voxobjetiva45

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A bênção da madrinha...

março/13 • Edição 45• Ano V • Distribuição gratuita

PT aposta no sucesso de Dilma para impulsionar campanha em Minas e reconstruir o partido arrasado por intrigas de poder

“Ora pois...”

Ajustes finais

Porto, terra de romantismo e da boa gastronomia

Seleções quase prontas para a Copa das Confederações


TodAs As porTAs dA AssembleiA esTão AberTAs pArA Você. Participar da vida política é direito de todo cidadão. Por isso, a Assembleia facilita o acesso para você chegar à Casa do Povo. Você pode acompanhar o trabalho dos parlamentares, consultar os projetos e as notícias e apresentar sugestões. Acesse a Assembleia pela internet, TV ou telefone. Ou venha aqui pessoalmente. Fique à vontade, a Assembleia é a sua Casa.

Acesse: www.almg.gov.br Assista: TV Assembleia – em BH, canal 35 UHF Fale: Centro de Atendimento ao Cidadão – (31) 2108 7800 Venha: Rua Rodrigues Caldas, nº 30 – Santo Agostinho – Belo Horizonte. Atendimento das 7h30 às 20h.


minastrend.com.br

ANALÓGICOS OU DIGITAIS? VISTA. EXPRESSE. QUESTIONE. A moda em constante evolução. Um Minas Trend que não busca respostas. Questiona. Pois se

Expominas / Av. Amazonas, 6030 / Belo Horizonte

120 MINAS TREND / PRIMAVERA - VERÃO 2013/2014

9 a 12/4

o mundo muda a moda expressa.


Expediente

A Revista Vox é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro - Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060.

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32) • Editor e jornalista responsável Carlos Viana • diagramação e arte Graziele Martins • Capa Eduardo Mendes Foto: Antonio Cruz/ABr • Reportagem André Martins Ilson Lima Paulo Filho Thiago Madureira • CORRESPONDENTES Greice Rodrigues -Estados Unidos Ilana Rehavia - Reino Unido Isabela Araújo - Portugal • diretoria Comercial Solange Viana • anúncios comercial@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 • ATENDIMENTO jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 www.voxobjetiva.com.br • REVISÃO Versão Final • tiragem 30 mil exemplares Os textos publicados em forma de artigos, produzidos por colunistas convidados, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores.

Editorial

CARLOS viana Editor-Chefe carlos.viana@voxobjetiva.com.br

As decisões que esperamos O tema eleições 2014 vem ganhando cada vez mais destaque na imprensa nacional. Comentaristas e repórteres especializados em política fazem vários questionamentos. Dois deles são considerados principais. O primeiro, se o PT vai conseguir se manter no poder, apesar dos resultados ruins da economia nos últimos anos. O segundo coloca em dúvida a capacidade da oposição, capitaneada pelo PSDB e pela pré-candidatura de Aécio Neves, de construir uma agenda política capaz de convencer o brasileiro a mudar o voto em um contexto em que a presidente Dilma é aprovada por sete entre dez eleitores. Enquanto a presidente busca o apoio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em Brasília estão emperrados assuntos fundamentais para o futuro da economia, como a nova Lei dos Portos e as reformas política e tributária. Em paralelo, o senador mineiro Aécio Neves tenta conseguir o difícil apoio do ex-ministro José Serra e costurar os pedaços do PSDB dilacerado pelas derrotas recentes nas urnas. Isso, sem contar as mágoas internas motivadas por denúncias de investigações mútuas e ilegais. Os sinais desse imobilismo político começam a preocupar. As contas externas brasileiras dão sinais claros de deterioração. A entrada de dólares declinou, e as importações pesam cada vez mais na balança comercial. O nível de investimento na indústria está entre os menores dos últimos dez anos. E existe uma grande desconfiança entre os investidores sobre a capacidade da equipe econômica de reaquecer a economia ainda este ano. O Brasil ainda não descobriu a importância de criar políticas de Estado que sejam colocadas acima dos interesses partidários e executadas, independentemente das tempestades políticas. As discussões são parte fundamental da vida democrática. O desafio é não deixar que elas ocupem o espaço destinado ao desenvolvimento e ao crescimento das riquezas em um país ainda marcado por desigualdades e desafios colocados em segundo plano. E pelo correr dos acontecimentos, estamos longe de uma maturidade que nos leve a ser comparados a países em que política e economia ocupam lugar próprio, sem interferências nem prejuízos ao longo de crises.


MetrOpolIS • OLHAR BH

Tempo de reflexão Marcos Pereira Quaresma é sinônimo de reflexão sobre os ensinamentos de Cristo, conversão e mudança de vida. O tempo litúrgico corresponde ao período de 40 dias compreendido entre a Quarta-feira de Cinzas e o Domingo de Páscoa. Incrustado em uma das poucas matas nativas de Belo Horizonte, no bairro Vila Paris, o Mosteiro Nossa Senhora das Graças é o ponto de encontro de fiéis. Os devotos se reúnem em missas e celebrações diárias. Fundado em 1949, o Mosteiro de monjas beneditinas é um convite à introspecção e ao autoconhecimento.

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sumário Caroline Barrionuevo

Antonio Cruz/ ABr

8 verbo.......................

entrevista • COSTANZA PASCOLATO

Consultora de moda ressalta autenticidade do Minas Trend Preview e diz que evento marca o calendário da moda Arquivo

Capa...................................................................

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metropolis.............................................. MEIO AMBIENTE • RESÍDUOS SÓLIDOS

Desafio de tratar o lixo movimenta bilhões de reais em Minas

Artigos............................................................................. justiça • Robson Sávio Sobre a corrupção.................................................................

política • Paulo Filho E agora, José?......................................................................

Meteorologia • Ruibran dos Reis Tempo bom..........................................................................

PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci O ápice da goludice..............................................................

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METROPOLIS •

BASTIDORES POLÍTICOS

Único nome cogitado pelo PT mineiro, Fernando Pimentel vai ter a missão de tirar o poder das mãos dos tucanos em Minas e contribuir para a manutenção de Dilma e do PT à frente do país

IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira O problema do barulho.........................................................

crônica • Joanita Gontijo

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Paz e amor.........................................................................

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SALUTARIS........................................................................

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RECEITA • PALADAR Robata de lagosta...........................................................

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VINHOS • Danilo Schirmer O vinho e a saúde..............................................................

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Renata Caldeira/ TJMG

Mowa Press

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PODIUM.........................................................

esportes • COPA DAS CONFEDERAÇÕES

O caminho e as chances das seleções que disputam o torneio que precede o maior evento futebolístico do mundo

André Martins

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Metropolis.............................................. INVESTIGAÇÃO • PRORROGAÇÃO

Bruno é condenado, mas o jogo só termina com o julgamento de “Bola”

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kultur.......................................................... artes plásticas

• BONFIM

Projeto da UEMG transforma o cemitério do Bonfim em um local destinado à reflexão da história e da arte Amana Duarte

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Horizontes .......................................................................................................................................................... turismo • PORTO

Dona de um dos vinhos mais nobres do mundo, a centenária Porto oferece mais que ótimos sabores aos turistas. A cidade é um delírio visual por meio de pontes, jardins, praias e prédios

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VERBO

Elegância radicada no Brasil Referência no mundo da moda, Costanza Pascolato afirma que cada um deve respeitar o próprio estilo Luísa Reiff Guimarães Fotos de Caroline Barrionuevo O nome denuncia a não brasilidade. Quando Costanza Pascolato veio para o Brasil, na primeira metade da década de 40, ela tinha apenas 5 anos. Sendo um dos alvos dos Aliados na II Guerra Mundial, a Itália não era o melhor lugar para viver. Nas terras equatoriais do Brasil, a família Pascolato se refugiou. Aqui Costanza estudou, trabalhou, casou-se três vezes, teve duas filhas e netos e ganhou o reconhecimento da mídia e do público brasileiro. A projeção alcançada é explicada por um fator simples: ela é responsável por ajudar a estruturar a cultura de moda no país. Costanza tem um extenso currículo como jornalista, consultora de moda, produtora, escritora e empresária. Agora ela se aventura no jornalismo on-line. Vestindo-se sempre de forma elegante, ela acompanha desfiles e semanas de moda nacionais e internacionais. A agenda é cheia. Quando Costanza entra na sala, os olhos se voltam para ela. As piadas que faz quebram a tensão criada devido às expectativas em torno dela. Ao subir no palco da sala que abrigou a palestra que fez em Belo Horizonte no 3° Workshop de Moda, no prédio da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), eram incontáveis flashes. O motivo dos óculos, sempre no rosto, parece óbvio agora. - ”A chegada da velha senhora”, anunciou em tom de brincadeira. A reportagem da Vox Objetiva conseguiu uma breve entrevista. Costanza conta histórias sobre a

própria vida e revela lembranças de quando chegou ao Brasil. Ela analisa o evento de maior expressão da moda mineira, o Minas Trend Preview, promovido pela Fiemg e que em abril chega à sua 12ª edição. Que lugar o Minas Trend Preview ocupa no panorama da moda brasileira? O Minas Trend Preview é mais próximo do público. É objetivamente comercial. Os desfiles aqui têm mais personalidade do que aqueles que ficam apresentando as tendências. O evento é mais real e mais próximo do que os lojistas efetivamente comerciam. É mais objetivo e menos “oba-oba”. Eu quero ver mais o Minas Trend. O evento vem sendo muito bem falado por todos e no Brasil inteiro: quem participa, quem compra, quem trabalha, quem expõe e quem desfila as coleções. Ultimamente, tenho saído menos de casa. Mas para ver uma feira com a reputação que o Minas Trend Preview tem construído, vale a pena. Quero vir a Belo Horizonte e passar uns dias aqui para conhecer melhor o MW. Mais do que prestigiar, quero me informar e vivenciar o evento. E você acha que a mudança no calendário da moda brasileira, com a alteração das datas de outros eventos de peso, vai impactar negativamente o Minas Trend? A verdade é que a mudança no calendário é irreversível. O que temos que fazer é trabalhar na



VERBO

adaptação. Será difícil no começo, mas sei que todos estão fazendo ainda mais esforço do que fazem normalmente. O novo assusta mesmo, mas isso deve ser usado como um combustível para o trabalho. E a moda brasileira também vem abrindo caminhos e achando seu espaço. O Brasil viveu excluído por muito tempo. Agora estamos interligados, e todo mundo concorre com todo mundo. Você já escreveu para diversas revistas de moda e até hoje trabalha nessa área. Agora você vai começar a escrever on-line - outro tipo de mídia e de jornalismo. Como você encara as diferenças entre as plataformas? Em um blog independente, você pode escrever com maior liberdade. Como não está vinculado a nenhuma revista nem a nenhuma marca, há muito mais espaço para opiniões. As revistas de moda haviam dominado o mercado, mas elas dependem de publicidade, de marcas e de anúncios. Isso acaba limitando um pouco. A internet é algo onipresente que manda novidades o tempo todo. É um meio que valida as vozes independentes. Estou interessada em escrever em um veículo mais livre de publicidade. Ainda tem o fato de

que a escrita também é diferente. Assim posso escrever de forma mais coloquial e com ideias mais curtas. Ninguém fica lendo textos muitos longos. Os blogs são importantes, mas é claro que não são todos que valem a leitura. Temos que ser seletivos. É uma coisa nova. Como tudo que é novo, primeiro se desenvolve para depois se aperfeiçoar. Seus pais, quando vieram da Itália, abriram uma fábrica de tecidos. Isso aproximou você do mundo da moda. Você sempre quis trabalhar nessa área? A verdade é que eu não queria trabalhar. Quando eu comecei a me interessar, ninguém queria me dar trabalho, porque eu não tinha cara de quem ia fazer alguma coisa. Eu também não estudava tanto assim. Falo quatro línguas, mas não me ligava tanto na escola. Lá pelos 12 anos, eu lia Jean-Paul Sartre e Dostoievski. Os livros eram mais interessantes que as matérias do colégio. Meu pai era de uma família de intelectuais, mas trabalhava. Minha mãe também era uma batalhadora. Ele brincava que eu não era bonita – e eu era lindona – mas que tinha um gesto, um jeito,... e que isso seria bom para mim. Já eu, naquela época, falava que era “incasável”, porque não queria trabalhar. Até que comecei e nunca mais parei. Ao longo dos anos, você tem não somente escrito sobre moda; você tem vivido a moda. Como a moda vem evoluindo e mudando nesse tempo? Meu pai sempre me mandava estudar história. Ele dizia que a matéria ia me salvar. E realmente me ajudou. A moda é história e a história se repete. Estou citando Coco Chanel agora: “A moda são os modos”. Moda não é só vestir o corpo. A gente tem roupas suficientes para nos cobrir e agasalhar. Moda é a aspiração de expressar, mostrar e comunicar algo.

Com muito humor, Costanza falou para jornalistas e expositores .........................................................................................................................

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Nós devemos ser fiéis ao nosso estilo. A pessoa deve fazer o que sabe fazer bem. Existe isso de ver alguma coisa ou personalidade sendo aclamada e fazendo sucesso e querer copiar. Mas não há nada como ser verdadeiramente o que é e fazer isso bem.


Artigo • Justiça

ROBSON SÁVIO REIS SOUZA Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br

Sobre a corrupção Um dos grandes desafios das democracias é o enfrentamento, o combate e a redução da corrupção embrenhada no Estado. Da maneira como a conhecemos nos nossos dias, a corrupção é um fenômeno da república moderna, e o regime democrático, inevitavelmente, convive com algum grau de corrupção por duas razões: a democracia se pauta pelo sentimento de tolerância à diversidade, e a corrupção decorre da supremacia dos interesses individuais em relação aos interesses coletivos. O alto nível de corrupção das instituições, principalmente das agências públicas, coloca em xeque o estado democrático e de direito, a sua legitimidade e a efetividade. Além disso, fragiliza os arranjos organizacionais, indispensáveis para a estabilidade do sistema social e político.

dificulta o controle dos cidadãos sobre a atividade pública que pressupõe a visibilidade, o conhecimento, a acessibilidade e a existência de mecanismos de controle obstruídos no processo de corrupção. Para alguns analistas, a população tem consciência da gravidade do problema representado pela corrupção, mas reconhece que ações do governo têm levado a avanços no combate a essa prática.

“A corrupção atinge o princípio da igualdade e da justiça, destrói a confiança dos cidadãos e deslegitima as instituições”

A compreensão do fenômeno da corrupção e suas consequências para a estabilidade democrática são assuntos de relevância social, política, cultural, histórica,... O tema é extremamente complexo, porque a prática da corrupção pode ser estudada em diversos segmentos públicos e privados. Mas não se podem desconsiderar, especialmente, as consequências danosas da corrupção nas democracias contemporâneas. A corrupção atinge o princípio da Lorem Ipsume Dolar sit ametdestrói a confiança dos cidadãos igualdade da justiça, adipiscing elit. econsectetur deslegitima as instituições. Ademais, a corrupção Praesent malesuada urna fragiliza diretamente o ideal da transparência e ornare libe. da accountability (responsabilidade), princípios fundantes da democracia. A corrupção também

Em 2006, o Ibope fez uma análise intitulada “Corrupção na Política: Eleitor Vítima ou Cúmplice?”. O instituto ouviu mais de 2 mil eleitores em diversas regiões do país. O resultado mostrou que dois terços dos entrevistados já cometeram ou cometeriam atos ilícitos, como comprar produtos piratas ou subornar um guarda. E a maioria das pessoas aceita que seus representantes cometam algum tipo de irregularidade, como contratar familiares e transformar viagens de negócio em de lazer.

Por isso, uma pergunta torna-se crucial: o que cada um de nós tem a ver com a corrupção? Apontar o dedo para o outro e classificá-lo de corrupto é fácil. Afinal, na corrupção e na criminalidade, o outro é sempre mau, perigoso, perverso e covarde. E nós (e os nossos) sempre somos os bons; os do bem. Como diz o antigo ditado: “o pior cego é aquele que não quer ver”.

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MetrOpolis • capa

Antônio Cruz/ ABr

O nome de Pimentel recebe o aval do PT estadual e de ninguém mais, ninguém menos, do que o da amiga, a presidente Dilma ..............................................................................................................................................................................................................................................................

O PT vai disputar a eleição Opção consensual entre lideranças do partido, o ex-prefeito de Belo Horizonte e ministro do governo Dilma, Fernando Pimentel, deve entrar na disputa pelo governo estadual Paulo Filho

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MetrOpolis • capa

Em qualquer circunstância, o PT vai ter candidato ao governo de Minas na próxima eleição. Mais do que calcada na vontade da seção estadual da legenda, a afirmação está vinculada ao cenário e à radiografia do pleito de 2014. Entre 2002 e 2010, o lulécio e o dilmasia eram movimentos palatáveis. Outra situação aceitável era a cessão da cabeça de chapa ao parceiro PMDB em prol da manutenção do poder federal. Agora o quadro para o PT mineiro é outro. Até o momento, o candidato de oposição à reeleição de Dilma Rousseff é o ex-governador e senador Aécio Neves (PSDB/MG). É preciso considerar que Minas é o segundo colégio eleitoral do país e que o grupo de Aécio lidera ampla e sólida aliança política no estado. Com os tucanos no poder há dez anos, a lógica de uma candidatura forte carregando a bandeira dilmista no estado é imperativa. O PT mineiro tem que disputar o poder para valer. Caso contrário, o partido corre o risco de comprometer a reeleição da presidente Dilma Rousseff.

da legenda: a própria presidente. Antônio Carlos Pereira – o Carlão – é um dos que colocam o ministro Pimentel como o mais indicado para a disputa. Carlão é um dos fundadores do PT de Minas, ex-vereador, ex-deputado, líder de bancada, foi candidato a governador e, até pouco tempo atrás, era membro do Diretório Nacional. “O momento é o dele, mas eu não sei, sinceramente, se ele quer ser candidato. Até agora ele não se posicionou nem se apresentou para o jogo”, afirma. Carlão prevê uma disputa duríssima, com alguma vantagem para o outro lado. Para ele, com o respaldo e a apropriação dos governos Lula e Dilma na campanha, o PT mineiro cresce. “O Fernando é um bom quadro, um dos melhores que nós temos. Mas para ser candidato do PT real, ele tem que prestar tributo ao partido, aproximar-se da militância e cumprir alguns rituais importantes para os filiados”, destaca.

“O momento é o dele, mas eu não sei, sinceramente, se ele quer ser candidato. Até agora ele não se posicionou nem se apresentou para o jogo”

Se Pimentel for o candidato, com certeza os adversários vão trazer para a campanha os problemas de cunho ético e jurídico enfrentados pelo ex-prefeito. O caso dos R$ 2 milhões que Pimentel recebeu pela consultoria prestada ao Antônio Carlos Pereira Sistema Federação das Indústrias de Minas Gerais (Sistema Fiemg) vai ganhar amplo destaque na mídia nacional. Mas Carlão minimiza: “a gente avalia um partido pelo que ele rende para a sociedade e pelas consequências que Para a disputa em 2014, o melhor nome dentro e fora ele traz para as pessoas. Eu não tenho a menor dúvida do PT é o do ministro do Desenvolvimento, Indústria de que o PT, o jeito PT de governar, melhorou a vida e Comércio Exterior e ex-prefeito de Belo Horizonte, da população. É isso que vai ser posto na campanha Fernando Pimentel. O nome de Pimentel não goza de do PT”. amplo prestígio nas bases partidárias, principalmente por causa da eleição de Marcio Lacerda, fruto do Quanto ao PMDB, a chance é zero para que a cabeça acordo Pimentel/Aécio. Mesmo assim, o nome é de chapa seja cedida, reeditando a última disputa. defendido entre as lideranças quase que de maneira “Vamos nos empenhar, é claro, para que tenhamos consensual. Além disso, Pimentel é muito próximo de o PMDB conosco. E é lógico que a presidente Dilma Dilma e tem a preferência da principal cabo eleitoral Nessa empreitada, a avaliação de quadros petistas sobre a participação do parceiro PMDB no projeto vai de importante a imprescindível e fundamental. Mas há uma ressalva: em qualquer circunstância, um candidato do PT vai disputar o governo de Minas, com ou sem o PMDB.

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MetrOpolis • capa

AntônioPaulo Cruz/Filho ABr

de Belo Horizonte nos últimos tempos e mudou a cara da cidade”. Mas Aluísio revela que há resistência ao nome de Pimentel entre a militância. O ex-prefeito não é um militante tradicional do PT, desses que frequentam reuniões, fazem afagos e se preocupam com o métier interno. Aparadas essas arestas e cumprindo os ritos que a militância do partido impõe, Aluísio acredita que Pimentel consiga fechar o partido em torno de sua candidatura. Aluísio entende que Minas será crucial para a reeleição de Dilma Rousseff. “Mesmo com excelentes perspectivas de reeleição, a Dilma precisa de um candidato forte e competitivo em Minas Gerais, porque a candidatura do Aécio será competitiva aqui. Minas será palco central na próxima eleição”. Nessa toada, Aluísio adota o mesmo raciocínio de Carlão: “o PMDB é fundamental no nosso projeto, mas ceder a cabeça de chapa dessa vez está fora de cogitação. Dessa vez, eles podem compor como vice”, analisa.

Para Aloísio, Pimentel tem força e contribuiria ainda para impulsionar a campanha de reeleição da presidente Dilma .........................................................................................................................

também vai se empenhar pela manutenção da aliança dos partidos de sua base, mas não tem como o PT mineiro abrir mão da cabeça de chapa nesta eleição. Em 2010, o quadro era diferente. Além de ser um ministro do governo Lula, Hélio Costa era um político testado em eleições e tinha voto. Agora o PMDB coloca o nome do senador Clésio Andrade – um político sem votos, porque não foi testado em disputas nas urnas”, enfatiza Carlão. Outro que participou da fundação da legenda em Minas é Aluísio Marques. Com o título de presidente de honra do PT de Belo Horizonte, Aluísio é ex-presidente do partido na capital por vários mandatos. Ele também referenda o nome de Fernando Pimentel para 2014. “O Pimentel é o político brasileiro que mais se identifica com Juscelino Kubitschek. Todo mundo quer se parecer com JK. Além da aparência no perfil pessoal, Pimentel tem semelhanças com JK na trajetória política. O Pimentel é um político moderno, bom administrador, realizador, foi o melhor prefeito

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Aluísio reconhece a força do grupo aecista em Minas. Mas ele demonstra maior preocupação com a condução interna da campanha petista no estado, apesar da ampla aliança e do controle da máquina estatal exercido pelos tucanos. Citando campanhas anteriores, Aluísio credita grande parte do fracasso do PT mais à incompetência na condução dos pleitos do que aos méritos dos adversários. “Tivemos campanhas com coordenação muito ruim, muito fraca. Foram campanhas excludentes. Em vez de incluir quadros para somar, isolaram pessoas e lideranças importantes do processo. Isso é o que não pode ocorrer agora. A próxima campanha tem de ter uma coordenação que saiba o que está fazendo”. O PT não abre mão da cabeça de chapa na próxima disputa. E o nome mais bem posto é o do ministro Pimentel. Então o que fazer, caso o ex-prefeito não queira sair candidato ou a sua candidatura não se viabilize? O PT tem outro nome? Aluísio Marques e Carlão apontam na mesma direção: a ex-prefeita de Contagem, Marília Campos. “Tirando o Pimentel, ela é o nome mais viável e que mais agrega, mesmo com algumas dificuldades causadas pelo núcleo político mais próximo a ela”, fecha a questão Aluísio.


ARTIGO - POLÍTICA

pAULO fILHO Jornalista e consultor de Comunicação Social paulojfilho@ig.com.br

E agora, José? Se alguém tinha dúvida sobre o DNA da gestão na prefeitura, o anúncio do secretariado deste segundo mandato esclareceu. O aparelhamento político na PBH priorizou os tucanos. De quebra, as nomeações atenderam à ampla aliança política de sustentação do projeto de poder aecista. E mais uma vez ficou evidente que a administração da cidade ficou em segundo plano. O interesse maior é sempre na ocupação de espaços visando as campanhas eleitorais. Passa a impressão de que nenhum político tupiniquim acredita que competência e boa gestão da coisa pública sejam ferramentas viáveis para as disputas de votos. O aparelhamento é sempre a opção escolhida. Além de políticos derrotados em eleições recentes, nenhum dos nomes do novo secretariado registra ações significativas em prol das comunidades e das cidades nas quais construíram suas carreiras políticas. Candidatos derrotados na última eleição municipal, como os de Juiz de Fora e Ribeirão das Neves, acabaram se tornando secretários municipais em Belo Horizonte. Isso é sintomático do aparelhamento tucano pelos votos dos currais eleitorais. Mas a presença de Marcio Lacerda à frente da prefeitura de Belo Horizonte vai além dessa identificação com os tucanos e o projeto aecista. A quase certa candidatura presidencial de Eduardo Campos (PSB/PE) dá contornos inesperados à posição de Marcio Lacerda no quadro político nacional. E isso acontece num cenário em que a figura do governador pernambucano começa a ficar maior do que a do ex-governador mineiro. A consequência desse processo para Lacerda é a atração de parceiros históricos do PSDB para o seu entorno.

Picado pela mosca azul ou talvez pressionado pelo seu partido para garantir um palanque forte para Eduardo Campos em Minas, Lacerda pode ser candidato ao governo do estado. Com um adendo: o prefeito de Belo Horizonte goza de apoio popular e tem bom potencial de votos na grande BH. Por diversas vezes, Lacerda disse que jamais se oporia a Aécio e a Pimentel, por uma questão de justiça ao que os dois fizeram por ele. Mas mesmo que não seja candidato, o PSB e Marcio vão ter de pôr a cara na campanha de Eduardo Campos, além de usar o tempo de rádio e televisão. Chega a ser curioso ver Lacerda, cria do Pimentécio, não ficar ao lado de nenhum deles na próxima eleição.

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MetrOpolis • MEIO AMBIENTE

Um desafio bilionário

Arquivo

Governo estadual pretende transformar Minas no primeiro estado a gerir o próprio lixo de forma sustentável

Arquivo

Os resíduos sólidos representam boa parte do lixo gerado diariamente. Tratamento do material é um dos desafios ..............................................................................................................................................................................................................................................................

Ilson Lima O Brasil tem de superar muitos gargalos no tratamento dos resíduos sólidos urbanos. Isso se deve ao descaso, à omissão e à ineficácia dos poderes públicos ao tratar o assunto durante tempos. Nas últimas décadas, os governos federal, estaduais e municipais vêm tomando várias iniciativas para eliminar os milhares de lixões a céu aberto existentes no território nacional. A criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabeleceu 2014 como data-limite para a eliminação dos lixões. Com essa ação, o país busca chegar ao nível de países que dão tratamento adequado ao seu lixo. A medida abrange o ponto de vista social, econômico e ambiental. Na corrida contra o tempo, iniciativas positivas vão surgindo em toda a parte.

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O governo de Minas vem executando um projeto de importância. Na prática, o projeto vai representar um novo salto no tratamento dos resíduos sólidos. A iniciativa privada vem trabalhando com o que há de mais moderno no tratamento dos Resíduos Sólidos da Construção Civil (RSCC). As empresas que atuavam no setor não aplicavam totalmente as tecnologias disponíveis. Alguns empreendimentos vêm se sustentando há alguns anos, aguardando o impulso que será dado ao setor nos próximos anos. “Dar ao lixo o tratamento social, ambiental e econômico é imprescindível para o Brasil superar um dos obstáculos que travam seu desenvolvimento em todos os níveis”, afirma o presidente da Comissão de Direito Ambiental da OAB/Minas, Mário Werneck.


MetrOpolis • MEIO AMBIENTE

o exemplo positivo Em meio a tanta feiura é possível encontrar algo de belo, em relação ao respeito ao meio ambiente, à cidade de Santa Luzia e aos seus moradores. No quilômetro 444 da BR-381, no bairro Bom Destino, está implantado o Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos da Construção Civil (CTR) Maquiné. Com uma área total de 88 hectares, o empreendimento recebe 2 mil metros cúbicos de resíduos sólidos da construção civil (RSCC) por dia. O Centro de Tratamento é de propriedade da Czar Engenharia Ambiental, que presta serviço para a Prefeitura de Belo Horizonte. O diretor executivo da empresa, Fernando Engler, alega que o CTR está autorizado a receber apenas essa quantidade de resíduo inerte. “Temos capacidade para receber muito mais material”, informa. Para montar o empreendimento de forma legal, a Czar Engenharia teve que obter autorização de diversos órgãos, entre eles, a Superintendência de Regularização Ambiental (Supram), entidade subordinada à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), da qual recebeu a licença ambiental.

experiências positivas no manejo de resíduos. O processo de funcionamento começa na área em que o material recebido é despejado. Uma escavadeira faz o trabalho de espalhar os resíduos. Em seguida, um trator agrícola com implementos (garfos) faz a limpeza, separando os resíduos urbanos dos resíduos inertes. Depois dessa triagem, os resíduos urbanos são encaminhados para o Aterro de Macaúbas, em Sabará. Após nova seleção, parte dos resíduos inertes é destinada à reciclagem. Outra parte é armazenada no CTR com a utilização de técnicas de engenharia próprias. Engler garante que o CTR monitora periodicamente os cursos d’água do local, do ar e do ruído gerado pelo equipamento. Uma empresa certificada para aferir esses processos realiza o monitoramento. “Nós nos preparamos e nos capacitamos para ser uma opção legal e profissional para esse tipo de atividade no mercado”, ressalta o executivo. CTR Maquiné/ Divulgação

De posse da licença ambiental, a empresa obteve a necessária licença de operação (LO) para exercer a atividade de aterro e de área de reciclagem de resíduos classe “A” (da construção civil). A empresa também foi autorizada a realizar a triagem, o transbordo e o armazenamento transitório de resíduos inertes. Localizado a 16,5 quilômetros de distância do Aeroporto de Confins, o CTR obteve da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) o aval para operar, por meio do Comando Aéreo Regional (Comar). Conforme a legislação que rege as zonas aeroportuárias, e que são de responsabilidade do Comar, o espaço de até 20 quilômetros de distância dos aeroportos é regulado pela Portaria 256 do órgão. A regulamentação dispõe sobre as restrições relativas a implantações que possam afetar adversamente a segurança e a regularidade das operações aéreas. O CTR Maquiné utiliza tecnologia de ponta em suas atividades com RSCC. Trata-se de uma das primeiras

Cerca de 2 mil metros cúbicos de resíduos sólidos são processados diariamente pela CTR Maquiné ..........................................................................................................................

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MetrOpolis • MEIO AMBIENTE

as ações governamentais No início da década passada, Minas Gerais estava numa situação dramática quanto à disposição dos resíduos sólidos urbanos (RSU). Diante disso, o governo estadual tomou a iniciativa de atacar o problema. O objetivo era reduzir drasticamente o número de lixões. A situação era tão grave que, em 2001, apenas 30 dos 853 municípios não dispunham seus RSU em lixões.

sólidos. Essa é a avaliação de inúmeros especialistas e até de técnicos das entidades governamentais. A Secretaria de Gestão Metropolitana (Segem) publicou uma cartilha que trata sobre a necessidade de alcançar um novo patamar em tratamento do lixo urbano. No documento, a Segem afirma que no Brasil, os municípios utilizam métodos ultrapassados e pouco eficientes para gerir o lixo doméstico. “A situação em todo o país é preocupante”, conclui o documento.

Mas a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) criou o programa “Minas sem Lixões” em 2003. Foi o primeiro impulso significativo na mudança daquela realidade. O resultado pôde ser aferido dois anos depois. Em 2005, o número de lixões caiu de 823 para 564. Entretanto, o que houve foi uma mudança significativa do que estava péssimo para uma situação remediada. Esse é o resultado que aponta o relatório da Fundação, divulgado no ano passado. O diagnóstico se baseia no panorama dos RSU em 2011.

Entre 2005 e 2011, o número de lixões foi reduzido de 564 para 278. Os lixões cometiam o absurdo de expor os lençóis freáticos a riscos efetivos de contaminação e de propagar doenças. Com a implantação dos aterros controlados, houve uma situação de alívio temporário. Os aterros controlados passaram de 191 para 308 no mesmo período. Mas a fragilidade desses equipamentos está exposta no documento da Feam: “nos aterros controlados são adotadas apenas medidas mínimas necessárias para diminuir o impacto sobre a saúde pública e o meio ambiente”.

O Brasil e Minas Gerais estão longe de ter métodos corretos para o tratamento e a disposição dos resíduos

A União criou a PNRS, e o governo estadual desenvolve ações que abrangem o interior, a Grande Omar Freire/ Imprensa MG

Governador Anastasia em assinatura de convênio com 46 dos 48 municípios do Colar Metropolitano de Belo Horizonte para a gestão compartilhada dos serviços de transbordo, tratamento e disposição final de resíduos sólidos urbanos ..............................................................................................................................................................................................................................................................

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MetrOpolis • MEIO AMBIENTE

BH e o Colar Metropolitano. Com essas medidas, a expectativa é de que seja dado um salto significativo na mudança de cenário, ainda que falte apenas um ano e meio para o cumprimento das metas da PNRS.

Gil Leonardi/ Segem

a ppp do lixo O governo de Minas conta com os investimentos e os incentivos do governo federal estabelecidos como condicionantes na PNRS. E para cumprir os procedimentos dentro dos prazos previstos nessa política, o governo estadual vem agindo às pressas. O governo de Minas quer transformar a RMBH e sua área de influência na primeira região metropolitana do país a gerir 100% do lixo doméstico de forma segura, sustentável e com aproveitamento energético. Desde o início de 2012, os técnicos da Agência de Desenvolvimento da RMBH (ARMBH) trabalham no programa de gestão metropolitana de resíduos sólidos. É o que revela a coordenadora técnica da área dos projetos de resíduos sólidos, Camila do Couto Seixas. O programa prevê a gestão compartilhada entre o setor público e a iniciativa privada: a chamada Parceria Público-Privada (PPP). Somente pelas modelagens técnica, econômica e jurídica da PPP do lixo urbano, o governo de Minas pagou 195,3 mil libras esterlinas à empresa Bain & Company. No passo seguinte, a Segem começou a colher as assinaturas dos contratos com 44 municípios da RMBH, exceto BH e Sabará. Essas duas cidades vão desenvolver projetos à parte. Por meio desses projetos, BH e Sabará vão delegar ao estado a responsabilidade pelo transbordo, tratamento e pela disposição final dos resíduos sólidos dessas cidades. De acordo com Camila Seixas, o estado vai investir 80% dos recursos, enquanto o município entra com os 20% restantes. Também fica a cargo do município a obrigação de implantar a coleta seletiva e assegurar a coleta domiciliar, além de apoiar as associações de catadores de papel, conforme condiciona a lei federal que instituiu a PNRS.

Camila explica que o programa de gestão metropolitana de resíduos sólidos será compartilhado entre os setores público e privado ..........................................................................................................................

O projeto estadual pressupõe investimentos de R$ 3,2 bilhões e a contratação de empresa especializada na área. A empresa vencedora vai ter uma concessão de 30 anos para realizar o serviço e a garantia dos subsídios financeiros do estado. Após a assinatura dos contratos com os municípios, o estado lança o edital de licitação internacional, que pode ocorrer neste primeiro semestre. Até o momento, 12 empresas - sete nacionais e cinco estrangeiras - demonstraram interesse de participar da licitação, por meio do Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI). Isso é um bom sinal para o governo, porque viabiliza o cumprimento dos prazos e revela que lixo também é um bom negócio na perspectiva empresarial. A Segem e a ARMBH estão com outro projeto em andamento no plano estadual: o plano metropolitano de gestão dos resíduos dos serviços de saúde (RSS) e da construção civil (RCC). O projeto prevê a contratação de outra empresa para realizar as necessárias modelagens. Os recursos vêm do Banco

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MetrOpolis • MEIO AMBIENTE

Interamericano de Desenvolvimento (BID), segundo revela Camila Seixas. O estado assinou um termo de cooperação financeira com a instituição. leis não faltam Se dependesse apenas das leis no papel, o Brasil não estaria nessa situação. Em 1981, portanto há mais de 30 anos, foi sancionada a Política Nacional de Meio Ambiente - a Lei Federal 6.938. A regulamentação apontava a necessidade de o país cuidar dos vários aspectos que envolvem os resíduos sólidos urbanos. Em 5 de outubro de 1988, há mais de 24 anos, foi aprovada a Constituição Federal. No artigo 225 está previsto que todo cidadão tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e que se trata de um bem essencial à qualidade de vida. E no dia 12 de fevereiro completou-se 15 anos de vigência da Lei Federal 9.605, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas para os crimes contra o meio ambiente. No ritmo de tartaruga incorporado à cultura brasileira, o projeto que criou a PNRS foi aprovado depois de ter ficado 20 anos sendo discutido no Congresso Nacional. Não é à toa que ambientalistas, Reprodução

Placa da província japonesa de Gifu estimula a educação ambiental .........................................................................................................................

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autoridades e profissionais ligados à área concordam que o país, como em outras áreas, deixou passar o tempo. Agora o país está atrasado, muito atrasado, no equacionamento de um dos gargalos que travam o seu desenvolvimento econômico e social. a aula dos japoneses O Japão, a Suécia, a Áustria, a Holanda e a Alemanha utilizam um dos modelos mais avançados no tratamento dos resíduos sólidos urbanos. Esses países adotam técnicas que permitem a destinação cada vez menor de seus RSU para os aterros. No caso do Japão, talvez o país mais avançado na aplicação de tecnologias em usinas termoelétricas, é praticamente nula a necessidade de locais de descartes para o lixo urbano. O geógrafo Lucas Areda percebeu a distância abissal entre a forma de manejo dos resíduos sólidos urbanos daquele país e a do nosso. Lucas foi um dos participantes do curso ministrado pelo pesquisador Nobuyuki Ogata, realizado em maio do ano passado, em Betim. Ogata pertence à Associação de Preservação Ambiental da Cidade de Kitakyushu, no Japão. “Ogata demonstrou a forma de separação e manejo dos resíduos sólidos utilizada em todo o território japonês. De maneira diferente do que se conceitua como reciclagem no Brasil, lá as matérias orgânicas são separadas pela quantidade de energia liberada na combustão em usinas termoelétricas. Essa forma praticamente elimina a necessidade de aterros e gera energia. A técnica torna o manejo econômica e ambientalmente mais avançado ainda”, completa Areda. No Brasil se desperdiça muito dinheiro na aplicação de métodos considerados ultrapassados no tratamento do lixo. Essa é uma das percepções de Lucas nos dois dias do curso, realizado numa parceria entre a Feam e a PUC Minas. “O país poderia investir em tecnologias mais eficazes. Em longo prazo, a medida poderia representar custos menores para o país e aumento de ganhos nos campos social e econômico”, acredita o geógrafo.


Artigo • meteorologia METEOROLOGIA

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo Professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com

Tempo bom No dia 23 de janeiro, a revista Veja-RJ publicou um artigo mostrando os acertos e erros da meteorologia para a cidade do Rio de Janeiro. Foram comparados os dados obtidos por meio dos principais órgãos divulgadores da previsão do tempo pela internet: Climatempo, Somar, Inpe e Inmet. Como era de esperar, o resultado não foi bom para nenhum dos órgãos consultados. A Climatempo ficou em primeiro lugar na porcentagem de acertos. Em segundo, a Somar; o Inpe em terceiro e o Inmet em quarto. A primeira justificativa pelo alto índice de erros está na forma como as instituições foram avaliadas. No verão é comum ocorrerem as chuvas isoladas de final de tarde, mas o avaliador não constatou chuva no local onde ocorria. Em segundo lugar, é preciso entender as previsões disponibilizadas pela internet e geradas automaticamente por modelos não sofrem interferência do meteorologista. Se o modelo consegue identificar que há um mínimo de possibilidade de chuva à tarde, depois de fazer trilhões de operações por segundo, o resultado vai ser de pancadas de chuvas à tarde.

meteorológicas - uma a cada 50 km, sendo que no Brasil há uma para cada 100 km -, esses institutos levam a vantagem de ter supercomputadores mais velozes para o processamento dos modelos. Em Minas Gerais, eu sou Diretor Regional da Climatempo. Recebo todas as informações detalhadas para o estado, com antecedência de 15 dias. A Climatempo é a maior empresa privada de meteorologia da América do Sul. Por isso, temos dados de todas as estações meteorológicas do Brasil e de outros países. A Climatempo recebe imagens de satélites, dados de radar, dados de descargas atmosféricas e três modelos de previsões. Isso nos permite uma boa análise dos fenômenos no estado.

“Previsões geradas automaticamente por modelos não sofrem interferências do meteorologista”

As equações físico-matemáticas utilizadas pela meteorologia foram desenvolvidas para países de latitudes altas, onde acontecem chuvas, neves, raios etc. devido à passagem de sistemas frontais. Não há formação de chuvas de “verão” nem de pancadas rápidas e de curta duração no final da tarde. Além de haver um grande número de estações

Eu fiz a mesma pesquisa feita pelo avaliador da revista Veja para a cidade de Belo Horizonte. Comparei as previsões com os dados observados em duas estações meteorológicas oficiais instaladas na capital. O resultado para 24 horas de antecedência foi de 97% de acerto e de 93% para 72 horas. O índice ficou dentro ou até melhor do que o aceito pela Organização Meteorológica Mundial. No ano passado, consegui acertar como seria a estação chuvosa, marcada por ondas de calor e meses em que as chuvas ficariam acima ou abaixo da média. Fiquei muito feliz com o retorno dos parceiros que tomaram as decisões certas com base nas previsões. Finalmente gostaria de dizer que 99% dos meteorologistas do Brasil não fazem previsão do tempo. Explico isso na próxima edição. Até lá!

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METROPOLIS • investigação

Onde está Eliza? Localização dos restos mortais da modelo morta em 2011 pode vir à tona com possível estratégia de redução da pena de Bola. Ministério Público investiga um novo personagem: o policial aposentado José Lauriano de Assis, o Zezé Ney Rubens No próximo dia 22 de abril, mais um réu acusado de matar Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes, será julgado pelo crime no Tribunal do Júri do Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Será a vez do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de estrangular, esquartejar e esconder o corpo da vítima. Apesar de os últimos dois envolvidos na trama macabra, Wemerson Marques de Souza e Elenilson Vítor, ainda aguardarem julgamento, o júri popular de Bola vai praticamente fechar o cerco em torno dos principais personagens. O próprio Bruno e o ex-amigo Luiz Henrique Ferreira Romão já foram condenados. O atleta voltou para a penitenciária Nelson Hungria com uma pena de 22 anos e três meses para cumprir. Ele chegou para o julgamento chorando e com uma bíblia nas mãos dada por um jurado que foi excluído. Macarrão teve sorte maior: foi condenado a 15 anos de cadeia. Ao sentar no banco dos réus, Bola vai ter de fazer um pouco mais do que apenas chorar e dizer que é vítima de uma armação da equipe de investigadores, comandada na época do crime pelo delegado Edson Moreira, hoje vereador em Belo Horizonte pelo PTN. Se quiser ter uma redução na pena, mesmo que mínima, o ex-policial vai ter de contar onde escondeu os restos mortais de Eliza, penúltimo mistério que ainda precisa ser esclarecido. O derradeiro ato será

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Reprodução


METROPOLIS • investigação

o Ministério Público desvendar a participação do policial aposentado José Lauriano de Assis, o Zezé, personagem obscuro que chegou a ser investigado em 2010, mas não foi indiciado pela Polícia Civil. Agora ele é alvo do MP principalmente após a ex-mulher de Bruno, Dayanne do Carmo, ter afirmado no júri que Zezé teve participação pelo menos no sumiço do filho de Eliza, escondido após o crime vir à tona. O MP diz que foi mais, que Zezé ajudou Bola a planejar a morte de Eliza. Marcos Aparecido dos Santos, nas outras oportunidades em que prestou depoimento à juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, sempre negou o crime e até mesmo disse desconhecer Bruno pessoalmente. Agora o suspeito vai ser pressionado de forma veemente pela magistrada e pelo aguerrido promotor Henry Wagner Vasconcelos Castro para que diga onde está o que sobrou da modelo. Dizer que não matou a jovem não será suficiente, já que o goleiro, em uma estratégia armada pela defesa para conseguir uma redução de pena, entregou Bola no júri iniciado no último dia 4 de março: “Eu não mandei matar, mas aceitei que ela fosse morta. O Luiz Henrique me contou que contratou o Marcos Aparecido, e eu aceitei”, revelou Bruno, ao ser interrogado pelo próprio advogado, Lúcio Adolfo.

como que numa paródia ao poema Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade: Macarrão que entregou Bruno que entregou Bola que viu Dayanne entregar Zezé, que não tinha entrado na história. Cadeira vazia Para salvar Bola de uma condenação iminente, os advogados Ércio Quaresma, Zanone Manuel e Fernando Magalhães terão como principal testemunha a cadeira vazia. Soaria estranho se a cadeira não tivesse sido arguida durante dois dias por Quaresma, na semana do julgamento de Bruno e Dayanne. Quaresma revelou à Vox Objetiva que vai exibir o vídeo do júri no qual Bruno deixa o plenário, a pedido do advogado Lúcio Adolfo, para não responder às perguntas feitas por ele. “A principal testemunha vai ser aquela cadeira vazia. Vou exibir aquele interrogatório, da hora que o Lúcio Adolfo, numa atitude covarde, tirou ele (Bruno) do plenário. A verdade é dura de ser ouvida. Aquele silêncio não pode ser usado contra o meu cliente”, disse. De acordo com o advogado, as declarações de Bruno e de Dayanne “não poderiam ter sido mais oportunas”. “Nós vamos provar para o conselho de sentença a diferença entre um acórdão e um ‘acordão’. Vamos identificar todos os personagens desse acordo que houve no plenário”, explicou.

Após quase três anos do crime, Bola, possível executor de Eliza, será julgado no dia 22 de abril

Para a defesa, a revelação de Bruno foi uma confissão; para o promotor, foi uma delação parcial. O advogado Lúcio Adolfo explicou por que Bruno entregou Bola. Até aquele momento, nenhum nome tinha sido citado. Nem mesmo o primo do goleiro, Jorge Luiz Rosa Lisboa, que narrou para a polícia como Eliza foi morta, tinha delatado alguém. “Se o Macarrão confessou e conseguiu uma redução de oito anos na pena (a condenação inicial no regime fechado era de 20 anos, a juíza reduziu para 12, após a confissão), eu quero uma redução ainda maior, quero mais,” disse Adolfo, revelando por completo a estratégia dos advogados de defesa dos réus, exceto os de Bola. A delação cascata,

“Dayanne prestou depoimento novamente na quinta-feira (penúltimo dia do júri), “única e exclusivamente para entregar o Zezé, em troca de sua absolvição”. De acordo com Quaresma, por base no depoimento do primo de Bruno, Jorge Luiz Rosa Lisboa, na época das investigações, o jovem teria identificado o homem que teria matado Eliza como tendo características físicas semelhantes às de Zezé e não às de Marcos Aparecido dos Santos. “Não há prova de que houve o evento morte. Não sei por que a juíza de Contagem está julgando esse caso,

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METROPOLIS • investigação

Marcelo Albert/ TJMG

se o crime teria acontecido em Vespasiano. O que não há nesse processo é prova. Não estou preocupado com a opinião pública. Minha preocupação reside em sete cidadãos que compõem o conselho de sentença”, disse. Insatisfação dos dois lados Tanto o promotor de Justiça Henry Vasconcelos quanto o advogado de Bruno, Lúcio Adolfo, disseram que vão recorrer ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais para tentar anular o julgamento de Bruno e Dayanne. Para Vasconcelos, “a pena de Bruno deveria ser de entre 28 e 30 anos de reclusão”. Para ele, o goleiro foi o mandante do crime que teria custado R$ 70 mil pagos a Marcos Aparecido dos Santos. O promotor considera outro aspecto: “Bruno não teria confessado, mas delatado,” o que não geraria o direito de uma redução de pena. Já o advogado de defesa do goleiro insiste que “a redução da pena deveria ser maior” por considerar que Bruno confessou a sua participação na trama. Lúcio Adolfo argumenta também que o julgamento dos acusados não poderia ter acontecido. Para o advogado, há uma investigação em curso para apurar o envolvimento do policial civil José Lauriano de Assis, o Zezé. Ney Rubens

Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza: “Quero enterrar o corpo da minha filha” .........................................................................................................................

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Juíza Marixa Fabiane: competência e firmeza na condução do caso Eliza Samudio .........................................................................................................................

Liberdade à vista? Mesmo condenado a 22 anos e três meses de prisão, Bruno pode voltar a jogar futebol profissional em 2016. Do total da pena, o goleiro vai ter de cumprir em regime fechado 17 anos e seis meses. Porém, o Código Penal brasileiro dá o direito de Bruno passar para o semiaberto, depois de cumprir dois quintos ou 40% da pena. Como Bruno está preso há dois anos e nove meses, daqui a três anos ele pode sair da cadeia para trabalhar durante o dia, mas fica obrigado a retornar para passar a noite e finais de semana. Se tiver bom comportamento e trabalhar no presídio, esse tempo pode ser ainda menor, porque a cada três dias trabalhados, o detento tem direito de reduzir um. O ex-goleiro de Atlético, Corinthians e Flamengo e campeão brasileiro em 2009 terá 32 anos em 2016. Se mantiver a forma física, vai poder atuar em alto nível, segundo profissionais do esporte. “Ele não será mais um menino e depende de como vai se comportar (na cadeia). Não sei as condições que ele tem para se exercitar no presídio e claro que não terá uma pessoa para trabalhos técnicos, mas é preciso cuidar da parte física”, avaliou Geninho, também ex-goleiro e


METROPOLIS • investigação

treinador.

Marcelo Albert/ TJMG

No futebol há dezenas de goleiros que atuaram ou ainda jogam até os 40 anos. Alguns deles ainda são titulares de times da primeira divisão no Brasil, como Rogério Ceni, no São Paulo, e Dida, no Grêmio. Carlos Pracidelli, preparador físico da Seleção Brasileira, define Bruno como um goleiro de potencial privilegiado, o que provavelmente amenizaria os danos causados pelo longo período parado. “Falo unicamente da parte técnica. Ficar seis ou sete anos parado, lógico, traz um prejuízo grande em todos os sentidos. Pelo fato de ter sido um goleiro de potencial técnico elevado, basta ter tempo adequado para readquirir a melhor forma física e técnica”, disse. Em 2010, ao ser preso, Bruno estava de malas prontas para a Itália, onde iria jogar defendendo o Milan. Seu salário saltaria de R$ 200 mil no Flamengo para R$ 500 mil na equipe italiana. Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds-MG), Bruno trabalha de 8h30 às 15h na lavanderia da penitenciária Nelson Hungria e nada recebe. Apenas tem o direito de reduzir a pena. O goleiro está em uma cela individual, que tem uma área de seis metros quadrados, uma cama de alvenaria e banheiro, com chuveiro, pia, vaso sanitário, uma televisão de 14 polegadas e um rádio, que foram levados por seus familiares. De 15 em 15 dias, Bruno recebe visitas sociais das duas filhas, da avó e de um tio. A atual mulher, a dentista carioca Ingrid Calheiros, também vai ao presídio frequentemente. Para que tenham privacidade na visita íntima, eles colocam um pano na grade da cela. Em 2016, quando adquire o direito de sair da cadeia, Bruno vai poder ter novamente como amigo e braço-direito Luiz Henrique Ferreira Romão, caso um perdoe ao outro por terem se delatado nos julgamentos. Até lá, Macarrão provavelmente estará solto, porque em 2015 vai ter o direito à progressão de pena. A ex-mulher, Dayanne do Carmo, e a ex-amante, Fernanda Gomes Castro, também podem fazer novamente parte do círculo social de Bruno. A primeira foi absolvida da acusação de sequestro e cárcere privado do filho de Eliza. Já Fernanda cumpre em liberdade a pena de cinco anos pelos mesmos crimes.

Dentro de pouco mais de três anos, o goleiro poderá sair da cadeia, retornando à noite e nos finais de semana ...........................................................................................................................

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Gestão ambiental. minas dá exemplo para o brasil e sai na frente mais uma vez. De forma inédita no país, o Governo de Minas avança no compromisso com a gestão ambiental e dá um passo decisivo para, até o fim de 2014, transformar a RMBH na primeira região do Brasil a ter 100% do lixo tratado de forma correta, sustentável e com aproveitamento energético. Resultado de uma PPP - Parceria Público-Privada - realizada junto com 44 prefeituras e articulada com empresas, comunidade e cidadãos, o projeto de Gestão Metropolitana de Resíduos Sólidos Urbanos tem 80% dos investimentos custeados pelo Estado. Além disso, vai promover a gestão compartilhada do transbordo, tratamento e disposição final dos resíduos sólidos urbanos, estimulando a reciclagem e promovendo a inclusão de catadores e de todos os envolvidos na cadeia de gestão de resíduos. Ao assumir a responsabilidade municipal de tratar o lixo, o Governo mostra que, em Minas, nem a gestão ambiental, nem a qualidade de vida são descartáveis. GESTÃO METROPOLITANA DE RESÍDUOS


ARTIGO • PSICOLOGIA

maria angélica falci Psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental angelfalci@hotmail.com

O ápice da gulodice A compulsão alimentar traz muitas consequências, atinge pessoas de todas as idades e torna a vida mais pesada em todos os sentidos. Especialistas geralmente entendem a compulsão alimentar como um mecanismo compensatório que implica uma progressão viciante. Quando os alimentos são deliciados fortemente, o cérebro registra imediatamente uma sensação muito prazerosa. E se no momento da degustação ocorre uma associação entre algo estressante e o alimento, aos poucos esse processo pode desencadear uma dependência. Pode ser que o alívio da sensação de desprazer seja obtido por meio do alimento ingerido, quase sempre, de forma muito rápida e exagerada. Essa busca pode ser desenfreada, ainda que a pessoa não tenha vontade. É como se ela perdesse o controle.

procura de algum tipo de orientação. Uma pesquisa americana relata que muitas crianças são obesas ou apresentam sobrepeso pela falta de limites e por carência afetiva. Elas ficam sozinhas, sem direção e alimentam de forma compulsiva para aliviar a ansiedade e o medo que sentem pelo abandono emocional. Com o andar da carruagem, as crianças passam a formar barricadas de proteção em si mesmas, a se esconderem no próprio corpo e, o que é pior: desenvolvem o adoecimento mental.

“Pode ser que o alívio da sensação de desprazer seja obtido por meio do alimento ingerido, quase sempre, de forma muito rápida e exagerada”

Nesse estágio, é comum se sentir subjugado pela culpa e pela vergonha. Muitos recorrem à medicação por conta própria para contornar a situação e readquirir o equilíbrio. A partir daí é acionado o sinal laranja: “Perigo!”. Muitas pessoas não percebem inicialmente, mas o aumento do peso começa a gerar mal-estar. Raros são os que buscam ajuda. Quando o processo avança para ansiedade elevada, humor deprimido e vergonha social, aí, sim, elas partem à

O médico francês Dr. Pierre Dukan, autor do livro Eu não consigo emagrecer, aponta uma opinião de que eu compartilho. “A maior necessidade de uma pessoa com sobrepeso é uma vontade exterior à sua. Precisa de um líder que ande à frente e dite as regras, pois o que uma pessoa nessa condição não suporta é simplesmente não saber decidir sozinho o dia, a hora e os meios de suas privações”, expõe.

Portanto, pais, cônjuges ou profissionais da área: é muito importante entendermos o afeto envolvido nas questões alimentares. Não é punindo, xingando nem massacrando o emocional que se alcança bons resultados. Eles virão com o apoio e a ajuda para que o indivíduo consiga liderar suas decisões e mudanças de hábito.

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SALUTARIS • SAÚDE

Diga-me o que comes, que te direi quem és Sistema Fiemg aposta em projetos de educação alimentar no ambiente de trabalho. Responsabilidade social e saúde do corpo são “temperos” obrigatórios Paulo Filho Desde 2007, o Serviço Social da Indústria (Sesi) realiza uma série de ações voltadas para a educação alimentar e nutricional dos trabalhadores da indústria mineira. Entre as ações estão palestras, oficinas de alimentação saudável, teatro, quiz sobre alimentação e grupos de discussão. O Programa Sesi Indústria Saudável estimula uma mudança de comportamento do trabalhador da indústria para um estilo de vida mais ativo e saudável. Ações de saúde, lazer, esporte, cultura e responsabilidade social melhoram a produtividade individual e coletiva, propiciando também o fortalecimento e a competitividade da indústria. São muitos os argumentos a favor da boa alimentação. Mas seguir uma dieta saudável e equilibrada é ainda mais difícil para quem se alimenta fora de casa. O Sesi tem ajudado milhares de trabalhadores a se alimentar melhor com medidas aparentemente simples, mas com resultados que impactam diretamente na saúde. A redução do sal e do óleo de soja no preparo das refeições está virando hábito em muitas cozinhas industriais mineiras. Para o coordenador técnico da Alimentação do Sesi, Leonardo Zanol, as mudanças foram possíveis com a reformulação do tempero-base nas cozinhas. Há um aumento na utilização de cebola e alho. “Também conseguimos diminuir o uso de molhos e de temperos

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industrializados”, diz. O resultado é mais sabor e menos sódio. O cloreto de sódio, mineral presente no sal de cozinha e em diversos outros alimentos, está lado a lado com o açúcar e a gordura trans no quesito necessidade de parcimônia de consumo. Para a nutricionista Daniele Martins, “o uso de ervas aromáticas, como manjericão, alecrim, orégano, salsinha, sálvia ou tomilho garantem sabor aos alimentos”. Segundo ela, a diminuição de sal nos preparos foi de pelo menos 30%. “Os benefícios para os clientes não são sentidos imediatamente, mas ao longo dos anos faz muita diferença, especialmente para os hipertensos ou com propensão a desenvolver a doença”, explica. Segundo Leonardo Zanol, a redução do óleo de soja no preparo dos alimentos também está entre as metas dos restaurantes industriais. A diminuição do consumo de óleo de soja ajuda no controle do peso corporal e na prevenção de dislipidemias (LDL-Colesterol e ou triglicérides elevados). “Cortamos muitas frituras e aumentamos o número de preparações assadas”, afirma. O Restaurante do Trabalhador, em Contagem-MG, também colocou em prática a rotulagem das refeições. Os dados oferecem aos clientes informações nutricionais sobre cada prato. Na frente de cada prato, uma plaquinha informa o nome, os ingredientes


SALUTARIS • SAÚDE

utilizados, o valor calórico de uma porção e a característica nutricional mais relevante da preparação. O cliente fica sabendo, por exemplo, se o preparo é rico em vitaminas ou minerais ou se contém lactose ou glúten. Os rótulos ajudam na escolha do que colocar no prato. Geralmente leigo em nutrição, o cliente passa a ter condições de fazer escolhas conscientes e mais saudáveis. “As ações são importantes, quando se tem o sistema de self-service e ajudam na formação de hábitos mais saudáveis”, afirma.

são preparados aproveitando parte de alimentos que normalmente vão para o lixo, como cascas, caules e talos. “Culturalmente não tínhamos o hábito de aproveitar cascas ou talos dos alimentos. Quem participa do programa tem a oportunidade de diminuir o desperdício e de aproveitar todo o potencial dos alimentos”, diz o gerente do programa, Marco Aurélio Savassi. Stock.xchng

A preocupação com a qualidade de vida e a saúde é acompanhada por ações que reduzem o impacto ambiental. “O óleo de soja usado é destinado à produção de massa de fixação de vidro”. Algumas empresas também implantaram o programa de redução de desperdício. O volume de resíduo orgânico gerado com a produção da alimentação é monitorado. A medida faz diminuir o descarte na produção e no prato do trabalhador. A matemática tem sido aliada do restaurante do trabalhador. “Todas as sobras do processo são pesadas. Existem metas mensais a serem alcançadas para diminuir o desperdício”, diz Daniele Martins. A ideia é aproveitar ao máximo os alimentos, com todas as suas potencialidades. As sobras dos pratos dos clientes também são pesadas, e o Sesi realiza campanhas para incentivar o consumo consciente. “Também fazemos cálculos periódicos e monitoramento diário para prever a melhor quantidade de refeições a ser produzida para ter a menor sobra possível”, garante. programa cozinha brasil Esse programa incentiva industriários e comunidades a preparar e consumir pratos saudáveis. A tecnologia social do programa foi desenvolvida para funcionar em unidades móveis equipadas com cozinha experimental pedagógica. As unidades foram projetadas para ensinar a população a como preparar uma alimentação com alto valor nutritivo e baixo custo. O programa orienta e incentiva a adoção de hábitos alimentares saudáveis, reduzindo o desperdício. No Cozinha Brasil, pratos nutritivos e saborosos

Programa Cozinha Brasil estimula o consumo de alimentos naturais e propaga os benefícios dos pratos leves e balanceados .........................................................................................................................

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SALUTARIS • receita

Robata de lagosta Divulgação/ Rede Gourmet

Fonte: Restaurante Udon

INGREDIENTES:

MODO DE PREPARO:

1 lagosta (400 g) 1 coentro 1 cebolinha (cheiro-verde) 1 salsa comum 1 hortelã 1 manjericão 1 alecrim 500 ml de azeite de oliva 2 colheres de sopa de manteiga 2 dentes de alho Sal a gosto.

Derreta a manteiga em uma panela, acrescente um pouco de azeite e frite o alho amassado até dourar. Coloque as ervas bem picadas, o restante do azeite e sal a gosto. Deixe ferver e desligue o fogo. Reserve.

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Abra a lagosta ao meio e tempere com sal, daschinomoto e limão-siciliano. Grelhe e acrescente o molho.


SALUTARIS • vinhos

O vinho e a saúde Danilo Schirmer Os tempos modernos trazem avanços na tecnologia, agricultura, alimentação, indústria e, principalmente, na saúde. De um modo geral, a sociedade goza de um bem-estar que jamais foi imaginado. Mas nem tudo são flores. O ritmo de vida acelerado e altamente estressante contribui negativamente para a saúde. A alimentação padronizada, aliada à tendência fast food, são motivos de grande preocupação. Infelizmente a maioria das pessoas passa a maior parte da vida sem dar a devida atenção para a alimentação. Para a imensa satisfação de todos, o vinho está ligado à saúde desde a antiguidade. Na época, era comum usar a bebida como medicamento e para a desinfecção de ferimentos. Também era possível identificar a importância do vinho na dieta alimentar. Em algumas situações, era mais seguro beber vinho, porque a água frequentemente estava contaminada. Mas foi somente com estudos epidemiológicos

realizados a partir da década de 70 que cientistas começaram a evidenciar os benefícios do vinho para a saúde. No início da década de 90 foi divulgado um estudo denominado Paradoxo Francês. O resultado foi uma baixa incidência de mortes por doenças coronárias e acidente vascular cerebral da população francesa, em relação à média mundial. O vinho foi apontado como fator determinante para o resultado. O vinho tem diversas substâncias antioxidantes. Os polifenóis estão entre os mais importantes. Flavonoides, resveratrol, taninos e catecinas são alguns dos polifenóis mais estudados. Pesquisas recentes indicam efeitos benéficos dessas substâncias no combate e na precaução de várias doenças. Se você deseja obter os benefícios do vinho para a saúde, sem o inconveniente do álcool, uma boa alternativa é o suco de uva integral tinto. A sua elaboração é sem adição de água, açúcar e conservantes.

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podium • ESPORTE

1, 2, 3,... testando! Em junho, oito seleções disputam a Copa das Confederações. O evento funciona como teste para organizadores e técnicos acertarem a pontaria para a Copa de 2014. Pelo retrospecto, Espanha, Itália e Brasil despontam mais uma vez como favoritos Thiago Madureira John MacDougall/ AFP

A Fúria, como é chamada a seleção espanhola, chega ao Brasil com “moral”. A Espanha é a atual campeã mundial e a primeira no ranking da Fifa ..............................................................................................................................................................................................................................................................

Antes de receber a Copa do Mundo em 2014, o Brasil tem pela frente o desafio de sediar a Copa das Confederações de 15 a 30 de junho deste ano. Participam do torneio os campeões de cada continente. A edição deste ano guarda uma inimaginável peculiaridade para um futebol cada vez mais endinheirado. Além dos milionários jogadores das seleções brasileira, espanhola e uruguaia, atletas amadores vão estar em campo. Os ‘craques’ do selecionado do Taiti são professores, operários e comerciantes. Eles venceram a Copa das Nações da Oceania no ano passado.

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Situada na Polinésia Francesa e com pouco mais de 200 mil habitantes, a pequena ilha surpreendeu ao vencer a Nova Zelândia - única seleção verdadeiramente profissional na Oceania - e conquistar o continente. “Temos apenas um jogador profissional, que atua na Grécia. Mas veja a Nova Zelândia,... Quando eles disputaram esses torneios maiores pela primeira vez, passaram a ter jogadores no exterior. Então temos essa perspectiva para depois da Copa das Confederações”, avaliou o técnico do Taiti, Eddy Etaeta.


podium • ESPORTE

Cientes se serem “estranhos no ninho”, os taitianos são modestos ao sonhar. Jogar em estádios tão representativos para a história do futebol, como o Mineirão e o Maracanã, já é um feito. Marcar um gol atinge algo da ordem do inacreditável. “Imagina enfrentar caras como Xávi, Iniesta e Neymar! Espero que meus jogadores não fiquem tão tensos. Meu estafe vai ajudar a prepará-los para que não sejamos completamente carregados pela atmosfera dos jogos da próxima Copa das Confederações”, deslumbrou-se o treinador. O Taiti está no Grupo B, ao lado de Espanha, Uruguai e Nigéria. O outro lado da moeda é a Espanha, superfavorita ao título. Valorizando as individualidades, mas sem se tornar dependente de algum jogador, a filosofia implantada na Fúria preconiza o futebol coletivo – reflexo do sucesso do Barcelona. Quem explica melhor é o repórter do diário Marca, Alberto Rubio Garcia: “Eu acho que o nível atual da Espanha, como equipe, é muito semelhante ao da seleção que foi coroada campeã do mundo na África do Sul, em 2010. Deixe-me explicar: o jogo ‘em bloco’ [compacto e de posse de bola] mantém a filosofia e o estilo de jogo da equipe que foi campeã”.

Del Bosque é o treinador ideal para cuidar, quando não há harmonia no grupo”, acrescentou Martinez. Forças emergentes, Uruguai e Nigéria correm por fora na chave por uma vaga nas semifinais. Depois de muitos resultados decepcionantes, a Celeste Olímpica foi semifinalista da Copa do Mundo de 2010 e conquistou a Copa América, em 2011. Esse é o melhor grupo de atletas dos últimos anos. A confiança em uma boa participação na Copa das Confederações está depositada principalmente no técnico Óscar Tabárez, que devolveu a autoestima à seleção uruguaia. A seleção da Nigéria recentemente passou por momentos conturbados politicamente. O time fez campanha ruim na Copa de 2010. A seleção foi eliminada ainda na primeira fase, com duas derrotas e um empate. Depois do fracasso, o presidente Goodluck Jonathan decidiu afastar a equipe nacional de qualquer competição internacional por um período de dois anos. Para o governo, o futebol passava por problemas estruturais. No entanto, como as regras da Fifa impedem qualquer influência governamental sobre as federações, o país corria risco de ser suspenso das competições internacionais.

De azarada a favorita. Fúria chega com força total para a Copa das Confederações

Mesmo tendo uma liga forte e um histórico de bons jogadores, a Espanha carregava a sina de decepcionar em momentos de decisão. A realidade mudou nos últimos anos com os títulos da Eurocopa de 2008 e 2012 e da Copa do Mundo de 2010. Para o jornalista espanhol Roberto Martinez, “a equipe espanhola de hoje é mais forte [do que os elencos anteriores], porque joga com a confiança da equipe que sabe ganhar. Não perde qualidade e soma experiência”, destacou. “Eles sabem o que fazer em campo. A ideia do jogo se encaixa melhor e desenvolve com gosto, porque tem os jogadores certos. Pequenas parcerias (XáviIniesta, por exemplo) deram um salto em qualidade. E

Pressionado, o presidente anulou a suspensão. A Federação tomou medidas e demitiu seus mais influentes dirigentes. E a reformulação surtiu efeito. A Nigéria conquistou a Copa Africana de Nações deste ano e carimbou a vaga para a Copa das Confederações. Em campo, a equipe conta com bons jogadores que atuam no futebol europeu - um exemplo é o atacante do Chelsea, Victor Moses. Brasil e Itália surgem como os favoritos do Grupo A. A Seleção Italiana se classificou para o torneio com o vice-campeonato conquistado na Eurocopa. Como a Espanha estava com vaga garantida, por ter sido campeã da última Copa, a Itália herdou a vaga.

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podium • ESPORTE

Divulgação/ CBF

Na primeira fase da competição, o Brasil terá pela frente o algoz, México, a Itália e o Japão ..............................................................................................................................................................................................................................................................

Depois da decepção da última Copa, na qual foi eliminada ainda na primeira fase, a federação de futebol resolveu oxigenar a seleção tetracampeã mundial. O jovem técnico Cesare Prandelli, de 55 anos, foi chamado para coordenar uma reformulação. Na primeira competição, chegou à final da Euro. “O técnico Prandelli deu uma nova faceta à equipe, com um jogo mais alegre, ofensivo. Com certeza, o povo italiano está muito confiante”, diz Dani Monti, enviado da Sky Sports ao Brasil. Mesmo jogando em casa, a Seleção Brasileira chega ao torneio com certa desconfiança. Em novembro passado, Felipão assumiu o comando promovendo mudanças. O processo de rejuvenescimento iniciado por Mano Menezes foi, em partes, interrompido. O atual treinador resgatou alguns medalhões, caso de Luiz Fabiano, Ronaldinho Gaúcho e Júlio César. A opção tática ainda não foi definida. O atual 4-2-3-1 pode dar espaço para o 3-5-2, com o qual Felipão foi campeão mundial em 2002 com o time da CBF. Contudo, o maior desafio é encontrar uma fórmula de potencializar o talento de Neymar com a camisa verde-amarela. O atacante do Santos ainda

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não conseguiu se destacar contra grandes seleções. Outro problema que o técnico brasileiro terá que solucionar é a respeito de quem será o companheiro de Neymar no ataque. Fred, Luiz Fabiano e Diego Costa são os mais cotados. Se há dúvida em campo, fora dele o apoio é garantido. Grande parte dos ingressos dos jogos da Seleção Brasileira foi vendida antecipadamente pela internet. O México tem uma geração promissora e, por isso, requer atenção. Nos Jogos Olímpicos de 2012, os mexicanos conquistaram a medalha de ouro, ao bater o Brasil de Neymar na final. As principais peças da seleção de José Manuel de la Torre são o atacante Javier Hernández, do Manchester United, o volante Guardado, do Valencia, e o goleiro Ochoa, do Ajaccio. Por sua vez, os japoneses, em tese, são os azarões do grupo. A inexperiência em competições internacionais, comparada aos outros postulantes, pode ser crucial. Em amistoso recente, o time asiático foi goleado pelo Brasil por 4 a 0. Mas o Japão pode surpreender com o talento de Kagawa, do Manchester United, principal jogador do elenco.


podium • ESPORTE

Sedes da Copa das Confederações Portal da Copa

Érica Ramalho

Rio de Janeiro Estádio: Maracanã Capacidade: 76.804 espectadores Obra: Em execução Jogos: Espanha x Taiti, México x Itália e a Final

Portal da Copa

Brasília Estádio: Mané Garrincha Capacidade: 70.064 espectadores Obra: Em execução Jogos: Brasil x Japão

Fortaleza Estádio: Castelão Capacidade: 64.846 espectadores Obra: Concluída Jogos: Espanha x Nigéria, Brasil x México e uma semifinal

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Recife Estádio: Arena Pernambuco Capacidade: 44.248 espectadores Obra: Em execução Jogos: Espanha x Uruguai, Japão x Itália e Uruguai x Taiti

Manu Dias

Salvador Estádio: Fonte Nova Capacidade: 48.747 espectadores Obra: Concluída Jogos: Brasil x Itália, Uruguai x Nigéria e a disputa de Quarto Lugar

Belo Horizonte Estádio: Mineirão Capacidade: 62.547 espectadores Obra: Concluída Jogos: Japão x México, Taiti x Nigéria e uma semifinal

Portal da Copa

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Horizontes • TURISMO

Pelas terras de além-mar Eleita pela European Consumers Choice o melhor destino europeu de 2012 e presente na lista do The New York Times como um dos melhores destinos de 2013. Assim é a cidade do Porto: uma trama de sensações e experiências impressionantes Isabela Araújo, de Porto Fotos de Amana Duarte

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horizontes • TURISMO

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HORIZONTES • TURISMO

“Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto” – São esses os adjetivos inscritos na bandeira de uma das cidades mais antigas da Europa. Suas origens datam de 417, quando era um povoado pré-romano conhecido como Porto Calem – nome que batizou o país onde está situada: Portugal. A cidade do Porto é o berço da expansão marítima. De lá saíram os primeiros navegadores da história para a conquista da ilha de Ceuta, em 1415. Na partida dos navios, a população ofereceu toda a carne que possuía aos marinheiros, ficando apenas com as tripas para suas provisões. O episódio rendeu aos moradores a alcunha de “tripeiros”, expressão carinhosa e carregada até hoje com orgulho pelos portuenses. Séculos de existência construíram uma cidade que traz em cada esquina uma história e uma tradição. Por lá, em tudo estão presentes o mar, a gastronomia inigualável e a simpatia de um povo de origem humilde. Há um paralelo com a modernidade europeia que resultou em grandes shoppings ao lado de casarões seculares; bondes ainda em funcionamento pelas ruas ao lado do metrô – um dos mais modernos do mundo –; tradicionais cafés geridos por simpáticas famílias portuguesas ao lado de restaurantes internacionais e redes de fast food. Quem visita o Porto definitivamente se encanta com a harmonia entre o clássico e o futurista. Para desfrutar ao máximo da cidade, existe um guia simples composto por cafés, jardins, museus, pontes, praias e caves do famoso vinho do Porto. a elegância dos cafés Assim como Paris é conhecida por suas confeitarias, e Londres, por seus pubs, no Porto, a fama vem dos cafés. Na beira da praia ou no centro da cidade; de manhã, no almoço, no jantar e pela madrugada, os cafés estão por toda parte. A bebida é servida em ambientes luxuosos, adornados com lustres de cristal e xícaras da mais fina porcelana, ou de forma simples, como o pingado servido no famoso copo lagoinha. Para os portuenses, sempre há um tempinho para fazer um intervalo e apreciar um “curto” - como é chamado o espresso - com o tradicional pastel de natas, a sobremesa lisboeta mais famosa do país.

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O café Majestic, inaugurado em 1921, é um pedaço da França no centro da cidade do Porto. Arquitetura e decoração esbanjam requinte .........................................................................................................................

Quem visitar a cidade precisa conhecer o Café Majestic, considerado um dos mais bonitos do mundo e, com certeza, o mais famoso de Portugal. Fundado em 1921, no auge da Belle Époque e sob influências francesas, o Majestic fica no coração da cidade, a poucos metros da bela Praça dos Aliados. Sua estrutura é, no mínimo, surpreendente: teto de gesso decorado, espelharia em cristal flamengo, jardim de inverno, infinitos arabescos em mármore e poltronas em couro. Nomes como J.K. Rowling, Juscelino Kubitschek e Jacques Chirac estiveram por lá. a beleza de jardins e museus Cenário típico de polos turísticos, os museus e os jardins da cidade do Porto são um espetáculo à parte. O Palácio de Cristal está entre os mais lembrados. Atualmente ele não conta com a estrutura original que lhe deu o nome, inspirada no Crystal Palace londrino, mas oferece a seus visitantes quase dez hectares de área verde, divididos entre lagos, seis jardins, um bosque, duas avenidas e área com vista panorâmica do rio Douro e do mar. O prédio de estruturas modernas atrás dos muros do palácio abriga a biblioteca municipal e um espaço para exposições.


horizontes • TURISMO

Seguindo a linha de área verde acompanhada de belos edifícios, vem o Museu de Serralves. O museu é um dos espaços multiculturais mais famosos de Portugal. O Serralves foi projetado pelo arquiteto Álvaro Siza – o Oscar Niemeyer lusitano. Desde 1996, as exposições mais importantes que passam por Portugal são realizadas no museu ao lado de imensos jardins de vegetação típica do Norte do país. a tranquilidade das praças Ao sair de Serralves, basta continuar na avenida por mais alguns quilômetros para chegar ao litoral e curtir um pôr do sol incrível. Mesmo não sendo tão famosas pelo mundo, quem conhece as praias de Portugal entende perfeitamente por que os habitantes da terrinha decidiram se instalar no Brasil há mais de 500 anos.

Ao longo da costa de toda a região do Porto estão praias que parecem ser de pontos distintos do globo: rochosas ou de areia fina, com grandes ondas ou mar calmo. No verão, esses locais são os melhores destinos para quem deseja aproveitar o sol ou tomar um “fino” - como é conhecida aqui a tulipa de chope - em um dos inúmeros e sofisticados bares e restaurantes na areia. a imponência das pontes Voltando para a cidade, é impossível não se impressionar com a arquitetura. As ruas estreitas e as praças salpicadas de palácios e palacetes remetem à Idade Média. Nas largas avenidas, nos arranha-céus e em cada edificação do Porto existe certa classe. Há uma elegância, ora velada, desbotada pela ação do tempo, ora escancarada em arabescos e esculturas de mármore. E parte dessa elegância é composta pelas seis pontes que ligam, sobre o rio Douro, as duas partes da cidade. Vistas do alto, as estruturas lembram linhas a costurar uma região cortada por um rio. A aparência rendeu à cidade um apelido digno de livros e histórias de fantasia: a Cidade das Pontes. As estruturas exalam beleza desde a mais antiga – Ponte Luís I –, cuja construção aconteceu há mais de cem anos –, até a mais moderna – Ponte Infante Dom Henrique –, inaugurada em 2003. os sabores das caves A melhor maneira de finalizar um cruzeiro pelas pontes é visitando uma das caves de vinho do Porto que margeiam o rio. Posicionando-se entre as maiores de Portugal, a indústria vinícola conta com produtores que abrem suas portas diariamente para receber visitantes e apreciadores da bebida. O vinho fabricado por lá é fortificado e feito exclusivamente com uvas da região do Douro. É a única indústria que exporta para todo o mundo as garrafas da joia mais importante na coroa do Porto.

Jardins do Palácio de Cristal e a soberba vista para o Douro .........................................................................................................................

Durante as visitas é possível acompanhar o processo de produção e participar de degustações dos melhores


horizontes • turismo

empreendimento impressiona. Por fora, o prédio tem formas futuristas de concreto branco, vidro, alumínio, azulejos e veludo. Por dentro, o espaço é dividido em cinco salas de eventos, uma sala vip, uma sala de ensaios, terraço, dois bares, um restaurante e uma loja. A estrutura tem um espaço Cybermúsica em que os visitantes têm acesso a computadores com softwares especiais para criarem e editarem músicas gratuitamente. Desde sua fundação, a Casa da Música é palco dos maiores espetáculos nacionais e internacionais que acontecem em Portugal. O prédio é ponto de parada obrigatória para os visitantes da cidade do Porto. Assim se completa um circuito que reflete um pouco das belezas do Norte das terras lusitanas, mas que pode ser vastamente expandido. A cidade das pontes reserva um encantamento a cada esquina. Livrarias, praças ou igrejas são movimentadas pelo trabalho de um povo acolhedor e hospitaleiro. O espaço preserva memórias com sons de água do mar e aromas de vinho. E para viver cada detalhe, basta atracar nesse Porto. Rebelos eram usados para transportar os barris de vinho do Porto pelo rio Douro .........................................................................................................................

exemplares dos vinhos. É uma ótima opção para início de noite, na baixa do Porto. Com restaurantes, pubs, casas de shows e boates, a região de caves reúne a programação da vida noturna da cidade, oferece entretenimento por toda a noite e em qualquer dia da semana. a contemporaneidade da casa da música Viver a cidade do Porto é uma empreitada que promete agradar a todos os sentidos, com o aroma dos cafés pelas manhãs, os cenários quase hipnóticos de praias, jardins e do rio Douro e os sabores do vinho do Porto. E para tornar completa essa experiência, verdadeiros deleites aos ouvidos podem ser encontrados entre as atrações da Casa da Música. Em 2005 foi inaugurado o primeiro edifício de Portugal destinado exclusivamente aos espetáculos e ao ensino da música. A estrutura moderna do

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A arquitetura futurista marca um dos principais espaços culturais da cidade do Porto: a Casa da Música .........................................................................................................................


Artigo • IMOBILIÁRIO

kÊNIO DE SOUZA PEREIRA Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br

O problema do barulho Residir em condomínios residenciais ou trabalhar em prédios comerciais exige uma adaptação das pessoas com uma vida mais exposta aos vizinhos e ao compartilhamento das áreas comuns e de lazer. A convivência em condomínio implica a conjunção de direitos e deveres. Cada pessoa deve respeitar limites e regras que propiciam o bem-estar e a segurança que todos desejam. O barulho é um dos problemas que mais geram atritos em condomínios. A Lei de Belo Horizonte estabelece até 70 dB no horário das 7h às 19h e até 45 dB a partir da 0h. Certamente a música em alto volume, o barulho das crianças, o latido de cães e as festas estão entre os barulhos que mais incomodam os condôminos. O barulho e a poeira decorrentes de obras também atrapalham. Há horários preestabelecidos por lei para reduzir os incômodos provocados por esse tipo de poluição. Se todas as pessoas fossem conscientes, racionais e educadas, seria desnecessário existir leis e regimento interno. Cabe à assembleia estabelecer proibições, horários para atividades que produzem barulho e multas para quem infringe. A maioria das convenções é omissa e malredigida. É comum não permitir que o síndico aplique a multa. Essa proibição motiva a atualização da penalidade de forma profissional. A falta de normatização para aplicar a multa acarreta, muitas vezes, sua anulação. Para que a multa seja confirmada num processo judicial, alguns procedimentos jurídicos complexos devem ser observados.

HORÁRIOS DEVEM SER DEFINIDOS PARA: - Utilização das áreas de lazer, como salão de festas; - Circulação de cargas e mudanças, bem como de transporte de animais (elevador/escada); - Proibição de barulho nos corredores e em áreas livres, principalmente próximas às janelas das unidades; - Horário para obras nas unidades. Mesmo que o condomínio não conte com a regulação de horários, o bom senso impõe uma atitude educada e respeitosa. Engana-se aquele que acha que a “Lei do Silêncio” vale apenas das 22h às 7h. Nesse período, exige-se maior rigor e mais silêncio. Somente uma pessoa “sem-berço” entende que pode fazer barulho, ouvir música em alto volume e perturbar o sossego e a saúde dos vizinhos durante o dia. Se age assim, deveria morar no mato, bem longe da civilização. penalidades Conforme o Código Civil, toda pessoa que promova, a qualquer hora, barulho ou poluição ambiental (fumaça, mau cheiro) está sujeita a penalidades que podem chegar a dez vezes o valor da taxa de condomínio, dependendo da gravidade e de eventuais danos causados. É fundamental uma redação correta da convenção e da notificação que impôs a penalidade.

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kultur • ARTES PLÁSTICAS

História viva Iniciativa da UEMG e da Fundação de Parques de Belo Horizonte transforma Cemitério do Bonfim em cenário de história e arte Texto e fotos de André Martins Abaixo do solo de uma área de 160 mil m², matéria morta em intenso processo de transformação. Na superfície, um patrimônio artístico e histórico impossível de ser mensurado. Entre as alamedas do Cemitério do Bonfim – o mais antigo da capital –, a saudade se emaranha com a beleza de estátuas, pinturas e arabescos em alto-relevo. Num dos pontos mais altos da cidade, um convite à introspecção e à arte. Personagens e cenas representadas comovem pela riqueza de detalhes e significados. São anjos, santos, lamentadeiras, crianças, a Pietá, que acolhe o corpo do filho morto. A religiosidade está onde quer que se fixe o olhar. Mas as figuras sacras também dividem espaço com elementos seculares. Em sepulturas de figuras públicas importantes para a história da cidade e do estado, como Raul Soares e Olegário Maciel, a República, o trabalho,

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kultur • ARTES PLÁSTICAS

as leis, a justiça e o saber são personificados. Pelo cemitério é possível encontrar peças de material diverso, que vai da pedra-sabão, passa pelo mármore e o granito e chega aos metais. O branco das esculturas mais antigas, desgastadas pela ação do tempo, contrasta com as peças modernas de tons escuros. Um interessante equilíbrio visual. Os responsáveis pelo acervo do Cemitério do Bonfim foram artistas e artífices donos de saberes herdados. Muitos traziam a técnica de fora. Por dominarem a arte da marmoraria, os estrangeiros – a maioria italianos – ganharam reconhecimento na região. “No Cemitério do Bonfim temos obras de um austríaco chamado João Amadeu – um exímio escultor tido por muitos como um Michelangelo. Podemos citar também os irmãos Natalli, que eram marmoristas de ofício e são responsáveis por boa parte dos túmulos. Há ainda uma figura muito minimalista, especialista em esculturas em bronze, o senhor João Scuotto”, cita a doutora em História pela UFMG e pesquisadora do cemitério há quase 20 anos, Marcelina das Graças de Almeida. O cemitério guarda obras de múltiplos movimentos artísticos, inclusive os que estavam em voga no período em que a cidade surge, o final do século XIX, segundo revela a professora. “Temos o ecletismo e o neoclássico, mas as obras não se resumem a esses dois movimentos. O Cemitério do Bonfim tem túmulos construídos no estilo Art Nouveau e Art Déco. Há túmulos muito modernos, com estrutura neoconcretista, e projetos assinados por artistas modernistas, como a Jeanne Milde”, revela Marcelina. As 17.360 sepulturas do Cemitério do Bonfim vão dos grandes mausoléus, com vitrais e estátuas em tamanho real, a túmulos de alvenaria, com pinturas aplicadas em azulejos ou pedras sem ornamentação. “Algumas levam até mesmo o azulejo de cozinha. Era o único recurso do qual dispunham algumas famílias naquela época”, explica. Mas no espaço que une famílias e gerações pela dor, os projetos de decoração utilizados em cada metro

A suntuosidade do túmulo do ex-governador de Minas, Raul Soares, e a simbologia da República .........................................................................................................................

quadrado permitem mais que uma reflexão estética. Por meio do Cemitério do Bonfim é possível pensar sobre o desempenho de papéis sociais e as relações de poder na sociedade belo-horizontina no transcorrer dos seus 113 anos. A multiplicidade de assuntos que podem ser abordados e o acervo artístico local levam muitos a considerar o cemitério um museu a céu aberto, termo que Marcelina prefere evitar. “O cemitério não é um museu, porque do contrário poderíamos dizer que um museu também é um cemitério. Eu acho que cada

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kultur • ARTES PLÁSTICAS

espaço tem suas características. Mas é importante que as pessoas e o poder público reconheçam no cemitério um espaço cultural para além das funções que ele cumpre”, defende. Professora do curso de Design da Universidade Estadual de Minas Gerais e coordenadora do curso de História da Faculdade Estácio de Sá, Marcelina tem o

costume de levar seus alunos para aulas no cemitério. Desde junho de 2012, a iniciativa foi expandida. Visitas guiadas mensais são oferecidas à comunidade. E a procura vem surpreendendo a mentora do projeto. As inscrições para a visita piloto extrapolaram em quatro vezes as 30 vagas disponibilizadas. Por enquanto, Marcelina continua como única guia nos encontros que acontecem no último domingo de cada mês, das 9h às 12h. “Estamos trabalhando na Universidade e nas agências que fomentam a pesquisa a ideia do treinamento de monitores. Queremos preparar nossos alunos para que possamos estender essa oferta às escolas durante a semana”, revela. um pouco de história Influenciada pelas transformações ocorridas na Europa dos séculos XVIII e XIX, a nova capital de Minas Gerais – até então chamada Cidade de Minas – nasce sob os pilares da modernidade. Além da estrutura harmônica, a separação de Igreja e Estado era mais um dos princípios que pautaram o projeto da cidade. “Belo Horizonte é resultado de todos os pensamentos sanitaristas e urbanistas veiculados no final do século XIX. Um deles é um local correto para sepultar os mortos. De preferência, fora do perímetro urbano, num lugar alto, arejado e desvinculado da Igreja”, explica a professora. De acordo com Marcelina, até a escolha de um local que obedecesse aos critérios almejados, um cemitério improvisado funcionou no que hoje é o entroncamento da avenida Amazonas com as ruas São Paulo e Tamoios. No dia 7 de fevereiro de 1897, a necrópole temporária é desativada. Na região conhecida na época como Alto dos Menezes, passa a entrar em atividade o primeiro cemitério oficial da cidade, meses antes da inauguração da capital.

Detalhes minúsculos conferem perfeição às peças em mármore ........................................................................................................................

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O primeiro sepultamento que consta nos registros da necrópole é o de Bertha de Jaeguer, filha de um engenheiro belga da Comissão Construtora da Nova Capital. A causa da morte da menina é desconhecida pelos historiadores. Um cipreste que teria brotado de maneira espontânea da sepultura da jovem permanece por lá até hoje. Vigorosa, a árvore alimenta uma das


kultur • ARTES PLÁSTICAS

muitas lendas vinculadas ao local. Em 1942, depois de muito readequar o espaço com o estreitamento de vias e passeios, o Cemitério do Bonfim atinge a lotação máxima, e Belo Horizonte ganha outro espaço para o enterro de seus mortos: o Cemitério da Saudade. A importância histórica e cultural da primeira necrópole da capital se torna visível, quando o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) inicia o projeto de mapeamento do acervo artístico e começa a se preocupar com a preservação das peças. Em 1977, o Iepha realiza o tombamento do antigo Edifício Necrotério, hoje interditado pelo risco de queda da cúpula que cobre o espaço interno. devoção Símbolos de ostentação e poder, muitas sepulturas naturalmente atraem o olhar de quem passa. No entanto, mais que outras, são túmulos simples os que recebem o maior número de visitas ao longo do ano. No dia de Finados, a procura cresce. Motivados pela fé, milhares de pessoas se dirigem ao Cemitério do Bonfim para fazer pedidos ou agradecer por graças alcançadas. A sepultura de Padre Eustáquio, beatificado em 2006, é uma das mais procuradas. Pouco importa o fato de os restos mortais do padre mais famoso de Belo Horizonte não estarem mais no local. Algo similar acontece com a modesta sepultura de Irmã Benigna, na quadra nove. A caridosa freira, que sofreu perseguição dentro da própria Igreja, pode se tornar santa bem breve, devido aos milagres a ela atribuídos. Como forma de reconhecimento, muitos fiéis depositam ex-votos feitos de materiais diversos, dentre eles o granito sobre a sepultura de Irmã Benigna. Flores de plástico e outros objetos colorem o túmulo, onde é possível depositar pedidos e agradecimentos. Outra sepultura muito visitada é a da menina Marlene, aclamada como santa por frequentadores do cemitério. Ao lado do túmulo há um pequeno velório onde os devotos depositam flores e acendem velas.

O túmulo de Irmã Benigna é um dos mais visitados do cemitério ........................................................................................................................

Ao contrário de Padre Eustáquio e de Irmã Benigna, a menina Marlene, morta aos 13 anos de idade, permanece legitimada por populares, mas longe da beatificação.

Serviço As visitas guiadas no Cemitério do Bonfim acontecem no último domingo de cada mês, das 9h às 12h. Para participar, basta entrar em contato com a Fundação de Parques e se inscrever. Telefone: (31) 3277-5398

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KULTUR • CINEMA

Nostalgia na telona Documentário relembra parceria cinematográfica e amorosa da atriz norueguesa Liv Ullmann com o lendário diretor sueco Ingmar Bergman André Martins Reprodução

Havia quase seis anos, o mundo se despedia de um dos maiores expoentes do cinema mundial. Ao amanhecer do dia 30 de julho de 2007, o diretor Ingmar Bergman morria aos 89 anos, numa casa simples, de madeira, erguida na bucólica ilha de Färo, a sudeste do território sueco. Naquela minúscula porção de terra banhada pelo mar Báltico, Bergman trabalhava, escrevia incessantemente e se refugiava. Era um mundo particular do qual ele raramente saía. Na semana da morte do diretor, Liv Ullmann, uma das musas de Bergman – protagonista de 12 dos filmes assinados por ele –, partia intranquila da Noruega ao encontro do amigo. “Vim porque você me chamou”, disse a ele emocionada, fazendo alusão a um trecho do diálogo presente em Saraband – filme que é tido por muitos como a retomada da conturbada história de amor do casal de Cenas de um Casamento. As palavras de Liv faziam sentido, mesmo Ingmar não a tendo chamado em Färo nas vésperas da morte do diretor. Como costumavam confidenciar um ao outro, eles estavam permanentemente conectados, inclusive na dor. Por isso, não era de se estranhar o presságio da atriz.

Bibi Andersson (esq.), Liv e Bergman nas filmagens de Persona ........................................................................................................................

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Muito mais que uma parceria no cinema, Liv e Bergman protagonizaram altos e baixos de um relacionamento marcado pelo amor, a possessividade, o ódio e, quando o amor chegou ao fim, por uma forte e bela amizade. Da união que perdurou cinco anos, nasceu Linn Ullmann, a menininha loira que faz pequenas “pontas” em filmes, como Gritos e Sussurros e Sonata de Outono, dirigidos pelo pai, e Os imigrantes, filme do também sueco Jan Troell.


KULTUR • CINEMA

8 ANOS Quem conhece parte da história de Bergman e razoavelmente bem sua vasta e magnífica filmografia sabe que quase todos os seus filmes têm um tom fortemente biográfico. Cada longa é como uma peça de um grande mosaico que forma a imagem de Ingmar Bergman. Lembranças das esporádicas rejeições da mãe, da brutalidade do pai, do isolamento e as tentativas de lidar com os próprios “demônios” (como ele mesmo se referia ao temperamento difícil) são amplamente retratadas por meio de personagens que fazem referência a familiares ou revelam facetas do próprio realizador. Quando isso não acontece, o filme traz questionamentos aparentemente impregnados no âmago do diretor. A exemplo de O Sétimo Selo, nesses longas o existencialismo aflora. A fé, o amor e Deus são discutidos na medida em que, ironicamente, esses elementos se mantêm, quase que via de regra, ausentes para o homem e inacessíveis a ele. Assim como as lembranças e a juventude, o relacionamento de Bergman e Liv também é retratado em filmes, como Cenas de um Casamento. É exatamente nesse estágio da vida partilhada por ambos que está consolidado o roteiro do documentário Liv & Ingmar – uma história de amor, em cartaz no Usiminas Belas Artes Cinema, em Belo Horizonte. O diretor indiano Dheeraj Akolkar apresenta as memórias de Liv, abusando dos close-ups no belo par de olhos azuis e profundos, às vezes marejados, da atriz e diretora norueguesa. São 42 anos de histórias condensados de forma envolvente em pouco mais de 80 minutos. O documentário é subdividido em etapas que vão desde o flerte inicial (ela com 25 anos e ele com 46) e o convite para o primeiro filme juntos (o icônico Persona), passando pela falência da união e pela distância (quando ela vai para Hollywood e é aclamada como a nova Greta Garbo), até o reencontro e a consolidação da amizade.

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Fragmentos de filmes, trilhas sonoras usadas por Bergman, fotos, cenas extras e trechos de cartas e bilhetes trocados ao longo dos anos são os elementos utilizados pelo diretor para realizar a costura de Liv & Ingmar. É interessante notar a sinergia entre as palavras de uma Liv castigada pelo tempo e a saudade com as imagens em que ela contracena com Max von Sydow e Erland Josephson. Ambos curiosamente parecem personificar, com afeto ou fúria, o próprio diretor. Mesmo com a notória importância para a história do cinema sueco e mundial, a técnica da dupla é o que menos importa no documentário. O espectador que desconhece o legado do casal certamente sai do cinema como entrou: sem conhecê-lo. Na telona, os holofotes convergem para os bastidores; para uma história pouco conhecida e que até então não havia sido tão bem contada por meio de recursos audiovisuais. O resultado é singelo e corrosivamente saudosista.

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KULTUR • TERRA BRASILIS

Minastchê Beto Eterovick/ Sheik de Minas

Comida di Buteco

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Churrasco, chimarrão, pilcha e couro forçam uma conexão quase imediata com o distante Sul do Brasil. Mas o melhor dos costumes do Rio Grande do Sul vai estar bem próximo dos mineiros em abril. A tradicional feira cultural e de comércio Minastchê reúne os elementos mais característicos do universo gaúcho em solo mineiro. Local: Serraria Souza Pinto Período: de 5 a 14 de abril Outras informações no site minastche.com.br

Minas Trend Preview

O festival surgiu em 1999, sob a inspiração de Eduardo Maya, e conquistou o mundo. E foi parar nas páginas do The New York Times, tornando-se nada mais, nada menos que o maior festival gastronômico do Brasil. O Comida di Buteco traz novidades na edição 2013. É a primeira vez que o evento será realizado simultaneamente nas 16 cidades participantes. Ao longo de um mês, os “botequeiros” vão poder apreciar o melhor da gastronomia. Serão 400 petiscos tendo a mandioca e a linguiça como os ingredientes principais.

O Minas Trend Preview se consolidou como o principal evento de pré-lançamentos da moda mineira. Na sua 12ª edição, a mostra traz a tendência da estação primavera - verão 2013/2014. O evento reúne lojistas, compradores e formadores de opinião.

Local: diversos bares da cidade Período: 12 de abril a 12 de maio Outras informações no site comidadibuteco.com.br

Local: MinasCentro Período: de 25 a 28 de abril Outras informações no site minastrend.com.br


KULTUR • TERRA BRASILIS

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Regina Spektor A russa radicada nos Estados Unidos Regina Spektor volta ao Brasil para apresentações da turnê do disco “What We Saw from the Cheap Seats” lançado em 2012. A cantora e pianista, dona de uma das mais suaves vozes da música internacional, embalou trilhas sonoras de filmes, como “500 Dias com Ela” e “As Crônicas de Nária - Príncipe Caspian” e de novelas, como “A Favorita” e “Malhação”. Aos 33 anos, Regina é cultuada no mundo indie e pop e lançou oito álbuns. Locais: Credicard Hall São Paulo e Citibank Hall Rio de Janeiro Data: 10 de abril, em São Paulo, e 11 de abril, no Rio de Janeiro Outras informações no site ticketsforfun.com.br

Confirmados!

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A expectativa pela realização do Rock in Rio 2013 só aumenta. A cada edição, o evento varia o “cardápio” de sons. Além de tradicionais nomes da música brasileira, a atração deste ano vai reunir artistas internacionais de peso. Bon Jovi, Florence and the Machine (foto), Iron Maiden, Metálica, Bruce Springsteen e Beyoncé já confirmaram presença. O Rock in Rio acontece entre os dias 13 e 22 de setembro.

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CRÔNICA

Joanita gontijo Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com joanitagontijo@yahoo.com.br

Paz e amor Era a quinta vez que eles brigavam em um mês. Os motivos? Um dia, ela chegou tarde na casa dele pra namorar... Outro, ele trocou o churrasco da turma dela pelo chope com os amigos. Depois ela chorou, quando ele disse que o cheiro do hidratante que ela usava não era bom. E ele fez bico, quando ela reclamou que o vazamento no banheiro durava um mês. Eh... Relacionamentos não são fáceis e exigem paciência de Jó. O personagem do Velho Testamento foi testado por Deus e pelo Diabo, mas se manteve fiel e sereno. Ah, tá! Mas se eu pudesse dar uma consultoria aos escritores da obra sagrada, ia sugerir que Jó fosse testado pela própria mulher. Aí, sim! Queria ver ele sair dessa com cara de “espírito evoluído”.

gostosa. Impossível ter uma palavra amável para sua mulher, quando ela estoura o cartão de crédito, mesmo sabendo que a conta de luz do mês passado não foi paga por falta de dinheiro no banco. Brigas, rusgas e até barracos podem ser compreensíveis e perdoados, quando duas pessoas se amam. Certo? Já acreditei nisso. Mas hoje não acho que o amor seja o melhor termômetro para avaliar, quando uma relação apenas “subiu no telhado” e ainda pode ser resgatada, ou quando é melhor marcar a missa de sétimo dia, porque esse casal já era! Prefiro seguir os sinais de alerta disparados pela paz - ou melhor, pela falta dela. O amor nem sempre é um bom conselheiro e, às vezes, ajuda a perpetuar relacionamentos doentios. Conheço casais que, por décadas, nutriram porções idênticas de amor e ódio. A relação se transforma num assassinato mútuo e lento de duas pessoas que poderiam ser mais felizes, caso abrissem mão uma da outra.

“O céu e o inferno costumam se revezar, quando a gente está junto de alguém. Mesmo quando, além de amor, a convivência inclui respeito, afinidade e sexo”

O céu e o inferno costumam se revezar, quando a gente está junto de alguém. Mesmo quando, além de amor, a convivência inclui respeito, afinidade e sexo. Não existe relação imune a discussões. O “quebra-pau” está no pacote da expressão “felizes para sempre”. Duvido que haja dois seres humanos que vivam 100% dos dias trocando sorrisos, olhares apaixonados e juras de amor eterno. Não dá pra exigir que a mamãe que não dorme uma noite inteira há três meses tenha tranquilidade, se o papai finge um sono pesado, quando o recémnascido acorda com cólica. É difícil manter o equilíbrio, quando seu namorado enche a cara na festa da sua empresa e chama a recepcionista de

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Sei que não é fácil abandonar alguém por quem ainda se “arrasta um bonde”. Esperança e frustração se alternam numa tortura constante. Mesmo sentindo-se preso ao pau de arara, fica sempre a dúvida: é melhor confessar o fim ou suportar um recomeço? Rasga a alma admitir que só o amor não bastou. Mas se o que vivem juntos é uma batalha constante, é bom se lembrar: o contrário de guerra não é amor. É paz!



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