O diario de Mary Berg

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Varsóvia sitiada

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manos apodrecendo, não sentimos os efeitos prejudiciais dessa estranha refeição. Alguns dos soldados poloneses rapidamente vestiram roupas civis. Havia boatos de que outros escaparam pelas fronteiras da Romênia e da Hungria. Sabíamos que um dos irmãos de minha mãe estava com o 56o Regimento, que fora completamente dizimado; do outro irmão, não tínhamos notícia alguma. Naquela tarde, um primo que morava na rua Sienna convidou-nos a partilhar seu grande apartamento, em que ele havia armazenado uma grande quantidade de comida. Então nos mudamos de novo. Foi uma jornada de pesadelo. Covas coletivas estavam sendo cavadas em todas as praças. Varsóvia parecia um enorme cemitério. Lodz, 15 de outubro de 1939 Estamos novamente em Lodz. Achamos nossa loja e nosso apartamento completamente saqueados; os ladrões haviam cortado os quadros maiores das suas molduras. Meu pai está triste pela perda do Poussin e do Delacroix4 que comprou em Paris por uma quantia considerável poucas semanas antes do começo da guerra. Estamos aqui em Lodz apenas há dois dias, mas agora sabemos que foi um erro voltar para cá. Os nazistas começam a intensificar seus atos de terrorismo contra a população local, especialmente os judeus. Na semana passada, puseram fogo na grande sinagoga, orgulho da comunidade de Lodz. Proibiram os judeus de tirar os livros sagrados, e o shamash, ou zelador da sinagoga, que queria salvar as relíquias sagradas, foi trancado dentro do templo e morreu nas chamas. Minha mãe não se perdoa pelo fato de ter convencido meu pai a nos trazer de volta para cá.

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