Revista Rolimã

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5) HÁ OUTROS PROBLEMAS? A rotina dos serviços ainda é a cascata de intervenções. A mulher chega no hospital e é prescrito jejum, que não tem nenhuma justificativa técnica. O jejum é prejudicial porque a mulher vai ficar muitas horas em atividade com grande gasto de energia, precisa se hidratar, principalmente. A raspagem dos pelos ainda é feita, sem a menor justificativa técnica; a lavagem intestinal também não tem justificativa, porque o canal do parto é contaminado pelas bactérias naturais do corpo da mãe, que são benéficas para o bebê... Você não vê isso na formação dos profissionais, em livro nenhum. Nós temos que estudar por fora dos livros-textos de medicina. Essa visão de que o parto tem que ser uma cirurgia asséptica é totalmente ultrapassada, entrar num bloco cirúrgico para ganhar um neném está totalmente ultrapassado. 6) A MULHER NÃO É INFORMADA DO QUE ESTÁ SENDO FEITO... De nada disso. São procedimentos de rotina. A gente tem que transformar esse cenário, e ressignificá-lo para a mulher, para a família e para os profissionais de saúde. O que temos feito é violência contra a mulher. Não é nem uma violência só do profissional, é violência institucional. Já que existe um padrão das condutas que são realizadas naquele ambiente, as pessoas que o vivenciam nem as estranham mais. Os profissionais não reconhecem o que estão fazendo como violência.

7) É O CASO DA EPISIOTOMIA, POR EXEMPLO? Muitas vezes fazem a episiotomia, o corte da vagina, numa frequência que é quase rotina. É um procedimento que tem indicação precisa, não é necessário na maioria das vezes. Quando a mulher está em processo de parto natural, a dilatação acontece aos poucos. Agora, se você acelera o processo e aquilo acontece num tempo de compressão artificial, você causa edema, a elasticidade é prejudicada porque tem um trauma local. 8) VOCÊ AVALIA QUE ESSA VIOLÊNCIA NO PARTO CONTRIBUI PARA A RESISTÊNCIA QUE AS MULHERES MANIFESTAM EM RELAÇÃO AO PARTO NORMAL? Com certeza. Hoje a gente fala que a mulher tem duas possibilidades de ganhar neném: ou ela sofre violência no parto vaginal – que a gente nem chama de parto normal, porque isso não é normal – ou ela faz a cesariana. A cesariana teve um campo fértil para crescer neste país, porque as mulheres são maltratadas no parto. É uma responsabilidade nossa, dos profissionais e gestores de saúde, oferecer alternativas mais corretas, que é a vivência do bom parto. 9) E OFERECER ESSAS CONDIÇÕES É ALGO CARO? Não tem nada de caro. O que são essas técnicas? Massagem; posicionamento – porque isso conforta a mulher; andar durante a contração – que ameniza a dor; fazer compressa de água morna; sentar na bola do

QUEM É SÔNIA LANSKY 45 ANOS PEDIATRA Doutora em Saúde Pública Coordenadora da Comissão Perinatal e dos Comitês de Prevenção de Óbito Materno e Infantil da Secretaria de Saúde de Belo Horizonte Consultora do Ministério da Saúde para o programa Rede Cegonha

10 | Revista Rolimã • Fevereiro 2014


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