Tr s metros acima do c u

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Estão na ponte de Corso Francia. Sobem os degraus. Aproximam-se do chafariz. Step molha a bandana e passa-a no rosto dela. — Melhor? Babi acena que sim com a cabeça. Step senta no parapeito da ponte, com as pernas abertas penduradas no vazio. Fica olhando para ela, sorrindo. — Quer dizer que você é aquela que odeia os violentos? Os brigões? Ainda bem! Se não tivessem tirado a Madalena das suas garras, a essa altura a pobre coitada estava morta. Babi dá um passo na direção dele, mas logo começa a chorar. De repente, de forma incontrolável. É como se alguma coisa houvesse se quebrado, uma represa, uma barragem que liberta aquele rio de lágrimas e soluços. Continua olhando para ela, de braços abertos, sem saber o que fazer. Finalmente, ele abraça aqueles pequenos ombros trêmulos e macios. — Vamos lá, pare com isso. Não foi culpa sua. Ela te provocou. — Eu não queria bater nela, não queria machucar a Madalena. Sério... Não era a minha intenção. — Eu sei. Step põe a mão embaixo do queixo de Babi. Recolhe uma pequena lágrima salgada, e levanta o rosto dela. Babi abre os olhos chorosos, fungando. Bate as pestanas rindo, ainda nervosa. Step aproxima-se lentamente de sua boca e a beija. Parece ainda mais macia do que de costume, quente e submissa, levemente salgada. E ela se entrega, procurando conforto naquele beijo, primeiro com doçura, depois com cada vez mais força, está tão desesperada que acaba escondendo-se no pescoço dele. E ele ampara o seu rosto molhado, a pele fresca, os pequenos soluços que nela se escondem. — Já chega. — Ele a afasta. — Pare com isso. — Step sobe no parapeito. — Se não parar de chorar, vou me jogar lá embaixo. Estou falando sério... — Ele dá alguns passos inseguros na borda do parapeito. Abre os braços tentando se equilibrar. — Vai parar ou quer que eu me jogue...? Vários metros mais abaixo está o rio tranqüilo e escuro, com a água que a noite pinta de preto, as margens cheias de moitas. Babi olha para ele preocupada, mas não pára de soluçar. — Não faça isso, eu lhe peço. — Então pare de chorar! — Não consigo... — Então tchau... Step dá um pulo e se joga lá embaixo gritando. Babi corre para a borda do parapeito. — Step! — Não dá para ver nada, só a lenta correnteza do rio que arrasta a água. — Buuu! Step desponta debaixo do parapeito e segura-a rápido pela lapela do casaco. Babi grita. — Acreditou, não foi? — Ele lhe dá um beijo.


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