Nº 181, Agosto/Setembro 2008

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DA CRIANÇA / 39

Trigo limpo

Lucros de prostíbulo de luxo duplicaram com a chegada do Papa à Austrália! Uma casa de prostituição australiana que passou a oferecer descontos especiais por ocasião da visita do Papa Bento XVI a Sydney, informou dias depois da chegada do Papa que os seus lucros tinham duplicado desde a chegada do Sumo Pontífice ao país. A proprietária do «Xclusive», um bordel luxuoso, contou à AFP que teve de contratar um número suplementar de trabalhadoras do sexo para poder atender ao grande aumento da procura por ocasião das XXIII Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), que atraiu milhares de jovens católicos de todas as partes do mundo à Austrália. Apesar de assegurar que os peregrinos não eram o seu objectivo, o desconto especial de 10 por cento dado ao pessoal associado às JMJ, incluindo os 3.000 a 5.000 jornalistas que cobriram a visita papal, fez com que a procura e os lucros do estabelecimento aumentassem consideravelmente. “As nossas meninas andaram muito ocupadas”, acrescentou, empolgada. Sempre que a Austrália acolhe um grande evento, do Campeonato do Mundo de Râguebi em 2003 até à reunião da cimeira da Associação de Cooperação Económica Ásia Pacífico (APEC), a indústria do sexo local regista um “boom”. Desta vez, o sector voltou-se todo para os milhares de peregrinos, australianos e estrangeiros, esperados em Sydney durante os seis dias da celebração do encontro dos católicos entre 15 e 20 de Julho. “Quando o Conselho Mundial de Igrejas realizou o seu congresso em Camberra, nos anos 90, este foi o melhor período da história para a nossa indústria do sexo”, explicou a assessora do «Xclusive», Bondi Junction. “Evidentemente não promovemos os nossos serviços, não distribuímos a nossa publicidade, dentro das comunidades católicas locais e é pouco provável que recebamos padres. Mas há muita gente vinda de fora na cidade”, disse ainda Junction. A proximidade do seu bordel dos lugares onde serão realizados os actos mais importantes, como a missa final do Papa, com um número estimado de mais de 500.000 assistentes, atrai os clientes para os serviços do «Xclusive», segundo ela. Emma, uma das trabalhadoras do sexo do «Xclusive», antecipava, esperançosa, que muitos dos que deverão procurar o lugar são virgens. “Acho que estas Jornadas Mundiais da Juventude nos darão muito trabalho. Vai haver muitos clientes querendo estrear o sexo e também muitos homens de negócios”, destaca. A associação Eros, que agrupa a indústria australiana para adultos, tinha previsto que os prostíbulos ¬— que neste país são legalizados — e as sex-shops registariam uma clientela maciça durante este acontecimento católico. “Conhecemos bem o tipo de pessoa que frequenta prostíbulos ou lojas para adultos. Muitas delas sentem-se culpadas por questões ‘religiosas’, explicava o assessor da Eros, Robbie Swan. “A nossa indústria vende o ‘fruto proibido’”, ironizava, por fim. JPS-Pagina / fonte: AFP

Amor fraterno Para a minha irmã Blanquita, no dia do seu aniversário. Não sabia. Não sabia que ias nascer. Foi uma surpresa. Fiquei surpreendido. Sempre tinha sido o único menino da casa, o único neto da tantos avôs e avós, o sobrinho único, quase como é dito por aí, o Unigénito. E, sem saber porquê, às tantas, de um dia qualquer, apareceste tu. Pequena e rechonchuda, toda branca e a dormir, a dormir, sempre a dormir. A mãe já não era apenas, só para mim, era para ser partilhada. Com o pai, quando aparecia das suas cumpridas ausências que a sua profissão o obrigava, esses poucos dias, doravante, eram para ser partilhados entre ele e, desde esse dia, nós. Não sabia que os meus brinquedos eram também para esse bebé calado, essa nova pessoa da família que nem jogar sabia. Sabia, dormir e comer, comer e dormir. Nem chorava, estava sempre calada. Como se tivesse nascido com a sabedoria que a caracterizaria na vida adulta. Como se soubesse que antes de falar, é preciso pensar. Como se soubesse que era melhor ficar num canto que salientar-se e mostrar a sua presença. Ficar num canto, é não resmungar, é não tentar lucrar, é ser amável com os outros ensinando-os a viver. Tarefa difícil para todo ser humano. Ensinar a viver cria quase uma dependência de nós para quem sabe, e, às vezes, ao contrário: é preciso ter alguém que dependa de nós para sermos capazes de subsistir. Esse bebé tinha um cordão umbilical imenso, que a estava a asfixiar. O seu nascimento teve que ser apressado e adiantado. Foi “nascida” vários dias antes da data esperada. Cordão umbilical que não a asfixiou, embora fosse tão cumprido, que até o dia de hoje existe e faz parte da sua pessoal existência. Tão cumprido, que todos dependemos dela, até para poupar a nossa vida e poupar os poucos tostões que temos, ou cêntimos hoje em dia, na economia globalizada do euro e dos Bush, após a derrota aceite com paciência de Al Gore. Um Al Gore que tinha ganho a eleição, como comentava com a minha irmã mais tarde na vida, mas como nada ambicionava, afastou-se da vida pública, dedicou as suas ideias

a proferir verdades inconvenientes, que o levaram ao Prémio Nobel da Paz em 2007, na sua luta para estabilizar a vida do planeta. Como a minha irmã, sem actividade pública aparente, mas com muita serenidade e poder silencioso, a comandar os Hospitais da sua Região, tantos quantos eles são. Com calma e sabedoria, com essa serenidade que eu já tinha observado desde o berço. Calma e sabedoria que não lhe têm entregue o Prémio Nobel, mas sim o reconhecimento público da cidadania que ela acompanha com o seu senhorio no comando dos Hospitais sob a sua direcção. No dia do seu aniversário deve-se esconder do mundo, pelos elogios, pelos presentes, pelo cansaço que é estar a dizer sempre muito bem, muito obrigado. Desde muita nova foi a minha companheira de brincadeiras e carinho. Temido estava o facto de ser filho unigénito , donde, primogénito, adquirido por ter nascido primeiro e por ter aprendido a ler e escrever antes, e por ser o muito esperado filho único, durante imensos anos. Bebé, que no seu amor materno, a senhora nossa Mãe me ofereceu como presente, agarrei-o e nunca mais o larguei. Sorte a minha. Passámos juntos não apenas a vida de estudantes, partilhámos os nossos amores secretos, adivinhávamos sem falar, quem amava a quem, e eu, como irmão mais velho, era-me devido trazer para casa aos meus amigos e colegas para ela seduzir ou não conforme ela mais simpatizasse. Foi assim, ela casou e foi mãe, ao levar para casa o melhor amigo que tenho tido na vida, hoje meu cunhado e compadre. Se a minha irmã era calma e serena, ficou não apenas em êxtase, como em Teorema de Passolini , bem como arrebatada. Sorte a minha desse bebé ter nascido. O amor fraterno é respeito, distância, silêncio, comunicação, apoio quando necessário. E, mais importante, compreensão de ida e volta. Obrigado aos nossos Senhores Pais, pelo lindo presente que me ofereceram para toda a vida. Raúl Iturra ISCTE/CEAS/Amnistia Internacional/SPA lautaro@netcabo.pt

Escrito no dia do aniversário dessa minha irmã, 8 de Julho de 2008. Dois dias antes dos aniversários do nosso Senhor Pai. Português fixado Por Ana Paula Vieira da Silva, como é habitual.

a página da educação · agosto / setembro 2008


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