Oliveira, E.S - Da tradição Oral à Escritura- A historia contada do Q Curiaú

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- como forma de gozação com alguém que passou por algum fato pitoresco, ou com o intuito de fazer alguma crítica ao comportamento de outrem, sempre de forma grotesca. O grande alvoroço No dia 29 de julho Deu-se um grande alvoroço O Belém apanhou pancada Na descida do poço Eu vi a Maria Joana e a Cláudia também e foram tirar a viada de cima do Belém eu durmo na minha casa cada um dorme na sua o Belém dorme na tábua bem na porta da rua O Belém apanhou pancada Na descida do poço Se não fosse o acomoda Aí então o caso era grosso. Eu bem te disse Belém Deixa de atolerância, Não te mete com a viada Que ela é mal pra criança. Valei-me Nossa Senhora, Senhora de Nazaré Eu tenho raiva de homem Que apanha de mulher.

Esses são apenas alguns ladrões, quer de Batuque, quer de Marabaixo, demonstrando que estão indissociavelmente ligados à vida rural, refletindo, por assim dizer, a situação de isolamento cultural e social em que vivia a comunidade. Observamos, ainda, a recorrência da referência e reverência a Deus e a outros santos, como marca da religiosidade, pois há sempre um verso que se reporta a alguma entidade religiosa. Os temas dos ladrões podem se referir a um fato particular, ou seja, a um determinado tema, enquanto que os versos podem não se referir à mesma temática, o que significa dizer que não há nenhuma correspondência, ou obrigação temática entre ladrão e versos. Verificamos, ainda, que os versos de uma cantiga de batuque/marabaixo podem variar de uma localidade para outra, ou seja, trata-se do mesmo ladrão, com versos diferentes, como é o caso do ladrão de Batuque Marcolina, puxado diferentemente nas comunidades de Igarapé do 53


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