NÚCLEOHUMANIDADES
geográficos ou fronteiras. Assim, um dos aspectos implícitos a essa sociabilidade pode ser a multiculturalidade, sendo este um dos movimentos sociais mais presentes no mundo de hoje e uma espécie de reação à globalização desigual que está em processo. A principal reivindicação da multiculturalidade é a preservação de um espaço para culturas minoritárias em sociedades em que outras culturas são hegemônicas (Cf. GONÇALVES; SILVA, 1998). Como no caso dos negros norte-americanos que pleiteiam reformas curriculares sensíveis à sua perspectiva cultural, entre outras coisas. Acima de tudo, o multiculturalismo é a busca da convivência harmônica entre culturas diferentes. Segundo Canclini, existe uma diferença de perspectiva entre o mundo anglo-saxão e o mundo latino quanto à multiculturalidade, que pode ser assim caracterizada, pois, enquanto na América Latina o hibridismo faz parte do discurso de construção das identidades nacionais, no mundo anglo-saxão o multiculturalismo significa um respeitoso separatismo (Cf. CANCLINI, 1999, p. 22). Assim, entendendo o multiculturalismo como mais do que a simples convivência a distância, mas como interação, este se torna um dos aspectos centrais da cibermestiçagem. Claro que na internet também existem movimentos de reafirmação étnica, separatismos e racismo, no entanto, a mistura ainda parece ser uma tendência mais desejável. A figura ao lado nos dá uma idéia bem clara da distribuição da internet pelo mundo em 1999. A figura ilustra ainda uma grande concentração na América do Norte e na Europa, essas duas regiões juntas equivalem à metade dos usuários do planeta6. Mas já se pode notar efeitos da expansão da rede por países latinos, entre outros. Para citar apenas um exemplo, podemos obA internet no mundo5 servar que os chats, antes dominados pelas conversações em inglês, começam a adquirir novos sotaques, o spanglish7. A todo instante estão surgindo novas transformações nos espaços onde antes só quem dominava a língua inglesa conseguia interagir. Para se compreender o fenômeno da cibermestiçagem, temos que olhar para além da dicotomia local global, como na metáfora de Latour: Uma ferrovia é local ou global? Nem uma coisa nem outra. É local em cada ponto, já que há sempre travessias, ferroviários, algumas vezes estações e máquinas para venda de bilhetes. Mas também é global, uma vez que pode transportar as pessoas (LATOUR, 1994, p. 115).
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