Monotipia18

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quadrinho e pulam pro outro... e assim a produção do quadrinho passa a lembrar um pouco a produção da ilustração digital, com esse processo de criação que parece um grande diálogo constantemente aberto que uma hora vai ganhando uma forma mais coerente e finalmente se fecha numa obra final. No caso da criação de tiras o processo é um pouco diferente. Costuma ter um trabalho mental mais pesado. Tenho dificuldades em fazer formatos curtos e normalmente começo criando uma história maior e vou cortando e retirando os excessos até ter uma tira curta e redonda. O “timing” da tira é minha maior dificuldade; as vezes uma palavra ou desenho a mais que sobra no lugar errado já tira a naturalidade do quadrinho. Tem sido um desafio e espero ir melhorando aos poucos nesse formato mais curto; admiro bastante quem lida bem com ele.

MT: Sobre a série de quadrinhos que você vem produzindo, quais

são as preocupações plásticas que norteiam sua feitura? GM: Acho que estou em um momento de avaliação e balanço do meu trabalho. Até o momento atual, eu tinha a seguinte preocupação com os quadrinhos para a web: encontrar um formato que me permitisse contar as histórias no ritmo em que vou tendo as minhas idéias. Que fossem 1, 2, 3 histórias por mês: eu não queria apenas cair na armadilha de começar a trabalhar em uma história que me tomasse 4, 5 meses de produção. Nesse sentido, boa parte dos quadrinhos que criei até agora vieram, ao menos no aspecto técnico, de uma preocupação muito prática de adquirir um traço que me permitisse contar histórias com boa fluidez. Esse processo foi refinando com o passar dos meses e é possível perceber a diferença do traço, por exemplo, de “Privilégios” que foi feita em 2010 até “Mulheres e Pescadores” que foi feita em 2012. A paleta de cores foi ficando mais apurada mas também mais simples, o traço mais ágil mas também um pouco asséptico, despersonalizado.

Me incomoda o fato de que o leitor passa cerca de 5 ou 10 minutos lendo o que eu faço, e não consigo me imaginar passando meses de trabalho em algo que é consumido tão rápido. Prefiro dizer pequenas coisas relevantes aos poucos que dizer uma grande coisa relevante a cada vários meses ou anos. Talvez adquirindo mais maturidade como quadrinhista eu mude esta postura - mas, ao menos durante este período de experiências e aprendizagem, tenho prezado este processo mais acelerado. Confesso no entanto que cheguei em um ponto em que sinto que talvez tenha esgotado um pouco das possibilidades desta fórmula que fiquei tanto tempo procurando e lapidando. Sinto falta que o traço conte, também, alguma história. Sinto falta de materialidade, de rabisco, de nuance, de sujeira. Sinto falta da falta de controle. O excesso de controle e eficiência parecem matar um tanto da carga subjetiva de um trabalho. De alguma forma, devo trabalhar


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