Polyteck - Edição 01

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A letra do médico não é

a vilã

Ao contrário da crença comum, a caligrafia dos médicos não é a única responsável pelos erros na leitura de receitas As receitas médicas, escritas muitas vezes de maneira incompreensível, são consideradas por muitos como um problema sério de saúde pública. No Reino Unido, o número de eventos adversos ocorridos contam como sendo 10% de todas as admissões, somando 850.000 eventos no total, por ano. Um estudo feito no Brasil, apresentou uma taxa de incidência de 76 eventos adversos a cada 1.000 pacientes. Segundo o médico sanitarista Walter Mendes, a realidade do Brasil pode ser ainda pior, visto que esse estudo foi feito em hospitais que trabalham com bons prontuários. No entanto, embora danos e mortes resultantes de erros de medicação e de receitas ilegíveis sejam muito frequentes, o assunto não tem atenção proporcional da sociedade ou da mídia. Um estudo publicado pelo professor Ricardo Martins, do Departamento de Design da UFPR, buscou explorar o tema dos erros prescritivos sob o conhecimento do design da informação, fazendo uma ponte entre a ciência médica, farmacêutica e o design.

O uso de abreviaturas Segundo o professor, é prática comum o uso de abreviaturas nas receitas médicas. Isso é um problema, já que o prescritor supõe que o leitor conhece o significado de todas as abreviaturas utilizadas. Os riscos de interpretar incorretamente o conteúdo da receita aumentam com a dificuldade em entender a escrita do médico. Na opinião de um farmacêutico entrevistado no estudo, o treinamento sobre as abreviaturas nas faculdades de Farmácia é implícito e não-sistematizado. Já na opinião de um médico, no ensino da medicina,

as abreviações são ensinadas como um conhecimento necessário para os médicos, mas seu uso não é incentivado.

A escrita manual O fato das receitas serem escritas à mão confere às mesmas um alto grau de flexibilidade, já que suas características gráficas são diretamente afetadas pela tecnologia de produção do documento. Documentos feitos manualmente admitem qualquer caracter e estilo, peso, cor e tamanho – dependendo apenas da destreza do escritor. No entanto, o que poderia ser

No Brasil, danos e mortes resultantes “ de erros de medicação ocorrem em uma proporção de 76 eventos adversos para cada mil pacientes atendidos” uma vantagem na mão de pessoas com habilidade gráfica, torna-se um problema no caso dos médicos. Isso porque sua principal habilidade está no planejamento da terapia mais indicada para os pacientes, e não na configuração visual de documentos. Somados ao estresse, ansiedade e múltiplas jornadas de trabalho, a escrita de um simples documento à mão pode representar um desafio. Quando se trata de aprender a fazer ou ler receitas, o farmacêutico diz que o aprendizado na faculdade é fragmentado. Já o médico afirma que os estudantes aprendem a fazer receitas a partir do 3º ano do curso

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