Posthumanism in the animetic machine : explosive visions of the human in japanese animation

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dentro da mansão, ele passa por diversas cenas nas quais o tempo se comporta de maneira diferente. O quadro em que temos os pássaros ao redor de Batou é composto por uma composição limitada. Sentimos a abertura do intervalo anímico e a presença da temporalidade, já que os pássaros estão congelados no tempo, e o seu movimento é lento e ritmado. Dentro da mansão de Kim, nada é real, o tempo não obedece às leis da física, e não sabemos dizer se os autômatos estão mortos ou vivos. A relação do olhar de Batou, que fecha a imagem e promove uma visão cartesiana, é ao mesmo tempo diluída pela singularidade da imagem-tempo. Em um sentido mais alargado, a relação da performance anímica é explorada profundamente, já que Batou e Togusa têm dúvidas ontológicas profundas, mesmo tendo implantes cibernéticos. Após saírem do loop virtual em que haviam sido inseridos, Batou e Togusa conversam com Kim sobre a relação do humano com a máquina:

A dúvida de que o que parece vivo é realmente vivo, ao contrário, a dúvida de que as coisas sem vida podem estar vivas. A razão pelo qual as bonecas são assustadoras é que as bonecas são modelos de seres humanos, e isto significa que elas não são nada além de humanas. O medo que os seres humanos possam ser apenas a soma de simples truques de relógio e substâncias. Em outras palavras, o medo do fenômeno chamado de humano pertence essencialmente à vaidade.414

A fala de Kim é sobre o estranho mecânico e o que ele revelaria em relação à natureza humana. “A contingente produção mediada por uma tecnologia que se tornou tão entrelaçada com a produção de identidade que já não pode ser significativamente separada do sujeito humano” (HAYLES, 1999, p. 13, tradução nossa415). Kim parece se aproximar do pensamento de Hayles, no sentido de que o mecânico aparece como um entrelaçamento do humano. Hayles aponta essa característica em direção ao póshumano, mas Kim percebe como uma faceta do alto-Humanismo. Quando Batou e Togusa saem da mansão, as experiências entre realidade e irrealidade se tornam embaçadas. A fala de Batou sobre a memória evidência a quebra entre as barreiras do corpo cibernético: “Não tem nada que distingue memórias artificiais das experiências com memórias, este é o preço a se pagar quando se é assim”. O simulacro é instaurado como uma habilidade da memória, que reforça a dúvida ontológica sobre a própria realidade. Essas sequências aludem à indeterminação anímica, porque a abertura da

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Trecho transcrito da fala do Hacker Kim em Innocence. A contingent production, mediated by a technology that has become so entwined with the production of identity that it can no longer meaningfully be separated from the human subject. 415


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