Fitosíntese - julho 2022

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Edição nº 16 julho de 2022

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A revista para quem pensa a agricultura.

Fito_Entrevista: João Cardoso Novo Diretor Executivo da ANIPLA

Fito_Tema: 30º Aniversário ANIPLA Entrevistas com 3 gerações de empresários: António Rios Amorim Sandra Tavares da Silva Henrique Regalado

www.anipla.com

3O anos a pensar a agricultura

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

nº16

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Fito_Entrevista

6 Fito_Notícias

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João Cardoso Diretor Executivo da ANIPLA

Fito_Tema

30º aniversário ANIPLA Campanha ‘30 anos, 30 factos’

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Fito_Global

Alimentos consumidos na UE são seguros

Fito_Factos

35 Ficha técnica Propriedade: ANIPLA- Associação Nacional da Indústria para a Protecção das Plantas Rua General Ferreira Martins Nº 10 – 6ºA 1495-137 Algés . Portugal Tel.: +351 214 139 213 . e-mail: ANIPLA@ANIPLA.com Diretor: João Cardoso Coordenação Editorial: Mónica Onofre e Nélia Silva Projeto Gráfico e Paginação: Musse Ecodesign Estatuto Editorial A FitoSíntese é uma publicação que visa divulgar a atividade da ANIPLA, as suas opiniões e posicionamento face a questões relevantes do sector fitofarmacêutico e da Agricultura em geral. A FitoSíntese pretende ainda dar a voz a entidades e/ou personalidades que tal como a ANIPLA Pensam a Agricultura como um setor de futuro. A reprodução total ou parcial dos conteúdos publicados é expressamente proibida sem a autorização escrita da ANIPLA. www.ANIPLA.com

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In_ANIPLA IV Jornadas de Homologação de Produtos Fitofarmacêuticos


Editorial Reforçar o foco da ANIPLA No passado mês de março, a ANIPLA elegeu os seus órgãos sociais para o triénio 2022/2024. A atual direção, reeleita por mais 3 anos, mantém o seu empenho em lidar e responder de forma eficaz aos importantes desafios, inerentes ao atual e futuro enquadramento nacional e europeu e que passam por temas como Pacto Ecológico Europeu (Estratégias da Biodiversidade e do Prado ao Prato, Regulamento para o Uso Sustentável dos Produtos Fitofarmacêuticos), Segurança Alimentar (Guerra na Ucrânia), alterações climáticas, entre outros. Estes exigentes contextos levam-nos também a repensar e a reforçar o foco de organizações como a ANIPLA e o Valorfito com o objetivo de tornar a sua ação mais dinâmica, eficaz e mais adaptada às necessidades de resposta de um setor fundamental para a sustentabilidade da nossa agricultura, como é o setor da proteção das plantas.

A crescente atividade do Valorfito, resultado do seu enorme sucesso, e a necessidade de alargar o seu âmbito a novos fluxos agrícolas, requer uma maior dedicação e disponibilidade do Diretor Geral, Eng.º António Lopes Dias, que até agora repartia a sua função com a Direção Executiva da ANIPLA. Por essa razão, e também pela crescente ambição da ANIPLA de reforçar o seu contributo para a solução e transformação necessária da Agricultura, foi nomeado um novo Diretor Executivo – Engº João Cardoso, que vai liderar e implementar a estratégia da Associação para o próximo triénio. Aproveito este momento para, mais uma vez, agradecer e reconhecer o excelente trabalho que o Engº António Lopes Dias desenvolveu na ANIPLA enquanto Diretor Executivo nos últimos 9 anos, e desejar as maiores felicidades ao Engº João Cardoso nesta sua nova função. A todos desejo uma excelente leitura desta que é a Revista Semestral da ANIPLA!

Felisbela Torres de Campos Presidente da ANIPLA

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Fito_Factos

-40% 6,3% -21% 25%

Redução das vendas de produtos fitofarmacêuticos em Portugal entre 2016 e 2022, in Relatório de Vendas de produtos fitofarmacêuticos 2020, DGAV, maio 2022

Valor da inflação em Portugal previsto para o ano 2022, devido ao aumento dos preços da energia e dos produtos alimentares. in OECD Economic Outlook 2022

As alterações climáticas contribuíram para reduzir o crescimento da produtividade agrícola em 21% desde 1961. In Revista Nature Climate Change volume 11, páginas 306–312 (2021)

Rússia e Ucrânia representam 25% das exportações mundiais de trigo, 15% de milho e 60% de girassol. In “Another perfect strom”, IPES-Food, maio 2022

41.000 M€

Volume de negócios gerado pela bioeconomia em Portugal. Agricultura e Pecuária detêm posição de destaque, representando 60% do volume de negócios gerado e 75% do emprego. In Linhas Estratégicas dos setores de produção primária no contexto do desenvolvimento da Estratégia Nacional para a Bioeconomia Sustentável 2030, GPP, janeiro de 2021

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828 796.876 ton

milhões A fome afeta 828 milhões de pessoas em todo o mundo, o equivalente a 81 vezes a população de Portugal. Desde o início da pandemia da Covid 19, há mais 150 milhões de pessoas com fome no mundo. In relatório da ONU ‘O estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo”

volume de milho importado por Portugal com origem na Ucrânia (37% de 2,113 milhões de toneladas de milho importadas por Portugal em 2021).

Países implementaram restrições às exportações agrícolas, na sequência da guerra na Ucrânia, afetando 18% do comércio agroalimentar mundial e contribuindo para a escalada dos preços dos alimentos. In AMIS Market Monitor Nº99, junho 2022

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28.000 M€

Valor do comércio agroalimentar da UE em Janeiro de 2022, mais 25% do que em janeiro de 2021, e mais 16% em relação à média dos últimos três anos. In Monitorização do comércio agroalimentar da UE - desenvolvimentos em janeiro de 2022

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Fito_Notícias O Regulamento do Uso Sustentável dos produtos fitofarmacêuticos deve adotar a inovação como seu principal facilitador A Comissão Europeia publicou em 22 de junho último a Proposta de Regulamento sobre o Uso Sustentável de Produtos Fitofarmacêuticos, que se encontra em consulta pública até 19 de setembro. A ANIPLA assumiu posição pública sobre a proposta defendendo que as metas de redução do uso e do risco de PFs devem ser exequíveis e realistas, baseadas em estudos de impacto nacional, ter em consideração iniciativas de redução históricas relevantes, bem como as condições agronómicas e climáticas de cada país. Recorde-se que Portugal foi o segundo Estado-membro da UE com maior redução de consumo de PFs, entre 2011 e 2016, com uma diminuição de 30% nas vendas, segundo um relatório recente do Eurostat. As metas de redução devem igualmente ponderar se existem alternativas disponíveis, eficazes, seguras e acessíveis, a fim de garantir a manutenção e o reforço da caixa de ferramentas de proteção das culturas para os agricultores. A inovação deve ser o principal capacitador do Regulamento e a adoção de soluções de agricultura digital e de precisão, bem como os biopesticidas e outras tecnologias, deve ser explicitamente incen-

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tivada e apoiada no novo Regulamento ou através de outros instrumentos complementares, a fim de permitir que os agricultores da UE trabalhem com êxito no sentido de alcançar as metas de redução propostas. A ANIPLA considera ainda que a Proteção Integrada (PI) deve continuar a ser a pedra angular do futuro Regulamento, mas alerta que as estratégias de PI devem ser flexíveis e capazes de se adaptar às diversas condições agronómicas locais e incentiva a Comissão Europeia (CE) a disponibilizar uma base de dados centralizada na UE para todas as estratégias existentes de PI. A Indústria encoraja a CE a desenvolver indicadores complementares aos indicadores de risco harmonizados existentes (IHR), devendo esses indicadores adicionais levar em conta as situações agronómicas específicas de cada Estado-membro. A ANIPLA entende que este Regulamento é uma oportunidade para contribuir para um abastecimento alimentar ainda mais seguro e sustentável na UE e está disponível para, em cooperação com os organismos europeus e nacionais, trabalhar em prol de uma atividade agrícola cada vez mais segura, que respeita o ambiente e que assegura as necessidades de todos os cidadãos.


Fito_Notícias

Presidente da ANIPLA participou na celebração do Dia Internacional da Sanidade Vegetal

O Dia Internacional da Sanidade Vegetal foi celebrado a 12 de maio numa cerimónia-debate organizada pelo Ministério da Agricultura e Alimentação, no Auditório Municipal Casa da Música, em Óbidos, com a participação de autoridades oficiais, agricultores e investigadores. A Presidente da ANIPLA, Felisbela Torres Campos, participou na mesa-redonda ‘A Relevância da Sanidade Vegetal no Plano Estratégico Nacional da PAC’, garantindo que a Indústria está perfeitamente alinhada com as metas das Estratégias do Prado ao Prato e da Biodiversidade e assumiu compromissos claros para 2030: investir 14 mil milhões de euros em inovação, tecnologias digitais, agricultura de precisão e biopesticidas. “O nosso compromisso é trazer inovação ao setor, numa estratégia integrada de uso de todas as ferramentas disponíveis para a proteção das plantas, visando uma agricultura mais sustentável no uso dos recursos e mais resiliente aos efeitos das alterações climáticas, que têm sido um acelerador do aparecimento de novas pragas e doenças, mui-

tas das quais não têm solução à vista”. A Presidente da ANIPLA, alertou, porém que “as metas (de redução do uso e do risco de produtos fitofarmacêuticos) devem ser definidas tendo em conta os condicionalismos agrícolas de cada país, e devem ser fundamentadas por estudos de impacto, mitigando possíveis consequências na competitividade económica do setor agrícola”. Nesta mesa-redonda a Sub-Diretora Geral da Direção Geral de Alimentação e Veterinária, Paula Cruz Garcia, reconheceu que “há a necessidade de transitarmos para a Estratégia do Prado ao Prato e da Biodiversidade, mas espero que as restrições que vão ser colocadas aos agricultores do ponto de vista da proteção fitossanitária sejam devidamente compensadas, porque é preciso compensar a eventual perda de produção pela necessidade de os países terem que reduzir o uso de produtos fitofarmacêuticos, sobretudo os de maior risco. Espero que o agricultor seja apoiado para aplicar técnicas alternativas aos produtos químicos”. Veja aqui o vídeo da cerimónia-debate.

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ANIPLA assinalou o Dia Internacional da Sanidade Vegetal A ANIPLA assinalou o Dia Internacional da Sanidade Vegetal, celebrado pela primeira vez a 12 de maio 2022, com a publicação de um artigo de opinião no jornal ‘Observador”, intitulado ‘Evolução tecnológica e formação de agricultores: juntos, rumo à sanidade vegetal’. António Lopes Dias, à data Diretor Executivo da ANIPLA, questionava: “celebrar a vida, a saúde do planeta e a segurança do que comemos, é ou não, indiscutivelmente, celebrar o papel da ciência e tecnologia ao serviço do planeta?”. Com a agricul-

tura a modernizar-se dia após dia, em prol de um planeta mais seguro e da alimentação sustentável, a formação de profissionais e a sua capacitação para o uso de técnicas cada vez mais eficientes e avançadas é uma constante, e a sanidade vegetal caminha a par e passo com esta necessidade urgente de alimentar uma população que não vai parar de crescer. Reconheceu que é urgente o diálogo sobre a sanidade vegetal, em prol da segurança alimentar, e é inevitável falar de investimento em tecnologia, materiais, suporte e formação que nos levam rumo à sanidade vegetal.

Valorfito evitou a emissão de quase 5.000 toneladas de CO2 em 10 anos

4.792 t CO2 O que corresponde a

12.263 barris 1.668 t

de petróleo

ou

Nos últimos 10 anos de atividade o Valorfito contribuiu de forma inequívoca para a redução da pegada de carbono a nível nacional. Tendo como base o ano 2012, e seguindo os referenciais do programa WARM da EPA (Environmental Protection Agency – USA), que definem as emissões de CO2 equivalente que se evitam com a reciclagem e valorização dos resíduos por oposição à deposição em aterro, para os diversos materiais de resíduos de embalagem, o Valorfito contribuiu, na última década, para que se evitassem as emissões de 4.792 toneladas de CO2 equivalente para a atmosfera. Este valor reflete as 3.704 toneladas de resíduos recolhidos desde 2012, que corresponde a 12.263 barris ou 1.668 toneladas de petróleo, sendo estes valores o reflexo do contributo fundamental do setor agrícola para o combate às alterações climáticas. Outros fatores que contribuem, igualmente, para melhorar a performance do sistema Valorfito relativamente à pegada de carbono, são a otimização logística, quer em termos de recolhas, quer em termos da gestão da capacidade de armazenamento dos pontos de retoma e, por outro lado, as opções de destino final dos resíduos. Estes influenciam bastante o cálculo, uma vez que quantos mais resíduos de embalagens forem reciclados, melhor será o índice de emissões de carbono evitadas.

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ANIPLA celebrou o Dia Mundial da Abelha

A 20 de maio celebrou-se o Dia Mundial da Abelha e a ANIPLA assinalou a data nas redes sociais e com uma ‘Flash FitoSíntese’, lembrando a importância vital destes polinizadores para a preservação do ecossistema e dos sistemas alimentares de todo o mundo. Proteger e preservar as abe-

lhas deve ser uma missão de todos, e em particular do setor agrícola. Várias organizações da fileira agroalimentar têm dedicado especial atenção à conservação dos polinizadores. Conheça aqui 4 projetos inspiradores.

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ANIPLA juntou-se à “Semana da Saúde GPP”

A ANIPLA juntou-se ao Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP) para celebrar a “Semana da Saúde GPP”, na última semana de maio. Esta iniciativa, realizada desde 2013, visa promover práticas de Responsabilidade Social, contribuindo ativamente para a proteção e promoção da saúde dos colaboradores do GPP através de estilos de vida saudáveis.

A ANIPLA participou na caminhada pela cidade de Lisboa, organizada neste âmbito, a 27 de maio, distribuindo fruta e um folheto informativo sobre o estudo de impacto realizado recentemente pela Associação.

ANIPLA desafiou estudantes com prova sobre conservação do solo nas 24H Agricultura Syngenta A ANIPLA participou na 5ª edição das 24H Agricultura Syngenta que reuniu 150 estudantes de 10 universidades e três escolas profissionais agrícolas, a 9 e 10 de abril na Escola Superior Agrária de Santarém. Esta competição formativa desafiou os estudantes a superar os desafios de mais de 30 provas, durante 24 horas consecutivas, sob o tema da Agricultura 4.0.

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A ANIPLA submeteu os concorrentes a uma prova prática sobre proteção e conservação do solo, sensibilizando os futuros técnicos e engenheiros agrónomos para as boas práticas de controlo do escorrimento superficial, através da cobertura do solo com culturas ou resíduos orgânicos, uma das técnicas usadas em Agricultura de Conservação. Os estudantes ficaram ainda a conhecer o projeto TOPPS-


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Boas Práticas Agrícolas para Proteger a Água e a Smart Farm, a quinta inteligente da ANIPLA. As diversas provas, propostas pela organização e pelas 10 empresas e entidades patrocinadoras do evento, visaram ajudar os estudantes a adquirir competências para, como futuros profissionais, contribuírem para uma agricultura alinhada com os desafios da alimentação sustentável e neutra em carbono.

As 24H Agricultura Syngenta são um evento organizado pela Associação Portuguesa de Horticultura, em parceria com a IAAS Portugal- Associação Internacional de Estudantes de Agricultura e Ciências Relacionadas e a SFORI, empresa de formação experiencial. Veja aqui o vídeo

ANIPLA participou na Feira Agrícola dos Açores O Diretor-Executivo da ANIPLA, João Cardoso, participou no workshop ‘Novos desafios na produção de alimentos’, organizado no âmbito da Feira Agrícola dos Açores, que decorreu em São Miguel, de 17 a 19 de junho. No workshop, moderado pelo Diretor Regional da Agricultura dos Açores, Pedro Hintze Ribeiro, a ANIPLA realizou uma apresentação sobre tecnologia e inovação na produção de alimentos, na qual

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explicou os compromissos da indústria fitofarmacêutica europeia até 2030 em inovação e investimento, economia circular e proteção das pessoas e do ambiente. João Cardoso abordou o tema da revisão do Regulamento europeu sobre o uso sustentável de produtos fitofarmacêuticos, defendendo que as metas de redução devem ser exequíveis, baseadas na ciência e precedidas de uma efetiva

avaliação do impacto na competitividade e viabilidade da agricultura da UE. A este propósito recordou o estudo de impacto da redução de aplicação de produtos fitofarmacêuticos na produção vegetal em Portugal, realizado pela ANIPLA, onde se concluiu que as perdas económicas em cinco fileiras agrícolas chave podem chegar aos 326 milhões de euros.

ANIPLA associou-se à Feira Nacional de Agricultura e ao debate sobre Inovação e Tecnologia

A Feira Nacional de Agricultura regressou a Santarém, de 4 a 12 de junho, e a ANIPLA fez questão de se associar a este reencontro do setor agrícola, onde se debatem os grandes desafios da agricultura e da alimentação. Num momento de partilha entre todos os intervenientes do setor, a ANIPLA teve a oportunidade de relembrar alguns dos resultados mais preocupantes revelados pelo seu mais recente estudo de impacto, além

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de participar numa mesa-redonda, organizada pela CAP-Confederação dos Agricultores de Portugal, dedicada ao tema “A inovação como motor para aumentar a procura na Europa”. O Diretor Executivo da ANIPLA, João Cardoso, marcou presença ativa nesta conversa, relembrando a importância de combater a dependência alimentar nacional e de colocar a ciência e a inovação ao serviço do setor agrícola e das suas necessidades.


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ANIPLA visitou a quinta modelo de sustentabilidade Bayer ForwardFarm

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A ANIPLA integrou a visita organizada pela Bayer Crop Science Portugal, no final de março, à ForwardFarm “Hacienda Las Cárdenas”, a quinta modelo de sustentabilidade da Bayer, na Andaluzia. Esta quinta produz uma variada gama de culturas: tomate, trigo, algodão, milho, quinoa, girassol, citrinos e olival, num conceito colaborativo, com agricultores independentes, com vista a um diálogo e partilha de conhecimento sobre agricultura moderna e sustentável. A visita contou também com a presença de um grupo de jornalistas portugueses e teve por obje-

tivo partilhar o aporte de soluções fornecidos pela Bayer para o grande desafio de fornecer alimentos suficientes para um mundo em crescimento, baseando-se em três pilares fundamentais: inovação, sustentabilidade e transformação digital. Um encontro importante para explorar como a inovação aplicada à proteção das culturas, sementes e à agricultura digital contribui para o aumento da produtividade agrícola, reduzindo o impacto no meio ambiente.

Indústria Fitofarmacêutica Europeia pela paz na Ucrânia

A Indústria Fitofarmacêutica Europeia (CLE) está firmemente do lado da paz e desde a primeira hora do conflito armado na Ucrânia afirmou-se chocada com a invasão deste país soberano e desenvolveu várias ações de solidariedade e apoio ao povo ucraniano. Em resposta ao apelo das Nações Unidas para a Ucrânia, a Indústria Fitofarmacêutica Europeia fez uma doação ao Programa Alimentar Mundial

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(PAM) das Nações Unidas para apoiar as operações de emergência do PAM na assistência às pessoas que fogem do conflito dentro da Ucrânia e nos países vizinhos. Várias empresas associadas da ANIPLA, individualmente, juntaram-se a esta onda de solidariedade, contribuindo com doações a organizações internacionais de assistência humanitária.


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Fito_entrevista

“A inovação tecnológica e a formação profissional são as chaves para uma agricultura cada vez mais sustentável.”

João Cardoso, o novo Diretor Executivo da ANIPLA, pensa a agricultura de forma científica, pela lente da Engenharia do Ambiente, e pretende dar continuidade ao trabalho da Associação em prol de uma agricultura cada vez mais sustentável.

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“A eficiência de processos é o caminho para melhorar os aspetos ambientais da agricultura” É formado em Engenharia do Ambiente. Como é que o seu caminho se cruzou com a ANIPLA? Como engenheiro do ambiente sempre gostei de olhar para os desafios difíceis e tentar descobrir uma forma de melhorar as suas questões e problemas. Os temas indústria e agricultura sempre me fascinaram, prendendo-me pela reflexão acerca dos seus complexos aspetos e questões ambientais. A ANIPLA apresentou-se como um desafio que casa estes dois pressupostos, uma indústria que, aos olhos da população geral, tem muitos desafios de comunicação e ao nível técnico tem um mundo de novas tecnologias e boas práticas por explorar e implementar. Assim, abracei a missão ANIPLA com o espírito de dar o meu contributo para melhorar o setor agrícola dentro do âmbito do uso seguro e sustentável dos produtos fitofarmacêuticos. Pensa a Agricultura pela “lente” do Ambiente? É uma mais-valia no seu dia-a-dia profissional? A área das ciências do ambiente faz-me pensar a agricultura de forma científica, sempre na procura de contribuir para um sistema produtivo mais eficiente sob todos os aspetos da sustentabilidade. Não adianta dar muito peso ao pilar ambiental, se os pilares social e económico não estiverem equilibrados, é assim em qualquer projeto ou área de atuação, e a agricultura não é exceção. Assim, sempre procurei ajudar a solucionar as questões sobre a proteção da água, do operador, do solo, da promoção da biodiversidade com a sensibilidade da engenharia do ambiente, aplicando o princípio de que a eficiência de processos é o caminho para melhorar os aspetos ambientais da agricultura. Qual o projeto de que mais se orgulha de ter feito parte na ANIPLA? De todos os importantes projetos em que tenho trabalhado, tenho de destacar a Smart Farm. Ao longo dos últimos 6 anos o projeto Smart Farm foi descrito por alguém como “a minha 2ª casa”, e não foi em

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vão. Juntamente com toda a colaboração da ANIPLA e também da nossa Comissão de Agricultura Sustentável, sem esquecer o nosso parceiro no projeto, a Companhia das Lezírias, foi possível montar uma quinta de demonstração pioneira na Europa, que visa demonstrar a toda as pessoas o que de melhor se faz nas boas práticas do uso seguro e sustentável de produtos fitofarmacêuticos, bem como dos aspetos agroecológicos, tão importantes para manter o equilíbrio ambiental de uma exploração agrícola. Neste projeto, já recebemos visitas de políticos, agricultores, técnicos e escolas. Em breve contará com o seu próximo e muito relevante passo, a Smart Farm Virtual. A agricultura enfrenta grandes desafios – produzir mais com menos recursos, reduzir o uso de produtos fitofarmacêuticos e adubos, proteger o solo e a água, reduzir a pegada ambiental. Como é que a indústria de proteção das plantas pode ajudar na transição para um sistema alimentar mais sustentável? A indústria da proteção das plantas é e continuará a ser um pilar fundamental para o conceito “produzir mais com menos”. Perante o cenário colocado pelo Pacto Ecológico Europeu e pela Estratégia do Prado ao Prato, o setor agrícola será chamado a adaptar-se muito rapidamente a novas exigências. A indústria, neste momento, já se encontra a produzir ferramentas para ajudarem os agricultores a cumprirem estes desígnios, nomeadamente ferramentas de agricultura digital e de precisão, que serão fundamentais para ganhar eficiências na utilização dos fatores de produção, ajudando, por essa via, a melhorar a pegada ambiental do setor. Por outro lado, encontra-se a desenvolver novas soluções de controlo de pragas e doenças, como sejam os biopesticidas, que serão parte essencial da caixa de ferramentas do agricultor. Por último, os produtos fitofarmacêuticos, também eles em constante evolução, não perdem importância, antes pelo contrário, continuam a ser fundamentais para a saúde das plantas, conservação dos alimentos e segurança


Fito_Entrevista

“A Smart Farm Virtual é o próximo passo da quinta modelo de boas práticas agrícolas da ANIPLA”

alimentar, uma vez que assistimos a uma crescente pressão de novas pragas e doenças, derivada das alterações climáticas, interações entre países e continentes, para as quais são necessárias respostas rápidas e eficazes para conseguirmos fazer mais com menos. Estando assim criadas todas as condições para uma plena e aprimorada aplicação dos princípios da Proteção Integrada. Em Portugal as vendas de produtos fitofarmacêuticos reduziram-se cerca de 40% desde 2006. O que é que isto nos diz sobre a nossa agricultura? Mais uma vez estamos perante o avanço científico e a inovação tecnológica, quer da parte dos próprios produtos fitofarmacêuticos, cujos perfis e modos de atuação permitiram uma redução significativa da sua aplicação, quer da parte do setor agrícola, cujas técnicas e formação de técnicos e agricultores permitiram a evolução do conhecimento do setor, melhorando as formas de aplicar produtos fitofarmacêuticos. Daqui tiramos duas conclusões fundamentais, mais do que proibir, a inovação tecnológica e a formação profissional são as chaves para uma agricultura cada vez mais sustentável. A ANIPLA celebra 30 anos de vida. Como é que vê o futuro da associação? Que projetos gostaria de ver implementados? Em 30 anos houve uma evolução muito grande, como já pudemos ver nas respostas anteriores, mas diria que estamos à beira de uma grande modificação do setor da proteção das plantas, como tradicionalmente o conhecemos, com a entrada das novas ferramentas digitais, dos biopesticidas, de sistemas de segurança para o utilizador de PF, as novas técnicas de genómica, a biotecnologia, haverá muitas áreas para as quais a ANIPLA quererá colaborar com os

seus parceiros e dar o seu contributo, quer através de projetos, quer da divulgação de conteúdos, para o setor e para a sociedade, numa dinâmica de comunicação que queremos melhorar. Como imagina a agricultura e a indústria de proteção das plantas daqui a 30 anos? Pelo lado técnico, com a velocidade e capacidade de evolução tecnológica que a que assistimos será um exercício extremamente ambicioso prever como será a agricultura daqui a 30 anos, mas na próxima década consigo prever uma evolução muito grande nas ferramentas de apoio à decisão e de diagnóstico que ajudarão o agricultor a fazer um controlo dos fatores de produção, do uso da água, da gestão do solo com uma eficácia e uma precisão muito elevadas. Pelo lado da aplicação de PF, a tecnologia ao nível dos pulverizadores, dos drones, dos robôs de pulverização avançará no sentido da pulverização localizada e de acordo com a informação de diagnóstico recolhida a priori, ou por sensores que são cada vez mais eficientes na deteção de infestantes e de alvos decorrentes da presença de pragas e doenças. Pelo lado da sociedade, gostaria de ver uma sociedade mais informada e tolerante com o trabalho dos agricultores, reconhecendo-lhes a importância que têm para uma sociedade justa e pacífica, e que os fundamentalismos dessem lugar a uma visão mais pragmática e corretamente informada da produção de alimentos, do seu real impacto ambiental, que diria que está muito enviesado pelas perceções e não pela realidade. É sobre esta visão que queremos alicerçar a ANIPLA, dando continuidade ao trabalho que temos vindo a desenvolver, para uma agricultura e uma visão da agricultura cada vez mais sustentáveis.

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Campanha “30 anos, 30 passos” Em 2022, a ANIPLA assinala mais de três décadas ao serviço do setor e a pensar o presente e o futuro da agricultura portuguesa. 30 anos são inevitavelmente sinónimo de trabalho, investigação, pensamento crítico e transformação, num caminho que tem sido marcado por diversos passos fundamentais para a evolução do setor e dos seus profissionais. Por isso, celebramos 30 anos, com 30 passos marcantes, que ao longo destas três décadas alavancaram positivamente o trabalho da indústria e de todos os envolvidos. Sustentabilidade, Acessibilidade, Segurança, Rigor e Proteção dão o mote à celebração que tem vindo a decorrer ao longo deste ano, e que vai estender-se até dezembro, nas nossas plataformas de comunicação online e offline e através da imagem da ANIPLA. Partilhamos alguns dos 30 momentos mais marcantes para o setor e que impactaram de forma expressiva o seu desenvolvimento. Acompanhe-nos ao longo da viagem “30 Anos, 30 Passos”, semanalmente nas redes sociais, em ANIPLA.pt e www.fitosintese.pt

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1996 Simpósio ANIPLA 1996 (o Simpósio decorreu na ex-Estação Agronómica Nacional, em Oeiras, a 9 e 10 de maio)

3O anos a pensar a agricultura

1996

1992 1992 Constituição da ANIPLA (em pouco tempo a ANIPLA viria a revelar-se um polo de ligação entre os vários parceiros agrícolas, ativamente envolvida na defesa dos interesses da agricultura nacional) PAC 1992 (nesta reforma da PAC iniciam-se os pagamentos diretos aos agricultores, incentivando-os para práticas mais respeitadoras do ambiente, como a Proteção Integrada)

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Criação das medidas Agro-Ambientais (pela primeira vez os agricultores recebem apoios públicos pela adoção de práticas agrícolas amigas do Ambiente)

1998 1998 Contrato de Adaptação Ambiental (a ANIPLA celebrou com o Ministério do Ambiente o 1º Contrato de Adaptação Ambiental, comprovando que as empresas suas associadas já cumpriam a legislação ambiental em vigor)


2001 Dia Mundial da Ciência (o 1º Dia Mundial da Ciência celebrou-se a 24 de novembro de 2001, promovendo o papel da ciência na vida e na alimentação de todos os cidadãos)

2001

2006

2005 2005 Decreto Lei 173/2005 (publicado a 15 de abril de 2005, este diploma legal é a pedra angular do setor, regulando a distribuição, venda, prestação de serviços de aplicação de produtos fitofarmacêuticos e a sua aplicação pelos utilizadores finais)

2006 Início do Projeto ‘Cultivar a Segurança’ (uma iniciativa lançada pela Indústria Fitofarmacêutica Europeia, apoiado e implementado pela ANIPLA em Portugal, teve como principal objetivo sensibilizar para a importância do uso seguro de produtos fitofarmacêuticos) Constituição da Sigeru e do sistema Valorfito (ANIPLA e Groquifar dão um passo decisivo para sustentabilidade ambiental do setor agrícola, ao criar a Sigeru e o sistema Valorfito. Em 16 anos de atividade, com a recolha de 3.704 toneladas de resíduos, já contribui para que se evitassem emissões de 4.792 toneladas de CO2 para a atmosfera)

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Fito_tema No 30º aniversário da ANIPLA convidamos três gerações de empresários do setor agroflorestal, uma por cada década de vida da associação, a partilhar a sua visão sobre o presente e o futuro da agricultura.

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Fito_Tema

«Quando se pensa em sustentabilidade elevada ao extremo, pensa-se em cortiça» António Rios Amorim, Presidente e CEO da Corticeira Amorim

Natural, versátil e ecológica, a cortiça é cada vez mais procurada em todo o mundo para múltiplas aplicações, desde as rolhas, a novos usos em mobilidade, arquitetura ou design de interiores. António Rios Amorim, Presidente e CEO da Corticeira Amorim, revela o recente investimento do Grupo no setor florestal, com um modelo produtivo mais rentável, assente no adensamento do montado e com o apoio da rega gota-a-gota no período de instalação dos sobreiros. “Portugal deveria ter como desígnio nacional atingir a neutralidade carbónica em 2030”, defende o empresário líder mundial em cortiça. 23


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Qual é a área atual de montado da Amorim Florestal? A Corticeira Amorim é uma empresa centenária na transformação de cortiça, mas recente na exploração florestal. Adquirimos a primeira propriedade, a Herdade da Baliza, em Castelo Branco, há três anos, era um eucaliptal em final de ciclo, e o nosso objetivo é instalar 1300 a 1500 hectares de montado. Mais recentemente (final de junho de 2022), concluímos a compra da Cold River’s Homestead, que detém uma parte da Herdade do Rio Frio, em Setúbal, com cerca de 3.400 hectares, incluindo uma área de montado bastante expressiva, onde pretendemos densificar o montado com a plantação de novos sobreiros nas entrelinhas do existente. Temos também um contrato de arrendamento na Herdade da Venda Nova, em Alcácer do Sal, com 250 hectares de montado, foi a primeira herdade onde aplicámos o novo modelo de plantar sobreiros com assistência de rega gota-a-gota durante o período de instalação. Que resultados têm obtido, no crescimento dos sobreiros e na qualidade da cortiça, com a rega gota-a-gota? O pioneiro no uso da rega gota-a-gota em montado é o Francisco Almeida Garret, produtor florestal em Avis, inspirámo-nos na sua experiência para fazer o scale-up desta operação para algo que pretendemos que seja absolutamente estruturante para o futuro da nossa fileira. O Francisco plantou dois hectares de sobreiros com rega, em 2002, e fez a primeira extração da cortiça em 2010. Desde essa data deixou uma parte da área com a assistência de rega, onde voltou a tirar cortiça ao fim de quatro anos, e a outra parte sem assistência de rega. Testámos as características daquela cortiça e não obtivemos bons resultados em termos da permeabilidade das rolhas. Na restante área que ficou sem rega depois da primeira extração, tirámos a cortiça ao final de nove anos, e os testes às rolhas que saíram desta segunda extração enquadram-se completamente no nosso padrão de qualidade, estrutura celular e permeabilidade. Concluímos que apenas precisamos da rega para o período de instalação do montado. O sobreiro é um aliado no combate às alterações climáticas, mas também sofre os impactos da seca. Quais são esses impactos e como está a Amorim a mitigar o problema? No panorama global do montado português sente-se uma redução da densidade de sobreiros, o que tem consequências a diversos níveis: menor rentabilida-

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de para o produtor florestal, que tira menos cortiça da sua exploração; menor ensombramento, dificultando a regeneração natural do montado e maior mortalidade das árvores. No novo modelo que pretendemos implementar passaremos para um compasso de plantação de 4m X 5m, cerca de 350 a 400 árvores por hectare, maximizando o retorno do produtor florestal, porque vai ter maior quantidade de cortiça por hectare e maior sequestro de CO2. Esta é uma das formas de mitigar os efeitos das alterações climáticas. Além disso, participamos em projetos de investigação e desenvolvimento florestal, tentando identificar os marcadores que permitem aos sobreiros resistir melhor às alterações climáticas, para replicar, através de seleção massal ou clonal, essas características em novas plantas, tal como se faz na vinha ou noutras espécies agrícolas. Além das alterações climáticas, qual é o maior desafio que o setor agroflorestal enfrenta? A questão da disponibilidade de água claramente que preocupa a todos, e é por isso que procuramos selecionar zonas e propriedades onde o tema da água possa estar mais resolvido. A segunda preocupação tem a ver com a dificuldade em recrutar mão-de-obra. A automatização e automação de alguns processos vai ser uma necessidade e, por isso, a Corticeira Amorim tem vindo a desenvolver um conjunto de equipamentos para ajudar na extração da cortiça, no carregamento dos camiões, no transporte da cortiça dentro das propriedades, de modo que a mão-de-obra especializada seja necessária apenas para um conjunto mais específico de tarefas. Em que medida a Indústria fitofarmacêutica poderá reforçar o seu contributo para uma agricultura sustentável nos próximos 30 anos? A cortiça é sustentável por natureza, mas gostaríamos que não fosse apenas uma sustentabilidade ambiental, mas também económica e social. A fileira da cortiça tem vindo a contratar mais mão-de-obra, porque a procura por produtos de cortiça, fruto da sua performance e pegada ecológica, é tão relevante que vemos com bons olhos o crescimento do mercado. Na perspetiva económica temos de congregar toda esta parte absolutamente notável do ponto de vista ambiental - por cada tonelada de cortiça produzida são capturadas até 73 toneladas de CO2 e o montado é considerado um dos 36 maiores hotspots de biodiversidade no mundo - com uma boa performance económica, em que o rendimento


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O montado é considerado um dos 36 maiores hotspots de biodiversidade no mundo para o produtor florestal possa crescer. E esse rendimento crescerá em função da evolução do mercado da cortiça, mas sobretudo se conseguir produzir mais cortiça por hectare. A regeneração natural do montado será insuficiente para que isso aconteça e, portanto, aconselhamos um adensamento mais forte nas áreas onde o montado é a espécie dominante, para que o rendimento seja mais consequente e gere mais investimento no futuro. Retomo a questão anterior … que contributo crê que a Indústria fitofarmacêutica poderá dar para uma agricultura sustentável nos próximos 30 anos? O montado pouco recorre aos produtos da indústria fitofarmacêutica, mas as vinhas, setor a que grande parte das rolhas de cortiça se destina, é um grande utilizador destes produtos. Sabemos que na área da viticultura há mudanças muito significativas no contexto internacional, desde plantação em altitude, à agricultura biodinâmica, biológica, e todos nós temos de ter cada vez mais um sentido de responsabilidade, perceber que não podemos esgotar os recursos em uma ou duas gerações e temos de contribuir mais para fazer perdurar tudo aquilo que a natureza nos pode oferecer. E o sobreiro é o exemplo mais marcante, impede o progresso da desertifica-

ção, como está a acontecer por exemplo no Norte de África; retém reservas hídricas no subsolo, alguns dos maiores aquíferos da Península Ibérica estão situados em zonas de montado. Portanto, o que pretendemos é mitigar a mortalidade existente e que a intervenção humana, quando justificável, possa permitir ter um maior retorno económico e mitigar os efeitos das alterações climáticas, o que no nosso ponto de vista só é possível com o adensamento dos montados existentes. As rolhas continuam a ser o segmento com maior crescimento no Grupo Amorim. Onde estão a maiores oportunidades de negócio? Após uma década traumática, entre 2000 e 2009, o setor da cortiça começou a retomar a quota de mercado perdida para os vedantes plásticos, fruto de muito investimento em I&D, e a partir de 2010, as exportações portuguesas de cortiça não pararam de crescer, à exceção do ano 2020, devido à pandemia, em que caíram 5%. No segmento das rolhas há três subsegmentos base: os vinhos, os espumantes/ champanhe/cidras/cerveja e as bebidas espirituosas. No mercado dos vinhos, o consumo (de rolhas de cortiça) estava a crescer até à pandemia, sobretudo nos EUA e na China. No setor das bebidas

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espirituosas, sobretudo as de categoria premium, também tem vindo a crescer, mas é o segmento de mercado mais pequeno. A nível de mercado, o crescimento ocorre sobretudo nos principais países produtores de vinho a nível mundial, por substituição de rolhas sintéticas ou por crescimento dos engarrafamentos de vinho. As rolhas representam 70% do valor das exportações portuguesas de cortiça e é seguramente o segmento que mais valor acrescenta à matéria-prima cortiça, mas também acreditamos no potencial das novas aplicações da cortiça, desde a mobilidade (transporte elétrico, aeroespacial), à área da energia, às aplicações desportivas. Foi inaugurado no Alqueva, no mês de julho, o maior parque de painéis fotovoltaicos flutuantes da Europa, todos eles integrando compósitos à base de cortiça. Há uma área de desenvolvimento bastante promissora, porque temos vindo a fazer por isso, investindo em novas tecnologias, combinando a cortiça com novos materiais, estabelecendo protocolos com empresas de dimensão mundial, como, por exemplo, a Nike. Há uma terceira área na qual acreditamos bastante, a aplicação da cortiça no setor da construção civil (isolamento, pavimentos, que já são a 2ª maior aplicação da cortiça depois das rolhas, mobiliário).

A primeira loja física da Google, inaugurada em 2021 em Nova Iorque, tem mobiliário de cortiça fornecida pela Amorim e foi galardoada nos NYCxDesign Awards 2022 na categoria de Impacto Ambiental. Fale-nos do projeto e da projeção que poderá trazer ao setor da cortiça. Não é só na Google, já tivemos os nossos pavimentos em lojas da Microsoft. Atualmente quando se pensa em sustentabilidade elevada ao extremo, pensa-se em cortiça e a Amorim tem vindo a oferecer ao mercado produtos de design e a fazer parcerias com quem aposta em materiais naturais para desenvolver esse tipo de aplicações. A cortiça tem um potencial quase ilimitado naquilo que se pode ambicionar em termos de design e arquitetura de interiores. O Plano Estratégico da Política Agrícola Comum é um bom instrumento para alavancar o setor agroflorestal nacional a nível de sustentabilidade económica, social e ambiental? Julgo que sim. Portugal tem muito para desenvolver no âmbito da agricultura, muitas importações para deixar de fazer, se realmente tivermos os apoios e a estratégia certos. No caso do sobreiro, gostaríamos de ver considerado o reconhecimento de que o montado não oferece só cortiça, mas também oferece um conjunto de externalidades positivas à sociedade que deveriam ser remuneradas. Pelo facto de termos a zona mais quente do país sem incêndios, onde a floresta (o montado) é bem cuidada e capta milhões de toneladas de CO2. As pessoas que desenvolvem esta atividade precisam de ser remuneradas pelos serviços do ecossistema do montado para que tenham maior motivação em continuar a desenvolver e a investir. Portugal deveria ter como ambição ser um dos primeiros países da UE, senão o primeiro, a atingir neutralidade carbónica em 2030, fazendo disto um desígnio nacional.

A primeira loja física da Google, inaugurada em 2021 em Nova Iorque, tem mobiliário de cortiça fornecida pela Corticeira Amorim

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Fito_Tema

1.133 M€

as exportações portuguesas de cortiça bateram todos os recordes em 2021

70%

as rolhas representam 70% do valor das exportações portuguesas de cortiça

837,8 M€ valor das vendas da Corticeira Amorim em 2021

73 ton CO2 por cada 1000 kg de cortiça produzida são capturados até 73 ton de CO2

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“A nossa maior riqueza é trabalhar as castas portuguesas e apostar na diferenciação dos vinhos” Sandra Tavares da Silva, Melhor Enóloga de 2021, pela revista ‘Grandes Escolhas’

A Wine & Soul, empresa produtora de vinhos no Douro, é reconhecida em Portugal e além-fronteiras. O objetivo dos proprietários e enólogos, Sandra Tavares da Silva e Jorge Serôdio Borges, de valorizar o património genético vitícola da região consagrada pela Unesco chegou a bom porto, e as distinções recebidas ao longo dos anos demonstram que a aposta foi certeira. No entanto, a escassez de mão-de-obra e a falta de água são os maiores desafios do setor e da região, na opinião de Sandra Tavares da Silva. 28


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É formada em Agronomia, trabalhou em empresas de vinhos no Douro até que em 2001 em conjunto com o seu marido criou a Wine & Soul, tendo para isso comprado uma quinta de 2,5 hectares para produzirem o próprio vinho. O que quiseram trazer de novo ao mercado? Essencialmente pretendíamos produzir e apresentar um vinho diferenciador do Douro, em que se mostrasse a identidade e o enorme potencial das vinhas velhas da região, isto numa altura em que este tipo de vinhas não estavam a ser valorizadas. Começámos com uma vinha muito pequena, que é a vinha do ‘Pintas’, o nosso primeiro vinho, um tinto, e a partir daí temos vindo a adquirir pequenas parcelas de vinha, mas com muita qualidade. Acreditamos que é a partir das vinhas velhas que podemos produzir vinhos com enorme potencial e, sobretudo, identidade. Foi essa a nossa aposta e contamos hoje com uma área de produção de 35 hectares. Em duas décadas os vinhos da Wine & Soul e a Sandra, enquanto enóloga, já receberam várias distinções, algumas internacionais. Quais as que destaca? Felizmente ao longo dos anos temos tido várias distinções que nos marcaram. Destaco, sobretudo, as iniciais. Recordo, por exemplo, em 2013 quando a revista ‘Wine Spectator’, uma das mais prestigiadas do setor, atribuiu ao vinho ‘Pintas’ 2011 uma nota de 98 pontos (o máximo são 100), a nota mais alta dada a um vinho português nessa publicação. Foi fantástico. Sendo a Wine & Soul uma empresa pequena e jovem, deu-nos força para continuarmos a trabalhar e trouxe-nos reconhecimento. Quem acreditava em nós ficou ainda com mais respeito pelo nosso trabalho e abriu-nos portas. O meu marido, Jorge Serôdio Borges, já venceu por duas vezes o prémio de enólogo do ano, em 2008 pela revista “A Essência do Vinho” e em 2011 pela revista “Wine Magazine”. Já no meu caso, em 2020, fui distinguida como uma das 24 melhores enólogas do mundo pela jornalista Jancis Robinson, crítica de vinhos do “Financial Times”. Foi uma surpresa. Já em 2021 fui distinguida como a melhor enóloga de 2021 pela revista ‘Grandes Escolhas’. Não trabalhamos para os prémios, mas dão-nos sempre motivação.

E o que representam estas distinções para si e para a região do Douro? Penso que estas distinções dão alento a outras pequenas empresas da região. Por exemplo, a Wine & Soul foi considerada a empresa de vinhos licorosos de 2021 pela revista ‘Grandes Escolhas’. É a prova de que o Vinho do Porto não é um bicho de sete cabeças como a maior parte das pessoas pensa. Estas distinções mostram que é possível. Nós começámos do zero, fomos adquirindo as vinhas devagarinho com recurso a empréstimos, baseado num plano de investimentos com muitas precauções, mas também com objetivos definidos. Os produtores e enólogos viram que se tiverem vontade de trabalhar e acreditarem nos seus projetos não há impossíveis. Atrás de nós surgiram muitas empresas parecidas com a nossa. Hoje em dia há uma geração mais nova que é super dinâmica e empreendedora e que não existia tanto na nossa época. O setor agrícola enfrenta grandes desafios, nomeadamente, a necessidade de produzir mais com menos recursos. Que práticas tem implementado a Wine & Soul para uma produção mais sustentável? Muito antes de se falar em sustentabilidade já tínhamos essa preocupação e essa sensibilidade e daí termos investido em vinhas velhas. Estas vinhas estão muito bem-adaptadas à região do Douro, são muito eficientes do ponto de vista hídrico. Como não regamos a vinha, as raízes são mais profundas e conseguem ser mais resistentes a situações de stress. E depois implementamos também algumas práticas agrícolas que reduzem as necessidades hídricas e nutricionais das videiras. Por exemplo, apostamos no enrelvamento da entrelinha, fazemos podas com pouca carga para que as plantas tenham menos vigor e, deste modo, um menor consumo energético. A biodiversidade é também uma questão fundamental. Sempre que compramos uma vinha temos o cuidado de adquirir também o terreno à volta, seja mata ou olival, de forma a não termos uma monocultura. Por isso, a nossa área de produção tem cerca de 35 hectares, enquanto a área total atinge os 80. Acreditamos que o setor do vinho é diferente e por essa razão o mais importante é produzir bem e oferecer

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“Hoje existe uma gama de produtos fitofarmacêuticos orgânicos muito maior do que existia há dez anos” produtos de qualidade. No fundo, criar vinhos com valor. Nós não estamos no campeonato das altas produções e de margens muito pequenas, porque esse é um mercado muito complicado como agora se vê, em virtude da subida dos custos de produção. Para nós esse mercado não é viável. Como olha para o atual momento da vitivinicultura portuguesa? Quais são os principais desafios e oportunidades do setor? É preciso ter um bocadinho de cuidado com o aumento de produção de forma a conseguirmos valorizar o vinho. Não é o caso da região do Douro, onde tem havido um acréscimo do preço das uvas e do vinho, porque há maior procura, mas no caso de outras regiões, especialmente, na região de Lisboa, isso já não é assim. Houve uma plantação de vinha muito grande nessa região, existindo consequentemente uma grande oferta de uva e de vinho a preços muito baixos. Penso que o caminho não é por aí. No caso da propriedade dos meus pais, a Quinta de Chocapalha, em Alenquer, (Sandra Tavares Silva é também a enóloga responsável desta quinta), não é esse o caminho que estamos a tomar. Como somos produtores, vinicultores e engarrafadores conseguimos atingir essa diferenciação no produto, mas para aqueles que dependem da venda de uva e de vinho a granel isso é mais difícil. As oportunidades residem no facto de termos castas excelentes e regiões fantásticas, muito diferentes umas das outras em termos de solo, de clima e também de castas. A oportunidade é por isso mesmo criarmos vinhos com a identidade de cada terroir, tirando partido da imensa variedade de castas. Lembro-me de há 20 anos quando tentava mostrar as nossas castas lá fora, ninguém conhecia a Touriga Nacional. Era difícil, quanto mais se falássemos de fine blends e vinhas velhas com 20 e 30 castas autóctones. Hoje em dia a Touriga Nacional já é bastante conhecida. E atualmente no mercado de exportação o que se procura cada vez mais é a identidade de cada país e de cada região. É isso que pretendem os compradores,

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a imprensa e o próprio consumidor. Portanto, a nossa maior riqueza é trabalharmos as nossas castas e apostarmos na diferenciação. Como avalia o impacto da tecnologia e novas técnicas de produção no setor agrícola e, concretamente, na forma como hoje nos alimentamos? Que mitos são necessários desfazer? Nos últimos anos houve grandes avanços na área da tecnologia e, graças a isso, é possível controlarmos hoje muito melhor todas as operações que são feitas no campo, muitas vezes, evitando o recurso a tratamentos fitossanitários. No entanto, a sociedade não tem essa perceção. Existe a ideia que na agricultura é tudo manipulado. É preciso esclarecer que os produtos fitofarmacêuticos têm muito melhor qualidade e são mais controlados do que antigamente. Existe um mito que estes produtos são muito agressivos, mas não. É preciso desmistificar isso. Hoje existe uma gama de produtos fitofarmacêuticos orgânicos muito maior do que existia há dez anos. É essencial explicar o que é a agricultura moderna. Para si, qual o maior desafio que o setor agrícola enfrenta? E em que medida a Indústria fitofarmacêutica poderá reforçar o seu contributo para os próximos 30 anos? Vejo dois grandes desafios: A falta de água e a dificuldade em encontrarmos mão-de-obra. Nós sentimos grande dificuldade em arranjar trabalhadores. As nossas vinhas são de montanha e, além disso, como são vinhas velhas é tudo feito manualmente. Já tivemos que recorrer a mão-de-obra estrangeira, mas, entretanto, com a pandemia esses trabalhadores tiveram que se ir embora. Ultimamente recorremos a grupos grandes de portugueses que vêm de longe diariamente, no entanto, não sabemos até quando conseguiremos contratar estes grupos. É necessário existir uma maior investigação em robótica para tentar contrariar a falta de mão-de-obra. Já existem estudos e alguns equipamentos,


Fito_Tema

mas ainda está tudo numa fase inicial. A indústria fitofarmacêutica vai continuar a ter o papel que têm tido nos últimos anos, reforçando a investigação e o esforço em desenvolver produtos fitofarmacêuticos que sejam mais sustentáveis, ou seja, que sejam eficazes e, ao mesmo tempo, protejam o meio ambiente e a biodiversidade. Agora a indústria fitofarmacêutica tem que saber comunicar o seu trabalho, não só junto dos agricultores, mas, sobretudo, junto da opinião pública. Isso é, sem dúvida, o maior desafio para os próximos anos.

“É essencial explicar o que é a agricultura moderna”

Sandra Tavares da Silva e o marido, Jorge Serôdio Borges, ambos enólogos e proprietários da Wine & Soul

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“A água vai ser o petróleo do futuro” Henrique Regalado, Melhor Jovem Agricultor de 2022

A ligação da família à agricultura foi o mote para Henrique Regalado arregaçar as mangas e instalar 252 hectares de olival e amendoal em sebe, em Montemor-o-Novo, projeto que viria a dar-lhe a distinção de Melhor Jovem Agricultor de 2022, atribuído pela Confederação dos Agricultores de Portugal. Formado em Engenharia Mecânica, conta que hoje a tecnologia é parte integrante do dia-a-dia dos agricultores, pelo que “a ideia de uma agricultura de enxada e sachola às costas está um bocado ultrapassada”. A escassez de água é para o jovem agricultor o grande desafio do setor agrícola nos próximos anos, ao mesmo tempo que defende que é preciso clarificar junto da opinião pública que “a indústria fitofarmacêutica não é o bicho mau que ela pensa”. 32


Fito_Tema

É formado em Engenharia Mecânica-Química Industrial, mas optou por investir em Agricultura. Porquê? A nossa família é de Ponte de Vagos, distrito de Aveiro, e temos uma casta de gente com apetência para a agricultura. O meu avô teve explorações agrícolas. Essencialmente esteve ligado à produção leiteira e à cultura do kiwi e foi inclusive um dos fundadores da Kiwicoop. A certa altura o meu avô deixou a terra de lado e investiu em empresas de rega agrícola que ainda hoje são da nossa família. No entanto, ele tinha o sonho de voltar à produção agrícola. Costumo dizer que o meu avô tinha o sonho, o meu pai o desejo e nós, os netos, concretizamos. O regresso à agricultura aconteceu em 2017 com a aquisição da Herdade da Escaldada, em Montemor-o-Novo. Infelizmente o meu avô morreu no ano passado, mas o nosso projeto já estava em andamento. Neste contexto, sou o responsável agrícola da exploração, mas este é, sem dúvida, um projeto familiar. Escolheu investir nas culturas do olival e do amendoal. Conte-nos mais sobre este projeto. Nós temos 252 hectares, 225 de olival e 27 de amendoal. O nosso intuito inicial era só plantar amendoal em sebe, mas ainda não há experiência suficiente para se poder concluir se o melhor sistema de produção é em copa ou em sebe. Só que em 2017 uma das nossas empresas foi completamente destruída pelos incêndios. Foi um duro golpe, mas não desistimos deste projeto, tivemos que o reformular. Optámos por jogar pelo seguro e decidimos plantar uma grande área de olival em sebe, um modelo de sucesso no nosso país. Quanto ao amendoal, plantamos só 27 hectares em sebe, das variedades Lauranne e Soleta. No entanto, o nosso objetivo é continuar a crescer, podemos ir até aos 1000 hectares aqui na região de Montemor-o-Novo. A agricultura enfrenta grandes desafios para alimentar o Planeta em contexto de alterações climáticas e simultaneamente proteger o meio ambiente. Como avalia o impacto da tecnologia e novas técnicas de produção no setor agrícola e, concretamente, na forma como hoje nos alimentamos? A tecnologia tem hoje um papel muito importante no setor agrícola. A ideia de uma agricultura de enxada

e sachola às costas está um bocado ultrapassada. É importante saber como se fazia antigamente, mas mais importante é, por exemplo, conhecer bem as plantas e as suas necessidades. Nós já temos uma grande área e optamos sempre por fazer tratamentos preventivos, de forma a restringir ao mínimo necessário o uso de produtos fitofarmacêuticos. Por exemplo, para combater a gafa, uma das principais doenças que afeta o olival, em vez de fazermos um tratamento de correção e outro de estabilização, fazemos somente tratamentos preventivos, dando às plantas ferramentas para combaterem as doenças. Já na rega optamos pela fertirrigação em que o próprio sistema de rega é ao mesmo tempo condutor e distribuidor dos nutrientes. Mais uma vez aqui a preocupação é dar somente às plantas aquilo que elas necessitam para o seu desenvolvimento. Além disso, fazemos regularmente análises foliares e análises ao solo para percebermos o comportamento do solo nas diferentes áreas e sabermos se é necessário efetuar alguma correção. Aquilo que nós fazemos é agricultura de precisão. Aquela agricultura em que se abria a mangueira e as plantas bebiam a água que queriam e o resto era perdido hoje não é possível. A água vai ser o petróleo do futuro.

Sendo assim, que mitos é necessário desfazer junto da opinião pública? As pessoas têm uma ideia errada sobre o olival cultivado no Alentejo. Por exemplo, nos sistemas de produção intensivo e superintensivo do olival só damos às plantas o que elas precisam. Mas os termos intensivo e superintensivo não são os mais indicados, criam ideias erradas na opinião pública de que se está a explorar os recursos ao máximo. Isso não é real. Acho que há falta de informação. O consumo de água no olival superintensivo é inferior ao consumo no sistema de produção intensivo. Também o consumo de produtos fitofarmacêuticos no olival é menor do que na vinha, mas a sociedade não tem essa perceção. Em Portugal os agricultores são vistos quase como criminosos e não como alguém que está a criar postos de trabalho e a ajudar a dinamizar regiões desfavorecidas, combatendo a emigração jovem. Na nossa exploração a equipa é composta por jovens que saíram das escolas agrárias e pessoas mais velhas com grande experiência de campo.

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Conquistou o prémio de ‘Melhor Jovem Agricultor 2022’ e vai representar Portugal no concurso promovido pelo Parlamento Europeu. O que dirá aos eurodeputados, se tiver oportunidade, sobre o futuro da agricultura na Europa? Diria que é necessário definir estratégias para a gestão da água. Fiquei bastante preocupado quando vi os resultados das candidaturas de Jovens Agricultores em que só 20% tinham sistemas de controlo de água nos seus projetos. Em 2022, e face à situação de seca que estamos a viver e, que se irá acentuar no futuro, não se entende como é possível. Depois é preciso existirem mais apoios para os jovens agricultores se instalarem. Vejo pelo nosso caso. Investimos em cerca de 252 hectares, mas até termos retorno vão ser vários anos. Ou se tem grande arcaboiço financeiro ou há muitos jovens que não vão apostar na agricultura. Eu que conheço muito bem a indústria digo que é muito mais fácil investir neste setor do que na agricultura. Enquanto na indústria há o investimento inicial e depois todos os meses há entrada e saída de dinheiro, o que dá alguma estabilidade ao negócio, na produção agrícola é preciso estar durante anos sempre a investir para um dia mais tarde se vir a colher os frutos do dinheiro investido. Que conselhos pode dar a jovens agricultores que estejam agora a começar os seus projetos? Os jovens agricultores têm que ter os pés bem assentes na terra, porque atualmente face aos aumentos dos custos de produção, investir na agricultura, não é nada fácil. Basta pensar que se tiverem que procurar terra, criarem todas as condições para se instalar e depois terem que lidar com a subida de preços de infraestruturas, de energia, enfim, de tudo… Podem passar 10 ou 15 anos até conseguirem reaver o investimento que fizeram e não sabemos o que vai acontecer nesses 10 ou 15 anos relativamente à escassez de água e não só. É tudo uma incógnita. Eu não quero ser pessimista, mas quem quiser vir para a agricultura tem que ter os pés bem assentes na terra e muita força de vontade para abraçar os projetos.

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“A indústria fitofarmacêutica teve uma grande evolução nos últimos anos” Para si, qual o maior desafio que o setor agrícola enfrenta atualmente? E em que medida a Indústria fitofarmacêutica poderá reforçar o seu contributo para os próximos 30 anos? O grande desafio dos próximos anos vai ser saber se temos água para continuarmos a produzir, por isso acho que todos os investimentos devem dar primazia aos sistemas de gestão hídrica. Quanto à indústria fitofarmacêutica, esta teve uma grande evolução nos últimos anos e, à medida que vão surgindo novas pragas e doenças ou novas formas de se manifestarem, o seu papel é ainda mais importante. Mais uma vez, a indústria fitofarmacêutica não é o bicho mau como pensa a opinião pública. É preciso deixar isso bem claro. Um produto fitofarmacêutico é cada vez mais seletivo e aquilo que faz é dar proteção às plantas contra as pragas e doenças, sem pôr em causa o habitat onde essas culturas estão inseridas. Para as pessoas perceberem: na nossa exploração usamos a técnica do enrelvamento na entrelinha e o que aplicamos são herbicidas seletivos. Só atuam na zona onde existe competição entre a infestante a planta, e atingindo apenas a infestante. Isso só é possível graças ao trabalho desenvolvido pela indústria fitofarmacêutica. As pessoas podem estar descansadas. Tudo o que é aplicado é seguro. É o resultado de anos de estudo e muitos testes. O objetivo da indústria é garantir que um produto fitofarmacêutico é eficaz, sem pôr em causa o meio ambiente e assim continuará a ser nos próximos 30 anos.


Pomar de amendoal e olival em sebe na Herdade da Escaldada, no concelho de Montemor-o-Novo

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Fito_Global Alimentos consumidos na União Europeia são seguros

O sistema agroalimentar da União Europeia é considerado o mais avançado do mundo, com as regras ambientais e de segurança mais exigentes. Um estudo recente da EFSA sobre resíduos de produtos fitofarmacêuticos em alimentos reforça esta ideia e um relatório do Eurostat revela que Portugal ocupa a segunda posição no ranking europeu de países com maior redução nas vendas destes produtos, na última década.

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Fito_Global

O mais recente relatório anual da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) sobre resíduos de produtos fitofarmacêuticos nos alimentos revela que 98,2% dos produtos alimentares se encontram dentro dos limites legais. O relatório engloba mais de 88 000 amostras de alimentos recolhidas na União Europeia (UE) no ano de 2020. A análise dos resultados permite concluir que 94,9 % das amostras encontravam-se dentro dos níveis legalmente permitidos. Já para o subconjunto de 12 077 amostras avaliadas no âmbito do programa de controlo coordenado da UE (PCMA UE), 98,2% estavam dentro dos limites legais. O PCMA da UE analisa amostras recolhidas aleatoriamente de 12 produtos alimentares. Em 2020 os alimentos alvo de análise foram as cenouras, a couve-flor, os kiwis, as cebolas, as laranjas, as peras, as batatas, o feijão seco, o arroz integral, os grãos de centeio, o fígado de bovino e a gordura de aves de capoeira. O mesmo cabaz de produtos é avaliado de três em três anos, o que significa que podem ser identificadas tendências ascendentes ou descendentes para mercadorias específicas. Importa ainda referir que das amostras analisadas no programa coordenado 68,5 % (8278 amostras) foram consideradas isentas de níveis quantificáveis de resíduos, enquanto 29,7 % (3590) continham um ou mais resíduos em concentrações inferiores ou iguais aos níveis permitidos. Por outro lado, apenas 1,7 % (209) continham resíduos superiores ao máximo legal, dos quais 113 (0,9 %) não estavam conformes.

Portugal é o 2º país da UE com maior redução de vendas de produtos fitofarmacêuticos De acordo com os mais recentes dados do Eurostat, entre 2011 e 2020, 11 dos 16 Estados-Membros com dados disponíveis registaram uma redução de vendas de produtos fitofarmacêuticos (PFs). A quebra mais acentuada foi na República Checa, atingindo os 38%. Portugal ocupa a segunda posição, com uma redução próxima dos 30%. Seguem-se a Dinamarca, a Roménia, a Bélgica e a Irlanda que também assinalaram reduções nas vendas na ordem dos 20%, entre 2011 e 2020. Do outro lado, estão a Letónia e a Áustria que atingiram vendas significativamente mais elevadas de PFs em 2020 do que em 2011, respetivamente mais 77% e 61%. UE reduz vendas de produtos fitofarmacêuticos em 7% Entre 2011 e 2020, as vendas de produtos fitofarmacêuticos na UE mantiveram-se relativamente estáveis, com o volume total vendido anualmente a oscilar ± 6% em torno das 350 000 toneladas. Em 2020, foram vendidas pouco menos de 346 000 toneladas. No que diz respeito aos tipos de PF vendidos, os maiores volumes de vendas, em 2020, registaram-se nos fungicidas e bactericidas, atingindo 43% do total, seguido da gama de herbicidas e similares (35%) e de inseticidas e acaricidas (14%). Em 2020, os fungicidas inorgânicos (contendo compostos de cobre, enxofre inorgânico e outros fungicidas inorgânicos, muitos dos quais são permitidos na agricultura biológica) representavam mais de metade,

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cerca de 57%, dos fungicidas e bactericidas vendidos na UE. Importa ainda salientar que quatro Estados-Membros da UE (Alemanha, Espanha, França e Itália), os principais produtores agrícolas da UE, registaram os maiores volumes vendidos na maioria dos grupos de produtos. Os 16 Estados-Membros da UE para os quais existem dados disponíveis registaram, para todos os principais grupos, uma redução combinada de 7% nas toneladas de substâncias ativas de PF vendidas em 2020 (233 509 toneladas), em comparação com 2011 (251 868 toneladas). Menos 40% de produtos fitofarmacêuticos vendidos em Portugal entre 2006 e 2020 Também os relatórios elaborados em Portugal, nomeadamente, pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), demonstram que a agricultura

nacional está cada vez mais sustentável. Segundo o relatório oficial da DGAV, relativo a 2020, as vendas de produtos fitofarmacêuticos em Portugal registaram uma diminuição de 1,6%. No entanto, salienta o mesmo documento que, desde 2006, esta tendência decrescente é ainda mais acentuada, representando uma diminuição de cerca de 40%. Em 2020, foram comercializados em Portugal 9715 toneladas de produtos fitofarmacêuticos, dos quais: 6404 toneladas de fungicidas; 2401 toneladas de herbicidas; 423 toneladas de inseticidas e acaricidas e 485 toneladas de todos os restantes produtos fitofarmacêuticos (inclui os nematodicidas/fumigantes de solo, moluscicidas, reguladores de crescimento, rodenticidas, repelentes e óleos vegetais). Comparativamente com o ano de 2019, foi no grupo de produtos dos inseticidas e acaricidas que se assistiu a uma redução mais significativa das vendas, com uma diminuição de 48%.

Organismo europeu garante que glifosato não causa cancro De acordo com o Comité de Avaliação dos Riscos da Agência Europeia de Produtos Químicos (ECHA) não existem dados científicos que permitam classificar o glifosato como uma substância cancerígena. O glifosato é uma substância presente nos herbicidas mais utilizados na União Europeia. Segundo revela o documento deste organismo, “o comité constatou que as provas científicas disponíveis não atendiam aos critérios para classificar o glifosato como tóxico para um órgão específico, ou como substância cancerígena, mutagénica ou reprotóxica”. No entanto, esta entidade concordou em manter a classificação do glifosato como passível de causar graves lesões oculares e de ser tóxica para a vida aquática “com efeitos duradouros”, revela ainda o mesmo documento. Este parecer é consistente com o que tinha sido divulgado em 2017 pela mesma agência europeia. O documento vai ser enviado, até meados de agosto, à Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) que terá que fazer a avaliação de risco do glifosato, estando prevista uma conclusão em julho de 2023. Posteriormente, a Comissão Europeia analisará as conclusões da EFSA e o relatório de avaliação da renovação que foi preparado pela Suécia, França, Hungria e Holanda. Caberá então à Comissão Europeia apresentar um relatório de renovação e um projeto de regulamento aos Estados-Membros sobre se a aprovação do glifosato pode ou não ser renovada. 38


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Órgãos sociais da ANIPLA 2022-2024 Os novos Órgãos sociais da ANIPLA para o triénio 2022-2024 foram eleitos em Assembleia Geral, no dia 22 de março. Felisbela Torres de Campos renovou o compromisso como Presidente da Direção e felicitou todos os órgãos eleitos “com os quais tenho o prazer de reconduzir esta Presidência”, sublinhando que “é importante reforçar a urgência de um esforço e trabalho conjuntos como forma de aumentar a eficácia e eficiência da ANIPLA em resposta aos desafios que já se fazem sentir na agricultura, e muito em especial na Indústria Fitofarmacêutica nacional e europeia. Com a inovação, a transformação digital e a sustentabilidade como pano de fundo, vamos trabalhar em prol de uma agricultura em benefício dos agricultores, dos consumidores e do nosso planeta”.

DIREÇÃO Presidente SYNGENTA CROP PROTECTION, LDA. representada por Felisbela Torres de Campos Vice-Presidente BAYER CROPSCIENCE, LDA representada por Luis Antunes Tesoureiro SIPCAM PORTUGAL, LDA representada por Fernando José Inácio Aniceto Secretário BASF PORTUGUESA, SA representada por Paulo Lourenço Vogal ASCENZA AGRO, SA representada por Paula Rebelo ASSEMBLEIA GERAL

Presidente SELECTIS, SA representada por João Faria Secretário FMC CORPORATION representada por Diego Pallares CONSELHO FISCAL

Presidente NUFARM PORTUGAL, LDA representada por Madalena Miguel Vogal CORTEVA AGRISCIENCE, SA representada por Francisco Javier Lopez Vogal SHARDA PORTUGAL representada por Luís Cruz

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Smart Farm, o regresso à normalidade Os meses de abril, maio e junho são meses “Smart Farm” por excelência, procuram-nos sobretudo agricultores e técnicos que pretendem completar e aprofundar os seus conhecimentos acerca do uso seguro e sustentável dos produtos fitofarmacêuticos. Após dois anos de pandemia, a procura pela visita do espaço voltou reforçada, e tivemos o prazer de receber 60 visitantes, três grupos de agricultores maduros (cursos Viticartaxo e APAS), mas que encontram sempre espaço para renovar os seus conhecimentos, e um grupo de estudantes ainda a dar os primeiros passos no mundo agrícola, através do curso profissional de agricultura (Escola

Agrícola da Paiã). A interação e interesse nos elementos de demonstração foi evidente, tendo havido bastantes perguntas e debate acerca das boas práticas da pulverização, da gestão de efluentes, da proteção do solo e da biodiversidade. Às tecnologias, inovações e referências base que temos na Smart Farm, junta-se agora uma renovada e inovadora “estação biodiversidade”, que apresenta ferramentas para se fomentar uma agroecologia, que potencia a simbiose entre a natureza e a atividade agrícola. Muito em breve teremos também novidades digitais, fique atento!

Grupo de agricultores na Estação de Biodiversidade da Smart Farm

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Visita de estudantes da Escola Profissional Agrícola da Paiã à Smart Farm

Estação sobre boas práticas de pulverização e calibração de pulverizadores na Smart Farm

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Jornadas de Homologação da ANIPLA É urgente combater a dependência alimentar e lutar por um setor (ainda) mais sustentável

Mesa-redonda sobre “Oportunidades e Ameaças para o Comércio Alimentar” Realizou-se no dia 05 de abril, pelo 5º ano consecutivo, a edição anual das Jornadas de Homologação da ANIPLA, este ano dedicada ao tema do fundamento do Pacto Ecológico Europeu. A iniciativa pretendeu debater as possíveis consequências nas práticas de produção e comercialização de bens alimentares, bem como analisar o impacto de possíveis novas metas impostas aos Estados Membros no âmbito da redução na utilização de produtos fitofarmacêuticos.

reflexão sobre a importância de “reforçar as competências técnicas em matéria de fitossanidade, em articulação com a capacidade diplomática para abertura de novos mercados”.

A conclusão surgiu em uníssono no auditório da Biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologias, da Universidade Nova de Lisboa: é urgente reduzir a dependência externa e lutar por um setor mais sustentável e que responde às necessidades de uma população em crescendo.

Os vários oradores sublinharam a necessidade de maior autonomia e capacidade de produção de alimentos. Felisbela Torres Campos, Presidente da ANIPLA, aproveitou para relembrar que “depois de uma pandemia que nos apanhou a todos de surpresa, o momento que vivemos no seio do setor é novamente muito difícil: uma escalada de preços a todos os níveis, com um impacto socioeconómico enorme que nos obriga a tornar cada vez mais prioritários os temas da sanidade das plantas, da segurança alimentar e do acesso em quantidade e qualidade aos alimentos que precisamos”.

Na abertura da sessão, Eurico Brilhante Dias, ex-Secretário de Estado da Internacionalização e atual deputado socialista, deu o mote para o diálogo sobre o tema da dependência, convidando à

Ana Bárbara Oliveira, Diretora de Serviços de Meios de Defesa Sanitária da DGAV, levantou o véu sobre a proposta do novo Regulamento sobre o Uso Sustentável de Produtos Fitofarmacêuticos, que viria 43


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a ser divulgada no mês de junho. A Diretora chamou à atenção para a importância de definir metas concretas “num quadro europeu que aperta cada vez mais o setor e que o obriga a trabalhar sob novos e desafiantes contextos. Há neste momento um conjunto de políticas, estratégias e ambições que precisam de ser integradas numa proposta de regulamento sustentável, que crie um contexto de trabalho passível de ser cumprido por parte de todos os envolvidos”. Culturas-chave podem perder até 50% das substâncias ativas Felisbela Torres de Campos, Presidente da ANIPLA

Eurico Brilhante Dias, deputado socialista

Este ano centrada no tema das consequências e fundamento do Pacto Ecológico Europeu, Paula Rebelo, da Comissão Técnica de Homologação da ANIPLA começou por alertar para um aspeto fundamental: num contexto em que os perigos e ameaças são cada vez maiores, dois terços das substâncias ativas desapareceram e as que ficaram muitas apresentam restrições severas. À data das Jornadas, estavam aprovadas na UE 449 s.a., 934 haviam sido reprovadas e 68 estavam em avaliação. Um dado alarmante “sobretudo para as culturas consideradas mais relevantes no mercado nacional, como o milho, pera, maçã, olival, tomate, batata e vinha”. Segundo um trabalho de análise de impacto da retirada destas substâncias, realizado pela Comissão Técnica de Homologação da ANIPLA, as perdas de soluções para estas culturas são da ordem dos 30% aos 50%. Paulo Lourenço, da Direção da ANIPLA, recordou que “se não forem adotados novos métodos de produção, melhoramento genético, aplicação de drones e novas ferramentas de precisão, será impossível alcançar os objetivos que a Europa nos propõe. Ao adotar as estratégias do Prado ao Prato vamos conseguir diminuir as emissões de gases com efeito de estufa na Europa, mas estaremos a canalizá-las para outros lugares do mundo, – porque a população tem que continuar a comer e o setor tem que continuar a produzir”, começou por referir.

Ana Bárbara Oliveira, Diretora de Serviços de Meios de Defesa Sanitária da DGAV

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Oportunidades e Ameaças para o Comércio Alimentar Numa mesa-redonda dedicada ao tema “Oportunidades e Ameaças para o Comércio Alimentar” moderada por Luís Ribeiro, jornalista da revista ‘Visão’, Bárbara Oliveira começou por referir que


“estando em vias de aprovação um regulamento que não considera o esforço feito até agora (redução de 40% em 15 anos), partimos já de uma posição muito difícil. Sem alternativas e soluções eficazes, torna-se inviável para os produtores manterem os mesmos níveis de eficácia e resultados”. Opinião corroborada por Paulo Lourenço, que aproveitou o momento para sublinhar, uma vez mais, que “não existe incompatibilidade entre biodiversidade e agricultura. Pelo contrário, é graças à forma como os agricultores têm trabalhado nos últimos anos que talvez hoje tenhamos o respeito que temos pela biodiversidade. Há muito a melhorar, claro, mas há um conjunto de espécies que voltaram a escolher Portugal e que crescem nos nossos territórios, graças ao respeito dos agricultores e a um trabalho em prol da vida da fauna e flora”.

Paulo Lourenço, membro da Direção da ANIPLA

Jaime Piçarra, Secretário-geral da IACA-Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais, explicou que para o setor “os tempos são incertos e importar tudo aquilo de que precisamos para alimentar os animais, seja soja, milho ou outros cereais, será um cenário insustentável. Nos próximos 2 a 3 anos vamos assistir a um cenário de tensão nos mercados, uma inflação que muitos jovens vão conhecer pela primeira vez, e por isso um cenário de dependência é tudo aquilo que deveríamos evitar para a nossa agricultura”. Razões pelas quais devemos olhar cada vez mais para exemplos de boas práticas em Portugal. Mariana Matos, Secretária-geral da Casa do Azeite juntou-se ao debate para partilhar o seu testemunho e deixa uma recomendação “é preciso aprender a multiplicar, com cada vez menos recursos. Ainda que vítima de uma enorme fustigação, o olival tem sido um caso paradigmático em Portugal, com uma extraordinária evolução, e exemplo de como com a incorporação de tecnologia, assente em regimes de produção integrada, se consegue com cada vez menos, recolher mais frutos”. O encerramento do debate e da sessão ficou a cargo de António Lopes Dias, à data Diretor Executivo da ANIPLA, que em jeito de conclusão reforçou que “as decisões políticas têm uma base muitíssimo urbana e esse é um dos nossos grandes desafios. A Europa não pode continuar a querer ser uma bolha no planeta, um lugar onde não fazemos nada porque compramos tudo feito. Temos que olhar para o que aconteceu com a Rússia e perceber que também na alimentação não podemos tornar-nos dependentes de outro país ou países”.

Paula Rebelo, membro da Comissão Técnica de Homologação da ANIPLA

António Lopes Dias, à data das Jornadas, Diretor Executivo da ANIPLA

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Fito_Global

PERDA DE

332 M€ / ANO

DE RENDIMENTO PARA A AGRICULTURA NACIONAL *

anipla.pt * ESTUDO DE IMPACTO ECONÓMICO PELA RETIRADA DE SUBSTÂNCIAS ATIVAS PARA CULTURAS CHAVE EM PORTUGAL


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