Imprensa e agenda de direitos das mulheres versao web copy

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Aspectos Conceituais e Metodológicos | 17

certamente será alçada à lista de prioridades da sociedade e, consequentemente, por pressão popular, do governo. No processo de definição dessa agenda de debates, a imprensa desempenha uma função básica: a de gatekeeper (guardião do portão). A expressão refere-se ao poder de determinar o que é ou não notícia: por meio de critérios de noticiabilidade, os profissionais da mídia decidem quais fatos devem receber tratamento jornalístico (ou passar pelo “portão”) e ser divulgados. Essa capacidade da imprensa funciona não apenas no sentido de levantar temas para debate, mas também no de suprimir assuntos que, por não serem considerados de interesse ou relevantes, ficam fora da cobertura dos meios e, portanto, da agenda política. A esse respeito, o professor Ciro Marcondes Filho (1993, p. 116), da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), afirma que a principal arma da imprensa é o jogo com as imagens: “... a estratégia — quase prestidigitadora — de poder fazer desaparecer ou surgir, de forma mais ou menos arbitrária e fictícia, personagens políticos, partidos, movimentos de mudança, conservação e outros componentes da cena pública”.

Nesse contexto, em contraposição à tese da fixação da agenda, há também a hipótese da “espiral do silêncio”, proposta pela pesquisadora alemã Elisabeth Noelle-Neumann. Ela defende que, diante de uma maioria barulhenta, a minoria tende ao silêncio: “... os agentes sociais têm aguda percepção de qual é a opinião dominante, que seria, em grande parte, imposta pelos meios de comunicação. Resumindo, há uma tendência ao silêncio quando o indivíduo, por medo de isolamento, não expressa sua opinião quando ela é minoritária”. (In Barros Filho, 1995, p. 169)

Os “deveres” Esse “silêncio” mencionado por Noelle-Neumann certamente acentua-se quando os jornalistas se contentam com sua própria voz ou buscam sempre as mesmas falas (em geral, dominantes). A solução necessariamente passa por dar espaço para que diferentes fontes — estudiosos, representantes públicos e porta-vozes de entidades — possam expor seus pontos de vista e defender suas ideias, além de convidar muitos cidadãos e cidadãs a contarem suas histórias de vida. Com profusão de olhares, uma determinada questão pode ser abordada com maior efetividade e, portanto, soluções menos simplistas passam a encontrar eco.


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