Contribuição para o estudo do cão de gado em Portugal - uma perspectiva etológica

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propriedades. Mostra-se afável para com os seus proprietários, sendo no entanto agressiva para com estranhos. O principal núcleo de difusão da raça é ainda a região minhota, sendo relativamente pouco conhecida no resto do país. Os registos no L.O.P. (Livro de Origens Português, onde são registados os cães de raça com ascendência conhecida), evidenciam um decréscimo dos efectivos da raça entre a década de 60 e a de 80. Desde então, tem-se verificado a sua expansão, embora com uma pequena diminuição do número de animais inscritos, nos últimos anos (Vasconcelos, 1995). 2.2 – Rafeiro do Alentejo Raça portuguesa de maior porte, o Rafeiro do Alentejo (Anexo 1) indica claramente no nome a sua função e origem geográfica – cão de guarda do monte (i.e., rafeiro) do Alentejo. A par de outras raças nacionais, não se conhece a sua origem, mas crê-se que na sua ascendência se encontre o Cão da Serra da Estrela, o Mastim Espanhol e o Cão de Castro Laboreiro (Anónimo, 1990). Estas são raças igualmente utilizadas na protecção de rebanhos, e que teria probabilidade de encontrar nas rotas de transumância dos rebanhos. Utilizado sobretudo na defesa de rebanhos e propriedades, mostra-se calmo e indolente durante o dia, mas activo de noite (Anónimo, 1990; Vasconcelos, 1995). Outra actividade na qual tem sido usado é a montaria, tendo inclusive feito parte da matilha de caça grossa do rei D. Carlos, no princípio do século (Anónimo, 1988b, 1990; Vasconcelos, 1995). Os registos no L.O.P. indicam que entre a década de 60 e meados da de 80 se assistiu a uma diminuição acentuada dos efectivos da raça (Vasconcelos, 1995), provavelmente devido ao desaparecimento dos grandes predadores da região. Petrucci-Fonseca (1990) refere a fragmentação da população lupina a Sul do rio Tejo na década de 40. Segundo este autor, os lobos teriam desaparecido do Sul do Tejo na década de 80. Este facto, aliado à alteração dos hábitos pastoris, que conduziram ao fim da transumância, levou a que se deixasse de fazer sentir a necessidade de manter um cão a guardar os rebanhos, nomeadamente um de grande porte. Porém, desde meados da década passada, tem-se assistido a uma recuperação da raça, com um aumento acentuado do número de efectivos (Vasconcelos, 1995). 3 – ÁREA DE ESTUDO Os cães estudados encontram-se inseridos em rebanhos em Trás-os-Montes (região Nordeste) e na Beira Baixa (região Centro-Este) (Fig. 3) 3.1 -Trás-os-Montes Em Trás-os-Montes, o estudo centrou-se nas regiões adjacentes a 7 localidades de 4 concelhos: Barreiro e Varzigueto, no concelho de Mondim de Basto, Gouvães da Serra, Barrela de Jales e Cerdeira de Jales, no concelho de Vila Pouca de Aguiar, Zebras, no concelho de Valpaços e Valverde da Gestosa, concelho de Mirandela. Situam-se todas na área de distribuição do lobo ibérico. As três primeiras localidades inserem-se no cordão montanhoso da serra do Alvão. Nesta zona, a principal fonte de rendimento consiste na produção animal: bovinos (Bos taurus L., 1758), sobretudo de raça Maronesa (autóctone, utilizada essencialmente para trabalho), e caprinos (Capra hircus L., 1758), de raça Bravia (nativa, destinada à produção de carne) (Pereira, 1991) Os efectivos ovinos (Ovis aries L., 1758), reduzidos, estão integrados nos rebanhos de caprinos (Pereira, 1991). Os rebanhos são pastoreados segundo o regime extensivo. Saem de manhã, acompanhados pelo pastor, para o monte (terreno baldio de gestão comunitária), e só regressam ao anoitecer para o estábulo, ou corte, onde passam a noite. Na composição florística dos baldios, refere-se a presença de carvalhais de Quercus robur e Q. Pyrenaica, vidoais de Betula alba, pinhais de Pinus pinaster, P. sylvestris e P. Nigra, Pseudotsuga menziesii e, nas margens de cursos de água, Alnus glutinosa. 13


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