A gramática da frase em português

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Gabriel de Ávila Othero

Lemle (1984: 130) também concorda com a postulação da projeção máxima adverbial: “um advérbio pode ter complementos, e um advérbio mais os seus complementos perfaz um sintagma adverbial”. Diversas outras propostas de descrição gramatical igualmente propõem a existência do sintagma adverbial, como Jackendoff (1977), Huddleston (1984), Quirk et al. (1985), Aarts & Haegeman (2006), etc 40. Adotamos o advérbio como núcleo de uma projeção máxima em trabalhos anteriores (Othero, 2006; Menuzzi & Othero, 2008) e continuaremos a fazê-lo aqui. Em resumo, adotaremos estes cinco núcleos lexicais, N, P, A, V e Adv, cada um deles com sua projeção máxima, NP, PP, AP, VP e AdvP. Antes de prosseguir, seremos obrigados a fazer um mea culpa: não iremos nos aprofundar na definição exata de cada um desses núcleos lexicais. Acreditamos que um estudo que pretenda definir cada uma dessas classes gramaticais por si só poderia trazer trabalho suficiente para render um livro 41. Por isso, seguiremos o consenso entre os estudos gramaticais do português sempre que possível e adotaremos as definições que encontramos ali. Quando lidarmos com casos problemáticos (como nas seções 4.3 e 4.4, em que trataremos do sintagma preposicional e do sintagma adverbial, respectivamente), faremos algumas escolhas, tomaremos algumas posições e argumentaremos em favor delas. O mesmo irá valer sobre os núcleos funcionais de que falaremos a seguir. Os núcleos funcionais têm função essencialmente sintática e não subcategorizam seus complementos 42. Na verdade, em nosso trabalho, a distinção entre núcleos lexicais e núcleos funcionais não será relevante. O importante é estipularmos quais tipos de núcleos e de projeções máximas iremos adotar na descrição dos sintagmas e da sentença em português e justificar sua importância com a descrição sintática que iremos apresentar. Uma projeção máxima que utilizaremos em nossas análises será a projeção máxima do DP, o sintagma determinante (do inglês determiner phrase), projeção máxima do núcleo determinante. Desde o final da década de 1980, graças principalmente ao trabalho de Abney (1987), o antigo NP passou a ser entendido como uma projeção do 40

Winograd (1983: 53) também “aceita” o advérbio como categoria gramatical legítima na língua (inglesa), ainda que com uma advertência: “[o advérbio] é a sobra entre as categorias (leftover category) – qualquer coisa que não se encaixa em outra classe recebe o nome de advérbio”! 41 O assunto da categorização das classes de palavras é tratado por diversos autores – para uma introdução ao problema, ver Assunção (2001), Azeredo (2001), Perini (2003, 2006) e Aarts & Haegeman (2006); para um estudo linguístico pioneiro em português do Brasil, ver Câmara Jr. (1970); para uma tentativa bastante ampla e interessante, ver Perini (1989, 2000). 42 Uma diferença interessante entre núcleos lexicais e funcionais tem caráter semântico: de acordo com Glanzberg (2008), os núcleos funcionais não podem ser interpretados metaforicamente, enquanto os núcleos lexicais podem.

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