espaços, buscando elementos que contribuam no processo de gestão dos parques existentes em Vitória (ES). Para isto, foi realizada a revisão bibliográfica das legislações referentes à gestão dos municípios estudados. Percebeu-se, com o estudo, que o município de Vitória ainda não possui estratégias claras e definidas em leis para a gestão de seus parques, enquanto São Paulo possui estudos e legislações específicas e de grande relevância para este fim. Com isso, espera-se que este trabalho contribua para o debate referente ao desenvolvimento de estratégias de gestão para Vitória.

PALAVRAS-CHAVE: parques urbanos; espaços livres; gestão urbana.

1 INTRODUÇÃO Os parques urbanos fazem parte do sistema de áreas verdes livres de uso público e possuem diversas funções dentro do espaço urbano, podendo preservar resquícios de matas nativas dentro das cidades, promover atividades culturais, esporte e lazer, além de auxiliarem no contato do homem com a natureza, buscando melhorar a qualidade de vida dentro de um contexto urbano consolidado. No Brasil já existem municípios com parques urbanos desde 1970, como é o caso de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, referências nesta tipologia de equipamentos. O município de São Paulo, por sua vez, possui planos específicos para a gestão de parques urbanos e incorporou, no ano de 2014, assuntos referentes a estes espaços em seu PDE (Plano Diretor Estratégico). Em função destas informações e tendo em vista que a responsabilidade maior pela gestão dos parques é do poder público municipal, este artigo se propõe entender quais estratégias a cidade de São Paulo (SP) tem utilizado para realizar a gestão de seus parques urbanos, buscando realizar um comparativo com o município de Vitória (ES), de forma a contribuir no desenvolvimento de planos de gestão de parques para a cidade, utilizando como referência os estudos acerca de São Paulo.

2 MATERIAL E MÉTODOS Para o desenvolvimento deste trabalho adotou-se como metodologia a revisão bibliográfica, realizada a partir de estudos de materiais já publicados, incluindo livros, artigos e legislações de âmbito municipal. Esta metodologia foi utilizada para analisar os planos municipais de São Paulo e Vitória referentes a espaços verdes de uso público e, quando existente, da gestão de parques urbanos. Com isso, pretende-se chegar a um estudo que possa ser utilizado como referência para o município de Vitória na elaboração de seu plano de gestão dos parques urbanos existentes.

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3 ESTRATÉGIAS DE GESTÃO EM SÃO PAULO (SP) A cidade de São Paulo, na metade do século XIX, possuía uma população de aproximadamente 20.000 habitantes. Neste período, a Revolução Industrial já era presente na Europa mas no município não houve grandes transformações urbanas decorrentes deste processo. Ao contrário disso, predominava na cidade uma grande cobertura vegetal proveniente da Mata Atlântica. Entretanto, começava a surgir a necessidade da criação de áreas verdes para que a população, sem grandes esforços, pudesse ter um convívio com a natureza (GUIA DOS PARQUES MUNICIPAIS DE SÃO PAULO, 2010). Costa e Camargo (2012) em seu trabalho, abordam a questão da exclusão associada aos parques da cidade, apontando que as áreas mais carentes e com maior índice de exclusão, identifica-se a menor quantidade de parques urbanos, possuindo apenas grande concentração de unidades de conservação (extremo norte e sul), que não permitem atividades de lazer, enquanto a área central do município, que possui menor índice de exclusão e onde se localizam os bairros mais tradicionais, como o Jardins, concentra a maior quantidade de parques urbanos municipais, fazendo com que a distribuição de espaços verdes para a população seja desigual. Limnios e Furlan (2013) corroboram este ponto de vista afirmando haver uma distribuição irregular das diferentes tipologias de parques dentro do município (figura 1). Figura 1. Mapa de exclusão e mapa de áreas verdes do município de São Paulo

Fonte: Costa e Camargo, 2012, p.18

A partir de 2005, com o intuito de reestruturar o aspecto ambiental do município e minimizar os efeitos do aquecimento global, criaram-se programas e projetos, onde a questão climática sempre estava presente. Dentro deste contexto, criou-se, dentro do departamento de Verde e Biodiversidade, o Programa 100 Parques. Este programa visava aumentar a quantidade de área verde na cidade, buscando neutralizar a ação dos gases do efeito estufa. Para isso, aumentou-se, significativamente a quantidade de parques municipais, que saíram de 34, em 2005 para 60, em 2009 e objetivando chegar a 100, no ano de 2012, informação que ainda não é encontrada em publicações, afirmando se a meta foi alcançada ou não. Uma forma de viabilizar a implantação de tantos parques foi a criação, através do Plano Diretor Estratégico (2014), do fundo municipal de parques, que se trata de um mecanismo inédito de coANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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financiamento entre sociedade civil e Poder Público para aquisição de parques planejados no PDE, onde para cada real doado por um cidadão ou empresa, a prefeitura deverá contribuir com a mesma quantia. O objetivo deste mecanismo é garantir, com a parceria e contribuição de cidadãos e do setor privado, a aquisição das áreas necessárias para viabilizar os parques propostos. Visto a necessidade do município em apontar as diretrizes de gerenciamento e utilização dos parques urbanos, foi desenvolvido, no ano de 2008, um documento que constam diretrizes para o modelo de gestão dos parques municipais de São Paulo, elaborado através de parceria do ISA (Instituto Socioambiental) com administradores de parques urbanos e o poder público municipal, representado pela SVMA (Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente). Para a elaboração do projeto foram feitos levantamentos de campo em parques existentes, reuniões e análises sobre a situação dos parques estudados, oficinas com os administradores dos parques e pesquisas com os usuários, para que fosse possível propor instrumentos de gestão compatíveis com as especificidades de cada espaço (ISA, 2008).

4 ESTRATÉGIAS DE GESTÃO EM VITÓRIA (ES) A chegada do século XX resultou em uma nova fase tanto para o Brasil quanto para o Espírito Santo, com a necessidade de modernização frente às nações europeias. Neste sentido, houve um processo acelerado de urbanização, onde incentivou-se a indústria e a expansão do comércio. Neste período a produção de café no Espírito Santo estava em pleno desenvolvimento e Vitória foi “privilegiada não apenas no âmbito econômico e comercial, mas também no aspecto urbano e cultural” (FILHO, 2012, p.10). Com esta nova realidade, Vitória se encontrava em fase de adaptação, mas ainda com estrutura econômica e cultural precária, onde possuía apenas um teatro e grande carência de espaços públicos de diversão e sociabilidade. Foi dentro deste cenário que, no governo de Jerônimo Monteiro (19081912), criou-se o primeiro Parque Urbano da cidade de Vitória, o Parque Moscoso, inaugurado em 1912, que “transformou a região pantanosa do Campinho em um belo parque arborizado com coreto, orquidário, fonte e lago artificial, servindo de espaço para os famosos lambe-lambes e para as famílias que lá desfrutavam da beleza e tranquilidade do local” (FILHO, 2012, p.25). Trigueiro e Leonardo (2011) apontam, em seu estudo, que a cidade de Vitória a partir da agenda 21 e do planejamento estratégico, de 1996, buscou alcançar a ideia de uma cidade sustentável, mesmo tendo sua economia baseada em indústrias que geram impactos no tecido urbano. É a partir desta época que a cidade passa a se preocupar com a ampliação de áreas verdes, preservação da paisagem e ampliação de espaços arborizados, pois são aspectos sinônimos de qualidade de vida em uma cidade sustentável. É a partir deste período, a maior parte dos decretos de criação de parques urbanos em Vitória, como veremos adiante. Em relação aos órgãos públicos relacionados ao meio ambiente, Trigueiro e Leonardo (2011) abordam o pioneirismo do município de Vitória em suas criações, visto que a SEMMAM (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) foi criada em 1986 e a SEAMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente) foi criada em 1987, ambas antes da consolidação do Estatuto da Cidade, que, lançado em 1988, conferia poderes e responsabilidades aos municípios em relação a estes assuntos. Ainda hoje, o órgão responsável pela gestão de áreas verdes no município é a SEMMAM (Secretaria Municipal de Meio Ambiente), através do CONDEMA (Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente), a quem é atribuído a responsabilidade por estabelecer normas, critérios, parâmetros, padrões, índices e métodos para o uso e gerenciamento de áreas verdes no município (VITÓRIA, 2014). Apesar de não terem sido identificados estudos acerca dos locais de implantação dos parques de Vitória, foi realizado, neste estudo, uma breve análise da espacialização dos parques dentro da cidade, de forma a verificar se existe a mesma condição de concentração de implantação do município de São Paulo (SP). Para este fim, utilizou-se como referência para caracterização das áreas mais vulneráveis o estudo 98

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desenvolvido por Lira (2014), onde o autor traz em seu livro diversos mapas de caracterização sócio espacial do município. Para este trabalho utilizou-se o mapa de concentração de crimes contra a pessoa e o mapa de porcentagem de população não alfabetizada (figura 02). A análise de ambos os mapas indica uma região mais vulnerável socialmente, que está localizada na parte leste do município, que concentra maior número de pessoas não alfabetizadas e também de crimes contra a pessoa. De forma a identificar os locais de implantação dos parques, foi feito um mapa com base em dados disponibilizados pela prefeitura municipal (figura 03), que indica que a maior concentração está justamente nas áreas opostas aos mapas anteriores, ou seja, as regiões mais carentes do município são as que não contam com parques urbanos com espaço de lazer e convívio, assim como acontece na cidade de São Paulo, indicando uma distribuição não homogênea deste tipo de equipamento no espaço urbano. Figura 2. Mapa de concentração de crimes contra a pessoa e mapa de porcentagem de população não alfabetizada

Fonte: Lira, 2014, p. 83 e 94, respectivamente Figura 3. Parques Urbanos de Vitória

Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória (modificado pelas autoras)

CONCLUSÕES O município de vitória é inovador no que diz respeito a criação de espaços verdes visto que as secretarias surgiram antes da necessidade pautada em leis federais e que cada parque possui um regimento interno desde sua criação, o que facilita o processo de gestão destes espaços. Entretanto a ausência de estudo dos locais de implantação faz com que a população mais carente não seja atendida por parques urbanos. Fato que também ocorre na cidade de São Paulo, onde a população mais vulnerável não possui acesso a tais espaços. O município de são Paulo, com diversos parques ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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já implantados, buscou estratégias de gestão destes espaços, criando diretrizes de acordo com a tipologia de cada equipamento e parcerias público-privadas para auxiliar o poder público na gestão. O município de vitória, por outro lado, assume, através da SEMMAM, toda a responsabilidade pela gestão dos parques, mas possui regimentos internos que facilitam este processo, apesar de não existirem diretrizes gerais para todos os parques. Neste sentido, ambas as cidades possuem estratégias válidas de gestão de seus parques urbanos, mas, visto o documento de estratégias de gestão de São Paulo e a divisão de responsabilidades, a cidade de Vitória tem a capacidade, através da análise dos planos de São Paulo, de criar diretrizes gerais de gestão para seus parques para, então, poder passar a responsabilidade de gestão de alguns espaços para empresas privadas sem que haja a perda da característica destes espaços, visto que estaria subsidiada por um instrumento legal.

REFERÊNCIAS COSTA, Brenno Vitorino; CAMARGO, Luiz Octávio de Lima. Parques Urbanos, população e exclusão em São Paulo. Revista Licer, Belo Horizonte, v. 15, n. 2, jun./2012. Disponível em: <https://seer.ufmg.br/index.php/ licere/article/view/449> Acesso em: 06 mai. 2017. FILHO, Pedro Canal (org.). Parque Moscoso. Vitória em Monumentos. Série 2, v.1. Vitória: Ed. Do autor, 2012. Instituto SocioAmbiental. Parques urbanos municipais de São Paulo: Subsídios para gestão. São Paulo, out/2008. Disponível em: <https://www.socioambiental.org/banco_imagens/pdfs/10367.pdf> Acesso em: 07 abr. 2017. LIMNIOS, Giorgia; FURLAN, Sueli Ângelo. Parques urbanos no município de São Paulo –SP (Brasil): Espacialização e demanda social. Revista LabVerde, São Paulo, nº. 06, art. 09, jun/2013. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/revistalabverde/article/view/61914> Acesso em: 06 mai. 2017. LIRA, Pablo Silva. Geografia do crime e arquitetura do medo: uma análise dialética da criminalidade violenta e das instâncias urbanas. Vitória, ES: GSA, 2014. 186 p. São Paulo (SP). Lei nº 16.050, de 31 de julho de 2014. Aprova a Política de Desenvolvimento Urbano e o Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Secretaria do Governo Municipal, São Paulo, 2014. Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Guia dos parques municipais de São Paulo. São Paulo, v. 02, jan/2010. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/meio_ambiente/ arquivos/guia_parques2_web.pdf> Acesso em: 06 mai. 2017. TRIGUEIRO, Aline; LEONARDO, Flávia Amboss Merçon. A gestão política do meio ambiente na cidade de Vitória – ES: reflexões sobre a criação de parques naturais e áreas verdes. Anais do Seminário Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais, v.1 n.1, 2011. Disponível em: <http://periodicos.ufes.br/SNPGCS/ article/view/1512/1104 > Acesso em: 12 de jun. de 2017 Vitória. Lei nº 8.696, de 29 de julho de 2014. Dispõe sobre o uso e a gestão da arborização urbana e das áreas verdes de uso público do município de Vitória, e dá outras providencias. Palácio Jeronimo Monteiro, Vitória, 2014.

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DESAFIOS DA PROMOÇÃO DA ACESSIBILIDADE EM ESPAÇOS LIVRES DE USO PÚBLICO NO MUNICÍPIO DE VILA VELHA – ES: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O PARQUE URBANO DE COCAL BROCCO, Lívia (1) RAMOS, Larissa Andara (2); (1) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, liviabrocco@gmail.com; (2) Professor Doutor, UVV, larissa.ramos@uvv.br

RESUMO Garantir a acessibilidade é permitir condições de acesso, aproximação, utilização e manuseio, por qualquer pessoa, a um local ou objeto, com segurança e autonomia, incluindo pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Os municípios possuem o desafio de promover a acessibilidade dos seus espaços livres de uso público, em consonância com a NBR 9050/2015. Desta forma, o presente trabalho busca avaliar o efetivo cumprimento de tal norma por parte do poder público municipal, bem como avaliar a qualidade desses espaços, tendo como estudo de caso o Parque Urbano de Cocal, inaugurado, em 2016, pela prefeitura Municipal de Vila Velha - ES. Para realização deste trabalho foram realizados diagnósticos físicos, através do qual foram identificadas como principais irregularidades a falta de sinalização tátil e visual, falta de corrimão e guarda-corpo nas circulações verticais, rota acessível irregular, vagas de estacionamentos inadequadas e inexistência de mobiliários adequados.

PALAVRAS-CHAVE: Espaços livres de uso público, Acessibilidade, Desenho Universal, Inclusão Social.

1 INTRODUÇÃO A Constituição da República Federativa Brasileira, em seu artigo 227, §2º c/c art. 244, assegura - como direito fundamental do ser humano - à proteção e o amparo às pessoas portadoras de deficiência, incumbindo ao Estado, a criação de lei que disponha sobre normas de construção e adaptação dos logradouros e dos edifícios de uso público, a fim de garantir o acesso adequado às pessoas com deficiência (LENZA,2010). Diante disso, foram promulgadas as Leis nº 10.098/2000 e 10.048/2000, bem como o Decreto nº 5.296/2004 que as regulamenta e – posteriormente – foi criado o Estatuto da Pessoa com Deficiência, por meio da Lei 13.146/2015 que tratam sobre os critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, determinado, dentre outras exigências, a supressão de barreiras e obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. Com o intuito de regulamentar as leis de acessibilidade vigentes no país, bem como assegurar seu critério, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) elaborou a NBR 9.050:2015, que estabelece critérios específicos e parâmetros técnicos a serem observados no projeto, construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade. Pode-se afirmar que esta norma é o instrumento capaz de auxiliar na construção de cidades mais inclusivas, proporcionando a acessibilidade plena, atendendo, os princípios do “desenho universal”. Neste sentido, os municípios possuem também o desafio de promover a acessibilidade de seus espaços livres de uso público, em especial de praças e parques, através de parâmetros urbanísticos direcionados que atendam a tais princípios. No contexto municipal da cidade de Vila Velha, ainda são poucas as discussões e iniciativas com

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foco na acessibilidade destes espaços livres. O poder público municipal tem investido na criação e reformas de praças e parques distribuídos pela cidade, entretanto, nota-se, que a preocupação com o desenho universal não está completamente presente. Diante deste cenário, é que o presente trabalho tem por objetivo analisar, com foco na acessibilidade e no desenho universal, a qualidade dos novos espaços urbanos livres de uso público, inaugurados pelo poder municipal de Vila Velha - ES, tendo como estudo de caso o Parque Urbano de Cocal, de modo a verificar se este espaço vem sendo contemplado com a garantia de acesso adequado a todas as pessoas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória descritiva de abordagem quanti-qualitativa. Foi realizada, primeiramente, uma pesquisa teórica, bibliográfica e documental, em seguida, um levantamento técnico do local com registros fotográficos e medições. A partir de tais informações foi realizado um diagnóstico físico de modo a identificar as principais carência e equívocos no cumprimento da acessibilidade do espaço estudado. As análises referentes à acessibilidade levaram em consideração seis elementos, são eles: a) acessos, caminhos e percursos; b) circulação vertical; c) banheiros públicos; d) mobiliários; e) estacionamentos.

2. ANÁLISE DO PARQUE URBANO DE COCAL O Parque Urbano de Cocal, localizado no município de Vila Velha - ES, foi o primeiro parque urbano criado na cidade. Com uma área de aproximadamente 23 mil m², o parque conta com um Centro de Convivência do Idoso, quadra poliesportiva, área de ginástica, pista de caminhada, paisagismo, playground e área verde, que proporcionam aos seus usuários momentos de lazer e entretenimento no local. As obras no local tiveram início em 2008 e somente foi inaugurado em 20 de maio de 2016 (NOVAES, 2016). Acessos, caminhos e percursos Uma cidade acessível precisa atender normas específicas a fim de garantir o acesso pleno, seguro e irrestrito de toda e qualquer pessoa a qualquer tipo de ambiente. Por este motivo, os acessos, caminhos e percursos de uma área pública precisam respeitar exigências técnicas, a fim de assegurar uma acessibilidade plena. A calçada é a parte da via reservada ao trânsito de pedestres, proporcionando também o acesso as edificações e, de forma integrada, ao mobiliário e demais equipamentos urbanos dos espaços públicos. Por este motivo, a NBR 9050:2015 indica a utilização de pisos contínuos, regulares, antiderrapantes, resistentes e duráveis. A calçada deve ter inclinação transversal de no máximo 3%; faixa livre com mínimo admissível de 1,20 m de largura; além de sinalização podotátil de alerta para indicar, aos deficientes visuais, mudanças de direção e obstáculos, bem como piso tátil direcional para identificar o trajeto a percorrer. Diante dessas informações, pode-se afirmar que a calçada do Parque Urbano de Cocal está em acordo com as normas impostas pela NBR 9.050/2015, uma vez que cumpre todas as exigências supramencionadas, conforme pode ser visualizada na Figura 01, a seguir. Figura 1 – Calçadas no entorno do parque

Fonte: Arquivos da Pesquisa, 2017

Nos cruzamentos, as faixas de pedestres devem possuir largura mínima de 4,00 m. O rebaixamento 102

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das calçadas uma rampa central de 1,50m de largura recomendável (podendo ser admissível uma largura mínima de 1,20m), com inclinação longitudinal com no máximo 8,33%, com abas laterais de inclinação, motivo pelo qual pode-se afirmar que as faixas de pedestre do parque estão de acordo com o que preconiza a norma, com exceção dos rebaixos das calçadas opostas ao parque, conforme observados na Figura 2. Figura 2– Travessia de pedestres

Fonte: Arquivos da Pesquisa, 2017

Entretanto, no que tange aos caminhos e percursos internos do parque, estes não cumprem todas as exigências impostas na norma, uma vez que, seu acesso principal, apesar de ter 2,00m de largura e possuir piso contínuo, regular e antiderrapante, o mesmo, não possui sinalização tátil direcional de alerta. Além disso, os percursos secundários possuem largura de 60 cm, não respeitam a largura mínima exigida de 1,20 m e são trepidantes, estando em desacordo com a norma (Figura 3). Figura 3 – Percurso principal e percursos secundários

Fonte: Arquivos da Pesquisa, 2017

O parque urbano de Cocal possui 4 entradas (Figura 4), sendo que duas delas estão localizadas na Rua dos Artistas e as demais localizadas nas ruas laterais. Conforme observado no local, todos os portões de acesso ao parque possuem 3 metros de largura, respeitando o que determina a NBR 9.050/2015. Figura 4 - Entradas do Parque. A e B) Entrada Rua dos Artistas, C) Entrada Rua Dois e D) Entrada Rua Mario Ribeiro

Fonte: Arquivos da Pesquisa, 2017

Contudo, apenas a entrada principal possui rampa de acesso adequada, ao passo que as demais não estão em conformidade com o que preconiza a NBR supramencionada. Circulação vertical O Parque possui uma escada e duas rampas de acesso ao centro de vivência de idosos. Quanto a escada, apesar da altura do piso e do espelho estarem corretos, falta corrimão intermediário, tendo em vista que o espaço entre eles é superior a 2,40m, descumprindo o que preconiza o item ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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6.2.3 da NBR 9.050/2015. No que tange as rampas de acesso, pode-se afirmar que a inclinação transversal está correta, entretanto, uma das rampas possui largura inicial inferior a 1 metro de largura (mínimo exigido é de 1,2m de largura) e o trecho com largura de 3,60m, não possui corrimão intermediário (Figura 5). Outro ponto relevante observado é que somente é possível acessar o centro de vivência, diretamente do Parque, por uma escada. A rampa existente possui acesso externo ao parque, bloqueada por um portão que fica constantemente trancado, pois por dentro do parque o percurso que liga à rampa é gramado. A outra rampa de acesso ao centro de vivência também fica trancada, com a justificativa de ser o acesso exclusivo de funcionários. Figura 5 – Circulação Vertical: rampas e escadas

Fonte: Arquivos da Pesquisa, 2017.

Banheiros públicos De acordo com a NBR 9050/2015, os banheiros públicos acessíveis devem ter dimensões mínimas de 1,50m x 1,70m, barras de apoio lateral, área de transferência para a bacia sanitária e lavatório que não interfira na área de transferência. Os banheiros públicos do parque não são acessíveis, uma vez que se trata de banheiros químicos provisórios, totalmente em desacordo com o exigido na norma, com dimensões inadequadas, sem barras de apoio, sem rampa de acesso e com a porta de entrada estreita. Mobiliários e equipamentos A Lei n.º 11.982/2009 prevê que 5% de cada brinquedo dos parques de diversões devem ser adequados às necessidades das pessoas com deficiência. Entretanto, o parque urbano em análise não possui nenhum brinquedo em conformidade com esta norma. Além disso, o piso da área infantil é de areia e, portanto, inadequado às normas que protegem as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Já a área da academia para idosos, apesar de possuir piso liso, antiderrapante e plano, também possui o mesmo problema do parque infantil, uma vez que não possui nenhuma dos equipamentos adequados. Ademais, o seu acesso é impróprio já que existe um desnível, sem rampas de acesso no local. O piso da quadra poliesportiva está inadequado, pois o mesmo encontra-se deteriorado, transformando-se em uma barreira física para os seus usuários. O acesso até a quadra é trepidante e estreito, além disso, a arquibancada não possui área específica para permanência de cadeirantes. A área de alimentação do parque está localizada no meio da grama, dificultando o acesso das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. As placas de informação e sinalização presente não são adequadas as pessoas que possuem deficiência visual. Figura 6 – academia para idosos; arquibancada e quadra poliesportiva; parquinho infantil; área de alimentação

Fonte: Arquivos da Pesquisa, 2017.

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Estacionamentos O estacionamento do parque possui grande número de vagas, porém não possui reserva de vagas específicas para pessoas com deficiência e idosos. O Estatuto do Idoso prevê que 5% das vagas de estacionamento devem ser reservadas para idosos. Ao passo que a NBR 9.050/2015 dispõe que 2% das vagas totais de estacionamento devem ser reservadas para veículos que transportem pessoas com deficiência física. Além disso, determina que as vagas devem ser devidamente sinalizadas (horizontal e verticalmente), ter largura de 2,5m x 5,00m, contendo uma área livre de circulação com largura mínima de 1,20m, através de faixas inclinadas, bem como existir uma rampa com acesso na calçada, através da guia rebaixada, junto a área de livre circulação. No parque em análise, somente a norma de rampa com acesso na calçada é respeitada.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após as análises, foram identificadas, como principais irregularidades, a falta de sinalização tátil e visual, a falta de corrimão e guarda-corpo, rotas secundárias com larguras inferiores, vagas de estacionamentos inadequadas, além da inexistência de equipamentos e mobiliários adaptados. Pôde-se ainda observar que as calçadas são os elementos que mais se encontram dentro dos critérios de acessibilidade previstos na NBR 9050/2105, fato este, provavelmente, oriundo dos estudos e esforços, do poder público municipal, em elaborar uma cartilha ilustrativa para a construção de calçadas acessíveis. Espera-se com este trabalho contribuir para intervenções e futuros projetos de áreas públicas urbanas, garantindo o acesso adequado a todas as pessoas, além de consolidar estudos que reforçam a importância do desenho universal no contexto urbano, levando em consideração as relações existentes entre bem-estar do homem de maneira inclusiva e universal. A pesquisa também busca conscientizar a sociedade para o desenvolvimento de projetos acessíveis às diferentes necessidades individuais e coletivas, que proporcionem também conforto, segurança e autonomia aos usuários, estimulando maior rendimento e produtividade.

REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2015. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. ______.Decreto N° 5.296, de 2 de dezembro de 2004.Brasília, DF, 02 dez. 2004. Disponível em: < http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm>. Acesso em: 05 maio 2017. ______. Estatuto da Pessoa com Deficiência: Lei Federal nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Brasília, DF, 2004. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 05 maio 2017. ______. Estatuto do idoso: lei federal nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. Brasília, DF: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2004. ______. Lei N° 10.048 de 8 de novembro de 2000. Brasília, DF. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 5 maio 2017. ______. Lei N° 10.098 de 19 de dezembro de 2000. Brasília, DF. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br >. Acesso em: 05 maio 2017. ______. Lei N° 11.982 de 16 de julho de 2009. Brasília, DF, 19 dez. 2000. Disponível em: < http://www.planalto. gov.br>. Acesso em: 05 de agosto de 2017. GEHL, Jan. Cidade para Pessoas. São Paulo: Perspectiva. 2014. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:Saraiva, 2010. NOVAES, L. Parque Urbano de Cocal será inaugurado nesta sexta-feira (20). Vila Velha, ES , 18 de maio de 2016. Disponível em: <http://www.vilavelha.es.gov.br >. Acesso em 20 de março de 2017.

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GESTÃO DEMOCRÁTICA DA CIDADE:

AVALIAÇÃO DO PLANO DIRETOR URBANO DE VITÓRIA-ES FERREIRA, Giovanilton André Carretta (1); BRITO, Luziane Delevidove de (2); (1) Professor Doutor, UVV, giovanilton.ferreira@uvv.br; (2) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, luzian.brit@ gmail.com

RESUMO Este estudo permite esclarecer a importância que os Planos Diretores têm ao incorporar as normas e objetivos do Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001) que regulam, garantem e desenvolvem a propriedade urbana em detrimento do bem coletivo municipal. A estruturação do Plano Diretor Urbano de Vitória (Lei 6.705/2006, sendo este, o terceiro Plano) foi elaborado em concordância com o Estatuto da Cidade, fato que estabeleceu novos instrumentos de planejamento e controle do crescimento da cidade. Busca-se nesse artigo realizar uma análise quantitativa e qualitativa da atuação do Conselho Municipal do Plano Diretor Urbano de Vitória (CMPDU) por meio das atas das diversas reuniões ordinárias do referido conselho.

PALAVRAS-CHAVE: Plano Diretor Urbano; Região Metropolitana da Grande Vitória; Vitória; Estatuto da Cidade; Estatuto da Metrópole.

1 INTRODUÇÃO O município de Vitória atualmente possui aproximadamente 340 mil habitantes (IBGE, 2010) e localizase estrategicamente na Região Sudeste, fato que se contempla pelos grandes centros urbanos do país. O processo de industrialização na cidade ocorreu com vigor entre os anos 1970 a 2000, período em que a evolução demográfica tanto da Região Metropolitana quanto, principalmente, do Município de Vitória, impulsionou o crescimento da cidade, fato devido pela instalação de grandes empresas em regiões estratégicas da capital e nas proximidades. Devido a esse e outros fatores, a cidade por necessidade de planejamento e infra estruturação organizacional iniciou em 1984 o primeiro Plano Diretor, de lá pra cá aquele foi renovado pelo de 1994, e este, pelo de 2006, em vigor até o momento. O Plano Diretor Urbano de Vitória em vigência (Lei 6.705/2006) possui 06 (seis) “títulos” com seus respectivos capítulos, incisos, artigos e seções, sendo que, enquanto o artigo 1º trata dos termos da Constituição Federal, o artigo 2º mostra a abrangência do PDU em todo o território do município de Vitória com seus objetivos e diretrizes, sendo elaborado em concordância com o Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001). Com o objetivo de elucidar tanto a funcionalidade do Plano quanto o desempenho do Conselho, essa avaliação analisou as possibilidades de integração dos instrumentos descritos no PDU, visando o cumprimento do que determina o Estatuto da Metrópole (Lei 13.089/2015), no âmbito metropolitano.

2 ESTRUTURAÇÃO DO PLANO E CONCLUSÕES A gestão democrática da cidade é um dos princípios básicos da política urbana citada no PDU (Lei 6.705/06), esse e os outros princípios são cumpridos quando atendem às diretrizes estabelecidas no Estatuto da Cidade, além daquela ser um dos objetivos gerais do Plano pelo sistema democrático e participativo de planejamento e gestão da cidade, composto pelos setores responsáveis de planejamento e gerenciamento do território urbano. 106

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O Conselho do Plano Diretor Urbano de Vitória (CMPDU) é citado na Seção IV, “DO CONSELHO MUNICIPAL DO PLANO DIRETOR URBANO”como um órgão de caráter meramente consultivo, presidido pelo titular da Secretaria de Desenvolvimento da Cidade (SEDEC) com diversas atribuições, sendo algumas delas de, acompanhar a implementação do Plano, analisar, propor e aprovar alterações da Lei, de classificação viária, de projetos, ajustes de limites entre zonas, aprovar estudos de viabilidade, gerenciar e fiscalizar recursos oriundos do Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano (FMDU), zelar pela integração das políticas setoriais, dentre diversas outras atribuições. As reuniões do Conselho ocorrem normalmente em períodos quinzenais com quórum mínimo de metade mais um de seus membros, as deliberações são pautadas sobre as regulamentações decorrentes da Lei e, as decisões do Conselho são tomadas com a aprovação da maioria dos membros presentes nas reuniões e consideradas como Resoluções, todas sujeitas à homologação do Prefeito Municipal. O Plano também apresenta instrumentos de participação popular que garantem aos munícipes, acesso às informações, sendo elas: Audiência Pública (instância responsável pela informação/ discussão/esclarecimento de dúvidas sobre as ações, planos e projetos de caráter público ou privado), Debate (instância da administração que disponibiliza tempo e ferramenta para a exposição de pensamento divergentes a respeito das ações, planos e projetos) e a Consulta Pública, instância que a administração toma decisões referentes aos resultados, todos relativos à política urbana. Além desses, a Iniciativa Popular fica assegurada na elaboração da legislação, planos, programas e projetos voltados ao desenvolvimento urbano e, o Plebiscito e Referendo, aquele, caracterizado por ser uma consulta geral sobre um fato específico e, este, sendo a manifestação do eleitorado sobre matéria legislativa municipal. De acordo com os caminhos da linha de pesquisa que, após analisar toda a estrutura do Plano, aprofundou-se no estudo das atas da Lei em vigência, por mais que esteja previsto em Lei o acesso a informações públicas, esses documentos foram adquiridos sob entrada processual pública¹, para então, desenrolar as informações dos registros de reuniões plenárias do Conselho Municipal do Plano Diretor Urbano de Vitória (CMPDU) onde, todos os envolvidos – conselheiros das secretarias municipal, procuradoria geral, instituto, entidades profissionais e empresariais, universidades, membros representantes das regiões administrativas e interessados em pautas - discutem temas/ itens importantes referentes ao desenvolvimento urbano do Município.

3 ATAS DO CONSELHO O Conselho é formado por 08 (oito) representantes titulares e 08 (oito) representantes suplentes do Poder Público, 08 (oito) representantes titulares e 08 (oito) representantes suplentes da sociedade civil e, 08 (oito) representantes titulares e 8 (oito) representantes suplentes de moradores das regiões administrativas. Os conselheiros são responsáveis por levantar, discutir, avaliar, aprovar, dentre outras características, temas relevantes ao desenvolvimento municipal. Os mandatos dos membros do CMPDU são de 02 anos e, suas competências estão previstas no Artigo 47 do Plano. A partir das atas, foram analisados os seguintes aspectos: - Setores de demanda: industrial, comercial, empresarial, educacional, prestação de serviço, legislativo, poder judiciário, poder público, alimentício, representantes de regiões administrativas, organizações, sociedade civil e, religioso; - Manifestação/argumentação acerca do tema;

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- Pedido deferido ou indeferido; - Ocorrências diferenciadas; - Observações importantes; e, - Representantes: Secretário de desenvolvimento, secretário de habitação, secretário de meio ambiente, secretário de obras, secretário de transporte, secretário executivo do CMPDU, câmara, jurídico, Instituto Jones dos Santos Neves, entidades empresariais do planejamento urbano, mobilidade e construção civil, entidades empresariais de comércio, entidades empresariais da indústria, academias de ensino, regiões administrativas, gestão urbana e, interessados em pauta. A partir das análises, as atas do Conselho Municipal do Plano Diretor Urbano de Vitória apresentaram informações relevantes acerca dos fatores qualitativos e quantitativos das reuniões, como: membros que mais/menos participaram das reuniões ordinárias, temas e setores de demanda mais citados e assuntos importantes discutidos nas pautas. Foram estudadas as atas de 2016, ano em que houveram 26 (vinte e seis) reuniões plenárias e, as principais informações constatadas foram: - Dentre todos os assuntos requeridos, renovação de alvará é o tema mais abordado, seguido por aprovação de projeto; - Aproximadamente 56% das reuniões abordam o setor comercial, enquanto 26% discutem o setor industrial e, 19% assuntos do poder público; - Não há manifestação do assunto do tema em 62% dos temas abordados; - Os pedidos deferidos/indeferidos ficaram praticamente em igualdade de resultado; e, a argumentação a respeito das decisões (deferido/indeferido) indicaram 40% dos temas sendo argumentados e aproximadamente 60% para ausência de argumentação; - Houveram poucas ocorrências diferenciadas nos assuntos requeridos, exemplo: Estudo de Impacto da Vizinhança (EIV), revisão de zona, etc.; - Os membros mais/menos envolvidos são, respectivamente: Regiões administrativas, entidades empresariais do planejamento urbano, mobilidade e construção civil, entidades empresariais da indústria, interessados em pautas, gestão urbana, secretaria de desenvolvimento, além de outros. Portanto, dentre os dados explanados acima, constata-se a falta de manifestação/argumentação em determinados temas abordados nas reuniões, equilíbrio nas decisões de deferimento dos assuntos, sendo que, a maior porcentagem dos temas indeferidos teve esse resultado devido à ausência de responsáveis para análise dos mesmos e, a maior parte dos alvarás que são aprovados não ocorrem manifestação. Percebe-se desigualdade na discussão dos assuntos, aqueles que requerem atenção especial a partir de discussões são mencionados em diversas reuniões até a aprovação, processo coerente que levam os membros a amplitude do tema, porém esse tratamento não ocorre com todos, fato que deveria acontecer.

__________________________________________________________________________________ ¹ - Inciso XXXIII do art. 5º da Constituição da República - Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

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REFERÊNCIAS ESTATUTO DA CIDADE E LEGISLAÇÃO CORRELATA. 2. ed., atual. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2002. 80 p. (2006) LEI 6.705, DE 13 DE OUTUBRO DE 2006: INSTITUI O PLANO DIRETOR URBANO DE VITÓRIA E DA OUTRAS PROVIDÊNCIAS. Vitória: Prefeitura Municipal de Vitória, Estado do Espírito Santo. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo 2010. 2017. Disponível em: < http://www. ibge.gov.br/>. Acesso em: 10 set. 2016. PREFEITURA DE VITÓRIA. Vitória em dados. 2017. Disponível em: http://legado.vitoria.es.gov.br/regionais/ Acesso em: 18 nov. 2016. GAZETA ONLINE. Cidade de pedra, a ilha que cresceu sobre o mar. 2016. Disponível em: <http://especiais. gazetaonline.com.br/aterro/> Acesso em: 18 nov. 2016.

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TEMÁTICA 2

TEORIA E PRÁTICA Estudo e reflexão dos conhecimentos relacionados à teoria e prática do projeto de Arquitetura e Urbanismo, com foco nas questões contemporâneas que permeiam a concepção projetual do edifício e da cidade a partir dos desafios que se apresentam na atualidade e complexificam os sistemas arquitetônicos e urbanos. Estudo de métodos, processos e sistemas de representação dos projetos de arquitetura, urbanismo e paisagismo. Investigação sobre processo de projeto, visando a compreensão das relações estabelecidas entre o projeto e a qualidade do ambiente construído contemporâneo.


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HUMANIZAÇÃO DIGITAL DE PROJETOS UM REPERTÓRIO DE IMAGENS

CUNHA, Clovis Aquino de Freitas (1); FERREIRA, Pedro Henrique dos Santos (2); (1) Professor Mestre, UVV, clovis.aquino@uvv.br; (2) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, lionpedro5@gmail.com

RESUMO O presente trabalho descreve a pesquisa de Iniciação Cientifica desenvolvida na Universidade Vila Velha pelos autores. Realizou-se a investigação de ferramentas gráficas digitais para elaborar uma biblioteca de imagens digitalizadas de desenhos feitos à mão no ambiente material (papel) e/ou criados no ambiente digital como referência para humanização de projetos arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos. Como resultado, temse imagens com o calor da mão humana que ameniza a rigidez do padrão na hora de humanizar projetos com figuras e elementos definidos pelo computador. Portanto conseguiu-se criar elementos artísticos para humanização de projetos. Este produto principal segue a tendência contemporânea de mercado para apresentação de projetos humanizados e contempla uma necessidade acadêmica relevante para os cursos de arquitetura e urbanismo e afins por disponibilizar as imagens digitais em um banco de dados online como recurso acadêmico e projetual.

PALAVRAS-CHAVE: desenho; digital; humanização de projetos.

1 INTRODUÇÃO Muitos não entendem o que significa o termo Humanizada ou Humanização de Desenhos, apesar de parecer ser algo complicado, desenhos em formatos humanizados nada mais são do que um desenho que possui cores, efeitos de luz, sombras e muita texturização. É algo que fica mais amigável para o cliente para que ele possa entender de um jeito mais simples o projeto técnico ou arquitetônico puro e simplesmente. O Objetivo de se elaborar uma planta humanizada, é justamente para que o cliente entenda melhor e com mais clareza o layout de um empreendimento, de uma planta interna ou até mesmo de uma fachada. A planta humanizada se destaca por seu colorido devido a utilização dos componentes da biblioteca de mobiliário. Quanto maior a biblioteca, com mais opções, melhor fica a representação, e claro, técnica e bom gosto juntos sempre formam um bom casamento. (PORTAL 44ARQUITETURA, 2014).

A humanização de projeto é uma excelente maneira de criar a ideia final de um projeto para o possível cliente. Conta com uma perspectiva clara a ser compreendida e ao mesmo tempo atrativa, através de decorações e do mobiliário (se for o caso). Com essas justificativas, foi proposto esta pesquisa para que os devidos profissionais e estudantes tenham mais uma opção de design de elementos para humanização de projetos, além das opções que já existem no mercado (fig. 1).

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Figura 1. Planta baixa humanizada com o programa Photoshop.

Fonte: imagem elaborada pelos autores (2016).

2 MÉTODO DE PESQUISA Foi definida uma estratégia metodológica através de um Plano de Atividades para o bolsista de IC – Iniciação Cientifica, graduando em arquitetura e urbanismo Pedro Ferreira e orientado pelo prof. Me. Clovis Cunha, separado por 2 (dois) tópicos (1ª etapa e 2ª etapa), onde em cada etapa foi descrito atividades a serem realizadas em cada mês, sendo que a pesquisa foi realizada no período de 1 (um) ano. No primeiro mês (agosto 2016) foi feita revisão de literatura. Foi pesquisada referências de projetos humanizados para servirem como base na segunda fase da pesquisa. O produto dessa revisão de literatura foi a criação de uma cartilha em cada categoria (fachada, implantação, paisagismo, planta baixa, urbanismo e corte) com várias imagens referenciais. Além disso, o livro sobre Photoshop de Clicio Barroso (2013) e o livro sobre Adobe Illustrator de Gustavo Del Vechio (2012) foram revisados e aulas sobre o software Photoshop via Youtube foram assistidas. O mês de setembro deu continuidade a revisão de literatura, mas também foi o mês que iniciou a identificação dos principais softwares e dos formatos dos arquivos de imagem mais utilizados no mercado para representação gráfica digital de projetos humanizados (que se estendeu até o final da pesquisa). Com o orientador da pesquisa, começou a prática com o Photoshop para humanizar fachadas com vegetação/texturas e com o SketchBook através do tablet. Nesse mês foi categorizado e quantificado os elementos projetuais que foram produzidos à mão sobre papel e digitalmente (fig. 2 e 3). O mês de outubro deu início aos desenhos feitos a mão no papel e no tablete, gerando imagens que posteriormente foram digitalizadas e tratadas no Photoshop e Illustrator. O banco de dados das imagens tratadas digitalmente também iniciou nesse mês e se estendeu até o tratamento da última imagem. Em novembro começou a produção de desenhos híbridos e desenhos realizados totalmente digitais, que se estendeu até abril de 2017. Figura 2. Desenhos feitos durante a pesquisa no papel e transformados em PNG.

Fonte: imagem elaborada por Pedro Ferreira, 2016.

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Figura 3. Desenho feito no papel e tratados no programa Illustrator.

Fonte: imagem elaborada por Pedro Ferreira, 2016.

Abril de 2017 deu início a 2ª (segunda) etapa da pesquisa. Foram organizados desenhos produzidos e os dados textuais e iconográficos analisados na 1ª (primeira) etapa. Em maio foi feito o término e organização do banco de dados eletrônico para publicação na rede Internet e em DVD. Porém, além do software Adobe Illustrator usado para a vetorização das imagens, primeiramente foi utilizado o AutoCAD para esse propósito. Com isso, foi criado uma parte das imagens vetorizadas em arquivos dwg. (fig. 4) que se transformaram em blocos para serem usados no próprio programa e que também foi disponibilizado para uso através de download no site produto desta pesquisa. Por fim, julho deu continuidade ao término e organização do banco de dados eletrônico e também foi criado o site com a organização de todos os elementos produto da pesquisa. Foi feita a elaboração da cartilha de referência gráfica para a humanização de projetos em formato de arquivo PDF e concluído os produtos esperados: cartilha, banco de dados, website e elaboração do artigo para ser submetido para publicação. Agosto foi o mês da entrega e finalização da pesquisa. Figura 4. Arquivos dwg. criados para o programa AutoCAD.

Fonte: Acervo dos autores (2016).

3. RESULTADOS Foram realizadas 173 imagens no formato de arquivo PNG e 63 imagens no formato de arquivo DWG que estão disponíveis para serem baixadas online e estão catalogadas em uma cartilha que descreve o tamanho do arquivo em KB, nome da imagem, ícone gráfico da imagem propriamente dita e também apresenta sugestões de uso das imagens em desenhos humanizados. Mas, além da importância fundamental dos desenhos produzidos, o produto final de maior relevância, que favorece o acesso universal ao repertório de imagens da pesquisa, foi a criação de um site no servidor gratuito Wix, cujo link é <https://humanizacaoprojetos.wixsite.com/humanizacaodeprojeto>, que reúne todos os elementos criados para a humanização de projetos pela pesquisa. O site (fig. 5) é totalmente intuitivo e separado por abas de acordo com o nome do ambiente ou do tipo de elemento para humanização: vegetação, cozinha/área de serviço, diversos, banheiro, sala, quarto, texturas e dwg. Uma vez selecionado o tipo de imagem, clicando sobre ela aparecerá a opção download. Todos os arquivos carregados no site, possuem tanto a opção com fundo branco, quanto a opção com fundo transparente, no formato de arquivo png. Na aba “DWG” a partir do botão “baixar arquivos dwg”, se é direcionado para uma pasta (arquivo na nuvem, no Drive do e-mail criado para a pesquisa, fig. 6) que estão separados os arquivos de acordo com alguns ambientes. ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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O site permite a universalização do conhecimento, conseguindo alcançar um grande público, desde estudantes e profissionais, até pessoas leigas admiradoras de arquitetura e desenho. As sugestões de uso dos arquivos do repertório de imagens resultante da pesquisa buscam exemplificar algumas modalidades de uso (fig. 7), como aplicação da vegetação nas áreas externas de uma planta de implantação, ou na representação de layout de mobiliário nos cômodos em uma planta baixa. Portanto os resultados são relevantes para a comunidade acadêmica e afins, pois cumprem com os objetivos da pesquisa ao trazer o sabor do desenho à mão livre com a praticidade de uso feito pelo computador e por estarem disponíveis online com acesso universal. Figura 5. Detalhes do site produzido pela pesquisa na plataforma Wix.

Fonte: Acervo dos autores (2017). Figura 6. Pasta no drive para download dos arquivos dwg.

Fonte: Acervo dos autores (2017). Figura 7. Exemplos de plantas baixas humanizadas com os arquivos produzidos pela pesquisa.

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Fonte: imagens elaboradas pelos autores (2017).

4. CONCLUSÃO Ainda que a maior forma de humanizar projeto seja com elementos digitais completamente computadorizados, uma forma tão interessante quanto, seria elementos artísticos compondo o projeto. Não apenas um projeto totalmente feito a mão em uma folha, mas outra alternativa sendo objetos feitos à mão e depois montados e tratados através de softwares. Hoje em dia, seria uma forma muito interessante tanto para os profissionais do meio quanto para alunos utilizar essa ferramenta, não só como uma simples fonte pronta para uso, mas até como alternativa que acabe estimulando a criação de seu próprio acervo de imagens para humanização. REFERÊNCIAS BARROSO, Clicio. Adobe photoshop: os 10 fundamentos. Balneário Camboriú, SC: Photos, 2013. DEL VECHIO, Gustavo. Design gráfico com Adobe Illustrator: um guia para profissionais e estudantes de artes e design. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2012. PORTAL 44 ARQUITETA. Como elaborar uma planta humanizada?, 2014. Disponível em: <http://44arquitetura. com.br/2014/03/como-elaborar-uma-planta-humanizada/>. Acesso em: 31 jul. 2017.

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PATRIMÔNIO CULTURAL COMO FERRAMENTA DE VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE LOCAL

O caso do conjunto Jesuítico da Igreja Nossa Senhora da Ajuda-Araçatiba-Viana FURTADO, João Carlos (1); (1) Graduado em Arquitetura e Urbanismo, UVV, joaocarlos.furtado@gmail.com;

RESUMO O presente resumo se trata acerca do tema patrimônio cultural e a apropriação desse importante elemento na cidade, busca-se ferramentas que permitam que execução dessa tarefa e venha de tal forma a valorizar a comunidade na qual está inserida. A comunidade em questão se trata de Araçatiba, um pequeno bairro atualmente, mas de grande importância para história econômica do estado do Espírito Santo do século 19, que atualmente encontra-se subvalorizado e em seu território localiza-se um importante patrimônio histórico, a Igreja Nossa Senhora da Ajuda e suas ruínas anexas, que aliada ao seu patrimônio imaterial local, tem potencial de fomentar o desenvolvimento socioeconômico do local e do município. Como maneira de encontrar a melhor maneira de executar tais anseios, foram feitos no decorrer do trabalho, estudos de caso, referenciamento bibliográfico acerca do tema, pesquisas com os órgãos públicos e reuniões com a comunidade procurando assim a melhor solução para a valorização desse importante bem.

PALAVRAS-CHAVE: patrimônio; iphan; jesuítas; araçatiba;

INTRODUÇÃO Esta pesquisa se insere no âmbito da importância histórica de Araçatiba, comunidade do município de Viana, localizada na Região Metropolitana de Vitória (Grande Vitória), área marcada por um importante monumento datado do séc. XVIII, construído mediante trabalho indígena/escravos, pelos jesuítas, como forma de consolidar sua ocupação do território no período da colonização do território brasileiro, difundindo a fé católica trazida da Europa. Este sítio histórico tombado pelo IPHAN é composto pela Igreja de N.S. da Ajuda, ruínas da antiga residência dos jesuítas e o cemitério. Apresentando características arquitetônicas jesuíticas, (com alterações posteriores devido à posse por parte da coroa portuguesa, após a expulsão dos jesuítas em 1759). Assim, os objetivos estão em compreender a importância do conjunto jesuítico de Araçatiba em Viana e seu entorno imediato, visando propor uma função útil para a sociedade de maneira que haja harmonia entre a preservação das características do edifício e as adaptações necessárias a sua utilização em um novo momento, como espaço múltiplo integrado à Igreja Nossa Senhora da Ajuda, onde possa abrigar os encontros da comunidade, propiciar o desenvolvimento de atividades socioculturais com intuito de preservar a identidade cultural do lugar e induzir o desenvolvimento socioeconômico da região, mantendo o local vivo, sem torná-lo um museu a céu aberto à espera de visitantes com seu cotidiano forjado: criando assim cenários do interesse turístico e da especulação, Santos (1986). MATERIAL E MÉTODOS A metodologia adotada consiste no recenseamento bibliográfico sobre o assunto, estudos de casos onde se possa apurar o conhecimento de situações semelhantes relacionadas aos aspectos materiais e imateriais do patrimônio nacional, tendo exemplos a Igreja Nossa Senhora da Assunção em Anchieta-ES, o Pateo do Colégio em São Paulo-SP e o Solar do Colégio em Campos-RJ, 118

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levantamento de documentações históricas e pesquisas para a compreensão das características construtivas das edificações jesuíticas brasileiras, relacionando estas com as atuais características encontradas em Araçatiba. Para o desenvolvimento do Projeto de Intervenção em áreas tombadas pelo IPHAN, foi necessário o embasamento teórico nas recomendações internacionais, como a Carta de Veneza (ICOMOS – 1964), o Manual de Apresentação de Projetos ao IPHAN (2005) e os conceitos teóricos do restauro crítico propagados por BRANDI (2004). Ainda como metodologia, uma importante ferramenta para obtenção da visão geral da área de estudo para além do monumento, consistiu na elaboração de diagnósticos mediante visitas ao local, entrevistas com a população e usuários importantes da região como forma de percepção do panorama atual da comunidade de Araçatiba, fazendo com que suas necessidades fiquem mais claras e as propostas nas etapas seguintes estejam mais próximas daquilo que o lugar e a população almejam para a área histórica de Araçatiba. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para Araçatiba e sua questão patrimonial, um Masterplan inicial foi desenvolvido com visão a longo prazo, que busque garantir que sejam perpetuados os valores culturais, especialmente aspectos relacionados às tradições inerentes ao lugar. O plano pressupõe também que o conjunto histórico mantenha os usos de interesse para a comunidade como também para estudiosos e visitantes, atuais e futuros, e que esses usos garantam um fluxo de serviços e receitas no longo prazo. Segundo essa visão, um Masterplan deve propor uma política de uso continuado do conjunto pela comunidade local e externa, como uma forma de estabelecer a sustentabilidade integral do bem e a manutenção da mensagem cultural e dos valores culturais para as futuras gerações. Isso somente poderá ser alcançado com uma clara estratégia de gestão integrada que organize os meios e arregimente os recursos, humanos e materiais, necessários para garantir a sustentabilidade. Este Masterplan propõe, assim, premissas para a manutenção do conjunto jesuítico como um bem destinado à prática religiosa, especialmente ao culto e ensino, mas, além disso, capacitado a fomentar e fornecer serviços culturais à comunidade. Para a realização da visão estabelecida acima, foram traçadas seis diretrizes que informam as ações do plano FURTADO (2016), são elas: Diretriz da conservação Diretriz da gestão e sustentabilidade Diretriz da intervenção mínima Diretriz do respeito à autenticidade Diretriz de valorização da manutenção Diretriz da integração de novos usos CONCLUSÕES E REFERÊNCIAS Teve como resposta ao Masteplan elaborado a criação de um projeto, que propôs a implantação de um espaço cultural, anseio da comunidade percebido em visitas ao local e reuniões, dessa maneira elaborou-se um espaço em que os moradores pudessem se encontrar e ir de encontro à história de Araçatiba. O estudo também contempla a criação de espaços de encontro entre moradores, áreas para exposições, e local onde possam ocorrer comércio de artesanatos e peças locais.

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Assim com o objetivo de alcançar às propostas, a apropriação das ruínas do antigo casarão anexo a Igreja nossa senhora da ajuda, foi o ponto de partida para o encontro da comunidade com o seu passado, sendo utilizado como forma de promulgação da história e cultura da população local para as gerações posteriores. O peso histórico interfere na forma do projeto. O centro cultural teve seu desenho externo remetendo ao antigo casarão jesuítico (Fig.1), que atualmente está arruinado, sendo erguidas paredes de alvenaria sobre os vestígios da antiga edificação, de maneira a resguardar o material arqueológico, sem escondê-lo, visto que não será obstruída a visualização das paredes de pedra antiga, será somente envolvida na nova proposta, assim consegue se preservar ao mesmo tempo em que fomenta a apreciação da história em suas paredes. Mantendo a mesma relação de formas, cores e escala que o casarão tinha com a Igreja, o projeto não agride a paisagem local, buscando harmonia existente com o antigo casarão, remetendo para os tempos atuais sensações do passado, mas atualizadas em um novo momento. (Fig.2) Figura 1: Projeto implantado ao lado da igreja.

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2016. Figura 2: Perspectiva projeto implantado sobre as ruínas.

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2016.

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REFERÊNCIAS BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004. CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Trad. Luciano Vieira Machado. São Paulo: Edusp, 2001. FURTADO, João Carlos, PATRIMÔNIO CULTURAL COMO FERRAMENTA DE VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE LOCAL. Vila Velha, Trabalho de Conclusão de curso, 2016 HAILON, José Gomide, DA SILVA Patrícia Reis, BRAGA Sylvia Maria Nelo, Manual de Apresentação de Projetos ao IPHAN, MinC/Iphan/Programa Monumenta,2005. ICOMOS, Carta de Veneza, Veneza, 1964. SILVA, Tamar. (Org.). Diagnóstico Social de Araçatiba. Espírito Santo: Realização IBASE. 2006.

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A TERRITORIALIDADE DA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS EM JESUS DE NAZARETH, VITÓRIA – ES1 MONTEIRO, Giselli Vidotto (1); ANGELO, Michelly Ramos de (2); (1) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, pesquisadora de Iniciação Científica, UVV, gisellivm@gmail.com; (2) Professora Doutora, UVV, michelly.angelo@uvv.br

RESUMO Esta pesquisa analisa a literatura ligada à pesca artesanal, pesca industrial e territorialidade a fim de compreender a atual situação da atividade tradicional na cidade contemporânea, uma vez que envolve riscos da coletividade e segregação socioespacial impressa na paisagem urbana. Para a compreensão da teoria, foi feito o estudo do bairro Jesus de Nazareth, localizado em Vitória- ES, lugar onde há atividade da pesca artesanal, convivendo com os conflitos do ofício e das próprias características urbano-sociológicas do bairro. Para isso foram elaborados a caracterização e diagnóstico do bairro, com o objetivo de, futuramente, elaborar um plano de ações que preserve as características peculiares tradicionais do lugar. O diagnóstico abrangeu aspectos quantitativos, sensoriais, materiais e comportamentais. No desenvolvimento deste estudo utilizaram-se, além do embasamento teórico, conversas informais, entrevistas, mapeamentos (ARCGIS), fotografias e aplicação da grade “Abordagem Metodológica de locais informais para locais subnormais”. A literatura em triangulação com o diagnóstico do bairro Jesus de Nazareth, permitiu enxergar as alterações culturais sofridas pela coletividade em função dos frequentes impactos ambientais que depreciaram o ecossistema, principal fonte de recursos do pescador.

PALAVRAS-CHAVE: Pesca artesanal, territorialidade, segregação socioespacial.

1 INTRODUÇÃO A pesca artesanal se apresenta como meio de subsistência de comunidades tradicionais, por meio de aprendizados que são considerados herança de família. A poligonal pesquisada no bairro Jesus de Nazareth, em Vitória, ES, abriga uma comunidade pesqueira, ponto de partida dos pescadores e local de desembarque do pescado e, em contrapartida, está diante de prédios espelhados, que refletem nitidamente o contraste da tradição com a paisagem da contemporaneidade. Considerando essas questões, esse trabalho foi elaborado com o objetivo de ler a territorialidade da comunidade pesqueira do bairro Jesus de Nazareth e possíveis ameaças e dificuldades que a comunidade enfrenta. Esse trabalho prossegue com a intenção de promover desenvolvimento humano e a qualidade de vida para moradores e pescadores do bairro Jesus de Nazareth, além de proteger as características e qualidades peculiares identificadas no diagnóstico deste trabalho. Na compreensão do tema “Territorialidade e novas espacialidades na cidade contemporânea”, é possível afirmar que o espaço (que é social) e a paisagem, enquanto formas geográficas estão em constante transformação e respondem às ações da sociedade por motivações ligadas a função aplicada ao lugar (DIEGUES, 2001; SANTOS, 2009). O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reconhece o bem imaterial a fim de defender a identidade de algumas práticas tradicionais e culturais, contudo a pesca artesanal ― atividade tradicional que luta para sobreviver na cidade contemporânea ― não se encontra registrada.

1

Esse trabalho baseia-se nos resultados da pesquisa de iniciação científica O espaço da tradição na cidade contemporânea: usos e apropriações do espaço na Prainha de Vila Velha, ES e no trabalho de conclusão de curso, ainda em desenvolvimento, intitulado A territorialidade da comunidade de pescadores artesanais em Jesus de Nazareth, Vitória – ES, ambos sob orientação da Prof. Michelly Ramos de Angelo.

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A maneira como os grupos sociais exploram o espaço e seus recursos naturais podem fazer do próprio espaço um instrumento de desigualdade. Junto com as desigualdades, deve-se considerar a presença de fatores externos, como as multinacionais inseridas no mercado, que por sua vez, são agressivas na transformação do espaço geográfico e no cotidiano dos territórios. Atinge-se a segregação socioespacial e espaços públicos inutilizados na cidade contemporânea ao considerar mais aparência do que funcionalidade. O mesmo sentimento de pertencimento que proporciona a territorialidade segrega a sociedade em diferentes grupos sociais (ALVES, 2010).

2 MATERIAL E MÉTODOS Foi realizada revisão bibliográfica para compreensão e definição de conceitos, tais como espacialidade, território, territorialidade, paisagem urbana e cultural, cidade contemporânea, segregação socioespacial, gentrificação, pesca artesanal e pesca industrial. A reflexão e conceituação dos temas tornou possível o desenvolvimento de um caminho analítico para uma série de características quantitativas, sensoriais, materiais e comportamentais da paisagem urbana a serem identificadas no espaço de estudo a partir de uma visão territorial na cidade contemporânea. Através de entrevistas semiestruturadas ou de conversas informais e registros fotográficos, foi possível elaborar um mapa (Mapa 1) apontando o percurso dos pescadores artesanais de Jesus de Nazareth até alcançar o pescado e territorialidade entre pescadores artesanais e industriais, identificando quais os riscos e as ameaças essa coletividade enfrenta. Para a compreensão do bairro, fez-se necessário um diagnóstico (Mapa 2), para isso, foram mapeadas (por meio do ARCGIS/ILLUSTRATOR) informações ligadas ao critério urbanístico, arquitetônico e socioambiental, que partiu da adaptação da grade de análise de assentamento subnormal de Caterine Reginensi2. Por meio de visitas, foi possível perceber a importância do Morro Jesus de Nazareth, local onde a maioria dos pescadores reside, para a conservação e proteção da tradição da coletividade pesqueira (Foto 1).

2

Para esta análise, adaptou-se a grade “Abordagem Metodológica de locais informais”, desenvolvida pela socióloga, professora e pesquisadora Caterine Reginensi (UFF), fornecida no Minicurso “Pesquisa Qualitativa: Abordagens Etnográficas”, ministrado na UVV (ES), em agosto de 2015. Reginensi tem experiência em pesquisa etnográfica e, a partir de suas pesquisa e leituras, desenvolveu uma grade para levantamento e coleta de dados para locais informais, os quais possuem dinâmicas próprias, e podem ser de difícil acesso e coleta. A grade permite adaptação de acordo com as especificidades do ambiente a ser estudado e dos critérios a serem levantados. ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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Mapa 1 - Rota dos pescadores artesanais de Jesus de Nazareth

Foto 1 - Paisagem urbana da região

Fonte: Do autor (2017)

Fonte: Do autor (2017) Mapa 2 - Síntese da poligonal

Fonte: Do autor (2017)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na compreensão da atividade pesqueira no estado (comunidade tradicional, pesca artesanal, pesca industrial e conflitos), as autoras Knox e Trigueiro (2014) destacam que o estado do Espírito Santo possui uma frota de 2.486 barcos motorizados, com um contingente de 11.517 pescadores ativos. A partir das entrevistas realizadas para este trabalho, com pescadores da Enseada do Suá/ Jesus de Nazareth, foi possível identificar que a maioria destes pescadores nasceu em Vitória, reside nos morros ao redor da Enseada do Suá (sobressaindo o Morro Jesus de Nazareth), estranham qualquer possibilidade de morar em outro lugar, e vivem exclusivamente da pesca. As múltiplas formas de categorizar a atividade da pesca dificultam uma definição formal ao termo pesca artesanal, pois raramente identificam-se características comuns a tudo que vem sendo titulado dessa forma (ANDRIGUETTO FILHO, 1999). Dentre algumas características comuns (LOPES, 2013; KNOX E TRIGUEIRO, 2015; ANDRIGUETTO FILHO, 1999; CARDOSO, 2001; MALDONADO, 1994), apontase: O poder de predação (escala); pelo ponto de vista de sua economia: de subsistência ou comercial; se são profissionais autônomos; pelo tempo dedicado à atividade; pela distância percorrida. 124

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Fazem parte da pesca artesanal os pescadores que limitam a produção da escala relativamente baixa (ANDRIGUETTO FILHO, 1999) e empregam mão-de-obra familiar ou de grupos de vizinhança (CARDOSO, 2001). Entretanto, pescadores artesanais são responsáveis por garantir a maior parte do pescado consumido pela população brasileira (KNOX; TRIGUEIRO, 2015) em barcos que não ultrapassam 15 metros de comprimento (KNOX e TRIGUEIRO, 2015; LOPES, 2013). O interessante contraste entre tradição pesqueira e contemporaneidade arquitetônica/ urbanística sobrevive na paisagem da comunidade tradicional de pescadores de Jesus de Nazareth. A maioria dos pescadores artesanais entrevistados apontou ter herdado da família as habilidades para a pesca. Na poligonal de estudo são notáveis: a relação dos pescadores com o mar, com as ferramentas de trabalho e a apropriação da orla marítima, que fazem daquele espaço público o quintal de suas casas localizadas no alto do Morro Jesus de Nazareth. Se não for para embarcar nos riscos do alto mar ou para desembarcar o honroso pescado, utilizam a frente marítima para se encontrarem, falar da vida, da pesca e da rivalidade entre pescadores. Para Knox e Trigueiro (2014), as comunidades são afetadas por grandiosos empreendimentos (Vale do Rio Doce, Estaleiro da Jurong, indústria de energia de petróleo, indústria portuária de importação/ exportação e indústrias siderúrgicas) e são excluídas economicamente, politicamente e socialmente. Além disso, por não conseguirem controlar as condições do tempo, entre a terra e o mar pescadores se arriscam com a mobilidade, e nesse risco diferentes grupos sociais se apropriam do espaço, se dividem e se ordenam, e exploram os recursos naturais, constituindo assim a territorialidade marítima (MALDONADO, 1994). De acordo com as conversas informais e entrevistas com pescadores, muitos possuem barcos inferiores a 8m com motores e se aventuram em distâncias mar adentro que impressionam (60/70km). Enquanto a maioria dos pescadores entrevistados rema em média 2 horas para alcançar o pescado. A terceira etapa da pesquisa apresentou o diagnóstico que abrange os bairros Jesus de Nazareth, uma fração da Enseada do Suá e área do bairro Bento Ferreira hoje ocupada pela empresa Vitória Base, localizados ao sul do município de Vitória, margeados pela baía de Vitória. Foi possível compreender a formação do bairro Jesus de Nazareth, deixando nítidas as diferenças sociais existentes dentro da poligonal, entre Jesus de Nazareth e Enseada do Suá. O critério urbanístico apontou características do meio urbano que dificultam a qualidade de vida dos moradores, entre qualidades e observações que levaram a compreensão do lugar. O critério arquitetônico mostrou ações comportamentais dos moradores, como estratégias de ocupação e sobrevivência no relevo rochoso. Por fim, o critério socioambiental, trouxe uma ótica peculiar que busca apontar características e comportamentos que fazem do bairro Jesus de Nazareth, seus moradores e pescadores artesanais, únicos, conformando uma paisagem singular que deve ser valorizada.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os tradicionais traços dos pescadores artesanais e moradores do bairro Jesus de Nazareth, impressos na paisagem cultural desse meio urbano da cidade de Vitória, devem ser traduzidos e defendidos de uma maneira mais evidente e rigorosa, caso contrário, a cultura e territorialidade desse povo que se arrisca nas incertezas do mar e da terra, podem ser meramente substituídos pelos sentidos globalizantes e fragmentários da cidade contemporânea capitalista, o que ocasionaria a indesejada segregação socioespacial. A carência de apoio legislativo e estrutural – ferramentas, equipamentos públicos voltados para a saúde e educação da família do pescador, vinculados com a organização – colocam o pescador em risco. Por meio do diagnóstico foi possível perceber que as casas do bairro, de maneira geral, embora simples, apresentam-se consolidadas. Portanto, em uma ótica urbanística, aponta-se que a infraestrutura que cercam essas casas (vias, vielas, escadarias, organização do trânsito, fluxos, acessos, equipamentos públicos de saúde e educação, espaços públicos) deixa a desejar, o que limita a qualidade de vida e desenvolvimento humano dos moradores.

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Conclui-se que, para preservar e integrar o grupo ao meio urbano em constante transformação, é necessário proteger o Morro de intervenções que expulsem a classe social identificada e incentivar o desenvolvimento dos moradores internamente. Para isso, utilização das áreas vazias ou usos inadequados identificados na poligonal para equipamentos que possam proporcionar a capacitação dos pescadores e moradores da comunidade em outras atividades que gerem renda, tendo, assim, alternativas para os períodos em que não se pode pescar ou de defeso. Tais medidas, entre outras que ainda serão estudadas, podem diminuir a frustração identificada nos pescadores entrevistados em relação à profissão e, quem sabe assim, preservar a tradição da pesca artesanal.

REFERÊNCIAS ALVES, Manoel Rodrigues. São Paulo. 2010. Cidades: Novas Espacialidades e Territorialidades. Disponível em: < http://revistas.usp.br/posfau/article/viewFile/43712/47334>. Acesso em: 29 de mar. 2017. ANDRIGUETTO FILHO, José Milton. Sistemas técnicos de pescas e suas dinâmicas de transformação no litoral do Paraná, Brasil. 1999. 256f. Tese (Meio ambiente e desenvolvimento) – Programa de pós-graduação em Meio ambiente e desenvolvimento. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1999. CARDOSO, Eduardo Schiavone. Pescadores artesanais: Natureza, Território, Movimento Social. 2001. Tese. 143f. (Geografia Física) – Programa de pós-graduação em Geografia. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Geografia. São Paulo. 2001 DIEGUES, Antonio Carlos Sant’Ana. Ecologia humana e planejamento em áreas costeiras. 2. ed. São Paulo: NUPAUB/USP, 2001. IPHAN, Chancela da Paisagem Cultural. 2009. Disponível em: <https://iphanparana.wordpress.com/ iphanparana/legislacao/legislacao-do patrimonio-material/portaria-no-127-de-30-de-abril-de-2009/>. Acesso em: 08 de abril. 2017. KNOX, Winifred; TRIGUEIRO, Aline. A pesca artesanal, conflitos e novas configurações. REDD – Revista Espaço de Diálogo e Desconexão, Araraquara, v.8, n.2. Jan. /jun. 2014. LOPES, Vera de Fátima Maciel. Era uma vez uma ilha de Pescadores Artesanais: Impactos socioambientais dos grandes complexos industriais, conflitos e resistência (Ilha da Madeira/ Itaguaí/ RJ). Tese. 202f. (Meio Ambiente) – Programa de pós-graduação em Geografia. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2013 MALDONATO, Simone Carneiro. Mestres & Mares. Espaço e Indivisão na Pesca Marítima. ANNABLUME editora. São Paulo. SP. 1994 SANTOS, Milton. O dinheiro e o território. In.: Território, territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial. 3. ed. São Paulo, SP: EDUSP, 2009.

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O ESPAÇO PÚBLICO EM BUSCA DE UMA CIDADE VIVA RAMOS, Larissa Andara (1); RAMOS, Suzany Rangel (2) (1) Professor Doutor, UVV, Larissa.ramos@uvv.br; (2) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, Suzany.r@hotmail.com

RESUMO A qualidade de vida da população residente em meio urbano é influenciada pela presença de espaços livres de permanência e lazer, dotados de boa infraestrutura e vegetação. Esses espaços são responsáveis pela dinamização e vitalidade urbana, uma vez que são palco de manifestações e atividades diárias da população. As relações entre pessoas e cidades estão cada vez mais distantes devido a carência desses espaços livres. Com isso esse trabalho visa compreender, através de revisão bibliográfica de diferentes autores, a importância dessas relações, trazendo os atributos essenciais de um espaço público de qualidade que possibilita a busca por uma cidade viva.

PALAVRAS-CHAVE: Planejamento Urbano; Espaços Públicos; Qualidade de Vida.

1 INTRODUÇÃO O processo de urbanização gera pressões no uso e ocupação do solo das cidades e impõe a substituição de áreas naturais por áreas construídas, o que afeta diretamente a população residente. A qualidade de vida da população é uma abordagem que vem assumindo proporções significativas, e para alcançá-la é importante que a cidade, dentre outros fatores, permita as relações entre o espaço edificado e os espaços livres de uso público, a fim de possibilitar maior interação da população com o meio natural que a circunda. O planejamento das cidades deve levar em consideração o dinamismo que a criação de espaços públicos tem a oferecer, o que influencia na saúde física e mental da população, a partir da diversidade de possíveis apropriações. Segundo Gehl (2014), o ponto natural de partida para se projetar cidades para pessoas é a relação entre mobilidade e os sentidos humanos, pois é o que define o comportamento humano e sua comunicação com o espaço urbano. Ainda de acordo com Gehl (2014), o desafio dos urbanistas é mais que simplesmente planejar espaços que garantam a circulação de pessoas, é projetar espaços que possibilitam o contato direto com a sociedade em seu entorno, através da criação de espaços vivos, multifuncionais e diversos A partir dessas considerações, o objetivo do trabalho a seguir é estudar autores que ajudem na compreensão da cidade como palco de manifestações e expressão popular, e que tragam aspectos qualificadores de um espaço público de qualidade que permita essa dinâmica de interação social.

2 MATERIAL E MÉTODO Neste trabalho foi realizada a revisão de bibliografias relacionadas às cidades e aos espaços públicos. As discussões sobre as cidades foram fundamentadas em autores como Gehl (2014), Cullen (2008), Jacobs (2013) e Lynch (2006), que explanam sobre a importância de as pessoas vivenciarem cada espaço e serem protagonistas das cidades. Autores com Santiago e Marchesano (2016), Gatti (2013) e Brandão (2008), auxiliaram na compreensão dos conceitos, elementos e atributos que compõe a estrutura de um espaço público de qualidade.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Sobre as Cidades Para Mongin (2009), a cidade pode ser definida como um lugar praticado, que caracteriza a condição urbana ativa. Ela deve produzir espaços públicos qualificados que permitam experiências e participação aos seus usuários. Usuários estes que, segundo Lefebvre (2001), têm direito à cidade, ou seja, direito à liberdade, à socialização, à participação e à apropriação dos espaços urbanos. Apesar disso o cenário atual das cidades aponta para o desaparecimento desses espaços públicos. Segundo Rogers (2001), esse desaparecimento pode acarretar grandes problemas sociais que caracterizam o declínio da cidade. A redução desses espaços significa redução da vitalidade, ou seja, as pessoas passam a não participar da vida urbana. A medida que a população cresce, crescem também seus anseios por novos lugares e novas opções de entretenimento, lazer e cultura. Com isso, de acordo com Gehl (2014, p.6) “a visão de cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis tornou-se um desejo universal e urgente”. As pessoas precisam sentir-se convidadas a participar como protagonistas na vida da cidade. Quanto a vivacidade dessas cidades Gehl (2014), afirma que o objetivo maior é fazer com que as pessoas caminhem ou pedalem por prazer, vivenciando a cidade numa velocidade menor, podendo apreciar cada singularidade do local. Esse prazer em caminhar é reforçado quando, durante o trajeto, surgem oportunidades de encontros e recreações versáteis. O autor enfatiza que a constituição do espaço deve também permitir frequentes mudanças de atividades, intercalando a caminhada com a parada, o descanso, a permanência e o bate-papo. Outro fator que influencia a apropriação das cidades é a segurança dos espaços públicos, que está diretamente ligada a presença de pessoas. Quando há pessoas caminhando nos espaços públicos há um aumento da segurança real e da segurança percebida, de forma a tornar aquele local mais convidativo às outras pessoas. A sustentabilidade social está relacionada ao acesso igualitário ao espaço. Essa igualdade é incentivada com a combinação entre as caminhadas e pedaladas e o transporte público. A qualidade do espaço e do sistema de transporte público devem ser atreladas para que as pessoas se sintam seguras e confortáveis. Duarte, Sanchez e Libardi (2011), defendem ainda o fortalecimento dessa rede integrada de mobilidade urbana, que promove acesso amplo e democrático da população aos espaços da cidade e estimula a apropriação desses espaços, intensificando o convívio urbano. Cullen (2008), afirma que a formação das cidades depende da reunião de pessoas. Para ele a cidade “é uma unidade geradora de um excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem viver em comunidade a viverem isoladas” (CULLEN, 2008, p. 9). Além disso Jacobs (2013), afirma que o desempenho social e o econômico das cidades dependem da animação e variedade de atividades que nelas acontecem. A animação atrai mais animação, já a apatia e monotonia repelem a vivacidade. A medida que se consegue mesclar a diversidade de usos e usuários, consegue-se sustentar com naturalidade os espaços públicos. Lynch (2006), deixa bem claro a importância das pessoas na construção da imagem da cidade. Para o autor as pessoas não devem apenas observar, e sim ser parte dela, a fim de que se tenha uma percepção abrangente da cidade. Por isso sua forma deve ser agradável aos olhos humanos, funcionando como um símbolo da vida urbana, ou seja, por mais comum que essa cidade seja, é importante que admirá-la seja um prazer especial. Outro conceito importante para a relação entre cidades e pessoas é o conceito de urbanidade. Segundo Rheingantz e Pedro (2012), a urbanidade se refere ao modo como os espaços da cidade acolhem as pessoas, ou seja, o quão hospitaleiro é esse local. Neste sentido o espaço público é fundamental para promover a urbanidade na medida que vira palco da cultura urbana compartida, baseada nos princípios da coletividade, convivência, integração e diversidade.

3.2 Sobre os Espaços Públicos Os espaços públicos, segundo Alex (2011), são locais abertos e acessíveis a todas as pessoas, que 128

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podem assumir formas e tamanhos variados, por isso devem ser vistos como um conjunto de práticas sociais. As praças, parques, ruas e jardins compõe o sistema de espaços abertos da cidade, e o convívio nesses locais dependem muito de acessos, pois a articulação com o tecido urbano define sua conexão com a cidade. Para Nygaard (2010) esses espaços representam a vitalidade ou a estagnação da vida urbana. São capazes de incorporar usos econômicos e sociais variados através das práticas socioespaciais. O povo é quem domina esse espaço, promovendo convivência social e relação interpessoal. Rogers (2001) afirma que um espaço público seguro e não excludente, seja ele de pequeno ou grande porte, é fundamental para a coesão social, pois servem de palco para a expressão da democracia. Nesses espaços a população tem liberdade para debater sobre os direitos dos cidadãos, e estimular essas discussões. De acordo com Brandão (2008) o espaço público é definidor da forma urbana. Esse espaço que configura a socialização e a vivência comum como um bem coletivo da comunidade, devendo ser visto como um bem de utilização livre, que traduz o equilíbrio entre o meio e o homem. Segundo Gatti (2013) a vida coletiva dos espaços públicos é indicador de qualidade de vida de uma cidade, pois esse espaço é local de lazer, descanso, conversa, circulação e encontro de pessoas. Para a autora o espaço deve ser projetado através da compreensão da dinâmica urbana, a fim de refletir as necessidades e anseios dos seus usuários. De acordo com Santiago e Marchesano (2016), espaços públicos bem planejados geram igualdade social, e a falta deles caracteriza uma cidade dividida, com relações sociais frágeis e tensas. A existência desses espaços reduz a taxa de criminalidade local ao possibilitar atividades que tragam segurança. Existem alguns critérios e parâmetros para avaliar a qualidade dos espaços públicos. Estes podem variar de acordo com diferentes autores. Para Gatti (2013) as características básicas para definir as condições dos espaços públicos são: a) condições de circulação para o pedestre e modais não motorizados; b) acessibilidade; c) arborização; d) segurança; e) conforto; f) áreas de estar e permanência; g) atividades realizadas e h) apelo visual. A partir dessa leitura dos espaços é possível entender os problemas e as potencialidades de cada lugar, a fim de direcionar os investimentos e as intervenções. Além dos critérios e parâmetros elencados acima, Brandão (2008) aponta alguns elementos essenciais para que os espaços públicos possuam qualidade urbana, são eles: a) identidade, que é alcançada a partir de elementos de diferenciação que tornam o local reconhecível; b) continuidade e permeabilidade, proporcionando boa integração com a malha viária; c) segurança e conforto, oferecendo boa qualidade visual e elementos ergonômicos; d) acessibilidade e mobilidade, oferecendo facilidade de movimentação e promovendo interligações; e) diversidade e adaptabilidade, flexibilizando usos a partir da escolha de serviços e equipamentos; f ) robustez e resistência, atendendo as solicitações de uso e desgaste, garantindo maior tempo útil de vida possível e, finalmente, g) sustentabilidade, na esfera econômica, ambiental, social e cultural, sendo produtivos, pouco impactantes ecologicamente, promovendo equidade e sendo significativos. Para Santiago e Marchesano (2016), um espaço público bem-sucedido tem quatro qualidades fundamentais: é acessível, ativo, confortável e sociável. Acessível por permitir a circulação de todo tipo de pessoa, com ou sem dificuldades locomotoras; ativo pela variedade de atividades; confortável por oferecer bons locais de permanência e contemplação e sociável por promover encontros. Os autores trazem um diagrama de atributos para avaliação dos espaços públicos (Figura 01). O círculo central do diagrama, denominado lugar, é um espaço público específico, e seus atributos chave estão no anel cinza. No anel azul estão aspectos intuitivos e qualitativos do lugar, e no anel rosa, aspectos quantitativos, medidos a partir de estatísticas. Quanto aos atributos-chaves “acessos e conexões”, o espaço público deve ser de fácil chegada e saída, sendo bem conectado com as ruas do entorno. Deve estimular a diversidade dos meios de locomoção, permitindo conforto para o pedestre e ciclista, e a facilidade de acesso por meio do transporte público. Além disso, deve prever áreas de estacionamento para os usuários que chegam por meio de transportes particulares. O “conforto e imagem” dizem respeito às percepções dos usuários que estão relacionadas à itens como segurança, limpeza, visuais e disponibilidade de locais de descanso. Os “usos e atividades” devem ser os pilares básicos do espaço, sendo motivo principal da atração de pessoas ao local. Esse espaço deve ser ativo e divertido, com propostas de atividades diversificadas. Além disso, deve ser especial e real, possibilitando maior vivacidade. A “socialidade” deve ser promovida para que os espaços sejam ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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pontos de encontro, onde pessoas interagem não só com amigos, mas também com estranhos, tendo assim sensação de pertencimento. O espaço deve ser convidativo a todas as faixas etárias de usuários, a fim de incentivar as apropriações. A gestão desses espaços deve envolver não só o poder público, mas também a população local. É importante o envolvimento da população através do cooperativismo e voluntarismo, a fim de preservar o bem comum. Figura 01 – Diagrama de Atributo dos Espaços Públicos

Fonte: Santiago e Marchesano, 2016.

A tabela a seguir resume os atributos qualificadores de um espaço público elencados pelos autores estudados anteriormente. Os atributos acessibilidade, conforto e diversidade são comuns entre todos os autores. Mobilidade, segurança e identidade são citados pela maioria. Esses atributos são responsáveis pela construção de um espaço atrativo, possibilitando vitalidade local, e foram destacados a fim de servir como base para auxiliar na avaliação e criação de espaços públicos de qualidade. Tabela 01 – Atributos Qualificadores do Espaço Públicos

ATRIBUTOS QUALIFICADORES DO ESPAÇO PÚBLICO AUTORES

Mobilidade

Acessibilidade

Segurança

Conforto

Diversidade

Identidade

Brandão (2008)

X

X

X

X

X

X

Gatti (2013)

X

X

X

X

X

X

X

X

Santiago e Marchesano (2016)

X

Fonte: Produzido pela autora, 2017.

5 CONCLUSÃO A relação entre as pessoas e a cidade é de grande relevância para a sociedade como um todo, pois o espaço público é palco de manifestações e local de lazer para a população, além de ser direito de todos. É importante que discussões sobre esse tema sejam levantadas a fim de chamar atenção do poder público, para que tornem reais os projetos idealizados não somente por arquitetos e 130

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urbanistas, que buscam melhorias no planejamento das cidades, mas também pela população, que anseia pela melhor qualidade de vida. Os autores estudados trouxeram contribuições que se convergem e se completam, e foram expostas a fim de enriquecer futuras propostas de espaços públicos de qualidade para as nossas cidades.

REFERÊNCIAS ALEX, Sun. Projeto da praça: convívio e exclusão no espaço público. 2. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2011. BRANDÃO, Pedro. A identificação dos lugares e a sua representação coletiva: bases de orientação para concepção, qualificação e gestão do espaço público. Série Política de Cidades – 3. Centro de Sistemas Urbanos e Regionais (CESUR), Departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, 2008. CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana. Lisboa, Portugal: 70.2008 DUARTE, Fábio; SÁNCHEZ, Karine; LIBARDI, Rafaela. Introdução à mobilidade urbana. Curitiba: Juruá Editora, 2011. GATTI, Simone. Coordenação do Programa Soluções para Cidades. Espaços públicos: diagnóstico e metodologia de projeto. São Paulo, ABCP, 2013. Disponível em: <http://www.solucoesparacidades.com.br/ wp-content/ uploads/2013/11/Manual%20de%20espacos%20publicos.pdf.> Acesso em: 17 de abril de 2017. GEHL, Jan. Cidade para pessoas. 2. ed. São Paulo, SP: Perspectiva, 2014. JACOBS, Janes. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2013. LEFEBVRE. Henri. O direito à cidade. Tradução Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro. 2001. LYNCH, Kevin. (1960). A Imagem da Cidade. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2006. MONGIN, Olivier. A condição urbana: a cidade na era da globalização. Tradução Leticia Martins de Andrade. São Paulo: Estação Liberdade, 2009. NYGAARD, Paul Dieter. Espaço da cidade: segurança e participação popular. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto, 2010. RHEINGANTZ, Paulo Afonso; PEDRO, Rosa. Qualidade do lugar e cultura contemporânea: controvérsias e ressonâncias em coletivos urbanos. 1. ed. Rio de Janeiro: UFRJ; FAU; PROARQ, 2012. ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta. Versão portuguesa de Anita Regina Di Marco. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2001. SANTIAGO, Paola Caiuby; MARCHESANO, Tiago. Guia do Espaço Público. 2. ed. São Paulo: Conexão Cultural, 2016.

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AVALIAÇÃO DOS PLANOS DIRETORES MUNICIPAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA: ESTUDO DE CASO PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE CARIACICA – ES FERREIRA, Giovanilton André Carretta (1); SANTOS, Keyla Giovana F. (2) (1) Professor Doutor, UVV, giovanilton.ferreira@uvv.br; (2) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, kgiovanasantos@hotmail.com

RESUMO O resumo aborda os planos diretores municipais da Região Metropolitana da Grande Vitória, tendo como foco o município de Cariacica. Em 2001, o Estatuto das Cidades foi criado para regulamentar a política urbana da Constituição Brasileira com parâmetros básicos para o desenvolvimento urbano dos municípios. O Plano Diretor Municipal (PDM) é um dos instrumentos da política urbana em âmbito municipal e seu objetivo de política é ordenar o pleno desenvolvimento dos municípios e os diversos aspectos econômicos, físicos e sociais.

PALAVRAS-CHAVE: PDM; Cariacica; Estatuto das Cidades.

1 INTRODUÇÃO O resumo aborda o Plano Diretor Municipal de Cariacica, município do Espírito Santo e pertencente a Região Metropolitana da Grande Vitória, tendo como foco a análise da legislação em si, a lei 4575/2007. Para isso, são examinados o histórico da legislação, a redação do Plano Diretor Municipal em vigor e a relação com o cenário atual da cidade. O histórico de ordenamento territorial é tratado brevemente, relatando especialmente como o Plano Diretor Municipal em vigor foi realizado. O interesse neste aspecto é relatar o desenvolvimento e produção da legislação e como este processo reflete na lei após 10 anos de sua implantação. O intuito da abordagem do texto do PDM é ressaltar como o mesmo foi desenvolvido, quais aspectos considera em sua composição, a integração com a Região Metropolitana e como o Plano está em conformidade com as características e especificidades do município. Neste caso, enfatizando em como o Plano Diretor Municipal de Cariacica trata a questão ambiental e rural com predominância devido à natureza do município.

2 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DE ORDENAMENTO TERRITORIAL De acordo com o histórico da legislação da Prefeitura do Município de Cariacica, o Plano Diretor Municipal vigente de 2007 foi o primeiro e único criado na história do município. O Plano Municipal de Cariacica (Lei Complementar 018/2007) foi formulado e criado no ano de 2007, pela Prefeitura Municipal de Cariacica e consultoria (Fundação Ceciliano Abel de Almeida – FCAA / Instituto Cidades) contratada pelo município para realização do PDM. Atualmente está em fase de revisão, sendo previsto para aprovação em 2018. Segundo Fernandes (2010), autor da tese Participação Popular e Plano Diretor Municipal (PDM): Estudo de Caso de Cariacica – Região Metropolitana de Vitória – ES, ...o processo de elaboração do PDM de Cariacica teve início apenas no mês de

maio de 2006, ou seja, poucos meses antes do prazo limite de cinco anos (10 de

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outubro de 2006) estipulado a partir da entrada em vigor do Estatuto da Cidade (10 de outubro de 2001), para que os municípios com população superior a 20.000 habitantes, ou integrantes de área metropolitanas, confeccionassem seus PDM ou adequassem seus antigos planos diretores ao Estatuto da Cidade”. Como ressaltado anteriormente, foi somente em maio de 2006 que se iniciou o processo de confecção do PDM de Cariacica, o que reduziu fortemente o tempo para a realização do plano já que o prazo final estipulado pelo Estatuto da Cidade era outubro de 2006. A primeira dificuldade, de muitas, foi a inexistência de qualquer tipo de ferramenta de ordenamento territorial. Além disso, somaram-se problemas como a falta de informações sistematizadas sobre o município que pudessem servir como subsídio para diagnósticos iniciais, bem como carência de materiais e de infraestrutura mínima para a confecção do futuro plano. Para além dos obstáculos já citados, a gestão municipal que assumiu em 2005 enfatizou também como causa do atraso na elaboração do PDM a falta de recursos financeiros municipais. Cariacica teve sua lei do PDM aprovada somente em junho de 2007. No entanto, o projeto do PDM foi encaminhado à Câmara de Vereadores em setembro de 2006. Ou seja, aproximadamente nove meses se passaram do encaminhamento do projeto até sua aprovação na Câmara. Por outro lado, todo o processo de confecção do PDM ocorreu em apenas três meses, incluindo aspectos de levantamentos técnicos e, principalmente, leitura comunitária e discussão do projeto de lei com a população, que foram realizados em alguns poucos encontros ao longo dos três meses. (Fonte: Participação popular e Plano Diretor Municipal (PDM): estudo de caso de Cariacica / Flávio Palhano Fernandes. – 2010)

O Plano Diretor Municipal de Cariacica teve que ser elaborado em decorrência da exigência da nova legislação da política urbana, o Estatuto da Cidade. Como descrito anteriormente, o PDM Cariacica teve diversas dificuldades em sua execução (ausência de material ou informações antecessoras sobre o município e de recursos) e com isso sua estruturação pode ser considerada desproporcional aos outros municípios da Região Metropolitana.

2.1 O Plano Diretor Municipal de Cariacica Segundo o site da Prefeitura Municipal de Cariacica o PDM tem em seu conteúdo quatros leis complementares: Lei Complementar 018, desenvolve em si a estruturação do plano diretor; As Leis Complementares 020, 022, 023 são descritas as alterações feitas no mesmo ano do Plano Diretor; e anexos. Ao iniciar a descrição da lei, com base nestas diretrizes da política urbana e nas características locais do município, o Plano Diretor Municipal de Cariacica definiu os temas prioritários para garantir o desenvolvimento sustentável e o cumprimento das responsabilidades sociais, ambientais, econômicas, culturais e de política. O ordenamento territorial do município de acordo com o Plano Diretor Municipal de Cariacica possui dois tipos de divisões do território, sendo eles o macrozoneamento e o zoneamento municipal. O Macrozoneamento consiste na divisão do município em unidades territoriais contínuas que fixam os princípios fundamentais de uso e ocupação do solo, em concordância com as estratégias da política urbana, definindo uma visão de conjunto que integra todo o Município. O zoneamento municipal consiste na divisão do território em zonas, estabelecendo as diretrizes para o uso e a ocupação do solo no Município, tendo como referência às características dos ambientes naturais e construído. As Zonas são subdivisões das Macrozonas em unidades territoriais que servem como referencial ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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mais detalhado para a definição dos parâmetros de uso e ocupação do solo, definidos as áreas de interesse de uso onde se pretende incentivar, coibir ou qualificar a ocupação. Após o ordenamento territorial, o PDM Cariacica tem como base para o planejamento e gestão do desenvolvimento urbano os instrumentos de política urbana previstos na lei de Estatuto da Cidade (entre eles, Do Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV; Do IPTU Progressivo no Tempo; Das Operações Urbanas Consorciadas; Do Direito de Superfície; entre outros). Finalizando a lei, com O Sistema Municipal de Desenvolvimento Territorial de Cariacica apresentando o Órgão coordenador responsável pelo desenvolvimento territorial; Conselho Municipal do Plano Diretor de Cariacica; Fundo Municipal de Desenvolvimento Territorial; e Sistema de Informações Municipais para o Desenvolvimento Territorial e as Disposições Finais. A avaliação conclui que o Plano Diretor Municipal de Cariacica é um documento de lei sutil, fica claro durante a análise que o seu escopo é pouco detalhado. Após a interpretação do estudo de caso elaborado por Flávio Palhano Fernandes sobre o Plano Diretor de Cariacica podemos concluir em base que o plano diretor é um documento superficial pois, o seu desenvolvimento foi realizado às pressas e assim resulta hoje em um Plano Diretor que pouco induz a novos processos de desenvolvimento urbano. Entretanto, pode-se observar uma predominância da questão ambiental e rural no Plano Diretor Municipal. Na lei, a questão é um dos temas prioritários de desenvolvimento territorial do município com a Política de Patrimônio Ambiental, é tratada novamente no ordenamento urbano pelo macrozoneamento e zoneamento municipal. Este predomínio é resultado do caráter do município que, embora a sede do município esteja localizada à 15,8 Km da capital, trata-se de uma sede histórica de característica rural. Na divisão territorial de Cariacica, a área rural corresponde mais de metade da área geográfica de Cariacica, como demonstra a figura 1 (54%, segundo dados do IBGE). Figura 1. Divisão territorial do município de Cariacica.

Fonte: Anexo 01, Plano Diretor Municipal de Cariacica, 2007.

Em todos os aspectos em que a questão ambiental é tratada, têm em comum o objetivo principal de preservação, conservação e a promoção de qualidade do meio ambiente, tornando o primoroso tratamento da questão pelo Plano importante na proteção das áreas ambientais do município. Iniciando pelo tema prioritário, a Política de Patrimônio Ambiental tem parâmetros preservacionistas e propõe integração com a Política de Desenvolvimento Econômico e Social, porém não ordena e esclarece como este desenvolvimento em conjunto deve ser realizado. Em relação ao ordenamento territorial, o macrozoneamento aborda a totalidade do município, porém destaca-se as macrozonas rurais, sendo das 9 macrozonas estabelecidas, 5 estão relacionadas as áreas rurais.

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O PDM de Cariacica aborda as macrozonas rurais de acordo com suas especialidades e características locais. Porém, o macrozoneamento não determina nenhuma política de desenvolvimento, orientação para ocupação deste território ou quais investimentos estas áreas podem receber, sendo assim considerado generalizado os aspectos. O Zoneamento do Município de Cariacica fica dividido em dez tipos de zonas, três zonas são relacionadas a questão ambiental, sendo elas: Zona Natural – ZN 1 e 2; Zona de Preservação Ambiental – ZPA 1 e 2 e Zonas Urbana. As três zonas possuem o principal objetivo de preservação da área rural e ambiental e também possui o intuito de conter o avanço urbano para a área. Este ordenamento territorial está relacionado com o cenário atual da cidade, Cariacica além de possuir 54% de área rural também possui diversas Unidades de Conservação e principais áreas ambientais que compõem a maior parte do patrimônio ambiental do município. Em Cariacica existem cinco unidades de conservação, cujas categorias de manejo se enquadram nas tipologias previstas pelo SNUC. São elas: Reserva Biológica de Duas Bocas, Parque Natural Municipal do Monte Moxuara, Área de Proteção Ambiental do Monte Moxuara, Parque natural Municipal do Manguezal de Itanguá, Reserva do Desenvolvimento Sustentável Municipal do Manguezal de Cariacica. A Reserva Biológica de Duas Bocas, sob responsabilidade do IEMA, é uma unidade de conservação de proteção integral, de domínio público, que tem como objetivo a preservação integral dos recursos naturais. A Área de Proteção Ambiental (APA) do Monte Moxuara, uma UC de uso sustentável, tem como objetivo conservar os recursos naturais, bem como usá-los de forma sustentável. As áreas, Parque Natural Municipal do Monte Moxuara e a Área de Proteção Ambiental do Monte Moxuara encontram-se com Planos de Manejo contratado, utilizando-se do recurso de Compensação Ambiental provenientes da Vale. Criada em 2007, a Reserva do Desenvolvimento Sustentável (RDS) Municipal do Manguezal de Cariacica tem 740 ha de área e o Parque Natural Municipal do Manguezal de Itanguá, criado em 2007, possui 47,19 ha localizados no perímetro urbano. Relativo aos manguezais, no âmbito da Grande Vitória, Cariacica ainda preserva uma área importante ocupada por esse ecossistema que estão localizados totalmente no perímetro urbano. Embora o Plano Diretor Municipal Cariacica ser uma lei superficial, em relação a questão rural e o patrimônio ambiental o mesmo apresenta parâmetros mais específicos e até induz novo tipo de desenvolvimento dentro destas áreas, estabelecendo critérios de parcelamento do solo ou estímulo a criação de novos parques urbanos e hortos municipais a fim de criar mais áreas ambientais, a recuperação de áreas degradadas, o enriquecimento florestal, além da preservação dos espaços rurais e de todo patrimônio ambiental e paisagístico visando o desenvolvimento sustentável do município. Porém, o que o PDM propõe ainda é limitado pela falta de detalhes e especificações relacionadas aos novos processos de desenvolvimento urbano e assim o município é direcionado a usos normativos, não alterando o município para o pleno desenvolvimento urbano e sustentável.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Do exposto, constatou-se então na avaliação do Plano Diretor Municipal de Cariacica que em toda a composição a lei é relatada breve e um tanto resumida e raramente são regulamentados de forma a garantir sua aplicação. Fica claro que o plano foi apenas realizado por ser obrigatório e pelo governo da cidade estar sujeito a penalidades caso o plano não fosse apresentado ao Estatuto. O plano Diretor Municipal de Cariacica está de acordo com o Estatuto da Cidade, mas não em conformidade, hoje, com a cidade. A lei incorporou alguns poucos aspectos do Estatuto, mas não ordena territorialmente da melhor forma que o município necessita para possuir uma estrutura urbana sustentável. A questão ambiental e rural apenas é uma questão mais específica do Plano, porém em relação a questão urbana do município muito ainda deve ser analisado. Deste modo, o plano e o município precisam de um estudo aprofundado, de ferramentas e informações coerentes com as necessidades atuais do município e junto com a população criar um Plano Diretor completo e eficiente. Atualmente, o Plano está sendo revisado pelo município e um novo sendo criado, com expectativa que este conjunto de questões se solucionem transformando Cariacica no futuro em um município mais desenvolvido.

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REFERÊNCIAS BRASIL. Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade e Legislação Correlata. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2002. CARIACICA. Prefeitura Municipal de Cariacica. Agenda Cariacica – Meio ambiente, humanização da cidade e saneamento. Cariacica: Prefeitura de Cariacica, 2012. CARIACICA. Prefeitura Municipal de Cariacica. Plano Diretor Municipal de Cariacica. Lei complementar 018. Cariacica: Prefeitura de Cariacica, 2007. FERNANDES, FLÁVIO PALHANO. Participação popular e Plano Diretor Municipal (PDM): estudo de caso de Cariacica/ Flávio Palhano Fernandes. – 2010.

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MUSEU SOLAR MONJARDIM REQUALIFICAÇÃO PAISAGÍSTICA

SANTOS, Nayhara Martins dos (1); NEIVA, Simone (2); (1) Arquiteta e Urbanista, graduação UVV, nayharams@gmail.com; (2) Professora Doutora, UVV, simoneiva@gmail.com;

RESUMO O presente artigo apresenta de modo sucinto a proposta desenvolvida no trabalho de conclusão de curso para graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha. Tem como objetivo apresentar e discutir a implantação de um parque urbano no terreno do Museu Solar Monjardim, com área de 9.800 m². Tal terreno abriga a mais antiga construção rural do período colonial capixaba, construída no final do século XVIII. A proposta de inserção do parque foi pensada por meio da requalificação paisagística – processo que abarca um conjunto de medidas, cuja finalidade essencial é a valorização do patrimônio e dos espaços públicos, tais como parques, praças e jardins. Como metodologia, a área do terreno do museu foi analisada a partir de procedimentos técnicos, no intuito de identificar suas inadequações e conflitos existentes, bem como suas necessidades e potencialidades.

PALAVRAS-CHAVE: museu; paisagismo; parque urbano; requalificação.

1 INTRODUÇÃO A motivação principal para a proposta de requalificação paisagística do terreno do Museu Solar Monjardim (fig.1) foi a reconstituição do entorno desta edificação colonial do final do século XVIII, tombada pelo IPHAN na década de 40, localizada no bairro de Jucutuquara (fig.2). Sua importância como patrimônio é inegável, pois constitui o principal exemplar remanescente da arquitetura rural no litoral sudeste. A requalificação proposta prevê impactos positivos no município de Vitória, em especial no bairro de Jucutuquara. Sua intenção é promover melhoria na qualidade ambiental do espaço público, contribuindo assim para melhor interação de seus usuários com o meio ambiente e a memória histórica da região. A área de estudo também foi escolhida devido às suas potencialidades sociais, ecológicas e turísticas. Além disso, a requalificação dialoga com questões urbanas contemporâneas, tendo em vista o reaproveitamento de espaços públicos cronicamente desgastados ao longo dos anos. Partindo dessas premissas iniciais, foi idealizada a requalificação do Museu Solar Monjardim na forma de parque urbano, com a finalidade de reinseri-lo no atual quadro urbano da cidade de Vitória/ES. Figura 1. Gravura da região de Jucutuquara no séc. XIX.

FONTE: Museu de Imagem e História (2016)

Figura 2. Imagem aérea da área do Museu Solar Monjardim.

FONTE: Google Earth (2017)

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2 MATERIAL E MÉTODOS Inicialmente a investigação utiliza o método descritivo-exploratório para analisar as necessárias adequações à área de estudo em questão. Foram utilizados fontes bibliográficas relevantes sobre o tema proposto e seus principais autores: ABBUD (2010), MASCARÓ (2007) e KLIASS (1993). Esses autores fundamentaram a discussão sobre os conceitos de paisagem, requalificação e parque urbano. A pesquisa teve como unidade de análise empírica dois estudos e experiências nacionais: o projeto de Roberto Burle Marx para os jardins da residência da família Moreira Salles, atual sede do Instituto Moreira Salles – IMS; e o trabalho de Rosa Kliass para o Parque da Juventude. Foram realizadas visitas ao local e levantamento topográfico para o desenvolvimento diagnóstico geral da área. Esse diagnóstico caracterizou a área de intervenção, identificando suas inadequações e os conflitos existentes, além de mapear suas necessidades e potencialidades. Concluído o diagnótico, foi desenvolvida a proposta projetual para área. A proposta de requalificação foi apresentada por meio dos instrumentos usuais como plantas-baixas, vistas, cortes de perfis, além de observações que justificaram cada ação tomada.

2.1 Análise e mapeamento da área Além da análise da área, o trabalho teve como âncora a fundamentação teórica. Dialoga, por exemplo, com o conceito de lugar proposto por Abbud, como “todo espaço agradável que convida ao encontro das pessoas ou ao nosso próprio encontro” (ABBUD, 2010, p.24). Assim, buscou-se trabalhar espaços paisagísticos que estimulassem a permanência e a prática de inúmeras atividades (ler, conversar, descansar ou mesmo contemplar os elementos integrantes da paisagem). Esses espaços também deveriam contemplar tipologias diversas, tais como jardins, praças e parques, denominados por Mascaró como “recintos urbanos” [...] “espaços criados através da delimitação da natureza e definido por dois planos: o piso e a parede. É a arquitetura sem teto” (MASCARÓ, 2007, p. 40). Nessa proposta foram criados vários pequenos recintos. A definição de parque urbano, conceituada por Rosa Kliass, também foi relevante para o trabalho. Para Kliass os “espaços públicos devem ter dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente cobertura vegetal, destinada à recreação” (KLIASS, 1993, p. 19). Essa definição norteou a proposta de requalificação para a área do museu, indo ao encontro da tipologia de parque urbano, na medida em que o local agrega elementos típicos dessa função, pois apresenta as seguintes características: grande espaço aberto para uso público, rica paisagem natural e atividade de cunho cultural. Após a definição da proposta temática de parque urbano, foram estudadas as características do bairro Jucutuquara, por meio de análises e de mapeamento da área de intervenção. Por fim, realizouse a síntese dos pontos negativos encontrados nos mapeamentos, ponto de partida para determinar as diretrizes necessárias para alcançar uma requalificação efetiva. Por meio dos mapeamentos, foram registradas as características bióticas e abióticas da área de intervenção. Para melhor compreensão das estruturas do terreno e seu entorno, foram sistematizadas as seguintes características: uso e ocupação do solo; vias e acessos; tipos de solo e pavimentação; maciços de vegetação; infraestrutura; mobiliário e microclima. Dentre os cinco mapeamentos realizados, o mais significativo foi o de “infraestrutura e mobiliário”. Tal análise identificou a existência de graves deficiências numa área utilizada pelo público do museu. Por meio dos mapas, constatou-se a ausência de elementos básicos como a falta de iluminação, ausência de sanitários, inadequada pavimentação do piso, ausência de acessibilidade, carência de mobiliário (bancos, mesas, lixeiras, bicicletário, estacionamento etc.). A proposta projetual intencionou dinamizar as atividades e usos, inexistentes no terreno do museu. Hoje o terreno é utilizado pelos visitantes unicamente como acesso à edificação. A requalificação promoverá um melhor espaço verde para uso e lazer da população e visitantes. 138

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2.2 Tabela de problemas e diretrizes Após realizada a etapa de análise, foi possível obter uma maior compreensão da área de intervenção, bem como sua inserção no contexto do bairro de Jucutuquara. Dessa forma, foram definidos os elementos essenciais para a proposta, apresentados na forma de diretrizes surgidas a partir dos problemas constatados nos mapeamentos (tabela 1). Tabela 1. Problemas e Diretrizes PROBLEMAS

DIRETRIZES

1

Acessibilidade restrita

Adequação da pavimentação em locais com demanda de acessibilidade

2

Estacionamento irregular e mal dimensionado

Redimensionamento e adequação da área do estacionamento

3

Precariedade e localização inadequada da guarita

Reposicionamento e redimensionamento da guarita

4

Bicicletário precário em local inadequado

Realocar e projetar novo bicicletário

5

Mobiliário insuficiente

Proporcionar mobiliário como mesas, bancos e lixeiras

6

Falta de iluminação

Readequar a iluminação do local

7

Falta de elementos atrativos

Diversificar usos e atividades

8

Falta de legibilidade no entorno

Introduzir paleta de elementos de projeto que promovam clareza e continuidade visual

9

Sanitários insuficientes e sem acessibilidade

Criar sanitários acessíveis e adequados

10

Muro de arrimo aparente

Desenvolver tratamento paisagístico para esta área FONTE: Elaborado por Nayhara Martins (2017)

A partir dos dados acima foi possível definir as condicionantes essenciais do projeto, apresentadas no tópico seguinte.

3 RESULTADOS Como é possível constatar na “tabela de problemas e diretrizes”, o local necessita de um projeto compatível e afinado com as atividades desenvolvidas no museu. Com base no estudo de caso do projeto de Rosa Kliass para o Parque da Juventude, localizado na cidade de São Paulo, o projeto (fig.3) foi esquematizado cinco grandes setores.

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Figura 3. Anteprojeto e mapa de setores

FONTE: Elaborado por Nayhara Martins (2017)

O primeiro setor contemplou a área do estacionamento. Nesse setor, as vagas de estacionamento foram redimensionadas e o bicicletário foi reformulado. A acessibilidade também foi repensada, mediante a substituição da pavimentação existente. Da mesma forma, a guarita e os portões de acesso foram readequados, assim como os mobiliários de espera e a iluminação. No segundo setor o projeto priorizou a requalificação da estrutura do anfiteatro existente no local, a partir da criação de amplo deck em madeira integrado à estrutura cimentícia do anfiteatro, buscando uma ambiência de eventos e contemplação, integrada à vegetação nativa. A requalificação do terceiro setor – área central do terreno do museu - teve como principal característica o tratamento paisagístico, mediante o emprego de vegetação de menor porte, com espécies arbustivas e herbáceas, pois essa área é voltada para a fachada frontal da edificação, onde acontece a distribuição de fluxos dos pedestres. O quarto setor foi concebido como uma ampla área de estar. Para sua pavimentação foram especificados diferentes tipos de pisos: deck em madeira, piso em pedriscos e piso emborrachado. Também foi proposto um espelho d’água e um pergolado em madeira, elementos concebidos com o objetivo de proporcionar um ambiente de permanência mais agradável. Por último, o setor cinco – no qual está localizada a edificação do museu, foi idealizada a continuação do espelho d’água, bem como a criação de um café. Com a introdução desse novo uso, foi necessário criar sanitários acessíveis, projetar novos mobiliários (mesas e bancos), e propor um sistema de cobertura têxtil retrátil a fim de proporcionar um espaço agradável. Ainda nesse setor, foi proposta a requalificação do muro de arrimo existente no local, por meio da especificação de vegetação do tipo trepadeira, melhorando assim a qualidade visual dessa área.

4 DISCUSSÃO A ideia de criar um parque urbano (fig.4) e (fig.5) no bairro de Jucutuquara foi consequência do reconhecimento da importância que as áreas verdes desempenham no contexto das cidades contemporâneas. Dessa forma, a proposta vai ao encontro do potencial turístico que a área apresenta, seja pelo elemento histórico, seja pela ambiência privilegiada, pois é um espaço que pode ser melhor aproveitado pela população. 140

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Figura 4. Vista frontal do projeto.

FONTE: Acervo de Nayhara Martins (2017)

Figura 5. Vista posterior do projeto.

FONTE: Acervo de Nayhara Martins (2017)

De uma forma geral, os cinco setores estão integrados entre si, pois foram empregados elementos que proporcionam continuidade visual no projeto. Nesse sentido, entende-se que a proposta alcançou a finalidade de requalificação da área do Museu Solar Monjardim, pois além de introduzir novos usos, gerou acessibilidade, diversificou os tipos de pavimentação e de vegetação, propôs a instalação de novos mobiliários e equipamentos, reformulou os acessos, área de estacionamento e o bicicletário.

5 CONCLUSÃO O Museu Solar Monjardim abriga uma das mais antigas obras arquitetônicas do período colonial capixaba. Contudo, apesar de ter sido tombado pelo IPHAN ainda na década de 40, o terreno do museu permaneceu subutilizado. Nesse sentido, a proposta de requalificação buscou desenvolver os elementos problemáticos identificados nos levantamentos feitos no terreno, como a falta de legibilidade da área e de elementos atrativos no local, responsáveis pela subutilização desse espaço. Assim, foi possível compreender e traçar diretrizes para os cinco setores do projeto e propor para cada setor uma solução paisagística apropriada.

REFERÊNCIAS ABBUD, Benedito. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. São Paulo: Senac São Paulo, 2010. KLIASS, Rosa Grena. Parques urbanos de São Paulo. São Paulo: Editora Pini, 1993. MASCARÓ, Lúcia. Desenho da cidade e iluminação natural. RUA. Revista de Arquitetura e Urbanismo, v. 9, p. 38-43, 2007.

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MODOS MÍNIMOS DE MORAR: ANÁLISE ERGONÔMICA SOBRE PADRÕES DIMENSIONAIS DOS EMPREENDIMENTOS HABITACIONAIS MULTIFAMILIARES O CASO DO BAIRRO JARDIM CAMBURI/VITÓRIA-ES

(1) MUNIZ, Andreia Fernandes (1); LOUREIRO, Priscilla Silva (2); KAPITZKY, Stephanie Heydy Avelino (3); (1) Professor Mestre, UVV, andreia.muniz@uvv.br; (2) Professor Mestre, UVV, andreia.muniz@uvv.br; (2) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UVV, stephaniekapitzky@gmail.com

RESUMO A alteração dos perfis familiares, o aumento do valor dos terrenos em áreas urbanas e a especulação imobiliária são alguns dos fatores que contribuem para a redução das dimensões dos apartamentos, alterando padrões ergonômicos de dimensionamento dos espaços. Partindo deste princípio, esta pesquisa se propôs a analisar o dimensionamento dos ambientes em apartamentos com áreas reduzidas, construídos em Jardim Camburi, bairro do município de Vitória/ES, com enfoque nas dimensões mínimas estabelecidas pela legislação municipal (Código de Obras) e nos padrões ergonômicos mínimos de qualidade funcional dos ambientes. A partir da análise das plantas das unidades habitacionais construídas nos últimos cinco anos, foi possível obter um diagnóstico sobre os aspectos dimensionais praticados, comparando-os à legislação vigente e a parâmetros ergonômicos que qualificam os espaços. Como resultados, espera-se contribuir na melhoria dos projetos deste tipo de habitação e abrir um debate sobre os impactos na vida dos usuários.

PALAVRAS-CHAVE: Habitação, Ergonomia do Ambiente Construído, Dimensionamento Habitacional, Perfil Familiar, Ambientes Mínimos.

1 INTRODUÇÃO No mercado imobiliário vemos a crescente oferta de unidades habitacionais com áreas reduzidas, projetadas com espaços mínimos, que não comportam todas as necessidades dos futuros moradores, consequência da redução da oferta de terrenos em áreas urbanas consideradas valorizadas, dos novos arranjos familiares, do aumento do valor do m² dos imóveis e até mesmo da especulação imobiliária. A redução significativa das dimensões de um espaço de habitação pode prejudicar o usuário, tanto nos aspectos de conforto funcional quanto no arranjo físico dos ambientes. Estes aspectos têm sido mais relevantes nos últimos anos, principalmente na tipologia de habitação denominada “apartamento”, com empreendimentos sendo comercializados com áreas cada vez mais reduzidas. Tal prática, apoiada pela legislação vigente, que tolera áreas mínimas para ambientes que em muitos casos, desconsideram princípios ergonômicos é vista em projetos desenvolvidos por profissionais habilitados, arquitetos e engenheiros, que necessitam desenvolver uma conscientização sobre os prejuízos causados aos futuros usuários destas moradias. Ambientes mínimos são aqueles que possuem os menores índices dimensionais permitidos pelas normas municipais para aprovação do projeto arquitetônico. Nesta abordagem problemática, esta pesquisa se propôs a analisar o dimensionamento dos apartamentos com áreas reduzidas, tendo como base as plantas dos empreendimentos produzidos nos últimos 5 anos no bairro Jardim Camburi, localizado em Vitória/ES, local que mostrou um significativo crescimento habitacional na última década e com grande número de lançamentos 142

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de novos empreendimentos. A partir de uma análise dos aspectos ergonômicos relacionados à qualidade espacial e física dos ambientes dos apartamentos, a pesquisa contribui com dados que demonstram a necessidade de readequação de parâmetros mínimos dimensionais estabelecidos no Código de Obras Municipal e na conscientização de profissionais de projeto e futuros consumidores, que venham a adquirir imóveis planejados pensando nos diferentes perfis familiares da atualidade.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Baseada na importância do conhecimento do corpo humano, a Ergonomia fundamenta o processo de decisão desde a concepção do projeto, principalmente quanto às questões dimensionais, sendo responsável pela melhoria da qualidade da moradia. Como ciência, a Ergonomia aplicado ao Ambiente Construído trata de aspectos relacionados ao dimensionamento dos espaços, à adequação dos ambientes à realização das tarefas e à avaliação funcional e comportamental dos espaços, objetivando a satisfação e o bem-estar do usuário. Para que isso aconteça, deve-se compreender que o dimensionamento do espaço decorre das atividades necessárias ao funcionamento da edificação. O espaço de atividades é a superfície necessária e suficiente para que uma pessoa possa desenvolver qualquer atividade sem interferência ou restrição ocasionada por mobiliário, equipamento e/ou componentes da edificação (BOUERI, 2008). Neste contexto, verifica-se a importância da ergonomia aplicada ao edifício, principalmente à tipologia de habitação denominada habitação multifamiliar, que surge no Brasil sob a terminologia habitação coletiva, na metade do século XIX, na forma de estalagens e cortiços e, posteriormente, evoluiu para o padrão moderno e contemporâneo do edifício de apartamento (VAZ, 2002), caracterizando um novo modo de morar nos anos 20, onde famílias habitam edifícios verticais, distribuídas em unidades autônomas e compartilhando espaços comuns. Ao longo dos anos o espaço de morar evoluiu e sofreu diferentes alterações, tendo em vista as transformações da família, caracterizada por diferentes perfis com necessidade de espaços diferentes para o desenvolvimento das atividades na moradia. Além disso, o adensamento das cidades, que elevou o valor dos terrenos e a especulação imobiliária, levaram à diminuição dos espaços de morar, com a oferta cada vez maior de apartamentos com áreas reduzidas. Apartamentos com ambientes com áreas mínimas são aqueles que possuem os menores índices dimensionais tolerados pela legislação municipal para a aprovação, o Código de Obras. Tais tipologias de apartamentos tornaram-se muito comuns em áreas urbanas da Grande Vitória, principalmente em áreas de expansão imobiliária. Maior bairro da capital Vitória, com 39.157mil moradores, o bairro Jardim Camburi é um exemplo desta expansão (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2016), resultado da proximidade com duas grandes empresas, a ArcelorMittal Tubarão e a Vale, a presença de grande oferta de serviços e comércio e a boa infraestrutura local. Surgido em 1967 de um loteamento com 100 casas, o bairro é considerado um dos mais promissores pelo mercado imobiliário, com uma margem de crescimento de 15% ao ano (CRECIES, 2016), uma elevada valorização de imóveis e número de lançamentos (GAZETAONLINE, 2013). Neste contexto, Jardim Camburi foi escolhido para esta pesquisa, que objetiva fazer um levantamento de apartamentos com áreas reduzidas, a partir das plantas baixas disponibilizadas em peças publicitárias pelas construtoras em internet e elaborar um diagnóstico com uma análise qualitativa sobre os parâmetros ergonômicos destes imóveis. Espera-se contribuir com dados que abram uma discussão sobre a melhoria da qualidade dos projetos destes tipos de apartamentos, conscientizando profissionais (arquitetos e engenheiros) e o mercado consumidor.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa identificou 96 apartamentos com área máxima de 70m², construídos nos últimos cinco anos por 17 construtoras, em 29 edifícios diferentes. A metodologia de trabalho consistiu no levantamento de informações em sites de construtoras. Os dados analisados e manipulados por meio da relação entre a quantidade de unidades e a tipologia de imóvel mais representativa (tabela 1). Tabela 1. Relação entre a quantidade de tipologias pesquisadas e o percentual de construtoras. Maior repetição e preferência pela construção da tipologia de 2 quartos com suíte. Tipologia

Quantidade de unidades

Percentual de unidades

Quantidade de construtoras

Percentual de Construtoras

1q

4

4,2%

2

11,8

2q

10

10,4%

5

29,4

2qs

65

67,7%

17

100

3qs

10

10,4%

3

17,6

Loft

2

2,1%

2

11,8

Kitinet

5

5,2%

3

17,6

Total

96

100%

Legenda: 1q= 1 quarto com banheiro social, sem suíte; 2q = 2 quartos com banheiro social, sem suíte; 2qs = 2 quartos, sendo um dos quartos uma suíte (quarto com banheiro); 3qs = 3 quartos, sendo um dos quartos uma suíte (quarto com banheiro).

Fonte: elaborado pelos autores

Verifica-se que a tipologia de 2 quartos com suíte é a mais representativa, com 67,7% do total. Além disso, 100% das construtoras pesquisadas constroem este tipo de unidade habitacional. A preferência pelo mercado imobiliário pelo apartamento de 2 quartos com suíte é justificada pelo perfil da população do bairro Jardim Camburi, com características jovens e com menor número de pessoas por família. De acordo com o Censo Demográfico de 2010 (IBGE), o bairro possui uma estrutura populacional jovem, com apenas 6% da população com mais de 65% e 78,15% com idades entre 15 e 64 anos. Outro fator que justifica, é o número médio de moradores por domicílio particular ocupado, que é de 2,7. Isso representa menos moradores por unidade habitacional. Para a análise dos parâmetros de ergonomia a pesquisa identificou as áreas úteis (somatório das áreas dos ambientes) das unidades pesquisadas, a partir do levantamento feito em plantas baixas dos pavimentos-tipos divulgados pelas construtoras para comercialização em seus sites. O levantamento das tipologias de acordo com as suas áreas úteis, confirma o predomínio de unidades com área de 55 a 60m², com 27,1% de ocorrência, seguido por 25% de unidades com áreas úteis entre 50 e 55m², e 17,70% para unidades com área entre 45 e 50m² e 60 a 70m². Somente 1% das unidades pesquisadas possui área entre 35 e 40m², e 6,3% com área útil inferior a 35m² (tabela 2). A partir da coleta das áreas úteis a pesquisa calculou a área média de cada tipologia para verificar o padrão praticado para cada tipologia. A área média da tipologia 1q pesquisa representa um desvio 144

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padrão tendo em vista a grande área obtida. Verifica-se a necessidade de incluir mais tipologias de 1 quarto com as características pesquisadas para ter um número (área) válido para análise (tabela 2). Observa que dentro da mesma tipologia acontecem variações de áreas úteis praticadas, assim como entre as tipologias, mesmo variando o número de ambientes as áreas úteis permanecem na mesma faixa. Exemplificando: tipologias 1q, 2q e 2qs possuem áreas úteis entre 45 e 55m², mesmo com número de ambientes diferentes. Isso pode mostrar uma tendência construtiva adotada pelas empresas: variar o número de ambientes, mas manter a mesma área para preservar padrões construtivos e economizar. Tabela 2. Percentual de tipologias em função das áreas úteis Quantidade de unidades pesquisadas organizadas por tipologia e área média das unidades pesquisadas organizadas por tipologia Área por Tipologia

1q

2q

2qs

3qs

Loft

Kitinet

50,60

48,20

54,61

59,82

41,79

33,44

1

Até 35m² 35 a 40m² 40 a 45m²

Total

%

4

6

6,3

1

1

1,0

1

5

6

6,3

17

17,7

24

25

45 a 50m²

1

4

12

50 a 55m²

3

5

15

1

55 a 60m²

21

5

26

27,1

60 a 70m²

12

5

17

17,7

65

10

96

100

Total unidades

4

10

2

Fonte: elaborado pelos autores

Por conseguinte, foi feita a análise da área média dos ambientes por tipologia e desta forma podese determinar que as áreas dos ambientes variam pouco entre si. Logo ao comparar esses espaços ao Código de Obras de Vitória consegue-se afirmar que as áreas dos recintos são compatíveis ao mesmo, variando pouco com o Código, com exceção da área que envolve o setor social (tabela 3). Tabela 3. Área média dos ambientes por tipologia Ambientes

1q

2q

2qs

3q

Loft

Kitinet

Sala de estar

18,06

13,24

13,94

13,4

13,86

17,32

Varanda

8,03

5,39

6,09

5,07

5,05

3,95

Varanda suíte

3,44

2,54

1,94

-

2,71

-

Terraço descoberto 1

-

-

8,63

-

4,45

-

Terraço descoberto 2

-

-

15,60

-

-

-

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145


Área de serviço

2,25

2,15

2,48

2,08

2,09

Integrada a sala ou a cozinha

Cozinha

5,72

5,78

6,03

4,98

5,86

6,01

Despensa

-

-

2,10

-

-

-

Quarto 1

8,73

7,9

8,07

7,72

8,02

8,43

Quarto 2

-

9,62

-

8,05

9,58

9,2

Suíte

-

-

10,62

10,18

10,13

-

Banheiro suíte

-

-

2,88

2,83

2,79

-

Banheiro social

3,16

2,84

2,81

2,94

2,79

2,81

Lavabo

4

1,25

1,17

-

1,25

-

Circulação

0,95

1,23

1,49

2,82

1,24

-

Fonte: elaborado pelos autores

As áreas médias dos ambientes pesquisados para a tipologia 2q foram comparadas aos recomendados por Boueri (2008) para o desenvolvimento de atividades com ergonomia. Verifica-se que as áreas médias dos ambientes pesquisados são inferiores aos recomendados pelo referido autor (tabela 4). Tabela 4. Comparação entre as áreas médias obtidas para a tipologia 2q, Boueri e o Código de Obras Ambientes/m²

2qs

Boueri (2008)

Código de Obras Municipal

Sala de estar

13,94

15,00

7,5 m² de área mínima e possibilitar a inscrição de um círculo no plano do piso com diâmetro de 2,00m

Varanda

6,09

-

Área de serviço

2,48

5,40

Possibilitar a inscrição de um círculo no plano do piso com diâmetro de a, 1,30m.

Cozinha

6,03

7,20

Possibilitar a inscrição de um círculo no plano do piso com diâmetro de a, 1,50m.

Quarto

7,9

12,00

Suíte

10,62

14,00

7,5 m² de área e possibilitar a inscrição de um círculo no plano do piso com diâmetro de 2,00m. Sendo que quando há mais de dois compartimentos destinados a repouso, nas unidades habitacionais, um deles poderá ter área mínima de 4,00m².

Banheiro suíte Banheiro social

2,88 2,81

4,20

Área total (m²)

52,75

57,80

Possibilitar a inscrição de um círculo no plano do piso com diâmetro de 0,80m.

Deve conter área mínima de 2,00m². Não estabelece área mínima

Fonte: elaborado pelos autores

4 CONSIDERAÇÕES Os Modos Mínimos de Morar estão cada vez mais presentes na habitação contemporânea, seja pelos novos arranjos familiares, seja pela especulação imobiliária, seja pelas propostas de novas formas do morar contemporâneo:

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A questão do espaço mínimo sempre serviu de estímulo à criatividade na arquitetura. Esse interesse pela otimização do espaço é alimentado pelo desafio de conseguir com o mínimo possível, que este se adeque às necessidades dos seus habitantes e aos potenciais usos que estes lhe poderão atribuir, de modo que estes espaços embora mínimos (ou precisamente por o serem) sejam interessantes e agradáveis (GONÇALVES, 2013, p.15).

A pesquisa identificou 96 apartamentos com área máxima de 70m², construídos nos últimos cinco anos por 17 construtoras, em 29 edifícios diferentes. Além disso, foram catalogadas seis tipologias, onde a unidade de dois quartos com suíte é a mais representativa com área média de 54,61m². Quanto às áreas úteis médias dos ambientes, comparada ao recomendado por (BOUERI, 2008), (57,80m²) para o desempenho das atividades com ergonomia, a tipologia possui área média inferior, atendendo ao mínimo estabelecido no Código de Obras.

REFERÊNCIAS Boueri Filho, José Jorge. Projeto e Dimensionamento dos Espaços da Habitação Espaço de Atividades. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2008. 48 p.; il.; 29,7 cm. – Livro II. CRECI-ES. Jardim Camburi, o bairro do presente e do futuro. Disponível em <http://www.crecies.gov.br/ jardim-camburi-o-bairro-do-presente-e-do-futuro>. Consultado em: 01/08/2016. Espírito Santo (Estado). Lei nº 4821, de 30 de dezembro de 1998. Institui o Código de Edificações do Município de Vitória e dá outras providencias. Vitória, Espírito Santo. GAZETAONLINE. Jardim Camburi é o campeão da valorização imobiliária. Disponível em: <http://www. gazetaonline.com.br/_conteudo/2013/08/noticias/dinheiro/1456075-jardim-camburi-e-o-campeao-devalorizacao-imobiliaria.html>. Consultado em: 01/08/2016. GONÇALVES, Iga Jandir de Lima. O Habitar Mínimo. Dissertação de Mestrado em Arquitetura. Universidade de Évora, Escola de Artes, Departamento de Arquitetura. Évora: 2013. VAZ, Lílian Fessler. Modernidade e moradia – Habitação coletiva no rio de janeiro séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: 7Letras, 2002.

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O NOVO PDM DE VILA VELHA: SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO DE DISCUSSÃO DA LEGISLAÇÃO URBANA DO MUNICÍPIO E OS ATRAVESSAMENTOS COM O TEMA DA SEGURANÇA PÚBLICA SANTOS, Bruna da Silva (1); ANGELO, Michelly Ramos de (2); (1) Pesquisadora de Iniciação Científica, Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UVV, brunadasilva_santos@hotmail. com); (2) Professora Doutora, UVV, michelly.angelo@uvv.br

RESUMO O presente artigo evidencia as interfaces entre o (PDM) Plano Diretor Municipal e o tema da Segurança Pública na atual revisão desta lei no município de Vila Velha. Com o fim de identificar em quais momentos o tema da segurança pública fez parte dos debates, fóruns e seminários da revisão, foram realizadas leitura e análise dos produtos referentes a cada etapa já elaborada, onde foi possível identificar que este tema, apesar de sua eminente importância, esteve presente de forma indireta neste processo. O artigo apresentado é parte das considerações elaboradas na pesquisa de Iniciação Científica intitulada “O Novo PDM de Vila Velha: Sistematização do processo de discussão da legislação urbana do Município e os atravessamentos com o tema da segurança pública”, desenvolvida na Universidade Vila Velha sob a orientação da profa. Michelly Ramos de Angelo.

PALAVRAS-CHAVE: Plano Diretor Municipal; Segurança Pública; Vila Velha.

1 INTRODUÇÃO Segundo o Estatuto da Cidade (Lei Federal n°10.257 de 10 de julho de 2001), o Plano Diretor Municipal (PDM) se apresenta como ferramenta essencial da política de desenvolvimento e expansão urbana, sendo parte constituinte do planejamento municipal. A cidade de Vila Velha iniciou no ano de 2013 a revisão de seu PDM, já que a Legislação Urbana Vigente é composta pelo texto original do ano de 2007, com a exceção de 13 artigos considerados inconstitucionais pelo Pleno Tribunal de Justiça do Espírito Santo, que determinou a retirada destes em 2012 (PMVV, 2013), determinando a Lei 009/2013. O objetivo deste trabalho é identificar em quais momentos do processo de revisão do Novo Plano Diretor de Vila Velha, o tema da Segurança Pública foi abordado, a fim de evidenciar os atravessamentos deste com o PDM, de compreender os documentos e princípios que regem e ordenam os Planos Diretores e acompanhar o processo de revisão do Plano de Vila Velha. O método utilizado se baseou em uma revisão bibliográfica inicial, onde conceitos sobre Plano Diretores, segurança pública e o histórico da legislação urbana de Vila Velha foram levantados. Após essa fase, foi realizada a análise dos documentos e comentários presentes no portal da PMVV (Prefeitura Municipal de Vila Velha), onde todas as sugestões e opiniões populares transcritas online até o dia 05 de dezembro de 2016, ás 17:08 horas foram aferidas. Com a finalização das análises e a realização de paralelos entre esses produtos e o referencial teórico levantado, foi possível a obtenção dos resultados da pesquisa, onde cada tema do PDM, mobilidade urbana, economia meio ambiente, patrimônio histórico, uso do solo, infraestrutura urbana e habitação, foi relacionado com o tema da segurança Pública. O artigo apresentado é parte das considerações elaboradas na pesquisa de Iniciação Científica intitulada “O Novo PDM de Vila Velha: Sistematização do processo de discussão da legislação urbana do Município e os atravessamentos com o tema da segurança pública”, desenvolvida na Universidade Vila Velha sob a orientação da profa. Michelly Ramos de Angelo. 148

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2 O NOVO PLANO DIRETOR DE VILA VELHA O município de Vila Velha regularizou sua primeira legislação urbana em 1979, ano em que a cidade implementou o seu primeiro Plano Diretor Urbano (PDU) (IJSN, 2017). Após esse plano, a cidade apresentou em 1997 o Decreto de Lei n° 180, que mesmo não possuindo um caráter claramente urbanístico, acabou por influenciar esse âmbito da cidade, pois regularizou questões tributárias referentes a ocupação na cidade (Vila Velha – Legislação Online, 2016). Em 2006 se deu início a formulação de um novo PDM para a cidade, que após ser discutido com a sociedade foi encaminhado à Câmara de vereadores, Ministério Público e outros setores (PMVV, 2013). A câmara de vereadores por sua vez, alterou a proposta original, que já havia sido debatida com as camadas sociais sem o conhecimento dessas, transformando a então Lei em Autógrafo de Lei, após isso encaminharam o arquivo para a sanção do prefeito (PMVV, 2013). O Prefeito Max Filho, observando as mudanças, veta os 13 artigos alterados e sanciona o restante da Lei, que se torna Lei Municipal 4.575/2007 (PMVV, 2013). Após esses fatos, os vereadores conseguem por abaixo o veto do prefeito e passam a vigorar a Lei em sua totalidade, por isso, em 2012, o Pleno Tribunal de Justiça do Espírito Santo julgou por unanimidade a inconstitucionalidade dos 13 artigos da Lei (PMVV, 2013). O município de Vila Velha então, passa por um período de paralisação na aprovação de projetos (PMVV, 2013). Por esse motivo, no ano de 2013, a Prefeitura Municipal enviou para a câmara de vereadores o projeto de Lei 009/2013, que em substituição aos 13 artigos inconstitucionais passa a vigorar novamente o PDM aprovado em 2007 (PMVV, 2013), visando tirar o município do caos de não ter lei em vigor de política urbana. Portanto, hoje no município de Vila Velha, a Lei 5.413 de 2013 rege a Política Urbana Municipal. Desde o ano de 2013, o PDM da cidade vem passando pelo processo de revisão que foi dividido em 7 etapas, onde cada uma apresenta sua importância em consolidar essa lei. Até o momento, o processo se encontra na etapa 4. Dentre as etapas, têm destaque (PMVV, 2016): A Etapa 1 se intitulou Definição da metodologia de trabalho, mecanismos, estratégias, temas e cronogramas das atividades. Nesta etapa, ocorreram as tomadas de decisões pela equipe elaboradora da revisão em relação ao planejamento e ações a serem realizadas durante todo o processo, capacitações de profissionais e diversas discussões entre a comissão interna da Prefeitura Municipal de Vila Velha e o consórcio realizador da revisão. Na Etapa 2, Reuniões com a comunidade para identificar os problemas e conflitos da cidade, ocorreram fóruns regionais, seminários com segmentos específicos da sociedade e a 1ª Audiência Pública, evidenciando a tentativa de permitir a participação democrática na revisão deste Plano Diretor. Esta etapa também foi denominada Leitura Comunitária, por se tratar da percepção dos moradores e segmentos específicos da sociedade sobre a cidade, que colocaram em evidência os problemas infra estruturais e sociais por meio de reuniões onde, de forma gráfica, a população demonstrou, em mapas gerados, a percepção sobre os problemas da cidade e, através da página virtual, criada para dar voz a população, as insatisfações e sugestões a respeito da cidade e do novo plano também foram manifestas. Nesses debates e reuniões, foi possível a observação de como os problemas urbanos influenciam o funcionamento da cidade e acabam ocasionando problemas sociais, como, por exemplo, a insegurança e a violência. Na Etapa 3, Análise das informações da realidade de Vila Velha, do ponto de vista territorial, urbano, ambiental, econômico e histórico também denominada Leitura Técnica, foram realizados workshops para a apresentação de dados relativos a cidade à comissão interna da Prefeitura Municipal, a fim de evidenciar dados econômicos, ambientais e históricos obtidos através de pesquisas e levantamentos de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e outros. Os workshops também evidenciaram as conclusões obtidas nos Fóruns Regionais e Audiências com Segmentos Específicos da Sociedade, onde os dados mais recorrentes foram apontados ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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como resultados que devem ser levados em consideração na revisão do Plano. A Etapa 4, Levantamento das informações e das ações previstas pela administração municipal, consistiu em balanços/análises de como foi o comportamento dos envolvidos no processo de revisão correlacionado aos resultados obtidos, onde no final foram mostradas sugestões de melhorias para que a continuidade do processo ocorresse de forma mais coerente possível. As demais etapas ainda não ocorreram, como a Etapa 5, intitulada Definição dos temas e propostas para elaboração do Novo Plano Diretor Municipal; a Etapa 6, Elaboração da minuta do Projeto de Lei do Novo Plano Diretor Municipal para apresentação em audiência pública; e a Etapa 7, Conclusão e apresentação do Projeto de Lei em seminário. Após a realização de todas as etapas descritas, o projeto seguirá para aprovação na Câmara de Vereadores de Vila Velha.

3 O NOVO PLANO DIRETOR DE VILA VELHA E OS ATRAVESSAMENTOS COM O TEMA DA SEGURANÇA PÚBLICA Partindo da ideia de que a violência se encontra enraizada em fatores urbanos e socioeconômicos (LIRA, 2006), pode-se afirmar que o Plano Diretor se apresenta como principal instrumento que baliza a ocupação do solo urbano, fazendo com que esta lei e a questão da Segurança Pública estejam ligadas indiretamente. Durante os Fóruns Regionais, Seminários com Segmentos Específicos da Sociedade e Audiência Pública, mediante a análise de documentos disponibilizados do site da PMVV, não ocorreram discussões ou debates capazes de aliar diretamente a questão da Segurança Pública e da Criminalidade Violenta ao Plano Diretor Municipal. A questão da Segurança Pública não chegou a ocupar lugar de destaque nem ter espaço direto entre as categorias temáticas usadas como método para leitura comunitária. Mesmo mediante a essa situação, a questão da Segurança Pública se apresentou indiretamente, em meio a atravessamentos e ligações entre as categorias temáticas, sendo possível compreender as suas influências indiretas nesta revisão. Ressalta-se que a Segurança Pública aqui citada se refere à criminalidade violenta interpessoal, que não abrange a violência no trânsito e a auto infligida, de acordo com Lira (2006). Portanto, seguem as relações indiretas identificadas entre Plano Diretor Municipal e Segurança Pública, por vertentes discutidas na Revisão do Plano Diretor de Vila Velha, que são: mobilidade urbana, economia, meio ambiente, patrimônio histórico, uso do solo, infraestrutura urbana e habitação.

3.1 Mobilidade Urbana Nos comentários virtuais feitos pela população, existem vários apontamentos negativos a respeito de calçamento de ruas, situação precária de calçadas, falta de ciclovias, implantação de semáforos, por exemplo, que embora sejam temas comuns à infraestrutura, fazem parte da mobilidade urbana do município. Em relação à Segurança Pública, a mobilidade urbana não deve apenas se prender a questões viárias, mas sim ampliar seus horizontes em busca da acessibilidade plena, onde exista troca entre as pessoas, levando diretamente a uma dinâmica urbana saudável e a diminuição da criminalidade, consequentemente (SILVEIRA e OLIVEIRA, 2012). Segundo Silveira e Oliveira (2012, pág.69) “a cidade é o local para as pessoas se encontrarem e terem contatos. Estes contatos são de natureza variada, porém devendo ser qualificados para serem considerados válidos e contribuidores para estabilidade social”. Essa estabilidade social citada, se refere a Segurança Pública, e para que essas trocas saudáveis aconteçam, o planejamento urbano é essencial, fazendo menção ao Plano Diretor novamente e atribuindo a este Plano responsabilidade quanto ao planejamento da cidade.

3.2 Economia Dentro deste tema, se evidenciam os comentários online, onde a população explicita o desejo de que o potencial turístico da cidade seja explorado de forma correta, a fim de impulsionar a economia, com sugestões de parques naturais, revitalização de toda a orla, dentre outros. Já nos 150

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Fóruns Regionais, o fator econômico foi tratado em concomitância com o fator Meio Ambiente, a partir da ideia de que para que ocorra uma exploração de forma correta dos recursos e paisagens naturais do município, estas devem ser cuidadas e recuperadas. A questão da Segurança Pública não foi discutida diretamente, mas a implantação de parques, a revitalização da orla e a preservação de elementos naturais a fim de impulsionar a economia, faz com que a dinâmica de funcionamento da cidade se volte a favor da diminuição da criminalidade, já que segundo Lira (2006), elementos como praças e parques influenciam na morfologia urbana, que influenciam na segurança pública.

3.3 Meio Ambiente Em relação a este tema, vale ressaltar que nos comentários online feitos pela população no site da PMVV, existe uma preocupação muito grande em relação a preservação dos recursos naturais da cidade, além de pedidos de criação de parques em lugares propícios a esse uso. Existe também pedidos a respeito de mudanças no zoneamento e atualização de regiões da cidade com potencial de alagamentos. Os resultados dos Fóruns Regionais e Seminários com Segmentos Específicos da Sociedade foram sintetizados com os fatores econômicos. A relação entre o fator Meio Ambiente e a Segurança Pública se apresenta indiretamente. De acordo com Silveira e Oliveira (2012), ao se preservar e requalificar o espaço urbano, acontece uma significativa melhora na segurança pública.

3.4 Patrimônio Histórico Na atual revisão do Plano Diretor, o Patrimônio Histórico foi o fator que menos teve a participação da população por meio de comentário online, totalizando apenas 4 comentários. Como resultado de Fóruns Regionais e Segmentos Específicos com a Sociedade, esse fator se apresentou em conjunto com o Uso do Solo, e as críticas e sugestões da população se estabeleceram em torno da restauração e divulgação de patrimônios Históricos, a fim de gerar vitalidade no município. O conflito de interesses identificado se deu na relação entre Patrimônio Histórico e Uso do Solo, pois atualmente o potencial construtivo de locais como ao Sítio Histórico da Prainha, por exemplo, se encontram diminuídos, o que gera descontentamento por parte de alguns moradores e pelo setor imobiliário. Há abandono dessas áreas por parte do poder público e até mesmo desinteresse por parte da população em relação a elas, ocasionando a formação de complexos ermos, que são uma das principais causas da insegurança e criminalidade urbana.

3.5 Uso Do Solo A respeito desta categoria, foi apresentada pela população, por meio de comentários online, a preocupação com a delimitação de novas Zonas Especiais de Interesse Ambiental, com a ocupação e regularização de terrenos baldios, e com a requalificação de alguns bairros. Nos Fóruns Regionais e Seminários com Segmentos Específicos da Sociedade, o tema Uso do Solo foi apresentado em conjunto com o tema Patrimônio Histórico. A questão da Segurança Pública não foi ao menos citada como critério nos debates e discussões neste tema, o que segundo Silveira e Oliveira (2012) é comum em vários Planos Diretores no país, que ao negligenciá-la acabam planejando um desenho urbano incapaz e ineficiente contra as práticas delituosas. Segundo estes autores, já que o Zoneamento é capaz de ordenar a ocupação do solo urbano, possuem também um papel fundamental na hora de colaborar para a diminuição da criminalidade.

3.6 Infraestrutura Urbana Esse tema, juntamente com o da Mobilidade Urbana, foram os mais comentados no site da PMVV. As pessoas expressaram em seus comentários as necessidades e carências existentes no município, como revitalização e/ou requalificação em bairros, calçadas, iluminação pública, valões, pavimentação de ruas, necessidade de ciclovias, creches, dentre outros. Já o resultado de Fóruns Regionais e Seminários com Segmentos Específicos da Sociedade foi colocado em conjunto com o tema Habitação onde ficou bem claro a preocupação da população com a falta de infraestrutura adequada em bairros ocupados por pessoas de menor poder aquisitivo. ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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Outra questão levantada diz respeito a quantidade de terrenos/edificações vazios existentes no município, sem qualquer tipo de uso. Portanto, é de responsabilidade do Município, homologada no Plano Diretor Municipal, garantir infraestrutura urbana adequada a seus moradores, o que acaba influenciando na qualidade de vida desses, além de contribuir positiva ou negativamente com a Segurança Pública.

3.7 Habitação De acordo com os comentários da população feitos através do site, boa parte das pessoas não têm conhecimentos sobre o compromisso que o município deve ter com a questão habitacional, já que a área destinada ao comentário possui apenas três contribuições, que não são concernentes ao assunto. Já os resultados dos Fóruns Regionais e Seminários com Segmentos Específicos da Sociedade explicitam a necessidade que o município possui de Regularização Fundiária, juntamente com a grande quantidade de moradias que não possuem condições mínimas de salubridade para habitação. Sob a ótica da segurança pública, pode-se afirmar que as condições de habitação de um município influenciam a frequência de ocorrência da criminalidade. Segundo Silveira e Oliveira (2012), em uma experiência de revitalização de um bairro de Santa Catarina, a criminalidade violenta teve seus índices reduzidos em muito, devido a implantação de um programa de habitação social em conjunto com a regularização da infraestrutura existente. Portanto, as condições de habitação de um município influenciam o grau da criminalidade e é uma área em potencial para se investir, com o objetivo de se alcançar a diminuição desse grau e elevação da qualidade de vida da população.

REFERÊNCIAS ETAPAS – Definição da metodologia de trabalho. Prefeitura Municipal de Vila Velha. Disponível em:< http:// pdm.vilavelha.es.gov.br/>. Acesso em maio de 2017. LIRA, Pablo. Geografia do Medo e Arquitetura do Crime. 1° Edição. Vitória, ES. Gráfica e Editora GSA, 2014. Vol. 01. 189 p. OLIVEIRA, Tibelle Cristina Rabello de. Aspectos Comunicativos do Processo de Elaboração de Planos Diretores: Lições a Partir da Experiência de Florianópolis – SC. Disponível em:< http://periodico.revistappc.com/index. php/RPPC/article/download/2/1. Acesso em fevereiro de 2017. Plano Diretor Urbano de Vila Velha: Projeto de Lei do Perímetro Urbano - 1979. Instituto Jones dos Santos Neves. Disponível em:< http://www.ijsn.es.gov.br/ConteudoDigital/20120803_ij00173_pdu_vilavelha.pdf > Acesso em: Abril de 2017. SILVEIRA, Miguel Ângelo; OLIVEIRA, Roberto. Parecer sobre Segurança Pública e Plano Diretor. In: Estudos sobre o Plano Diretor: Contribuições técnicas para a revisão do projeto de lei do PDP de Florianópolis. 2012.Florianópolis p. 69 – 76. Disponível em:< floripamanha.org/estudos-plano-diretor>. Acesso em fevereiro de 2017.

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SIMULAÇÃO DA apliCação de argaMassa terMoaCÚstiCa a base de verMiCUlita CoMo revestiMento de faCHada eM UM protÓtipo para anÁlise de deseMpenHo DESEMPENHO TÉRMICO EM FACHADA

OLIVEIRA, Claudio de Siqueira (1); BRAGA, Augusto Cezar Gomes Braga (2); MUNIZ, Andreia Fernandes (1) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, lab@quartzomassa.com.br; (2) Professor Mestre, UVV, augusto.braga@ uvv.br; (3) Professor Mestre, UVV, andreia.muniz@uvv.br

RESUMO A radiação solar é uma das principais variáveis de interferência térmica na superfície externa da fachada. Desta forma, o seu tratamento superficial e a seleção de materiais de revestimento influenciam diretamente no conforto térmico da edificação. Neste contexto, este trabalho objetiva comparar e avaliar a resistência térmica da argamassa de revestimento a base de vermiculita com a argamassa tradicional, a partir da aplicação de tais revestimentos nas fachadas de dois protótipos construídos em alvenaria estrutural. A partir da medição e análise da temperatura interna e externa, feita em diferentes horários, por um período de 24 horas, verificou-se que o revestimento a base de vermiculita apresenta um desempenho térmico satisfatório.

PALAVRAS-CHAVE: argamassa, vermiculita, revestimentos argamassados, desempenho térmico.

1 INTRODUÇÃO A temperatura interna nas edificações sofre importante influência de fontes externas, as variáveis climatológicas, principalmente a radiação solar. Logo, o revestimento de fachada, em virtude de sua intensa exposição à radiação solar tem uma influência significativa no desempenho térmico das edificações. (MASCARÓ e MASCARÓ,1992). Ciente desse fenômeno, cabe ao profissional da área avaliar o material que será empregado e tomar como ponto de partida as necessidades específicas da edificação em questão a fim de selecionar o que há de melhor disponível no mercado de acordo com as exigências prescritas na Norma Brasileira (NBR)15575-01 (2013): Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho, para promover o isolamento térmico. Dentre os revestimentos de fachadas, temos as argamassas. Segundo a NBR 7200 (1997) (3): Execução de revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – Procedimento, argamassa é definida como uma mistura de aglomerante e agregados com água, com capacidade de endurecimento e aderência. Fiorito (2003), também“ratifica”que sua denominação é uma combinação de um ou mais aglomerantes utilizados na argamassa. Existem diferentes tipos de argamassas, desde a tradicional, a base de areia e cimento, até as argamassas com propriedades específicas, tais como a argamassa termoacústica a base de vermiculita, que é utilizada como revestimento de fachada para o isolamento térmico das paredes expostas as intempéries, podendo ser formuladas a partir de vários aglomerantes, como cimento, cal e gesso (CINTRA, 2013). Neste contexto, este trabalho objetiva comparar e avaliar a resistência térmica da argamassa de revestimento a base de vermiculita com a argamassa tradicional, a partir da aplicação de tais ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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revestimentos nas fachadas de dois protótipos construídos em alvenaria estrutural. A partir da medição e análise da temperatura interna e externa, feita em diferentes horários, por um período de 24 horas, verificou-se que o revestimento a base de vermiculita apresenta um desempenho térmico satisfatório.

2 MATERIAIS E MÉTODOS Para a realização da pesquisa, foram construídos em um terreno de 20m², regular e nivelado, localizado na empresa Quartzomassa, dois protótipos com áreas de 5,50m² cada, pé-direito de 2,80m. A posição das edificações no terreno foi definida a partir da análise da orientação solar, de forma a obter, um ambiente na pior situação possível de insolação (Figura 01). Figura 1. Protótipos construídos para a pesquisa (1); Orientação solar e ventos dominantes (2)

(1)

(2) Fonte: Acervo da pesquisa, 2016.

O sistema construtivo adotado foi fundação em radier, paredes de alvenaria estrutural de blocos cerâmicos, com graute de 40 MPa e com vergalhões de 12,5 mm, com vigas de concreto armado de 9 x 30 cm e cobertura em laje de concreto maciço armado com 7 cm de espessura. Os revestimentos argamassados aplicados foram: argamassa térmica e acústica industrializada composta de cimento CP III 40 RS, areia média, vermiculita, dolomita e aditivo não tóxico e a outra argamassa aplicada foi a tradicional de cimento, cal e areia e aditivos modificadores de reologia. Foram usados para a coleta de dados das temperaturas externa e interna dos protótipos dois termômetros digitais e para cada fase dos protótipos, na área interna e externa das paredes e um termômetro digital com a finalidade de medir a temperatura de transmissão de calor da parede para dentro do ambiente. As medições foram realizadas nos ambientes interno e externo de cada protótipo, com início das 7h do dia 27 outubro.

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS 3.1 Influência da radiação solar no interior dos protótipos – comparação com temperatura externa No início da manhã as temperaturas apontaram ser praticamente iguais, aumentando gradativamente até as 13h, a posteriori a temperatura externa começa a diminuir, (1ºC por hora) todavia os dois protótipos continuam aumentando a sua temperatura interna até as 18h, chegando neste horário a uma diferença de 6,9ºC no ambiente revestido com argamassa térmica e no ambiente revestido com argamassa tradicional esta diferença chega a ser de 8ºC comparados com a temperatura externa. Outro ponto importante observado é que o protótipo revestido com argamassa térmica no horário das 14h apresenta temperatura inferior ao protótipo revestido com argamassa tradicional de 3,9ºC, com uma temperatura média inferior entre os dois sistemas das 13h às 19h de 2,8 ºC (tabela 01).

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Tabela 1: Resultados obtidos nas medições nos dias 27 e 28 de outubro de 2016. Diferença de Temperatura Externa e Interna Entre os Ambientes das 13h às 19h Dados

Temperatura dos Ambientes (ºC)

Diferença de Temperatura entre os Ambientes (ºC)

Argamassa térmica Argamassa Argamassa x amb. térmica tradicional Externo

Argamassa tradicional x amb. externo

Argamassa térmica X arg. tradicional

3,4

-0,1

3,5

36,2

0,9

-3,0

3,9

33,6

37,2

-2,1

-5,7

3,6

30,8

34,6

37,8

-3,8

-7,0

3,2

17:00

29,3

35,0

36,8

-5,7

-7,5

1,8

18:00

28,6

35,5

36,6

-6,9

-8,0

1,1

19:00

27,8

33,7

36,0

-5,9

-8,2

2,3

Hora

Ambiente externo

13:00

34,7

31,3

34,8

14:00

33,2

32,3

15:00

31,5

16:00

Média

2,8 ºC Fonte: acervo da pesquisa.

3.2 Influência da radiação solar nas fachadas leste e oeste Ao analisarmos as medições e gráfico (figura 2) pode-se concluir que na fachada voltada para o lado Leste o revestimento termoacústico teve uma resistência térmica igual ao do revestimento tradicional, já que quando reboco termo acústico atinge uma temperatura de 56,1ºC na área externa, e com isso é possível bloquear a transferência de calor em 41%, e o reboco tradicional atinge 55,4ºC na área externa, e consegue bloquear a transferência de calor em 40%, essa pequena transferência de temperatura interna e externa é observado das 8h às 12h (tabela 2). Ao analisarmos as medições e gráfico (figura 3) pode-se concluir que a parede voltada para a fachada Oeste, na pior situação possível conforme proposto no trabalho, o revestimento termoacústico teve uma resistência térmica maior, já que quando ele atinge uma temperatura de 61,2ºC na área externa, consegue bloquear a transferência de calor em 36%, enquanto a parede revestida com argamassa tradicional atinge 58,6ºC na área externa, esta parede consegue bloquear a transferência de calor em 23%, a diferença se dá das 14h às 19h (tabela 3). Figura 2: Gráfico comparativo das temperaturas internas e externas da fachada Leste.

Fonte: acervo da pesquisa.

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Tabela 2: Medições das fachadas Leste nos dias 27 e 28 de outubro de 2016 Fachada Leste Protótipo

Argamassa Térmica

Argamassa Tradicional

Hora

Argamassa térmica temp. ext. (°C)

Argamassa térmica temp. int (°C)

Calor retido pela parede (%)

Argamassa tradicional temp. ext. (°C)

Argamassa tradicional temp. int (°C)

Calor retido pela parede (%)

8:00

45,2

26,7

41%

30,3

26,0

14%

9:00

53,9

28,6

47%

49,4

28,3

43%

10:00

56,1

33,0

41%

55,4

33,0

40%

11:00

51,7

35,1

32%

51,2

35,6

30%

12:00

47,8

37,3

22%

48,0

37,9

21%

Fonte: acervo autor Figura 3: Gráfico comparativo das temperaturas internas e externas da fachada Leste.

Fonte: Acervo do autor

Tabela 3: Medições da fachada Oeste nos dias 27 e 28 de outubro de 2016. Fachada Oeste Protótipo

Hora

14:00 15:00 16:00 17:00 18:00

Argamassa Térmica

Argamassa Tradicional

Argamassa térmica temp. ext. (°C)

Argamassa térmica temp. int (°C)

Calor retido pela parede (%)

Argamassa tradicional temp. ext. (°C)

Argamassa tradicional temp. int. (°C)

Calor retido pela parede (%)

56,0

36,8

34,3%

53,6

38,1

28,9%

55,8

35,8

35,8%

53,5

39,7

25,8%

61,2

39,3

36,0%

58,6

45,1

23,0%

56,1

40,6

28,7%

57,2

46,3

19,1%

49,4

40,0

17,8%

50,8

45,9

9,6%

Fonte: Acervo do autor

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os gráficos comparativos entre as temperaturas dos ambientes demonstram a diferença entre as características de cada material no que diz respeito ao desempenho térmico. O protótipo construído com argamassa termoacústica, registrou temperaturas inferiores quando comparado com o protótipo construído com argamassa tradicional, no entanto, no horário de pico ele marcou temperaturas internas acima do registrado na área externa, sendo assim não se apresentou satisfatório ao conforto humano. Analisando as paredes dos dois protótipos voltados para Oeste e Leste isoladas, as paredes com revestimento termoacústico consegue interferir consideravelmente a entrada de calor para o ambiente interno da edificação. Por fim, com as análises feitas, conclui-se que a aplicação da argamassa termoacústica interferiu positivamente na eficiência energética da edificação, já que diminuiu consideravelmente os ganhos de calor da envoltória, e manteve as temperaturas internas das suas fachadas, inferior ao reboco tradicional, contribuindo para a redução de calor no ambiente interno da edificação.

AGRADECIMENTOS Agradecimentos à fabricante de argamassas QUARTOMAZZA por apoiar a pesquisa.

REFERÊNCIAS MASCARÔ, Juan L.; MASCARÔ, Lucia. Uso racional de energia em edificações: Isolamento térmico. São Paulo, 1992. SOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-1: Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos - Desempenho. 2013. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7200: execução de revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – procedimento. Rio de Janeiro, 1998. FIORITO, Antônio J. S. I. Manual de Argamassas e Revestimentos. 1ª Ed. São Paulo, PINI, 2003. CINTRA, Cynthia L.D. Argamassa para revestimento com propriedades termoacústica, produzidas a parti de vermiculita expandida e borracha reciclada de pneus. Tese (Doutorado) (Doutorado em Ciências e Engenharia dos Materiais). Universidade Federal de São Carlos, 2013.Disponível em: <http://www.bdtd.ufscar. br/htdocs/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=7216>. Acesso em: 04 de maio, 2016. AZEREDO, Hélio A. O Edifício e seu acabamento / Hélio Alves de Azeredo. São Paulo, SP, ed. Bluceher,1987, 9º reimpressão, 2009. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13529: revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas. Rio de Janeiro, 1995b. 8p., 1995.

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O MERCADO PÚBLICO COMO PROMOTOR DA TRANSFORMAÇÃO URBANA A CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DAS CIDADES

MENEZES, Raína de Alencar (1); MUNIZ, Andreia Fernandes (2); CUNHA, Clóvis Aquino de Freitas (1) Graduada em Arquitetura e Urbanismo, UVV, rahmenezes@gmail.com; (2) Professor Mestre, UVV, andreia.muniz@uvv. br; (3) Professor Mestre, UVV, clovis.aquino@uvv.br

RESUMO A Praça de Mercado e o Mercado Público são espaços que compõem a estrutura urbana desde o princípio da vida humana nas cidades, e proporcionam não só a troca de suprimentos, mas a troca social, o diálogo, o encontro, além de representar a cultura local com a exposição de produtos típicos da região. Neste contexto, este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre a importância do mercado público na formação das cidades ao longo da história e a contribuição destes espaços na requalificação e transformação urbana. A partir desta pesquisa verifica-se como as atividades comerciais nos mercados públicos contribuiu para a evolução do espaço urbano e suas relações sociais, e que consequências isso trouxe para a realidade atual da cidade e seus usuários.

PALAVRAS-CHAVE: mercado público; cidades; transformação urbana; requalificação urbana.

1 INTRODUÇÃO O Mercado é um forte elemento de atração de público, e que apesar das relações virtuais e impessoais instauradas no modo de vida contemporâneo, ele se revela como uma importante ferramenta para promover interação social e para estimular o uso do espaço público. Para compreender a importância do Mercado Público para a cidade é primordial entender como as cidades se desenvolveram e se transformaram, e que lugar ocupou esse equipamento. É importante perceber como a atividade comercial contribuiu para a evolução do espaço urbano e suas relações sociais, e que consequências isso trouxe para a realidade atual da cidade e dos seus usuários. Neste contexto, este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre a importância do mercado público na formação das cidades ao longo da história e a contribuição destes espaços na requalificação e transformação urbana. Pode-se perceber através de uma análise dos aspectos históricos da civilização ocidental que o espaço do mercado aparece não só como um elemento importante para a atividade de troca de bens, mas como um espaço de encontro.

2 A EVOLUÇÃO DAS ATIVIDADES COMERCIAIS E O MEIO URBANO Nas civilizações primitivas, as aldeias eram caracterizadas pela aglomeração de indivíduos vivendo num mesmo espaço e dividindo funções para sua subsistência. Nessa época a produção dos alimentos e a caça de animais supriam apenas a uma demanda local, e ainda não havia uma clara atividade de troca, mas de compartilhamento. Entretanto nesse tipo de ocupação já se identificavam os locais de encontro, uma área ampla para a prática de jogos e danças, sempre próxima a uma árvore sagrada ou a uma fonte (MUMFORD, 2004). Ainda que a agricultura estivesse relacionada à subsistência de uma comunidade, já se mostrava nesses indivíduos a necessidade da reunião de pessoas, de espaços de convivência entre os da mesma aldeia, aqui pontuados como momentos de lazer. Nos registros mais antigos há indícios de que as funções semelhantes à de mercado, envolvendo fornecimento, armazenagem e distribuição de mercadoria, eram realizadas – em grande parte – pelo 158

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templo. Segundo Mumford (2004), “[...] o próprio recinto do templo não era uma área puramente religiosa” (MUMFORD, 2004, p. 86), possuía também uma propriedade de comércio. Já na Antiguidade, principalmente nas Cidades Gregas, tinha-se como ponto de encontro a Ágora, que pode ser considerada uma praça de mercado. O comércio era consequência de uma aglomeração de consumidores, que não se encontravam somente para fazerem negócios, mas também um ponto de encontro onde os cidadãos gregos discutiam sobre política ou conversavam durante as compras (MUMFORD, 2004). Inicialmente sua conformação era irregular, determinada por condicionantes geográficas, mas a partir do século V a.C. passou a obedecer a uma ordem regular no seu desenho, decorrente do traçado viário que se estabelecia na urbe grega. Segundo Vargas (2001), a implantação da Ágora sempre acontecia próxima à principal fonte de água da cidade, e configurava um espaço barulhento – com comerciantes gritando e oferecendo seus produtos – e extremamente colorido com a mistura de produtos expostos. Essa combinação de comunicação espontânea e interativa com as cores e cheiros é uma atmosfera expressiva presente até hoje nas feiras livres. A introdução da moeda como meio de troca aqueceu ainda mais a atividade comercial na cidade e as funções econômicas da Ágora passaram a se expandir. Além de mercado, ela era também um lugar de assembleia e um centro festivo, uma espécie de clube para o encontro de companheiros e amigos. Desta forma, a Ágora deixa como marco a combinação de funções urbanas importantes, como governo, comércio, indústria, religião e sociabilidade no mesmo espaço. Essa característica fez com que ela se tornasse um dos elementos mais vitais para a cidade grega. Mostra-se, então, que a atividade do comércio, sempre esteve associada a outro evento ou outro espaço que recebesse, em determinado período, um contingente considerável de pessoas. O Império Romano herda da cultura helênica essa noção de espaço com usos combinados, e acrescenta a ele também as funções da Acrópole. Assim, surge o Fórum, que se estabelece como mais que um simples espaço aberto, mas monumental e circundado por colunatas. Apresentava uma concentração de atividades variadas, no seu entorno haviam santuários e templos, prédios da justiça e casas do conselho (MUMFORD, 2004). No período do Império Romano esse espaço destinado ao comércio e ao encontro permanece, mas com algumas modificações que caracterizam as obras romanas. Obedecendo a um plano axial com grandes edifícios construídos nas adjacências, este espaço – agora monumental – combinava atividades comerciais, religiosas e políticas, além de atender as necessidades da vida social. Há nesse equipamento um maior fechamento dos espaços abertos por intermédio da proporção dos edifícios em seu entorno. Surge dessa evolução da Ágora o que se conhece como Fórum Romano (VARGAS, 2001). Com o declínio do Império Romano, o número de pessoas foi reduzido e as antigas cidades não mais funcionavam como centros de produção e comércio. Houve então um movimento contrário às cidades povoadas. A população se refugiou nos campos, próximas a algum castelo e protegidas por muralhas. Nesse período, entendido como Idade Média, a onda de insegurança fez com que a produção e as trocas acontecessem com mais intensidade no âmbito local, já que o comércio proveniente de outras cidades nem sempre se estabelecia de maneira regular, e tão pouco era confiável. Como os meios de transporte eram precários e não havia uma grande demanda de produtos especiais, não havia necessidade de atividades comerciais fixas e diárias, por isso feiras eram organizadas periodicamente, uma ou duas vezes por semana, quando autorizadas pelo Senhor Feudal (VARGAS, 2001). Diferente da Ágora na cidade grega e do Fórum no Império Romano – que tinham um espaço determinado para a atividade comercial – o mercado da cidade medieval acontecia ocasionalmente

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em alguma praça subordinada, geralmente próxima a uma igreja – onde a frequência dos habitantes era certa – ou a importantes vias de circulação e encontro de vias, em que se sabia que haveria um fluxo grande de pessoas. A cidade medieval, de crescimento orgânico, não apresentava espaços abertos formais cuja conformação geralmente tinha relação com os vazios oriundos da implantação de edifícios. Assim, o mercado também não se apresentava como uma figura regular (MUMFORD, 2004). Inicia-se a partir do século XVI uma transição na localização do mercado. A ostentação e o luxo se tornam palavras de ordem na sociedade barroca, e isso se reflete também no plano urbanístico das cidades. A cidade barroca cresce graças à industrialização e a sociedade burguesa se volta para o espaço interno de suas luxuosas residências. Dessa forma, as praças perdem a sua função característica de acumular pessoas. Como o mercado necessita da presença dos pedestres para garantir sua sobrevivência, adaptou-se a essa mudança no traçado urbano. Assim, a disposição das lojas passa a ocupar também as margens das grandes vias de circulação (MUMFORD, 2004). Enquanto na cidade medieval as classes se misturavam na rua, no mercado e na catedral – porque apesar de haver uma diferença de classes, ricos e pobres dividiam o mesmo espaço –, no novo complexo urbano o homem burguês desejava um caminho exclusivo, onde ele, seu cavalo e seu veículo sobre rodas fossem destacados. Na cidade barroca, em que as vias de circulação de veículos ganham uma maior importância, as praças passam a se concentrar em áreas de convergência de avenidas ou em lugares em que os eixos viários precisam ser desviados (figura 1). Figura 1. Planta Medieval da Piazza del Signori, Verona (1) e Planta Barroca da Piazza Del Popolo, Roma (2)

(1)

(2)

Fonte: VARGAS, 2001, p.141 e 142. Montagem e adaptação dos autores.

Segundo Araújo (2011), surgem no século XVII ciclos de feiras regionais e inter-regionais que se estabelecem como um mercado contínuo, evitando apenas as épocas de mau tempo. Essa cultura também é incorporada no Brasil com a influência europeia dos portugueses no período colonial. Na Europa, nesse mesmo período, começa a decadência da imagem de mercado como espaço público por excelência. As lojas que antes garantiam contato direto com a rua mudam a sua configuração. A loja aberta é fechada por portas e vitrines, que eram formadas por pequenas peças de vidros fixados com divisões de madeira, já que naquela época não havia domínio da tecnologia para grandes planos de vidro (VARGAS, 2001). Esta é a primeira segregação do espaço de comércio e do espaço público, entretanto, o uso do material transparente garante ainda uma conexão visual com o interior da loja. Mesmo quando não estivesse em funcionamento, era possível que o consumidor visualizasse os produtos expostos. Assinala-se aí a indução da compra por impulso. 160

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Por uma questão de conveniência, as lojas individuais que apresentavam semelhança entre os produtos comercializados começaram a se concentrar nas mesmas ruas. O traçado estreito da cidade medieval e a associação entre os comerciantes dariam origem aos mercados cobertos. De acordo com Vargas (2001) as ruas recebiam o nome que remetesse ao comércio predominante, e os comerciantes passam a cobri-las com arcadas para proteger os consumidores do sol ou da chuva. O espaço mais confortável e as ruas reservadas somente para os pedestres se tornavam muito mais atrativas para o consumo. O desenvolvimento capitalista baseado nas relações comerciais, o avanço das tecnologias e a decadência do sistema feudal contribuíram para que uma nova fase de transição se estabelecesse na atividade do mercado nas cidades. Os lugares com uma presença significativa de pessoas vão, aos poucos, perdendo sua essência de espaço público e, usando artifícios arquitetônicos que restringem sua relação com a cidade, adotando cada vez mais características de espaço privado (VARGAS, 2001).

3 OS CENTROS COMERCIAIS E SEUS IMPACTOS NA VIDA URBANA No século XIX surgem novas configurações de lojas, dentre elas as lojas de departamento, essas consideravelmente maiores que as lojas individuais, que passam a oferecer uma variedade de produtos dentro de um mesmo espaço. Assim, de acordo com Vargas (2001), o mercado se torna centro de atração para compras de necessidades diárias, principalmente de suprimentos. Pode-se entender a relação umbilical que existe entre o mercado e as atividades sociais da cidade no decorrer da história. O século XX revela ainda maiores mudanças nessa relação, com a evolução das lojas de departamento para os Centros Comerciais, o surgimento dos super e hipermercados na América e a febre dos Shoppings Centers no contexto urbano. As transformações dos espaços comerciais – cada vez mais privatizados –, e do comportamento de compra – estimulado pelo impulso –, vão contribuir para que o Mercado Público, assim como as áreas centrais das cidades, seja esquecido. Essas mudanças impactam não só a relação de comércio de suprimentos de primeira necessidade, mas também a relação do homem com a sua cidade, com a sua identidade local. De acordo com Araújo (2001) a dois fatores que muito contribuíram para esse comportamento por volta da década de 1960. O primeiro foi o aperfeiçoamento da tecnologia para equipamentos refrigerados – produzidos em larga escala, o que popularizou o seu uso doméstico. O segundo fator é a aquisição do automóvel. Possibilitando comprar uma maior quantidade de produtos alimentícios perecíveis e mantê-los armazenados por períodos mais longos sem a necessidade de visitar o mercado com tanta frequência. Já o automóvel ofereceu autonomia ao seu proprietário, que não mais restringia suas compras a sua vizinhança. Inicia-se, então, um processo de afastamento do homem com o seu espaço local. O fenômeno da globalização, principalmente em meados dos anos 1980, contribuiu para que o afastamento se acentuasse. Araújo (2011) destaca que a globalização estreitou distâncias e facilitou comunicações internas e externas de qualquer lugar do mundo em pouco tempo. Nessas condições, o cidadão do lugar busca ser visto como um cidadão do mundo. Assim, o consumo de produtos globalizados passa a representar status, e seu ato logo se relaciona com o prazer. Araújo (2011) diz que os centros comerciais e shoppings centers “[...] constroem um cenário diferente do real e as pessoas por estarem consumindo aquilo que supostamente acreditam ser a realidade, se tornam felizes” (ARAÚJO, 2011, p. 206). Os centros comerciais e shoppings centers suprem uma gama de demandas do cotidiano com a oferta de múltiplos serviços num mesmo espaço, sem que haja necessidade de grandes deslocamentos. Eles se tornam uma cidade dentro da própria cidade, tornando os centros das cidades cada vez menos imprescindíveis (ARAÚJO, 2011). Logo, qualquer lugar onde haja um centro comercial passa a ser o centro da cidade. Percebe-se, mais uma vez, o afastamento do homem do seu lugar de origem, do seu aspecto local.

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4 CONSIDERAÇÕES Com base nessa evolução do espaço urbano a partir das atividades comerciais, representadas aqui pela figura do Mercado Público, se contempla que este equipamento muito contribuiu para a conformação das cidades, ora como elemento central da vida social, ora como estimulador do crescimento urbano. Pode-se compreender a importância das atividades do mercado no desenvolvimento das cidades e entendê-lo como um elemento dinamizador da vida social no espaço urbano. Ele se apresenta de diferentes formas no tempo e no espaço, ora espaço aberto, ora coberto ou semicoberto, mas mantém sua característica de aglomerar pessoas e proporcionar o convívio. Também foi possível perceber os impactos na vida urbana com o advento da industrialização e o fenômeno da globalização, resultando no afastamento do usuário em relação à cidade, bem como a disseminação de espaços cada vez mais privatizados. Faz-se necessário, então, refletir em como o Mercado Público pode contribuir, enquanto equipamento arquitetônico, para recuperar as ações de outrora e requalificar o espaço urbano. Verifica-se que o Mercado é um forte elemento de atração de público, e que apesar das relações virtuais e impessoais instauradas no modo de vida contemporâneo, ele se revela como uma importante ferramenta para promover interação social e para estimular o uso do espaço público. Cada vez mais, a impessoalidade dos supermercados e centros comerciais de maiores proporções fez com que as funções originais do mercado, de transações pessoais e entretenimento social, se perdessem. Essa perda social é ainda mais estimulada com a rápida evolução dos meios de comunicação, que suprimem a comunicação direta entre comprador e vendedor, vizinho e colega de mercado. As últimas décadas foram marcadas por uma mudança de comportamento acarretada pelos avanços tecnológicos e estímulos de um consumo globalizado. Dessa forma, o comércio se afastou da sua configuração mais primitiva e se agrupou em hipermercados, grandes centros comerciais ou shoppings centers. Essa mudança de comportamento também trouxe consequências para as cidades e seus usuários. A centralização dessas múltiplas atividades num único edifício fez com que as pessoas diminuíssem seus percursos para resolverem suas demandas, se afastando, assim, das atividades da cidade.

REFERÊNCIAS ARAÚJO, G. de A. F. Continuidade e Descontinuidade no Contexto da Globalização: Um estudo de feiras em Portugal e no Brasil (1986-2007). Tese de Doutorado em História (Especialidade em Idade Contemporânea – UMINHO e História Social – UFBA) – Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Minho; Programa de PósGraduação em História Social, Universidade Federal da Bahia. 2011. MUMFORD, L. A Cidade na História. Suas Origens, Transformações e Perspectivas. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. VARGAS, H. C. Espaço Terciário. O Lugar, A Arquitetura e A Imagem do Comércio. 1. ed. São Paulo: Editora SENAC, 2001.

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MERCADO PÚBLICO E REQUALIFICAÇÃO URBANA ENSAIO PROJETUAL PARA A CIDADE DE VITÓRIA/ES

MENEZES, Raína de Alencar (1); MUNIZ, Andreia Fernandes (2); CUNHA, Clóvis Aquino de Freitas (1) Graduada em Arquitetura e Urbanismo, UVV, rahmenezes@gmail.com; (2) Professor Mestre, UVV, andreia.muniz@uvv. br; (3) Professor Mestre, UVV, clovis.aquino@uvv.br

RESUMO O presente trabalho consiste em uma proposta projetual de implantação de um Mercado Público no bairro Centro, na cidade de Vitória (ES), a fim de que o equipamento seja um elemento integrador entre cidade e usuário, de forma a requalificar o espaço urbano, especificamente o Centro da capital, oferecendo atividades múltiplas, de caráter comercial, social e de entretenimento, e valorizar o patrimônio cultural local. A motivação para a proposta partiu de estudos que identificam o mercado como um forte elemento de atração de público e a Região Metropolitana de Vitória ainda não possuir equipamento deste porte. O projeto proposto busca atender a estes requisitos.

PALAVRAS-CHAVE: mercado público; cidades; transformação urbana; requalificação urbana.

1 INTRODUÇÃO O Mercado é um forte elemento de atração de público e que apesar das relações virtuais e impessoais instauradas no modo de vida contemporâneo, ele se revela como uma importante ferramenta para promover interação social e estímulo ao uso do espaço público. Ao longo da história da civilização ocidental o espaço do mercado aparece não só como um elemento importante para a atividade de troca de bens, mas como um espaço de encontro. O Mercado é dinâmico por reunir aspectos de importância econômica, ao concentrar diferentes níveis de atividades comerciais; social, ao promover o encontro de pessoas; ambiental, ao propiciar a interação com a paisagem da cidade; cultural, pois é capaz de representar a identidade de um grupo social; e de entretenimento, apresentando potencial turístico (VARGAS, 2001). Neste contexto, este trabalho consiste na apresentação de um estudo projetual de implantação de um Mercado Público no bairro Centro, na cidade de Vitória (ES), a fim de que o equipamento seja um elemento integrador entre cidade e usuário, de forma a requalificar o espaço urbano oferecendo atividades múltiplas, de caráter comercial, social e de entretenimento, e valorizar o patrimônio cultural local.

2 A ÁREA DE IMPLANTAÇÃO A área escolhida para implantação da proposta está localizada na área do Porto de Vitória, no Centro de Vitória, possui aproximadamente 27.000m² e reúne todas as características desejadas para a implantação do Mercado Público. A área faz face com a Baía de Vitória e com a Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, importante via de ligação entre as cidades de Vila Velha, Cariacica e Vitória. Além disso, também está próxima das Avenidas Princesa Isabel e Jerônimo Monteiro, que também articulam esse fluxo entre cidades da Região Metropolitana, o que garante a convergência de pessoas e facilidade de acesso (figura 1). Há ainda nessa região a atividade dos Catraieiros, que fazem a travessia de Vitória para Vila Velha através de pequenas embarcações. Essa é uma característica tradicional da região, expressão de ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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uma identidade local, e que apresenta um potencial a ser explorado, se integrado a outros meios de transporte coletivo. É importante destacar também a relação deste terreno com a cidade, de onde se pode contemplar a Baía de Vitória, a Cidade Alta e o Maciço Central, que compõem uma paisagem urbana interessante e única. A área também está próxima a duas praças, a Praça Oito de Setembro e a Praça Francisco Teixeira da Cruz, ambas com características de percurso de passagem, por não apresentar atrativos para permanência das pessoas. Portanto há a possibilidade de integrar esses espaços públicos a fim de requalificá-los. Outro fator que torna o terreno interessante para a implantação do Mercado Público é a presença de um Patrimônio Edificado. O Armazém 5 hoje abriga a Estação Porto, administrada pela Prefeitura de Vitória, que promove atividades culturais como exposições e apresentações musicais, e ajudam fortalecem a ideia de múltiplos usos para o espaço público. Figura 1. Área de implantação e seu entorno imediato – existência de Armazéns na área.

Fonte: Acervo dos autores

3 ENSAIO PROJETUAL Ao longo da história, a praça do mercado sempre esteve associada a um lugar que atraísse um grande público ou a uma atividade que fosse cotidiana e garantisse a presença das pessoas (MUMFORD, 2004). Por isso, é inevitável que o Mercado proposto esteja integrado com outras atividades. Quando se tem um acúmulo de produtos do gênero alimentício sendo comercializados no mesmo lugar, fatalmente se pensa em alimentação. Portanto, uma praça de alimentação com alguns restaurantes foi inserida no projeto. Hoje, um dos prédios que fazem parte do conjunto edificado no terreno abriga escritórios relacionados principalmente a administração do Porto de Vitória. Sabendo dessa demanda, e de que a região já apresenta uma vocação para áreas comerciais, um centro empresarial foi opção considerada. Visando uma diversidade ainda maior de público e atender a uma necessidade das comunidades vizinhas, propõe-se também um centro de formação profissional com foco em alimentação e turismo, onde serão ofertados cursos como de assistente de cozinha e cozinheiro, garçons, guia turísticos 164

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para o Centro de Vitória, idiomas e empreendedorismo, para que os estudantes possam ali mesmo aplicar seu conhecimento. Para que o equipamento seja ainda mais atrativo, além de múltiplas atividades, que garantam o seu uso por diversos públicos e em todos os horários do dia, é interessante que a mobilidade seja facilitada, ou seja, um módulo que reúna diferentes modos de locomoção. O Partido Arquitetônico adota no projeto engloba: a permeabilidade do terreno, o uso múltiplo e a interação com o entorno. Para garantir a permeabilidade do terreno, foi necessário eliminar o bloqueio total e permanente que se tem com as edificações existentes no terreno. Em razão dos Armazéns representarem um momento da história, e hoje, o Armazém 5 ter uma função, ainda que subutilizada, optou-se por mantê-lo. Já o Armazém 4 e o edifício anexo que os une serão demolidos (figura 2). Figura 2. Esquema de desenvolvimento do Partido Arquitetônico (1); Edificações existentes no terreno bloqueiam a visada para a Baía de Vitória (2); Visada para a Baía de Vitória da Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes (3).

(2)

(3)

(1) Fonte: Acervo dos autores

A nova edificação descola-se do prédio do Armazém 5 existente, a fim de dar-lhe um posicionamento de destaque no terreno. Entre ele e a nova edificação, forma-se um vazio, que prolonga a ideia de espaço público da Praça Oito de Setembro para a Baía de Vitória. Buscando aumentar ainda mais essa permeabilidade, a edificação também se descola do chão, criando um vão livre no pavimento térreo. Esse mesmo volume ainda se divide ao meio, criando uma alameda que direciona o fluxo até a orla. A implantação do Mercado de Vitória respeita a morfologia já existente. O novo edifício ocupa a ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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mesma proporção do antigo Armazém 4, mas foi locado distante da testada do terreno, aumentando o espaço de calçada e dando oportunidade ao pedestre (Figura 3). Figura 3. Implantação Geral (1); Vista geral (2); Extensão da Praça Linear (3); Bicicletário e Estacionamento ao fundo (4).

(1)

(2)

(4)

(3) Fonte: Acervo dos autores.

A antiga plataforma do Porto de Vitória agora dá lugar a uma praça linear, uma espécie de calçadão com quase 500m de extensão, com ciclovia, quiosques, área de eventos, playground, skate park e áreas de contemplação. O projeto ainda engloba um espaço cedido para um Terminal de Catraieiros, para uma Estação de BRT e um módulo de aluguel de bicicletas, que garantem uma integração ainda maior do Mercado com a cidade. Ali se tem uma pequena praça por onde passa a ciclovia, com bicicletário e área de descanso, ao lado a área de estacionamento de veículos e o acesso a carga/descarga do Mercado de Vitória. Mais próximo da margem da Baía de Vitória, há um equipamento que remete a forma de uma arquibancada, que pode ser usada tanto como mirante quanto como área de descanso e lazer. A parte final da plataforma se configura como uma parte de lazer, com playground e skate park, e como integrador de modais, pois foram cedidas áreas do terreno para uma Estação do BRT, um módulo de aluguel de bicicletas e o Terminal Aquaviário para os Catraieiros. A ideia é que com apenas uma tarifa o usuário possa usufruir desses três meios de transporte (figura 4).

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Figura 4. Arquibancada como mirante e área de descanso (1); Mercado e Acesso pela alameda (2); Praça (3); Continuidade do Mercado (4); Aluguel de bicicletas e Estação do BRT (5); Estação do BRT (6); Terminal Catraieiros (7).

(1)

(2)

(3)

(4) (5)

(6)

(7) Fonte: Acervo dos autores

4 CONSIDERAÇÕES A atividade do Mercado, seja em praças, em ruas cobertas e semicobertas ou em edifícios, se fez presente na história das cidades. Colaborou para o desenvolvimento econômico e para a expansão dos limites urbanos, foi ponto de encontro para trocas intelectuais, culturais e sociais, e se estabeleceu como um lugar onde a cultura de um povo pode ser representada graças a exposição de produtos típicos regionais. A maior intenção deste trabalho é criar, através da arquitetura de um edifício e de um espaço público, um novo hábito de ocupação da cidade por parte das pessoas. É reestabelecer o contato do cidadão com o seu espaço, e através dessa apropriação do lugar, valorizar sua identidade local e reacender o sentimento de pertencimento.

REFERÊNCIAS MUMFORD, L. A Cidade na História. Suas Origens, Transformações e Perspectivas. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. VARGAS, H. C. Espaço Terciário. O Lugar, A Arquitetura e A Imagem do Comércio. 1. ed. São Paulo: Editora SENAC, 2001. ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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A PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM EM ÁREAS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: COMUNIDADE ALTERNATIVA DE PATRIMÔNIO DA PENHA, CAPARAÓ - ES AZEVEDO, Aline Oliveira (1); NEIVA, Simone (2); (1) Graduada em Arquitetura e Urbanismo, UVV, alineazevedo.arquitetura@gmail.com; (2) Professor Doutor, UVV, simone.neiva@uvv.br

RESUMO A partir da década de 1980, devido ao crescimento desordenado das cidades, houve o início dos debates sobre assuntos relacionados à preservação ambiental e sobre seus os efeitos na paisagem urbana. Neste momento, o tema da sustentabilidade começou a ser pautado pelas convenções internacionais. Assistiu-se a uma tomada de consciência. Notou-se que os impactos ambientais se tornam inerentes, à medida que as cidades se expandiam. Todavia, já em 1970, haviam grupos que consideravam a importância da preservação ambiental e a buscavam como nova qualidade de vida, fazendo surgirem as comunidades alternativas. Seu intuito fundamental era consolidar uma relação harmônica entre o homem e a natureza. A pesquisa, aqui apresentada, partiu da percepção da potencialidade da Região do Caparaó, em especial a localidade Patrimônio da Penha. Um pequeno núcleo urbano situado dentro da área de amortecimento do Parque Nacional do Caparaó, local que abriga uma comunidade alternativa. Sendo assim, utilizou-se como estratégia metodológica para a pesquisa revisões bibliográficas de caráter narrativo de autores que abordam os assuntos descrito neste artigo. Assim, o objetivo desta pesquisa foi compreender como as comunidades alternativas, que tem como base a integração com a natureza, podem contribuir para conservação da paisagem natural no entorno de áreas de unidade de conservação. PALAVRAS-CHAVE Região do Caparaó; Patrimônio da Penha; Unidade de Conservação.

1. INTRODUÇÃO O mundo está passando por um período de rápidas e intensas transformações socioeconômicas, ambientais, tecnológicas e culturais, acompanhados pela crescente urbanização ocorrida nas cidades. Com o crescimento urbano das cidades os assuntos relacionados ao meio ambiente passaram a ser discutidos nas conferências mundiais, visto que o processo de regeneração ambiental se torna inviável. Neste contexto, o conceito de sustentabilidade passou a ser ligada diretamente a qualidade natural do ambiente e a preocupação da preservação da identidade cultural das regiões. A compreensão de cidade sustentável e eco cidade são descritos por Ferrão (2016): O conjunto urbano formado por espaços de vivência comunitária com base em projetos de cidades saudáveis e solidárias, planejadas para minimizar seus impactos sobre o ambiente. Em tais regiões, os assentamentos humanos hão de ser funcionalmente autossustentáveis capaz de adaptarem-se aos ecossistemas naturais exercendo impactos minimizados. A “eco cidade” visa proporcionar um ambiente saudável sem consumir mais recursos do que é capaz de repor em sua região (p. 02).

Atualmente as pessoas têm procurado um modelo de vida cada vez mais equilibrado entre o espaço e a natureza. Com isto, surge uma nova mentalidade sobre viver em uma comunidade alternativa, 168

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longe das cidades e com regras que visam uma relação harmônica com a natureza e o convívio entre as pessoas. Deste modo, as comunidades alternativas tornaram-se uma forma de minimizar os impactos das cidades no meio ambiente, devido à maneira como seus integrantes se relacionam com o espaço ao seu redor. Para assegurar a identidade cultural das “comunidades alternativa” e para que não haja uma descaracterização local da região a partir da especulação imobiliária, foi necessário, primeiramente perceber as potencialidades da Região do Caparaó, que abriga remanescentes da mata atlântica nativa e que exige um controle maior do manejo no seu entorno, em especial na localidade de Patrimônio da Penha por estar inserida em uma zona de amortecimento de unidade de conservação, o Parque Nacional do Caparaó.

2. A REGIÃO DO CAPARAÓ 2.1 A Microrregião do Caparaó Capixaba No Estado do Espírito Santo, são poucas as Unidades de Conservação declaradas, apenas três enquadram na categoria de Proteção Integral. Um exemplo é o Parque Nacional do Caparaó, que está localizado no extremo sul da Microrregião do Caparaó, zona limítrofe entre Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, com uma área de conservação superior a 10.000 ha. Embora essa área possua integração com a natureza, ainda sim é insuficiente em quantidades de extensão territorial, tornando-se necessário para a preservação da biodiversidade a inclusão de áreas de influência (CHIMALLI, 2013). Os Municípios que englobam as Unidades de Conservação do Parque Nacional do Caparaó são: Alto Caparaó, Alto Jequitibá, Caparaó e Espera Feliz, totalizando 20,6% do Parque no Estado de Minas Gerais. Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto Ibitirama, Irupi, e Iúna totalizam 79,4% do Parque no Estado do Espírito Santo. A Zona de Amortecimento é um espaço variável no entorno de uma Unidade de Conservação, o qual possui regras específicas para minimizar os impactos ambientais negativos em áreas de preservação ambiental de modo a criar uma harmonia com as localidades vizinhas (IBDF, 2015). A área compreendida como Zona de Amortecimento (ZA) do Parque Nacional do Caparaó, segundo o Plano de Manejo do Parque Nacional do Caparaó (IBDF, 2015) refere-se a um limite de 10 km de distância do entorno do Parque. A Lei Nº 9.985/2000 define o Plano de Manejo como um documento que estabelece o zoneamento e as normas que devem regulamentar o uso das áreas de preservação e o manejo dos recursos naturais (IBDF, 2015). Para a elaboração do plano de manejo é importante o conhecimento e interpretação dos elementos que condizem com o espaço. Atualmente a Microrregião do Caparaó Capixaba é composta por onze municípios: Alegre, Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Ibatiba, Ibitirama, Irupí, Iúna, Jerônimo Monteiro, Muniz Freire e São José do Calçado que juntos abrangem uma população de aproximadamente 190.000 mil habitantes, o que corresponde a 5% da população capixaba (CAPARAÓ, 2006). Como podemos observar a partir do mapa abaixo de zona de amortecimento, o município de Divino de São Lourenço é o segundo no ranking que possui mais área do município no parque com um percentual de 22,31%, visto que seu território possui uma extensão territorial de 173,81 km² e uma população de 4.516 habitantes segundo dados do IBGE (2010).

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Figura 01: Zona de Amortecimento do PNC.

Fonte: CHIMALLI, Tessa (2013).

2.1 A Comunidade de Patrimônio da Penha A Comunidade de Patrimônio da Penha pertence ao Município de São Lourenço e surgiu por volta de 1980 a partir da vinda de “forasteiros” para a região em busca de um novo modelo de vida, baseado nos princípios da sustentabilidade (MASSINI et al., 2014). A comunidade que se estabeleceu se apropria do espaço produzindo uma arquitetura vernácula e manifestações culturais singulares. A ocupação da comunidade tem sido prioritariamente por moradores com um perfil mais específico, com posturas voltadas a preocupação ambiental diante dos problemas urbanos devido ao esgotamento de recursos naturais nas grandes centralidades. A partir de informações elencadas acerca da ocupação da região, estudos mostram que foi com a realização do evento, ENCA (Encontro das Comunidades Alternativas) no ano de 1991, que a comunidade começou a receber um grande contingente de turistas a favor do movimento hippie que se tornaram os precursores do turismo em Patrimônio da Penha (MASSINI et al., 2014). Embora a Comunidade de Patrimônio da Penha ainda não tenha o reconhecimento oficial de “distrito” concebido pelo município, a região tem se tornado uma nova fonte de arrecadação econômica para Divino de São Lourenço devido às atividades turísticas desenvolvidas na localidade, voltadas para o turismo sustentável. Em razão do desenvolvimento do turismo na região ser voltado às questões naturais, como circuito das águas que envolvem passeios nas cachoeiras, com trilhas e observatórios das aves, são desenvolvidas também atividades na praça da localidade voltada as atrações a partir de teatros, danças e cinema, nota-se que a população tem buscado alternativas como forma de atrair visitante até a comunidade. Porém, esse número mais expressivo de turistas ocorre durante os meses de dezembro a março, ou seja, no verão, onde os visitantes vêm para localidade em busca das cachoeiras (MASSINI et al., 2014). Percebe-se que a proximidade da Comunidade de Patrimônio da Penha com o Parque Nacional do Caparaó, fez da localidade uma rota de interesse turístico, devido à conservação dos recursos naturais presentes no entorno desse pequeno núcleo urbano.

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Figura 02: Arquitetura Vernácula.

Figura 03: Prática do Turismo Sustentável na região.

Fonte: Elaborada pelo autor (2017).

Fonte: http://src.odiario.com/imagem/2016/12/27/m_ rapel-cachoeira.jpg >. Acesso em 27/08/2017.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Hoje a comunidade de Patrimônio da Penha vale-se o reconhecimento do Parque Nacional do Caparaó para se promover em razão de seus atrativos naturais, haja vista que essa modalidade turística tem sido uma das fontes de economia e tem atraindo alguns investidores externos para a Penha. A pesquisa aqui apresentada aponta que o Parque Nacional do Caparaó exerce uma influência direta sobre as comunidades alternativas. A medida que as demandas turísticas aumentam, a existência de empreendimentos e infraestrutura surgem para atender ao visitante, intensificando o crescimento da economia, os laços sociais e as possibilidades de emprego e renda para a população local. Nota-se ainda que os parques podem se tornar um elemento importante para o desenvolvimento das regiões consideradas, zonas de amortecimento. Contudo, para que haja um efeito positivo é necessário um planejamento eficaz e participativo. Somente assim o local manterá suas características, sem perda da identidade cultural produzida na comunidade. O crescimento da região, impulsionada pelo turismo, possui duas faces. Ela traz consigo muitos impactos negativos tornando-se necessário uma fiscalização e acompanhamento do desenvolvimento da região, mas pode justamente manter a região de amortecimento do Parque Nacional do Caparaó conservada e viva.

REFERÊNCIAS CHIMALLI, Tessa. Áreas de Preservação Permanente no Entorno do Parque Nacional do Caparaó, no Estado do Espírito Santo. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) – Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre. 2013. FERRÃO, André Munhoz de Argollo. Cidades e territórios sustentáveis, paisagens culturais e desenvolvimento regional. Revista Labor & Engenho. São Paulo. Abril/Junho 2013 MADEIRA, Wilson Filho; GARCIA, Cláudia Moreira Hehr. Efeitos Colaterais na Conservação: O caso do Consorcio Público da Região do Caparaó, 2016. Disponível em: <http://www.inovarse.org/sites/default/files/ T16_009.pdf> MASSINI, V. et al. O turismo em Patrimônio da Penha (ES) e suas interfaces com o Parque Nacional do Caparaó. Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.7, n.4, nov2014-jan2015, pp.715-734. IBDF – INSTITUTO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO FLORESTAL. Plano de Manejo: Parque Nacional do ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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Caparaó. Brasília, 2015. Disponível em: < http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/DCOM_plano_de_ manejo_Parna_Caparao.pdf> Acesso em: 27/08/2017. IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. BRASIL. Disponível em: <http://www.ibge. gov.br/>. Acesso em: 27/08/2017. PLANO de desenvolvimento sustentável do Caparaó. Caparaó capixaba vale mais. 2006 - 2016. Disponível em: <https://issuu.com/marcostuim/docs/caparao_vale_mais>. Acesso em: 27/08/2017.

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METODOLOGIA PARA PRODUÇÃO DE MAPEAMENTOS URBANOS COMUNICANDO COM A FERRAMENTA DO ARCGIS

ROCHA, Nayra Carolina (1); LYRA, Ana Paula Rabello (2); PINHEIRO, Carlos Alberto Kuster (3) (1) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo UVV, nayrasegal@gmail.com. (2) Professor Doutor, UVV, ana.lyra@uvv.br ; (3) Professor Mestre, UVV, carlos.pinheiro@uvv.br

RESUMO Este trabalho apresenta a metodologia aplicada para a produção do mapeamento e síntese gráfica da vulnerabilidade espacial do bairro Bento Ferreira, para a pesquisa “Estratégias socioambientais para inibição de ações antissociais: um estudo de caso do Bairro Bento Ferreira e seu entorno, em Vitória – ES”. As atividades desempenhadas focaram na identificação e criação de um repertório gráfico para comunicação dos resultados do mapeamento iniciado pelas visitas de campo e concluídos com as análises de suas sínteses gráficas. A partir da definição da ferramenta, dos dados coletados e de uma breve revisão das publicações sobre comunicação visual para o Planejamento Urbano, com foco no planejamento de cidades seguras, foi possível identificar as demandas de produção gráfica da pesquisa e elaborar uma identidade visual comum para representação dos resultados. As ferramentas gráficas e simbologias criadas auxiliaram e otimizaram a produção dos mapas georreferenciados facilitando a interpretação dos resultados finais.

PALAVRAS-CHAVE: mapas temáticos; mapeamento georreferenciado; representação gráfica

1 INTRODUÇÃO A comunicação gráfica representa uma ferramenta essencial na área de Arquitetura e Urbanismo, transformar um dado em informação visual é uma necessidade inerente a profissão que precisa comunicar visualmente para transmitir respostas sobre um problema projetual. As novidades tecnológicas surgiram com novas possibilidades de expressão visual que agilizam diferentes etapas do processo projetual. No âmbito do Planejamento Urbano este aperfeiçoamento é uma busca constante. O foco deste trabalho consistiu em encontrar e selecionar o instrumento e a ferramenta ideal para representar as informações visuais coletadas em campo com o intuito de gerar possibilidades de análise e interpretações. O software escolhido para a tabulação de dados e geração de mapas da pesquisa foi o ArcGis, na sua versão 10.1. Dentro desse pacote de software, foram utilizados o ArcMap e o ArcCatalog. A escolha do software se deu pelas possibilidades disponibilizadas pelo programa de inserir atributos para tabulação e geração de dados georreferenciados. Através do software ArcMap foram tabulados os dados coletados nas visitas de campo à área de estudos e também aqueles disponibilizados no site do Instituto Jones dos Santos Neves e no site da Prefeitura de Vila Velha, dados esses que correspondem aos arquivos de georreferenciamento. A partir da definição da ferramenta, dos dados coletados e de uma breve revisão das publicações sobre comunicação visual para o Planejamento Urbano, com foco no planejamento de cidades seguras, foi possível identificar as demandas de produção gráfica da pesquisa e elaborar uma identidade visual comum para representação dos resultados. As ferramentas gráficas e simbologias criadas auxiliaram e otimizaram a produção dos mapas georreferenciados da pesquisa.

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2 MATERIAL E MÉTODO 2.1 Metodologia Geral Do ponto de vista dos procedimentos técnicos inicia-se com uma revisão da bibliografia referente às publicações sobre comunicação visual para o Planejamento Urbano. Nesta fase foram identificadas duas publicações sobre a análise da segurança em contextos urbanos para o planejamento de cidades seguras, ambas vinculadas ao Laboratório de Segurança e Qualidade Urbana - LABQUS, coordenado pela Arquiteta e Pesquisadora Italiana: Clara Cardia, professora de urbanismo do Politécnico de Milão (CARDIA, 2011 e 2014). Tais publicações foram fundamentais na identificação do repertório gráfico da pesquisa por apresentarem além de amplo acervo visual, os processos e etapas da coleta de dados e a representação dos resultados, em uma temática comum a pesquisa vigente. A partir das informações adquiridas na revisão da bibliografia, foram realizadas uma série de reuniões precedentes e posteriores as primeiras visitas de campo para identificação e definição de toda a demanda de produção gráfica da pesquisa. Durante esta fase sobressaiu-se a ferramenta do ArcGIS, também adotada nas pesquisas e produções do LABQUS por permitir a interpolação entre dados que podem ser tabulados e associados ao mapa georreferenciado. Realidade que se fazia necessária tendo em vista as demandas de sínteses gráficas que dependiam de as informações estarem inseridas em uma mesma base de dados para produção e análise dos resultados. Na sequência e com base na ferramenta gráfica do ArcGIS foram sendo elaboradas as simbologias a partir ainda da definição da forma de inserção dos dados no sistema. Com o uso do ArcCalalog foram criados shapefiles correspondentes aos dados coletados. As informações foram inseridas no ArcMap, configurado para o sistema de coordenadas Sirgas 2000 / UTM Zone 24s, através de pontos, linhas e polígonos, dependendo dos objetivos específicos do mapeamento final desejado. Tais dados foram inseridos e editados usando as ferramentas de edição e preenchimento das tabelas de atributos de cada shapefile. Após a tabulação dos dados, foi atribuído um peso de 1 a 5 para cada uma das diferentes variáveis avaliadas, onde 5 representa maior vulnerabilidade e 1 menor vulnerabilidade. Destaca-se que as variáveis indicadas, utilizaram como critérios de avaliação a metodologia da prevenção do crime através do desenho urbano - CPTED. Esse método analisa, em síntese, a vulnerabilidade das características físicas dos ambientes urbanos a partir da qualidade destes em permitir a manutenção do olhar espontâneo e vigilante das pessoas (vigilância natural), da identificação clara dos acessos (controle de acesso) e das características de manutenção, apropriação e socialização dos lugares (territorialidade). Uma das tabelas de atribuições do shapefile foi elaborada e categorizada em três colunas, uma com o nome das vias, outra da categoria da informação e a última com o peso atribuído ao grau de vulnerabilidade desse dado, gerando, por exemplo, o mapa de vulnerabilidade na percepção dos moradores (Figura 1). Através dos pesos foi possível gerar um mapa de manchas através do ArcToolBox, onde imagens rasters foram criadas, possibilitando assim ver o resultado também em forma de concentração de manchas das possíveis áreas de influência (Figura 2). Figura 1

Figura 2

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Geobases do IJSN

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2.2 Metodologia da Tabulação dos Questionários Para tabulação dos dados inseridos, por exemplo, nos mapas de percursos gerados a partir das respostas ao questionário aplicado aos moradores do bairro, foi criado um shapesfile de linha onde foram inseridos os dados quantitativos do questionário. A tabela de atribuições deste shapefile foi configurada com a classificação de percurso pedonal e percurso ciclístico. Além da classificação de modo de circulação no bairro, a tabela também contou com duas colunas, uma com o nome das vias e outra com a quantidade de transeuntes, preenchida com os dados do mapa dos percursos informados no questionário. Após a tabulação dos dados, foi atribuído um peso de 1 a 5 às quantidades de transeuntes que passavam pelas vias, onde 5 representa maior vulnerabilidade e 1 menor vulnerabilidade. Para as vias que possuíam quantidade zero de pedestres foi atribuído peso 5, nas vias com 1 à 10 pedestres, peso 4, nas vias entre 11 à 20 pedestres, peso 3, nas vias entre 21 à 30 pedestres, peso 2, e nas vias com mais de 31 pedestres foi atribuído peso 1. A mesma lógica foi adotada para as vias que possuíam quantidade zero de ciclistas onde foi atribuído peso 5, e nas vias com 1 à 4 ciclistas, peso 4, nas vias entre 5 à 8 ciclistas, peso 3, nas vias entre 9 à 12 ciclistas, peso 2 e nas vias com mais de 13 ciclistas, peso 1. Através dos pesos foi possível criar um mapa com diferença de cores para as vias que representavam cada uma dessas classificações (Figura 3). Figura 3 – Mapas de percurso pedonal e ciclístico

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Geobases do IJSN

Um mapa de manchas também foi gerado através do ArcToolBox, onde uma imagem raster foi gerada, possibilitando assim ver o resultado também da área de influência de cada um dos percursos na forma de manchas. Figure 4 – Mapa das zonas de influência dos percusos pedonal e ciclístico

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Geobases do IJSN

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3 RESULTADOS A metodologia acima foi aplicada para gerar os diferentes mapas demandados pela pesquisa (Mapas correspondentes a localização do bairro, limites do entorno, morfologia, furto e roubo entre os anos de 2010 à 2016, quantidade de gabarito de cada edificação, uso e ocupação do solo, classificação de vazios, identificação do CPTED relacionados a fachadas, vilões disfarçados, dispositivos de segurança e territorialidade, além dos mapas sínteses de interpolação das informações gráficas utilizados para análise dos resultados). Conforme ilustrada nas imagens, foi adotada uma representação no formato paisagem com a mesma identidade visual para todos. Destaca-se a logomarca também criada para pesquisa e acrescentada na parte superior da legenda dos mapas. Figure 5 - Mapa de Furto e Roubo – Ano de 2016

Fonte: Mapa produzido pela Nayra Rocha, 2017. Figura 06 - Mapa da área de influência de Furto e Roubo – Ano de 2016

Fonte: Mapa produzido por Nayra Rocha, 2017.

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O método adotado nesta pesquisa permitiu a produção de mapas com informações detalhadas e pontuais, como pode ser observado na figura 05 acima que apresenta o local exato de cada ocorrência de furto e roubo registrada no ano de 2016. Ou ainda, mapas contendo informações que envolvem a área de abrangência dos dados pontuais, como os mapas de macha que apresentam a concentração de determinado dado, como ilustrado na figura 6, onde as machas podem ser identificadas e interpretadas a partir de um raio definido pelo pesquisador. Os mapas foram de suma importância para a interpretação dos dados coletados pelo grupo, onde a distribuição espacial dos objetos de estudo pode ser percebida com exatidão, possibilitando melhor análise dos trechos tidos como mais ou menos vulneráveis do bairro, além de facilitar a sobreposição de informações para gerar os resultados, onde foram cruzados os mapas de identificação do CEPTED, os crimes ocorridos registrados e por questões baseadas na percepção dos moradores. Para finalizar vale destacar a importância das reuniões ocorridas antes, durante e após a coleta de dados e os primeiros mapeamentos testes para validação dos resultados e respectivos formatos de apresentação. As trocas entre os diferentes bolsistas e pesquisadores envolvidos na pesquisa foi fundamental para obtenção dos resultados. Através das diversas ferramentas disponibilizadas pelo ArcGis foi possível transformar e tabular informações para gerar os diferentes mapas que servirão de bases para análise e interpretação dos resultados da pesquisa.

REFERÊNCIAS CARDIA, Clara; BOTTIGELLI, Carlo. Progettare la città sicura: pianificazione, disegno urbano, gestione degli spazi pubblici. Itália: Hoepli, 2014 CARDIA, Clara; KAKPO, Nathalie; MBERTO, Nicolini and CRUZ, Carolina. Strategy for a safe environment of a suburban community: A study on CORMANO. Town Planning Design Workshop. LABQUS Laboratorio Qualità Urbana e Sicurezza, Politecnico di Milano. April 29, 2011 FITZ, Paulo Roberto. (2008). Geoprocessamento Sem Complicação. Oficina de Textos, São Paulo. LYRA, Ana Paula Rabello. Relatório da Pesquisa “Estratégias Socioambientais para Inibição de Ações Antissociais. Um estudo de caso no bairro Bento Ferreira e seu entorno imediato.” Universidade Vila Velha/ FAPES, 2017.

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ARQUITETURA E FABRICAÇÃO DIGITAL A PROPOSTA DE UM FAB LAB EM VITÓRIA CAMPOS, Mariana de Paula (1); (1) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UVV, campos.mpc1@gmail.com

RESUMO A presente pesquisa tem por finalidade reunir informações e analisar aspectos relevantes para fundamentar a concepção de um projeto arquitetônico de um Laboratório de Fabricação Digital (Fab Lab) na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo. O argumento que fundamenta este trabalho é: Como criar um ambiente especializado, englobando os conceitos de um Fab Lab e da Indústria Criativa, de forma a propagar e incentivar a criatividade e a fabricação digital na cidade de Vitória? Propõe o debate da relevância e o potencial da nova revolução industrial, da indústria criativa e dos laboratórios de fabricação que está em processo de transformação da arquitetura que conhecemos.

PALAVRAS-CHAVE: fabricação digital; fab lab; nova revolução industrial.

1 INTRODUÇÃO O Fab Lab, abreviação do termo inglês Fabrication Laboratory e traduzido para o Português como Laboratório de Fabricação, é uma plataforma de prototipagem técnica para a inovação e invenção, de acordo com o Fab Foundation, fundação criada para facilitar e apoiar o crescimento da rede de laboratórios internacional. É um local para aprender, brincar, criar, compartilhar e estar conectado a uma comunidade global de aprendizes, educadores e pesquisadores que abrange cerca de 30 países. Apontada como a 6ª cidade entre as mais inteligentes em todo o Brasil no ranking Cidades Inteligentes e Conectadas, publicado pela Revista Exame e elaborado pela Urban System, Vitória foi escolhida como sede da implantação do projeto e para assegurar esta proposta, a pesquisa apresenta informações e análises favoráveis ao município, o terreno de intervenção e o seu entorno, pré-dimensionamento de ambientes e programa de necessidades, legislações e normas técnicas, assim como materiais e técnicas construtivas. O Fab Lab tem como objetivo a invenção e a inovação, estimulando a criatividade para todos que desejarem, designers, arquitetos, engenheiros, especialistas ou não. De forma a democratizar o acesso às tecnologias digitais a qualquer tipo de pessoa e impulsionando a economia criativa, que gera atualmente cerca de R$ 126 bilhões por ano em riquezas e emprega quase 900 mil pessoas só em nosso país (Prefeitura de São Paulo - Caderno da Economia Criativa). É um mercado em ascensão, com crescimento acima da média e está em quase todos os setores da economia.

2 FABRICAÇÃO DIGITAL 2.1 A Nova Revolução Industrial As Revoluções Industriais impactaram o mundo, mudando não só a economia, mas a forma de viver, trabalhar e comprar. A Primeira Revolução Industrial é datada do final do século XVIII, onde até então, a produção era artesanal, a população vivia no campo e produzia o que comia. A expansão comercial permitiu o financiamento do avanço tecnológico e a burguesia, buscando maiores lucros, menores custos e produção acelerada, investiu no aperfeiçoamento do modo de produzir. A produção em larga escala atendia os objetivos da burguesia e assim implantaram as primeiras indústrias. O acesso 178

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às máquinas ficou restringido às grandes indústrias e a fabricação artesanal e manual era cara e demorada, sendo mais vantajoso a compra de produtos industriais. A Terceira Revolução Industrial, é considerada por historiadores, os avanços tecnológicos do século XX e XXI, com a invenção do computador, fax, o celular, a engenharia genética, entre outros, conhecida também como a Era da Informação. Para Anderson (2012), a Era da Informação foi uma revolução, mas não pode ser considerada uma revolução industrial. A Terceira Revolução Industrial inicia-se com a democratização e ampliação acerca de fabricação. “Portanto, a Terceira Revolução Industrial será bem mais compreendida como uma combinação de fabricação digital e fabricação pessoal: a industrialização do Movimento Maker.” (ANDERSON, 2012, p. 45). O Movimento Maker é uma ampliação da cultura Do It Yourself (Faça você mesmo) abrangendo inúmeras atividades, que vão desde artesanato à eletrônica avançada, com princípios de que qualquer pessoa pode criar, construir, consertar, modificar e fabricar qualquer coisa. Por estarem em conjunto com a Era da Informação.

2.2 Fabricação Digital A fabricação digital tem estimulado uma revolução no campo do design, equilibrando a produção do modelo virtual e produto físico. Antes havia uma grande lacuna entre a forma mais tradicional do design (o desenho) com a construção (o resultado do trabalho). A tecnologia diminuiu esta lacuna e possibilitou aos arquitetos a fabricação dos seus modelos e produtos, seja este modelo a maquete de um edifício ou o edifício em si. O desenho digital surgiu na arquitetura há cerca de 50 anos, com os programas CAD (desenho assistido por computador), introduzido pelo PhD Patrick J. Hanratty, cientista da computação, conhecido como “Pai do CAD”, facilitando o desenho em 2D, transformando uma atividade difícil e demorada, em simples e eficiente, com a possibilidade de fácil edição e alteração dos projetos. O trabalho era demorado e cansativo. Com o passar do tempo a modelagem 3D evoluiu para os Softwares BIM (Building Information Modeling, traduzido como Modelagem de Informação da Construção), que como o nome especifica, é a modelagem de informações para a construção, migrando do simples desenho com linhas e arcos para a construção tridimensional do edifício, com todos os parâmetros, tais como, espessura, comprimento, altura, material, propriedades térmicas e acústicas, custo do material, custos de construção, entre outros. É possível inserir todas as características dos materiais utilizados, e até mesmo, marca, modelo e fabricante, resultando assim em informações mais precisas. Em 2004, Lisa Iwamoto projetou a Digital Wave para o Museu de Arte Moderna de São Francisco. O projeto foi realizado no estúdio de design da Universidade da Califórnia em Berkeley, para ser exposto em apenas uma noite no museu, com um tempo restrito para montagem e desmontagem. O tempo de projeto e montagem foi de cinco semanas. Com uma estrutura tipo concertina que pode ser comprimida em uma fração do tamanho. O volume forma dois espaços semifechados, construídos a partir de tecidos nervurados, que são rebitados junto a placas de alumínio e imprensados em torno de um plástico ondulado e translúcido. Todas as peças foram fabricadas digitalmente por um cortador de jato de água controlado por computador. A precisão proporcionada por essa tecnologia permite que as peças se encaixem perfeitamente.

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Figura 1. Estrutura projetada e fabricada para exposição no Museu de Arte Moderna de São Francisco. Figura 2. Modelos projetados cortados na máquina de corte por jato de água.

Fonte: Iwamoto Scott.

Na educação também ocorreram mudanças na forma do aprendizado. O modelo “faça você mesmo” impulsiona a criatividade e atrai a participação dos estudantes de graduação, solucionando questões e proporcionando a realização de protótipos de projetos concebidos em sala de aula. Tornar o aprendizado mais prático e engajador, permitindo a criação de projetos complexos em pouco tempo, como criação de maquetes, estudos topográficos e representações diversas.

3 FAB LAB Fundado em 2001, o primeiro Fab Lab foi implantado no laboratório interdisciplinar Center for Bits and Atoms (CBA) do Massachusetts Institute of Technology (MIT) sob a liderança de Neil Gershenfeld, professor do MIT e diretor do CBA. Seu objetivo principal era o grande interesse pela revolução digital, principalmente, a fabricação digital (EYCHENNE e NEVES, 2013). O Fab Lab é uma plataforma de prototipagem técnica, destinado a estudantes, empreendedores e entusiastas, que desejam fabricar suas ideias e conceitos. São multidisciplinares e estão conectados a uma rede mundial, para troca e compartilhamento de ideias e projetos. Para seu funcionamento, há uma lista de máquinas que são necessárias e obrigatórias, como impressora 3D, cortadora a laser e CNC. Há também, máquinas que podem customizar cada Fab Lab, como máquinas de costura, de bordar, entre outras. Figura 3. Estrutura projetada e fabricada para exposição no Museu de Arte Moderna de São Francisco.

Fonte: Iwamoto Scott.

A equipe técnica é formada por uma equipe interdisciplinar que conduz o trabalho e dá personalidade e vida ao Fab Lab. O trabalho é colaborativo e todos os cargos são necessários para o bom andamento do laboratório. Basicamente a equipe é composta pelo diretor, Fab Manager (gestão do laboratório e desenvolvimento das atividades), Guru (assistência aos projetos) e Estagiários. Para perfeito funcionamento do Fab Lab é necessário que ele possua alguns maquinários disponíveis. Os maquinários obrigatórios são: 180

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Cortadora de Vinil: para corte de vinil, filmes tipo transfer, certos tecidos e adesivos de cobre usados na criação de circuitos impressos. É utilizado para customização de peças e impressão de pequenos circuitos simples. Cortadora a laser: para corte de madeira, papelão, acrílico, couro, tecido, feltro e gravação de metal, alumínio, pedra e madeira. Fresadora de precisão: utilizada para desbastamento do material, acabamento final e circuitos impressos. Os materiais que podem ser utilizados nesta máquina são filmes de cobre, silicone, madeira, espuma, dentre outros. Fresadora CNC: utilizada para usinagem de materiais densos sobre grandes superfícies de trabalho. Estes materiais podem ser madeira maciça ou composta, entre outros. Impressora 3D: utiliza resina e fios de termoplástico para moldes, modelos finais, experimentação e fabricação de protótipos. Cada Fab Lab possui seu conceito e podem inserir maquinários não obrigatórios, tais como, máquina de costura e bordar, bancada de eletrônica, marcenaria, programação, acessórios e consumíveis. Os consumíveis são os softwares utilizados para modelagem, os materiais utilizados nos maquinários, equipamentos de segurança, bancada de trabalho e, se possível, uma pequena biblioteca. Os Fab Labs são divididos em três modelos: Acadêmico, Profissional e Público. Possuem os mesmos princípios a partir da Fab Charter (carta de princípios) e o kit padrão de máquinas, mas diferem entre si no modo de trabalho e de financiamento. Neste capítulo iremos abordar as diferenças, os prós e contras, os usuários mais comuns, os serviços realizados, tipos de projeto, agenda tipo e a equipe de trabalho. Além disso, o investimento inicial e a organização de suporte para cada modelo de Fab Lab também possuem suas particularidades. Os Fab Labs Acadêmicos são mantidos por Instituições de Ensino e seu objetivo principal é aprimorar o aprendizado dos estudantes através da prática com projetos “faça você mesmo”. São organizados workshops e oficinas e o acesso tem um custo menor ou nenhum. Os usuários são estudantes de graduação, pós-graduação, professores, comunidade em geral, profissionais e artistas. A Instituição de Ensino financia toda a estrutura, maquinário e equipe técnica. Geralmente é aberto uma vez na semana para o público externo. Nos demais dias o uso é definido de acordo com a dinâmica pedagógica da instituição, com cursos e workshops durante a semana. Não são sustentáveis economicamente, devido ao grande custo e baixo retorno. A equipe técnica geralmente é composta por um Diretor, um Fab Manager, dois Gurus e três bolsistas. Os Fab Labs Profissionais têm como objetivo atender empreendedores, empresas, startups e entusiastas que desejam colocar em prática suas ideias, sendo disponibilizada toda a estrutura a partir do pagamento de uma taxa, podendo ser diária, semanal ou mensal. São sustentáveis economicamente, podendo ser financiado apenas com dinheiro privado ou com subsídio público para os primeiros anos e, após isso, se manter com o valor dos serviços oferecidos. Uma vez por semana o laboratório é aberto ao público de forma gratuita, sendo cobrado apenas o material utilizado e, nos demais dias, as reservas podem ser feitas pelo próprio site, podendo alugar uma máquina ou o espaço inteiro. A equipe técnica geralmente é composta por um ou dois Diretores, um Fab Manager, de três a cinco Gurus e três a cinco estagiários. Os Fab Labs Públicos são abertos ao público todos os dias da semana e de forma gratuita, oferecendo cursos, oficinas e workshops para a comunidade local e interessados. Geralmente são financiados pelo Governo, Incentivo Privado e/ou parceria público-privada. Oferece formação e capacitação, além de promover palestras, cursos, mesas redondas e atividades para crianças. Os projetos realizados estão ligados à comunidade em que está inserido e suas problemáticas. Também são realizados projetos gerais, para iniciação da comunidade nos equipamentos e tecnologias. A equipe técnica geralmente é composta por um ou dois Fab Managers, Gurus e estagiários. A quantidade de cada um varia de acordo com a proposta pedagógica do Fab Lab. ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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4 CONCLUSÕES Desta pesquisa foi possível verificar como as Revoluções Industriais mudaram a economia, o modo de viver e pensar, e em como a Terceira Revolução Industrial inovará na forma de produção e venda. A Indústria Criativa está em crescimento no Brasil, mas ainda é pouco representada no Brasil, com um baixo número de vagas de emprego e pouca participação no PIB brasileiro. As transformações e o acesso às tecnologias já mudam de forma significativa este quadro, mas pode e deve, cada vez mais, ser impulsionada e haver diversas formas de incentivo. A Fabricação Digital na Arquitetura evoluiu de acordo com as necessidades de projeto e representação. Foi possível entender de que forma eram utilizadas as ferramentas gráficas, e como foram se transformando, a partir da utilização do computador, da internet e de plataformas colaborativas. Os Fab Labs possuem características padrões e normas a serem seguidas, como a Fab Charter, os maquinários básicos e a equipe técnica, nas visitas em campo na cidade de São Paulo, foram possível analisar a dinâmica dos três diferentes modelos de laboratórios, acadêmico, profissional e público, destacando suas similaridades e suas diferenças, as dificuldades encontradas e como os espaços podem ser melhorados, tanto para os instrutores como para os visitantes. A partir dos dados levantados nesta pesquisa, será possível iniciar os processos de projeto para um Fab Lab na cidade de Vitória, incluindo o mesmo no modelo público, de forma a atender trabalhadores, estudantes, aposentados e visitantes da cidade. Vitória por ser capital do estado do Espírito Santo, recebe diariamente grande volume de pessoas, sejam a trabalho, estudo ou lazer. Além disso, possui fácil acesso das demais cidades da Região Metropolitana e do estado.

REFERÊNCIAS ANDERSON, Chris. A Nova Revolução Industrial: Makers. Rio de Janeiro, Elsevier, 2012. EYCHENNE, Fabiene NEVES, Heloisa. Fab Lab: A Vanguarda da Nova Revolução Industrial. São Paulo: Editorial Fab Lab Brasil, 2013. IWAMOTO, Lisa. Digital fabrications: architectural and material technique. 1 ed. New York: Princeton Architectural Press, 2009.

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PRÁTICA DIGITAL E CONCEPÇÃO ARQUITETÔNICA EXPERIMENTOS DE AUGUSTO ALVARENGA

FONSECA, Geraldo Benicio da (1); LUZ, Iolanda (2) (1) Professor, mestre, UVV, geraldo.fonseca@uvv.br; (2) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UVV, iolandapluz@gmail.com

RESUMO Esse artigo descreve uma investigação sobre os métodos de trabalho do arquiteto e urbanista capixaba Augusto Alvarenga, exemplar das mudanças nas ferramentas usadas na concepção de projetos arquitetônicos. Seu uso de aplicativos gráficos no tablet para o design de proposições arquitetônicas é exemplo de uma alternativa relativamente recente e em plena difusão entre arquitetos de todo o mundo, mas ainda sem muitos estudos que analisem as consequências de sua prática. PALAVRAS-CHAVE: arquitetura, concepção, processo projetual, digital.

1 INTRODUÇÃO Augusto Alvarenga é um dos arquitetos para os quais o computador tem sido desde sempre um instrumento profissional. Uma característica singular de Alvarenga, se comparado a seus companheiros de profissão, é sua preferência pessoal por aspectos relacionados à tecnologia de edificação, e que conduziu a diferentes experiências: o uso arquitetônico de estruturas em aço, e o uso da informática aplicada ao projeto, ambos inovadores para a época e o contexto (o Brasil na década de 1990). Augusto Alvarenga começou a atividade profissional em 1990 com os instrumentos analógicos típicos da profissão e, a partir da primeira oportunidade com o AutoCAD, este arquiteto passou a usar recursos digitais de modo regular, sempre mantendo uma atitude de ativa experimentação tanto com softwares como com equipamentos. Em 2012 Alvarenga passou a adotar o tablet, inicialmente como um bloco de notas digital. Em seguida, o desenvolvimento de softwares gráficos e gadgets tecnológicos como o lápis digital Bamboo (Wacon) permitiram a progressiva exploração de recursos digitais capazes de emular, com crescente semelhança, o traço manual. Atualmente, este arquiteto usa o tablet para fazer desenhos, croquis, diagramas e perspectivas já desde a fase conceitual, resultando em imagens com aparência similar a um desenho feito em papel por meios convencionais (Fig. 1), que são em seguida migradas para softwares mais precisos, como por exemplo o SketchUp ou o Revit.

2 MATERIAL E MÉTODOS A metodologia de trabalho de Augusto Alvarenga foi investigada por meio de entrevistas com o arquiteto, coleta de dados, exemplos de projetos realizados por seu escritório e buscas na bibliografia. As entrevistas foram transcritas, registrando informações que permitiram identificar a trajetória percorrida pelo arquiteto em busca por uma melhor performance técnica. Foram, ainda, observados aproximadamente dez projetos, selecionados por serem representativos dos diversos momentos que marcaram a transição entre recursos tecnológicos.

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Figura 1. Exemplo de estudo preliminar arquitetônico desenvolvido por Augusto Alvarenga com a ajuda do Bamboo.

Fonte: Imagem fornecida por Augusto Alvarenga.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO As informações foram organizadas e resumidas na Tabela 1 (abaixo). A análise se concentrou nos efeitos que o uso destas novas ferramentas vem provocando na práxis de Alvarenga, com ênfase nas mudanças percebidas durante o processo de concepção inicial de seus projetos arquitetônicos. Foram identificados diversos momentos distintos, cada um deles relacionado a certa inovação técnica. Assim, as sucessivas incorporações do PC, de impressoras e do tablet ocorreram em paralelo a experimentações híbridas, que implicaram na adoção de recursos digitais associados a processos analógicos, ou que os emulam. Os registros gráficos remanescentes testemunham, portanto, transições: desde um modo totalmente analógico de pensar o projeto, até os atuais processos digitais ancorados ao uso do BIM. Como etapas intermediárias nesta trajetória estiveram, por exemplo, o uso híbrido das impressoras e do scanner, ou o desenvolvimento de rotinas e aplicativos para CAD. Tabela 1: ferramentas de trabalho usadas pelo arquiteto desde os anos 1990 até a atualidade, em ordem cronológica.

1990

1992

1993

1994

2005

2008

2012

Desenho Analógico

AutoCAD

Arqui 3D (GBDesign)

3D Studio

SketchUp

Revit

Bamboo, Sketchers (iPad 2)

Até hoje

Até hoje

Modelador mais técnico e documentos finais

Croquis iniciais

Início de carreira

Perspectivas manuais Aquarela/ Lápis de cor

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1ª Máquina: 386 SX AutoCAD R9 Modelos em 3D desde o primeiro uso do CAD Hoje: layout e paisagismo

Até 2005

Abandono da régua paralela Plantas e Modelos

Até 2005

Render

Até hoje (ensina em aula)

Modelador mais livre

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+

+

AutoShade Até 1994

Até 1994

Render

Desenvolv. de rotinas LISP e aplicativos

+

+

+

Artlantis

Excel

Lumion

Até pouco tempo atrás

Até hoje

Até hoje

Render

Planilhas junto com Revit para controlar itens de legislação

Render

Fonte: desenvolvido pelos autores a partir de observações e entrevistas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A observação destas experiências de Augusto Alvarenga permitiu uma avaliação do trânsito processual experimentado por este profissional. Longe de ser um caso particular, o exemplo de Alvarenga é representativo das mudanças diversas, profundas e necessárias da práxis do projeto que nossa profissão viveu nas décadas de 1990 a 2010, diante da evolução da tecnologia informática. A análise dos exemplos permitiu tirar algumas conclusões: Primeiro, a hibridização praticada por Alvarenga não seguiu um caminho linear. Os três primeiros trabalhos observados ilustram diferentes aplicações da tecnologia digital para o projeto, o que implica hibridações distintas, condicionadas pela disponibilidade de recursos tecnológicos. Por exemplo, somente após a adoção de uma impressora foi possível obter desenhos intermediários, passíveis de serem retrabalhados à mão livre. Mas a crescente familiaridade com o SketchUp e, posteriormente, com o iPad, eventualmente deslocou essas práticas híbridas, em favor de alternativas intrinsecamente digitais, chegando à tendência atual de substituir o desenho manual já na fase de concepção. Em segundo lugar, outros testemunhos do mesmo período dos noventa e primeiros anos do terceiro milênio (como os de arquitetos brasileiros como Kennedy Vianna e João Diniz, ou a experiência espanhola do Taller de Arquitectura de Ricardo Bofill) nos permitem concluir que esta familiaridade com o recurso informático e seu uso na fase preliminar, embora sempre mais presente, não era a regra: o uso preliminar de recursos analógicos parece ter persistido, seguido de fases de desenho e de acabamento exclusivamente digitais. E, por esta razão, o trabalho de Augusto Alvarenga é interessante: em um Brasil em meio à transição tecnológica, enfoca um profissional que tentou esse trânsito antes que outros (mesmo na Europa) percebessem suas possibilidades. Em terceiro lugar, as pesquisas de Alvarenga são representativas da tendência seguida pelos arquitetos mais próximos da inovação tecnológica em recursos representacionais. Para esses profissionais, a adoção de recursos de hardware e software implicou vontade de experimentar, aceitar o novo e usar, com poucos preconceitos, recursos de representação que estão cada vez mais longe dos sistemas analógicos de produção. O pensamento inicial de design arquitetônico, antes feito em papel, agora assume um espaço associado às novas tecnologias. O tablet sintetiza opções de desenho que emulam o traço analógico em uma única ferramenta e facilmente arquiva esboços que podem ser usados ​​durante o projeto. Desta forma, o projeto arquitetônico se afastou dos processos manuais e está se tornando totalmente tecnológico. E isso ocorreu pelo uso de ferramentas que, paradoxalmente, trazem resultados cada vez mais semelhantes ao processo tradicional de pensamento. Finalmente: a alternativa atualmente utilizada por Augusto Alvarenga confirma a possibilidade de uma concepção que, exclusivamente digital, prescinde do recurso analógico para sua materialização. Note-se, no entanto, que as práticas registradas dependem de um conjunto de recursos digitais que emula, na medida do possível, a práxis analógica: uma placa digital simula o bloco de desenho e o

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software permite traduzir os traçados feitos na tela em traços semelhantes aos obtidos com uma caneta. E o arquiteto mantém na mão uma caneta digitalizadora, projetada para ser manipulada de forma semelhante a uma caneta convencional. Ou seja: é uma práxis digital baseada em uma concepção analógica, apoiada por gadgets desenvolvidos pelo mercado, que responde ao desafio de satisfazer a uma necessidade específica, gerada por usuários de computador insatisfeitos com as técnicas de representação gráfica possíveis a partir do uso do par “mouse + screen”. Arquitetos, designers e artistas formados em uma tradição que entende o uso do lápis como um atributo fundador, e não como uma ferramenta. E que, graças ao seu número e à sua capacidade de investimento, conseguiram definir demandas que acabam por orientar o mercado. Além dessa nova hibridação, talvez o aspecto mais revolucionário neste uso de recursos digitais seja a possibilidade de traduzir esses conteúdos, desde o princípio digitais (esboços do iPad), em um arquivo que se transforma em um modelo digital 3D, passível de ser trabalhado não só por meio de um software BIM, mas também pelas novas e ainda insuspeitadas possibilidades que a IA já deixa entrever.

REFERÊNCIAS PELLEGRINO, P. et al. Arquitectura e informática. Barcelona: Gustavo Gili, 1999. LEGGITT, Jim. Desenho de arquitetura: técnicas e atalhos que usam tecnologia. Porto Alegre: Bookman, 2006. NARDELLI, S. Eduardo. Arquitetura e projeto na era digital. 2007. 9f. Universidade Presbiteriana Mackenzie, SP.

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A CONCEPÇÃO ARQUITETÔNICA ASSISTIDA POR COMPUTADOR O PAPEL DO ARQUITETO NA CONCEPÇÃO COMPARTILHADA FONSECA, Geraldo Benicio da (1); SILVA, Wanderson (2); (1) Professor, Mestre, UVV, geraldo.fonseca@uvv.br; (2) Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UVV, wandersonjenier@gmail.com

RESUMO Este artigo argumenta sobre o papel do arquiteto nos diversos caminhos possíveis da concepção arquitetônica, ao assumir um pensamento projetual que incorpora recursos digitais às ferramentas projetuais analógicas. Embora a ação humana seja reafirmada como primordial no momento da concepção, nota-se uma vertente que, à ideia do criador individual, contrapõe a possibilidade de uma criação compartilhada e amparada em recursos digitais.

PALAVRAS-CHAVE: arquitetura; concepção; projeto; digital.

1 INTRODUÇÃO O termo latino “conceptĭo” tem origem em “conceptus”, outra palavra que está associada a “ideia”, “noção” ou conhecimento”. Uma concepção envolve, portanto, o entendimento, a compreensão, a perspectiva de uma pessoa a respeito de algo. Já a Psicologia associa este conceito a processos mentais, à capacidade inventiva e à imaginação. A ideia de um “processo de criação”, por sua vez, se aproxima do que a Biologia identifica como uma ação ou efeito de gerar um ser vivo, em consequência da fecundação. Portanto, “concepção” implica elaborar algo novo, mas esta elaboração ocorreria a partir de um princípio, uma teoria, uma matriz, um desejo ou um propósito. Assim, a “concepção” que nos interessa se afasta da origem casual peculiar aos fenômenos naturais e a certos processos de criação artística deliberadamente indeterminados, e se vincula a ações criativas motivadas por um propósito, por uma intenção. Este texto tenta aproximar-se de uma destas ações intencionais, fonte do fazer arquitetônico: a concepção projetual. A origem das ideias artesanais e artísticas responde aos embates entre o indivíduo e sua cultura, ao mesmo tempo em que se vincula ao domínio de técnicas específicas. Já ações criativas vinculadas às ciências e às matemáticas dependem igualmente do conhecimento técnico, assim como do domínio de noções altamente abstratas, algumas delas sem paralelo no mundo material. Quando um arquiteto imagina soluções para determinados problemas de design, ele necessita tanto do domínio técnico, sem o qual a atividade construtiva é quase impossível, quanto da indeterminação, responsável por certa “surpresa” quanto ao resultado final do processo projetual. Mas a concepção arquitetônica depende ainda de outros vínculos para oferecer bons resultados: as demandas estabelecidas por quem encarga o projeto, as funções às quais deve atender - ou seja, o “programa” -, e as particularidades que cada necessidade entretece com seu lugar, seu público, seu designer e seu cliente, e que chamamos hoje de “contextos”.

2 MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa partiu de informações colhidas desde livros e revistas, assim como de artigos publicados em mídias digitais. Procurou-se um entendimento amplo da concepção arquitetônica com ferramentas digitais e analógicas, a partir das observações formuladas pelos diversos autores que se dedicam a entender as etapas do processo criativo arquitetônico. ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O projeto acaba sendo influenciado, e de modo intencional, por fatores tão diversos como o programa de necessidades, os desejos do cliente, alternativas tecnológicas, particularidades do contexto físico, limitações econômicas e legais, ou preferência plástica, dentre diversos outros. É função do arquiteto harmonizar esse universo de possibilidades, em uma prática que jamais descarta a experiência anterior. Autores como Munari (2008) ou Lawson (1997) afirmam a relevância do conhecimento já acumulado anteriormente. Assim, somam-se à voz dominante na cultura arquitetônica ater o século XX, que vê a experiência do designer como decisiva para selecionar alternativas ou procedimentos projetuais que, de outro modo, poderiam variar enormemente. A ideia de que a experiência anterior de projetista seria fundamental para uma boa solução arquitetônica tem sido posta em cheque principalmente, por arquitetos e professores que buscaram nos recursos tecnológicos uma via de escape à noção vitruviana, milenar, do mérito como resultado do conhecimento acumulado. Por esta nova via, da qual não se pode ignorar certo imediatismo midiático, trilham profissionais já experientes (como Rem Koolhaas, Alejandro Zaera Polo ou Winy Maas), cujas vozes se somam ao reconhecimento do mérito das atitudes inovadoras (vide, por exemplo, a atenção dedicada ao chileno Alejandro Aravena ou ao grupo espanhol RCR Arquitectes, ambos merecedores do prêmio Pritzker). Para eles, assim como para muitas outras pessoas (EICHEMBERG, 2003; OXMAN, 2006; NARDELLI, 2007; ANDRADE, RUSCHEL, 2012), os recursos informáticos deixam de ser apenas auxiliares a processos “produtivos” ou “documentais” do projeto, e têm assumido uma posição mais estratégica, incorporados às primeiras etapas do pensamento projetual. Esta presença digital, no entanto, está longe de resolver o enigma criativo. Antes, o agudiza: se já era possível afirmar a indeterminação dos processos criativos, abordáveis apenas em seus aspectos mais periféricos³, agora a questão se amplifica: como ocorreria uma concepção arquitetônica associada a recursos digitais? Em suas últimas obras, Bryan Lawson (2004) aproximou o uso do computador como uma ferramenta criativa, um tema abordado por outros como Maia Engeli (2001), e que são encontrados em vários estudos de caso. Tanto Lawson como Engeli coincidem com Igor Aleksander ou John Frazer, ao afirmar que os processos informáticos podem acelerar soluções de design, especialmente através da absorção de tarefas como modelagem e prototipagem. Eles ainda afirmam a possibilidade de processos automáticos para testes, avaliação e oferta de alternativas projetuais. No entanto, e como costuma acontecer com a oferta de recursos tecnológicos, esta costuma rapidamente superar as nossas melhores expectativas. Assim, superada a automação de processos de desenho, agora se buscam alternativas que aumentem as opções razoáveis no projeto de edificações, ou que reduzam o tempo necessário para avaliar corretamente uma gama adequada de alternativas formais, funcionais e/ou tecnológicas. O software Watson da IBM é exemplo recente das inúmeras tentativas de associar recursos digitais aos processos criativos parecem ter em comum a necessidade de incorporar algum tipo de critério inicial, que poderíamos identificar como uma seleção de parâmetros. E esta atividade estratégica parece ocorrer sempre antes da execução da ordem e, até hoje, ligada à responsabilidade humana. Os aspectos até agora exclusivos da criatividade (como a intuição, percepção e imaginação) são geralmente considerados passos iniciais e essenciais na determinação desses parâmetros. Assim os diversos autores que se dedicam a entender os processos criativos arquitetônicos parecem concordar em um ponto fundamental: a atual preponderância da ação humana no momento da concepção. Mas textos mais recentes têm registrado a emergência de duas noções “divergentes”: a possibilidade cada vez mais próxima de um processo criativo autônomo, amparado em recursos digitais ou no que seria chamado, com otimismo e na falta de termo melhor, “inteligência artificial”; e uma criação arquitetônica coletiva, associada à ideia de uma responsabilidade compartilhada, e que se contrapõe à noção moderna do gênio criativo como o autor individual da obra arquitetônica.

3.1 Da possibilidade de uma criação arquitetônica compartilhada Nos anos 1980 e 1990, a arquitetura seguiu a tendência manifesta entre as engenharias, e adotou o computador como o modo preferido para registro e documentação do projeto. Esta prática amplamente adaptada pela arquitetura ocidental de usar o computador como “prancheta digital” 188

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teve no AutoCAD sua máxima expressão técnica. Entretanto, a concepção arquitetônica seguia ancorada a processos manuais. Pouco a pouco foram sendo experimentadas ferramentas digitais mais apropriadas ao estudo de problemas propostos em nossa profissão e para conceber objetos arquitetônicos, ao invés de simplesmente representar de modo infográfico um conceito existente. Uma vez disponíveis os recursos digitais da descrição da forma, era possível avançar para uma abordagem mais radical e inovadora da linguagem de projeto. A quarta geração de ferramentas de design digital veio na década de noventa, associada a tecnologias de comunicação, a recursos multimídia, à avaliação de desempenho técnico e à fabricação digital. Coincidiu com o desenvolvimento de softwares de comunicação e de controle de fluxo de dados que o público associou à expansão da internet, mas que também serviu para o desenvolvimento de redes locais simples e de baixo custo, que se tornaram típicos em empresas de projetos. Assim, no final dos anos noventa, os mais modestos escritórios de arquitetura possuíam computadores eficientes, baratos, interconectados e com capacidade de comunicação remota. Esta facilidade inédita revolucionou a estrutura administrativa e produtiva dos escritórios, e a relação entre eles e as demais organizações que atuam na construção. Por exemplo, reduziu a distância entre o arquiteto, seus colaboradores, o cliente e a obra. Pela primeira vez na História, as pessoas que trabalham em lugares diferentes poderiam colaborar de modo simultâneo no desenvolvimento de um projeto. Exemplo primordial deste modo mais difuso de pensar foi o projeto do extinto FOA (Foreign Office Architects) para o terminal marítimo de Yokohama (Japão, 1995-2003), cuja gestão foi compartilhada entre a Inglaterra e o Japão. Em seguida se passou a pensar em novas formas de conectividade, que em alguns casos resultaram em distâncias ainda mais pronunciadas entre o centro de decisão (o computador de quem projeta e decide) e os dados de produção (o computador de quem calcula e desenha). Porém, também foram viabilizados experimentos de projeto participativo à distância e em tempo real, como aqueles que têm realizado escritórios como OCEAN, [Uto] e servo nos primeiros anos do novo século. Em estes, assim como muitos outros “novos grupos” formados por estudantes e profissionais, os arquitetos podem desenvolver atividades compartilhadas e interferir coletivamente em um determinado projeto, sem que ocorra necessariamente uma aproximação física. A fusão do trabalho “em rede” e do arquivo “em nuvem” resultou em mais liberdade na hora de decidir onde estabelecer seu escritório, procurar oportunidades ou escolher uma equipe. A contrapartida a estas novas possibilidades foi a “globalização” do mercado da arquitetura: se antes cada profissional conhecia pessoalmente seus concorrentes mais próximos, agora concursos de projeto superam facilmente as centenas de equipes inscritas, que vêm de todas as partes do planeta.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A conexão em rede e a familiarização progressiva com um modo mais “distante” de trabalho conduziram a impressionantes reordenações espaciais. Desenhistas, pranchetas, mapotecas e arquivos desapareceram, permitindo significativas reduções no custo operacional das empresas de projeto. As mudanças espaciais foram somadas às de estrutura produtiva e hierárquica, resultando em uma inédita flexibilização da localização e da dimensão dos escritórios. No mesmo sentido, a linguagem de layers deixou de ser uma simples ferramenta de ordenação de conteúdo técnico, e foi utilizada cada vez mais na estruturação e visualização dos distintos níveis da informação, o que contribuiu para difundir processos produtivos mais complexos, que necessitam de olhares múltiplos e simultâneos. Como resultado, é possível conceber um projeto que, operado em rede e arquivado “em nuvem”, possa ser realmente compartilhado. O projeto arquitetônico já pode ser gerido de forma eficaz como um hiperdocumento, que resulta de um pensamento dinâmico e coletivo. Para melhor analisar os processos criativos arquitetônicos derivados deste novo e complexo modo de articular o projeto, foi proposto um modelo que pensa como uma sequência de atividades levaria a um resultado projetual. Neste modelo, os dados e condicionantes do problema seriam analisados pelo designer, que ser encarregaria de evidenciar as alternativas com melhor potencial para atender às condicionantes consideradas. Estas seriam então “selecionadas”, “construídas”, “modeladas”, “desenhadas” e/ou “testadas” por diversos métodos digitais: processos parametrizados interconectados, modelos integrados (BIM), métodos generativos (autômatos celulares, algoritmos genéticos etc.) e sistemas inteligentes (como o IBM Watson) se somariam, em um processo cíclico ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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(“feedback”) que permitiria avaliar, evoluir ou descartar alternativas, até chegar a uma decisão projetual satisfatória. Hoje são raros os arquitetos que não utilizam o computador em alguma etapa do projeto, embora este uso muitas vezes se limite ao de uma ferramenta de gestão, de desenho ou de teste de alternativas projetuais. Mas os recursos digitais já existentes vão além de auxiliar processos “produtivos” ou “documentais”: o compartilhamento de atividades entre diversos profissionais e o encurtamento da distância entre seus escritórios acabam por relacionar-se à emergente exploração de processos autônomos de desenvolvimento da ideia. E estas atividades estratégicas parecem permanecer parecem, até hoje, conectadas à responsabilidade humana. A partir desta análise, o modelo proposto parece conduzir a uma autonomia e a uma liberdade projetual ainda mais pronunciadas, se bem que sempre próximas da decisão humana.

REFERÊNCIAS ANDRADE, M.; RUSCHEL, R. C. Projeto performativo na prática arquitetônica recente. Categorias e características. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 150.07, Vitruvius, nov. 2012 <http://www.vitruvius.com.br/ revistas/read/arquitextos/13.150/4587>. EICHEMBERG, A. T. Arquitetura Digital. Entre a realidade e o esquecimento. Arquitextos, São Paulo, ano 03, n. 032.02, Vitruvius, jan. 2003 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.032/713>. ENGELI, Maia. Bits and Spaces. Architecture for Physical, Virtual, Hybrid Realms. Basel: Birkhäuser, 2001, p.10. LAWSON, B. How designers think: the design process demystified. Oxford: Architectural Press, 1997. ________. What Designers Know. Oxford: Architectural Press, 2004. LIMA, F; MORAIS, V. Modelagem tridimensional digital e concepção de projetos arquitetônicos: Um estudo comparativo entre as potencialidades dos softwares AutoCAD, SketchUp e Rhinoceros+Grasshopper na proposição arquitetônica. Universidade Federal de Juiz de Fora. NARDELLI, E. S. Arquitetura e projeto na era digital. Arquiteturarevista, São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, v. 03, n. 1, p. 28-36, jan./jun. 2007. OXMAN, R. Theory and design in the first digital age. Design Studies, Vol. 27. 2006. pp 229–265.

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DA MAQUETE CONCEITUAL E DE SEUS USOS FONSECA, Geraldo Benicio da (1); GABRICH, Rafaela (2) (1) Professor, Mestre, UVV, geraldo.fonseca@uvv.br; (2) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UVV, gabrichrafaela@gmail.com

RESUMO A maquete tem potencial agregador e condensador de processos e conhecimentos muitas vezes desfragmentados ou diluídos entre as diversas disciplinas necessárias ao aprendizado da Arquitetura. É notória sua participação no resultado projetual, pois o envolvimento com este meio expressivo pode repercutir na tomada de decisão, seja ela formal, estrutural, estética ou qualquer outra atrelada ao projeto, transferindo conhecimentos do plano bidimensional para o tridimensional, ou mesmo do plano mental para o tridimensional (OLIVEIRA, 2011). Este artigo aborda esta participação. Para isto, busca elucidar as diferentes tipologias de maquetes, ordenando-as em acordo com sua utilidade no processo projetual arquitetônico. O foco está nas maquetes conceituais: sua definição e finalidades, seus procedimentos e materiais, e sua utilidade, vinculada aos processos mais iniciais e intuitivos do pensamento projetual.

PALAVRAS-CHAVE: Maquete; arquitetura; conceito; processo projetual.

1 INTRODUÇÃO Ao pesquisar conteúdos relacionados à temática “maquete”, encontramos uma nomenclatura vasta e variada; mas que, muitas vezes, sobrepunha significados e técnicas. Assim, a pesquisa iniciou por uma revisão do conteúdo bibliográfico disponível. Em seguida, buscou-se sintetizar esta bibliografia dispersa e estas nomenclaturas diferenciadas, reunindo-as em um todo mais conciso e coerente. Alguns autores explicam que o termo “maquete” indica um modo de retratar, em tamanho reduzido, uma obra de arte ou uma arquitetura a ser construída; outros textos nos falam da “maquete” como um “rascunho em forma tridimensional”, evidenciando suas vantagens sobre o croqui e outras representações gráficas: ao serem manejáveis, permitem considerar, simultaneamente, espaço, forma, profundidades, cheios e vazios. A facilidade de manipulação de modelos em escala é amplamente reconhecida como útil ao processo projetual. Paulo Mendes da Rocha foi um dos que evidenciou este potencial: “É a partir da maquete que o arquiteto verifica as proporções, as transparências, as sombras e a relação com as diferentes escalas, urbana e humana” (MENDES DA ROCHA, 2007). Wolfgang Knoll e Martin Hechinger são mais específicos ao identificar o potencial das maquetes como recursos de investigação: “elas são simultaneamente objetos de estudo, instrumentos de representação e resultados autônomos formais de um processo criativo que pode às vezes resumir todo o conteúdo da pesquisa do projeto do autor” (HECHINGER e KNOLL, 2003). É a este potencial agregador e condensador que nos referimos ao tratar, aqui, dos modelos em escala e, principalmente, de sua utilidade como parte de um processo criativo.

2 ORDENAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para formar uma nomenclatura resumida e coerente a respeito das maquetes foi necessário observar as diversas classificações propostas, bem como analisar o que cada autor definia como categoria tipológica. Ao comparar textos, foi constatado que muitos conceitos se assemelhavam; porém, eram nomeados de modo diferente. A partir daí, foi montado um diagrama que comparava tipos ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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de maquetes, resultando em uma proposta de ordenação mais completa, e que minimizasse as redundâncias de nomenclatura. Como resultado desta síntese, foi realizada uma tabela de ordenação dos tipos de maquete segundo seu nível de elaboração, associado a determinadas fases do processo projetual. Ou seja, definiu-se qual tipo de maquete é usualmente realizado em cada nível projetual, com que materiais e para qual finalidade (Tab. 1). Tabela 1 – Tipologia das maquetes: ordenação dos tipos de maquete segundo seu nível de elaboração, associado a determinadas fases do processo projetual.

Tipo de maquete

Subtipo 1.1. Maquete primária (ou preliminar)

1. MAQUETE DE ESTUDO Gera ideias de projeto e serve como veículo para aperfeiçoamentos.

2. Maquete de DESENVOLVIMENTO Analisa e compara soluções projetuais.

1.2. Maquete secundária

2.1. Maquete de trabalho

Categorias Maquete de diagrama; Maquete de conceito; Maquete de volume; Maquete de cheios e vazios. Maquete do sítio, de contexto ou de urbanismo; Maquete de paisagismo ou cobertura vegetal; Maquete de interiores; Maquete de seção e de fachadas; Maquete de trama ou estrutura; Maquete de detalhe ou conexão. Maquetes eletrônicas; “Rapidprototyping”; Protótipos; Mock-ups. Maquete de apresentação; Maquete de execução; Maquete de acabamento.

3. Maquete de APRESENTAÇÃO Apresenta a ideia arquitetônica acabada. Fonte: elaborado pelos autores.

Após dividir as maquetes em grupos de acordo com sua função, foi escolhido um deles como assunto principal a ser explorado na pesquisa. Este foco está nas “maquetes de estudo” ou “de concepção”. As maquetes de concepção são aquelas utilizadas na fase inicial do projeto, com o intuito de gerar ideias de projeto e servir como veículo para aperfeiçoamentos. São feitas com materiais simples e que estão disponíveis no momento do pensamento projetual (como por exemplo, o papel, a sucata de cartão, papelão ou plástico). De acordo com alguns autores, as maquetes de estudo podem ser divididas em dois subgrupos: maquetes primárias e maquetes secundárias, conforme tratam do próprio objeto arquitetônico ou de outro elemento, conformador ou acessório ao mesmo. Este estilo de maquete é o tema principal da disciplina de Estudo da Forma, ministrada para alunos do primeiro período do curso de Arquitetura e Urbanismo da UVV. Em um dos exercícios, estes realizaram uma maquete de concepção de um abrigo para elefantes, tema de um concurso de arquitetura realizado para o BH Zoo (Belo Horizonte, MG, 1986; fig. 1).

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Figura 1. Maquete de concepção – Casa do Elefante Joca, a ser construída no BH Zoo.

Fonte: Imagem fotografada por alunos de Arquitetura e Urbanismo, 2017.

Já as maquetes “de desenvolvimento” ou “de trabalho” são usadas em estágios intermediários do processo de design, quando o projetista necessita testar uma ideia em desenvolvimento. Protótipos, “mock-ups” em escala real, modelos eletrônicos e suas exteriorizações (como as obtidas a partir de impressoras 3D) são exemplos típicos desta fase intermediária do projeto, na qual também estão os modelos feitos pelos próprios arquitetos, como as maquetes da conhecida Casa Levene, realizadas pelo próprio arquiteto espanhol Eduardo Arroyo como parte de seu processo de projeto (Figura 2, esquerda). Figura 2. Esq.: maquete de trabalho (Casa Levene, El Escorial, arqto. Eduardo Arroyo). Dir: maquete de apresentação de um empreendimento comercial (realizada por Olinda Ellis para João Fortes Engenharia em escala 1:50).

Fonte: 2G no. 41, 2006, pág. 46; http://www.gomomaquetes.com.br

Finalmente, as “maquetes de apresentação” representam a categoria mais reconhecida pelo público leigo; são os modelos usados para demonstrar, em escala reduzida, mas do modo mais realista possível, os resultados de um design (Fig. 2, direita).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Longe de ser conclusiva, esta ordenação deve ser tomada como um breve resumo, a partir do qual acreditamos ser possível uma compreensão mais simplificada e esclarecedora da participação dos diversos tipos de maquetes nas distintas fases do processo projetual. A maquete é relevante para a fase de concepção? Acreditamos que sim. Afinal, um modelo tridimensional pode servir tanto para testar ideias globais, como para estudar detalhes. Maquetes de estudo podem ser usadas tanto para analisar as ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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relações entre os volumes propostos, como para avaliar o impacto que estes volumes provocariam em seu entorno imediato. Ao observar o conjunto da volumetria proposta e suas relações com os objetos próximos, é possível, por exemplo, minimizar o risco de um ente arquitetônico seja percebido como “inadequado” ou mesmo “excluído”. Assim, têm potencial para contribuir positivamente a um resultado projetual que qualifique e potencialize as novas relações que o objeto arquitetônico entretece com seus vizinhos. Portanto, é possível reafirmar as maquetes de estudo como veículos privilegiados para uma concepção arquitetônica consciente tanto das qualidades intrínsecas ao objeto a ser construído, como de suas relações com este ente que tem sido revalorizado pela cultura arquitetônica mais recente, e que se costuma resumir na expressão “entorno”. Em sua materialidade, o modelo em escala é fundamentalmente distinto das demais linguagens gráficas, às quais complementa, sejam elas analógicas ou digitais. Sem distinção entre um fazer manual e mais intuitivo, e outro digital e regrado por considerações matemáticas, o modelo tridimensional antecipa algumas questões projetuais que dificilmente seriam detectadas por intermédio do desenho. E, do mesmo modo, também é capaz de auxiliar na busca por soluções, colaborando para um melhor desenvolvimento do design. Ela permite tanto contemplar o objeto em vários ângulos, como analisar o comportamento de volumes, cheios e vazios à luz do sol. Ou, ainda, estudar as características dos materiais e dos sistemas construtivos a utilizar (KOWALTOWSKI, 2011). Resumindo, de acordo com Paulo Mendes da Rocha, a maquete conceitual “é a maquete que ninguém pode ver, só você. É um estudo simples que é capaz de nos fazer visualizar fisicamente o que tínhamos em mente e em nossos croquis.” (MENDES DA ROCHA, 2007).

REFERÊNCIAS ARROYO, Eduardo. Em: 2G no. 41 (Eduardo Arroyo). Barcelona: Gustavo Gili, 2006, pág. 46. DA ROCHA, Paulo Mendes; FINO, Cristina. Maquetes de papel. São Paulo: Cosac&Naify, 2007. HECHINGER, Martin; KNOLL, Wolfgang. Maquetes arquitetônicas. São Paulo: Martins Editora, 2003. KOWALTOWSKI, Doris K. et al. (Ed.). O processo de projeto em arquitetura: da teoria à tecnologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. http://www.gomomaquetes.com.br/Maquetes_Arquitetura/Maquetes-Joao-Fortes-Ollinda-Ellis.htm (acesso 2017).

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ARQUITETURA PÚBLICA: INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO URBANO E INCLUSÃO SOCIAL DUCCINI, Lívia Citty (1); MADEIRA, Juliana Grillo da Silva (2); (1) Graduada em Arquitetura e Urbanismo, Multivix Vitória, livia.c.duccini@gmail.com; (2) Graduada em Arquitetura e Urbanismo e Mestranda em Engenharia Civil, UFES, julianagrillo.arq@gmail.com

RESUMO O objetivo deste artigo é promover um estudo sobre a influência da arquitetura pública como equipamento de desenvolvimento urbano, social e cultural, apresentando como produto o projeto de um centro cultural de Música e Dança elaborado para uma comunidade carente da cidade de Vitória, com intuito de promover desenvolvimento local e inserir a comunidade no contexto da cidade. A metodologia empregada tem cunho qualitativo, e aborda primeiramente o conceito de Arquitetura Pública, sua influência na cidade e local de inserção, desenvolvimento na sociedade atual e os caminhos a seguir para o planejamento e implementação de tal equipamento urbano. Após a realização de um levantamento de dados da comunidade e análise de condicionantes locais propõe-se o programa básico e desenvolve-se o estudo preliminar, elencando todas as intenções de projeto para área escolhida. Ao final apresenta-se a análise da influência que a arquitetura pública irá exercer no bairro em que será inserida.

PALAVRAS-CHAVE: arquitetura pública; desenvolvimento urbano; inclusão social.

1 INTRODUÇÃO A arquitetura não pode ser pensada dissociada do contexto urbano, visto que estes estão intrinsecamente ligados e sua beleza reflete-se exatamente desta prefeita junção. Dentro desta temática, destaca-se a arquitetura pública (AP) sendo capaz de integrar a sociedade, poder público e cidade. Este artigo se refere à análise e estudo da AP, como se desenvolve nos espaços urbanos, suas condicionantes e caminhos para projetá-la e utilizá-la como um equipamento urbano. Tem como produto o projeto de um Centro Cultural (CC) no bairro Jesus de Nazareth, na cidade de Vitória/ ES, visando promover a arquitetura como elo entre o social e cidade, propiciando a integração da periferia à cidade formal. Os estudos acerca do papel da AP como instrumento de desenvolvimento urbano e social são escassos, as poucas referências encontradas em publicações são superficiais e não apresentam práticas ou suas particularidades, por isso a importância desse artigo, que tem por objetivo gerar a discussão sobre o assunto e incentivar a pesquisa sobre a influência da arquitetura na cidade e no contexto em que se insere. São analisados os significados e características de uma AP e como se desenvolve na sociedade atual, dividindo o tema entre urbano, social e cultural, conceitos que influenciam na elaboração do projeto de um empreendimento desta natureza, valendo-se de exemplos já implantados e referenciais teóricos. Realizou-se também, o levantamento de dados urbanísticos, populacionais e naturais, com o objetivo de entender a dinâmica local e projetar de forma que o novo elemento inserido se torne parte de um todo. Após apresenta-se, o Projeto Arquitetônico em nível de estudo preliminar assim como seu processo criativo, que resultou na forma final, bem como analisa-se a arquitetura pública projetada, avaliando seu desempenho e influências, caso fosse construída no local escolhido. ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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2 ARQUITETURA PÚBLICA COMO OBJETO DE CULTURA E INTEGRAÇÃO A cidade é um espaço que pertence a toda população que ali habita. A partir desse pensamento é importante promover projetos e programas que tratem a cidade como o todo que realmente é, integrando todos os seus elementos, promovendo a apropriação por parte da população. Existem maneiras diferentes de se alcançar tal objetivo, uma delas é pela arquitetura, usada como instrumento urbanístico. O desafio da arquitetura é pensar maneiras de projetar em todas as situações possíveis e para todos os tipos de classes sociais. Tendo como foco as periferias, deve-se intervir nesses locais sem perda de sua singularidade. Segundo Vigliecca (2012), a favela é uma fonte de cultura e vitalidade urbana, por isso requer interferências que respeitem suas individualidades. Rolnik (1990) completa que é fundamental reconhecer a existência de maneiras múltiplas e diversas de apropriação da cidade. Com esse objetivo, informalidade, ilegalidade e clandestinidade, normalmente presentes em ocupações urbanas irregulares, devem ser vistas pelo poder público como espaços singulares que necessitam de inclusão, respeitando a cultura e hábitos da comunidade local. A arquitetura quando inserida de forma correta, tem possibilidade de influir positivamente, levar cultura e integrar a cidade informal à formal. AP é a arquitetura social, usada pela população de diversas formas. Pode-se dizer que a AP influencia a sociedade em três áreas principais: o urbano, o social e o cultural. O urbano pela necessidade de elementos arquitetônicos que sobressaiam e funcionam como geradores de vitalidade e inclusão urbana; o social por promover a interação entre os habitantes; e o cultural pelo fato da arquitetura, como equipamento público, transmitir conhecimento, propiciar cultura e informação. Esses conceitos foram amplamente estudados e observados através de diversos exemplos, tornando possível a formação de diretrizes básicas para se obter uma arquitetura pública eficiente.

2.1 Conceito Urbano No viés urbano, a AP pode promover vitalidade, afetar o processo de transformação urbana, revitalizar um local e atrair investimentos, o uso de equipamentos públicos faz parte da problemática urbanística, como um elemento que ajuda a resolvê-la e é gerador de transformação. Ohtake (2000), diz que a construção de equipamentos ligados ao desenvolvimento urbano é extremamente fascinante, porém requer atenção para que a arquitetura pública possua dimensão compatível com a movimentação urbana e exista potência econômica local para que o fenômeno (processo urbano) acompanhe o indutor (equipamento urbano). Outros pontos fundamentais para a boa integração arquitetônica no espaço urbano são sua forma e porosidade, que por vezes podem induzir a atividade urbana ou fazer com que o espaço seja segregado. Netto et al. (2012) estudaram a morfologia arquitetônica e seu impacto, caracterizando a influência do objeto na vitalidade e no cotidiano urbano de acordo com a forma da construção, apontando três tipos de morfologia (forma): a contínua; a isolada e a híbrida. Segundo o estudo, a forma híbrida possui os melhores resultados, pois favorece a vitalidade urbana, a ventilação e iluminação natural, usando os afastamentos para isso. Em conjunto com a forma, tem-se a porosidade das fachadas, se possuem aberturas que permitem comunicação externa x interna, favorecendo o conforto e influenciando na presença de pedestres nas ruas. Neste quesito, se propõe quatro diretrizes projetuais, que induzem sociabilidade e desenvolvimento urbano: localização, coerente e de forma a integrar o entorno, induzindo revitalização urbana; dimensões compatíveis com a movimentação, comportando as dinâmicas locais e se destacando sem destoar por completo das construções adjacentes; morfologia arquitetônica e porosidade, agradáveis e acessíveis, influenciando na interação com os espaços públicos e economia local.

2.2 Conceito Social O conceito social aborda a apropriação da arquitetura, como ela se comunica com o espaço em que se insere, com a população e maneiras de fazer com que as pessoas se apropriem do coletivo e interajam entre si, apontando como hipótese o estímulo ao convívio entre habitantes de classes 196

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sociais diferentes. Para que possam propiciar a cidadania e o espírito coletivo é necessário que os habitantes vejam nessas edificações um espaço que eles possam fazer uso. Hertzberger (2006) diz que tudo que o arquiteto projeta deve ser estimulante, confortável e convidativo. Nomeia esse tipo de arquitetura como “forma convidativa”, pois proporciona similaridade, aumentando a sociabilidade e diminuindo a segregação existente. Cada espaço da cidade possui sua singularidade, Martins (2012) afirma que as bordas (periferias) possuem naturalmente singularidade, e que adotar estratégias de excepcionalidade nesses locais induz menor fator prejudicial à coerência do todo. A isso Vigliecca (2012) completa expressando que assimilar a realidade, explorando o seu potencial, projetando um contexto que valorize o que já é característico e existente, torna o novo mais humano e atrativo. Martins (2012) aponta também que o projeto tem o desafio de integrar o novo com o existente e garantir o bom encaixe. Afirma ainda, ser necessário que a arquitetura pública atue atenuando as fronteiras e promovendo a aceitação de território heterogêneo. Tendo em vista essas preocupações, Hertzberger (2006), expressa que a questão principal é o diálogo entre forma e comunidade, a capacidade de absorver e comunicar significado indica a repercussão que a construção terá sobre seus usuários. Deve-se elaborar espaços que permitam diversas interpretações, sem perda da identidade da construção, nomeando essa característica como polivalência na arquitetura. Foi possível então elaborar outras cinco diretrizes, estas de conceito social: facilitar o acesso de todos; respeitar a singularidade; assimilar a realidade e valorizar o existente, incluindo e enaltecendo o que o local tem a oferecer; absorver e comunicar significado, gerando vínculo entre arquitetura e usuário; tornar a arquitetura polivalente, capaz de gerar várias interpretações.

2.3 Conceito Cultural Apesar de ser um conceito controverso, quando se fala em equipamento público e espaços simbólicos, vem à mente a arquitetura de estabelecimentos que levam cultura a população e promovem conhecimento. Deste modo, o tópico cultural se tornou também necessário, visto que influenciou diretamente o uso adotado no projeto. Ohtake (2000) salienta a respeito da disseminação de equipamentos culturais pelo mundo, apontando que a existência de atividades multidisciplinares induz o usuário a permanecer por mais tempo no espaço, fator diretamente ligado a eficiência do equipamento público. Em conjunto, a acessibilidade e preço acessível ou gratuito, tornam-se necessários para garantir a heterogeneidade de usuários. Existem diversos estudos sobre a prática e consumo cultural. Segundo Botelho (2003), estes mostram que o ensino cultural deve ser implantado em conjunto com as escolas para que os indivíduos a assimilem, sendo fundamental investir em propostas que as façam perceber-se, além de consumidores, também produtores culturais. Dentro do viés cultural mais quatro diretrizes foram destacadas: multiplicidade de atividades; fácil acesso e preço acessível/gratuito; unir educação e lazer como forma de incentivo ao conhecimento; comodidade e comunicação, tornando o equipamento convidativo ao usuário e valorizando assim a cultura local. Com base nos conceitos e diretrizes formulados, os critérios foram representados graficamente (figura 1), e então, propõe-se o projeto de um Centro Cultural voltado para Música e Dança numa zona urbana periférica, demonstrando na prática a aplicação desses conceitos e intencionando englobar essa área à cidade formal, promovendo a comunicação entre classes e a disseminação da cultura. A escolha destas dentre todas as formas de manifestações culturais, deveu-se a práticas já existentes na comunidade, o que constituirá fator essencial para o sucesso da arquitetura.

3 ÁREA DE ESTUDO E POPULAÇÃO A cidade de Vitória é dividida em bairros com configurações e rendas diversas. Em algumas localidades, um lado da rua faz parte de um bairro planejado e o outro de um bairro com ocupação irregular, como é o caso do bairro, objeto deste estudo e onde situa-se o terreno escolhido para a implantação do Centro Cultural. ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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Segundo Silva (2013) o bairro é caracterizado por estar implantado em um morro desprovido de planejamento urbano, ocupado irregularmente, caracterizado como periferia. O bairro pode ser também considerado excluído do restante da cidade, pela sua própria configuração, por constituir-se de um espaço intersticial, a população passa constantemente por fora do bairro sem sequer perceber sua existência. Antes da elaboração do projeto foram mapeados no bairro Jesus de Nazareth e adjacências, a existência de equipamentos públicos, e sua compatibilidade com as diretrizes elencadas. Observouse que apesar da população ser numerosa, são pouquíssimos os equipamentos existentes e os estudos apontaram total desconexão dos mesmos com a população, por esse motivo sua arquitetura não consegue propiciar as transformações esperadas. Constatou-se ainda que o morador do bairro enfrenta dificuldades em acessar os equipamentos públicos, tornando por vezes necessário o uso de transporte público e inviabilizando a frequência a estes espaços. Tendo-se assim a necessidade de implantar no bairro um equipamento público que funcione como indutor de sociabilidade, de desenvolvimento urbano e de difusão da cultura.

4 O PROJETO Tendo em vista a pesquisa, a escolha do tema, as referências projetuais estudadas, a localização do terreno e suas condicionantes legais, foi possível desenvolver o projeto, levando sempre em consideração o partido arquitetônico de integração entre o equipamento público e a cidade. Foram então realizados alguns estudos de massa, que resultaram na proposta ilustrada na figura 1. O projeto prevê a implantação da edificação paralela à rua, voltando-se inteiramente para o bairro, de modo que passe a impressão de abraçá-lo, pela disposição da volumetria e pelo fato dos seus acessos serem totalmente desprovidos de barreiras físicas como muros ou desníveis, tornando-o parte do bairro, sem perder sua identidade. Figura 1. Centro Cultural projetado e avaliação da arquitetura pública.

Fonte: Imagem de autoria própria, 2015.

Os usos propostos foram pensados de forma a diversificar as atividades presentes na cultura local, música e dança, e apesar de dispostos em 3 pavimentos, buscou-se a perfeita integração entre os mesmos, através de áreas comuns, que por sua vez, interligam-se a varandas e espaços verdes, que mantém conexão com o entorno. O térreo comporta o hall de entrada, cafeteria e recepção em pé-direito triplo, onde localizam-se também escadas e elevadores, promovendo interligação entre os pavimentos, além de outros espaços como auditório, galeria de arte e área administrativa. No segundo andar situam-se as atividades relacionadas a dança. Varandas e jardins oferecem vista direta a afloração rochosa presente atrás do edifício, privilegiando ainda mais o entorno e evidenciando o potencial paisagístico do bairro. No terceiro pavimento, foram dispostas as atividades relacionadas a música e estrategicamente projetou-se varanda voltada para a melhor vista da Baía de Vitória e Convento da Penha, integrando novamente o edifício ao entorno.

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A volumetria destaca-se pela dinâmica entre cheios e vazios. Evidencia-se o uso de aberturas, que propositalmente sofrem variação em suas dimensões, simulando uma partitura de música. Esta característica fornece diferentes possibilidades de visualizar o exterior, mas favorece principalmente a ventilação natural e cruzada, e permitirá a visualização da movimentação no interior do estabelecimento, do ponto de vista do bairro e da rua. A variação de cores e tonalidades das fachadas foram definidas pela relação com os usos adotados em cada pavimento e pretendeu seguir um padrão encontrado nas escadarias do morro Jesus de Nazareth. Ao adotar tal estratégia, a arquitetura assume seu papel, de valorizar o edifício, se destacando e ao mesmo tempo assemelhando-se a singularidade local, comunicando significado. As cores foram aplicadas no nível das janelas, que de certa forma, se confundem com a variação de cores utilizada. Abaixo e acima das mesmas, optou-se pela tonalidade cinza, trazendo contraste e ritmo para a fachada dando sensação de profundidade. O acesso principal foi marcado com uma grande pele de vidro e a cor preta, dando o devido destaque ao mesmo, trazendo harmonia para o conjunto. Todas as escolhas elencadas, deveram-se ao intuito de tornar o edifício convidativo aos usuários locais, a chamar atenção para o bairro como referência cultural para a cidade, revitalizando o local e podendo ainda promover comunicação, convivência, e integração entre todas as classes. Assim a arquitetura pública cumpre seu papel como instrumento de desenvolvimento urbanístico, social e cultural.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo teve a intenção de gerar discussão sobre a produção arquitetônica em espaços da cidade que se formaram desordenadamente e de certa forma esquecidos na comparação com a cidade formal. De certo, que a problemática não está somente voltada para a área projetual, depende da municipalidade e também da mudança de paradigmas na sociedade atual, porém, o caminho para uma cidade mais humana e menos desigual perpassa pelas mãos do arquiteto, que tem no seu ofício a “arte” de pensar o meio urbano e a edificação, habitat natural do ser humano. O projeto busca exemplificar maneiras de se conseguir tal objetivo, através da arquitetura usada como instrumento urbanístico, envolvendo ainda conceitos sociais e culturais, apontando as particularidades desse processo em uma situação real, aprofundando a discussão sobre arquitetura pública.

REFERÊNCIAS Botelho, I. 2003. Os equipamentos culturais na cidade de São Paulo: um desafio para a gestão pública. Espaço e Debates: 43-44.. Hertzberger, H. 2013. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes [2 ed.]: 146-201. Martins, A.M.A.C. 2013 Transformação Urbana: projetando novos bairros em antigas periferias. Brasília: Tessauros [1 ed.]: 105-166. Netto, V.M. & Vargas, J.C. & Saboya, R.T. 2012. (Buscando) Os efeitos sociais da morfologia arquitetônica. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, 4(2): 261-282. Ohtake, R. 2000. Os novos monumentos das metrópoles. São Paulo em Perspectiva, 14(4): 111-119. Rolnik, R. 1990. Morar, atuar e viver. Teoria e Debate, 9: 18-23. Silva, D.B. 2013. Geohistória do Bairro Jesus de Nazareth. Monografia de conclusão de curso. Universidade Federal do Espirito Santo, CCHN – Centro de Ciências Humanas e Naturais, Departamento de Geografia. Vitória. Vigliecca, H. 2012. Hipóteses do Real: concursos de arquitetura e urbanismo 1971-2011. São Paulo: Vigliecca e Associados [1 ed.].

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ARQUITETURA DO MEDO E PREVENÇÃO DO CRIME ATRAVÉS DO DESENHO URBANO-AMBIENTAL (CPTED): UMA ANÁLISE COMPARATIVA QUARESMA, Jáfia (1); CEZAR, Mariana (2); LIRA, Pablo (3) (1) Universidade Vila Velha, UVV, Brasil. jafiapinto13@hotmail.com; (2) Universidade Vila Velha, UVV, Brasil. marianacezarg@ gmail.com; (3) Universidade Vila Velha, UVV, Brasil (PROFESSOR ORIENTADOR). pabloslira@gmail.com

RESUMO O presente estudo traz um comparativo em torno da problemática da criminalidade violenta e seu papel na modificação da arquitetura em dois bairros localizados em cidades distintas, porém com adversidades semelhantes: Bento Ferreira em Vitória - ES e Santo Antônio dos Prazeres - BA. A interpretação das relações de materialização e forma que cada comunidade desenvolve para tentar mitigar o medo da violência urbana é fundamental para compreender as soluções encontradas por regiões distintas. A análise desenvolvida é baseada nos perfis socioeconômicos e variáveis importantes de ambas localidades aqui discriminadas, juntamente com o mapeamento fotográfico, que são imprescindíveis para a caracterização da configuração espacial e identificação das inserções de dispositivos de autoproteção utilizados pelos habitantes dos bairros, para garantir segurança. A partir do estudo desenvolvido é possível compreender os efeitos causados pela relação cidade/violência, a fim de abordar ações que possam amenizar os impactos causados pelo medo na morfologia urbana.

PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura do Medo, Bento Ferreira, Santo Antônio dos Prazeres.

1. INTRODUÇÃO A problemática da criminalidade violenta é diagnosticada em diversas regiões do país, tornando-se um assunto pertinente sobre as configurações espaciais e aspectos que influenciam no cotidiano das pessoas e na arquitetura, transformando as paisagens das cidades, sob a perspectiva da arquitetura do medo (LIRA, 2014). O bairro Bento Ferreira, Vitória - ES possui grande interesse por parte de imobiliárias devido sua capacidade de atrair investimentos e potencial construtivo, sendo objetivo de grandes massas demográficas que vêm adensando a região e modificando a paisagem com suas inserções, enquanto o outro bairro em análise, Santo Antônio dos Prazeres localizado em Feira de Santana - BA, possui taxas crescentes de crimes embora não seja um dos bairros mais violentos da localidade, é considerado local onde é feita a desova de corpos que ocorrem no bairro vizinho, Conceição, que possui altos índices de criminalidade, com isso o bairro vem sofrendo alterações em sua arquitetura devido ao medo dos moradores. O presente trabalho pretende analisar e comparar as formas de autoproteção referentes ao espaço urbano sob a perspectiva do Crime Prevention Through Environmental Design (CPTED), do bairro Bento Ferreira em Vitória - ES e Santo Antônio dos Prazeres em Feira de Santana - BA, a fim de discutir as semelhanças da problemática da criminalidade violenta em cidades com infraestruturas e configurações diferenciadas.

1.1 METODOLOGIA Este estudo tem como base a metodologia qualitativa que surge a partir de pesquisas bibliográficas em livros e artigos científicos sobre a temática da criminalidade urbana violenta, que são norteadas, sobretudo, pelas seguintes referências: “A geografia do Crime, Arquitetura do Medo” (LIRA 2014), “Cidade de Muros: Crime, Segregação e Cidadania em São Paulo” (CALDEIRA, 2000) e “Morte e Vida 200

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nas Grandes Cidades” (JACOBS, 2000), sendo possível através deles um aprofundamento teórico e posteriormente uma contextualização das questões abordadas. A direção inicial deste estudo esteve subvencionada no desenvolvimento de uma outra pesquisa referente às questões socioeconômicas do último censo, 2010, para maior entendimento da distribuição geográfica das informações censitárias nos bairros do município de Vitória – ES, consequentemente Bento Ferreira. Variáveis socioeconômicas, como: níveis de instrução, renda média salarial e características dos domicílios, foram coletadas e subsequentemente submetidas aos tratamentos estatísticos necessários para o cálculo de percentuais, taxas e índices. Nesse sentido, este trabalho busca estabelecer um olhar comparativo entre Bento Ferreira (Vitória - ES) e Santo Antônio dos Prazeres (Feira de Santana - BA), a partir dos referencias teóricos mencionados, para identificar os principais padrões do desenho urbano e da arquitetura do medo, bem como as potencialidades e adversidades das estratégias de inibição do cometimento de crimes via intervenções arquitetônicas e urbanísticas. Insta salientar que as cidades estudadas encontramse em contextos socioeconômicos e geográficos distintos, a primeira, a capital capixaba, possui mais de 325 mil habitantes e situa-se na Região Sudeste; e a segunda, uma cidade com mais de 550 mil habitantes e menor expressão na rede urbana brasileira, localizada na Região Nordeste (IBGE, 2010).

2. ARQUITETURA DO MEDO A arquitetura das grandes cidades brasileiras tende cada vez mais a se auto proteger e nota-se que estas características ficam mais semelhantes às de um presídio, uma vez que incorporam elementos para conter as invasões devido ao pânico que vem sendo potencializado pelo crescimento da criminalidade violenta e o fortalecimento da cultura do medo. O medo do crime é transferido para as formas das habitações e de certo modo para a própria cidade, despertando um novo rearranjo na morfologia urbana, como as “paisagens do medo” vem sendo configuradas e novos padrões de sociabilidade desenvolvidos (LIRA, 2014). Além dos fatores supracitados fortalecedores da imagem do medo do crime, a indústria imobiliária e a de segurança privada estão vinculadas diretamente com o aumento e conservação do pânico relacionado à violência urbana para alcançar, cada vez mais, rendimentos lucrativos. Analisando os fatos é factível dizer que os equipamentos de segurança começaram a ser instalados não somente por conta da violência, mas sim a um maior privilégio para os condomínios, permitindo que os grupos mais favorecidos sejam manipulados pelo discurso da segurança almejando também uma separação e um distanciamento dos demais grupos sociais. Assim sendo, a representação da arquitetura do medo, representa uma nova vertente para as configurações espaciais da cidade, norteando os visuais e as características arquitetônicas e urbanísticas influenciadas pelo medo, podendo ser identificada em diversas cidades distintas, independente de características sociais ou econômicas.

3. CPTED E ARQUITETURA DO MEDO EM BENTO FERREIRA O bairro Bento Ferreira, engloba a área da Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), e fica localizada próximo a bairros desprivilegiados, sob a perspectiva socioeconômica (LIRA, 2014), a exemplo, Jesus de Nazareth, Gurigica entre outros, e circundado por avenidas importantes da capital capixaba. Bento Ferreira é considerado um dos bairros mais privilegiados da região, devido seu alto poder de interesse imobiliário com o alto índice de verticalização e adensamento crescente, sendo o foco de novas massas demográficas.

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Figura 1- Localização da área de estudo no município

Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória (2014)

A partir das configurações socioespaciais, a breve análise sobre a arquitetura do medo e as formas de prevenção do crime através do desenho urbano leva em consideração os elementos de autoproteção comerciais e principalmente residenciais, que modificam a paisagem da localidade, como justificativa ao medo pertinente. A configuração da arquitetura do medo, torna as cidades enclausuradas e segregadas através dessas modificações, quando há a necessidade de se proteger de atos criminosos, mas em contrapartida o indivíduo perde o contato com a rua, tornando as cidades mais ociosas e menos interessantes, ao ponto de vista de conhecer e se interessar pelo que nos rodeia, sendo esse fator diagnosticado em Bento Ferreira e em outras tantas cidades e bairros. Nas áreas de estudo foram identificados os mais diversos tipos de elementos utilizados para autoproteção, como: cercas elétricas, muros elevados, lanças, concertinas, nos redirecionam a imagem dos enclaves fortificados (CALDEIRA, 2000) e elementos prisionais configurados para preservar a integridade da sociedade diante de ações criminosas. Em Bento Ferreira, os elementos citados anteriormente foram identificados, ao longo de sua extensão, as paisagens do medo (LIRA, 2014), são fortemente configuradas e representadas nas imagens acima, sobre a percepção dos moradores aos espaços que vivem. A partir de incursões em campo, pode-se constatar a presença na maioria das residências e espaços comerciais, de algum tipo de proteção ou a combinação deles. Atrelado ao muro alto, o rolo de concertina e a tela de aço, utilizados em comércios e residências, surgem como opções para a prevenção e resguardo dos espaços privado muito utilizadas nas cidades atualmente, se assemelham aos elementos utilizados em presídios. A difusão dos elementos característicos da “arquitetura do medo” é de certa forma influenciada pela cultura do medo relativa à violência urbana (LIRA, 2014). Na próxima seção, analisaremos alguns resultados de uma pesquisa desenvolvida em uma cidade do nordeste do país com o objetivo de confirmar parcialmente a presença da arquitetura do medo naquele contexto.

4. CPTED E ARQUITETURA DO MEDO EM SANTO ANTÔNIO DOS PRAZERES Santo Antônio dos Prazeres é um bairro situado em Feira de Santana no estado da Bahia, é subdistrito de Mangabeira e um dos bairros mais antigos do município. Faz divisa com os bairros Conceição, Aeroporto e Caseb, bairros consideravelmente perigosos, como aponta a pesquisa do (SANTOS NETO, 2016). 202

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Figura 2 – Localização do Bairro Santo Antônio dos Prazeres

Fonte: Santos Neto, 2016

O estudo (SANTOS NETO, 2016) indica que a criminalidade está presente na configuração urbana de Santo Antônio dos Prazeres, mesmo não sendo caracterizado como um bairro violento observou-se um aumento do número de homicídios. Há relatos de que apesar dos crimes ocorrerem no bairro vizinho, Conceição, Santo Antônio dos Prazeres é destacado pelas estatísticas criminais pois existe uma grande quantidade de corpos encontrados no bairro que atualmente ficou muito conhecido por ser local de desova de corpos. Santos Neto (2016) pondera que em resposta ao contexto social do bairro, as residências servemse dos artifícios da “arquitetura do medo” como forma de proteção ao crime, assim como exposto acima na definição de CPTED e Arquitetura do Medo no bairro de Bento Ferreira. Esses elementos são traduzidos em forma de muros altos, grades com lanças, cercas elétricas, serpentinas e etc. A partir dessas reações enxerga-se a forte materialização que a criminalidade violenta possui e a interferência dela no cotidiano da vida privada e pública, tanto humana quanto urbana, pois os dois lados são igualmente prejudicados.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da análise aqui proposta, identificamos a multifacetada forma da arquitetura do medo, influenciada pelo fator que rodeia as decisões humanas nas cidades contemporâneas, o medo. As modificações feitas nas paisagens urbanas em função da delimitação do espaço e da criminalidade violenta, demonstraram novos olhares aos estudos antes realizados baseados no Crime Prevention Through Environmental Design (CPTED) em localidades com índices significativos sobre criminalidade ao patrimônio. Ao compararmos Bento Ferreira e Santo Antônio dos Prazeres, notamos bairros com configurações socioespaciais e dados socioeconômicos diferenciados, mas que discorrem sobre a mesma problemática encontrada em tantas cidades, que é a violência no espaço residencial. As medidas de solução para mitigar a criminalidade vivenciadas em ambas cidades foram implementadas a partir do uso de elementos de autoproteção, que caracterizam ambientes cada vez mais enclausurados. Ambos os bairros, possuem processos semelhantes a implementação da arquitetura do medo que se respaldam no crescimento imobiliário local para modificar a arquitetura, além de sofrerem as consequências da criminalidade de bairros vizinhos, que acarretam em maiores números de crimes dentro do bairro. Visto é que o processo de segregação das classes sociais menos privilegiadas em função da cultura do medo não ocorre apenas em algumas cidades. As formas de inserção dos elementos de autoproteção identificados configuram as modificações arquitetônicas e urbanísticas em ambos bairros aqui ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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analisados, como reflexos de uma nova vertente, configurando o medo como norteador das novas instalações da arquitetura contemporânea.

REFERÊNCIAS CALDEIRA, Teresa. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. 2. ed. São Paulo - SP: Edusp, 2000. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo - SP: Martins Fontes, 2000. LIRA, Pablo. Geografia do crime e Arquitetura do medo: Uma análise da Criminalidade Violenta e das Instâncias Urbanas. Vitória, ES: Gráfica e Editora GSA, 2014. LYRA, Ana Paula. Estratégias socioambientais para inibição de ações antissociais: um estudo de caso do Bairro Bento Ferreira e seu entorno, Vitória, ES. Projeto de Pesquisa Institucional. Vila Velha: UVV/FAPES, 2015. SANTOS NEVES, João Marques dos. Arquitetura do Medo e seus reflexos no espaço urbano de Feira de Santana: O caso do Bairro Santo Antônio dos Prazeres. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016.

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PLANOS URBANÍSTICOS E A HISTÓRIA DAS CIDADES: A CONFORMAÇÃO DO BAIRRO BENTO FERREIRA EM VITÓRIA - ES QUARESMA, Jáfia (1); CEZAR, Mariana (2); LIRA, Pablo (3) (1) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UVV, jafiapinto13@hotmail.com; (2) Arquiteta e Urbanista, UVV, marianacezarg@gmail.com; (3) Professor Mestre, UVV, pabloslira@gmail.com

RESUMO O objetivo é estabelecer uma análise sobre o histórico de formação do bairro Bento Ferreira, em Vitória – ES, considerando os bairros presentes em seu entorno, a fim de compreender os fatores que condicionaram a atual configuração do bairro. O processo de industrialização-urbanização do estado do Espírito Santo, que foi intensificado a partir da década de 1970, é aqui enfocado, por meio de uma pesquisa bibliográfica, com o propósito de compreender as transformações socioespaciais pelas quais o município de Vitória passou nas décadas de 1980, 1990 e 2000, enquanto capital do estado e principal centralidade da Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV). Bairros de Vitória, como Gurigica, Jesus de Nazareth, Praia do Suá, São Benedito e Santa Lúcia serão analisados e correlacionados de acordo com seus históricos de formação e juntamente com as transformações socioespaciais atuais com objetivo de buscar resultados que auxiliarão no entendimento dos diferentes desdobramentos que cada bairro seguiu.

PALAVRAS-CHAVE: Processo de Urbanização; Historiografia; Conformação Socioespacial; Planos Urbanos.

1 INTRODUÇÃO A Região Metropolitana da Grande Vitória - RMGV, se estabeleceu em um cenário onde houve uma confluência migratória no ano de 1970, ano que intensificou o processo de industrializaçãourbanização capixaba. Todavia, esta região não possuía infraestrutura adequada e suficiente para receber o volume de pessoas que se fixavam, o que acabou gerando grandes transformações nas estruturas demográfica, social e espacial (LIRA, 2014). A partir dessas circunstâncias ocorrem mudanças na Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), resultando em um território com padrões diferenciados de distribuição desigual de riqueza e renda, além de recursos urbanos, serviços de infraestrutura. Estes fatores influenciaram a maneira na qual o espaço urbano foi constituído. Bento Ferreira está situado em uma área de ocupação formal de Vitória, porém seu entorno é constituído por aglomerados subnormais e por ocupações informais. O bairro retrata uma contínua evolução na densidade habitacional que despertou interesse por parte de incorporadoras para instalações de empreendimentos verticais de cunho residencial (LIRA, 2014). Este estudo parte de uma breve contextualização histórica de Vitória, para melhor compreensão sobre o bairro Bento Ferreira. Os bairros Gurigica, Jesus de Nazareth, Praia do Suá, São Benedito e Santa Lúcia também são abordados, pois configuram as adjacências imediatas de Bento Ferreira.

2 HISTORIOGRAFIA DE FORMAÇÃO DO BAIRRO BENTO FERREIRA EM VITÓRIA-ES O bairro Bento Ferreira se situa na porção da Ilha de Vitória que foi foco dos planos que sucederam o Projeto Novo Arrabalde. Segundo a Prefeitura Municipal de Vitória (2016), a origem do nome do bairro Bento Ferreira, veio por conta da companhia ferroviária Leopoldina que existia em Vila Velha. ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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Bento era morador da região sul da ilha e responsável pela manutenção dos vagões, e quando se fazia necessária as referências sobre o local, mencionavam a região de “Bento, o Ferreiro”, com isso o nome se intensificou e popularizou entre os moradores da região, convertendo-se em Bento Ferreira. De acordo com Lira (2014), as novas conformações espaciais, a infraestrutura na região de Bento Ferreira foi sendo aperfeiçoada em conjunto com o grande adensamento. As características socioeconômicas da região foram se concretizando com a intensa implantação de edifícios públicos e multifamiliares, que trouxe uma nova massa demográfica unificada para o bairro junto a intensa valorização imobiliária (SANTANA; LIRA; LYRA, 2014), o que contribuiu para destacar a segregação ocupacional de Vitória. [...] além de não atenderem a demanda da época, elas favoreceram um processo de ocupação urbana seletiva. Devido à forte especulação imobiliária e a constante alta do preço da terra, os novos bairros planificados abrigaram as camadas mais favorecidas da sociedade (LIRA, 2014, p.74).

As áreas planificadas eram abrigadas então pela população de alta renda, restando aos menos favorecidos, locais próximos a morros e mangues. Do início e parte do final do século XX, a região de Bento Ferreira, passou a receber famílias configuradas em grande parte de residências unifamiliares e partir do final do século XX e início do século XXI, o bairro Bento Ferreira recebeu investimentos imobiliários de residências multifamiliares e edificações institucionais que titularam a nova urbanização da região.

3 CONFORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DAS ADJACÊNCIAS DA ÁREA DE ESTUDO A expressiva aceleração na urbanização de Vitória e o êxodo rural ocorridos nas décadas de 1960 e 1970, determinaram a segregação socioespacial e socioeconômica atual distribuídas entre Bento Ferreira e bairros vizinhos. O relativo crescimento urbano demonstrou novas configurações socioespaciais, acarretando em instalações para moradias, sem um planejamento urbano adequado e que não possuíam qualquer tipo de relação com as áreas que se instalavam, ocupando área menos privilegiadas. De acordo com o histórico difundido pela da Prefeitura Municipal de Vitória, Gurigica assim como Jesus de Nazareth, Santa Lúcia e São Benedito foram bairros que se fundaram a partir de ocupação clandestina, desordenada, espontânea, gradual e conflituosa, em sua grande maioria. Com a expansão dos aterros e os avanços da urbanização a população local se viu obrigada a ocupar as encostas de morros e os morros. O bairro Praia do Suá, deste conjunto de bairros adjacentes, foi o único que teve origem de forma diferente. Este abrigou por anos uma colônia de pescadores e posteriormente foi também ocupada por população de classe média, os pescadores se mantiveram no local, porém aterros ocorreram na área e por conta disso os pescadores se transferiram para as proximidades do morro de Jesus de Nazareth.

4 CONTEXTO SOCIOESPACIAL RECENTE, ENQUANTO PRODUTO DA FORMAÇÃO HISTÓRICA DE BENTO FERREIRA E SUAS ADJACÊNCIA A nova configuração socioespacial, propensa as instalações informais da população de baixa renda, se qualificou como uma nova segregação urbana, que motivou a população mais privilegiada a considerarem o povo que se alojava nessas áreas próximas a encostas como desclassificada e marginalizada. A falta de segurança a partir do alto índice de criminalidade e necessidade de empregos informais, tornavam a ilegalidade uma marca registrada dessa população (MARICATO, 2003). Na figura 01, pode-se observar que a densidade demográfica do Bairro Bento Ferreira não é tão elevada, se comparado ao seu entorno próximo. Enquanto o bairro em questão, possui cerca de 851-5048 H/Km², os bairros vizinhos, Jesus de Nazareth e São Benedito possuem 11196-17452 H/ Km², bairros esses que concentram maiores índices de criminalidade, se comparando com o entorno. Os mapas 02 e 03 representaram dados coletados no censo 2010 do IBGE que possuem domicílios com abastecimento de água e com rede de esgoto geral, respectivamente. Os bairros menos favorecidos 206

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como São Benedito, concentram áreas com menor infraestrutura de saneamento básico. Por mais que os dados indiquem uma cobertura próxima de 100% das infraestruturas de abastecimento de água e rede de esgotamento sanitário, os bairros menos privilegiados ainda apresentam áreas com deficiência nessas dimensões do saneamento básico. Enquanto que bairros mais privilegiados, como Bento Ferreira, possuem praticamente 100% das residências com abastecimento de água e rede de esgoto. Figuras 01, 02 e 03 – Mapa Densidade Demográfica, Mapa Domicílios com abastecimento de água e Mapa de Rede Geral de Esgoto.

Fonte: Trassi, Leal e Lira, 2016.

De acordo com os dados expostos, constata-se que Bento Ferreira, mesmo com as irregularidades existentes instaladas na Região Metropolitana da Grande Vitória, possui características de bairros beneficiados da capital, como a infraestrutura planejada, alto interesse econômico e imobiliário, além de características socioeconômicas que determinam uma população em melhores condições habitacionais, comparadas aos bairros vizinhos. A contrapartida, os indicadores de infraestrutura urbana demonstram em certa medida o nível de segregação socioeconômica entre bairros vizinhos como Bento Ferreira e Gurigica, por exemplo. Esses bairros estão dispostos espacialmente próximos, porém evidenciam um forte distanciamento. Para pesquisadores, como Caldeira (2000) e Lira (2014), essa segregação pode ser entendida como um dos fatores que influenciam a distribuição espacial dos crimes nas cidades contemporâneas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em virtudes das análises apresentadas até então, é possível considerar que as características históricas da ocupação e planejamento, como um todo, interferiu de forma positiva e/ou negativa no desenvolvimento futuro de cada bairro.

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Levado em consideração o histórico de conformação de Bento Ferreira e adjacências, é possível indicar que os bairros que não dispuseram de um crescimento idealizado no passado, comportam na atualidade alguns pontos desprivilegiados em relação ao planejamento urbano, como: infraestrutura, saneamento básico, distribuição espacial, além da escassez dos recursos públicos. Parte dessa “culpa” é devido ao fenômeno de aceleração expressiva no processo de urbanização da Grande Vitória (MATTOS, 2011). A citada autora diz que o declínio do setor cafeeiro e da reorientação da economia estadual, auxiliou este processo, visto que, foi neste momento que ocorreram mudanças mais profundas na economia, principalmente em razão de políticas de incentivos a industrialização. Mattos ainda complementa dizendo que Vitória não possuía infraestrutura básica que suportasse o grande fluxo migratório que recebia formado por pessoas de diversas regionalidades, além da desestruturação da sociedade rural no Espírito Santo. Outro fator que contribuiu para migração para RMGV foi a instalação dos Grandes Projetos Industriais, a partir da década de 60, o que faz com que a economia capixaba passasse a integrar à lógica de expansão planejada da economia brasileira, que se consolida no Espírito Santo a partir de 1970. Lira (2014), também aponta outro fator que foi importante historicamente para o resultado atual de conformação dos bairros, o processo tardio de industrialização e urbanização, se comparado a outras capitais brasileiras, além da escassez de políticas sociais aplicadas para os casos de ordem socioeconômica. Desenvolveram sem um planejamento territorial pertinente e atualmente não abrigam infraestrutura necessária, o que contribuiu fortemente para uma disposição socioespacial segregada. Essa atual disposição coopera a outros fatores que refletem no estilo de vida atual de cada bairro, onde buscam por responder às questões ligadas principalmente à incessante valorização imobiliária e inserção de novos moradores, que acarretam em aumento no índice da violência. Fator esse que se configura na arquitetura do medo, quando se utiliza elementos de autoproteção para isolar as edificações do entorno, tornando os bairros mais ociosos e enclausurados. Atualmente, dentre as várias consequências destas fortificações destaca-se um novo padrão de segregação urbana, onde o ideal de heterogeneidade social é abandonado e [...] o novo meio urbano reforça e valoriza desigualdades e separações e é, portanto, um espaço público não democrático e não moderno (CALDEIRA, 2000, p.12).

Desta forma, os seguintes acontecimentos em conjunto: aceleração expressiva no processo de urbanização; o alto movimento migratório sem que a capital pudesse comportar; falta de planejamento urbano na conformação de alguns bairros; diversas ocupações clandestinas, inadequadas e recursos públicos centralizados repercutiram na disposição atual da cidade de Vitória, estes fatores cooperaram para segregar os bairros entre si, segregar os imóveis e segregar as pessoas, desencadeando novas formas de desigualdade social e concentração espacial socioeconômica.

REFERÊNCIAS CALDEIRA, Teresa Pires. Cidade de Muros: Crime, Segregação Cidadania e São Paulo. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 2000. LIRA, Pablo. Geografia do crime e Arquitetura do medo: Uma análise da Criminalidade Violenta e das Instâncias Urbanas. Vitória, ES: Gráfica e Editora GSA, 2014. MARICATO, Ermínia. Metrópole, legislação e desigualdade. Estudos Avançados, São Paulo, SP, v. 17, n. 48, p. 151-167, maio/agosto 2003. MATTOS, Rossana. Expansão urbana, segregação e violência: um estudo sobre a Região Metropolitana da Grande Vitória. 1. ed. Vitória: EDUFES, 2011. PMV, Prefeitura Municipal de Vitória. Histórico de Bento Ferreira. Disponível em http://legado.vitoria.es.gov. br/regionais/bairros/regiao3/bentoferreria.asp> Acesso em 14/01/2017.

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PMV, Prefeitura Municipal de Vitória. Histórico de Gurigica. Disponível em http://legado.vitoria.es.gov.br/ regionais/bairros/regiao3/gurugica.asp Acesso em 27/03/2017. PMV, Prefeitura Municipal de Vitória. Histórico de Jesus de Nazareth. Disponível em http://legado.vitoria. es.gov.br/regionais/bairros/regiao3/jesusdenazareth.asp Acesso em 27/03/2017. PMV, Prefeitura Municipal de Vitória. Histórico de Praia do Suá. Disponível em http://legado.vitoria.es.gov. br/regionais/bairros/regiao5/praiadosua.asp. Acesso em 27/03/2017. PMV, Prefeitura Municipal de Vitória. Histórico de Santa Lúcia. Disponível em http://legado.vitoria.es.gov.br/ regionais/bairros/regiao5/santalucia.asp. Acesso em 27/03/2017. PMV, Prefeitura Municipal de Vitória. Histórico de São Benedito. Disponível em http://legado.vitoria.es.gov. br/regionais/bairros/regiao4/saobenedito.asp Acesso em 27/03/2017. SANTANA, Elaine Cristine Santos; LIRA, Pablo Silva; LYRA, Ana Paula. Histórico de formação do bairro Bento Ferreira inserido no contexto da Grande Vitória (ES). Vila Velha, ES: UVV: 2014. Disponível em: Acervo do projeto de Iniciação Científica - Análise Espacial dos Indicadores socioeconômicos no Bairro Bento Ferreira, Vitória – ES.

ANAIS DO I CONGRESSO DE ARQUITETURA E CIDADE & IX COLETÂNEA ARQURB

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Núcleo de Estudos e Práticas de Arquitetura, Engenharia e Design

PPGAC UVV

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Cidade


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