Nº 183, Novembro 2008

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28 / EDUCAÇÃO e cidadania

Cinema lança olhares sobre possíveis fraudes nas eleições americanas 1. Documentários e filmes críticos às eleições presidenciais ganham espaço nos EUA Durante a campanha eleitoral nos Estados Unidos proliferaram nos canais de televisão, internet, cinema e lançamentos de DVDs documentários e filmes denunciando injustiças em votações que envolvem a Casa Branca. O «Documentary Channel» exibiu pela primeira vez na TV americana o longa “How Ohio Pulled It Off”, que coloca o dedo na ferida da contagem duvidosa em Ohio no ano de 2004, que garantiu a reeleição do presidente George W. Bush. O documentário é marcado pelos vídeos ‘amadores’ feitos por cidadãos ou jovens cineastas e disponibilizados em blogs ou no portal Youtube, que ganham audiência graças ao boca-a-boca e às correntes de mensagens electrónicas. Sem espaço nos canais abertos, estes longas encontraram refúgio na TV por cabo. O canal HBO estreou recentemente “Recount”, filme feito para a televisão que foi aplaudido pela crítica por reviver na ficção as negociações nos bastidores para dar a vitória ao presidente Bush em 2000. Em “How Ohio Pulled It Off”, que acaba de sair em DVD, “a ideia foi não apenas denunciar o que estava a acontecer, mas fazer os espectadores entenderem que somente participando e vigiando o poder é possível mudar o estado da democracia nos Estados Unidos”, disse à AFP Mariana Quiroga, uma venezuelana nascida na Argentina, co-directora do longa com Matt Kraus e Charla Barker. O trio terminava o curso de cinema em Ohio quando decidiu rodar um documentário, mas com outra ideia: o contacto com as ruas obrigou-os a transformar o projecto numa denúncia. “A princípio pretendíamos fazer um ‘doc’ para saber porque é que as pessoas decidiram votar em Bush, mas quando saímos para conversar com as

pessoas nas ruas, elas diziam-nos que não haviam votado nele e que não entendiam como ele havia vencido”, conta Quiroga. “Nunca imaginámos a dimensão da fraude, nem sabíamos que havia existido uma fraude. Para nós foi também um processo de descoberta. Eu, mesmo sendo latina e tendo experiência em coisas deste género, nunca imaginei o nível de corrupção do Governo dos Estados Unidos”, afirma. Este episódio eleitoral de 2004, tratado em publicações liberais e abordado várias vezes por Robert Kennedy Jr., também foi ressuscitado este mês pelos criadores do desenho “Os Simpsons”. No portal Youtube já ganhou fama o episódio que deve ser exibido em 2 de Novembro, dois dias antes das eleições. No episódio, com o título “Homer Simpson tenta votar em Obama”, o patriarca da família mais ‘disfuncional’ da TV americana lembra justamente o ocorrido em Ohio, quando, diante da máquina de votação, tenta votar no democrata Barack Obama, mas o seu voto foge automaticamente para o

republicano John McCain. O produtor de “Os Simpsons”, Al Jean, afirmou ao jornal «Orlando Sentinel» que este episódio pretende fazer um “comentário sobre as irregularidades do sistema de votação”. Com ironia, sarcasmo e tom académico, os directores criticam o papel dos meios de comunicação de massa e vêem nos seus trabalhos uma forma de mostrar o outro lado dos factos. 2. Festival de Londres começa com estreia mundial de “Frost-Nixon” O Festival de Cinema de Londres começou com a estreia mundial de “Frost-Nixon”, baseada nas históricas entrevistas do apresentador britânico Sir David Frost com o ex-presidente americano Richard Nixon, cujo lançamento coincide com a disputa pela Casa Branca. O longa-metragem escolhido para a 52ª edição do festival é uma apaixonante recriação, repleta de suspense, do duelo entre os dois homens - um dos cara a cara mais extraordinários na história moderna -, no qual Nixon ad-

mitiu pela primeira vez a sua culpa no escândalo de Watergate. “Decepcionei os meus amigos, decepcionei o país, decepcionei os americanos. E terei que levar este peso para o resto da minha vida”, admitiu Nixon na entrevistas realizadas no verão de 1977, que foram assistidas por mais de 45 milhões de americanos. A estreia do filme dirigido por Ron Howard - baseado na peça de Peter Morgan - contará com a presença dos protagonistas, incluindo Michael Sheen, que encarna Frost, a única pessoa que talvez tenha conseguido tirar, por alguns minutos, a máscara do impenetrável presidente, encarnado por Frank Langella. Além de “Frost-Nixon”, outros 14 filmes terão estreia mundial no festival londrino. Um dos filmes de maior expectativa na mostra cinematográfica é o mais recente do americano Oliver Stone, “W”, sobre o actual presidente americano, George W. Bush.

Paulo Serralheiro/ fonte: AFP

ESCAPAM SEMPRE

Justiça italiana intima ex-militares envolvidos no Plano Condor O magistrado italiano Giancarlo Capaldo intimou 34 ex-militares e civis uruguaios envolvidos em casos de desaparecimento de cidadãos de nacionalidade italiana durante o Plano Condor. No entender do magistrado e da colega, a juíza Luisana Figliola, estão abertos na Itália os processos pelo desaparecimento de pelo menos 25 pessoas de nacionalidade italiana na Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai durante as ditaduras ocorridas nesses países. A “Operação Condor” foi aplicada nos anos 70 e 80 pe-

a página da educação · novembro 2008

los regimes militares da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai para eliminar os oposicionistas. A “Operação Condor”, que deixou centenas de vítimas desaparecidas, nasceu durante a Primeira Reunião de Trabalho da Policia Política Nacional, realizada em Santiago, entre 25 de Novembro e 1 de Dezembro de 1975, segundo a documentação acumulada em investigações. O promotor da iniciativa foi o então coronel Manuel Contreras, fundador da DINA, a polícia política da ditadura do general Augusto Pinochet, mas o plano também

contou com o apoio de agentes dos Estados Unidos. “A Operação Condor representou um esforço cooperativo de inteligência e segurança entre muitos países do Cone Sul para combater o terrorismo e a subversão”, assinala um relatório desarquivado pela Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos, no dia 22 de Agosto de 1978. Como parte do processo, a justiça italiana já decretou ordens de detenção contra mais de 100 ex-militares e civis das ditaduras da região, entre eles a do capitão de fragata Jorge Tróccoli, que reside na Itália desde

Outubro do ano passado. Numa carta aberta publicada no site web www.envozalta.org, o ex-coronel Ernesto Ramas, condenado a prisão mas internado num hospital por alegados problema cardíacos, considerou que a carta do magistrado italiano “é um procedimento totalmente irregular” e “mais um acto desta tragicomédia montada contra a Instituição Militar, em particular o Exército”, uruguaio. JPS/ com: AFP


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