Agroflorestando o mundo de facão a trator

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8 - Voltando a pertencer à vida do Organismo Planeta Terra “Logo percebi, que parece que a coisa tinha vontade própria. E eu me senti feliz em poder estar participando da história desse momento, apesar de todas as dificuldades, em nenhum momento eu pensei em desistir. Eu tinha convicção de que era um momento de aprendizado de uma vida. A gente teria que aprender coisa que já tinha esquecido. Quando digo a gente, digo em termos de humanidade. Que o mundo já não tá mais agüentando todas as agressões que nós humanos temos cometido.” (Pedro, agricultor agroflorestal, Cooperafloresta) No mundo atual, domina a ideia de que para fazer uma agricultura produtiva é necessário retirar as árvores dos sistemas agrícolas. Neste contexto, apenas trazer de volta as árvores para a agricultura já é um grande e indispensável passo rumo à sustentabilidade do Organismo Planeta Terra e da agricultura. Mas, para chegarmos a sistemas produtivos que possam se auto-sustentarem teremos que ir bem mais longe. Teremos que aprender a reconhecer e cooperar com os processos naturais que tornam e mantém os solos férteis e produtivos. Por isto, o objetivo maior deste livro até este momento foi reforçar nossa fé na importância de preservar e potencializar os processos naturais. Ele já terá cumprido grande parte de sua função se contribuir para despertar a curiosidade e a reflexão sobre os grandes temas tratados até este ponto. A partir do capítulo 8, procuramos ir além, apresentando algumas técnicas, estratégias e metodologias pedagógicas que tem tornado social, econômica e ambientalmente viável a travessia, até mesmo de uma agricultura artificial, feita em ambientes semi-desérticos e totalmente dependente da indústria, para uma agricultura que reproduz, potencializa, sustenta e é sustentada pelos processos naturais. Entendemos que para que a travessia proposta no capítulo 8 possa ocorrer coletivamente e com a rapidez necessária é indispensável a troca conhecimentos, experiências, estratégias e metodologias entre os campesinos e entre os processos e projetos que, como o Projeto Agroflorestar, animam e viabilizam que ela seja realizada de maneira coletiva. No entanto, não é possível para esta finalidade substituir visitas e trocas de experiências nos próprios locais nos quais ocorrem processos semelhantes aos que trataremos. Um fator que tem facilitado muito que estas aconteçam é a grande organicidade existente

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entre a maior parte das famílias assentadas e suas organizações. Outro fator é a grande consciência e compromissos destas, quanto à necessidade e importância planetária de compartilharem suas experiências. De maneira coerente com o que escrevemos nos parágrafos anteriores, ao apresentarmos de forma estruturada algumas técnicas e passos metodológicos, procuramos referenciá-los aos processos coletivos em curso nos Assentamentos Contestado na Lapa PR e Mario Lago em Ribeirão Preto SP. Desta maneira, esperamos ter incorporado uma pequena parcela de sua radiante vitalidade aos conteúdos sistematizados. Também temos esperanças de provocar nos leitores, o desejo pela insubstituível experiência de conhecer pessoalmente os processos descritos ou outros de semelhante importância. Lembramos também que nada poderá substituir a própria práxis, quando campesinos e suas organizações aplicam os conhecimentos e metodologias e a partir do que observam, as reformulam e de novo as aplicam e de novo as reformulam... Em histórias que não tem mais fim.

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