Abordagens clássicas da historiografia

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historiadores Marc Bloch (1886-1944) e Lucién Febvre (1878-1956) (ambos professores da Universidade de Estrasburgo). A intenção era promover estudos relativos às estruturas econômicas e sociais, favorecendo possíveis contatos interdisciplinares16 no seio das Ciências Sociais. A importância maior da revista, sem dúvida, foi a ampliação do ofício do historiador em direção a um novo paradigma17, notadamente: [...] Uma renovação dos métodos e do próprio objeto da ciência histórica, mediante à atenção dada às estruturas e aos fenômenos coletivos, assim como a abertura para outras ciências sociais, eram desejadas e esperadas nos anos 30 e deviam necessariamente imporse à comunidade científica [...] a atenção prioritária concedida aos grupos – e não mais aos indivíduos (herança do positivismo) -, às estruturas socioeconômicas e, de modo geral, aos fenômenos de evolução lenta – e não mais aos acontecimentos [...] (BURGUIÉRE, 1993, p. 50-52)

Os fundadores da Revista dos Annales não poupavam críticas à Escola positivista da História, pois estes: exaltavam a ação “vazia” dos líderes políticos; valorizavam os estudos biográficos de reis, príncipes, chefes de Estado; apoiavam suas análises no “acontecimento” ou fato político, descartando as ações dos grupos sociais e as transformações de caráter econômico; tinham a intenção “oca” de recuperar dados referentes à genealogia das Nações, etc. Para os historiadores dos Annales, a Escola Positivista visitara somente a superfície factual do passado histórico: “O nascimento dos Annales é portanto um assunto de geração intelectual e científica tanto quanto de poder. Trata-se de defender uma liberdade nova e de

em 1946, e, desde 1993, Annales: Histoire et sciences sociales. (Ver estudos de TÉTART, 2000, p. 108). A rede de colaboradores e simpatizantes que se formou em torno da revista, a transformou, depois da guerra, em Instituição Universitária, quando Febvre criou com Ernest Labrousse e Charles Mozaré a VI Seção da EPHE (Escola Prática de Altos Estudos) (Citado em BURGUIÉRE, 1993, p. 49) Vamos, nesse texto, enfatizar as propostas teóricas e metodológicas em torno da primeira fase da revista (1929-1946). 16 A abertura “interdisciplinar” promovida por Bloch e Febvre aos estudos históricos, nos primeiros anos da revista, seriam ainda modestos para uma dimensão “Complexa” da História (como Morin emprega esse termo). Como afirma o historiador francês André Burguiére: “[...] A herança do momento em que criaram sua revista: a escola geográfica de Vidal La Blache, a economia estatística de Simiand, a Sociologia de Durkhéim e a psicologia histórica preconizada por Henri Berr. (Ver estudos de: BURGUIÉRE, 1993, p. 52) 17 Chamamos de “novo paradigma”, pois essa escola também apresenta limites teóricos de abordagem e visões paradigmáticas, tais como: o peso dado às análises sócio-econômicas e às mentalidades coletivas. Em suas críticas veementes à Escola Positivista, sobretudo à ênfase aos estudos sobre a política, Bloch e Febvre abandonaram, por assim dizer, o papel dos dirigentes; das ações individuais e das instituições políticas nos trabalhos dos Anais.

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