A República de Platão: uma introdução à filosofia

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A imagem no discurso filosófico

harmonia e o ritmo convenientes, por serem pequenas as mudanças e os ritmos aproximados. (b) 2ª forma de narração: aquela que precisa de todas as harmonias e ritmos para exprimir-se convenientemente por comportar toda forma de variação. (c) 3ª forma de narração: modo misto. Se a forma mista é mais aprazível, não é útil e de bem para a formação nobre do homem: é vantajosa às crianças, preceptores e à multidão, mas não se adéqua ao governo que não comporta homens múltiplos e duplos que exercem mais de um oficio. O ser verdadeiro ou falso de uma narrativa corresponde à permanência ou variabilidade de sua forma, de modo a refletir em seu conteúdo. B. CONTEÚDO DA LITERATURA. (1) O primeiro conteúdo a ser ensinado é a literatura falsa: fábulas às crianças antes do ginásio (razão pela qual se deve começar pela música antes da ginástica). As fábulas são mentiras no conjunto, embora contenham verdades. Com o mesmo critério que deu início à imagem da cidade, determinase aqui começar pelo exame das fábulas maiores, desde onde se pode examinar as menores por terem possivelmente a mesma matriz. As fábulas falsas maiores (Hesíodo e Homero) contam mentiras sem nobreza: má imitação do modo de ser de deuses e heróis (por exemplo, ambos mentem, enganam, matam, roubam, etc.). Pois isso, quando for forçosa a sua referência, deve-se escutá-la em segredo ao menor número e amenizar o desagradável. Notemos novamente que Platão aplica aqui o termo “dever” segundo o critério de verdade, porém neste momento temos a ocorrência de um conteúdo ético, a noção de “nobreza”. Esta é a nomeação da imagem do cão de boa raça, de raça nobre, melhor. A educação implica esta forma nobre e, aliada à verdade, dirige o discurso para o justo. Assim, é este o

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