EM TEMPO - 7 de fevereiro de 2014

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Caderno C

Dia a dia MANAUS, SEXTA-FEIRA, 7 DE FEVEREIRO DE 2014

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Segurança tem aporte de R$ 1,3 bi Dia a dia C5

‘Técnicos são expostos a ameaças em reservas’

FOTOS: IONE MORENO

Durante enterro de funcionário da Eletrobras morto em Humaitá, sindicato denunciou descaso com os trabalhadores

Familiares e amigos de Aldeney Ribeiro em seu sepultamento no Parque Tarumã: sindicato denunciou que funcionários, que trabalham em reservas, estão expostos a constantes ameaças ISABELLE VALOIS* Equipe EM TEMPO

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escaso com os funcionários da Empresa Eletrobras Amazonas Energia, que eventualmente trabalham na manutenção das redes elétricas das comunidades indígenas e fronteiras do Estado, foi denunciado, ontem, pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas do Estado do Amazonas (STIU), que deve procurar nos próximos dias os órgãos responsáveis pelos indígenas para procurarem uma forma de solucionar os recentes acontecimentos. A situação foi informada ontem pelo presidente do STIU, Edney Martins, durante o enterro do técnico da Eletrobras, Aldeney Ribeiro, 40, no cemitério Parque de Manaus, Zona Oeste de Manaus. O corpo do funcionário foi encontrado na última segundafeira (3), juntamente com os cadáveres do representante comercial Luciano Freire, 30, e do professor Stef Pinheiro, 43, desaparecidos desde 16 de dezembro do ano passado em Humaitá, a 590 quilômetros da capital amazonense. Edney Martins detalhou que em média 200 funcionários atuam na manutenção da energia nesses locais, e boa parte sofre ameaças. “Nunca tivemos caso de homicídio como aconteceu dessa vez no sul do Estado, mas poderia ser evitado com a presença dos órgãos indígenas nesses locais. O trabalho que é exercido por esses funcionários é importante para que a luz possa chegar a todos, até nas reservas”, explicou. O diretor de Geração e Operação para o Interior da Eletrobras Amazonas Energia, Radyr Gomes Oliveira, negou a situação exposta

por Martins e explicou que é necessária a presença da Fundação Nacional do Índio (Funai) com as etnias. “Temos agentes indígenas responsáveis para trabalhar nesses lugares, mas não é pelo fato ocorrido que vamos deixar de continuar a fornecer o serviço de revisão de todo o sistema nesses locais”, disse. Descoberta Os três corpos foram localizados pelo cão Horus, da Companhia de Cães da Polícia Militar do Amazonas, entre os quilômetros 150 e 180 da rodovia BR-230, na reserva Tenharim, perto de onde desapareceram. Eles foram encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML) de Porto Velho (RO), após identificados, na tarde da última terça-feira (4), por familiares. O primeiro a ser sepultado foi Luciano Freire, que foi velado na última quarta-feira (5) em Porto Velho (RO) e depois seguiu para Humaitá. O enterro foi às 8h30 de ontem, no cemitério São Sebastião, no bairro de mesmo nome. Stef Pinheiro foi velado na igreja Assembleia de Deus de Apuí e sepultado às 10h de ontem no cemitério da Paz. O velório de Aldeney Ribeiro aconteceu na igreja Assembleia de Deus no conjunto Monte Pascoal, Zona Norte, e o sepultamento foi às 11h. No cemitério, o ex-prefeito de Humaitá, Roberto Guerra, iniciou um discurso detalhando alguns problemas na região, “principalmente do pedágio”. Alguns amigos do técnico, inconformados, pediram que Guerra não utilizasse o enterro para “ato de politicagem”. * Colaborou Yndira Asssayag, do EM TEMPO ON LINE

Comissão vai debater caso

Radyr Gomes Oliveira negou a situação exposta pelo sindicato

Advogado fala de envolvidos O advogado das famílias dos mortos, Carlos Evaldo Terrinha, contou que deve entrar com “um pedido de prisão” para outras pessoas envolvidas no caso, incluindo não índios. Segundo Terrinha, o titular da Secretaria Municipal do Índio em Humaitá, Ivanildo Tenharim, e o excoordenador da Funai no município, Ivã Gouvêa Bocchini, também estão na lista dos envolvidos. Ivã é considerado o estopim da situação caótica que tomou conta de Humaitá após o desaparecimento dos três homens. Ele havia insinuado em seu blog que o caso poderia estar relacionado à morte do cacique Ivan Tenharim no dia 3 de dezembro do ano passado em um acidente de moto. Segundo Bocchini, o indígena teria sido assassinado. Logo, o sumiço de Aldeney, Luciano

e Stef gerou desconfiança da população, culminando com os ataques às representações indígenas na cidade em 25 de dezembro, quando instalações e veículos foram destruídos. Bocchini foi exonerado após o episódio. O laudo sobre o acidente de Ivan Tenharim mostrou alto índice de álcool no sangue. O inquérito do triplo homicídio ainda não foi fechado pela Polícia Federal (PF), mas o próprio advogado informou que os cinco índios detidos em Porto Velho (RO), entre eles dois filhos do cacique Ivan, confessaram o crime e não negaram que a motivação foi vingança. De acordo com ele, os suspeitos fizeram exame de corpo de delito, na noite da última quartafeira (5), e devem ser transferidos para um presídio de Manaus ou Brasília por questão de segurança.

Presidente da Comissão de Assuntos Indígenas da Assembleia Legislativa do Estado (Aleam), o deputado Sidney Leite (PROS) vai organizar uma programação para ouvir todas as entidades envolvidas com o tema no Amazonas e buscar soluções para a região do sul do Estado, onde ocorreu o episódio da morte de três homens na reserva Tenharim-Marmelo, próxima a Humaitá. O deputado discursou sobre o caso, na manhã de ontem, no plenário da Aleam, onde reafirmou que o caso, embora tenha gerado uma tensão na região, é um fato isolado que não reflete o histórico de convivência pacífica entre os povos indígenas e não indígenas no Amazonas. Ele destacou a solidariedade com os familiares dos mortos e reforçou que a Justiça deve prevalecer com a punição dos culpados. Para o parlamentar, o momento é de acalmar os âni-

mos e buscar o diálogo. “Vou conversar com a Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind) e outros órgãos como a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o Conselho Indígena Missionário (Cimi) e demais lideranças das etnias da região”, adiantou. O deputado defendeu uma política integrada entre municípios, Estados e União específica para o Sul do Amazonas e que observe a questão dos povos indígenas naquela área. De acordo com Sidney Leite, o sul do Estado vive um abandono do governo federal que impacta indígenas e os povos caboclos que vivem na região. Ele reivindica o fortalecimento da Funai, presença maior da Polícia Rodoviária Federa, do Instituto Nacional de Proteção ao Meio Ambiente (Ibama) e de soluções para os problemas de infraestrutura como energia e telecomunicações.

Sepultamentos aconteceram, ontem, em três localidades


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