TCC arqurbuvv - HISTÓRIAS ESQUECIDAS O RESTAURO E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DO FORTE SÃO

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ANDERSON PELISSARI VIEIRA JÚNIOR

HISTÓRIAS ESQUECIDAS O RESTAURO E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DO FORTE SÃO JOÃO – VITÓRIA – ES

VILA VELHA – ES 2020


ANDERSON PELISSARI VIEIRA JÚNIOR

HISTÓRIAS ESQUECIDAS O RESTAURO E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DO FORTE SÃO JOÃO – VITÓRIA – ES

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha como requisito para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob orientação do Prof. Me. Luiz Marcello Gomes Ribeiro.

VILA VELHA - ES 2020



AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado forças e saúde para superar os obstáculos e dificuldades durante todos esses anos de graduação alcançando assim este objetivo. Aos meu pais, por todo o carinho e apoio que me proporcionaram durante todos os meus anos de vida, sem medir esforços para que alcançasse meus objetivos. Agradeço por realizarem meu sonho de poder fazer o curso superior em Arquitetura e Urbanismo e poder me formar nessa área que sou apaixonado, sem eles eu jamais teria chegado onde estou. A todo o corpo docente do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, em especial ao Me. Luiz Marcello Gomes Ribeiro por todo apoio, dedicação, paciência e profissionalismo durante toda essa caminhada.

A todos meus sinceros agradecimentos.


RESUMO

Essa pesquisa trata de analisar e compreender as questões de Restauro e preservação. Entender os motivos que levam ao abandono de imóveis nos centros urbanos, identificando monumentos históricos que se encontram em estado de descaso, e os impactos que estes imóveis podem gerar na sociedade. O desenvolvimento da pesquisa leva ao estudo e a proposição de uma intervenção, com a intenção de requalificar o monumento Forte São João, propondo o uso de Resort Urbano, contribuindo para a preservação do patrimônio e desenvolvimento do município de Vitória - ES. No passado o monumento teve papel fundamental para a defesa e segurança da ilha de Vitória, impedindo diversas invasões e saques piratas. Passou por diversas reformas e ampliações, recebendo o uso de cassino em 1924, porém, anos mais tarde, o monumento passou a ser Sede do Clube Saldanha da Gama. Em 1984 o imóvel foi tombado pelo município de Vitória e, atualmente, encontre-se sob responsabilidade e manutenção do Estado. A pesquisa também aborda os aspectos que levaram a decadência dos clubes sociais nos dias atuais, descrevendo a história e período em que o Forte pertencia ao Clube Saldanha da Gama. Analisa-se também importância que o Patrimônio pode exercer sobre a sociedade, adotando princípios das normas de acessibilidade, conforto e ecoeficiência, através de estudos de caso relacionados ao restauro e preservação de Fortes no Brasil e no mundo. É apresentado por meio de pesquisas e estudos de caso, o uso de hotelaria em monumentos históricos pelo Brasil e pelo mundo, justificando a importância do restauro para o imóvel e a sociedade. Por fim o objetivo da pesquisa é compreender e desenvolver um projeto arquitetônico de restauro, em nível de estudo preliminar, de um Resort Urbano, com finalidade de desenvolvimento de seu entorno, além de promover a valorização da cultura e história do local em que o monumento se encontra.

Palavras Chave: Vitória, Forte São João, Restauração, Preservação, Resort Urbano


ABSTRACT

This research seeks to analyze and understand the issues of Restoration and preservation. Understand the reasons that lead to the abandonment of properties in urban centers, identifying historical monuments that are in a state of neglect, and the impacts that these properties can generate on society. The development of the research leads to the study and the proposal of an intervention, with the intention of requalifying the Forte São João monument, proposing the use of Urban Resort, contributing to the preservation of the heritage and development of the municipality of Vitória - ES. In the past, the monument played a fundamental role in the defense and security of the island of Vitória, preventing several invasions and pirate looting. It underwent several renovations and extensions, receiving the use of a casino in 1924, but years later the monument became the headquarters of Clube Saldanha da Gama. In 1984, the property was listed by the municipality of Vitória, and is currently under the responsibility and maintenance of the State. The research also addresses the aspects that led to the decadence of social clubs today, describing the history and period in which the Fort belonged to Clube Saldanha da Gama. It also analyzes the importance that Heritage can exert on society, adopting principles of accessibility, comfort and eco-efficiency standards, through case studies related to the restoration and preservation of Forts in Brazil and in the world. It is presented through research and case studies, the use of hotels in historical monuments throughout Brazil and the world, justifying the importance of restoration for the property and society. Finally, the objective of the research is to understand and develop an architectural restoration project, on a preliminary level, of an Urban Resort, with the purpose of developing its surroundings, in addition to promoting the appreciation of the culture and history of the place where the monument is located.

Keywords: Vitória, Fort São João, Restoration, Preservation, Urban Resort


LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mapa dos imóveis ociosos no centro de Vitória .................................................... 17 Figura 2 : antigo imóvel do Fórum de Vitória. ....................................................................... 18 Figura 3:Imóvel do “Archivo Público Espírito-Santense” e a “Biblioteca Pública Estadual” ... 18 Figura 4:Atual edifício sede do Arquivo Público do Espírito Santo ....................................... 19 Figura 5:Antiga sede do Arquivo Público do Espírito Santo. ................................................ 19 Figura 6:Antigo imóvel que funcionava a sede do Arquivo Público do Espírito Santo .......... 19 Figura 7: Sacada completamente degradada, com armações expostas e enferrujadas. ...... 20 Figura 8: Paredes externas com sinais de infiltração. .......................................................... 20 Figura 9:Colégio São Vicente de Paulo ............................................................................... 21 Figura 10: Antigo Imóvel Colégio São Vicente de Paulo completamente degradado. .......... 21 Figura 11: Antigo Imóvel do Colégio São Vicente de Paulo. ................................................ 21 Figura 12:Muro e Portão com arames de proteção contra vândalos. ................................... 22 Figura 13:Esquadrias danificadas com grades de proteção contra vândalos. ...................... 22 Figura 14:Cais do Hidroavião............................................................................................... 23 Figura 15:Cais do Hidroavião degradado ............................................................................. 24 Figura 16: Cais do Hidroavião hoje serve de abrigo para moradores em situação de rua. ... 25 Figura 17: Edifício Banco de Londres e Sul América, 1941.................................................. 25 Figura 18: Edifício Banco de Londres e Sul América desativado. ........................................ 26 Figura 19: Edifício Banco de Londres e Sul América. .......................................................... 27 Figura 20: Edifício Banco de Londres e Sul América. ......................................................... 27 Figura 21: Representação do pirata Thomas Cavendish ..................................................... 28 Figura 22: Primeira planta e fachada documentada do Forte São João. .............................. 29 Figura 23: Forte São João,1928. ......................................................................................... 30 Figura 24 Forte São João após a expansão na parte superior do edifício. ........................... 31 Figura 25: Forte São João como sede do Clube Saldanha da Gama. .................................. 31 Figura 26: Forte São João, Sede do Clube Saldanha da Gama........................................... 32 Figura 27: Regatas do Clube Saldanha da Gama em treinamento, ao fundo o Forte São João..................................................................................................................................... 33 Figura 28: Evento no Salão principal do Monumento Forte São João. ................................. 34 Figura 29: Presidente da República, General João Batista Figueiredo no salão principal do Forte São João. ................................................................................................................... 34 Figura 30: Forte São João as margens da avenida Mascarenhas de Moraes ...................... 37 Figura 31: Mapa do Bairro Forte São João .......................................................................... 37 Figura 32: Forte São João tomado pela vegetação .............................................................. 38 Figura 33: Forte São João em estado de degradação. Janelas quebradas e paredes pichadas .............................................................................................................................. 38 Figura 34: Peças de artilharia do Forte São João ............................................................... 39 Figura 35: Símbolo do Império em uma das peças de artilharia ........................................... 39 Figura 36: Pórtico do Forte São João .................................................................................. 39 Figura 37: Símbolo do Império na parte superior do pórtico ................................................. 39 Figura 38: muro pichado por vândalos ................................................................................. 40 Figura 39: Peça de artilharia em estado avançado .............................................................. 40 Figura 40: Pátio do forte São João com estátua de bronze do índio Araribóia ..................... 40 Figura 41: Hotel Eurostars Museum..................................................................................... 48 Figura 42: Vestígios da ocupação Romana ......................................................................... 49 Figura 43: Peças e objetos encontrados durante as escavações ......................................... 49 Figura 44 Exemplo de carta solar ........................................................................................ 52 Figura 45: Aquiles Eco Hotel................................................................................................ 54 Figura 46: Mapa da ilha de Itamaracá.................................................................................. 55


Figura 47: Planta de do forte Orange, 1788 ......................................................................... 56 Figura 48: Resquícios das construções holandesas. ........................................................... 57 Figura 49: Escavações no Forte Orange.............................................................................. 57 Figura 50: Muralhas do Forte Orange .................................................................................. 58 Figura 51: Guatira do Forte Orange ..................................................................................... 58 Figura 52: comunidade do Forte Orange ............................................................................. 59 Figura 53: Ilha onde se encontra a Fortaleza de Anhatomirim ............................................. 59 Figura 54: Plano da Fortaleza de Anhatomirim,1739 ........................................................... 60 Figura 55: Projeto Original do Quartel,1747 ......................................................................... 61 Figura 56: Vista do Quartel da Fortaleza, durante a restauração,1974 ................................ 61 Figura 57: Fortaleza aberta a visitações .............................................................................. 62 Figura 58: Cidadela de Cascais,1661 .................................................................................. 63 Figura 59: Muralha da cidadela de Cascais ......................................................................... 64 Figura 60: Planta baixa do projeto de restauro do forte........................................................ 64 Figura 61: Fachada da Pousada Cascais ............................................................................ 64 Figura 62: Cidadela de Cascais,2012 .................................................................................. 65 Figura 63: Taxa de Ocupação hoteleira em janeiro de 2020 em Vitória ............................... 67 Figura 64: Antigo Grande Hotel de Bragança ...................................................................... 69 Figura 65: Hotel Selina ........................................................................................................ 70 Figura 66: Interior do Restaurante do Hotel ......................................................................... 71 Figura 67: Hotel Solar do Império ........................................................................................ 72 Figura 68: Hotel Solar do Império ........................................................................................ 72 Figura 69 Hotel Solar do Rosário ......................................................................................... 73 Figura 70: Vista para Igreja de São Francisco de Assis ....................................................... 74 Figura 71: Planta baixa do Convento do Carmo................................................................... 75 Figura 72: Vista Interna do Hotel Pestana Convento do Carmo .......................................... 76 Figura 73: Primeira Vista Documentada do Forte São João................................................. 81 Figura 74: Forte São João,1928 .......................................................................................... 81 Figura 75: Forte São João como sede do Clube Saldanha da Gama. .................................. 82 Figura 76: Forte São João nos dias atuais ........................................................................... 83 Figura 77: Mapa de Localização do Forte ............................................................................ 78 Figura 78: Área externa do forte tomada por vegetação ...................................................... 79 Figura 79: Área externa do forte tomada por vegetação ...................................................... 79 Figura 80: Área de Estudo ................................................................................................... 80 Figura 81: Zoneamento PDU Vitória .................................................................................... 84 Figura 82: Baía de Vitória antes das expansões .................................................................. 85 Figura 83: Baía de Vitória durante as expansões................................................................. 86 Figura 84: Vista Morro do Penedo ....................................................................................... 87 Figura 85: Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes ....................................................... 88 Figura 86: Avenida Vitória ................................................................................................... 89 Figura 87: Regata pelo IV Centenário do ES ....................................................................... 90 Figura 88: Forte São João ................................................................................................... 90 Figura 89: Forte São João e Penedo ................................................................................... 91 Figura 90: Fachada lateral direita Forte São João ............................................................... 94 Figura 91: Fachada Lateral esquerda Forte São João ......................................................... 95 Figura 92: Parte interna do Forte com infiltrações................................................................ 95 Figura 93: Área interna do Forte Original ............................................................................. 96 Figura 94 : Evolução Forte ................................................................................................... 96 Figura 95: Moodboard Forte São João .............................................................................. 100 Figura 96: Moodboard Edifício Anexo ................................................................................ 101 Figura 97: Isometria Pav. Forte e Cassino ......................................................................... 102


Figura 98 : Perspectiva da área gourmet da Hamburgueria Nicolau, ao fundo o container cozinha .............................................................................................................................. 102 Figura 99: Isometria Pav. Salão e Administração............................................................... 103 Figura 100 – Lobby do Hotel Resort, localizado no Salão principal .................................... 103 Figura 101: Isometria Pav. Suíte e Spa ............................................................................. 104 Figura 102 : Café da manhã do hotel ................................................................................. 104 Figura 103: Isometria Pav. Térreo e 1° Pavimento............................................................. 105 Figura 104 : Vista de uma das Suítes do Edifício Anexo .................................................... 105 Figura 105 : Exemplo de interior das suítes ....................................................................... 106 Figura 106 : Vista da Área de estar dos Hóspedes ............................................................ 106 Figura 107 : Espaço de estar, relação do Morro do Penedo, o índio Araribóia e o patrimônio .......................................................................................................................................... 107 Figura 108 : Vista da Piscina ............................................................................................. 107 Figura 109: Isometria Pav. Técnico e Piscina .................................................................... 108 Figura 110: Isometria Pav. Sub.01 , 02 e 03 ...................................................................... 108 Figura 111: Fluxograma ..................................................................................................... 110 Figura 112: Cassino Trianon .............................................................................................. 111 Figura 113: cores terrosas do antigo cassino ..................................................................... 112 Figura 114: Estudo de Cor ................................................................................................. 113 Figura 115 : Relação das Fachadas do Patrimônio e Anexo .............................................. 113 Figura 116 : Perspectivas das fachadas ............................................................................ 114 Figura 117 : Área Gourmet ................................................................................................ 114 Figura 118: Proposta de Paisagismo ................................................................................. 115


LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Estudos de caso ................................................................................................ 66 Tabela 2: Índices Urbanísticos ............................................................................................. 84


SUMÁRIO 1.

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 12

2.

EDIFICAÇÕES ABANDONADAS NA GRANDE VITÓRIA ............................................ 15 2.1.

Fatores que influenciam o abandono de imóveis ................................................... 15

2.2.

Impactos na Sociedade; ........................................................................................ 16

2.3.

Imóveis abandonados no Centro de Vitória; .......................................................... 17

2.4.

Densidades Históricas esquecidas em Vitória: ...................................................... 17

2.4.1.

APES – Arquivo Estadual – Cidade Alta ......................................................... 18

2.4.2.

Casa de Muniz Freire, Colégio São Vicente de Paulo ..................................... 20

2.4.3.

Cais do Hidroavião, Santo Antônio ................................................................. 22

2.4.4.

Banco de Londres e Sul América, Av. Jerônimo Monteiro: ............................. 25

2.5. 3.

Considerações parciais sobre o capítulo. .............................................................. 27

O FORTE SÃO JOÃO E O CLUBE SALDANHA DA GAMA ......................................... 28 3.1.

História e Valor ...................................................................................................... 28

3.2.

Clube de Regatas Saldanha da Gama no Forte São João..................................... 32

3.3.

Clubes Sociais – Crise e desinteresse na sociedade contemporânea. .................. 35

3.3.1.

4.

3.4.

Forte São João nos dias de hoje ........................................................................... 37

3.5.

Considerações parciais sobre o capítulo. .............................................................. 41

PATRIMONIO HISTÓRICO: UM NOVO FENÔMENO, UM NOVO USO ....................... 43 4.1.

O novo uso como forma de preservação e desenvolvimento econômico local. ...... 43

4.2.

A preservação no Brasil e no Espírito Santo .......................................................... 43

4.3.

A atualidade das Teorias do Restauro ................................................................... 45

4.3.1. 4.4.

A Carta de Veneza ......................................................................................... 45

Novas exigências arquitetônicas em monumentos históricos: ............................... 47

4.4.1.

Acessibilidade e Acesso ................................................................................. 47

4.4.2.

Segurança e Incêndio ..................................................................................... 50

4.4.3.

Conforto Térmico e Acústico ........................................................................... 51

4.4.4.

Ecoeficiência .................................................................................................. 52

4.5.

Estudos de caso – Restauração de Fortificações pelo mundo ............................... 54

4.5.1.

Forte Orange - PE .......................................................................................... 55

4.5.2.

Fortaleza Anhatomirim – SC ........................................................................... 59

4.5.3.

Cidadela de Cascais, Arq. Gonçalo Byrne ...................................................... 63

4.6. 5.

Clubes Sociais – Crise e desinteresse na sociedade contemporânea. ........... 35

Considerações parciais sobre o capítulo. .............................................................. 66

HOTÉIS E EDIFÍCIOS HISTÓRICOS ........................................................................... 67 5.1.

A hotelaria no Estado do Espírito Santo ................................................................ 67


5.2.

6.

Estudos de Caso (Hotéis Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia ).......................... 68

5.2.1.

Hotel Selina – Rio de Janeiro ......................................................................... 69

5.2.2.

Hotel Solar do Império – Petrópolis – Rio de Janeiro ...................................... 71

5.2.3.

Hotel Solar do Rosário – Ouro Preto – Minas Gerais ...................................... 73

5.2.4.

Pestana Convento do Carmo - BAHIA ............................................................ 74

5.3.

Espírito Santo, uma lacuna entre estados ............................................................. 76

5.4.

Considerações parciais sobre o capítulo ............................................................... 77

CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO .................................. 78 6.1.

Intervenção de Restauro e Requalificação de Uso ................................................ 78

6.1.1.

Diagnóstico da Área do Monumento ............................................................... 78

6.1.2.

Área de Estudo ............................................................................................... 80

6.1.3.

Evolução Arquitetônica ................................................................................... 81

6.2.

Proposta Conceitual .............................................................................................. 83

6.3.

Legislação Urbana ................................................................................................. 83

6.4.

Índices de Controle Urbanísticos ........................................................................... 84

6.5.

Aterros ................................................................................................................... 85

6.6.

Aspectos Semióticos ............................................................................................. 86

6.6.1. 6.7.

Semiótica da Área De Estudo ......................................................................... 87

Paisagem Cultural ................................................................................................. 89

7. ENSAIO DE PROJETO DE RESTAURO E REQUALIFICAÇÃO DE USO PARA O COMPLEXO HISTÓRICO DO FORTE SÃO JOÃO E CLUBE SALDANHA DA GAMA ........ 92 7.1.

Levantamento Cadastral Físico ............................................................................. 92

7.2.

Estado de Conservação do Conjunto..................................................................... 93

7.3.

Proposta de Novo Uso ........................................................................................... 97

7.4.

Ensaio de Projeto .................................................................................................. 99

7.4.1.

Memorial Justificativo ................................................................................... 100

7.4.2.

Proposta ....................................................................................................... 101

7.4.3.

Setorização .................................................................................................. 101

7.4.4.

Fluxos ........................................................................................................... 109

7.4.5.

Estudos Cromáticos E Paisagem.................................................................. 110

8.

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 116

9.

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 117


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1. INTRODUÇÃO Atualmente, vivencia-se uma problemática nos grandes centros urbanos, o abandono de imóveis, muitos deles patrimônios de grande densidade histórica. Este trabalho busca entender através de pesquisas, análises, levantamentos e estudos de casos os motivos que causam o abandono destes bens históricos nas grandes cidades. Um desses patrimônios esquecidos é o Forte São João, localizado na cidade de Vitória. Rico não apenas em elementos que compõe sua forma física, mas também, em sua historicidade e memórias. Ao longo deste trabalho aborda-se de forma ampla os principais eventos que resultaram em seu estado atual de abandono. Outro fator importante é o impacto dos edifícios abandonados no Centro de Vitória. Durante a pesquisa pontua-se a localização desses imóveis, apresentando-se fatores que influenciam no abandono desses edifícios e como isso afeta a sociedade. A cidade de Vitória possui rica diversidade arquitetônica de diversos estilos e períodos diferentes, este cenário de abandono atinge também os monumentos históricos, do qual grande parte não recebe manutenção há anos, se degradando com o tempo. Nesse quadro se encontram o Forte São João, tombado pelo CEC – Conselho Estadual de Cultura, em 1991, integrado com o Clube Saldanha da Gama tombado pelo município de Vitória nos graus de proteção GP1 e GP2. Por este motivo, no capitulo “Um novo fenômeno, um novo Uso” será demonstrada a necessidade de trazer um novo uso ao monumento, a importância da preservação do edifício e os procedimentos que devem ser respeitados de acordo com as recomendações internacionais, notadamente a Carta de Veneza (ICOMOS 1964), assim como a necessidade de atualização em acordo com as normas de acessibilidade e segurança, visando, inclusive, o conforto térmico e acústico para melhor satisfação dos usuários. A proposta de novo uso, tem como o objetivo, trazer nova vida ao monumento, atualmente sem atividades, valorizando sua arquitetura e principalmente sua história, de forma que venha contribuir para o desenvolvimento da sociedade que o cerca. No Brasil, a maioria das vezes que vemos um edifício de grande importância histórica nos planos de preservação, muitas das propostas consideram um uso cultural ou mesmo elitista. No caso desta proposta para intervenção no Forte São João, busca-se uma atuação que privilegie a cultura e história local, com espaços para cultura e história, onde poderão ser expostos documentos, fotos, registros históricos,


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peças e instrumentos antigos, no entanto, essas ações estarão voltadas para valorizar e informar aos usuários a importância do monumento para a cidade de Vitória. Seu uso principal não seria como museu ou espaço cultural, mas sim uma atividade que possa ser autossustentável e que venha ainda sustentar essa demanda cultural. Assim, propõe-se estudar a implantação de um Hotel Resort Urbano, criando edificações anexas ao monumento, servindo de alojamento ao turismo de negócios e lazer no Estado. Justifica-se o uso hoteleiro por conta do déficit de hotéis no estado do Espírito Santo, se analisarmos a fundo, o estado do Espirito Santo, em comparação com estado do Rio de Janeiro e Bahia, é uma lacuna sem muitas opções nesse sentido. Os dois estados citados possuem belezas naturais similares aos do Estado do Espírito Santo, nos quais se exploraram de maneira adequada esses recursos, fazendo com que haja um turismo intensificado, atraído por belezas naturais em que se possa desfrutar de momentos de tranquilidade e conforto, mesmo dentro da cidade. Levando em consideração sua localização, seu potencial construtivo, sua arquitetura de diferentes estilos e períodos, sua alta metragem quadrada de espaços livres, as belezas naturais que o cercam, o uso como Hotel Resort Urbano no Monumento Forte São João justifica-se, levando em conta que trará benefícios ao edifício, seu entorno e população local que poderá desfrutar, ainda, dos espaços históricos e culturais preservados de forma sustentada. Assim, o potencial arquitetônico e a densidade histórica deste monumento para a Região da Grande Vitória, conduzem à restauração e requalificação deste bem, que tem por objetivo valorizar a história e seu entorno, contribuindo ainda para o desenvolvimento do Centro da cidade, além de proporcionar novas práticas e dinamismo ao monumento esquecido, influenciando no desenvolvimento urbano e na valorização da cultura na região. Objetiva-se assim, o desenvolvimento de um estudo para um Resort Urbano, com finalidade de desenvolvimento de seu entorno, além de promover a valorização da cultura e história do local em que o monumento se encontra. Para o alcance de tais objetivos buscou-se realizar pesquisas em diferentes artigos, teses, dissertações de mestrado e doutorado referentes aos temas da preservação, bem como suas intervenções e mudanças de uso, separando a pesquisa em diferentes etapas: - Motivos que causam abandono de imóveis em centros Urbanos;


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- História do Monumento Forte São João e Clube Saldanha da Gama; - Princípios relacionados a restauração e normativas de acessibilidade, segurança, conforto e sustentabilidade em edifícios históricos. - Estudos de caso em monumentos históricos que receberam novos usos e suas contribuições para a sociedade. - Pesquisa de campo com levantamentos cadastrais métricos a partir de visitas técnicas in loco, bem como ampla campanha fotográfica para embasamento do mapeamento de danos e registro atual da situação do bem histórico. - Produção gráfica de bases com plantas, cortes, fachadas e modelagem 3D do monumento e Estudo preliminar para intervenção.


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2. EDIFICAÇÕES ABANDONADAS NA GRANDE VITÓRIA A cidade de Vitória é constituída por diversos edifícios e monumentos que fizeram parte da sua história e desenvolvimento. Neste capítulo é abordado o fato de muitos destes imóveis não estarem cumprindo com sua função social, além de abordar aspectos que influenciam o abandono destes edifícios nos centros urbanos. 2.1.

Fatores que influenciam o abandono de imóveis O abandono de imóveis, tem sido algo cada vez mais comum nas cidades urbanas brasileiras. Diversos edifícios abandonados ou em processo de degradação, nos quais, muitos correm riscos de sinistros. Em sua maioria, esses imóveis se encontram nos grandes centros urbanos. Casas, escolas e demais monumentos com densidade histórica e interesse de preservação estão entregues à própria sorte. Muitos, não recebem nenhum tipo de manutenção por parte do proprietário ou responsável; contribuindo não apenas para sua desvalorização, assim como de seus entornos imediatos. (FARIAS,2018)

Existem diferentes fatores que influenciam no abandono desses imóveis, dentre eles, podemos destacar: a falta de um planejamento urbano e sistemática fiscalização do poder público. Porém, muitos desses edifícios são abandonados justamente pela irresponsabilidade e falta de interesse dos proprietários e responsáveis pelo imóvel, por vezes, o próprio poder público. Outro fator que influencia é a especulação imobiliária, caso em que o proprietário, com objetivos de gerar lucro, compra imóveis, com a finalidade de, posteriormente, vende-los ou alugá-los, na expectativa que o valor de mercado aumente com passar do tempo. (MAUAD,2018)

De acordo com o Código Civil (Lei 10.406/2002):

Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos


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depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições. (CÓDIGO CIVIL,2002)

Assim, caso o proprietário ou responsável abandonar seu imóvel, depois de três anos, passará a pertencer administração municipal. Independente da motivação do abandono, tais bens que não cumprem com sua função social, resultam em problemas de ordem sanitária, estética e segurança. (FARIAS,2018)

2.2.

Impactos na Sociedade;

O abandono de imóveis, geram diversos prejuízos à sociedade. Além de deixar espaços ociosos nas cidades, esses edifícios acabam enfraquecendo o potencial econômico, social, urbanístico e mesmo turístico de seu entorno. Com a falta de manutenção muitos desses imóveis abandonados, vão se degradando a ponto de colapsos, muitas vezes sendo monumentos de interesse histórico, colocando em risco outros edifícios, a vida e a memória social do lugar e da população. Outro fator que impacta, de maneira negativa, a sociedade é o fato desses imóveis se transformarem em abrigo de pragas urbanas, contribuindo para proliferação de doenças, acarretando prejuízos a saúde pública. Em grande parte, ainda, os imóveis são vítimas de vandalismo, tendo suas estruturas pichadas e esquadrias destruídas, trazendo insegurança e desconforto a população. Alguns desses edifícios acabam sendo ocupados, por pessoas socialmente desmerecidas ou em situação de rua, que muitas vezes, não possuem outra opção para abrigo e sobrevivência.


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2.3.

Imóveis abandonados no Centro de Vitória; Figura 1: Mapa dos imóveis ociosos no centro de Vitória

Fonte: ARQ.BRASIL, 2020

De acordo com informações colhida em diferentes periódicos eletrônicos, um levantamento da Defensoria Pública do Espírito Santo juntamente com Associação de Moradores do Centro e movimentos sociais identificou que 35% dos imóveis no Centro de Vitória estão abandonados há mais de cinco anos. A defensoria também contabilizou as denúncias recebidas de imóveis em estado precário por meio do canal eletrônico disponibilizado pelo órgão, totalizando 127 construções em situação de total abandono no Centro. De acordo com as denúncias enviadas por meio do canal eletrônico da DPES, mais de 35% desses imóveis estão abandonados há mais de cinco anos – dos quais cerca de 24% já tem mais de uma década de subutilização. 2.4.

Densidades Históricas esquecidas em Vitória:

Visto que o centro de Vitória possui diversos edifícios e monumentos históricos em situação de descaso e abandono, neste capítulo é abordado alguns exemplos de monumentos com grande densidade histórica que, atualmente, não estão cumprindo com sua função social no município de Vitória.


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2.4.1. APES – Arquivo Estadual – Cidade Alta

Figura 2 : antigo imóvel do Fórum de Vitória.

Fonte: APES, Sem data.

Em 1923 o Imóvel onde funcionava o Fórum de Vitória, foi demolido para ser construído o prédio que abrigaria, em 1926, o “Archivo Público Espírito-Santense” e a “Biblioteca Pública Estadual”. (APES,2020) Figura 3:Imóvel do “Archivo Público Espírito-Santense” e a “Biblioteca Pública Estadual”

Fonte: APES, Sem data.

No ano de 1979 a Biblioteca Pública mudou-se para a nova sede na Praia do Suá, passando o Arquivo Público a ocupar todo o prédio. No ano seguinte, em 1980, o edifício sede do Arquivo Público desde 1926, apresentava problemas de rachaduras em sua estrutura, executou-se uma ampla reforma em sua estrutura e das instalações


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de rede elétrica e hidráulica, além de implementar laboratórios de restauração de papel e de processamento de microfilme. A reforma se estendeu até o ano de 1982 e trouxe modificações como a substituição da cobertura de telhas de barro tipo francesa por telhas de cimento amianto, mantendo-se todo o engradamento original em madeira de lei. Após a reforma, em 1983 a sede do Arquivo Público foi tombada como Patrimônio Histórico e Artístico Estadual pelo Conselho Estadual de Cultura. (APES,2020) Figura 4:Atual edifício sede do Arquivo Público do Espírito Santo

Fonte: APES, 2020

Após anos funcionando como sede do Arquivo Público do Espírito Santo, o imóvel, foi desativado em 2005, quando o Governo do Estado oficializou a cessão do Edifício Getúlio Rezende, situado à Rua Sete de Setembro, como nova sede para o Arquivo Público. (APES,2020) Figura 5:Antiga sede do Arquivo Público do Espírito Santo.

Figura 6:Antigo imóvel que funcionava a sede do Arquivo Público do Espírito Santo

Fonte: Acervo pessoal, maio de 2020.

Fonte: Acervo pessoal, maio de 2020

Em visita técnica realizada em maio de 2020, foi possível notar a intensa situação de abandono em que o edifício se encontra. Esquadrias quebradas e sujas, cercadas


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por grades visando impedir invasões no local, paredes externas com sinais de infiltração, armação estrutural exposta e enferrujada, gerando risco a vida das pessoas que circulam no local. De acordo com uma constatação própria, a prefeitura colocou faixas de isolamento abaixo das sacadas, pois estão em risco de desabamento devido às fortes chuvas. Figura 7: Paredes externas com sinais de infiltração.

Figura 8: Sacada completamente degradada, com armações expostas e enferrujadas.

Fonte: Acervo pessoal, maio de 2020.

Fonte: Acervo pessoal, maio de 2020.

2.4.2. Casa de Muniz Freire, Colégio São Vicente de Paulo O edifício datado do final do século XIX, foi moradia do ex-governador Muniz Freire durante muitos anos e a partir de 1913 passou a abrigar o Externato São Vicente de Paulo. Durante alguns anos funcionou como internato, escola de instrução militar e, mais tarde, com ensino secundário e curso de formação de professores. (MEMÓRIA CAPIXABA,2015)


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Figura 9:Colégio São Vicente de Paulo

Fonte: MEMÓRIA CAPIXABA, 2015

Em 1971 a escola foi doada para a Prefeitura Municipal de Vitória e passou a fazer parte do sistema municipal de ensino. Em 2006, a escola foi transferida para um outro local, devido a alguns problemas estruturais que o antigo prédio já possuía. (MEMÓRIA CAPIXABA,2015)

Figura 11: Antigo Imóvel do

Figura 10: Antigo Imóvel Colégio São Vicente de

Colégio São Vicente de Paulo.

Paulo completamente degradado.

Fonte: Acervo Pessoal, maio de 2020.

Fonte: Acervo Pessoal, maio de 2020.


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O imóvel localizado na Rua Muniz Freire, completou 100 anos de fundação no ano de 2013. O monumento se encontra no descaso, moradores em situação de rua e usuários de substâncias, lícitas e ilícitas, aproveitam a situação para consumo e práticas socialmente inadequadas, além de servir como abrigo para animais e insetos, contribuindo para proliferação de doenças, oferecendo diversos riscos para a comunidade. (MEMÓRIA CAPIXABA,2015) A prefeitura de Vitória, por meio de uma nota, esclareceu que o projeto arquitetônico de restauro da antiga Escola São Vicente de Paulo está em desenvolvimento e captação de recursos. (CBN-ES,2019) Em uma visita técnica ao local notou-se rachaduras em sua estrutura, paredes externas completamente desgastadas, aberturas foram vedadas e arames foram posicionados nos muros, para impedir que moradores em situação de rua invadam o local. Completa, o quadro de degradação: janelas quebradas, paredes com infiltração, grades e portão enferrujados, muros pichados por vândalos, grande quantidade de vegetação em seu interior. Associando o fato do imóvel estar abandonado e seu entorno ser pouco movimentado, por conta da pandemia, a sensação de insegurança é notável. Figura 12:Muro e Portão com arames de

Figura 13:Esquadrias danificadas com

proteção contra vândalos.

grades de proteção contra vândalos.

Fonte: Acervo Pessoal, maio de 2020.

Fonte: Acervo Pessoal, maio de 2020.

2.4.3. Cais do Hidroavião, Santo Antônio Projetado pelo arquiteto Ricardo Antunes foi construído em 1939, no bairro Santo Antônio, o hidro porto que ficou popularmente conhecido em Vitória como


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"Cais do Avião". O cais constituía uma das primeiras ligações aéreas de Vitória com outras capitais do País. A edificação dispunha de instalações para embarque e desembarque de passageiros e carga e descarga de mercadorias. (MORRO DO MORENO,2015)

O "Cais do Avião" é um exemplar da arquitetura produzida no Brasil, do início do século XX, possuindo características funcionais e estéticas de vanguarda arquitetônica internacional. (MORRO DO MORENO,2015) Figura 14:Cais do Hidroavião

Fonte: Gazeta Online

No Brasil, apenas as cidades de Salvador e Rio de Janeiro possuem cais desse porte, todos tombados: pelo Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O processo de tombamento do Cais do Avião está em estudo desde 1999 e conta com o apoio, da Marinha, da Secretaria de Estado da Cultura e Esportes e da Secretaria Municipal de Cultura de Vitória. (MORRO DO MORENO,2015)


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Segundo informações colhidas em periódico eletrônico, no ano de 2020, a Companhia de Desenvolvimento, Turismo e Inovação de Vitória (CDTIV) lançou edital de chamamento público para formalização de acordo de cooperação com Organização da Sociedade Civil Organizada (OSC) para gestão do imóvel do Cais do Hidroavião, em Santo Antônio. O objetivo é promover a restauração e o resgate histórico do edifício, além de contribuir para a estruturação de um espaço para visitação, com atividades que dialoguem com o entorno do Cais do Hidroavião. (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2020) Figura 15:Cais do Hidroavião hoje serve de abrigo

Figura 15:Cais do Hidroavião degradado

para moradores em situação de rua.

Fonte: Acervo Pessoal, maio de 2020.

Fonte: Acervo Pessoal, maio de 2020.

Contudo, em visita técnica ao local, é possível perceber que o mal estado de conservação e abandono ainda prevalecem. Paredes degradadas, vestígios de vandalismo, esquadrias danificadas e a vegetação do mangue encobrindo certas partes do edifício. O acesso principal foi vedado com o intuito de impedir que moradores em situação de rua invadissem o local. Porém, durante a visita técnica, que ocorreu no dia 17 de maio de 2020, dois moradores de rua, um casal, surgiram no pátio do imóvel, um deles, humildemente relatou estar morando ali a mais de um ano, justamente por não ter um local para morar.


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Figura 17:Cais do Hidroavião tomado pela

Figura 16: Cais do Hidroavião hoje serve de

vegetação do mangue.

abrigo para moradores em situação de rua.

Fonte: Acervo Pessoal, maio de 2020.

Fonte: Acervo Pessoal, maio de 2020.

2.4.4. Banco de Londres e Sul América, Av. Jerônimo Monteiro: Figura 17: Edifício Banco de Londres e Sul América, 1941

Fonte: legado.vitoria.es.gov.br,2020

O edifício projetado pelo arquiteto Robert Prentice e construído por P.G. Hansen em 1925, o edifício Banco de Londres e Sul América é composto por três pavimentos, possui térreo como embasamento do corpo. Um frontão triangular com frisos, no pórtico de entrada, marcada o eixo principal da construção. Ranhuras horizontais e verticais foram aplicadas no reboco, havendo também uma justaposição de vãos bastante regulares na fachada. (LEGADO.VITÓRIA,2020)


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Figura 18: Edifício Banco de Londres e Sul América desativado.

Fonte: Acervo Pessoal, maio de 2020.

A estrutura de concreto armado foi construída no Espírito Santo, pela Christiani & Nielsen, construtora dinamarquesa que se instalou no Brasil em 1922, especialista em estruturas em concreto armado, sendo uma das grandes empresas que contribuiu no desenvolvimento tecnológico no Brasil. (FREITAS,2016) Nos anos 1970, o térreo passou por uma reforma, com aplicação de revestimento de granito, inspirado em monumentos renascentistas, porém com resultado duvidoso para a autenticidade do monumento. (LEGADO.VITÓRIA,2020) Atualmente, após uma visita técnica, pode-se notar que, o edifício se encontra sem uso, com diversos anúncios e cartazes fixados em sua fachada principal, sinais de vandalismo, pichações e esquadrias danificadas. Os locais de acesso do térreo foram vedados com grades para impedir invasões ao imóvel.


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Figura 19: Edifício Banco de Londres e Sul América.

Figura 20: Edifício Banco de Londres e Sul América.

Fonte: Acervo Pessoal, maio de 2020.

2.5.

Fonte: Acervo Pessoal, maio de 2020.

Considerações parciais sobre o capítulo.

Levando-se em consideração os fatos, apresentados nessa pesquisa, o município da Grande Vitória, além de ser um grande polo comercial, é rico em diversidade e estilos arquitetônicos de diferentes períodos da história capixaba, contendo monumentos do período colonial português até os dias contemporâneos. Apesar de toda a diversidade arquitetônica, muitos desses imóveis não estão cumprindo com sua função social, podendo prejudicar a economia, segurança e estética da cidade. Consequência da falta de planejamento e fiscalização do Estado, e déficit de um Projeto de Gestão do Patrimônio histórico local. O forte São João, e os demais monumentos, devem ser vistos como ferramentas que, por meio de uma boa gestão e o envolvimento da comunidade juntamente com os setores público e privado, podem alavancar o desenvolvimento da comunidade existente, além de contribuírem para o crescimento do turismo local.


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3. O FORTE SÃO JOÃO E O CLUBE SALDANHA DA GAMA Neste capítulo, é abordado com mais detalhes a história do monumento e comunidade do Forte São João. Tal bem, possui um grande valor histórico, sendo um instrumento vital para a proteção e desenvolvimento da ilha de vitória. Passou por diversas mudanças dando uma característica eclética ao monumento.

3.1.

História e Valor Localizado no município de Vitoria, Espírito Santo, o

Figura 21: Representação do pirata Thomas Cavendish

Forte São João é um, dentre os vários edifícios de grande densidade histórica que compõe a região metropolitana da cidade. Sua história começa no final do século XVI, no ano de 1592, quando os portugueses deram início a construção de dois fortes para proteger a baía de Vitória de invasores, em especial

as

temidas

esquadras

piratas

inglesas,

comandadas por Thomas Cavendish, que se aproximavam da ilha de Vitória, após um ataque bem sucedido na, então, vila de Santos na Capitania de São Vicente. Fonte : britishmuseum, 2020

Assim, uma fortificação foi construída próximo ao morro do Vigia, e outra na base do morro do Penedo. Após

a expulsão dos piratas, o forte do Penedo foi gradualmente desativado. Já a construção erguida do outro lado da baía foi mantida e deu origem, anos mais tarde, ao Forte São João. (CAMPOS, 2014). Com sua importância em outras batalhas, se tornou testemunho de resistência do povo capixaba que venceu por duas vezes as frotas holandesas. Com passar dos anos, entre 1687 e 1682, o forte passou por processos de recuperação, porém no ano de 1726, com um projeto do engenheiro Nicolau de Abreu, a arquitetura do Forte São João foi erguida. Foram feitas reformas na estrutura com um pavimento que contava com muralha de proteção e merlões, que em uma tipologia militar é a parte saliente do parapeito de uma fortificação, entre duas seteiras ou ameias. Também foram implantadas canhoneiras com dez canhões, transformando, então, a pequena fortaleza em uma figura imponente para a defesa na Capitania do Espírito Santo.


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Somente no ano de 1765 obteve o registro da primeira planta do forte, feita pelo engenheiro José Antônio Caldas. (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2014) Figura 22: Primeira planta e fachada documentada do Forte São João, 1765.

Fonte: BND

O documento contém vista da fachada frontal, uma planta baixa e um breve texto escrito por José Antônio de Caldas caracterizando o monumento: Planta e fachada da Fortaleza de São João, uma das principais que defendem o rio da Capitania do Espírito Santo, na sua garganta. A figura 1ª mostra a planta dela, onde se vê : “A” aponta a sua entrada, “B” é a explanada, “C” o quartel baixo. “D”, Quartel alto com suas tarimbas para a acomodação da guarnição. “E”, casa de Pólvora. “F”, Casa de palamenta miúda. “G”, escada que sobe para o aterrado antigo, que servia em outro tempo de castelo com suas ameias. A figura 2ª mostra a fachada da dita fortaleza. Sobre o seu


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pórtico tem uma pedra, a qual mostra que tinha inscrição, porém o tempo consumiu todas as letras, de sorte que não se percebe mais o que estava escrito. Toda a sua muralha, que é tocada pelas marés, foi reparada de novo. Igualmente, todo o seu parapeito foi reparado, além de outros consertos miúdos, que nela se fizeram com a assistência do capitão Engenheiro José Antônio Caldas, no ano de 1765, que foi mandado para esta diligência pelos governadores interinos da Bahia e presentemente foi mandado pelo Ilmo e Exmo senhor conde da Azambuja, governador e capitão geral de mar e terra desta capitania a outras diligências, na qual tirou esta planta, que foi copiada por José Francisco de Souza, acadêmico com partido na aula real das fortificações desta cidade da Bahia, aos oito de Abril de 1767. (BND,2020)

Em 1808, O forte foi ampliado mais uma vez, com a construção, ao fundo, de uma área mais alta que as demais. Após oito décadas de muitas batalhas em defesa do território Capixaba o forte São João foi desativado. Todo o entorno e a edificação foram vendidos e a área passou a se chamar Chácara do Bispo. No ano de 1924, a edificação foi vendida novamente, reformada e ampliada, passando a contar com três andares, com uma entrada pelo pavimento superior, com acesso pela Av. Vitória. Figura 23: Forte São João,1928.

Fonte: Conrado Leiloeiro.

As fachadas sofreram muitas mudanças, ganhando um aspecto eclético pitoresco. Nos seis anos seguintes, o antigo forte, que teve como função defender o território capixaba, passou a abrigar atividades de lazer e recreação com a criação do Cassino Trianon, que funcionou até o ano de 1930. (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2014)


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Figura 24 Forte São João após a expansão na parte superior do edifício.

Fonte: Coordenação de Revitalização Urbana, Sem data.

Em 1931 a propriedade passa ao Clube de Regatas Saldanha da Gama que adquiriu o antigo conjunto do Forte São João, após a falência do Cassino Trianon. Apesar da prática desportiva ser a sua principal atividade, os dirigentes do Clube Saldanha da Gama, a partir da década de 1920, passaram a investir em eventos sociais, concursos e festas que animaram a elite capixaba de então. (CAMPOS, 2014) Sempre contando com a influência de seus associados, passou por muitos reparos e reformas até 1984, quando se tornou um imóvel tombado pelo município. A partir daí, visando não descaracterizar sua arquitetura, nenhuma nova obra foi realizada. A muralha do clube e sua bateria de canhões, remanescente do Forte São João, foi tombada pelo Conselho Estadual de Cultura, sendo considerado seu interesse de preservação, em 1991. (CAMPOS, 2014) Figura 25: Forte São João como sede do Clube Saldanha da Gama.

Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória – ES, Sem data.


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Já no século XXI, em 2006, o complexo arquitetônico do clube e forte foi adquirido pela Prefeitura Municipal de Vitória, por R$ 2,1 milhões, com objetivo de implantação da Secretaria Municipal de Esportes (Semesp) e um museu do esporte. O imóvel foi então identificado pelo município (Lei 6705/2006) como de interesse de preservação GP2, que impede alterações na volumetria do edifício, protegendo a cobertura e a fachada. Com os desdobramentos do projeto, técnicos da Semesp identificaram segmentos de alvenarias, construídas com cal de conchas, que podem datar desde o séc. XVIII. Contudo, o projeto nunca saiu do papel. (CAMPOS, 2014). Em dezembro de 2019, foi publicado em um periódico eletrônico, que o governo do Espírito Santo iria assumir a administração do Forte São João. A antiga sede do Clube de Regatas Saldanha Gama agora passará a ser ocupada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes). A mudança foi anunciada pelo governador Renato Casagrande junto a Luciano Rezende, chefe da Prefeitura de Vitória, à qual o Forte São João pertence. De acordo com o governador, no local também funcionará um café ou um restaurante terceirizado. Anteriormente, o espaço seria doado ao Serviço Social do Comércio no Espírito Santo, o Sesc, para a construção do Museu da Colonização e da Imigração do Estado. Uma lei municipal que autorizava a doação chegou a ser sancionada. No entanto, o Sesc desistiu do processo. (G1 ES, dezembro de 2019) 3.2.

Clube de Regatas Saldanha da Gama no Forte São João Figura 26: Forte São João, Sede do Clube Saldanha da Gama

Fonte: Coordenação de Revitalização Urbana, Sem data.


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O Clube de Regatas Saldanha da Gama foi fundado em 29 de julho de 1902. A partir da década de 20, passou a investir em festas, concursos e eventos que animavam a elite capixaba. Até então o clube não possuía uma sede quando em 1931 o conjunto do Forte São João foi oficialmente comprado. Após a aquisição, para adaptar a edificação, uma nova reforma, em 1934, foi contratada com André Carloni, renomado artífice da época, responsável. Na reforma, a construção ganhou um passadiço e uma nova sacada. O salão foi ampliado e a fachada modificada, assumindo, então, um gosto mais moderno para a época com características neocoloniais, como se apresenta até os dias atuais. Na década de 1940, o prédio já contava com cinco pavimentos, incluindo o térreo e as duas torres. O pátio, que antes abrigava brinquedos, como um carrossel, passou a ser espaço aberto à prática de esportes, festas e solenidades. No local, jogavam-se basquete e futebol e também se batizavam os barcos de remo, esporte que era orgulho do clube. (CLUBE SALDANHA DA GAMA, 2016) Figura 27: Regatas do Clube Saldanha da Gama em treinamento, ao fundo o Forte São João

Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória - ES, Sem data.

Depois de reformado e ampliado, em 1934, o Salão Nobre do clube, localizado no terceiro andar do prédio, passou a ser palco de grandes festas e cerimônias, que reuniram as principais autoridades da época e inúmeras famílias de Vitória. O local, com piso de madeira, janelas arredondadas, mezanino, lustres charmosos, papéis de parede e uma bela vista. (CLUBE SALDANHA DA GAMA, 2016)


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Figura 28: Evento no Salão principal do Monumento Forte São João.

Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória – ES. Sem data.

Entraram, ainda, para a história da sociedade de Vitória os animados carnavais realizados no salão, que ganhava decoração especial para receber os foliões e os blocos organizados. (CLUBE SALDANHA DA GAMA, 2016) Figura 29: Presidente da República, General João Batista Figueiredo no salão principal do Forte São João.

Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória - ES, Abril 1982

O amplo espaço também era utilizado para solenidades, que contavam com a presença de autoridades e políticos. Entre as visitas ilustres que o prédio recebeu


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estão desde o Príncipe de Orléans e Bragança, D. Pedro de Alcântara, até o último militar Presidente da República, General João Batista Figueiredo. (CLUBE SALDANHA DA GAMA, 2016). 3.3.

Clubes Sociais – Crise e desinteresse na sociedade contemporânea.

Neste capítulo, é definido o conceito de Clube Sociais, além de buscar a compreensão dos motivos que causam o desinteresse nestes locais na atualidade, salientado o estado de preservação em que o Forte São João se encontra. 3.3.1. Clubes Sociais – Crise e desinteresse na sociedade contemporânea.

Há alguns anos, os clubes sociais eram mais frequentados, em comparação aos dias de hoje. Muitos pais levavam seus filhos para desfrutar de atividades de lazer, amigos se reuniam para colocar os assuntos em dia, praticar esportes e outras atividades. Bailes, festas e eventos eram realizados e muitas pessoas frequentavam e se tornavam Sócios dos clubes. Porém, nos dias de hoje, os clubes sociais não possuem a mesma força que tiveram no passado, muitos foram fechados, por motivos diversos, por conta de endividamentos, desaparecimento e inadimplência dos frequentadores, falta de renovação no quadro de sócios, além dos avanços tecnológicos, bem como das mudanças na cultura e comportamento do cidadão contemporâneo. Genericamente, os clubes sociais, ainda em funcionamento, passam por uma grande crise, justamente por conta do desinteresse das pessoas em se reunir nesses locais. A revista Veja de São Paulo, no ano de 2019, publicou uma matéria sobre a crise que os clubes sociais estão enfrentando. Em um trecho da 1publicação, é citado que um dos clubes, de São Paulo, em seus dias áureos possuíam cerca de 5 mil sócios. Na atualidade, não passam de 250 pessoas que frequentam o local. Em seguida relata o depoimento de alguns funcionários em relação as pessoas que ainda frequentam e permanecem sendo associados ao clube: “[...] São apenas catorze, todos com mais de 70 anos, e dois estão na UTI, conta o vice -presidente do clube, Luiz da Silva Júnior. [...]” “[...] Muitos perderam o interesse, outros morreram mesmo, explica Carmen Silvia Camargo, funcionária do clube há décadas.[...]”


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Isso acontece, justamente, por conta da mudança dos costumes da população com o passar dos anos. Até meados das décadas de 1980 e 1990, o cotidiano das pessoas era completamente diferente da vivencia dos dias de hoje. Naquela época, as famílias se juntavam, em números consideráveis de pessoas nos finais de semana e feriados para se aventurar em parques, clubes sociais, acampamentos, isso acontecia, precisamente, por ser uma forma de encontrar e rever os amigos e parentes, colocar os assuntos em dia e ter momentos de lazer em convívio. Na atualidade, tais costumes vêm se modificando e não são tão praticados como antes. Existem famílias, mais tradicionais ou em sociedades menores, como em cidades do interior, que ainda frequentam clubes sociais, porém em poucas quantidades em comparação aos anos passados. No fenômeno atual, as pessoas, em feriados ou finais de semana, preferem ficar em suas casas, se entretendo com redes sociais, filmes e séries, acessíveis por meio de novas tecnologias, evitando saídas, deslocamentos, despesas e aglomerações. Vivemos em uma sociedade onde, grande parte das pessoas, quando saem de suas casas preferem encontrar os amigos informalmente, em eventos realizados em casa ou áreas de lazer de condomínios, bares com música ao vivo e, geralmente, ambientes com atividades noturnas. A partir dessas considerações percebe-se que o avanço da tecnologia e a mudança nos costumes e na cultura da sociedade contemporânea, são fatores influentes sobre a decadência dos espaços de clubes sociais. No caso do Clube Saldanha da Gama, reconhecido como dos melhores do estado, por conta dos eventos e atividades que a sociedade capixaba frequentava, verifica-se o abandono de sua função social que levou ao declínio de tais atividades e demandas em sua grande sede no Forte São João, com a consequente degradação do edifício, que veio a ser adquirido pela Prefeitura, devido ao seu interesse por preservação. Cabe ressaltar que o Clube Saldanha da Gama, em sua porção esportiva, ainda é ativo e permanece importante na realização e participação de eventos esportivos com atividades de remo, futsal e basquete. O clube atualmente funciona em espaço próprio, com área de aproximadamente 12 mil metros quadrados, ao lado da edificação da antiga sede, que vai do ginásio até a garagem de remo.


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3.4.

Forte São João nos dias de hoje Figura 30: Forte São João as margens da avenida Mascarenhas de Moraes

Foto: acervo pessoal, maio 2020

Localizado entre as Av. Mascarenhas de Moraes e Av. Vitória, o conjunto edificado do Forte São João e antiga sede do Clube Saldanha da Gama constitui importante marco geográfico e histórico da paisagem cultural na Capital Vitória. A Figura 31: Mapa do Bairro Forte São João

referência ao monumento influenciou, e ainda influencia, comunidades que o cercam dando nome a um bairro inteiro. Os morros do Forte, do Cruzeiro e das Três Marias, região ao redor do Forte, passam a ser denominados Forte São João, concentrando toda a população do bairro. Até o final dos anos 40 e princípios dos anos 50, todos os moradores enfrentavam grandes dificuldades, desde

acesso

ao

bairro

até

a

falta

d'água.

Sua população está concentrada nos morros do Forte, do

Cruzeiro

e

das

Três

Marias.

No final dos anos 40 e princípios dos 50, todos os Fonte: legado.vitória,2020

moradores enfrentavam as mesmas dificuldades, desde o acesso ruim até a falta d'água.

Atualmente, o conjunto arquitetônico possui cerca de 4 mil metros quadrados e passou por diversas reformas durantes o século XX. Atualmente o edifício tombando.


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A

antiga sede do Clube de Regatas Saldanha Gama está sob administração do Governo do

Espírito Santo e passará a ser ocupada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes). Figura 32: Forte São João tomado pela vegetação

Foto: acervo pessoal, maio 2020

Na atualidade, o local se encontra desocupado, sem uso definido e fechado à visitações. Os únicos que conseguem ter acesso ao interior do edifício são pessoas com autorização ou ligadas ao governo municipal. Para manter a segurança do monumento, vigias guardam a propriedade dia e noite, revezando escalas e turnos regularmente. Contudo, isso não impede que vândalos depredem o monumento. Figura 33: Forte São João em estado de degradação. Janelas quebradas e paredes pichadas

Foto: acervo pessoal , maio 2020


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Em visita técnica realizada em maio de 2020, foi possível verificar a situação de abandono e descaso que o complexo se encontra. Cercado por grades de proteção enferrujadas, as peças de artilharia, que uma vez serviram para proteger a costa capixaba, se apresentam degradadas e cobertas de lixo. Em algumas dessas peças já não é mais possível ver o brasão do Império do Brasil. Figura 35: Símbolo do Império em uma

Figura 34: Peças de artilharia do Forte

das peças de artilharia

São João

Fonte: acervo pessoal,2020

Fonte: acervo pessoal,2020

Completa, o quadro de degradação: o pórtico de acesso, sujo e pichado; os vidros das janelas da sede quebrados; portas de madeira infestadas por insetos; paredes externas pichadas; telhado comprometido com infiltrações e, principalmente, grande quantidade de vegetação, sem conservação, que cerca o conjunto. Figura 36: Pórtico do Forte

Figura 37: Símbolo do Império na parte superior do

São João

pórtico

Fonte: acervo pessoal,2020

Fonte: acervo pessoal,2020


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Moradores em situação de rua e usuários de substâncias, lícitas e ilícitas, aproveitam a situação para consumo e práticas socialmente inadequadas próximos às áreas fronteiras às peças de artilharia e do pórtico de acesso. Conforme depoimento obtido junto a um dos vigias que trabalha no local: “É triste ver um edifício histórico deixado abandonado do jeito que está hoje...” Figura 39: Peça de artilharia em estado

Figura 38: muro pichado por vândalos

avançado De ferrugem e lixo

Fonte: acervo pessoal,2020

Fonte: acervo pessoal,2020

No pátio do edifício, encontra-se, ainda, uma estátua de bronze do Índio Araribóia, que segundo informações colhida em periódico eletrônico, foi transferido para o forte São João em 2014. Antes estava localizada poucos metros do forte, à margem da Avenida Mascarenhas de Moraes. A mudança se deu por motivo de resguardar a escultura do vandalismo no local. Figura 40: Pátio do forte São João com estátua de bronze do índio Araribóia

(Fonte: acervo pessoal,2020)


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Em 2006, o complexo arquitetônico do clube e forte foi adquirido pela Prefeitura Municipal de Vitória, por R$ 2,1 milhões, com objetivo de implantação da Secretaria Municipal de Esportes (Semesp) e um museu do esporte. O imóvel foi então identificado pelo município (Lei 6705/2006) como de interesse de preservação GP2, que impede alterações na volumetria do edifício, protegendo a cobertura e a fachada. Com os desdobramentos do projeto, técnicos da Semesp identificaram segmentos de alvenarias, construídas com cal de conchas, que podem datar desde o séc. XVIII. Contudo, o projeto nunca saiu do papel. (CAMPOS, 2014). Em dezembro de 2019, foi publicado uma matéria no G1 que o governo do Espírito Santo iria assumir a administração do Forte São João. A antiga sede do Clube de Regatas Saldanha Gama agora passará a ser ocupada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes). A mudança foi anunciada pelo governador Renato Casagrande junto a Luciano Rezende, chefe da Prefeitura de Vitória, à qual o Forte São João pertence. De acordo com o governador, no local também funcionará um café ou um restaurante terceirizado. Anteriormente, o espaço seria doado ao Serviço Social do Comércio no Espírito Santo, o Sesc, para a construção do Museu da Colonização e da Imigração do Estado. Uma lei municipal que autorizava a doação chegou a ser sancionada. No entanto, o Sesc desistiu do processo. (G1 ES, dezembro de 2019) 3.5.

Considerações parciais sobre o capítulo.

Levando-se em consideração os fatos, ora expostos nessa pesquisa, o conjunto histórico do Forte São João e Sede do Clube Saldanha da Gama possui grande densidade e importância histórica para o povo capixaba. Sem ele, a ilha de Vitória poderia ter sido devastada e saqueada diversas vezes por frotas piratas, que traziam terror à colônia no passado. Passou por diversas intervenções e mudanças em sua arquitetura; trouxe momentos de alegrias em eventos e festas que aconteciam em seus salões e contribuiu culturalmente para o desenvolvimento do entorno local, influenciando nos nomes das comunidades que o cercam. Porém, atualmente, o monumento histórico se encontra no abandono, com pouca ou nenhuma manutenção e sem poder ser aberto ao público, justamente pela situação em que se encontra. Outros fortes espalhados pelo Brasil como o Forte Orange em Pernambuco e o Forte de Copacabana no Rio de Janeiro, construídos com o mesmo intuito do Forte


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São João, hoje, se encontram abertos ao público, preservando a história e contribuindo para o crescimento e desenvolvimento dos seus arredores. O Monumento não é apenas mais um edifício abandonado no centro de Vitória, mas sim, uma parte da história do povo capixaba que se encontra no descaso. O Forte São João foi construído com intuito de defender a cidade de Vitória, no passado, participando de várias batalhas, hoje luta contra o tempo, vandalismo, degradação e o descaso.


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4. PATRIMONIO HISTÓRICO: UM NOVO FENÔMENO, UM NOVO USO

4.1.

O novo uso como forma de preservação e desenvolvimento econômico local.

As cidades podem ser comparadas a um organismo cujo cada parte possui uma função que contribui para seu desenvolvimento. A partir disso, podemos relacionar os imóveis e suas propriedades, como um agente fundamental para o progresso da sociedade; sua função social é de extrema importância, visto que, imóveis que não cumprem sua função social acabam prejudicando e desvalorizando uma localidade e seu entorno. Esse tipo de ocorrência inclui os monumentos históricos que, atualmente em grande parte, se encontram em estado de degradação e descaso, prejudicando de certa forma o funcionamento do organismo das cidades. Restaurar um edifício não é o suficiente para o manter preservado. Dar novos usos é a chave para a conservação destes imóveis. Neste capítulo, veremos a importância da restauração e preservação de edifícios e sítios históricos aliados às demandas funcionais das cidades; nas quais monumentos, que estavam esquecidos, na atualidade, contribuem para o desenvolvimento cultural e social, além de favorecer o desenvolvimento de conhecimentos e estudos científicos. 4.2.

A preservação no Brasil e no Espírito Santo

A preservação no Brasil é um assunto que tem sido debatido entre os críticos e defensores da área de Patrimônio Histórico Nacional nos últimos anos. O órgão federal responsável pela área de preservação dos patrimônios nacionais é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, atualmente ligado ao Ministério do Turismo. Porém novas leis e decretos estão sendo feitas com o intuito de obter mais investimentos dos setores privados para o setor de patrimônio e turismo. Recentemente, em 13 de março do ano de 2020, um novo decreto foi anunciado. O decreto, Nº 10.349, foi livremente baseado em um programa governamental aplicado em Portugal, cuja realidade social e histórica são completamente diferentes das do Brasil. Em Portugal o programa batizado de “Revive” se baseia na ideia de


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uma parceria do setor público com o setor privado, na qual, os bens patrimoniais são arrendados e gerenciados por empresas terceirizadas, com a finalidade de impulsionar o turismo. (ANDRADE,2020) No Brasil, o decreto 10.349 apresenta o seguinte artigo: Dispõe sobre a qualificação da política de atração de investimentos privados para o setor de turismo, no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência da República. Art. 1º

Fica qualificada, no âmbito do Programa de Parcerias de

Investimentos da Presidência da República - PPI, a política de atração de investimentos privados para o setor de turismo, para a elaboração de estudos de parcerias destinados à implementação de novos empreendimentos e ao aproveitamento turístico de ativos culturais e naturais no País.

É valido o uso turístico como um meio de se gerar lucros e benefícios econômicos para o país, contudo, o monumento histórico sendo, além de patrimônio histórico, um bem patrimonial nacional, deve atender todas as pessoas de diferentes classes sociais, contribuindo não apenas para a economia, mas também, para a cultura e história que guarda aquele lugar. Infelizmente, a realidade do Brasil, em relação aos projetos de leis e decretos, é diferente de outros países, principalmente se comparados com a Europa, muitas das leis que são criadas, muitas das vezes, voltadas a interesses individuais, ou interesses que beneficiam financeiramente grupos ou classes específicas da sociedade, priorizando alguns e ignorando o restante da população. A realidade no Espírito Santo não é diferente do restante do País. Atualmente, o estado não possui um órgão específico voltado para a área de preservação de patrimônios históricos; o setor responsável é a Secretaria de Cultura - SECULT com o auxílio de um Concelho Estadual de Cultura - CEC, que visa a preservação não apenas do patrimônio mas também das paisagens culturais , línguas maternas e obras de arte e manifestações culturais tradicionais. Nas legislações da SECULT é apresentada a lei de N° 10.296, onde no artigo 3° relata: Garantir a preservação do patrimônio cultural capixaba, resguardando os bens de natureza material e imaterial, os documentos históricos, acervos e coleções,

as

paisagens

culturais,

as

línguas

maternas,

os

sítios

arqueológicos pré-históricos e as obras de arte, portadores de referência aos


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valores, identidades, ações e memórias dos diferentes grupos formadores da sociedade do Espírito Santo;

Acredita-se que o patrimônio histórico dever ser visto de maneira igualitária, onde o público, de forma geral, independente da classe ou etnia, possam usufruir do bem histórico, onde este sirva de crescimento e aprendizado para a sociedade, contribuindo para o desenvolvimento coletivo. Muitos monumentos históricos, fora do Brasil, são abertos à visitação ao público, mesmo sendo alguns empreendimentos de serviço como hotéis, onde moradores da comunidade local, que convivem com o bem patrimonial, possuem o livre acesso aos acervos e partes históricas do imóvel, estratégia essa que, atrai tanto os turistas quanto visitantes e moradores da região. 4.3.

A atualidade das Teorias do Restauro

As definições de Restauro e preservação que temos nos dias de hoje são baseadas no conjunto de documentos conhecidos como Cartas Patrimoniais , sendo as Cartas de Atenas de 1931 e 1933, a Carta de Veneza de 1964, a recomendação de Nairobi de 1976, a carta de Washington de 1986 e a Carta de Rio de 1992 um conjunto de grande representatividade na demonstração do patrimônio histórico como inseparável da comunidade ao qual faz parte. Porém, durante décadas, diversos teóricos da arquitetura voltados para área de restauro de sítios históricos, tiveram seu papel, com diferentes definições e princípios relacionados a restauração, sendo fundamentais para o desenvolvimento e evolução dos pensamentos que temos na atualidade. Um dos nomes mais importantes para o restauro moderno é Cesare Brandi (1906 - 1988) que em 1963 escreveu a “Teoria da Restauração”, e foi o idealizador das teorias que culminaram na noção de restauro crítico ou contemporâneo. Definição de Restauro por Cesare Brandi: "A restauração constitui o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, com vistas à sua transmissão para o futuro." 4.3.1. A Carta de Veneza Durante o Século XX, com o desenvolvimento da tecnologia e ciência, notouse a necessidade de se criar normas e regulamentos para a conservação e preservação de monumentos e sítios históricos. Visto essa necessidade, foram


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criadas as Cartas Patrimoniais, que se constitui em documentos de utilização e preservação do patrimônio histórico. Dentre elas podemos destacar a Carta de Veneza, elaborada no II Congresso Internacional dos Arquitetos e Técnicos em monumentos históricos, realizado em 31 de maio de 1964, na cidade de Veneza, na Itália; tendo sido promovido pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios – ICOMOS. (ICOMOS, 1964) As cartas são documentos concisos e sintetizam os pontos a respeito dos quais foi possível obter consenso, oferecendo indicações de caráter geral. Possuem, portanto, caráter indicativo, ou, no máximo, prescritivo. (Kühl, 2010)

As propostas da Carta de Veneza são pautadas na visão conhecida como "restauro crítico", idealizado por Cesare Brandi. A carta possui uma série de diretrizes e princípios que visam salvaguardar tanto a obra de arte como o testemunho histórico. Porém, tais princípios devem ser interpretados corretamente para cada caso particular de aplicação, estimulando a evolução do pensamento da preservação, com a finalidade de trazer novas formas de intervenção e apropriação dos monumentos enquanto patrimônio. (Kühl, 2010) Um dos pontos essenciais para restauração e preservação, citados na carta de Veneza, é atribuir novos usos ao bem histórico, respeitando os aspectos históricos e artísticos do monumento: Art.4 - Para a conservação dos monumentos é essencial que estes sejam sujeitos a operações regulares de manutenção. (ICOMOS,1964) Art.5 - A conservação dos monumentos é sempre facilitada pela sua utilização para fins sociais úteis. Esta utilização, embora desejável, não deve alterar a disposição ou a decoração dos edifícios. É apenas dentro destes limites que as modificações que seja necessário efetuar poderão ser admitidas. (ICOMOS,1964)

A Carta de Veneza é um documento sintético, cujas indicações - desde que devidamente reinterpretadas para a realidade contemporânea, levando em conta a ampliação daquilo que passou a ser considerado bem cultural - continuam válidas para enfrentar as questões ligadas à preservação de monumentos históricos. Deve ser lida, sempre, em sua inteireza, considerando sua base teórica, analisando-a de


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maneira não-restritiva, de modo a alargar seu conteúdo semântico e dilatar sua compreensão de maneira fundamentada. (Kühl, 2010) 4.4.

Novas exigências arquitetônicas em monumentos históricos:

Tendo isso em mente, neste tópico se esclarece as exigências que todo edifício, sendo ele histórico ou não devem atender, em um projeto de arquitetura. Normas que foram sendo desenvolvidas com passar do tempo e que contribuem para maior eficiência e conforto aos usuários. 4.4.1. Acessibilidade e Acesso Acessibilidade tem por definição: possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia, de edificações, espações mobiliários, vias públicas, equipamentos urbanos e transporte coletivo. (ABNT NBR 9050) Arquitetura inclusiva, acessibilidade e direito das pessoas com necessidades especiais são questões cada vez mais debatidas e importantes na sociedade atual. Pare se criar um ambiente onde todas as pessoas possam ter acesso e segurança é preciso ter conhecimento sobre os princípios do desenho universal e das normas que regem a questão acessibilidade. A legislação brasileira é constituída por leis específicas, referentes ao assunto, uma delas é a ABNT NBR 9050 de 2015 que tem por objetivo proporcionar acessibilidade à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos. (ABNT NBR 9050) Referente aos monumentos históricos, muitos destes foram projetados e construídos em períodos onde as questões de acessibilidade e desenho universal não eram reconhecidas. Na atualidade, muitos desse imóveis, acabam não atendendo as normativas relacionadas à acessibilidade, cabendo ao arquiteto solucionar e propor meios, através do conhecimento dos princípios e leis que regem o assunto, para atender e possibilitar o acesso e segurança de pessoas, com ou sem limitações de mobilidade, aos monumentos e sítios históricos.


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Como soluções para atender à diversas incapacidades das pessoas, no que concerne à acessibilidade em edifícios históricos, devem ser consideradas as recomendações universalmente estabelecidas, bem como as normas nacionais. Todos os projetos de adaptação para acessibilidade de bens tombados devem obedecer às condições descritas nesta Norma, porém atendendo aos critérios específicos a serem aprovados pelos órgãos do patrimônio histórico e cultural competentes. (ABNT NBR 9050) Nos casos de áreas ou elementos onde não seja possível promover a adaptação do imóvel para torná-lo acessível ou visitável, deve-se garantir o acesso por meio de informação visual, auditiva ou tátil das áreas ou dos elementos cuja adaptação seja impraticável. (ABNT NBR 9050)

Atender as normas e princípios estabelecidos na lei para o acesso de pessoas com mobilidade reduzida aos imóveis históricos é muito importante. Porém, acessibilidade não está apenas relacionada a questões de mobilidade, mas também, ao livre acesso de pessoas com diferentes classes sociais aos monumentos e sítios históricos. O monumento deve exercer uma função que contribua para o desenvolvimento cultural, histórico e econômico do seu entorno. Figura 41: Hotel Eurostars Museum

Fonte Eurostars Museum, 2020

Caso exemplar a se relevar nessa pesquisa, foi o projeto de lei aplicado em Portugal, onde monumentos históricos adquiridos e gerenciadas por empresas privadas, dão acesso livre ao público em geral aos acervos e peças arqueológicas encontradas em escavações. O Eurostars Museum, hotel da rede Eurostar, é um hotel em Lisboa, Portugal, onde, no processo de restauro, os arqueólogos desenterraram


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vestígios que datam desde a Idade do Ferro, passando pela ocupação romana, árabe e até ao século XX. As primeiras escavações foram feitas entre 2004 e 2005 e aí já surgiram indícios de ocupação deste local desde os romanos. Figura 42: Vestígios da ocupação Romana

Fonte Eurostars Museum, 2020

Na sua totalidade o sítio compreende um período de 2.700 anos. Da Idade do Ferro é representativa uma lápide funerária com inscrições em fenício, que conta a história de Wadbar, filho de Lbadar, encontrada num muro de uma casa romana. Figura 43: Peças e objetos encontrados durante as escavações

Fonte Eurostars Museum, 2020


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Por conta das descobertas feitas pelos arqueólogos, o hotel passou a exercer juntamente a função de museu, um apelo diferenciado na rede que também valoriza literatura portuguesa [Eurostar das Letras] e natureza e bem estar [Eurostar Parque]. Pessoas de diferentes classes e etnias possuem o livre acesso apenas nos locais onde foram descobertas essas relíquias históricas. O que contribui para o enriquecimento da história e valorização da cultura do local. O decreto criado pelo governo federal brasileiro em março de 2020, citado anteriormente, está relacionado a terceirização para o gerenciamento de imóveis históricos, além de áreas naturais, notadamente baseado na experiência portuguesa. Porém, como no Brasil a realidade é outra, relacionadas a culturas e comportamento europeus, infelizmente, tais decisões acabam segregando as diferentes classes da sociedade brasileira, priorizando e dando acesso ao monumento, somente a grupos mais abastados da sociedade, sem levar em conta a importância não só do desenvolvimento econômico, mas também cultural, social e histórico da região. Essa questão é um tema a ser discutido e analisado pela sociedade atual, as consequências e impactos, que o gerenciamento de empresas privadas em monumentos históricos, podem acarretar sobre a sociedade de modo geral, buscando soluções que contribuam para o bem geral.

4.4.2. Segurança e Incêndio Em relação a segurança contra incêndio em monumentos históricos, é importante ressaltar que, o estado do Espírito Santo não possui uma legislação específica relacionada a incêndio de monumentos históricos. A lei nº 9.269, de 21 de julho de 2009, da Constituição Estadual no artigo 6° diz que: As medidas de segurança contra incêndio e pânico em edificações históricas deverão ser avaliadas pelo Conselho Técnico. (CB - ES) Portanto, os esses monumentos, demandam uma atenção maior, por conterem materiais mais inflamáveis em sua composição, sendo avaliados de maneira mais técnica, justamente por serem imóveis de alto reconhecimento histórico. A maioria dos incêndios podem ser evitados, desde que sejam instalados sistemas de proteção adequados, e que estes sejam mantidos e inspecionados periodicamente pelo órgão responsável pelo imóvel.


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Em analogia a legislação de outros estados, especificamente o Estado de São Paulo, os edifícios históricos devem ser assegurados de grandes investimentos em proteção contra incêndio, compatível com a sua importância histórica e cultural, pois possuem valor inestimável. Um dos quesitos obrigatórios para a proteção, o projeto, a implantação e a manutenção das saídas de emergências, sistemas de detecção, alarmes dentre outros, atendendo o Decreto n°56.819, 10 de março de 2011. 4.4.3. Conforto Térmico e Acústico As questões que envolvem o conforto térmico e acústico tornam – se um desafio se tratando de monumentos históricos. Grande parte destes imóveis foram construídos em períodos onde as soluções de conforto térmico e acústico eram voltadas para soluções mais naturais e que se articulavam com o meio ambiente local. Contudo, as transformações pelas quais passaram as áreas onde se encontram, fazem com que mereçam o desenvolvimento de projetos que contemplem soluções contemporâneas para este resultado. Mesmo com todos os conhecimentos que a sociedade adquiriu com passar dos tempos, continua sendo um desafio para criação de projetos que permitam aumentar as condições de conforto térmico e acústico, de modo a não descaracterizar os elementos contidos no patrimônio. Possibilitar o conforto térmico a um edifico, é um meio de contribuir para a redução de consumo de anergia elétrica, além de gastos com equipamentos que resfriam e aquecem o ambiente. O reaproveitamento dos benefícios naturais como a ventilação e iluminação natural, é essencial para um projeto de um edifício levando sempre em conta a localidade do imóvel. Devido a isso, existem meios para tornar um projeto mais eficiente. A Carta Solar é uma ferramenta de representação gráfica que auxilia o arquiteto a entender o percurso que o sol faz, de acordo com a localização do edifício, contribuindo na tomada de decisões sobre posicionamento de fachadas, aberturas e materiais que contribuem para uma melhor eficiência térmica, proporcionando uma edificação mais sustentável.


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Figura 44 Exemplo de carta solar

Fonte: USP, 2004

Além do sol, o vento é um elemento que contribui bastante para a eficiência do conforto térmico. A ventilação é um dos princípios básicos para uma boa arquitetura, o que permite a troca constante do ar natural e proporciona espaços mais confortáveis, reduzindo assim os gastos com energia elétrica, o que é ótimo. (DAUDT,2017) Atualmente, a preocupação com o conforto acústico não é apenas uma questão de condicionamento acústico do ambiente, mas também de controle de ruído e preservação da qualidade ambiental. (SOUZA, 2003) O conhecimento dos materiais contribui para uma melhor eficácia do conforto térmico, pois diferentes situações e ambiente vão demandar diferentes tipos de materiais. A maior concentração de ruído vem do meio externo, porém existem objetos e fatores que podem causar ruídos na parte interna do imóvel. Devido esse fato, o arquiteto deve implementar medidas que, o ambiente permaneça dentro dos limites de ruídos, tornando - o mais agradável e aconchegante.

4.4.4. Ecoeficiência A Ecoeficiência dos edifícios, relacionada a arquitetura sustentável, tem como objetivo minimizar os impactos ao meio ambiente, sendo ecologicamente correta, mas também deve promover o desenvolvimento social e cultural, além de ser viável


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economicamente. Fazendo com que as edificações utilizem menos recursos naturais, materiais e energia na sua construção e operação, e sejam confortáveis e saudáveis para viver e trabalhar. (RANGEL,2017) É aconselhável seguir alguns critérios no projeto ou reforma de edifícios, objetivando sua menor dependência da climatização e iluminação artificial, como por exemplo Uso da vegetação como sombreamento, uso de cores claras; emprego da ventilação cruzada sempre que possível; uso racional da iluminação; utilização de energia solar para aquecimento d’água; indicações de uso correto da edificação e sistemas para conscientização do usuário. (GOULART,2007) O uso da luz natural, como já citado anteriormente, pode representar uma grande economia de energia nas edificações. Além dos sistemas de aberturas verticais, a iluminação zenital é bastante útil, podendo iluminar ambientes sem contato com paredes externas além de valorizarem ambientes arquitetônicos mais nobres. (GOULART,2007) Deve-se prever também tubulações de água quente isolada termicamente, propiciando a instalação de sistemas de aquecimento a gás ou solar - mais econômicos. Além de evitarem o consumo de energia elétrica, outra vantagem destes sistemas é o maior grau de conforto e sua capacidade para atender diversos pontos de água quente além do chuveiro (torneiras em banheiros, cozinhas e lavanderias, por exemplo). (GOULART,2007) Em relação a reutilização de energias, existem dois meios que contribuem para sustentabilidade e eficiência dos edifícios, o uso de energia fotovoltaica e foto térmica. A energia fotovoltaica converte diretamente a luz solar em eletricidade, método conhecido como efeito fotovoltaico. O maior potencial de uso dessa energia para a arquitetura são as células fotovoltaicas integradas ao edifício. A energia foto térmica visa à quantidade de energia que um objeto é capaz de absorver sob a forma de calor. Assim, quanto mais quente o coletor ficar, maior será a quantidade de energia por ele produzida. Não é somente a captação que interessa, armazenar esse tipo de calor também é muito importante. Atualmente, os coletores são usados para aquecer água em residências, hotéis, hospitais, entre outros, já que reduzem o consumo de energia elétrica. (GOULART,2007)


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Um hotel chamado Aquiles Eco Hotel, construído em 2014, projetado pelo escritório de arquitetura Ramos Castellano Arquitectos, é um exemplo de arquitetura que tem como princípio a ecoeficiência. Figura 45: Aquiles Eco Hotel

Fonte: ArchDaily, 2020

O hotel é um protótipo, cada solução é feita pensando globalmente mas agindo localmente. A água das duchas nos quartos é reciclada e reutilizada nas sanitas, num próximo futuro, painéis fotovoltaicos serão postos no telhado para produção de energia elétrica. Os quartos têm uma configuração básica que corresponde e se enquadra no modo simples de viver da vila piscatória. Não tem ar condicionado, que não é preciso devido ao recurso à ventilação cruzada no prédio. Não tem televisão com o propósito de convidar os turistas a visitar a vila e a praia, ao invés de ficar nos quartos. Instalações de baixa tecnologia. E mínimas mensagens visuais, para deixar o hóspede se concentrar em si próprio e no ambiente à volta. (ARCHDAILY,2016) 4.5.

Estudos de caso – Restauração de Fortificações pelo mundo

Neste tópico apresenta-se alguns estudos de casos de monumentos e patrimônios históricos que passaram por intervenções de restauração e que, atualmente, contribuem de certa forma para o desenvolvimento da sociedade local. Ao final de cada tópico dos casos existe um quadro comparativo contendo informações para melhor compreensão da importância que o patrimônio restaurado exerce a comunidade.


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4.5.1. Forte Orange - PE

Dentro da barra da ilha de Itamaracá apresenta-se em primeiro lugar o forte Orange, situado sobre um baixo de areia separado de terra firme por uma angra que é vadeável, de baixa mar. Este forte domina a entrada do porto, visto que como os navios que entram têm que passar por diante dele a tiro de arcabuz [...] (MAURÍCIO DE NASSAU, 14 DE JANEIRO DE 1638.)

Localizado em uma ilha nomeada de Itamaracá, no Estado de Pernambuco, o Forte Orange abriga importantes marcos da história pernambucana e do Brasil. Itamaracá é uma palavra de origem indígena que significa pedra que canta ou pedra sonante. O povoado surgiu em 1508 se tornando uma vila no ano de 1540. (FUNCEB,2020) Figura 46: Mapa da ilha de Itamaracá

Fonte: Funceb, 2020

Entre 1580 e 1640, período de união das coroas portuguesa e espanhola, os holandeses decidiram invadir o Brasil, pelo Nordeste, com o objetivo de tomar o controle do cobiçado comércio de açúcar e enfraquecer economicamente a Espanha. (FUNCEB,2020) Em 1631, partiram para a Ilha de Itamaracá, situada mais ao norte. O Canal de Santa Cruz, que separa a ilha do continente, era a principal via de acesso às áreas produtivas. Constituía-se em um ponto estratégico, o qual dominava a entrada do


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canal e que controlava o acesso marítimo a Igarassu, à Vila da Conceição e as demais áreas de escoamento das riquezas. Em uma primeira tentativa de ocupação, foram repelidos pelo Capitão Salvador Ribeiro, que comandava a guarnição portuguesa. Regressando ao Recife, o Tenente-coronel Steyn Callenfels determinou que fosse construído um forte com 33 bocas-de-fogo. (FUNCEB,2020)

Figura 47: Planta de do forte Orange, 1788

Fonte: Funceb, 2020

Foi denominado Forte Orange, em homenagem ao príncipe Frederico Henrique de Orange, que descendia de Guilherme, o Taciturno, tio de Maurício de Nassau. A concentração das forças holandesas ocorreu nesse local e de lá, sob o comando de Schkoppe, partiram para o ataque a Itamaracá, onde derrotaram as tropas portuguesas. Porém, no ano de 1654, quando pouco restava sob o domínio holandês, a instalação foi abandonada pelas tropas holandesas e, em seguida, ocupada por luso-brasileiros, sob o comando de Francisco de Figueiroa. (FUNCEB,2020)


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Figura 48: Resquícios das construções holandesas.

Fonte: Portal fortalezas.org, 2002

Em 1971, foram realizadas várias escavações, dentro e fora do forte, pelo laboratório de arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), chefiada pelo Arqueólogo Marcos Albuquerque, oportunidade em que identificaram a cozinha, a capela, os alojamentos e os paióis. Foram resgatados, também, vários objetos de uso pessoal dos holandeses, como munições e canhões de vários calibres. (FUNCEB) Figura 49: Escavações no Forte Orange.

Fonte:fortalezas.org, 2002


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Figura 50: Muralhas do Forte Orange

Fonte: Portal fortalezas.org, 2002

O Forte Orange apresenta formato quadrangular com os ângulos agudos em forma de vértices, esta configuração é típica da maioria dos exemplares de arquitetura militar construídos no Brasil no período colonial, como o Forte de São Bartolomeu da Passagem, na Bahia.

Figura 51: Guatira do Forte Orange

Fonte: Portal fortalezas.org, 2002


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Das quatro guaritas em pedra, apenas aquela localizada ao lado esquerdo do arco de entrada se mantém até hoje graças às obras de restauração realizadas no monumento. Ainda que ao longo das várias fases de sua construção tenha sido empregada uma grande variedade de materiais construtivos, há no Forte Orange uma predominância da pedra calcária, particularmente em suas muralhas. (IPHAN,2018) Figura 52: comunidade do Forte Orange

Fonte: Portal fortalezas.org,2002

O forte foi tombado em 1938 como Patrimônio Cultural Brasileiro. (IPHAN,2018). Atualmente, existem ao redor do forte inúmeras pousadas e um hotel de luxo, para atender aos turistas que procuram se deleitar nos fins de semana, especialmente nos períodos de férias. Além de preservar a cultura e história o monumento contribui para o crescimento e desenvolvimento dos seus arredores. (FUNCEB,2020) 4.5.2. Fortaleza Anhatomirim – SC

Figura 53: Ilha onde se encontra a Fortaleza de Anhatomirim

Fonte: UFSC, 2020


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Na ilha de Anhatomirim está localizado a fortaleza de Santa Cruz, no litoral do estado de Santa Catarina. Foi projetada e construída pelo Engenheiro Militar português, Brigadeiro José da Silva Paes, e também, primeiro governador da Capitania da Ilha de Santa Catarina dos anos de 1739 a 1749. (FORTALEZA.ORG,2020)

Figura 54: Plano da Fortaleza de Anhatomirim,1739

Fonte: UFSC, 2020

O Forte Santa Cruz foi o principal, dos três fortes, responsáveis pela defesa da Barra Norte da ilha de Santa Catarina, defesa essa formada ainda pelas fortalezas de São José da Ponta Grossa e Santo Antonio de Ratones. Juntas, estas fortalezas deveriam proteger a ilha de Santa Catarina das investidas estrangeiras, principalmente espanholas, com objetivo de consolidar a ocupação do sul do Brasil Colônia e servindo de base estratégica para a manutenção do domínio português sobre a Colônia do Sacramento, no atual Uruguai. (FORTALEZA.ORG,2020)


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Figura 55: Projeto Original do Quartel,1747

Fonte: UFSC.

Sua arquitetura possui traços de influência renascentista. Os seus edifícios se distribuem de maneira esparsa por toda a ilha de Anhatomirim e suas espessas e baixas muralhas de pedra apenas conformam as antigas baterias de artilharia, deixando as construções descortinadas na paisagem. A maioria dos materiais utilizados na sua construção é da própria região com exceção feita aos elementos de cantaria e ao “lioz” – espécie de calcário branco português existente nas soleiras das portas, escadarias e algumas bases dos canhões. (UFSC,2020) Figura 56: Vista do Quartel da Fortaleza, durante a restauração,1974

Fonte: UFSC


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A restauração do forte de Anhatomirim começou de maneira bem vagarosa, ganhando força a partir do ano de 1979 quando a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, assumiu a guarda e manutenção do monumento, tornando possível sua abertura a visitações públicas a partir do ano de 1984. A restauração de seus edifícios teve fim entre os anos de 1988 e 1990. Após anos de restauro e revitalizações a UFSC, atualmente, desenvolve atividades culturais, projetos de pesquisa e extensão e turismo cultural, podendo receber em média um número de mais de 100 mil visitantes anuais. O envolvimento da comunidade científica juntamente com a Universidade Federal da Santa Catarina, proporcionou a criação de um campo ampliado para pesquisas e trabalhos em diferentes áreas do conhecimento no Forte de Anhatomirim, tendo um papel fundamental para descobertas arqueológicas e científicas

além

de

contribuir

para

a

preservação

(FORTALEZA.ORG,2020) Figura 57: Fortaleza aberta a visitações

Fonte: UFSC

do

Patrimônio.


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4.5.3. Cidadela de Cascais, Arq. Gonçalo Byrne A Cidadela de Cascais, está localizado na baía do Rio Tejo nas proximidades de Lisboa. A configuração do monumento se dá as diferentes modificações que ele passou, para atender as condições necessária e exigidas a uma estrutura defensiva, no decorrer de longos quatro séculos, culminando em seu abandono e consequentemente degradação. (FORTALEZA.ORG,2015)

Figura 58: Cidadela de Cascais,1661

Fonte: Portal fortalezas.org, 2015

Com o desenvolvimento das navegações europeias, e enriquecimento de Portugal notou-se a necessidade de se criar pontos estratégicos de defesa contra piratas que saqueavam as embarcações portuguesas repletas de ouro e riquezas extraídas dos litorais africanos. (FORTALEZA.ORG,2015) O conjunto das construções do forte datavam do período tardo-medieval, apesar de simples, essas estruturas eram ainda de um pequeno castelo: uma torre quadrangular ameada e adossada por um outro corpo, mais baixo, de planta retangular, sendo todo o conjunto envolvido por muralhas. A torre, iniciada em 1488 que não estava concluída em 1505, tornou-se um posto de vigia da entrada da barra, permitindo aos ocupantes visualizarem e identificarem a aproximação de qualquer embarcação. (FORTALEZA.ORG,2015)


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Figura 59: Muralha da cidadela de Cascais

Fonte: Gonçalo Byrne Arquitetos, 2012

As muralhas construídas sobre a rocha foram adaptadas à artilharia, e permitiam o tiro a flor-d’água e sobre a enseada, protegendo a fortificação e seus arredores de qualquer eventual desembarque hostil, além de proteger os navios que ali aguardavam, a maré e os ventos para seguirem viagem. Com a operação das Armadas da Índia e a implantação do sistema de Armadas, a posição da enseada de Cascais perdeu sua importância. (FORTALEZA.ORG,2015) Figura 61: Fachada da Pousada Cascais

Figura 60: Planta baixa do projeto de restauro do forte

Fonte: Gonçalo Byrne Arquitetos, 2012

Fonte: Gonçalo Byrne Arquitetos, 2012

No período entre 2008 a 2012, a antiga fortificação passou por um processo de intervenção e restauração, visando sua funcionalização, tendo como responsáveis pelo projeto o escritório Gonçalo Byrne Arquitetos. O monumento passou a ter o uso hoteleiro, onde os edifícios, que uma vez foram usados como abrigo e depósitos de


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armamentos, hoje, são ocupados por quartos e áreas administrativas do hotel. (GONÇALO BYRNE ARQUITECTOS,2012) Figura 62: Cidadela de Cascais,2012

Fonte: Gonçalo Byrne Arquitetos, 2012

Além de total preservação do monumento, foram adicionadas novas estruturas acima de alguns imóveis pré-existentes, com materiais leves, como metal e vidro, garantindo a vista panorâmica do oceano em contraste com as muralhas do forte. (GONÇALO BYRNE ARQUITECTOS,2012)


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Tabela 1 - Estudos de caso

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

4.6.

Considerações parciais sobre o capítulo.

A partir dos fatos apresentados nos tópicos acima o patrimônio histórico apresenta um papel fundamental para o desenvolvimento econômico, social e cultural quando gerenciado de maneira correta. O envolvimento da comunidade científica apoiada pelas universidades públicas e privadas, juntamente com o governo auxiliam para o desenvolvimento de pesquisas em diversos ramos da ciência, além de contribuir para a preservação física e histórica do patrimônio. O uso de hotelaria em monumentos históricos viabiliza o crescimento econômico da comunidade em que está inserido, proporcionando o crescimento do turismo e o desejo conhecer a história e cultura local. Porém, como já citado anteriormente, é preciso destacar a importância da participação da comunidade no papel de preservação do patrimônio, visto que o monumento deve contribuir para o desenvolvimento socioeconômico da região em que está inserido, possibilitando o acesso livre e prestando serviços à comunidade.


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5. HOTÉIS E EDIFÍCIOS HISTÓRICOS No capítulo a seguir, aborda-se como a questão da hotelaria se desenvolve no estado do Espírito Santo, notadamente na capital Vitória. Também o desenvolvimento do uso hoteleiro em edifícios de valor histórico espalhados pelo Brasil, além de conter alguns exemplos de hotéis que contribuem para o entendimento dos benefícios do uso Hoteleiro em Patrimônios Históricos na sociedade. 5.1.

A hotelaria no Estado do Espírito Santo

O uso de hotelaria no Espírito Santo é algo que vem crescendo gradativamente nos últimos anos. Um dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que o Espírito Santo foi o estado que mais apresentou progresso em atividades turísticas no Brasil em julho de 2019. O Observatório do Turismo do Espírito Santo, estudo realizado pela Secretaria de Turismo do Estado (Setur-ES), mostra que a evolução do turismo impulsiona o setor hoteleiro e o crescimento é ainda maior nos períodos sazonais. Figura 63: Taxa de Ocupação hoteleira em janeiro de 2020 em Vitória

Fonte: Folha Vitória, 2020


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O Presidente do Sintrahotéis, Odeildo Ribeiro, em uma entrevista a um jornal local, relatou que: “O Espírito Santo acaba dependendo muito da sazonalidade e isso gera ofertas de vagas em um período, mas também a falta delas em seguida. E em se tratando do Espírito Santo, é um estado que deveria ter emprego permanente e não por período [...]” Diversos eventos promovidos no estado, contribuíram para o crescimento do uso de hotéis no território capixaba. Localidades na região de montanhas, próximas a Região Metropolitana, como Domingos Martins e Pedra Azul, utilizam-se de sua paisagem cultural, como forma de atrativo para o turismo local, porém estes eventos, acontecem em intervalos curtos de tempo durante o ano. Na capital, a realidade não é diferente, muitos dos hotéis localizados no centro de Vitória, não estão voltados ao turismo de recreação e lazer, muitos prestam seus serviços durante eventos e feiras; caracterizando o turismo de negócios. Afastando-se do Centro Histórico de Vitória, é possível encontrar hotéis de padrão executivo, localizados em áreas mais nobres da capital, recebendo pessoas de diversos lugares do Brasil e do exterior, com alto padrão de serviços, porém, como os demais hotéis do estado, o período de hospedagem é curto, devido aos eventos que acontecem sazonalmente. A proposta para a restauração e intervenção no complexo do Forte São João, dando-lhe o uso de Resort Urbano, vai ao encontro do objetivo de valorizar a história, cultura e a economia da região, visto que, o Espírito Santo não desenvolveu, ainda, esse potencial sobre monumentos históricos com este uso, além dos dados indicando o crescimento do uso hoteleiro no Espírito Santo, conforme visto anteriormente. Contudo, para haver um diferencial nesse ramo da hotelaria capixaba, o diferencial será conseguir que o visitante possa acrescentar mais dias à sua jornada, para além do turismo de negócios. 5.2.

Estudos de Caso (Hotéis Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia )

Aborda-se aqui alguns exemplos de monumentos históricos, patrimônios utilizados como hotéis, em alguns estados da região sudeste e nordeste do Brasil que fazem divisa com Estado do Espírito Santo. Demonstra-se, assim, a importância do uso aliado à preservação do monumento, além de destacar os benefícios gerados à comunidade em que se encontram.


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5.2.1. Hotel Selina – Rio de Janeiro

Figura 64: Grande Hotel de Bragança

Fonte: Gazeta do Povo, 2016

O edifício atualmente ocupado pelo Hotel Selina, na Lapa, cidade do Rio de Janeiro, foi construído entre os anos de 1908 e 1910, conhecido anteriormente como “Grande Hotel de Bragança”. O edifício tem como marca os dois torreões, que dão ares de castelo à construção. Porém no ano de 2016, devido as Olimpíadas que aconteceriam no Brasil, o edifício passou por um processo de restauração, com objetivo de expandir e dar novos usos e serviços ao novo hotel. (HAUS,2016)


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Figura 65: Hotel Selina

Fonte: Gazeta do Povo, 2016

O novo Hotel Selina é resultado do investimento de dois grupos: o brasileiro Gamaro e o norte-americano Klaff Realty. O empreendimento exigiu um investimento de R$ 60 milhões aplicados no restauro das características originais da fachada, de estilo eclético; na construção de um anexo e nas instalações. São 120 apartamentos, além do bar e do restaurante que são abertos ao público da boêmia Lapa. Toda a obra contou com o apoio dos órgãos públicos locais de preservação do patrimônio que auxiliaram tecnicamente, por exemplo, na definição das cores empregadas nas fachadas e na identificação de características fundamentais que deveriam ser preservadas. (HAUS,2016)


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Figura 66: Interior do Restaurante do Hotel

Fonte: Gazeta do Povo, 2016

Segundo Angela Freitas, investidora pelo Grupo Gamaro: “Nosso objetivo sempre foi a realização de um projeto hoteleiro moderno, restaurando uma das construções mais significativas do Rio de Janeiro e colaborando para a revitalização da Lapa.” (HAUS,2016)

5.2.2. Hotel Solar do Império – Petrópolis – Rio de Janeiro

O Hotel Solar do Império está localizado na avenida Köeler, no Centro Histórico de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro. O ambiente é formado por dois antigos imóveis, de estilo neoclássico, construídos em 1875 e 1893, inseridos no conjunto do Centro Histórico de Petrópolis, tombado pelo IPHAN; restaurados para transformá-los num requintado hotel com alto padrão de qualidade. À beleza arquitetônica dos monumentos se soma a qualidade dos serviços prestados que sintonizam positivamente com outros monumentos históricos da cidade imperial. (SOLAR DO IMPÉRIO,2020)


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Figura 67: Hotel Solar do Império

Fonte: Rocha, 2017

Ambos imóveis foram restaurados para receber hóspedes em 24 suítes, piscinas, restaurante aberto ao público e diversos outros serviços. O arquiteto Gustavo Cotrim foi responsável pelo restauro dos edifícios, onde já se hospedaram, durante um período, a Princesa Isabel e o Conde D’Eu. (SOLAR DO IMPÉRIO,2020) Figura 68: Hotel Solar do Império

Fonte: Yassuda, 2017

A opção pela intervenção nesses imóveis, ocupando-os com o uso hoteleiro, ao invés de construir em outra localidade da cidade que não estivesse tombada, demonstra o interesse local no desenvolvimento econômico respeitando sua identidade como “Cidade Imperial”. O uso hoteleiro em um edifício com tais características reforça a identidade local fazendo com que essas construções não


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caiam no esquecimento coletivo, garantindo assim a preservação de aspectos tangíveis e intangíveis da identidade e memória local. (MARJORIE,2005)

5.2.3. Hotel Solar do Rosário – Ouro Preto – Minas Gerais

Figura 69 Hotel Solar do Rosário

Fonte: Solar do Rosário, 2020

O edifício foi construído no ano de 1840, 17 anos após a pequena cidade de Vila Rica se tornar a Cidade Imperial de Ouro Preto, o edifício do hotel era característico pelo conjunto de portas e um balcão inglês que circundava todas as fachadas. Com o passar dos anos e a posterior mudança da capital para Belo Horizonte, o então Hotel Monteiro, chegou a fechar as portas e a abrigar um pequeno armazém de secos e molhados. Porém, em 1980, a cidade de Ouro Preto foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade retomando os olhares internacionais para a antiga capital mineira. (SOLAR DO ROSÁRIO,2020)


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Figura 70: Vista para Igreja de São Francisco de Assis

Fonte: Solar do Rosário, 2020

Dessa forma, surgiu o interesse em reativar o uso hoteleiro naquele local. Em 1994, motivado pelo grande encontro de chefes de estado, liderados pelo então presidente da república Itamar Franco, que culminou com o Protocolo de Ouro Preto (MERCOSUL, 1994), o edifício histórico abriu suas portas com o nome de Hotel Nossa Senhora do Rosário, considerando sua localização, debruçado sobre o largo de mesmo nome, em frente a uma das igrejas barrocas de maior representatividade nacional. Em 2002, passou por processo de ampliação e, em 2007, sob nova direção, passou por nova intervenção, quando vários itens de valor histórico presentes no monumento foram restaurados. (SOLAR DO ROSÁRIO,2020) O Hotel, além de atender o turismo de lazer e chame, atende também o turismo de negócios, no qual empresas que buscam fazer congressos e reuniões na região de Ouro Preto, utilizam o hotel como hospedagem durante o período de negócios, sendo um diferencial dos outros hotéis da cidade, oferecendo serviços padronizados, de qualidade, contribuindo para o desenvolvimento econômico local. 5.2.4. Pestana Convento do Carmo - BAHIA O convento de N. Sra. do Carmo, em Salvador da Bahia, filiado à ordem dos Carmelitas Calçados teve sua construção iniciada em meados do séc. XVII. Passou por diversas reformas com o passar dos anos que lhe conferiram feições barroca,


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rococó e neoclássica. A sua implantação deu-se numa colina que inicialmente ficava fora dos limites da cidade, a norte desta, tendo mais tarde a cidade se expandido e envolvido o edifício conventual. Ao conjunto soma-se uma igreja de nave única com capelas laterais. (SANTOS,2008) Figura 71: Planta baixa do Convento do Carmo

Fonte: ArqMemória, 2008

Em meados do séc. XX, o convento passou por obras de consolidação e restauro e, em 1974, foi inaugurada sua primeira pousada. Esta ocupou o claustro maior do convento – então abandonado –, sob tutela do grupo hoteleiro Luxor. Em 2005, após uma nova intervenção, desta vez sob gerenciamento do grupo português Pestana, foi inaugurada a pousada Pestana Convento do Carmo. A área destinada ao hotel englobou quase a totalidade da edificação, excetuando-se as Igrejas do Carmo e da Ordem Terceira do Carmo, a sacristia e a sala do capítulo (fechadas ao público), sendo a primeira pousada do grupo Pestana fora de Portugal. (SANTOS,2008)


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Figura 72: Vista Interna do Hotel Pestana Convento do Carmo

Fonte: Salvador.Bahia, 2017

Atualmente o Hotel possui uma piscina, ginásio, biblioteca, restaurante e bar, porém quando há realização de eventos no monumento, as atividades voltadas ao hotel são canceladas, sendo este direcionado apenas para o evento em específico. Outro aspecto a considerar neste caso é que além do custo de hospedagem ser elevado para os padrões nacionais, o hotel não disponibiliza, facilmente, o acesso livre ao público em áreas como a capela e sacristia, devido a sensação de insegurança que seu entorno causa, diferente dos outros hotéis citados anteriormente. 5.3.

Espírito Santo, uma lacuna entre estados

O estado do Espírito Santo possui diversos hotéis espalhados pelo seu território. Muitos atendem o turismo de lazer, podendo ser encontrados nas regiões montanhosas, na cidade de Domingos Martins, fortemente na localidade de Pedra Azul, assim como, nas regiões litorâneas do estado, notadamente nas cidades de Guarapari e Aracruz. Na capital, grande parte destes hotéis atendem ao turismo de lazer, contudo, priorizando o turismo de negócios, por se tratar de uma cidade


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portuária, com forte apelo comercial e com grandes quantidades de empresas e eventos que ocorrem sazonalmente. Entretanto, como já abordado anteriormente, muitos destes hotéis, de rede e padrão executivo, são utilizados apenas em períodos específicos do ano, em um curto período de tempo, o que contribui parcialmente para o benefício do estado gerando empregos e tributos. Contudo após este curto período de estadia, a grande oferta, gerada pelo turismo sazonal, acaba diminuindo drasticamente, fazendo com que o crescimento do setor hoteleiro apresente grande flutuação ao longo do ano. Outro aspecto observado pontualmente é a ausência do uso hoteleiro em monumentos históricos no Estado do Espírito Santo, conforme analisado nos estados limítrofes. Os estados do Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais utilizam positivamente seus bens patrimoniais como uma fonte de benefícios culturais, históricos e econômicos para a sociedade local, preservando e ao mesmo tempo contribuindo para a valorização da identidade em que o patrimônio está inserido. 5.4.

Considerações parciais sobre o capítulo

Dados os fatos apresentados neste capítulo, registra-se que a demanda pelo uso de hotéis no estado do Espírito Santo vem crescendo cada vez mais. Porém, a grande demanda acontece em períodos curtos de tempo, contribuindo para a economia em um curto prazo. Os casos analisados, apresentados neste capítulo, buscam no patrimônio histórico uma forma contínua de desenvolvimento econômico e social, auxiliando na preservação da história e do bem físico. A ideia da restauração e preservação ao conjunto do Forte São João, dando-lhe o uso de hotel, tem por objetivo valorizar o desenvolvimento social e humano aliado à história, cultura e a economia da região. Soma-se a este fato a lacuna do uso hoteleiro em monumentos históricos e os dados indicativos do crescimento do uso hoteleiro no Espírito Santo. Contudo, prioriza-se um diferencial no ramo da hotelaria capixaba, diferencial que busque fazer com que o visitante possa acrescentar mais alguns dias à sua jornada, seja ela turística ou não.


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6. CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO Este capítulo trata do recorte da área de estudo, onde está localizado o monumento histórico Forte São João, apresentando um diagnóstico e caracterização do local, tendo em vista a fundamentação das propostas de intervenção e requalificação sobre o bem patrimonial. 6.1.

Intervenção de Restauro e Requalificação de Uso

Nesta seção busca-se desenvolver aspectos que serão importantes no alcance da proposta de intervenção de restauro e requalificação do conjunto do Forte São João. Para tanto, serão desenvolvidos conteúdos importantes na compreensão da natureza material histórica daquele conjunto, tais como a Caracterização e Diagnóstico da área de influência sobre o Monumento e sua leitura crítica da evolução arquitetônica. 6.1.1. Diagnóstico da Área do Monumento

Figura 73: Mapa de Localização do Forte

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020


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O Forte São João está localizado entre duas avenidas bem movimentadas, Av. Vitória e Av. Marechal Mascarenhas de Moraes; em um terreno de grande declive, logo abaixo da comunidade que leva o nome do Forte. Ao lado do terreno do Forte São João encontramos duas grandes áreas, uma pertencente ao Clube Saldanha da Gama, que por alguns anos teve sua sede social no local do monumento, e outra sendo uma área livre, de passagem, usada frequentemente como estacionamento para trabalhadores da região. A área pertencente ao forte, possui cerca de quatro mil metros quadrados, contendo um grande espaço livre, que servia de estacionamento para o clube Saldanha da Gama, atualmente este espaço está tomado por vegetação. O monumento em si, está localizado na encosta do terreno, tendo acesso por ambas as avenidas. Figura 75: Área externa do forte tomada por vegetação

Fonte: Acervo Pessoal 2020.

Figura 74: Área externa do forte tomada por vegetação

Fonte: Acervo Pessoal, 2020.

Trata-se de uma área grande que contém elementos em seu entorno imediato que podem ser trabalhados em benefício da sociedade com a valorização da história, cultura e economia. Novos usos e agenciamento das áreas ociosas do terreno, podem aproveitar os elementos naturais existentes como forma de atração e conforto aos visitantes e membros da comunidade.


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6.1.2. Área de Estudo

Tendo como base de estudo o Monumento Histórico Forte São João, a área de diagnóstico trata de um entorno, caminhável e paisagístico, cerca de 280 metros de raio a partir do centro do canal que divide a ilha de vitória com o continente, onde é possível ter uma boa leitura do ambiente urbano que envolve o monumento. Nesta área pode-se identificar elementos importantes para o entendimento da proposta, como o Morro do Penedo, Porto de Vitória, as avenidas Marechal Mascarenhas de Moraes e Vitória, o Clube Saldanha da Gama e a comunidade do Forte São João.

Figura 76: Área de Estudo

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


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6.1.3. Evolução Arquitetônica Figura 77: Primeira Vista Documentada do Forte São João, 1765.

Fonte: BND

Fundado em 1592, o forte São João passou por diversas transformações com o decorrer dos anos. Sua volumetria foi se moldando ao uso que era empregado ao conjunto edificado. Em 1765, obteve primeiro registro documentado de um projeto realizado no forte. No documento em específico, o forte possuía uma volumetria simples, com poucas aberturas e uma escada na lateral para acesso ao quartel alto, onde abrigava a guarnição. Em seu interior, o forte contava com quartel baixo, casa de palamenta e casa de pólvora. O terreno que se encontra o forte é cercado por uma muralha, com peças de artilharia. Antigamente o mar alcançava os limites da muralha existente, porém, na segunda metade do século XX, foi feito um aterro da área para criação da avenida Marechal Mascarenhas de Moraes. Figura 78: Forte São João,1928

Fonte: Conrado Leiloeiro, Sem data.


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No ano de 1924, a propriedade foi vendida, reformada e ampliada, passando a contar com três andares, com uma entrada pelo pavimento superior, com acesso pela avenida Vitória, então acesso principal à expansão urbana da cidade, passando a abrigar atividades de lazer e recreação com a criação do Cassino Trianon, que funcionou até o ano de 1930. Nesse período as fachadas passaram por muitas mudanças, ganhando uma feição eclética-pitoresca. Figura 79: Forte São João como sede do Clube Saldanha da Gama.

Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória – ES. Sem data.

Em 1931 a propriedade passa ao Clube de Regatas Saldanha da Gama que adquiriu o antigo conjunto do Forte São João, após a falência do Cassino Trianon. O forte passou por muitos reparos e reformas até 1984, quando se tornou um imóvel tombado pelo município. A partir daí, visando não descaracterizar sua arquitetura, nenhuma nova obra foi realizada, permanecendo com suas características até os dias de hoje. A muralha do clube e sua bateria de canhões, remanescente do Forte São João, foi tombada pelo Conselho Estadual de Cultura, sendo considerado seu interesse de preservação, em 1991.


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Figura 80: Forte São João nos dias atuais

Fonte: Acervo Pessoal, 2020

6.2.

Proposta Conceitual

Propõe-se a realização de um estudo preliminar para o restauro e requalificação atribuindo-se o uso de Hotel Resort Urbano ao monumento, a fim de preservá-lo por meio de uma estratégia de autossutentabilidade financeira. A escolha do uso de um Hotel Resort Urbano se dá pelo grande valor referencial que o monumento exerce sobre a comunidade, além de possuir uma vista privilegiada para elementos naturais da ilha de Vitória como a baía e o Penedo. Outro fator influenciador é a sua localização, entre duas avenidas que ligam o Centro com diferentes regiões da Grande Vitória. Tendo por referência as recomendações dispostas em diferentes Cartas Patrimoniais além de obedecer às legislações relacionadas a acessibilidade, segurança e meio ambiente. Valorizando e preservando a história, tornando o patrimônio um meio de desenvolvimento econômico que possa beneficiar a comunidade da região. 6.3.

Legislação Urbana

O Forte São João está situado no Bairro que leva seu nome, nas proximidades das margens da baía de Vitória. O local onde o monumento está situado é definido, pelo Plano Diretor Urbano de Vitória, como Zona de Ocupação Preferencial 5 (ZOP


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5), sendo toleradas atividades de todos os tipos e grupos dentro desta Zona. (PDU VITÓRIA, 2020)

Figura 81: Zoneamento PDU Vitória Figura 90 Mapa de zoneamento PDU de Vitória

PDU de Vitória,2020

6.4.

Índices de Controle Urbanísticos Tabela 2: Índices Urbanísticos

PDU de Vitória, 2020


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Os índices urbanísticos impostos na ZOP 5, disponíveis no Anexo 09, tabela 01, instituído pelo Plano Diretor Urbano de Vitória permitem que o Coeficiente de Aproveitamento (CA) referente a Hotel, Apart Hotel e similares seja de 2,8 e a Taxa de Ocupação (TO), verificado anexo 10, seja de 60% da área total do lote. Os Afastamentos Mínimos laterais e fundos são isentos até 8,40 metros e frontais, verificado Anexo 10, de 4 metros. Em relação ao Gabarito, o PDU de Vitória não especifica altura máxima para edifícios já tombados. (PDU VITÓRIA, 2020) 6.5.

Aterros Figura 82: Baía de Vitória antes das expansões

Fonte: SEDEC, 2020

Durante as décadas de 1940 e 1950, a cidade de Vitória passou por diversas transformações. Uma delas foi o aterro de diversas áreas no litoral, com objetivo de expandir e criar novas malhas viárias para a capital. Essas mudanças causaram um impacto na paisagem do forte São João que desde a sua fundação sempre esteve banhado pelas águas da baía de Vitória. Porém, parte do litoral foi aterrado para criação da avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, que proporcionou a conexão do Centro de Vitória às outras áreas em desenvolvimento. (LEGADO.VITÓRIA,2020)


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Figura 83: Baía de Vitória durante as expansões

Fonte: SEDEC , 2020

6.6.

Aspectos Semióticos

Por definição, a semiótica é a ciência que investiga todo fenômeno de produção das linguagens possíveis por intermédio de elementos que produzem significado e sentido, ou seja, como os indivíduos reconhecem e interpretam o mundo à sua volta, sob a participação ativa da interpretação mental de cada um baseando-se nos signos, dando origem à nova organização da linguagem. (CORREIA,2019) Portanto, diversas áreas da cidade podem ser identificadas e interpretadas sob aspéctos semióticos, a fim de compreender as diversas e complexas relações que o ambiente urbano é composto, auxiliando nas possiveis intervenções que podem modificar o espaço. Foram identificadas duas zonas que agregam caracteristicas semióticas que auxiliam na compreensão do espaço em estudo. As semióticas identificadas foram nomeadas de acordo com os elementos morfológicos e características urbanas que os compõe.


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6.6.1. Semiótica da Área De Estudo A área em estudo está marcada pela paisagem natural, atividades portuárias e intenso tráfego de veículos. É possível notar o quão importante este trecho é para a cidade de Vitória. Começando pela paisagem natural. A baía da capital possui diversos elementos naturais que se destacam na paisagem, servindo de cartão postal para o município. Um desses elementos é o morro do Penedo, considerado um marco visual e um ponto de referência para quem se desloca na grande Vitória, localizado a frente do monumento Forte São João, possui um papel importante para a composição da paisagem urbana de Vitória. O pequeno trecho de água que separa a ilha de Vitória dos outros municípios, foi e continua sendo, fundamental para o desenvolvimento econômico da capital, pois é um local de grande atividade portuária, navios cargueiros de diversas localidades transitam pelo canal que conecta o porto de Vitória gerando uma paisagem cultural única entre as capitais no Brasil. Figura 84: Vista Morro do Penedo

Fonte: Acervo Pessoal, 2020

O aterro realizado neste local foi impulsionado pela expansão viária e econômica que aconteceu nas décadas passadas no município de Vitória. A Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes serve de conexão do Centro da capital aos outros bairros e municípios mais distantes. Contendo diversas atividades comerciais ao longo de toda avenida, porém no local, não encontramos atividades voltadas ao comércio, pode-se destacar a parte esportiva, remanescente do Clube de Regatas Saldanha da Gama, que participa de eventos e outras atividades esportivas. Por toda a orla pode-se encontrar um grande fluxo de pedestres e ciclistas em certas horas do dia, tornando o local bem movimentado.


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Figura 85: Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes

Fonte: Acervo Pessoal, 2020.

Assim como na avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, os elementos naturais e conexões viárias se destacam na avenida Vitória. Além do morro do Penedo, pode-se destacar o morro do Vigia, onde está localizada parte da comunidade do bairro Forte São João, proximo a avenida que se destaca por ser outro eixo viário importante, de forte conexão entre o Centro da capital, demais bairros e municípios vizinhos. Por estar localizada em um ponto mais alto, a avenida permite vizualizar grande parte da baía de Vitória, e diversos elementos que compõe a paisagem urbana da cidade. As visuais proporcionadas nessa região são bem apreciadas, contudo, se configuram apenas como espaços de passagem. Com vias grandes e espaçosas a avenida possui pouca presença de pedestres, sendo estes, moradores da região que transitam nas escadarias da comunidade, se destacando pelo alto fluxo de veículos em grande parte do dia. O local é bem ventilado com calçadas arborizadas, o que influencia nas sensações térmicas. O uso residencial é bem presente, por conta da comunidade, com os comércios se concentrando mais para as áreas centrais da cidade.


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Figura 86: - Avenida Vitória

Fonte: Acervo Pessoal, 2020.

6.7.

Paisagem Cultural

No ano de 2009, foi criado pelo Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), um novo instrumento de preservação do patrimônio cultural brasileiro, conhecido como chancela da Paisagem Cultural. A Portaria IPHAN n° 127, determina que a Paisagem Cultural é uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores. (IPHAN, 2014) A criação da chancela Paisagem Cultural representa uma inovação na maneira de trabalhar com o patrimônio cultural brasileiro. Ainda que o Iphan seja o único responsável pela chancela e preservação das paisagens brasileiras, é o principal articulador de ações de valorização, gestão e planejamento desse patrimônio. (IPHAN, 2014) A chancela é, portanto, regida por um pacto que envolve o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada, resultando em uma gestão compartilhada de determinada porção do território nacional. (IPHAN, 2014)


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Figura 87: Regatas, comemorativa do IV Centenário do ES.

Fonte: Memória Capixaba, 1935.

Conforme já citado anteriormente, a área em estudo possuía uma grande relação com o mar, porém no início do século vinte com as expansões socioeconômicas e viárias de Vitória, essa relação foi se perdendo em função dos aterros. Toda a paisagem e aproximação dos edifícios com a baía juntamente com as atividades esportivas com o passar dos anos foram sendo colocadas em segundo plano. Figura 88: Forte São João

Fonte: Pinterest, Eliziane Marinho, 2020

Atualmente a área de estudo é considerada apenas como lugar de passagem, sem possuir qualquer atividade que faça com que o espectador permaneça no local em um longo período de tempo. A orla, apesar dos aterros, ainda continua exercendo um papel fundamental para a paisagem cultural da cidade de Vitória, tendo o porto


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como principal elemento de atividades na baía, podendo ainda se encontrar algumas poucas atividades voltadas a pesca, realizadas por morados da região. Um dos destaques nessa paisagem cultural é o Morro do Penedo, juntamente com o Forte São João. Estes dois elementos diferentes, possuem uma relação muito forte para a paisagem cultural local, pois ambos estão presentes desde as origens da cidade de Vitória, quando ainda possuía o título de vila, tornando-se marcos, não só paisagístico, mas intrinsecamente na história capixaba. Figura 89: Forte São João e Penedo

Fonte: IJSN, Sem data.

Devido o potencial urbanístico e paisagístico citados neste tópico, a proposta de um Hotel Resort, como novo uso ao patrimônio, tem como finalidade a valorização dos elementos naturais e históricos presentes na área em estudo, buscando a relação do usuário com o edifício antigo e a natureza que compõe a paisagem histórica do local.


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7. ENSAIO DE PROJETO DE RESTAURO E REQUALIFICAÇÃO DE USO PARA O COMPLEXO HISTÓRICO DO FORTE SÃO JOÃO E CLUBE SALDANHA DA GAMA A partir dos estudos citados anteriormente, o capítulo a seguir tem por objetivo relatar os resultados adquiridos a partir dos levantamentos obtidos diretamente no objeto de estudo. Sendo utilizada, como metodologia, para aplicação dos conceitos de restauro, as recomendações da Carta de Veneza (ICOMOS, 1964) e o Manual de Apresentações de Projeto ao IPHAN (MONUMENTA, 2005); valorizando e revelando aspectos importantes do Forte São João, cuja historicidade merece destaque, buscando a valorização das memórias do monumento, que passou por diversas transformações com passar dos tempos. 7.1.

Levantamento Cadastral Físico

Para o desenvolvimento do Projeto de revitalização e restauro do monumento Forte São João foram feitas diversas visitas técnicas em campo. Por estar em um estado crítico de conservação o patrimônio não está aberto ao público, sendo guardado por uma empresa privada de segurança, o que dificultou, inicialmente, a visita técnica ao seu interior. As primeiras visitas, nos dias 01 e 17 de março de 2020, foram feitas na parte externa do Forte, por não haver, até então, autorização de entrada ao monumento. Foram realizados levantamentos fotográficos e registros do estado de conservação das fachadas do edifício em estudo. As visitas seguintes foram feitas no mês de julho, desta vez, já com autorização da empresa de segurança que guarda o Forte. A primeira visita ao interior do monumento foi no dia 26 de julho, com objetivo de fazer um levantamento métrico e fotográfico dos ambientes interno do monumento, para isso, foram utilizadas uma trena de mão e outra a laser, prancheta e lapiseiras, tendo o autor desta pesquisa e projeto como efetivo membro da equipe de levantamento. Foram precisos fazer outras visitas técnicas ao interior do monumento para a conclusão do levantamento métrico, sendo estas ocorridas nos dias 02 e 09 de agosto, com ajuda de Edward Pelissari Vieira na equipe do levantamento.


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No dia 04 de outubro, foi feita uma última visita técnica ao interior do monumento, juntamente com Professor e Orientador Luiz Marcello Gomes Ribeiro, com objetivo de fazer as últimas medições no local e compreensão dos ambientes por parte do Orientador. Em média, as visitas duraram cerca de três horas por dia, totalizando cerca de 16 horas em visitas técnicas no Forte São João. Os registros do levantamento cadastral métrico, feitos a partir dos levantamentos estão disponíveis no apêndice desta pesquisa. Também foi disponibilizado, por meio do arquivo da SEDEC, Secretaria de Desenvolvimento da Cidade, o acesso de documentações do Patrimônio Forte São João, contendo registros fotográficos do monumento e seu entorno em diferentes períodos, além de um projeto parcial contendo fachadas, plantas baixas de alguns níveis do edifício e planta de cobertura, estando disponíveis no anexo desta pesquisa.

7.2.

Estado de Conservação do Conjunto

Buscando a salvaguarda das características ecléticas presentes no monumento Forte São João, um Mapa de Danos foi elaborado nas três fachadas principais do edifício, disponíveis no apêndice dessa pesquisa, com a finalidade de representar as condições e alterações sofridas por seus materiais e estrutura ao longo do tempo. O mapeamento de danos nas fachadas foi baseado no Manual de Conservação Preventiva para Edificações, elaborado pelo IPHAN. Sendo assim, cada patologia possui um código de referência que ajuda na identificação e causas, possibilitando a compreensão e tomada de decisão para o restauro do monumento. Os mapeamentos de danos, estão disponíveis no apêndice desta pesquisa. Analisando a parte externa do Forte podemos identificar diversos pontos com manchas escuras ao longo de todas as fachadas, principalmente próximo a base da edificação, essas manchas são causadas por conta da grande quantidade de poluição atmosférica e umidade. Um fator que influenciou no surgimento das manchas escuras foi a localização do monumento, próximo a uma área costeira, assim como sua localização entre duas avenidas bem movimentadas.


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Figura 90: Fachada lateral direita Forte São João

Fonte: Acervo Pessoal, 2020

Outras problemáticas identificadas, foram manchas esverdeadas próximas a base das fachadas laterais, causadas pelo excesso de umidade e microflora, contribuindo para o surgimento e crescimento de vegetação na área. Continuando o quadro de degradação, é possível identificar o descascamento da pintura em certos pontos nas fachadas, sendo possível identificar as antigas cores usadas no monumento, do período do Cassino Trianon (1924 - 1930). Grande parte das esquadrias estão empenadas, dificultando sua abertura, devido falta de manutenção, vidros quebrados causados por vandalismo e oxidação em algumas esquadrias que possuem ferro em sua composição. Pode-se também identificar diversas partes do telhado com marcas de infiltração, o que ocasionou diversas manchas escuras em alguns pontos da fachada, ocasionando diversos danos para o interior do edifício. A falta de vistoria e manutenção foram os principais fatores que influenciaram para o estado de degradação em que o monumento se encontra.


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Figura 91: Fachada Lateral esquerda Forte São João

Fonte: Acervo Pessoal, 2020.

Figura 92: Parte interna do Forte com infiltrações

Fonte: Acervo Pessoal, 2020.

Durante as visitas ao monumento, ainda, é possível identificar diferentes épocas e transformações que o monumento passou com o passar dos anos. Em seu interior podemos identificar as grandes mudanças que o edifício passou, começando pelo forte, parte mais primitiva da construção, que sofreu uma grande descaracterização devido aos diversos usos e acréscimos que o monumento teve. Na atualidade, o que se encontra são os resquícios do antigo bar do Clube Saldanha da Gama com intervenções possivelmente datadas de meados do século XX, onde se observam


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bancadas de granito e revestimentos cerâmicos sobre o substrato histórico das alvenarias do antigo forte. Figura 93: Área interna do Forte Original

Fonte: Acervo Pessoal, 2020.

Parte do que foi o antigo Restaurante do Cassino Trianon continua preservado, com tetos em estuque ornamentados e esquadrias de caixilharia de madeira em bom estado de conservação. Algo que é bem perceptível são as diferenças de materiais e espessuras das alvenarias no local. Ao percorrer os ambientes internos do monumento conseguimos identificar as ampliações efetuados durante o uso pelo Clube Saldanha da Gama, a partir dos resquícios do que foi a antiga sede do Clube. Figura 94 : Evolução Forte

Fonte: Acervo Pessoal


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Assim, a partir destas leituras in loco, bem como o que foi atestado anteriormente pela pesquisa, vê-se reiterada a condição de que o Forte São João possui uma vocação natural para o uso receptivo de hospitalidade com perfil para Hotel Resort SPA-Urbano, tirando proveito de sua arquitetura eclética, valorizando sua história e conservando a sua memória como patrimônio, atribuindo-se a ele o novo programa de necessidade que atenda ao uso proposto, bem como eventos e atividades abertos ao público local com objetivo de trazer vida e interação ao monumento que hoje se encontra no esquecimento. 7.3.

Proposta de Novo Uso A partir dos diagnósticos realizados e das análises levantadas ao longo desta

pesquisa, percebeu-se o grande potencial que o Forte São João possui no município de Vitória. Ao longo dos anos o patrimônio exerceu diversos usos passando por diversas transformações em sua arquitetura, porem em certo momento o edifício e suas memórias foram esquecidas, permanecendo no estado em que se encontra atualmente. O ensaio de projeto de restauro desenvolvido nessa pesquisa tem como conceito a salvaguarda das memórias esquecidas do monumento histórico Forte São João. O novo uso como Hotel Resort – SPA-Urbano proporciona essa salvaguarda, através de usos e atividades complementares didáticas, contribuindo para o desenvolvimento econômico local e valorização da historicidade do patrimônio junto à sociedade local. Ao longo desta pesquisa foram citados diversos monumentos históricos preservados e transformados em hotéis em todo o mundo sendo administrados por empresas de iniciativa privada. Assim sob essa premissa, foi idealizado um cliente fictício, servindo de base para o desenvolvimento do projeto, o Grupo Pestana, conhecido pelos seus diversos hotéis em Portugal e Brasil, já citados anteriormente. Desta forma o empreendimento será caracterizado como Hotel Pestana – San Joan, em português arcaico.


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Tendo em vista o novo uso da edificação e criação de um edifício anexo, o programa de necessidades estabelecido para a proposta contempla atividades abertas ao público, atendendo diversos usuários, proporcionando acessibilidade, lazer e conforto aos visitantes. Para isso foi criado um programa de necessidades buscando atender as exigências necessárias para um Hotel Resort – SPA-Urbano. Tendo como partida o térreo do monumento histórico, onde encontra-se o forte original, datado do século XVIII, foram planejadas atividades abertas ao público, transformando o interior do forte em um espaço comercial que vise a sustentabilidade e manutenção daquele patrimônio. A opção recaiu sobre uma hamburgueria temática, cujo objetivo é revelar as memórias das fundações do monumento e servir de apoio como restaurante casual aos hospedes do hotel. Este empreendimento terá o nome de “Hamburgueria Nicolau” em homenagem ao engenheiro militar Nicolau de Abreu Carvalho, que projetou o forte comissionado por Dom Vasco Fernandes César de Menezes, vice-rei e capitão-general de mar-e-terra do Estado do Brasil entre 1720 e 1735. No entorno imediato, a área externa pode abrigar apresentações de música ao vivo, além de conter exposições de elementos oriundos de escavações arqueológicas no local, que irão compor uma leitura histórica do ambiente, assim como, a escultura do índio Araribóia, o bastião usado como local de vigia e o portal de acesso contendo o brasão do Império brasileiro. Para complementar e viabilizar a operacionalidade da hamburgueria temática, uma cozinha semi industrial, instalada em um container será alocada em uma área periférica, agenciada por um paisagismo, de forma que não se destaque. Este equipamento compacto, receberá apoio da cozinha do hotel, localizado no anexo e servirá ao preparo de lanches e refeições ligeiras. Tendo em vista ainda a preservação das memórias do monumento, o pavimento acima do forte, construído para abrigar o antigo cassino, abrigará o restaurante principal do hotel, com um conceito romântico/executivo, onde a culinária capixaba poderá ser apreciada. Este empreendimento atrelado à gestão do hotel resgatará o nome do “Restaurante Trianon”. Neste ambiente a memória do Cassino Trianon será destacada, tendo sido este setor do monumento de extrema importância para as transformações e crescimento do monumento como o conhecemos hoje. Acima deste pavimento, no entrepiso do salão principal, estarão localizadas a Administração e


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Gerência do hotel, tendo em vista que o local é reservado e compacto, contribuindo para as atividades que serão exercidas neste setor. O próximo pavimento sendo o maior do edifício, propõe-se o hall de entrada e lobby do hotel, o que contribui para a valorização da historicidade do monumento e sua visibilidade comercial. O salão principal atenderá eventos como formaturas, festas de aniversários e casamentos, salvaguardando as memórias do clube Saldanha da Gama que em seus momentos áureos realizava eventos neste salão principal. Outras atividades como bar, café da manhã e lojas, tais como joalherias ou bombonieres estarão presentes neste andar. No pavimento superior, encontra-se a galeria, onde acontecerão atividades de arte e espaço de leitura. Outro uso proposto para esse andar é o Spa-Urbano, aberto ao público, tendo uma relação direta com o local voltado para avenida Vitória. O último pavimento, no torreão circular possui como atividade um mirante virtual. Considerando que o local possui uma visão bem limitada da baía de Vitória, com o uso de tecnologia pode-se contemplar o espaço externo em 360°, trazendo uma interação interno x externo ao monumento. Estando no mesmo andar, porém em local mais privilegiado, foi proposta a criação de uma suíte presidencial, tendo uma vista privilegiada para os elementos naturais que compõe a paisagem da baía de Vitória. Partindo para o edifício anexo, propõe-se o local para a área de hospedagem com apartamentos diferenciados, serviços de atendimento ao hotel, áreas técnicas e estacionamento, tendo em vista que o monumento histórico não possui estrutura para alocar estas atividades. Piscina e áreas de lazer também estarão localizadas no edifício anexo. 7.4.

Ensaio de Projeto

O produto final desta pesquisa resulta em um ensaio de projeto de intervenção em um patrimônio edificado, elaborado por meio de levantamentos, demonstrando a vocação do edifício e viabilidade do projeto em estudo como é especificado pelo Manual de Elaboração de Projetos de Preservação do Patrimônio Cultural do IPHAN, além de estabelecer informações necessárias para definir a intervenção proposta.


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7.4.1. Memorial Justificativo O monumento histórico Forte São João, conforme apresentado no tópico 3.0, passou por diversas transformações em sua arquitetura, atribuindo ao edifício características de diferentes épocas, tornando-o um monumento eclético, rico em elementos que o tornam único na paisagem cultural local. A partir dessa consideração foram realizados diversos estudos, levantamentos e coleta de dados no local que contribuíram para as diretrizes e tomada de partido do projeto. Foram identificados diversos aspectos diferenciados e potencialidades que o monumento possui. Outro fator identificado, foi a necessidade de criação de um edifício anexo. Os estudos e pesquisas realizados anteriormente, contribuíram para o desenvolvimento de conceitos e diretrizes para a concepção e implantação deste novo edifício.

Figura 95: Moodboard Forte São João

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


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Figura 96: Moodboard Edifício Anexo

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.

7.4.2. Proposta A partir dos conceitos e estudos apresentados na pesquisa, desenvolveu-se um projeto básico de restauro e requalificação, que tem por objetivo valorizar a historicidade do patrimônio, dando novos usos, respeitando sua forma física restaurando seus elementos arquitetônicos e visuais e criando o edifício anexo, que auxilia na operacionalidade do Hotel Resort Urbano. 7.4.3. Setorização Considerando as demandas do programa de necessidades, foram propostos diversos usos ao monumento histórico e ao edifício anexo. Através dos levantamentos e estudos efetuados pode-se setorizar cada ambiente de acordo com a sua necessidade. Para atender as demandas propostas e melhor distribuição dos ambientes foram feitas alterações na parte interna existente do patrimônio, para melhor compreensão conferir o anexo deste trabalho.


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Figura 97: Isometria Pav. Forte e Cassino

Fonte: Acervo Pessoal

O

monumento

histórico

foi

dividido

de

maneira

que

o

público,

independentemente de estar hospedado, tenha acesso a maior parte da edificação histórica. Possuindo atividades abertas ao público em diferentes horários, como a “Hamburgueria Nicolau” - que tem potencial para funcionar à noite, já que estabelecimentos com esse uso são mais frequentados neste horário – e o “Restaurante Trianon”, funcionando durante os períodos diurnos para almoços executivos e noturnos para jantares românticos. Figura 98 – Perspectiva da área gourmet da Hamburgueria Nicolau, ao fundo o container cozinha

(Fonte: Acervo Pessoal)


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Figura 99: Isometria Pav. Salão e Administração

Fonte: Acervo Pessoal

O “Café da Manhã” localizado no pavimento do salão principal, juntamente com o bar, podem funcionar em diferentes horários do dia, exercendo suas atividades abertas ao público (Fig.102). É possível encontrar ainda uma joalheria neste pavimento, para difusão dos diferentes designers capixabas desse ramo. O lobby do Hotel, identificado pela cor azul claro na figura 99, está localizado no centro do monumento, trazendo maior relação entre visitante e patrimônio, além de servir de conexão aos outros ambientes. Figura 100 – Lobby do Hotel Resort, localizado no Salão principal

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


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Figura 101: Isometria Pav. Suíte e Spa

(Fonte: Acervo Pessoal)

As atividades de relaxamento e estar estão localizadas no pavimento da galeria, onde se encontra o Spa-Urbano, proporcionando momentos de relaxamento e lazer aos usuários e visitantes do hotel. Figura 102 – Café da manhã do hotel

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


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Figura 103: Isometria Pav. Térreo e 1° Pavimento

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.

Os procedimentos de carga e descarga que abastecem o hotel são realizados no edifico anexo, voltado para avenida Vitória, assim como a entrada e saída de funcionários, tendo conexão ao edifício histórico no pavimento do subsolo 01. As suítes do hotel estão localizadas neste edifício, com aberturas voltadas para baía de Vitória, tendo como visual o enquadramento do monumento natural do Penedo em contraste com o Forte, fazendo com que o hóspede tenha essa relação do novo x antigo x natural, além de conter elementos que valorizem a memória do Patrimônio Histórico, (Fig.105). Ao todo este edifício possui vinte e seis suítes. Figura 104 – Vista de uma das Suítes do Edifício Anexo

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


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Figura 105 – Exemplo de interior das suítes

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.

Buscando trazer atividades de lazer ao anexo, foram criados ambientes como academia, no subsolo 02 e uma quadra de vôlei no nível térreo, o mesmo em que se encontra o Forte primitivo. Foi pensado também, um espaço onde o hóspede pudesse relaxar e contemplar os elementos naturais de Vitória e sua relação com o Patrimônio. Figura 106 – Vista da Área de estar dos Hóspedes

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


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Figura 107 – Espaço de estar, relação do Morro do Penedo, o índio Araribóia e o patrimônio

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.

Buscando essa maior relação dos elementos naturais presentes na baia de Vitória, foi proposta a criação de uma piscina de borda infinita na parte superior do edifício, onde o usuário terá uma vista privilegiada, não só do Penedo, mas também de toda orla e demais municípios que fazem divisa com Vitória. Figura 108 – Vista da Piscina

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


108

Figura 109: Isometria Pav. Técnico e Piscina

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.

As áreas técnicas se distribuem ao longo dos pavimentos do Anexo, possuindo uma parte superior onde estão localizadas as placas fotovoltaicas, que possibilitam um desenvolvimento mais sustentável ao hotel, além de conter cisternas no subsolo que podem armazenar água da chuva para reutilização nas áreas de serviços do Hotel. O estacionamento se encontra na parte mais inferior do edifício, totalizando 15 vagas. Figura 110: Isometria Pav. Sub.01 , 02 e 03

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


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7.4.4. Fluxos Para melhor distribuição e desempenho dos ambientes propostos, foi realizado um estudo de fluxos, que consiste na otimização dos ambientes e atividades exercidas no Hotel. No diagrama abaixo foram destacados 4 setores importantes, sendo eles o setor de carga e descarga, hóspedes, serviços e público. O maior desafio foi fazer com que os fluxos de serviços e carga e descarga não conflitassem com os fluxos dos hóspedes e público, ao mesmo tempo atendendo as necessidades que um hotel resort necessita. Outro fator desafiador, foram os desníveis existentes no edifício do Forte São João, por ter sido construído em períodos diferentes, sua composição dos espaços internos é bem conflitante, estando os ambientes em níveis diferentes, o que dificulta, ainda, soluções de acessibilidade plena. Por este motivo, foi planejado um nível em que os fluxos de serviços e hóspedes pudesse transitar do edifício anexo para o patrimônio, possibilitando a ligação dos fluxos de ambos edifícios. Optou-se em manter as escadas existentes do patrimônio, ajudando na configuração dos fluxos. Um dos pontos - chaves para o desenvolvimento do projeto de restauro e requalificação é acessibilidade, sendo este assunto um grande desafio por se tratar de um edifício histórico. Diante deste contexto foram adicionados e posicionados, de maneira estratégica, elevadores que permitem pessoas com dificuldades de locomoção ter acesso aos ambientes abertos ao público e de lazer para hóspedes.


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Figura 111: Fluxograma

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.

7.4.5. Estudos Cromáticos E Paisagem O monumento Forte São João esteve presente em diversos períodos da história do povo capixaba, sendo fundado em 1592 e reconstruído em 1726, no período que Vitória ainda era uma vila. Contudo, no século vinte suas fachadas sofreram grandes transformações, sendo construído um casarão na parte superior do da fundação, recebendo cores saturadas em suas fachadas, característico de edifícios pitorescos como era incialmente.


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Figura 112: Cassino Trianon

Fonte: IJSN, Sem data.

Após o Forte ficar sob responsabilidade do Clube Saldanha da Gama, ampliações e alterações foram realizadas nas fachadas, conforme visto no tópico 3.1 desta pesquisa. Tendo em vistas estes aspectos, foram realizados estudos cromáticos para definição dos materiais, texturas e cores aplicadas em ambas fachadas dos edifícios presentes no Hotel Resort. Partindo da premissa que o monumento receberá um novo uso e da criação de um edifício anexo, foram analisados os seguintes fatores: O monumento deve ser o destaque da paisagem, sendo o anexo apenas um coadjuvante no cenário; resgate da memória do patrimônio, tonalidades que proporcionem o destaque e ao mesmo tempo respeite a historicidade do monumento. Através de levantamentos feitos in loco e estudos de danos realizados nessa pesquisa, foram identificados, em meio as intempéries, resquícios da antiga tonalidade existente nas fachadas do monumento, sendo ela do período em que o


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forte exercia o papel de Cassino, tornando-se um ponto chave para a decisão da composição de cores que o monumento receberá. Figura 113: cores terrosas do antigo cassino

(Fonte: Acervo Pessoal)

A partir desse fato a composição escolhida para o monumento tem como referência a cor “Inspiração Poética” – Tintas Coral, ao longo da maior parte da fachada, com os frisos e ornamentos na cor “Estrela do Norte”, também das Tintas Coral. Nas esquadrias optou-se pela cor “Casa de Campo”, salvaguardando a memória de um monumento neocolonial. Em contrapartida, na fundação onde se encontra o forte original, optou-se em utilizar a cor branca por meio da cal. Entendese que todo este corpo inicial deverá ter suas alvenarias prospectadas e seus revestimentos saneados com a remoção de estratos cimentícios e renovação da cal. Na sequência, visando manter a aeração das alvenarias estas devem ser caiadas na cor natural da cal o que levará ao destaque do restante do monumento remetendo ao período em que o forte era usado como meio de defesa da baía de Vitória. Para as esquadrias desse setor a referência proposta é a cor “Figo Verde” – Tintas Coral.


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Figura 114: Estudo de Cor

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.

Para o edifício anexo, o projeto prevê o uso de painéis HPL – TRESPA, um material neutro, de alta resistência, que não se destaque, sendo a referência selecionada “Crafted White” que configura um tom marfim, próximo a cor utilizada nos frisos e ornatos do edifício histórico, dando um ar de leveza ao edifício, contrastando com a cor terrosa encontrada no monumento do Forte São João. Figura 115 – Relação das Fachadas do Patrimônio e Anexo

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


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Figura 116 – Perspectivas das fachadas

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.

No paisagismo foram propostos materiais de cores neutras como tons de bege que indicariam os locais de passagem e o cinza em locais de permanência, o tipo usado é o Fulget, sendo atérmico e antiderrapante, além de trazer um aspecto mais natural por conta de sua textura. O desenho geométrico no piso segue a forma da área em que o monumento se encontra, seguindo o mesmo padrão angular que a muralha do forte possui. Figura 117 – Área Gourmet

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


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Figura 118: Proposta de Paisagismo

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do conjunto de conhecimentos obtidos neste trabalho, notou-se a importância que o patrimônio exerce na sociedade. Infelizmente, grande parte destes bens encontram-se em estado de degradação, consequência da falta de planejamento e fiscalização do Estado, e déficit de um Projeto de Gestão do Patrimônio histórico. Os estudos de casos realizados neste trabalho mostraram que o patrimônio histórico deve ser visto como uma ferramenta que, por meio de uma boa gestão e o envolvimento da comunidade juntamente com os setores público e privado, pode alavancar o desenvolvimento da sociedade. O Forte São João foi e ainda é um bem histórico muito importante para a cidade de Vitória. O objetivo principal do projeto de restauro e requalificação deste monumento é justamente manter sua história e memórias vivas, fazendo com que as próximas gerações conheçam e possam usufruir de um bem que marcou a vida de muitas pessoas no passado, tendo um papel fundamental para o desenvolvimento e crescimento da cidade de Vitória. O Hotel Resort trouxe uma nova identidade ao patrimônio. As diferentes atividades presentes, tornam a vivencia no monumento mais didática, onde, diferentes públicos podem se reunir e desfrutar experiências únicas e marcantes. Toda a pesquisa desenvolvida juntamente com o projeto realizado nesse trabalho contribuiu para o desenvolvimento de um olhar crítico voltado as questões de restauro, fomentando novos pensamentos e ideias, proporcionando uma visão mais ampla

para

soluções

de

projetos,

consequentemente,

amadurecimento e crescimento de um futuro arquiteto e urbanista.

favorecendo

no


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9. REFERÊNCIAS ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Vitória: Governo do Estado do Espírito Santo,2020. Disponível em: https://ape.es.gov.br/quem-somos. Acesso em: 11 de maio de 2020. ARRUDA, Patrícia. Sai edital para gestão e restauração do Cais do Hidroavião, Vitória, 17 de jan.2020. Disponível em:< https://www.vitoria.es.gov.br/noticia/sai-edital-para-gestao-erestauracao-do-cais-do-hidroaviao-39662>. Acesso em: 13 de maio de 2020. BANCO DE LONDRES. Vitória: legado Vitória,2020. Disponível em:<http://legado.vitoria.es.gov.br/baiadevitoria/script/contexto.asp¿NOME_ARQUIV O=agv0118.html>. Acesso em: 11 de maio de 2020. BRASIL: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Estabelece critérios relacionadas a questões de acessibilidade a edifícios e espaços urbanos. Disponível em:<file:///C:/Users/T-Gamer/Downloads/abnt-nbr-90502015.pdf>. Acesso em: 24 de maio de 2020. BYRNE, Gonçalo. Conversão da Cidadela de Cascais em um Hotel de Charme, Portugal 10 fev.2012. Disponível em:<https://www.goncalobyrnearquitectos.com/citadel-of-cascais-home>. Acesso em: 27 de mar. 2020. CALDEIRAS, Bárbara. Escola Abandonada em Vitória vira abrigo de moradores de rua e usuários de drogas. Vitória, 4 de abr. 2018. Disponível em:< http://eshoje.com.br/escola-abandonada-em-vitoria-vira-abrigo-de-moradores-de-ruae-usuarios-de-drogas/>. Acesso em: 11 de maio de 2020. CAMPOS, Danielly. Saldanha da Gama pode abrigar o Museu da Colonização, Vitória 09 de Out. 2014. Disponível em: <http://www.vitoria.es.gov.br/noticia/saldanha-da-gama-podeabrigar-o-museu-da-colonizacao-15874>. Acesso em: 11 de maio de 2020. CARDOSO, Viviane Souza Valle; GOLDENSTEIN, Marcelo, MENDES, Eduardo da Fonseca; GORGULHO Luciane. A preservação do patrimônio cultural como âncora do desenvolvimento econômico. BRASIL 4 de jul.2011. Disponível em: <https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/1603/1/A%20BS%2034%20A%20 preservação%20do%20patrimônio%20cultural%20como%20âncora%20do%20dese nvolvimento%20econômico_P.pdf>. Acesso em: 25 de maio de 2020. CORRÊA, Luís Rafael Araújo. Perigo que vem do mar: o ataque de Thomas Cavendish ao Espírito Santo Colonial, Rio de Janeiro 24 de ago. 2019. Disponível em:<https://medium.com/@historiaemrede/perigo-que-vem-do-mar-o-ataque-dethomas-cavendish-ao-espírito-santo-colonial-88e471cf8f3f >. Acesso em: 25 de maio de 2020. CRUZ, Carlos Luiz da. Cidadela de Cascais, Portugal, 01 de jan. 2012. Disponível em:<http://fortalezas.org/index.php?ct=fortaleza&id_fortaleza=1389&muda_idioma=P T>. Acesso em: 27 de mar. 2020. CUNHA, Leandro Reina da; DOMINGOS, Terezinha de Oliveira. A PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL EM RAZÃO DO ABANDONO E O CAPITALISMO HUMANISTA, Fortaleza, 9-12 de jun. 2010. Disponível em:<


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120

APÊNDICE













WC 5,61 m²

Acima Acima

COPA 2,53 m²

CIRCULAÇÃO 15,41 m²

APOIO 3,85 m²

APOIO 4,85 m²

WC 3,51 m² GERENTE MARK. 5,12 m² MEMÓRIA - FORTE HAMBURGUERIA TEMÁTICA 67,18 m²

GERENTE 6,53 m²

SECRETARIA 14,37 m²

CONTABILIDADE 5,35 m²

APOIO 4,33 m²

RH 12,09 m²

Acima APOIO 4,67 m²

05 - ADMINISTRAÇÃO Escala 1 : 100

01- MEMÓRIA - FORTE - HAMBURGUERIA TEMÁTICA

CIRCULAÇÃO SERVIÇOS 18,82 m²

Escala 1 : 100

PLATAFORMA

CIRCULAÇÃO SERVIÇOS 7,43 m²

Acima

SALA DE DISTRIBUIÇÃO 33,24 m²

CIRCULAÇÃO DE SERVIÇOS 30,96 m²

Acima ADEGA 5,74 m²

DEP.LIMP. 3,14 m² PLATAFORMA

Acima MEMÓRIA - CASSINO TRIANON RESTAURANTE ROMANTICO 76,91 m²

WC 4,77 m²

WC 4,25 m²

04 - SERVIÇOES E APOIO Escala 1 : 100

Acima PLANTAS BAIXAS - FORTE SÃO JOÃO

Acima

TIPO DE PROJETO: RESTAURO FASE DO PROJETO:

02 - MEMÓRIA - CASSINO TRIANON - RESTAURANTE ROMANTICO

03 - BANHEIROS - RESTAURANTE ROMANTICO

Escala 1 : 100

Escala 1 : 100

ANTE PROJETO PROFESSOR (A):

ENDEREÇO:

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

VILA VELHA

ALUNO:

ESCALA:

ANDERSON PELISSARI

1 : 100

DATA

PRANCHA:

01/12/2020

01


SPA URBANO 44,79 m²

COZINHA 48,98 m²

DEPÓSITO ALIMENTOS 20,71 m²

JOALHERIA 36,77 m²

SPA URBANO 50,58 m²

SPA URBANO 30,32 m²

CAFÉ 71,15 m²

Acima

RECEPÇÃO SPA 28,27 m²

HALL 34,01 m²

Acima

Acima

DEP. 1,27 m²

ARTES VISUAIS / LEITURA

Acima

DEPÓSITO 4,73 m²

ROUPARIA 4,32 m²

WC 4,22 m²

LOBBY 66,22 m²

WC 5,28 m²

Acima

MIRANDE VIRTURAL 20,00 m²

Acima WC 6,57 m²

BAR 52,40 m²

ESCRITÓRIO 27,00 m²

SUÍTE PRESIDENCIAL 24,20 m²

SALÃO 185,56 m²

08 - SUÍTE PRESIDENCIAL Escala 1 : 100

Acima

VARANDA 109,14 m²

07 - SPA URBANO Escala 1 : 100

PLANTAS BAIXAS - FORTE SÃO JOÃO TIPO DE PROJETO:

06 - GRANDE SALÃO Escala 1 : 100

RESTAURO FASE DO PROJETO: ANTE PROJETO CLIENTE:

ENDEREÇO:

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

VILA VELHA

DESENHISTA

ANDERSON PELISSARI

ESCALA: 1 : 100

DATA:

PRANCHA:

01/12/2020

02


ROUPARIA 6,97 m²

QUARTO 31,45 m²

QUARTO 23,45 m²

ACADEMIA 111,13 m²

LIMPEZA 5,39 m²

QUARTO 26,00 m²

Abaixo

Acima

Acima

Abaixo

QUARTO 25,81 m²

PROJEÇÃO RAMPA

QUARTO 26,02 m²

A. TÉCNICA 21,57 m²

15

14 03 - SUBSOLO 02 Escala 1 : 100

13

12

SALA REUNIÃO 26,42 m²

ROUPARIA 6,97 m²

11 Á. TÉCNICA 5,39 m²

QUARTO 36,24 m² WC 5,00 m²

10 SALA REUNIÃO 25,04 m²

QUARTO 27,43 m²

LIMPEZA 5,39 m² WC 5,00 m²

09 SALA REUNIÃO 42,38 m²

WC 5,00 m² ESTACIONAMENTO 615 m²

QUARTO 29,76 m²

Abaixo

QUARTO 29,76 m²

QUARTO 29,55 m²

Acima

WC 5,00 m²

WC 5,00 m²

Acima

A. TÉCNICA 21,87 m²

08

07

06 05

02 - SUBSOLO 03

01 - SUBSOLO GARAGEM

Escala 1 : 100

Escala 1 : 100

04

03

02

01

PLANTAS BAIXA - EDIFÍCIO ANEXO TIPO DE PROJETO: RESTAURO FASE DO PROJETO: ANTE PROJETO CLIENTE:

ENDEREÇO:

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

VILA VELHA

DESENHISTA

ANDERSON PELISSARI

ESCALA: 1 : 100

DATA:

PRANCHA:

01/12/2020

01/02


ROUPARIA 10,43 m²

WC 5,00 m²

T VI IA R Ó

WC 5,00 m²

ROUPARIA 10,43 m²

QUARTO 17,17 m²

A ID EN AV

QUARTO 21,99 m²

L CA ÇA

CIRCULAÇÃO 30,67 m²

DA

QUARTO 15,90 m²

QUARTO 12,16 m²

Acima

LIMPEZA 5,39 m²

WC 5,00 m² WC 5,00 m²

WC 5,00 m²

QUARTO 18,08 m²

QUARTO 14,05 m²

CIRCULAÇÃO 30,67 m²

CARGA E DESCARGA 89,81 m²

QUARTO 18,54 m²

WC 5,00 m²

Abaixo

QUARTO 14,80 m²

WC 5,00 m²

WC 5,00 m²

WC 5,00 m²

WC 5,00 m²

Abaixo

QUARTO 14,59 m²

QUARTO 18,33 m²

06 - PAVIMENTO 01

05 - TÉRREO

Escala 1 : 100

Escala 1 : 100

WC 5,00 m²

CIRCULAÇÃO / ESTAR 45,00 m²

QUARTO 18,96 m² WC 5,00 m²

QUARTO 19,63 m²

ROUPARIA 7,54 m²

COZINHA 43,37 m²

WC 5,00 m²

DEPOSITO 7,16 m²

DEPOSITO 6,91 m²

LIMPEZA 5,80 m²

WC 5,00 m² CAMARA 8,46 m²

QUARTO 22,11 m²

CAMARA 8,48 m²

WC 5,00 m²

A. TÉCNICA 3,82 m² PISCINA 63,62 m²

RAMPA ELEVATÓRIA

Abaixo

QUARTO 22,28 m² DECK 48,00 m²

WC 5,00 m²

WC 5,00 m² QUARTO 22,07 m²

Abaixo

A. TÉCNICA 21,57 m²

07 - PAVIMENTO PISCINA Escala 1 : 100

04 - SUB SOLO 01 Escala 1 : 100

PLANTAS BAIXA - EDIFÍCIO ANEXO TIPO DE PROJETO: RESTAURO FASE DO PROJETO: ANTE PROJETO CLIENTE:

ENDEREÇO:

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

VILA VELHA

DESENHISTA

ANDERSON PELISSARI

ESCALA: 1 : 100

DATA:

PRANCHA:

01/12/2020

02/02


LEGENDA: AL VENARI A A DEMOLI R

AL VENARI AACONTRUI R 01









AUTOR :

ANNA KARINE DE Q. C. BELLINI ARQ. CREA ES-7709 D

LARISSA PACHECO BERNARDI ARQ. CREA ES-9651 D

MELISSA PASSAMANI BONI ARQ. CREA ES-8220 D

PLANTA DE COBERTURA

DANIEL ZANINE BELGA GIOVANA CRUZ ALVES MARCELO MULLER NOGUEIRA

ESCALA_________________________1/100

LIVIA DALARME CALANZANI

DATA:

MAIO DE 2006 OUTUBRO DE 2006

13/27


CORTE BB' ESCALA______________1/75

AUTOR :

ANNA KARINE DE Q. C. BELLINI ARQ. CREA ES-7709 D

LARISSA PACHECO BERNARDI ARQ. CREA ES-9651 D

MELISSA PASSAMANI BONI ARQ. CREA ES-8220 D

DANIEL ZANINE BELGA GIOVANA CRUZ ALVES MARCELO MULLER NOGUEIRA

CORTE AA' ESCALA______________1/75

DATA:

MAIO DE 2006 OUTUBRO DE 2006

12/27


FACHADA A ESCALA______________1/75

FACHADA C ESCALA______________1/75

FACHADA B ESCALA______________1/75

AUTOR :

ANNA KARINE DE Q. C. BELLINI ARQ. CREA ES-7709 D

LARISSA PACHECO BERNARDI ARQ. CREA ES-9651 D

MELISSA PASSAMANI BONI ARQ. CREA ES-8220 D

ALICE DELLABIANCA BRAMBATI DANIEL ZANINE BELGA GIOVANA CRUZ ALVES MARCELO MULLER NOGUEIRA

DATA:

FACHADA D ESCALA______________1/75

JUNHO DE 2008

01/01


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