NAD - Núcleo de Arte e Dança Paraisópolis | Pranchas

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NAD

O projeto se apoia em dois aspectos básicos para o seu nascimento – o desejo de democratizar o acesso à arte e à educação e as reais necessidades e potenciais de uma núcleo de arte e dançainformais de São das maiores ocupações paraisópolis Paulo – Paraisópolis. Partindo da arte como mecanismo de inclusão social, o Núcleo de Arte e Dança procura potencializar a vida artística latente na favela, integrando e ampliando os projetos sociais já existentes na comunidade.

Paraisópolis contrasta com a realidade do seu entorno – com aproximadamente 750 habitantes por hectare, a favela destoa drasticamente da densidade do bairro do Morumbi, que soma apenas 30. Faceando a recém inaugurada Avenida Hebe Camargo e em frente ao Parque Paraisópolis a área de intervenção, ilustrada em laranja no mapa de cheios e vazios ao lado, marca a tensão entre estas duas porções de bairro. No sentido de estimular o convívio de pessoas de diferentes

A educação através do movimento, da música, do desenho ou de qualquer outra manifestação artística abre os horizontes dos alunos para diversos campos do conhecimento. Deste modo, incorporando atividades como dança, moda, artes visuais e manuais, literatura, cinema e culinária o NAD atua como ativador social. Independente da classe social, nível de escolaridade ou qualquer outro parâmetro usado como comparativo, para o quesito artístico, todos

A partir de sua localização no distrito de Vila Andrade na região do Morumbi, zona sul da capital, podemos identificar o perfil contraditório do local: em meio a um bairro de classe alta,

idades e regiões o Núcleo proposto se configura como um eixo cultural catalisador, oferecendo oportunidades à todos, estimulando o convívio e minimizando as diferenças e desigualdades.

somos artistas inatos e talentos em potencial. Viabilizando então o acesso à educação artística através da democratização do espaço, nos tornamos mais humanos, capazes e pensantes.

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NAD núcleo de arte e dança paraisópolis


Paraisópolis é uma das três ocupações informais que compõe o Complexo Paraisópolis, juntamente com Porto Seguro e Jadim Colombo. O complexo possui plano diretor regional específico e toda a extensão do seu território é demarcada como ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) no Plano Diretor Estratégico da Cidade de São Paulo. No ano de 2006 foi criado o programa Nova Paraisópolis a fim de trazer melhorias para a comunidade carente de infraestruturas. Com isso algumas frentes de atuação foram determinadas visando obras de saneamento básico e drenagem, regularização fundiária, retirada de moradias das áreas de risco, obras viárias, construção de equipamentos públicos para a comunidade e também de 4.000 novas unidades habitacionais.

vista aérea de Paraisópolis no Google Earth - 2015

Segundo a União dos Moradores de Paraisópolis aproximadamente 80% das obras previstas já foram concluídas ou estão em andamento. Dessas obras, já estão prontas a Unidade Básica de Saúde (UBS), a unidade de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) e o Centro de Apoio Psicossocial (CAPS), localizados ao lado da área de intervenção na Avenida Hebe Camargo, também já finalizada. Para fins educacionais, foram entregues a Escola Técnica Estadual (ETEC) e o Centro Educacional Unificado (CEU). Neste sentido, o Núcleo de Arte e Dança (NAD) surge da necessidade de complementar a infraestrutura existente e do desejo de atender a demanda artística da comunidade, que possui vida cultural extremamente ativa e muitos de seus programas sociais não possuem instalações adequadas. O nome do projeto, identificado facilmente como NAD, procura seguir o padrão das obras já implantadas, estabelecendo uma identidade com o panorama geral.

2/8 Parque Paraisópolis desenho de piso: acesso pedestres e ciclistas abertura do palco shows abertos para o Parque Paraisópolis

UBS

CAPS AMA

fonte: Google Earth

5

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via local com menor declividade carga e descaga do teatro fluxo livre na Av. Hebe Camargo

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áreas em cinza: áreas públicas áreas em laranja: semi-público áreas circuladas: controle de acesso em azul: incidência de ventos

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Escola de Música Parque Sanfona Pavilhão Social Palmeirinha área escolar unidades habitacionais CAPS, AMA e UBS área destinada a habitação Mercado Extra

abertura da esquina acesso de pedestes facilitado marcação da entrada principal

vazio central praça de ligação entre avenida e parque ciname aberto

abertura da via lateral proposta Av. Hebe Camargo via expressa

pista de skate programa social existente: Skate Solidário

Analisando as características sócio espaciais da região nota-se que Paraisópolis é carente de espaços abertos e áreas de lazer e, a partir disto, a construção do vazio torna-se evidentemente importante. Neste cenário, o projeto articula o vazio central como uma praça conectora entre a avenida e o parque e atua como protagonista, costurando os acessos e permitindo que a permeabilidade no Núcleo seja livre. Se configurando como um convite de entrada para o Parque Paraisópolis, atualmente fechado sem acesso para a população, o NAD procura criar um ambiente onde possa haver a apropriação do espaço pela população para os mais diversos fins.

3 entorno + conexões

bloco 1 teatro

implantação - térreo

6

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bloco 2 escola

projeto Núcleo de Arte e Dança

Parque Paraisópolis via local existente

proposta de abertura de via local conexão entre as 2 porções de bairro: Paraisópolis e Morumbi Avenida Hebe Camargo

PALCO ABERTO vista para o parque

TEATRO

ESQUINA ABERTA laje inclinada do teatro

2 BLOCOS

ESCOLA

VAZIO CENTRAL

ACESSO AO PARQUE convite

permeabilidade democratização do espaço


Entende-se que a alteração proposta na paisagem da favela deve possuir identidade com a comunidade, a fim de que os moradores se apropriem e vivenciem o espaço do Núcleo. Ao mesmo tempo, propõe-se que o NAD seja uma referência simbólica em Paraisópolis, tanto visual quanto programática. Dividido em dois blocos – teatro, com capacidade para 600 pessoas e escola de artes – o projeto incorpora a escala da Avenida Hebe Camargo e associa-se com as pré-existências através da cota zero, articulando escalas urbanas. A divisão dos andares do edifício se dá de acordo com os programas sociais já existentes e procura atender as expectativas dos próprios moradores da comunidade. O bloco mais ativo, da escola, situa-se ao sul do terreno com a intenção de promover dinamismo na praça central em função das idas e vindas dos alunos e professores.

atividades sociais já existentes contempladas

Ballet Paraisópolis - aproximadamente 300 alunos Paraisópolis Inventando Moda - curso de modelo e manequim Mãos de Maria - cursos de fomação em culinária promovido pela Associação de Mulheres de Paraisópolis Skate Solidário - oficinas Mostra Cultural - poesia, música, artes plásticas e fotografia Semana Hip Hop - documentários, saraus e shows Cine Clube Paraisópolis - projeto que consiste em levar cinema gratuito aos moradores Artistas informais

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O primeiro pavimento da escola inclui refeirório para os alunos onde podem ser feitos também os workshops e aulas de culinária fora dos horários de refeição. Este espaço, poderia ser aberto à todos nos fins de semana, gerando empregos e promovendo dinamismo na comunidade. Este andar disponibiliza também um audiovisual, com acervo de livros e filmes para ampliar o repertório dos moradores. O segundo pavimento contempla o ateliê de corte e costura, destinado para o programa da moda, modelo e manequim. Pretende-se que esta atividade possa ser ampliada, estimulando a produção dos figurinos e cenários para as apresentações de dança e teatro pelos próprios alunos e suas famílias. Neste andar encontra-se também e a área administrativa da escola e a sala de aula tradicional, que pode ser destinada para diversas demandas de cursos livres, aulas de história da arte, da moda e do cinema, anatomia para os alunos do ballet, entre outras diversas possibilidades em horários alternados. No terceiro pavimento existem as salas de dança, com piso apropriado para o ballet – piso flutuante com linóleo – que podem ser usadas também para outros tipos de expressão corporal como dança de rua, jazz, teatro, entre outros. Um nível intermediário é criado neste andar para observatórios das aulas nas salas de dança. No quarto pavimento são encontrados os ateliês de arte e áreas de exposições. Os terraços do segundo e do quarto pavimento funcionam como ateliês em potencial e observatórios para o cinema aberto proposto no vazio central, com as projeções na empena cega do bloco do teatro. No térreo uma sucessão de patamares vence o terreno íngrime, estabelecendo a praça na cota 770.

1 sala de reuniões 2 administrativo 3 acesso artistas e apoio do palco 4 depósito de lixo

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5 doca 6 monta-carga 7 café 8 foyer 9 bilheteria 10 acesso

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praça central - vazio comércio (destinado aos programas do NAD) recepção cisternas para reuso de água

cobertura metálica

circulação vertical escola

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escada de emergência

caixa d’água

elevadores do teatro lajes nervuradas

Para a estrutura adotou-se pilares de concreto e lajes nervuradas. Livre de vigas, a justificação da escolha se dá na liberdade em desencontrar os andares para criar os terraços e observatórios propostos. A cobertura metálica é composta por um grid de vigas metálicas com tirantes no vão cental.

BLOCO 1 teatro

BLOCO 2 escola

Os pés-direitos são variáveis de acordo com as atividades e a conexão entre os blocos é feita tanto pelo térreo (cota 770) quanto pela passarela treliçada que conecta seus últimos pavimentos – o dos ateliês na escola de artes e o da área de exposições do teatro. A cobertura faz o enquadramento da paisagem, dando unidade ao conjunto e protegendo a praça.


Algumas diretrizes foram estipuladas para a futura consolidação do Parque Paraisópolis, a fim de manter a totalidade da proposta que, embora exceda os limites do lote, não desenha o parque por completo. Através de desenho urbano, a potencial intervenção na área deverá promover a ligação das duas porções de bairro – Paraisópolis e Morumbi – e baseado nos princípios de uso de parques descritos por Jane Jacobs em seu livro Morte e Vida de Grandes Cidades, deverá estimular a diversidade de usos e atividades a fim de movimentá-lo em diferentes horas do dia por diferentes tipos de usuários. Como conexões com as demais áreas de ZEIS indicadas ao longo da Avenida Hebe Camargo poderão ser estimuladas, o projeto não apresenta gradil. Eventuais guaritas de controle podem ser consideradas no perímetro. mapa de obras e intervenções do Programa Nova Paraisópolis – Prefeitura de São Paulo

Em justificativa da escolha programática, entendese que é fundamental a associação de programas habitacionais a equipamentos públicos sociais, visando melhorar o acesso das crianças e jovens aos serviços de educação e o acesso de jovens e adultos a postos de trabalho com melhor remuneração e possibilidades. A não inclusão de habitação no âmbito direto deste projeto, entretanto, se apoia na destinação prévia do terreno no projeto geral de Paraisópolis e o Novo Plano Direto Estratégico da Cidade de São Paulo promulgado em 2014 que prevê novas áreas de ZEIS com território de aproximadamente 122.000m² (áreas em lilás no mapa à direita) para habitação. Estas áreas permitem a criação de aproximadamente 2.960 unidades habitacionais sem elevadores (considerando térreo+4 pavimentos) ou 7.624 unidades com elevador (variações de 7 a 12 pavimentos de acordo com a área).

A destinação prévia do terreno escolhido no planejamento inicial da Prefeitura, indicava a construção da nova Sede dos Moradores de Paraisópolis. O entendimento da área como principal entrada para o parque pelos habitantes da comunidade, ampliou o programa inicial, até então não licitado, alargando as possibilidades do terreno para comportar iniciativas artísticas. Há terrenos demarcados ao longo da Avenida Perimetral para fins educacionais também dentro das ZEIS que poderiam abrigar a demanda original. Também foi levado em consideração a atual instalação da Sede se encontrar bem localizada em Paraisópolis e em boas condições, ao mesmo tempo que a carência de um equipamento integrador como o proposto Núcleo de Arte e Dança no local. mapa de ZEIS do Novo Plano Diretor Prefeitura de São Paulo

“No passado os cinemas representaram para as pessoas o espaço mágico da fantasia, da música, da utopia, da realidade, do sonho, da esperança. E foram também um ponto de encontro fundamental para a cidade. Os cinemas influenciaram gerações inteiras, não só o aspecto cultural. Eram locais onde as pessoas se encontravam, discutiam, se divertiam e, frequentemente, levavam essas discussões para outros pontos da cidade. O cinema difundiu a moda, a literatura, a dança, a música, a história.” (LERNER, Jaime, pg.13).

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subsolo

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camarim feminino camarim masculino depósito apoio geral - camarins abertos cisternas para reuso de água sala para ar condicionado central de energia

1 palco 2 coxia 3 monta-carga 4 proscênio 5 platéia 6 acesso artistas 7 canhão de luz 8 sala técnica 9 área social 10 refeitório 11 cozinha 12 sala de estudos 13 audiovisual - acervo 14 informática

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1 mezanino platéia 2 sanitário p.n.e 3 café 4 área social 5 terraço/observatório 6 ateliê moda 7 sala de aula 8 controle de acesso 9 depósito 10 administrativo 11 acesso secundário 12 terraço/ateliê aberto

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linóleo compensado de madeira

amortecedores

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sarrafos de madeira intercalados

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piso flutuante salas de dança

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área de exposições exposições/mirante passarela de ligação terraço/observatório ateliês depósito

laje técnica mezanino/observatórios estar vestiário professores vestiário masculino sala de figurinos

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laje técnica salas de dança estar vestiário feminino infantil vestiário feminino juvenil sala de figurinos terraço


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Avenida Hebe Camargo

Avenida Hebe Camargo

conjuntos habitacionais

conjuntos habitacionais

permeabilidade e valorização da ESQUINA ABERTA

Através do aproveitamento da laje inclinada da platéia do teatro a abertura da esquina induz o ponto principal de acesso e permeabilidade do NAD, evidenciando a circulação que se estende para a praça central e para o parque. Optou-se por não abrir demasiadamente a fachada norte do teatro a fim de direcionar o olhar para a abertura inteiriça coberta com brises da fachada leste. Ao lado, o estudo das aberturas das visuais da fachada norte. A materialidade do projeto surge a partir de dois aspectos – os estudos de insolação e ventilação e o desejo de criar identidade com a comunidade. Elementos como tijolos e cobogós cerâmicos aparecem nas fachadas, conversando com a linguagem geral das construções da favela. Para os brises verticias nas fachadas leste e oeste foi escolhida a madeira em alusão aos primeiros barracos construídos em Paraisópolis.

vista interna do teatro PVTO 2

vista interna do teatro PVTO 1


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Avenida Hebe Camargo

Parque Paraisópolis

cobogós cerâmicos

caixa d’água

praça do parque

“A cidade, reconhecida como espaço privilegiado das relações humanas e como foro eminentemente democrático, permite que valores opostos coexistam e sejam confrontados, contradizendo os conceitos conservadores dos agrupamentos isolados. Esse papel privilegiado que a cidade assume – espaço de convivência democrática – está relacionado com a extensão de acesso às oportunidades a todos os seus habitantes”. (SECRETARIA MUNICIPAL DE HABITAÇÃO, A Cidade Informal do Século XXI)


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