Pernambuco Jardim de Baobas

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PERNAMBUCO Jardim de Baobás | Antônio Campos e Marcus Prado | 12

À sombra do baobá, numa cama feita de urzes brancas Depois disso, Deus (Calmo e Perseverante) fez nascer o primeiro bosque, para que nele, mergulhados, o Homem e a Mulher sonhassem a imensidão do cosmo.

Tudo isso aqui descrito não aconteceu de uma hora para outra como o tremor celeste do trovão. No dia seguinte, que teria durado bilhões de anos, Deus (Amor que nunca se esvai), flutuando nas brumas e nas savanas da África mais primitiva, teria feito nascer o primeiro Homem, aquele que viria sem medos e mágoas de ninguém, ingênuo na sua nudez simples, natural, primitiva, embora só e atormentado. A sua cama, sob a proteção dos baobás, era feita de urzes brancas e suas metamorfoses, e seu teto, a céu aberto. Porque os ventos gelados sopravam fortes do leste, e as vastas sombras se levantavam no meio das rochas, Deus (a Grande Síntese), decidiu então criar a Mulher. Pode ter sido este o Seu primeiro gesto da criação do Éden, pelo menos foi o que disseram os Elfos semideuses da Fertilidade, nos pergaminhos que deixaram perdidos entre as três rochas de Ayer, uma extensão plana do deserto australiano. Depois disso, Deus (Calmo e Perseverante) fez nascer o primeiro bosque, para que nele, mergulhados, o Homem e a Mulher sonhassem a imensidão do cosmo. Não é de admirar, porque na Eternidade – muito além da compreensão humana, muitos milênios, talvez bilhões de anos, podem ser comparados ao brilho do raio na parte cimeira do Firmamento. (Não se tenha jamais por comparação esse bosque com aquele recanto sagrado de Posídom, que assumiu o estatuto de deus supremo do mar.) Ao Homem, Deus (Aquele que conduz o Sol e suas naves de Fogo) deu o nome de Loth-Ulú, de quem nasceram os primeiros Elfos-profundos e evoluídos (seres de grande beleza) e os duendes protetores dos bosques e dos baobás. À Mulher, Deus (o infinito Pastor das nuvens, das montanhas e dos raios celestes) deu o nome de Thanda, que significa Amor na expressão zulu da África Negra Antiga. E tendo dito o que disse e feito o que fez, Deus (Aquele que faz o Sol da Primavera e da Misericórdia), aproximou-se de um baobá, dali saindo nesse instante um ramo de Luz feito pelos Anjos da Suprema Hierarquia Celeste, quando o sorriso de cada um brilhava como o Sol. No dia seguinte, ao passar de um turbilhão em que todos os ventos foram beijar as flores e a relva do lugar, Deus (o Ordenador dos Mundos e a Grande Divindade Primordial) abençoou o Pássaro aquático colorido e ondulante, assim chamado aíthya, que (re)aparece depois de muitos milênios nos livros da Odisséia e nas versões das Argonáuticas atribuídas a Orfeu. Teria esse pássaro original a missão Divina de levar no seu bico grande e largo as sementes brancas do baobá para outras regiões férteis do continente africano, cheias de traçados oblíquos e circuitos tortuosos, desenhados pela savana e pelos caprichos dos ventos.


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