Etienne de Fay port (1)

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Biblioteca do Monastério de Saint‐Jean de Amiens, desenhada por Etienne de Fay

Etienne de Fay (1669-1747?) - O Primeiro Professor Surdo. A versão mais conhecida da história da educação de Surdos da França insiste em afirmar que Jacob Rodrigues Pereira como o primeiro professor deste país. Na metade do Século XVIII (em 1749), Rodrigues Pereira, que era ouvinte e havia estabelecido em Burdeos uma instituição para educar as crianças surdas, fez uma série de apresentações públicas com o jovem surdo Azy d´Etavigny, seu aluno por vários anos, o qual havia ensinado a falar. O menino era versado em ciências e letras. O êxito das apresentações, realizadas na Academia Real Francesa, garantiu fama e reconhecimento a Rodrigues Pereira, que empenhou em ser reconhecido como o primeiro professor de surdos da França. Essa fama foi mantida por muito tempo, e sustentada por alguns até hoje. Mas ao final do Século XIX, Denis Teophile, um funcionário do ministério do interior francês, cujo cargo estava à administração da Escola de Paris (a mesma fundada pelo Abade L´Epée em 1771), se dedicou a estudar os arquivos da instituição e encontrou numerosas referencias a um monge surdo, Etienne de Fay, que havia dado aula para crianças surdas na cidade francesa de Amiens, muitos anos antes de Rodrigues Pereira e Michel de L´Epée. Denis Teophile publicou vários artigos com essas informações. Um deles publicado em 1887, “Etienne de Fay, primeiro instrutor dos surdos e mudos na França”.


Um dado muito interessante revelado por Denis era que Azy d´Etavigny, o prodígio mostrado por Rodrigues Pereira, havia sido aluno de Etienne de Fay por muitos anos, ao qual havia ensinado a língua de sinais. Etavigny não foi o único aluno do monge. Outros nomes de Surdos conhecidos nessa época estavam entre eles. De este modo, temos o primeiro professor Surdo, não somente da França, mas do mundo (o que se sabe até agora) foi na realidade este monge Surdo Etienne de Fay, que na primeira metade do Século XVIII dava aula para crianças Surdas no monastério de Saint‐Jean de Amiens. A vida de Etienne de Fay São escassas as referencias existentes que permitem afirmar que Etienne de Fay nasceu surdo, sendo de uma família rica, foi entregue aos cinco anos de idade aos monges da Abadia Saint‐Jean de Amiens. Esta ordem religiosa tem estreitos contatos com os da ordem cisterciense, o que permite então, pensar que a comunicação com sinais não era usual em Amiens. Os monges fazem votos de silencio e desenvolveram em signos uma rica língua de sinais. É certo que Etienne de Fay recebeu dos monges uma ótima educação e se destacou como expert em diversas matérias. A ele se referiu um jesuíta chamado padre André, que o conheceu, como: (…) O surdo-mudo sábio de Amiens, que junto à arte da leitura e da escrita

também

tem

conhecimentos

de

aritmética,

geometria

euclidiana, mecânica, desenho, arquitetura, historia religiosa e historia do mundo, especialmente da francesa (André 1766) (tomado de Truffaut 1993:15)

O certo é que de Fay esteve por 25 anos dedicados a prover o monastério quando necessitava de coisas do exterior do monastério, especialmente de livros (a coleção reunida sobre sua direção era muito respeitada em seu tempo). Desempenhava o trabalho de bibliotecário, procurador e arquiteto do monastério. Relatos da época assinalam que o monge não falava, mas que se comunicava com seus companheiros através de


uma língua de sinais. Quando recebia visitas, ou quando tinha que dirigir trabalhos fora do monastério, levava outro monge consigo, como intérprete. Em 1712, Etienne de Fay recebeu o encargo de reconstruir partes do monastério e remodelar outras. O trabalho, que durou dois anos e foi dirigido totalmente por de Fay, mereceu muitos louvores em seu tempo. Outro cronista da época, o monge Postel (do mesmo monastério de Fay), relata as impressões do bispo de Amiens acerca do trabalho. O bispo era da opinião de que o monastério era: O edifício mais bonito da aldeia. E quis conhecer o procurador, o monge de Fay, para convencer-se por si mesmo das coisas boas que se diziam acerca dele; e depois que o bispo foi reconhecido pessoalmente os serviços e as habilidades de Fay, não se contido para dizer que tínhamos entre nós um verdadeiro milagre (Postel 1718, tomado de Truffaut 1993:17)

Etienne de Fay tornou-se conhecido, na imaginação popular, como o velho surdo-mudo de Amiens. Muito tempo depois de sua morte, quando já nada recordava seu nome, continua tendo em Amiens a memória daquele velho Surdo. O ano preciso de sua morte não se conhece, porém supõe-se, por algumas referencias que não ocorreu antes de 1747. Os poucos dados disponíveis assinalam que Etienne de Fay dava aula para ensinar as crianças surdas no monastério. Não se sabe quanto tempo se dedicou a eles, mas suas aulas eram em língua de sinais, e que ensinava as crianças com muitas e diversas matérias. Não se tratava de classes abertas a quem necessitava, mas de cursos reservados a aquelas crianças surdas, varões cujos pais podiam custear a educação em um monastério.1 Representavam sem embargo, um avanço importante. Azy d´Etavigny foi um de seus alunos. O menino permaneceu ao menos oito anos com o monge, para que seu pai, seduzido pela fama de Rodrigues Pereira e sua promessa de ensinar as crianças a falar, o enviou a 1

Em tal sentido deve haver um reconhecimento a Rodrigues Pereira, cuja escola em Burdeos era relativamente mais solidária, pois estava aberta a todos os meninos surdos que chegavam, sem discriminar e se tinham os meios para sua permanência ali. Em sua escola, os meninos ricos recebiam uma educação mais dedicada, porém os pobres tinham garantido um curso básico de menos anos (15 meses), nos quais aprendiam o básico para sobreviver por sua conta (entrada correspondente a “Rodrigues Pereira”, em Wikipédia (versão alemã)).


Burdeos. Bernard Truffaut, um historiador Surdo francês, interpreta as poucas referencias da época para afirmar que o jovem Azy d`Etavigny havia recebido sua formação intelectual com Etienne de Fay, e que Rodrigues Pereira não fez nada além de tirar proveito da formação que de Fay, e que havia procurado o menino para apresentar seu caso como êxito de seu método. Alejandro Oviedo Berlín, 13 de julho de 2006. Fontes Lane, H. (1984) When the Mind hears. Nueva York: Pelikan Truffaut, B. (1993) Etienne de Fay und die Geschichte der Gehörlosen. Em: Fischer, R. y H. Lane (eds.) Blick Zurück. Hamburgo: Signum, págs. 13‐26. Wikipédia (página alemã): Historia dos Surdos. Visitada em 11 de julho de 2006. http://de.wikipedia.org/wiki/Geschichte_der_Geh%C3%B6rlosen_Teil_II Wikipédia (página alemã): Jacob Rodrigues Pereira. Visitada em 13 de julho de 2006. http://de.wikipedia.org/wiki/Jacob_Rodrigues_Pereira Wikipédia (página alemã): Praemonstratenser. Visitada em 13 de julho de 2006. http://de.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A4monstratenser


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