Abrigo: o elemento histórico transitório.

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ABRIGO: O elemento hist贸rico transit贸rio

ANA CAROLINA GODOY ARTUZO ORIENTADOR: PROF. MSc. MARIO BRAGA TFG II - 2S/2014





SER HUMANO URBANIZAÇÃO SOCIEDADE ORGANIZAÇÃO HUMANA SUSTENTABILIDADE FRACTAL CALEIDOSCÓPIO URBANO SER HUMANO

O mundo é habitado por pessoas. A urbanização existe em função das pessoas que propuseram uma Organização Própria - sociedade. A partir do momento que uma parte dessa sociedade é deixada de lado, um ciclo é quebrado.

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M I c r o U r b a n i z a ç ã o

Desde que existem as guerras, as perseguições, desde que reina a discriminação e a intolerância, há refugiados. Infelizmente, as informações nem sempre se referem às consequências que tais acontecimentos causaram na vida cotidiana das pessoas. Eles, refugiados, são de todas as raças, de todas as religiões e podemos encontrá-los em todas as regiões do mundo, Obrigados a fugir porque receiam pela sua vida e pela sua liberdade, os refugiados abandonam muitas vezes tudo o que têm: casa, bens, família e o país, rumo a um futuro incerto em terra estrangeira. Portanto, para o presente Trabalho Final de Graduação optou-se por estudar a situação dos refugiados no mundo hoje.

U B U N T U

A partir dessa problemática, o trabalho tem como objetivo fazer com que as pessoas parem e olhem para os refugiados. Fazer as pessoas imaginarem como é viver em um Campo de Refúgio. Ao analisarmos os refugiados percebemos que essas pessoas são vítimas de guerras, conflitos internos e catástrofes naturais. Vivem em acampamentos improvisados, nos quais muitas vezes falta o básico para sua sobrevivência. A partir dessa observação do cenário mundial resolveu-se propor um abrigo juntamente com uma urbanização que pode ser reproduzida em larga escala para melhor atender as necessidades básicas dessa população. O Ser Humano gera uma urbanização que gera uma organização Humana, porém ele mesmo está sendo vítima da sua própria maneira de ocupação, pois existem hoje conflitos, guerras entre outras degradações humanas. Esses seres humanos desalojados de suas casas, países necessitam de tudo, mas o principal é a reconstrução de sua própria história.

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M I c r o U r b a n i z a ç ã o

"O homem da modernidade é, por excelência, um nômade: desde o advento da revolução industrial, cria e aperfeiçoa veículos que lhe proporcionam desenvolver nova estrutura de deslocamento, nova velocidade e nova apreensão da paisagem. Por consequência, forja uma nova fórmula de lidar com o espaço e com o tempo." (Bogéa, Marta. Cidade errante: arquitetura em movimento / Marta Bogéa - São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009)

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Como afirma Marta Bogéa na introdução de Cidade errante, "a arquitetura pela primeira vez na história, desenraiza-se, perdendo o vínculo secular com o território onde se constituiu". Essa arquitetura "redefine o conceito de tempo enquanto lhe é subordinada. A velocidade exige enorme capacidade de adaptação. Aos indivíduos, a perda da segurança ancestral da tribo, a redefinição de conceitos como amizade, família e convívio social, a solidão em meio às massas incógnitas. Às cidades, a capacidade de, quanto sólidas, tornar-se líquidas. Parece significativo, numa época de rápidas transformações, que se pense em espaços onde, mais do que uma alucinante e incessante destruição, seja necessária uma materialidade que absorva as alterações." (Bogéa, Marta. Cidade errante: arquitetura em movimento / Marta Bogéa - São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009 A arquitetura é um elemento que, mesmo passando desapercebido, faz parte do cotidiano das pessoas. Ela tem a capacidade de fazer com que as pessoas se sintam pertencentes a um lugar, parte integrante de seu território. Todo refugiado perdeu ou deixou o seu território, o seu lugar. Eles são inseridos em um novo contexto por um período. Possuem um novo l ar transitório. Essa arquitetura tem que atender esse cotidiano fazendo com que eles consigam resgatar o mínimo de privacidade e cidadania necessária para a sobrevivência de seu grupo familiar. Os abrigos são universos em deslocamento, atrasados e preocupados com o próximo movimento. São portanto transitórios, mas sem um prazo definido para acontecer essa transição. O espaço, "abrigo" e sua forma de organização assim como as atividades desenvolvidas nele deixam marcas naqueles que a utilizam, da mesma forma que esses mesmos indivíduos marcam esses espaços com suas existências.

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Histórico

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A história dos refugiados os remete aos primórdios da civilização humana, onde as pessoas já sofriam perseguições por várias razões ou eram simplesmente excluídas da sociedade. Os refugiados, vítimas da violação dos direitos humanos, pertencem a todas as raças e religiões e podemos encontra-los em qualquer parte do mundo. São homens, mulheres e crianças que a cada instante são obrigados a fugir do lugar onde residem em razão de guerras, perseguições, discriminações, intolerância, catástrofes naturais, etc. Exemplos dessa intolerância podem ser vistos ao longo da história, como quando em 1992, após a campanha militar de Sadan Hussein contra a rebelião curda, mais de 1,5 milhão de pessoas fugiram do norte do Iraque. Milhares deles tiveram a entrada recusada pela Turquia e ficaram abandonados em montanhas perto da fronteira. Outro exemplo foi o conflito na Guiné em 2001, um país com mais de 400 mil refugiados, muitos originários de Serra Leoa e Libéria queriam voltar para casa, mas estavam encurralados entre o exército e os rebeldes.

Refugiados são seres humanos. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/c ommons/1/13/2013-02-16_-_Wien__Demo_Gleiche_Rechte_f%C3%BCr_all e_(Refugee-Solidarit%C3%A4tsdemo)__Refugees_are_human_beings.jpg

Tsunami no Japão. Fonte: http://1.bp.blogspot.com/d364eKkVcaI/TX9FjKVjPuI/AAAAAAAA ACo/M8g3FpT8zNk/s1600/20110312_ J A P A N - s l i d e - H G 4 T jumbo%255B1%255D.jpg

Com relação as catástrofes naturais podemos citar como exemplo o Haiti que em 2010 foi surpreendido por um terremoto de 7,3 graus na Escala Richter e outros 2 menores. Estima-se que metade das construções foram destruídas (prédios públicos, hospitais, escolas e casas), deixando 250 mil pessoas feridas, 2,3 milhão de habitantes desabrigados e 230 mil mortos. Passados 4 anos da tragédia 171,974 mil pessoas ainda vivem em campos de desabrigados, segundo a Anistia Internacional. Existem 306 acampamentos que alojam desabrigados no país. Desse total apenas 8% tem fornecimento de água, 4% gestão de resíduos, 54% (166) tem banheiros (o que representa um vaso sanitário para cada 144 pessoas). Em 11 de Março de 2011 um terremoto atingiu a Costa Leste do Japão com 8,8 graus de magnitude, foi considerado o mais forte já registrado no país e o sétimo mais intenso do mundo, de acordo com o USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos), seguido de um Tsunami e provocou uma crise nuclear considerada uma das piores desde o incidente em Chernobyl (1986 - Norte da Ucrânia). Essa catástrofe deixou mais de 153 mil desabrigados, os quais se encontram alojados em 2300 centros de evacuação em todos nordeste japonês. Diante disso podemos dizer que temos uma história de guerras, conflitos e catástrofes naturais que deixaram e deixam mais de centenas de milhões de pessoas desabrigadas e exiladas de seu próprio país, muitas vezes com dificuldades de recuperar ou mesmo reconstruir suas vidas em seu país de origem ou outro.

Tsunami no Japão. Fonte: T e r r e m o t o n o H a i t i . F o n t e : http://veja.abril.com.br/complemento http://veja.abril.com.br/blog/augusto- s-materias/zoom/imagem2.JPG nunes/files/2012/02/terremoto-haiti20100118.jpg ACNUR

Com o fim da II Guerra Mundial e no intuito de ajudar o grande número de refugiados europeus que ainda estavam sem casas, a ASSEMBÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS em 14 de Dezembro de 1950 criou O ACNUR, que iniciou suas atividades em Janeiro de 1951. ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA REFUGIADOS é também conhecido como Agência da ONU para Refugiados e até hoje já ajudou mais de 50 milhões de pessoas e inclusive já recebeu o Prêmio Nobel da Paz duas vezes (1954 e 1981). É uma organização humanitária, apolítica e social que segue dois objetivos: - “proteger homens, mulheres e crianças refugiadas e - buscar soluções duradouras para que possam reconstruir suas vidas em um ambiente normal” Possui também o mandado de : -“dirigir o coordenar a ação internacional para proteger e ajudar as pessoas deslocadas em todo mundo”. Aproximadamente 43 milhões de pessoas estão hoje sob proteção do ACNUR, distribuídos em todos os continentes, entre eles: solicitantes de refúgio, apátridas¹, deslocados internos² e repatriados³.

F o n t e : http://static2.businessinsider.com/imag e/5238dccaecad04be35b27517-1200750/ap672972241718(1).jpg

Dia Mundial dos Refugiados. Fonte: http://www.hrc.co.nz/2014/06/20/nzer s-encouraged-to-support-worldrefugee-day/

¹ Pessoa que perdeu sua nacionalidade e ainda não adquiriu outra; ou quem não tem pátria. ² Pessoas deslocadas dentro do seu próprio país; pessoas que não atravessam a fronteira do seu próprio país em busca de segurança, mas permanecem em seu país natal. ³ Pessoa restituída a pátria; fazer regressar a pátria; voltar a pátria. No geral, as maiores populações de refugiados sob os cuidados do ACNUR por país de origem são afegãos, sírios e somalis, que juntos representam mais da metade do total mundial de refugiados. A sede da organização está localizada na Cidade de Genebra – Suíça. Atualmente o ACNUR tem cerca de 7200 funcionários, porém somente 705 trabalham na sede em Genebra. O restante apresentam-se nos campos e trabalham na assistência direta aos refugiados.

Desastre no Haiti. Fonte: http://losstones.files.wordpress.com/ 2011/03/haiti-foto-principal.jpg

Resultado Tsnunami no Japão. Fonte: http://www.jornalreal.com.br/site/image s/stories/slide/tsunami-terremotojapao-2011.jpg

O ACNUR se mantém por meio de contribuições voluntárias de países doadores e conta com um orçamento atual de U$$ 3 bilhões por ano. Com isso atua em 126 países que contam com regiões de conflito (ex: Sudão, Chade e Colômbia), zonas afetadas por catástrofes naturais e em operações de repatriação de refugiados, como em Angola e Afeganistão. 04/22

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ACNUR NO BRASIL

REFUGIADOS NO BRASIL HOJE

No Brasil o trabalho realizado pelo ACNUR é o mesmo que em todos os outros países: “proteger os refugiados e promover soluções o mais duradouras para seus problemas”. O Brasil foi o primeiro país do Sul a aprovar a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951, em 1960. Foi também um dos primeiros países responsável pela aprovação dos programas de orçamentos anuais da agência, integrante do Comitê Executivo do ACNUR. O Brasil é reconhecido internacionalmente como um país acolhedor, porém os refugiados encontram aqui os mesmos problemas dos brasileiros para sua inserção na sociedade, como: dificuldades em encontrar emprego; acesso à educação superior; problemas nos serviços públicos; saúde e etc. Além das dificuldades com a língua e cultura. O escritório do ACNUR no Brasil está localizado em Brasília e trabalha em cooperação com o CONARE – Comitê Nacional para os Refugiados, ligado ao Ministério da Justiça. O ACNUR possui também uma Unidade de Campo na Cidade de São Paulo.

Atualmente no Brasil existem 5,2 mil refugiados de 79 nacionalidades. O maior grupo é o de Colombianos totalizando 1154 pessoas. Os Angolanos estão na segunda posição com 1062 pessoas. O terceiro maior grupo é o de Congoleses com 617 pessoas. Com 333 pessoas os Sírios ocupam o quarto lugar. Os pedidos de refúgio cresceram de maneira exorbitante no país. Em 2010 foram 566, contra 5256 em 2013. As solicitações aceitas também aumentaram de 126 em 2010 para 649 em 2013. Para André Ramirez, representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) no Brasil, o acirramento de conflitos, como a guerra civil na Síria é um dos fatores fundamentais para esse alto fluxo, mas ressalta uma presença maior do Brasil no cenário internacional. “As solicitações aumentaram no mundo todo. Além das crises humanitárias antigas, como a do Iraque e a do Afeganistão, em 2011 houve a Primavera Árabe. Problemas na Costa do Marfim, no Mali, na Somália e no Sudão do Sul também foram registrados”. Entre as cidades brasileiras que mais recebem solicitações de refúgio estão: São Paulo, Brasília, Guaíra (PR – fronteira com o Uruguai) e Epitaciolândia (AC – fronteira da Bolívia e também perto do Peru). O Brasil é um dos poucos países que participam do programa de reassentamento do ACNUR.

Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Fonte: http://mcapaz.org/wp-content/uploads/2013/10/LOGOTIPOACNUR.jpg

CONARE O Comitê Nacional para os Refugiados foi criado pela Lei brasileira de refúgio, sendo um órgão interministerial presidido pelo Ministério da Justiça, o qual reúne segmentos representativos e tem por finalidade: Analisar o pedido e declarar o reconhecimento da condição de refugiado; Orientar e coordenar as ações necessárias à eficácia da proteção, assistência e apoio jurídico aos refugiados.

Imigrantes na rodoviária de Epitaciolândia, cidade que fica a 90km da fronteira entre Brasil e Peru; rede internacional de tráfico de imigrantes, atua livremente na fronteira amazônica. F o n t e : http://fotografia.folha.uol.com.br/galeri as/25595-trafico-de-imigrantes#foto397266

Abrigo em Brasiléia, AC. F o n t e : http://fotografia.fol ha.uol.com.br/galeri as/25595-trafico-deimigrantes#foto397266

Imigrantes no parque de exposição, que se transformou em um abrigo improvisado do governo do Acre. Fonte: http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/25595-trafico-deimigrantes#foto-397266

Senegaleses praticam o islã no abrigo do parque de exposição que se transformou em abrigo improvisado no acre. F o n t e : http://fotografia.folha.uol.com.br/galeria s/25595-trafico-de-imigrantes#foto397266

Imigrante no parque de exposição, que se transformou em um abrigo improvisado do governo do Acre. F o n t e : http://fotografia.folha.uol.com.br/galeria s/25595-trafico-de-imigrantes#foto397266

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REFUGIADOS NO MUNDO HOJE

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Atualmente existem diversos conflitos pelo mundo além das catástrofes naturais que deixam milhares de refugiados. Segundo relatório do ACNUR de 20/06/2014, em 2013 foi contabilizado 50 milhões de pessoas deslocadas à força, o número mais elevado desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo Antonio Guterres em 2013 havia 10,7 milhões de novos deslocados e 2,5 milhões de novos refugiados, o que caracterizou como “aumento colossal”. «Isso demonstra que a paz está seriamente em déficit (...) Assistimos a uma multiplicação de novas crises (...). Ao mesmo tempo, antigas crises parecem nunca acabar e os problemas continuam em vários lugares do mundo", declarou Guterres, ressaltando a capacidade limitada da comunidade internacional para encontrar soluções e prevenir crises. "Vemos que o Conselho de Segurança [das Nações Unidas] está paralisado perante muitos problemas cruciais".

F o n t e : http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/migrantes/mudanca. shtml

DEFINIÇÕES Refugiado Um refugiado é uma pessoa que "receando com razão ser perseguida em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, filiação em certo grupo social ou das suas opiniões políticas, se encontre fora do país de que tem a nacionalidade ou não possa ou, em virtude daquele receio, não queira pedir proteção daquele país...". Convenção de 1951 relativa ao Estatuto do Refugiado. Apátridas Pessoa que perdeu sua nacionalidade e ainda não adquiriu outra; ou quem não tem pátria. Repatriados Pessoa restituída a pátria; fazer regressar a pátria; voltar a pátria. Deslocados Internos Pessoas deslocadas dentro do seu próprio país; pessoas que não atravessam a fronteira do seu próprio país em busca de segurança, mas permanecem em seu país natal. Reassentados Que recebeu novamente a posse de uma gleba. Criança refugiada Síria. Fonte: http://www.humanosphere.org/basics/2014/01/syrian-refugees-lackaccess-information-news/

Como afirma Antonio Guterres: "Estamos com um problema cada vez maior e, ao mesmo tempos, poucos recursos para ajudar tanta gente em circunstâncias tão trágicas. Esses conflitos não geram só um desafio humanitário, mas representam hoje uma ameaça para a paz global".

45,2 milhões de pessoas deslocadas à força em todo o mundo no final de 2012, Deslocados de Yazidi seita, fugindo dos militantes do Estado Islâmico no Sinjar, caminhando em direção à fronteira com a Síria. Fonte: dos quais 15,4 milhões são refugiados e 28,8 milhões descolados internos. http://www.ibtimes.co.uk/yazidi-refugee-made-mountain-goat-suckle-her-twoFonte: http://www.acnur.org/t3/portugues/recursos/estatisticas/ month-old-baby-survive-1460917 06/22

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MELISSA FLEMING Melissa Fleming, chefe de comunicação e chefe porta voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, após estudo, ministrou uma palestra no TedGlobal que aconteceu no Rio de Janeiro em Outubro desse ano. Ela pronunciou as seguintes palavras: Eu comecei a trabalhar com refugiados porque eu queria fazer a diferença, e fazer a diferença começa ao contar as histórias deles. Ao conhecer refugiados sempre faço perguntas. - Quem bombardeou sua casa?/ Quem matou seu filho? / O restante da sua família sobreviveu? / Como você lida com a vida no exílio? Mas há uma pergunta que sempre me parece mais reveladora, e é esta:

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Lembro que fiz uma visita recente a um campo de refugiados na Síria, no nordeste do Iraque, e encontrei essa menina (3), e pensei: ela é linda, e perguntei a ela: Posso tirar uma foto sua? E ela disse: sim, mas recusou-se a sorrir. Penso que ela não conseguia, porque ela deve pensar que representa uma geração perdida de crianças sírias refugiadas, uma geração isolada e frustrada. E ainda assim, vejam do que fugiram (4): destruição total, prédios, indústrias, escolas, estradas, casas. A casa de Hany também foi destruída. Isso terá que ser reconstruído por arquitetos, engenheiros, eletricistas. As comunidades precisarão de professores, advogados e políticos interessados em reconciliação e não em vingança. Será que isso não deveria ser reconstruído pelo povo que mais tem a perder, os que estão no exílio, os refugiados?

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O que você pegou? Qual foi a coisa mais importante que você levou consigo enquanto as bombas explodiam em sua cidade, e as gangues armadas se aproximavam de sua casa? Um menino sírio refugiado que conheço disse que não hesitou quando sua vida estava em perigo iminente. Ele pegou o diploma de ensino médio, e depois me disse o motivo: "Peguei meu diploma de ensino médio porque minha vida dependia dele." E ele arriscou a vida para conseguir esse diploma. No caminho para a escola, ele se esquivava de atiradores. Sua sala de aula, ás vezes, tremia com o som de bombas e canhões, e sua mãe me disse: "Toda manhã, eu dizia a ele: "Querido, por favor, não vá a aula." E quando ele insistia, ela me disse: "Eu o abraçava como se fosse a última vez." Mas ele disse à sua mãe: "Estamos todos com medo, mas nossa determinação para nos formarmos é mais forte do que nossos medos.» Um dia a família teve notícias terríveis. A tia, o tio e o primo de Hany foram mortos em casa por terem se recusado a sair de lá. Suas gargantas foram cortadas. Era hora de fugir. Eles fugiram naquele dia, imediatamente, de carro, Hany escondido atrás pois eles passavam por barreiras de soldados ameaçadores. E atravessaram a fronteira do Líbano, onde encontrariam a paz. Mas começaram uma vida de imensas dificuldades e monotonia. Sem alternativa, tiveram que construir um abrigo ao lado de um lamaçal, e esse é o irmão de Hany, Ashraf (1), brincando lá fora. Nesse dia, eles se juntaram à maior população de refugiados do mundo, em um país, Líbano, que é pequeno. Só tem 4 milhões de cidadãos, e há um milhão de refugiados sírios vivendo lá. Não há uma cidade ou vila que não asile refugiados sírios. Isso é generosidade e humanidade e isso é impressionante.

(3) Menina em campo no I r a q u e . F o n t e : http://www.ted.com/talks /melissa_fleming_let_s_h elp_refugees_thrive_not_ just_survive

(4) Refugiados fugindo da destruição. Fonte: http://www.ted.com/talks/ melissa_fleming_let_s_he lp_refugees_thrive_not_j ust_survive

( 5 ) F o n t e : http://www.ted.com/t alks/melissa_fleming _let_s_help_refugee s_thrive_not_just_su rvive

Os refugiados têm muito tempo para se prepararem para o retorno. Vocês podem imaginar que ser um refugiado é só um estado temporário. Nada disso. Com guerras que não findam, o tempo médio de um refugiado no exílio é de 17 anos. Hany estava em seu segundo ano no limbo quando fui visitá-lo recentemente, e nossa conversa foi toda em inglês, o qual ele confessou ter aprendido lendo todos os livros de Dan Brown e também ouvindo rap americano. Nós também tivemos agradáveis momentos de alegria e diversão com o irmão dele, Ashraf. Nunca esquecerei o que ele disse quando terminamos nossa conversa naquele dia. Ele me disse: "se eu não sou um estudante, não sou nada.»

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Hany é uma das 50 milhões de pessoas refugiadas no mundo hoje. Nunca, desde a 2° Guerra Mundial, tantas pessoas foram forçadas ao exílio. Então, enquanto fazemos um progresso estrondoso na saúde humana, tecnologia, educação e design, estamos perigosamente fazendo pouco para ajudar as vítimas e estamos fazendo muito pouco para impedir e prevenir as guerras que os tiram de seus lares. E há cada vez mais vítimas. Todo dia, em média, até o fim deste dia, 32 mil pessoas deixarão seus lares à força - 32 mil pessoas. Elas fogem cruzando fronteiras, ou elas fogem em botes inavegáveis e superlotados (5) arriscando suas vidas. Um jovem sírio sobreviveu a um desses botes que virou - a maioria se afogou - e ele nos disse: "os sírios estão apenas em busca de um lugar tranquilo, onde ninguém nos machuque, onde ninguém nos humilhe, e onde ninguém nos mate." Penso que isso deve ser o mínimo.

(1) Ashraf, irmão de Hany. Ao fundo (2) Menininha Síria duas horas depois abrigo construído pela família. Fonte: de chegar na Jordânia. Fonte: http://www.ted.com/talks/melissa_flemin http://www.ted.com/talks/melissa_fle g_let_s_help_refugees_thrive_not_just_ ming_let_s_help_refugees_thrive_not survive _just_survive

Pensem sobre isso assim, proporcionalmente. Seria como se toda a população da Alemanha, 80 milhões de pessoas, fugissem para os Estados Unidos em apenas três anos. Metade de toda a população da Síria está refugiada, a maioria no interior do país. Seis milhões e meio de pessoas fugiram para salvar suas vidas. Muito mais de 3 milhões de pessoas atravessaram as fronteiras e encontraram asilo nos países vizinhos, e apenas um número pequeno, mudou-se para a Europa. Penso que o mais preocupante é que metade dos refugiados sírios são crianças. Tirei a foto dessa menininha (2). Duas horas após a sua chegada após uma longa caminhada da Síria até a Jordânia. E o maior problema é que apenas 20% das crianças sírias refugiadas frequentam a escola no Líbano. Ainda assim, as crianças sírias refugiadas, todas as crianças refugiadas nos dizem que a educação é a coisa mais importante da vida delas. Por que? Porque ela permite que elas pensem no futuro em vez de pensar no passado de pesadelos. Permite-lhes pensar em esperança em vez de ódio.

Que tal um lugar de cicatrização, de aprendizado e até de oportunidades? Americanos e europeus têm a impressão que proporcionalmente grandes número de refugiados estão vindo para os seus países, mas a realidade é que 86%, a grande maioria dos refugiados está morando no mundo em desenvolvimento em países que lutam contra sua própria insegurança, seus problemas de ajuda a seu próprio povo e a pobreza. Assim países ricos do mundo devem reconhecer a humanidade e generosidade dos países que estão asilando tantos refugiados. E todos os países devem se certificar que ninguém fugindo da guerra e perseguição chegue a uma fronteira fechada. Mas há algo mais que podemos fazer além de simplesmente ajudar os refugiados a sobreviver. Podemos ajudá-los a prosperar. Devemos pensar nos campos e comunidades de refugiados não só como centros populacionais temporários, onde as pessoas padecem esperando o fim da guerra (6). E sim como centros de excelência onde refugiados podem vencer o trauma e treinar para o dia em que voltarão para casa como agentes de mudança positiva e transformação social. Isso faz muito mais sentido, mas lembro da terrível guerra na Somália que já dura 22 anos. 07/22



Imagine morar nesse campo (7). Visitei esse campo. Fica em Djibouti, vizinho da Somália, e era tão afastado que precisamos de um helicóptero para chegar lá. Tinha muita poeira e era terrivelmente quente. E visitamos uma escola e começamos a conversar com as crianças, e aí vi essa menina (8) do outro lado da sala que parecia ter a mesma idade da minha filha, e fui conversar com ela. E fiz perguntas que adultos fazem às crianças, como: qual sua matéria favorita? e o que você quer ser quando crescer? E foi aí que o rosto dela ficou sem vida, e ela disse: "não tenho futuro. Meus dias de escola terminaram." E pense, deve haver algum engano, então, virei para minha colega e ela confirmou não haver fundos para o ensino médio nesse campo. E como desejei naquele momento poder dizer a ela: Nós construiremos uma escola para você." E também pensei: que desperdício! Ela deveria ser e é o futuro da Somália.

Falei com ele pelo Skype outro dia, e ele estava na universidade, na Flórida, para conseguir seu Ph.D. em saúde pública e ele orgulhosamente disse como era capaz de levantar fundos junto ao povo americano para fazer uma clínica de saúde na vila em sua terra natal. Então quero retornar ao Hany. Quando disse a ele que eu teria a chance de falar aqui no palco do TED, ele permitiu que eu lesse um poema que ele me enviou por email. Ele escreveu: «Sinto falta de mim, dos meus amigos, de ler romances e escrever poemas, dos pássaros e do chá da manhã. Do meu quarto, meus livros, de mim, e de tudo que me fazia sorrir. Oh, oh, eu tinha tantos sonhos que estavam para se realizar." Então eis o que penso: Não investir em refugiados é uma imensa perda de oportunidade. Deixe-os ao abandono, e eles sofrem risco de serem explorados e sofrerem abuso, e deixe-os sem qualificação e educação, e atrase por anos o retorno à paz e prosperidade em seus países.

( 6 ) F o n t e : http://www.ted.com/talks/meliss a_fleming_let_s_help_refugees_t hrive_not_just_survive

( 7 ) F o n t e : http://www.ted.com/talks/meliss a_fleming_let_s_help_refugees_ thrive_not_just_survive

( 8 ) F o n t e : http://www.ted.com/talks/meliss a_fleming_let_s_help_refugees_t hrive_not_just_survive

( 9 ) F o n t e : http://www.ted.com/talks/meliss a_fleming_let_s_help_refugees_ thrive_not_just_survive

Um menino chamado Jacob Atem teve uma chance diferente, mas não antes de vivenciar uma tragédia terrível. Ele viu quando sua vila - ele tinha apenas sete anos - virou cinzas (9), e ele soube que sua mãe e pai e a família toda foram mortos naquele dia. Somente o primo sobreviveu, e os dois andaram por sete meses (10), caçados e perseguidos por animais selvagens e gangues armadas, e eles chegaram finalmente aos campos de refugiados onde encontraram segurança, e ele ficou os sete anos seguintes no Quênia, em um campo de refugiados. Mas a vida dele mudou quando ele teve a chance de morar nos Estados Unidos, onde encontrou amor em uma família adotiva e pode ir para a escola, e ele pediu que eu compartilhasse com vocês esse momento de orgulho em que ele se formou na universidade (11).

( 1 0 ) F o n t e : http://www.ted.com/talks/meliss a_fleming_let_s_help_refugees_t hrive_not_just_survive

Acredito que o jeito de tratarmos os refugiados moldará o futuro do nosso mundo. As vítimas de guerra podem ter as chaves da paz duradoura e são os refugiados que podem parar o ciclo de violência. Hany está em um momento crítico (12). Adoraríamos ajudá-lo a ir para a universidade e se tornar um engenheiro, mas nossos fundos são priorizados para o básico da vida: tendas, cobertores, mantas e kits de cozinha, comida racionada e um pouco de medicamento. A universidade é um luxo. Mas deixá-lo padecendo nesse lamaçal, e ele se tornará um membro de uma geração perdida. A história de Hany é uma tragédia, mas não tem que terminar assim.

( 1 2 ) F o n t e : http://www.ted.com/talks/melissa_fleming_let_s_ help_refugees_thrive_not_just_survive

( 1 1 ) F o n t e : http://www.ted.com/talks/meliss a_fleming_let_s_help_refugees_t hrive_not_just_survive M e l i s s a F l e m i n g . F o n t e : http://www.ted.com/talks/melissa_fleming_let_ s_help_refugees_thrive_not_just_survive

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CAMPO DE REFUGIADO ZAATARI

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Atualmente muitos campos de refugiados estão evoluindo para assentamentos permanentes, como o campo de refugiados Sírios, Zaatari, localizado na Jordânia. Inaugurado em 28 de Julho de 2012 foi feito para receber sírios que fugiam da violência da guerra civil síria.

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O acampamento é composto por mercados em sua rua principal, com legumes, utensílios doméstico básicos e roupas, podendo todos esses produtos serem comprados. Também possui lojas de café. Há um sério problema dentro do campo com o crescente número de relatos de crimes, incluindo prostituição e tráfico de drogas. Em Outubro de 2014 havia 80.230 refugiados vivendo no campo. É o maior centro populacional da Jordânia. Em Maio de 2013 existia um total de 28,243 abrigos e um total de 1,662 tendas de infra estrutura em 530,95 hectares de campo. Entre 15 de Abril e 4 de Maio de 2013 3,754 abrigos foram desocupados ou transferidos e um total de 6,545 abrigos foram construídos. O campo sobrevive, e é administrado por organizações humanitárias, como o ACNUR, Médicos sem Fronteiras, CICV, Unicef, PMA, entre muitos outros.

Refugiados Sírios no campo Zaatari. Fonte: http://www.humanosphere.org/basics/2014/01/syrian-refugees-lackaccess-information-news/

Implantação campo Zaatari. Fonte: https://publicintelligence.net/al-zaatari-refugee-camp/

Rua principal do campo Zaatari. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Zaatari_refugee_camp#mediaviewer/File:Zaatari_refu gee_camp,_Jordan_(2).jpg

Abrigos campo Zaatari. Fonte: http://omarcgarcia.files.wordpress.com/2013/04/zaatari-camp-kidscopy.jpg

Essa arquitetura "redefine o conceito de tempo enquanto lhe é subordinada. A velocidade exige enorme capacidade de adaptação. Aos indivíduos, a perda da segurança ancestral da tribo, a redefinição de conceitos como amizade, família e convívio social, a solidão em meio às massas incógnitas. Às cidades, a capacidade de, quanto sólidas, tornar-se líquidas. Parece significativo, numa época de rápidas transformações, que se pense em espaços onde, mais do que uma alucinante e incessante destruição, seja necessária uma materialidade que absorva as alterações." (Bogéa, Marta. Cidade errante: arquitetura em movimento / Marta Bogéa - São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009)

C a m p o Z a a t a r i . F o n t e : http://i1.mirror.co.uk/incoming/article2067038.ece/alternates/s21 97/An-aerial-view-shows-the-Zaatari-refugee-camp.jpg 09/22

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CAMPOS DE REFUGIADOS

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Há diversas maneiras de urbanização e organização dentro de um campo de refúgio. Existem campos projetados, como Azarq e Za’atari na Jordânia e existem campos improvisados, onde em determinadas áreas, normalmente de conflito, as pessoas se apropriam de um espaço, construindo seus abrigos e, não intensionalmente mas consequentemente, vivenciam uma nova forma de urbanização, que combina caos e organização, pertença e temporariedade. Dados de 2006 mostram que na época existiam 10 campos na Síria, 12 campos no Líbano, 10 campos na Jordânia, 8 campos em Gaza e 19 campos na Cisjordânia.

C a m p o d e r e f u g i a d o Vi l a d o Pa n i a n , n o Pa q u i s t ã o . Fonte:http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/os-13-maiorescampos-de-refugiados-do-mundo

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C a m p o K a k u n a , K e n y a . Fonte:http://www.gizmodo.com.au/2013/09/9-massiverefugee-camps-that-are-home-to-nearly-15-million-people/

C a m p o D a d a a b n o L e s t e d o Q u ê n i a . Fonte:http://fotospublicas.com/confira-imagens-maior-campo-derefugiados-mundo-o-assentamento-de-dadaab-leste-quenia/

Campo de Refugiados de Kukes, perto de Tirana, Albania. Fonte:http://ardor.net/artlia/index.htm?path=/the%20ear th%20from%20sky&page=47

Ras Ajdir, campo de refugiados na Líbia, fronteira com a Tunísia. Fonte:http://noticias.terra.com.br/mundo/africa/crise-na-libiaf a z - m i l h a r e s - d e - r e f u g i a d o s - v e j a fotos,89089ab35fbda310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html

A c a m pa m e n t o d e r e f u g i a d o s n o S u d ã o d o S u l . Fonte:ht tp://static.guim.co.uk/sysimages/Guardian/Pix/pictures/2010/8/26/128280927133 7/flood-refugees-camp-in-Su-002.jpg

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Um campo de container em uma base de refugiados na Turquia. Fo n t e : h t t p : / / i m a g e s . n at i o n a l g e o g r a p h i c . c o m / w p f / m e d i a content/photos/000/682/68237-cb1370535988.jpg 10/22



FRACTAL

CALEIDOSCÓPIO URBANO

Fractal é um objeto geométrico que pode ser dividido em partes com segmentos semelhantes entre si. A principal característica é a autosimilaridade. Pode ser gerado por um padrão repetido.

A inspiração da implantação através de um fractal propõe que todo projeto dos abrigos caibam dentro de um determinado espaço. Entretanto, sabe-se que a urbanização desta «cidade ocasional» provém de uma diversidade de culturas e indivíduos.

"Eles contêm, dentro de si, cópias menores deles mesmos. Essas cópias, por sua vez, contêm cópias ainda menores e assim sucessivamente", explica Eduardo Colli, professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP). Outra característica é que possuem complexidade infinita: um zoom em um detalhe da imagem revela novos detalhes. O significado de fractal foi introduzido por Benoît Mandelbrot , como ele explica: «Eu cunhei a palavra fractal do adjetivo em latim fractus. O verbo em latim correspondente frangere significa quebrar: criar fragmentos irregulares, é contudo sabido - e como isto é apropriado para os nossos propósitos! - que, além de significar quebrado ou partido, fractus também significa irregular. Os dois significados estão preservados em fragmento».

Torna-se necessário, portanto, que exista movimento dentro desse fractal. Para melhor exemplificar surge a ideia do caleidoscópio, que não passa de um conjunto formado através de um mesmo fractal que se repete e se movimenta, criando infinitas possibilidades, porém nunca comprometendo a sua forma inicial. Todos os movimentos podem ser controlados a partir de uma premissa arquitetônica que tende a configurar espaços que delimitam o ir e vir, criam uma sensação de acolhimento enquanto cidade, mas nunca comprometendo o sentido único da temporariedade. É essencial para as pessoas que são submetidas a uma vida em abrigos que o caos urbano seja controlado. Sem isso, de nada serve espaços ordenados, serviços planejados, arquiteturas contemporâneas se a causa maior não for a sensação de pertença.

Curva de Von Koch, também conhecido como «floco de neve». Fonte: http://www.dmf.unicatt.it/~musesti/copernico2009/frattali_html_57fb54bd.png

A curva de Von Koch é uma curva geométrica e um dos primeiros fractais a serem descritos. É construída através da repetição da construção inúmeras vezes e possui um comprimento infinito.

Modelo de fr actal par a a vil a ba-ll a Fonte: http://homepages.rpi.edu/~eglash/eglash.dir/afractal/ 2.3.3.gif

Caleidoscópio. Fonte: http://coisasdoce.dominiotemporario.com/wpcontent/uploads/media/caleidoscopio2.jpg

DESENHO IMPLANTAÇÃO

A partir desse fractal que a implantação foi proposta.

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IMPLANTAÇÃO

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Implantação geral. Escala: 1:2000

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IMPLANTAÇÃO UBUNTU

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A implantação de um campo de refugiados precisa de MOBILIDADE, ITINERÂNCIA e CONEXÃO entre os espaços. Tem de ser uma arquitetura fixa que se desloca entre os lugares - um monta, desmonta, remonta e itinera! A reprodução de um mesmo modelo, uma mesma tipologia, em série não torna o espaço agradável para as pessoas que utilizarão aquele local.

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A construção e reprodução de um abrigo deve gerar uma microurbanização criando um conceito de cidadania, acolhimento urbano e não apenas de proteção e refúgio. Serão constituídas verdadeiras CIDADES OCASIONAIS. No caso das micro-urbanizações (cidades ocasionais), os espaços de convivência são tão importantes como nas "verdadeiras cidades", pois são necessários para a sobrevivência da população, devido ao fato de todos estarem em situações extremas: psicológicas, emocionais e algumas vezes físicas; a relação de convívio entre eles é imprescindível para uma união.

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O objetivo de um campo de refúgio é reconstruir cidadãos, famílias e agrupamentos familiares. É de ajudar as pessoas a prosperarem e não criar dependências. O retorno dessa ajuda virá depois que essas pessoas forem reinseridas em suas respectivas sociedades, ou outras.

64,00m Sobreposição Implantação Za’atari e proposta de Implantação Ubuntu.

A implantação possui uma rua principal que abrigará todo tipo de comércio e serviços institucionais. A partir dela criam-se ruas secundárias, as quais darão acesso a núcleos com 14 abrigos cada um. A ideia de criar núcleos deve-se ao fato de que os refugiados são oriundos de lugares diferentes, ou até de um mesmo local, porém podem possuir culturas, religiões e opiniões diferentes.

88,50m

Esse tipo de implantação cria espaços de convivência em cada núcleo, espaços importantes para gerar vínculos entre as pessoas que utilizarão os abrigos.

Módulo pia.

Módulo fogão.

As cozinhas serão equipadas com módulo pia e fogão. os módulos pia serão dotados de área elevada no piso com caixa em fita para receber as águas servidas e na parte superior uma pequena caixa d’água proporcional ao número de pessoas atendidas. Os módulos fogão serão dotados de uma caixa elevada do piso onde estarão dispostos os botijões de gás GLP recarregáveis.

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5

10

Implantação Ubuntu. Escala 1:500.

15m

Banheiros e chuveiros químicos para metade dos abrigos. Cozinha comunitária para metade dos abrigos.

O abastecimento será feito de acordo com um cronograma «número de pessoas - consumo». O acesso de veículos abastecedores será feito pelos cul-desacs.

Cozinha comunitária para metade dos abrigos. Banheiros e chuveiros químicos para metade dos abrigos.

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ABRIGOS

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Existem diversos tipos de abrigos executados por todo o mundo. Feitos pelos próprios refugiados, entregues por ONG’s que ajudam essas pessoas, criados por arquitetos famosos através de concursos, entre outros. Abaixo segue alguns exemplos de abrigos utilizados em diversas situações.

Fonte:http://www.unocha.org/sites/default/files/OCHA_ Category/Top_Stories/BA3A5881-X3.jpg

Fonte:http://www.somali.msf.org/wpcontent/uploads/2010/12/Dagahaley_FL2.jpg

Fonte:https://d28zjewj6xjjqr.cloudfront.net/api/file/ ZJGoerUzQq6qt56nEu5Q

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Fonte:http://kakuma.files.wordpress.com/2013/08/n ew-arrivals-kk3.jpg

Fonte:http://refunitebrasil.wordpress.com/2011/07/30 /empresa-de-design-japonesa-cria-abrigos-de-papelaopara-refugiados/

Fonte:http://photo.sf.co.ua/g/365/5.jpg

Fonte:ht tp://www.msf.org/sites/msf.org/files/oldcms/fms/article-images/17-65712.jpg Fonte:http://cdni.wired.co.uk/1920x1280/g_j/ Ikea-rendering.jpg

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VISTAS E MAQUETE ABRIGO UBUNTU

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Vista lateral. Escala 1:100.

Vista superior. Escala 1:100.

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Fotos por: Ivan Moretti.

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ABRIGO UBUNTU

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«Sou o que sou pelo que NÓS SOMOS." A palavra Ubuntu tem origem africana e demonstra a relação do indivíduo com a comunidade. Ubuntu - "a minha humanidade está inextricavelmente ligada à sua humanidade." Essa é a teologia ubuntu dada pelo arcebispo anglicano Desmond Tutu.

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Nelson Mandela também explica esse ideal: "Respeito. Cortesia. C o m pa r t i l h a m e n t o . C o m u n i d a d e . G e n e r o s i d a d e . C o n f i a n ç a . Desprendimento. Uma palavra pode ter muitos significados. Tudo isso é o espírito de Ubuntu. Ubuntu não significa que as pessoas não devam cuidar de si próprias. A questão é: você vai fazer isso de maneira a desenvolver a sua comunidade, permitindo que ela melhore?»

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Esquema fixação no chão.

FIXAÇÃO NO CHÃO GROUNDBOLT Com um formato espiral pode ser martelado no solo. Irá rodar a medida que for forçado no solo. Possui uma fácil instalação e pode ser trabalhado em uma grande gama de condições de solo.

A definição de abrigo induz a refúgio, proteção, um abrigo é para ser algo temporário. Portanto sua arquitetura não deve remeter a uma casa, pois dessa maneira influencia as pessoas a querer viver naquele determinado local. Um bom exemplo para essa situação é o povo nômade, eles criavam suas tendas amparados em uma tecnologia de construção leve para transportar e ágeis para montar e desmontar. Cada abrigo possui 68,20m² e é capaz de receber 14 pessoas, portanto cada uma com aproximadamente 5m² para cada. O abrigo é de fácil montagem, com peças padrão. As peças da cobertura possuem 1m de comprimento, já a das laterais 1,5m. As únicas peças diferentes são as da estrutura posterior, que variam de tamanho para a diferenciação de altura. Os tamanhos são: 0,80m ; 1,60m ; 2,00m ; 2,40m ; 2,00m ; 1,60m e 0,80m. Cabos tensionados sustentam o abrigo contr a movimentação lateral em caso de vento.

VEDAÇÃO Cordura Considerado um dos melhores tecidos quanto a durabilidade e resistência à abrasão, cortes e rasgos.

ESTRUTURA Fibra de Carbono Com grande resistência à fadiga e rigidez, possui características de amortecimento de vibrações, resistência térmica e estabilidade dimensional. Resistência elétrica e térmica e é quimicamente inerte. Diferença de tecidos.

CONEXÕES

Sistema mero Sistema de conexões com um nó central em formato de e s f e r a q u e c o n e c ta a s barras. Parafusos e luvas proporcionam a ligação cêntrica das barras na esfera. Permite uma rápida montagem/desmontagem.

Serão aplicados diferentes tipos de tecido. Como o Ripstop, Nomex e Mesh (ideal para ventilação). Os tecidos serão fixados na estrutura por costura e será possível a abertura através de presilhas.

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PERSPECTIVAS INTERNAS

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PERSPECTIVAS INTERNAS

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PERSPECTIVAS EXTERNAS

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PERSPECTIVAS EXTERNAS

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CONCLUSÃO

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Toda pessoa tem o direito de ir e vir. Toda pessoa tem o direito à cidade. Toda criança tem direito a um futuro.

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A partir do momento que houver um investimento digno para essas pessoas, todos esses direitos irão reaparecer em suas vidas e poderão trazer um retorno de paz num futuro próximo. Esse investimento proporcionará um futuro para as crianças refugiadas, sendo este essencial, pois elas serão os seres humanos de paz de amanhã.

REFERÊNCIAS LIVROS: - Bogéa, Marta. Cidade errante: arquitetura em movimento, Marta Bogéa São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009 - Lotufo, V. A. & Lopes, J. M. A.,“Geodésicas e Cia. ", Projeto Editores Associados Ltda., São Paulo, 1981. SITES: Disponível em: http://www.acnur.org/t3/portugues/o-acnur/ . acesso em: 08/05/14 D i s p o n í v e l e m : http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ht tp://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ7605B707ITEMID5246DEB0F8CB4C1A8B9 B54B473B697A4PTBRNN.htm . acesso em: 08/05/14 Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/migrantes/slideshow1.shtml . Acesso em: 23/05/14 Disponível em: http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/25595-trafico-de-imigrantes#foto-397266 . Acesso em: 02/06/14 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/05/1461655-sem-dinheiro-haitianos-passam-fome-em-viagem-do-acre-a-saopaulo.shtml . Acesso em: 02/06/14 Disponível em: http://photoblog.nbcnews.com/_news/2012/08/23/13435698-displaced-syrians-struggle-to-find-safe-shelter?lite . Acesso em: 09/06/14 Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/04/refugiados-brasil/ . Acesso em 16/06/14 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/06/1473434-segundo-a-onu-numero-de-refugiados-no-mundo-e-de-50milhoes.shtml . Acesso em: 26/06/14 Disponível em: http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2014/06/23/noticiasjornalopiniao,3271138/numero-de-refugiados-e-um-dos-maisaltos-da-historia.shtml . Acesso em: 26/06/14 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/06/1473434-segundo-a-onu-numero-de-refugiados-no-mundo-e-de-50milhoes.shtml . Acesso em: 21/06/14 Disponível em: http://internacional.elpais.com/internacional/2014/06/20/actualidad/1403288136_711540.html . Acesso em: 21/06/14 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9474.htm . Acesso em: 09/07/14 Disponível em: https://br.noticias.yahoo.com/blogs/claudio-tognolli/crise-de-refugiados-bate-recorde-de-50-milh%C3%B5es--maior-crisedepois-da-segunda-guerra-mundial-202112537.html . Acesso em: 11/07/14 Disponível em: http://www.cordura.com/en/fabric-technology/classic-fabric.html . Acesso em: 27/09/14 Disponível em: http://avanguarda.com/isolamento-acre-deixa-mais-de-1300-haitianos-e-senegaleses-retidos-em-abrigo-na-fronteira/ . Acesso em: 09/10/14 Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Refugees_of_the_Syrian_Civil_War . Acesso em: 12/10/14 Disponível em: http://www.borgenmagazine.com/refugees-bulgaria-struggling-country/ . Acesso em: 13/10/14 Disponível em: http://cskc.daleel-madani.org/paper/official-response-syrian-refugee-crisis-lebanon-disastrous-policy-no-policy . Acesso em: 13/10/14 Disponível em: http://www.ibtimes.co.uk/yazidi-refugee-made-mountain-goat-suckle-her-two-month-old-baby-survive-1460917 . Acesso em: 17/10/14 Disponível em: https://www.icrc.org/por/resources/documents/update/2014/08-28-jordan-syrian-refugees.htm . Acesso em: 09/11/14 Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Zaatari_refugee_camp . Acesso em: 09/11/14 Disponível em: https://publicintelligence.net/al-zaatari-refugee-camp/ . Acesso em 30/10/14 21/22

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Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Zaatari_refugee_camp#mediaviewer/File:Zaatari_refugee_camp,_Jordan_(2).jpg . Acesso em: 10/11/14 Disponível em: http://omarcgarcia.files.wordpress.com/2013/04/zaatari-camp-kids-copy.jpg . Acesso em: 10/11/14 Disponível em: http://www.nydailynews.com/news/world/tsunami-hits-japan-devastating-natural-disasters-21st-century-gallery1.14725?pmSlide=1.16019 . Acesso em: 12/11/14 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fractal . Acesso em: 12/11/14 Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-sao-fractais . Acesso em: 12/11/14 Disponível em: http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm99/icm14/nocoes.htm . Acesso em: 12/11/14 Disponível em: ht tp://noticias.uol.com.br/album/2014/03/11/ha-tres-anos-japao-er a-devastado-por-terremoto-seguido-detsunami.htm#fotoNav=1 . Acesso em: 11/10/14 Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/06/140601_dez_anos_missao_brasil_haiti_lk_an . Acesso em: 12/11/14 Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2014-01-12/quatro-anos-apos-terremoto-170-mil-haitianos-aindavivht tp://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2014-01-12/quatro-anos-apos-terremoto-170-mil-haitianos-ainda-vivem-emacampamentosem-em-acampamentos . Acesso em 12/11/14 Disponível em: http://rnh3bc.wordpress.com/page/2/ . Acesso em 13/11/14 Disponível em: http://kanere.org/2013/08/28/kakuma-camp-continues-to-receive-new-arrivals/ .Acesso em: 13/11/14 Disponível em: http://www.ikeafoundation.org/about-us/ . Acesso em: 09/06/14 Disponível em: http://www.ikeafoundation.org/programmes/building-a-better-home-for-refugee-children-and-families/ . Acesso em: 12/09/14 Disponível em: http://www.greenprophet.com/2014/03/collapsible-woven-refugee-shelters-powered-by-the-sun/ . Acesso em: 13/10/14 Disponível em: http://www.acnur.org/t3/portugues/informacao-geral/perguntas-e-respostas/ . Acesso em: 24/09/14 Disponível em: http://photoblog.nbcnews.com/_news/2012/08/23/13435698-displaced-syrians-struggle-to-find-safe-shelter?lite Disponível em: http://www.conectas.org/pt/acoes/midia/noticia/17013-terra-governo-do-acre-anuncia-fechamento-de-abrigo-de-refugiadoshaitianos . Acesso em: 27/11/14 Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/refugiados/protecaorefugiado.html . Acesso em: 09/11/14 Disponível em: http://www.onu.org.br/agencia-da-onu-pede-que-paises-fornecam-abrigo-para-100-mil-sirios-em-2015-e-2016/ . Acesso em: 13/11/14 Disponível em: http://arcoweb.com.br/noticias/noticias/ikea-cria-abrigo-temporario-para-uso-campos-refugiados . Acesso em: 14/11/14 Disponível

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ht tp://www.bimbon.com.br/projeto/abrigo_par a_refugiados

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