Mídia e Políticas Públicas de Comunicação

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Introdução

Este processo, inerente ao próprio cenário democrático, vem a colocar, entretanto, um desafio de grandes proporções para a mídia: como cumprir de forma adequada sua função social – reportar, informar, discutir – em situações nas quais os interesses do próprio setor estão em jogo? Será que a imprensa brasileira, enquanto uma das guardiãs da democracia, vem conseguindo abordar de forma objetiva questões relacionadas aos seus próprios deveres e responsabilidades? De que maneira e em que medida as empresas do setor priorizam informar seus públicos sobre os temas que dizem respeito ao universo das comunicações? Procurando desvendar algumas das possíveis respostas a tais questionamentos, a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) e a Fundação Ford elaboraram um estudo inédito, que procura enfocar o tratamento editorial dispensado aos temas das Políticas Públicas de Comunicação por 53 jornais impressos (representando todos os estados brasileiros) e por quatro revistas de circulação nacional. A pesquisa analisou uma amostra de 1.184 textos jornalísticos, publicados entre 2003 e 2005, que traziam conteúdos relacionados ao foco temático principal (os principais resultados do estudo, bem como informações sobre a metodologia utilizada, estão descritos na página 18). Mesmo estando centrado na radiografia da atuação de apenas um dos atores do cenário comunicacional – a imprensa –, o presente trabalho possibilita revelar as diferentes óticas e abordagens construídas pela mídia em relação ao seu próprio campo de atuação. Move esse esforço investigativo a percepção de que as políticas de comunicação somente passarão a fazer parte, de maneira mais ampla e efetiva do jogo político nacional se – e quando – vierem a integrar, com um mínimo de transparência e imparcialidade, a própria agenda jornalística.

AS FUNCIONALIDADES DA MÍDIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

A fim de melhor compreender a relevância do debate sobre as Políticas Públicas de Comunicação no atual contexto das sociedades democráticas, é preciso revisitar, ainda que brevemente, algumas das principais potencialidades dos meios de comunicação historicamente analisadas pelos cientistas sociais: agendamento e enquadramento do debate público, construção das informações e controle social do Poder Público. O primeiro aspecto diz respeito ao poder que a mídia possui de interferir – a partir daquilo que veicula ou omite – nos temas que estarão no topo da lista de prioridades dos decisores, formadores de opinião e, muito freqüentemente, da sociedade como um todo. Com a rápida expansão e diversificação de suas áreas de atuação – em grande parte, em função do processo de reconhecimento dos direitos humanos de cidadãos e cidadãs ocorrido nas últimas décadas – os Estados nacionais se vêem diante da necessidade de definir prioridades de ação, entre os diferentes demandas colocadas cotidianamente na esfera pública. Mesmo os mais desconfiados

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