Tecsaude urgencia e emergencia

Page 151

Acidentes com animais peçonhentos Animais peçonhentos são aqueles que possuem glândulas de veneno que se comunicam com órgãos inoculadores, como dentes ocos, ferrões e aguilhões que injetam o veneno de maneira ativa, como ocorre com serpentes, aranhas, escorpiões, lacraias, abelhas, vespas, marimbondos e arraias. Diferentemente, existem os animais venenosos. Animais venenosos são aqueles que produzem veneno, mas não possuem um aparelho inoculador. Provocam envenenamento de maneira passiva, por contato (taturana), por compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu). Em razão do risco e gravidade, os acidentes causados por animais peçonhentos são mais preocupantes em relação aos acidentes causados por animais venenosos, pois são considerados graves, principalmente quando acometem crianças e adultos maiores de 50 anos. O perfil epidemiológico desses acidentes se mantém inalterado ao longo dos anos. São mais frequentes em pessoas do sexo masculino, em trabalhadores rurais, na faixa etária de 15 a 49 anos. Atingem principalmente os membros inferiores e a maioria desses acidentes é atribuída às serpentes do gênero Bothrops. Dentre as espécies, a jararaca é a que determina a maior parte dos acidentes, fato que se harmoniza com a abundância em que é encontrada e com a distribuição geográfica na América do Sul.

A preocupação com o envenenamento por picada de cobra e a busca pelo tratamento é muito antiga. Porém, foi no início do século XX que, no Brasil, o médico Vital Brazil criou os soros específicos para nossas espécies venenosas, na então Fazenda Butantan. A partir de 1901, com a criação do Instituto Butantan e a produção de soro equino contra o veneno das serpentes brasileiras, Vital Brazil passou a distribuir, junto com o soro, o Boletim de Acidente Ofídico. Com a notificação dos óbitos por acidente ofídico em cada município, traçou o perfil das pessoas acidentadas, a área do corpo acometida e o tipo de serpente envolvida nesses acidentes.

Atualmente, o soro produzido no Brasil é adquirido pelo Ministério da Saúde e fornecido gratuitamente aos serviços de saúde em todo país. No Estado de São Paulo, o Instituto Butantan foi pioneiro na criação da vigilância epidemiológica desse tipo de agravo à saúde, ainda no segundo semestre de 1981. Estas informações motivaram a instituição do Programa Nacional de Ofidismo, em junho de 1986.

Existem pelo menos quatro sistemas de informação que tratam do registro de acidentes por animais peçonhentos: o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), o Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), o Sistema de Internação Hospitalar (SIH-SUS) e o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM).

As ocorrências desses acidentes devem ser notificadas. Os acidentes considerados de relevância em saúde pública, devido ao alto risco e frequência de acontecimento, são associados às picadas por serpentes, aranhas e escorpiões. Na ocorrência do acidente, não há um tempo limite para tratar uma pessoa picada por animal peçonhento. No entanto, a rapidez e agilidade no atendimento é um fator determinante para a boa evolução dos casos. Em acidentes ofídicos, verifica-se que de 6 a 12 horas após a picada aumentam os riscos de complicações, por isso, é importante que a vítima seja levada ao serviço de saúde para avaliação. 149


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.