O Centenário de Itapipoca Ed. 6

Page 1

Ano 1 - Número 6 - Agosto de 2015

Publicação do Instituto Episteme em Comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca

ITAPIPOCA

A pedra do Dilúvio Localizada em uma região denominada Mourão, para os lados da Fazendinha, a Pedra Lascada, que dá nome a Itapipoca, nunca foi explorada cultural ou turisticamente. Chegou a hora de fazer, com a Pedra, o que se faz com a Bica do Ipu e a Gruta de Ubajara. Páginas 8 a 11.

MINHA VIDA

PRÓXIMA EDIÇÃO ENTREVISTA COM O DEPUTADO E HUMORISTA

o

Mais velho dois anos que Itapipoca, Perilo Teixeira foi responsável pelo crescimento econômico e social da cidade onde nasceu. Aqui a trajetória deste político que inaugurou a agência dos Correios, a agência do Banco do Brasil e a Escola Normal da Terra dos Três Climas. Páginas 12 e 13

L A I C ESPECIAL E P S E

Divu lgaçã

PERILO TEIXEIRA E A CASA BRANCA

Tiririca

Foto: Joélia Braga

ITAPIPOCA DE NORTE A SUL Artur Alvim e Guarulhos em São Paulo; Natal no Rio Grande do Norte e Jaboatão dos Guararapes em Pernambuco são cidades que homenageiam Itapipoca com nome de rua. Fortaleza também. Veja matéria da Rua Itapipoca na Praia de Iracema. Páginas 6 e 7

A TRAJETÓRIA DE PEDRO FREITAS, FUNDADOR DA CASA FREITAS Páginas 4 e 5


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

O Dilúvio da Pedra Lascada Desenho: Alcio

A

proclamação da República se deu no dia 15 de novembro de 1889. No dia 2 de dezembro do mesmo ano, Itapipoca, que até então se chamava Imperatriz, passou a se denominar Vila da Itapipoca para, no dia 31 de agosto de 1915 ser elevada à condição de cidade pela Lei Estadual número 1288 daquele ano. Publicado desde março de 2015, O CENTENÁRIO, que tem o objetivo de comemorar o Ano e não o Dia do centenário de Itapipoca, chega ao seu sexto número e, no mês do aniversário de Itapipoca, agosto, publica aquela que talvez seja a história mais extraordinária do município: a lenda da Pedra Lascada. Contada por um índio para Ito Liberato Barroso que, por sua vez, a repassou para o editor deste jornal, a lenda da Pedra Lascada já se tornou poesia, peça de teatro e programa de rádio para, agora, se tornar o tema principal deste número do O CENTENÁRIO. Chamando a atenção para o fato de a Pedra Lascada, que dá nome à cidade, lembrar o dilúvio universal, a matéria principal remete o leitor para a lenda de Gilgamesh na Suméria antiga, a de Noé, no Velho Testamento, e a de Pirra e Deucalião na mitologia grega. Depois, fala do romance de Herman Melville, Moby Dick, e seu personagem principal, Ismael, que,

EXPEDIENTE

EDITORIAL

2

chegando em New Bedfor procedendo de Nova Iorque, ali se instalou com o objetivo de, em breve, dar caça às baleias. A diferença de New Bedfor, descrita por Melville no século 19, para a Itapipoca de hoje é a de que Bedfor possui identidade. Como vive do mar e para o mar, tudo nela lembra o Oceano. Em Itapipoca é diferente. A população ou boa parte dela não sabe, sequer, o que significa Itapipoca quanto mais a localização da pedra que dá nome ao município. Para experimentar, a equipe do O CENTENÁRIO perguntou a alguns itapipoquenses onde ficava a Pedra Lascada e nenhum deles sabia a direção. Houve quem dissesse que ficava em Itapajé, confundindo a Pedra Lascada com a Pedra do Pajé, naquele município. Em cima da Serra de Uruburetama, por causa da Pedra de Itaquatiara ou no Mucambo onde se localiza a chamada Pedra Ferrada que tem este nome por uma razão muito simples: possui inscrições rupestres em sua superfície. Continuando a inquirição, muitas pessoas apontavam rumos diferentes. Por fim, alguém disse que ficava em uma região denominada Mourão para os lados da Fazendinha e estava certa. Baseado nessa pesquisa, O CENTENÁRIO chama a atenção do leitor, mais uma vez, para a Bica do Ipu, a 257 quilômetros de Fortaleza, que, citada por José de Alencar em Iracema, se tornou ponto turístico no Ceará e para a Gruta de Ubajara que dá nome à cidade de Ubajara e, tal como a Bica do Ipu, se transformou em ponto turístico também. Com a Pedra Lascada poderia ocorrer o mesmo se a pedra fosse transformada em monumento cultural e o acesso até ela facilitado para, ali, circular turistas de todo o mundo tal como ocorre com a Bica do Ipu e a Gruta de Ubajara. E isso há muitos anos.

Publicação do Instituto Episteme de Saúde, Educação e Cultura – CNPJ 056727010001-90 - Rua Plácido Castelo, 2265 CEP 63 900-000 - Centro Quixadá CE.- Telefone: (88) 3412.2443 (14h às 18h). E--mail: ocentenariojornal@gmail.com Presidente do Instituto Episteme: Dr. Carlos Magno Cordeiro Barroso - Jornalista Responsável: Natalício Barroso (MtbCE1375). Redação: Natalício Barroso - Assessoria: Ito Liberato Barroso e Pedro Hamilton da Fonseca Elia - Colaboração: Lya Carvalho Jardim Ilustração: Alcio, Pacelli C. Barroso e Glauco Bezera - Design Editorial: Chagas Neto (jornalista - MtbCE487) - Impressão: Expressão Gráfica . Tiragem: 5.000 exemplares - As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não reetindo, necessariamente, a opinião do jornal.


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

3


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

MINHA VIDA

4

De menino pobre e camelô a empresário bem sucedido Pedro Freitas fala de sua trajetória profissional vitoriosa

Pedro Freitas nasceu em Itapipoca em 1927, um ano antes de Anastácio Braga ser morto por Quincoló e um ano após o nascimento do Cafita. Diferente de Anastácio Braga, que foi político, e do Cafita, que foi comunicador, o itapipoquense Pedro Freitas tornouse empresário logo após ser estudante pobre no Rio de Janeiro e camelô em São Paulo.

1

927, ano em que Seu Pedro Nolasco Teixeira de Freitas, mais conhecido como Pedro Freitas, nasceu, em Itapipoca, a Terra dos Três Climas não passava de um simples povoado cujos prédios principais seriam a Igreja da Matriz, atual Catedral, erguida em 1887; o prédio da antiga prefeitura, que data de 1877, e a Velha Cadeia Pública que foi inaugurada em 1888. As ruas não tinham asfalto nem a cidade possuía iluminação elétrica. “Havia um riacho, diz Seu Pedro, perto da casa onde nasci, no Coqueiro”. Canalizado, hoje em dia, quase nada se vê dele se é que se vê alguma coisa ainda. Seu Pedro, proprietário da Casa Freitas e que mora, atualmente, na Beira Mar, em Fortaleza, recebeu a equipe do O CENTENÁRIO com um poema: “Itapipoca, terra dos meus sonhos/ dos meus amores, minhas ilusões/ dos meus caste-

los lindos, tão risonhos/ sublimes climas e recordações”. Foi esta a saudação. Em seguida se acomodou em uma poltrona para a entrevista. Quando esta começou disse ele que nasceu no dia 25 de março de 1927 em Itapipoca. Dia, afirma com orgulho, em que se comemora a libertação dos escravos no Ceará. Filho de Seu Antônio Avelino Freitas e de Dona Antônia Teixeira de Freitas, diz Seu Pedro que teve uma infância muito difícil em Itapipoca. Mas foi lá, na Pedra Lascada, que começou a estudar antes de se mudar para Fortaleza e continuar os estudos. Em Itapipoca, foi aluno do Colégio Anastácio Braga. Em Fortaleza, do Liceu do Ceará. Não havia terminado o Científico ainda quando viajou para o Rio de Janeiro, antiga Capital Federal. No Rio, concluiu o Científico e foi estudar com alguns colegas. A intenção de Seu Pedro era a de fazer o vestibular para Medicina. Como era muito pobre, não tinha como pagar as aulas. Os colegas insistiram. Disseram para Seu Pedro que ele poderia, muito bem, assistir aulas de graça. Afinal, no colégio no qual se encontravam, havia pelo menos sessenta alunos com eles e se, por acaso, se misturasse no meio deles, ninguém haveria de notar a sua presença. Seu Pedro achou razoável a proposta embora considere uma tolice hoje em dia o que fez naquela época. Não deu dez dias, diz ele, foi chamado por um diretor e simplesmente escorraçado de sala de aula. Descontente com aquilo,


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

abandonou a medicina, ainda que tenha cursado enfermagem e foi para São Paulo. Na terra da garoa, também chamada “locomotiva do Brasil”, se deu bem. Rio de Janeiro, afirma, foi madrasta para ele. São Paulo, pelo contrário, foi uma bênção. No Rio, trabalhou oito meses no Hospital Pedro Ernesto. Em São Paulo, foi trabalhar na rua, como camelô. “Morei dezesseis anos e meio em São Paulo”, diz Seu Pedro. Com o tempo, fundou a primeira Casa Freitas na Conselheiro Furtado, 135. Depois alugou um ponto na 25 de Março com Carlos de Souza Nazaré. Foi quando, conclui, começou a vender para os próprios camelôs. Em seguida, montou uma Casa Freitas em Fortaleza em sociedade com seus irmãos: Raimundo Gerardo Freitas, Francisco Plácido Teixeira e Gerardo Teixeira de Freitas. A coisa deu certo. Seu Pedro ficava em São Paulo, administrando os negócios e mandando mercadorias para Fortaleza. Este, diz ele, com satisfação, é o resumo de minha vida. Mas tem mais. Seu Pedro Freitas quando saiu de São Paulo dezesseis anos e meio depois, a Casa Freitas continuou. Hoje está com 56 anos, 34 lojas espalhadas por três estados: Ceará, Piauí e Maranhão e 1.360 funcionários. Administrada pelos filhos Fernanda, Pedro Freitas, homônimo do pai, e Marcelo. Seu Pedro, neste caso, cede apenas o nome para a empresa e, claro, a experiência de longa data como comerciante e vendedor. Boa Notícia Agora, uma novidade. Em breve, Seu Pedro pretende presentear Itapipoca com uma Casa Freitas. A inauguração, diz ele, ocorrerá ainda este ano, 2015, quando Itapipoca completa cem anos. Será o

Foto oficial representando a Casa Freitas

presente da Casa Freitas para a terra onde nasceu seu fundador há 89 anos. A intenção de Seu Pedro, afinal, é a de empregar pelo menos 90 itapipoquenses nesta loja que se localizará em um terreno que mede três mil metros quadrados no centro da cidade. O único não-itapipoquense, na loja, será o gerente que pretende levar de Fortaleza porque até ele, que dará auxílio ao gerente nos primeiros dias, também nasceu na terra.

Dona Antônia Teixeira de Freitas, mãe de Pedro Freitas (ao lado direito dela), inaugura a primeira Casa Freitas em Fortaleza. 1959

Em breve, Seu Pedro pretende presentear Itapipoca com uma Casa Freitas. A inauguração, diz ele, ocorrerá ainda este ano, 2015, quando Itapipoca completa cem anos. Será o presente da Casa Freitas para a terra onde nasceu seu fundador há 89 anos. A intenção de Seu Pedro, afinal, é a de empregar pelo menos 90 itapipoquenses nesta loja que se localizará em um terreno que mede três mil metros quadrados no centro da cidade.

5


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

HOMENAGEM ASDFGRFKJJ

6

A Itapipoca da

Praia de Iracema

Placa da Rua Itapipoca

Denominada Beco do Sabóia, antigamente, a travessa que fica entre a Av. Almirante Barroso e a Rua Dragão do Mar na Praia de Iracema, Fortaleza, passou a se chamar Rua Itapipoca no dia 26 de dezembro de 1960 e como tal se mantém até hoje

A

s ruas da Praia de Iracema, normalmente, têm o nome de tribos indígenas. Muitas delas citadas por José de Alencar em seus romances. Assim, há a Rua Groaíras, Tabajaras, Tupinambá, Pacajus e Cariri. Há uma rua, no entanto, que não foi citada por José de Alencar e não dá nome a tribo indígena nenhuma: a Rua Itapipoca que fica entre a Av. Almirante Barroso e a Rua Dragão do Mar. Por suas dimensões, está mais para travessa, mas se apresenta como rua na placa de entrada e no mapa da cidade de Fortaleza. Quando adotou este nome? Ninguém sabe. Por que se denomina Itapipoca? Outro mistério. Para desvendar tal enigma O CENTENÁRIO caiu em campo. Foi até a Câmara dos Vereadores, em Fortaleza, e procurou pela lei que, certamente, teria dado o nome de Itapipoca a uma das ruas da Praia de Iracema. Mas não encontrou nada. Mantendo contato com uma das funcionárias do setor, Jamile Baltar, disse ela que existem cer-


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

tas ruas em Fortaleza que têm nomes, mas, como não foram votadas pela Câmara Municipal, não são reconhecidas oficialmente. Mas quando soube que havia placa no local, ficou em dúvida. A auxiliar, Silvana Serrano telefonou para o Departamento Legislativo e um dos responsáveis pelo setor, Carlos Alberto, informou que Jamile tinha razão. E disse mais. Mesmo tendo uma placa no local e um CEP, pois o CEP da Rua Itapipoca é 60 060-240, nem assim a rua existe de direito ainda que exista de fato. O próximo passo, sugerido por Carlos Alberto, foi ir até a Secretaria de Infraestrutura, Seinf que, por sua vez, passou a pergunta para a Secretaria do Meio Ambiente, Seuma, que disse, categoricamente, que o setor responsável por tal informação seria a Coordenadoria de Desenvolvimento Urbano – a Courb. Na Courb, a estagiária Priscila Caetano desvendou o mistério. A lei que criou a Rua Itapipoca, na Praia de Iracema, é de 1960 e atende pelo número 1671. Na Câmara dos Vereadores, para onde O CENTENÁRIO retornou, a Lei 1671 de 1960 foi publicada no número 2085 do dia 16 de dezembro de 1960 do Diário Oficial do Município. Mas há um problema. A pasta na qual deveria constar e que foi encontrada por Dona Suzana Macedo, estava incompleta. Assim, não houve como saber quem sugeriu a lei e qual foi a justificativa

Foto da Rua Itapipoca na Praia de Iracema

adotada pelo requerente para ela ser votada e aceita pelos vereadores de Fortaleza. Nela, havia somente delimitações da Praia de Iracema e de outros bairros da capital cearense. Para O CENTENÁRIO bastou chegar neste estágio. Daí para a frente, quem quiser se debruçar sobre o assunto, a porta está aberta. Basta empurrar e entrar antes que alguém faça com a Rua Itapipoca o que fizeram com as ruas Granja e Paracuru que viraram José Romero de Barros e Vila Romero em 2013.

A lei 1671 que criou a Rua Itapipoca, na Praia de Iracema, é de 1960 e foi publicada no número 2085 do Diário Oficial do Município, edição do dia 16 de dezembro daquele ano.

7


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

PEDRA LASCADA

8

O Dilúvio

passou por aqui

31 de agosto, dia do centenário de Itapipoca, deveria ser comemorado em torno da Pedra Lascada se ali existisse estrutura suficiente para receber turistas e para se promover festa de grande porte.

Por Natalício Barroso Da Redação

Q

uantos dilúvios ocorreram no mundo? Segundo o autor de A Bíblia tinha razão, Werner Keller, publicado no Brasil em 1992 pela Melhoramentos, foram muitos. Existe um, porém, que não foi, sequer, imaginado por ele. O de Itapipoca. Quando ocorreu? Ninguém sabe. Mas, se se levar em conta que foi revelado pelos índios Tremembé quando estes habitavam toda a região de Uruburetama, dá para entender por que o autor de A Bíblia tinha razão, quando escreveu sobre o dilúvio, não citou o de Itapipoca. Regiões como o Nordeste, no interior do Brasil, não faziam parte de seus estudos embora diga que o dilúvio ocorreu em todo lugar do planeta. E cita alguns deles: o de Gilgamesh, na Mesopotâmia, o de Noé, na Turquia, e o de Pirra e Deucalião, na Grécia. O dilúvio de Itapipoca, no entanto, tem características próprias. O de Gilgamesh, na Mesopotâmia, remete para os primórdios da humanidade. O de Noé para os primórdios da religião hebraica e o de Pirra e Deucalião para a mitologia grega. No primeiro deles, Gilgamesh pretende adquirir a imortalidade. No

segundo, Noé e sua família tentam salvar a humanidade e o reino animal da ira de Deus enquanto Pirra e Deucalião procuram repovoar o mundo atirando, para trás, “os ossos da Terra” ou, em outras palavras, as pedras que encontravam pelos caminhos. O dilúvio de Itapipoca, narrado pelos Tremembé não tem idade. O de Gilgamesh, presume-se, data de quatro mil anos antes de Cristo. O de Noé possui mais ou menos a mesma data assim como o da Grécia. O de Itapipoca, como não existem relatos escritos sobre ele, não se sabe quando ocorreu. Mas sabe-se que ocorreu porque, assim como os outros três citados por Werner Keller, também tem sua história. E a história é a seguinte: O Dilúvio da Pedra Lascada Afirmam os índios Tremembé que houve um tempo em que a região de Itapipoca foi invadida pelas águas do mar. Neste tempo, as Serras de Uruburetama foram tomadas por elas e nada, nem mesmo as aves, pois não tinham onde pousar, sobreviveram. Passados os anos (muitos anos, aliás) as águas do mar baixaram, os picos das serras de Uruburetama brilharam à luz do sol nova-


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

9

Foto: Alcio

mente e a vida, mais uma vez, recrudesceu. Inclusive a humana. As águas, quando foram embora, porém, deixaram um indício de sua passagem: a Pedra Lascada, que ainda hoje pode ser vista em Itapipoca e, desde então mantém, aprisionadas, algumas sereias que como não tiveram tempo de fugir, quando as águas do mar abandonavam as Serras de Uruburetama, ali ficaram encerradas. Assim, nas noites de lua cheia, elas costumavam cantar e dançar dentro da pedra enquanto os índios Tremembé faziam a mesma coisa do lado de fora. Chegará o dia, cantavam eles e elas, em que as águas do mar vão retornar e libertar as sereias e a alma dos guerreiros valentes que, como as sereias, também vão para a Pedra Lascada quando morrem nos campos de batalha. Esta é a lenda da Pedra Lascada em Itapipoca contada pelos Tremembé e que é tão bonita quanto a de Gilgamesh, na Mesopotâmia, a de Noé, na Armênia, e a de Pirra e Deucalião, na Grécia. Itapipoca e a Pedra Lascada Ismael da ilha dos Manhattoes, Nova Iorque, quando chega em New Bedfor, em Massachusetts, no Condado de Bristol em busca de aventuras, a primeira coisa que vê em uma tabuleta de hotel, é a marca daquela região: os arpões cruzados de uma baleeira. Depois vê peixes-espadas em outras tabuletas. Em seguida, um “jorro brumoso, alto e reto” tal como os esguichos que saem das narinas das baleias. Entrando nesse local, se depara com outras características: marinheiros que comem e bebem sofregamente em um recinto fechado. Determinado a viajar pelo mar a qualquer custo, Ismael estava ali, em New Bedfor para embarcar, em breve, para o Pacífico em busca de aventuras. Esse, pelo menos, é o início da história de Moby Dick, romance escrito por Herman Melville em 1851. Em Itapipoca, se alguém chega de viagem de repente e se depara com as pousadas do lugar, não vê, em nenhuma delas, a presença da Pedra Lascada. E por quê? Porque a Pedra Lascada, que dá nome à cidade, é uma realidade muito distante de seu cotidiano. Localizada a poucos quilômetros do centro

da cidade, a pedra não consta, sequer, do roteiro turístico do município quanto mais do estado e se alguém pretende chegar até ela tem, primeiro, que alugar um carro, viajar durante alguns minutos em uma estrada asfaltada até certo ponto e, em seguida, caminhar a pé por mais quarenta minutos para, finalmente, se deparar com a Pedra Lascada em meio a um matagal. Esta, pelo menos, é a realidade da Pedra Lascada em Itapipoca no momento e se alguém pergunta à população local o que significa Itapipoca (ita, pedra; pipoca, lascada) boa parte dela não sabe o que dizer. E por quê? Pelo mesmo motivo. A Pedra Lascada, que fica em uma região denominada Mourão, para os lados da Fazendinha, não existe para ela. E o que é pior. Esta realidade não está para mudar. Pelo contrário. A tendência é a pedra continuar ausente da cidade à qual dá o nome e ser lembrada aqui e ali em um monumento como o que existe na Praça do Hotel, por exemplo. E só. Diferente do horto, onde Padre Cícero descansava de vez em quando, que virou ponto de romaria com uma estátua enorme do santo de Juazeiro ou da Bica do Ipu, citada por José de Alencar em Iracema, que é explorada comercial e turisticamente pela população local, a Pedra Lascada, de Itapipoca, não passa de um símbolo morto que de vez em quando é lembrado por alguém em sala de aula ou em uma promoção cultural como a que ocorreu na década de 1970 com o Encontro de Artistas de Itapipoca em Fortaleza. Ali estava a Pedra Lascada litografada por Kleber Ventura (foto abaixo) e a sua lenda propagada entre os presentes.

O Aquário de Itapipoca Mas nada se compara com a falta de informação que reina na Terra dos Três Climas sobre a localização e o significado da palavra Itapipoca. Indagada sobre o assunto pelo O CENTENÁRIO, Edileuda Teixeira de Sousa, 36 anos e funcionária do Terra Verde Hotel afirmou que não tem a menor ideia do que significa “Itapipoca”. O mesmo afirma o frentista do Posto São Cristóvão de gasolina logo na entrada da cidade, Maceldo dos Santos, e o proprietário da barraca Flor da Beira Mar na Praia da Baleia, José Danúbio de Araújo Ferreira. Nada demais se tal desinformação não tivesse consequências graves inclusive no PIB do município. Fortaleza, para se tornar uma cidade turística, se esforça para construir um aquário na Praia de Iracema. Itapipoca, que possui um aquário diferente, no qual habitam sereias e não peixes, perde a oportunidade de mostrar isso para o mundo transformando em ponto turístico aquele local tal como Ubajara transformou em ponto turístico a gruta da qual herdou o nome e que até hoje é visitada por cearenses, brasileiros de uma maneira geral e estrangeiros de vários Dr. Geraldo Azevedo, prefeito de Itapipoca na época do Encontro de Artistas de Itapipoca, em países e continentes.

Fortaleza, ao lado de itapipoquenses que exibem a Pedra Lascada litografada por Kleber Ventura.

Fortaleza, para se tornar uma cidade turística, se esforça para construir um aquário na Praia de Iracema. Itapipoca, que possui um aquário diferente, no qual habitam sereias e não peixes, perde a oportunidade de mostrar isso para o mundo transformando em ponto turístico [Pedra Lascada] tal como Ubajara transformou em ponto turístico a gruta da qual herdou o nome.


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

DEPOIMENTO

10

A Trilha do Dilúvio Foto: Joélia Braga

Aurilene Sampaio, de chapéu e camiseta branca, ao lado de amigos no alto da Pedra Lascada

A trilha do dilúvio, que fica a três quilômetros de Itapipoca, é de difícil acesso. Aqui o depoimento de quem viveu na região desde a infância e conheceu o ambiente por dentro e não à distância Por Aurilene Sampaio Professora na EEFM Anastácio Braga

H

oje, sinto-me nostálgica ao lembrar minha infância. Remeto-me a um sítio, situado na cidade de Itapipoca a aproximadamente 3,0 km do centro da cidade, vivíamos na zona rural não muito longe do centro urbano. Éramos - ou melhor – somos seis filhos, e poucas vezes saíamos do sítio. Tínhamos poucos amigos. Era lá, no sítio, que criávamos nosso mundo. Meu único irmão era meu principal parceiro nas aventuras diárias. O proprietário do sítio, o Sr. Ribeiro, patrão de meu pai, era um homem de semblante firme, cabelos grisalhos, estatura média, além de muito sério, cheio de regras e por vezes

intolerante com as crianças – pelo menos era assim que o percebia – infelizmente não tive o prazer de percebê-lo como meu pai o retratava – segundo meu pai seu patrão era um homem bondoso, íntegro, justo e respeitável. E foi nas terras do Seu Ribeiro que vivemos a maior parte da nossa infância. Meu irmão e eu desbravávamos as serras e aventurávamos nos riachos. O mês do ano que eu mais gostava era agosto – pois se comemora o aniversário da cidade – e muitas escolas nos procuravam para levar grupos de alunos para conhecer a Pedra Lascada que ficava a 40 minutos da nossa casa no sítio. Naquela época, ouvíamos histórias sobre a pedra: que ela era monumento histórico, de como ela lascou. Não sei precisar data, nem razões do fenômeno, mas isso não importava, o


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

que mais me maravilhava era servir de guia para os inúmeros grupos que nos procuravam para visitar a pedra. Fazíamos aquela caminhada várias vezes ao dia, sempre dispostos e a cada viagem uma nova empolgação. Tenho boas lembranças dos anos vividos no sítio, saímos do lugar em 1993 e minha última ida a pedra foi em agosto de 1992. Até que recebemos – meu irmão e eu – o convite de alguns amigos para nos aventurarmos em um passeio à pedra. Minha emoção, em voltar ao local, só não era maior que minha ansiedade. Marcamos para sair às seis da manhã do dia 10 de julho. Meus apetrechos ficaram prontos na noite anterior, muito cedo estava de pé e pronta para o passeio. Passamos na casa do meu irmão, que ia nos guiar até a pedra, lá, outro grupo de amigos (aventureiros) nos aguardava para seguirmos caminho. O percurso Em dois minutos já estávamos na entrada da propriedade atravessando um mata-burro (estrados instalados em cima de valas que impedem a fuga do gado), nesse momento fiz uma viagem aos tempos da minha infância. Tudo me pareceu menor, a estrada que ia do mata-burro até a casa do Seu Ribeiro já não era tão longe como vislumbrava. Descemos do carro e contemplei o ambiente em minha volta, já não tinha a pompa que esperava encontrar, talvez por estar abandonado há muito tempo e não ter a vida que um dia tivera. Nossa aventura era composta por um grupo animado de dez pessoas, seguimos caminhando, abastecidos de água, disposição e animação. Passamos uma porteira, a qual dava para uma estrada de terra que exalava esterco fresco. A estrada foi estreitando à medida que avançávamos serra acima. Quando nos percebemos estávamos num matagal de bamburrais e marmeleiros, tentei reconhecer a trilha estreita que criávamos em meio à mata, mas todas as trilhas de matagal seco pareciam iguais. Encontramos um lajeiro recoberto por cactos com espinhos compridos e afiados, onde fizemos nossa primeira parada para descanso. Nesse momento as lembranças vieram como um tornado trazendo um turbi-

lhão de recordações. Era naquele lajeiro, em meio aos cactos, que caçávamos ninho de rolinha, fato lembrado por meu irmão. Sabíamos que as aves, para proteger suas crias dos predadores, construíam seus ninhos em meio aos pontiagudos espinhos. De volta à trilha, agora não mais tão aparente, chegamos à mata fechada. Impossível continuar. Tento confortar minha decepção considerando que já valeu a pena. Mas não quero desistir! Picadas e veredas Meu irmão, experiente, conhecia bem o lugar, indicou uma picada, embora tomada pelo matagal foi possível ir abrindo caminho com os pés, flores secas de bamburral caíam em nossa roupa (o que causava uma coceira irritante). Passávamos por trechos íngremes, as “maliças” (corruptela de malícia), planta espinhenta que se fecha ao ser tocada, grudavam em nossas roupas. Depois de muito caminhar nos deparamos com o leito seco de um riacho que nos fez parar numa parede de rochas. Outra vez pensamos que era impossível seguir em frente. Meu irmão, habilidoso, saiu em busca de uma nova vereda, ficamos aguardando, quando ele retorna com a notícia que fomos além do nosso destino e devíamos voltar. Apesar da exaustão, nada nos abatia, minhas pernas estavam em frangalhos, o cansaço e o calor me faziam ofegar. Retornamos, confiantes, agora seguros da direção a seguir. Nosso último obstáculo até a pedra era um pé de juazeiro, com ramos tortuosos protegidos por espinhos, esquivávamo-nos por entres os galhos espinhosos da planta. Chegamos! Aos pés daquela rocha nosso sentimento era de conquista. Subimos à pedra com dificuldade. Contemplamos aquele fenômeno ininteligível ao nosso senso comum. A paisagem nos encheu os olhos de uma emoção inexplicável. Fiz duas grandes descobertas: uma foi que não tinha noção do que aquilo representava; a outra, não menos importante, já não tinha a mesma disposição de vinte e três anos atrás. No silêncio da mata nos embriagávamos de fascinação.

Fotos: Alcio

Parte da Pedra Lascada com os Picos ao fundo

Volume da Pedra vista de baixo para cima

A rachadura da Pedra Lascada

O mês do ano que eu mais gostava era agosto - pois se comemora o aniversário da cidade - e muitas escolas nos procuravam para levar grupos de alunos para conhecer a Pedra Lascada que ficava a 40 minutos da nossa casa no sítio.

11


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

PERILO TEIXEIRA

12

O Homem da

Casa Branca Para comemorar os cem anos de Perilo Teixeira em 2013 foi publicado um folder (foto abaixo) com a biografia do Homem da Casa Branca por seu neto, Mauro Gurgel. Em 2015, para comemorar os 102 anos, O CENTENÁRIO publica outra biografia de Perilo Teixeira no mês do centenário de Itapipoca. de fazer concurso para escriturário na Delegacia Fiscal. Passa em 34º lugar em um total de 482 candidatos. A Revolução de 1930 em São Paulo, no entanto, não permite que o futuro advogado assuma a função de escriturário no Piauí. Perilo volta para o Ceará, conclui o secundário e ingressa, finalmente, na Faculdade de Direito de onde sai bacharel em 1933. Em 1932, antes de concluir a faculdade, foi nomeado secretário da prefeitura de Aracati. O filho do Major Teixeira estava com apenas 19 anos. Em novembro daquele mesmo ano, o Tenente Edson da Mota Correia, prefeito de Aracati, acompanha as Forças Armadas do Ceará para São Paulo a fim de participar da Revolução de 1930. Perilo assume a prefeitura no lugar dele e ali permanece até 29 de novembro de 1933 quando entra em choque com o Interventor do Ceará, Carneiro de Mendonça, e é exonerado do cargo.

F

ormado em Direito em 1933 pela Faculdade de Direito do Ceará, sempre que perguntavam ao Deputado Estadual e, depois, Federal, Perilo Teixeira, o que achava de sua profissão de advogado, ele respondia imediatamente. Dizia que era uma profissão muito ingrata porque os inimigos não procuravam e os amigos não pagavam. Filho de Antônio Rodrigues Teixeira, mais conhecido como Major Teixeira, e de dona Maria Amélia de Souza Teixeira, dona Maroquinha, Perilo Teixeira, que nasceu no dia 24 de maio de 1913, começou a sua vida profissional vendendo leite em Itapipoca. Mas havia uma particularidade. Não podia ver um litro de leite sujo que quebrava o vidro. Nesta época estudava na escola pública de Itapipoca dirigida pela professora Alice Ribeiro da Cunha e na escola da professora Otília Brasil. Em 5 de fevereiro de 1923 foi para Fortaleza. Na capital cearense fez o primário e o que então se chamava Curso Seriado. Em 1927 e 1928 estudou no Colégio Castelo Branco e, em 1929 matriculou-se no Liceu do Ceará. No dia 10 de abril de 1929, precisamente, viajou para Teresina, Piauí, a fim

Em Casa Bacharel em Direito em 3 de dezembro de 1933, Perilo volta para casa. Vai exercer a profissão de advogado em Itapipoca. Foi neste período que entrou definitivamente na política defendendo a candidatura de seu cunhado, Hildeberto Barroso, para Deputado Estadual, e a de Pedro Firmeza para Deputado Federal. Em 1935 foi nomeado Consultor Jurídico do Departamento de Negócios Municipais, dirigido pelo Dr. Augusto Correia Lima e, em outubro do mesmo ano, auditor do Tribunal de Contas. Extinto o Tribunal, em 1939, o Homem da Casa Branca, Perilo Teixeira, volta para Itapipoca para, em 1942 ser convocado pelo Dr. Paulo de Assis Pinheiro para dirigir o Serviço de Encaminhamento dos Trabalhadores Para o Amazonas, o Semta, em Sobral. Durante a sua gestão no Semta, Perilo Teixeira teve o dissabor de entrar em choque com a polícia quando soube que um sargento e 16 praças queriam por fim a um grupo de trabalhadores. Revoltado com isso, interfere na atuação policial e impede o massacre. Em troca, Perilo foi preso pelo Secretário de Segurança e detido no Pálace Hotel onde permaneceu por dez dias (5 a 15 de abril) quando finalmente foi solto após se apurar e se descobrir que ele, Perilo, estava certo, e não seus acusadores.


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

Em 11 de janeiro de 1946 foi nomeado Diretor da Imprensa Oficial do Ceará. Perilo, mais uma vez, demonstra a sua eficácia. Foi ele quem, durante a sua gestão, promoveu a criação de uma cooperativa, instituiu a merenda dos funcionários e enviou alguns deles para o Rio de Janeiro a fim de se aperfeiçoar em artes gráficas. Foi ele também quem, assediado por um representante da Companhia Linotipo do Brasil, da qual a Imprensa Oficial havia comprado Cr$ 300.000,00 (trezentos mil cruzeiros) de materiais gráficos, trocou a propina, sugerida pelo representante da Companhia, por mais materiais gráficos. Em Itapipoca, Perilo Teixeira, depois de eleito Deputado Estadual em 1947 e Federal em 1954, fundou, manteve e fez encampar o Colégio Estadual Joaquim Magalhães; a União Operária Beneficente; a Liga Itapipoquense de Desportos; o Aeroclube; a Assistência Rural e a Escola de Tratoristas, a única do estado. Neste mesmo período, conseguiu verbas para a construção da linha telegráfica Amontada-

13

Casa Branca de Perilo Teixeira

Itapipoca; as estradas asfaltadas de Umirim a Itapipoca; Itapipoca a Acaraú e de Croatá a Paracuru. Conseguiu verba, ainda, para os serviços de água e esgoto do município, para a inauguração de uma agência do Banco do Brasil, uma outra dos Correios e o Posto de Agropecuária. Nacionalmente, foi um dos fundadores do MDB durante a Ditadura Militar. Perilo Teixeira morreu no dia 13 de abril de 1977. Bateu o carro nas pilastras de uma pequena ponte do Rio Itacolomi, no Tururu, quando viajava de Itapipoca para Fortaleza.

Bacharel em Direito em 3 de dezembro de 1933, Perilo volta para casa. Vai exercer a profissão de advogado em Itapipoca. Foi neste período que entrou definitivamente na política defendendo a candidatura de seu cunhado, Hildeberto Barroso, para Deputado Estadual, e a de Pedro Firmeza para Deputado Federal.


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

CONVERSA COM

ITO LIBERATO

14

Rezadores e Parteiras crescer. No sétimo, tinham tomado conta da cabeça outra vez. Foi um verdadeiro milagre. Claro que não estavam viçosos como antes, quando ainda não tinham caído, mas dava para ver que estavam ali, retomando seu espaço. Terminado o tratamento, a mulher perguntou a Seu Terto quanto devia a ele. Seu Terto, que era um homem baixinho e muito velhinho disse que não era nada. Fazia aquilo por amor a Deus e à humanidade. Dom Ito não diz o nome da mulher. Mas informa, no final, que ela tinha condições financeiras e, por isso mesmo, podia ir a Fortaleza e se consultar com os médicos da capital do estado. E fazia isso. Acha ele, no entanto, que a regeneração dos cabelos dela foi tão rápida, depois que foi rezada por Seu Terto, que podia até haver influência da penicilina sobre tudo aquilo, mas também havia influência do rezador sobre o resultado final.

Citadas pelos gregos antigos, as parteiras também fizeram parte da história de Itapipoca ao lado de rezadores famosos como Seu Terto, do Cruzeiro.

O

rezador mais conhecido em Itapipoca, diz Ito Liberato, na década de 1940, era Seu Terto que morava em um lugarejo rodeado de mato no Cruzeiro. Era ali que atendia as pessoas. Certa vez chegou uma senhora com uma ferida muito grande na cabeça. Dom Ito viu como tudo aconteceu. Era menino ainda e acompanhou aquela mulher à casa de Seu Terto. Na casa dele, o rezador pediu à tal mulher para voltar outro dia. Nem todo dia, entendeu Ito Liberato, era de reza. Há dias específicos para isso. Assim, aquela senhora que, por sinal, também estava fazendo tratamento em Fortaleza, voltou à casa de Seu Terto na data marcada com um tinteiro e um pires nas mãos conforme o rezador havia solicitado. Dom Ito foi com ela novamente. Nesse dia, segundo ele, Seu Terto, antes de atender à mulher, foi ao mato tirar algumas folhinhas e, quando voltou, sentou em um banco no meio do terreiro e começou a rezar depois de derramar a tinta do tinteiro no pires. De vez em quando parava de rezar um instante, se concentrava, e voltava a rezar novamente. Fez isso sete vezes. Rezava e parava de rezar até que, na sétima, parou definitivamente e disse à mulher para voltar durante sete dias seguidos para ser rezada da mesma maneira. E a mulher voltou. No dia seguinte, informa Ito Liberato, a ferida da cabeça havia secado. Coisa impressionante. No quarto dia, os cabelos começaram a

As Parteiras Itapipoca também possuía muitas parteiras. Uma delas era filha do Coletor Estadual, Seu Alípio Tavares, e se chamava Alita Tavares. Muito inteligente e preparada, Alita tinha feito cursos na área de saúde no Hospital César Cals, em Fortaleza. As duas filhas mais velhas de Dom Ito, Soraia e Kaylyne, foram assistidas por ela. Acredita Dom Ito, que Alita deve ter visto nascer mais de cinco mil crianças em Itapipoca e alguns distritos. Cada distrito, por sinal, tinha suas “cachimbeiras”, como as parteiras eram conhecidas nestes lugares. Em Itapipoca, sede do município, era Alita, ainda que atendesse em Arapari e Assunção. Com Alita, porém, havia uma particularidade. Ela não se restringia apenas a fazer parto. Ela atuava também como enfermeira ajudando a fazer curativo, aplicando injeções e auxiliando os médicos, quando necessário. Era, de fato, muito prestativa. E há uma história muito curiosa sobre ela. Alita, um pouco antes de morrer, conta Ito, se apaixonou por um saxofonista que toda tarde tocava seu instrumento musical para os lados da Rua do Fogo. Dom Ito não sabe qual foi o relacionamento que manteve com ele. Mas se recorda de algo realmente inesquecível. Diz ele que Alita, antes de morrer, falou com o Cafita e pediu ao dono da irradiadora de Itapipoca, que costumava colocar músicas fúnebres quando morria alguém conhecido no município, para colocar determinada música. Era aquela, justamente, que, segundo se imagina, o saxofonista tocava para ela nos fins de tarde. Cafita, segundo Ito, atendeu à solicitação da amiga. Assim, no dia em que Alita morreu e foi levada para o Cemitério São João Batista, o homem da irradiadora, em Itapipoca, colocou a música solicitada por ela em seu alto falante durante todo o percurso. Foi, sem dúvida, conclui Ito, emocionante. Pelo menos, acrescenta, para quem sabia deste segredo.


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

15


Publicação do Instituto Episteme em comemoração ao Ano do Centenário de Itapipoca - ANO 1 - Nº6 - Agosto de 2015 Publicação do Instituto Episteme em Comeração ao Ano do Centenário de Itapipoca

CAVALOS NA PISTA

16

Façam suas apostas Por Aristarco Prado Pedagogo e Radialista

C

erca de quinze meses separa o eleitor itapipoquense de mais uma disputa eleitoral, e mesmo respeitando a metáfora da "água que sempre passará por debaixo da ponte", é possível para um analista mais cuidadoso afirmar que a desilusão e a desesperança podem ser as razões direcionadoras da escolha popular em 2016. Se soprarmos a poeira da história das Administrações dos últimos vinte ou trinta anos salvaguardando as raríssimas exceções é possível que percebamos que estivemos andando em terríveis círculos da "mesmice". Lamentavelmente é possível constatar também que em matéria de gestão e política nada de realmente novo pode ser detectado no "reino da pedra que pipoca". Forasteiros, Engenheiros Construtores, Médicos das mais variadas cores e siglas partidárias, todos deixaram uma marca que os iguala em suas administrações, a ausência da coragem e da vocação para governar única e exclusivamente visando o bem comum. Tais valores jamais serão achados na cor ou no número do candidato,

vergonha, integridade e compromisso não são distinguíveis por símbolos numéricos ou pela cromaticidade do vermelho ou do amarelo. É a história construída ao longo da prática política do candidato antes mesmo de enxergar-se ou ser enxergado candidato que o credencia para a vida pública. A verdadeira Política do bem comum, vazia de pretensões pessoais, ela se inicia antes do mandato, e mais, uma candidatura genuína e descontaminada nasce do anseio popular, nunca somente do anseio do candidato. Não é o título de "Dotô" que credencia o candidato como o melhor, tampouco é o oficio que se exerce na vida secular que o torna mais preparado para Governar ou possua garantias de que realizará um bom Governo. Se assim o fosse, Itapipoca seria reconhecida como a "Genebra do agreste". Cem anos se passaram, por aqui só não passa o estranho desejo de não evoluir. Enquanto a maioria de nós continuarmos escolhendo aqueles que nos representam e decidem por nós da mesma forma e com os mesmos critérios usados para se apostar em corridas de cavalos, o mais "forte" sempre levará vantagem sobre os demais, o que não quer dizer que necessariamente seja ele o cavalo mais preparado."

‘‘

A verdadeira Política do bem comum, vazia de pretensões pessoais, ela se inicia antes do mandato, e mais, uma candidatura genuína e descontaminada nasce do anseio popular, nunca somente do anseio do candidato.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.