Ill A crise de identidade da mulher
DESCOBRI ALGO ESTRANHO QUANDO ENTREVISTAVA AS
mulheres de minha geração, nos últimos dez anos. Na juventude, várias de nós não conseguíamos imaginar-nos com mais de vinte e um anos. Não tínhamos ideia alguma de nosso futuro de mulher. Lembro-me de uma tranquila tarde de primavera, no campus de Smith, em 1942, quando cheguei a um assustador impasse em relação ao meu futuro. Alguns dias antes recebera notícia de que conseguira uma bolsa de pós-graduação. Enquanto recebia parabéns, sentia, por debaixo de minha excitação, uma estranha incerteza, uma interrogação na qual eu não queria pensar. «Será isto mesmo o que eu desejo?» A pergunta separava-me, fria e sozinha, das moças que conversavam e estudavam na colina ensolarada, por detrás do colégio. Eu queria ser psicóloga. Mas, se não tinha certeza disso, que é então que eu desejava ser? Tive a impressão de que o futuro se fechava sobre mim e não conseguia visualizar-me dentro dele. Não fazia ideia alguma de mim mesma para além da universidade. Ali chegara aos dezessete anos, moça insegura, vinda de uma cidade do Meio Oeste. Os amplos horizontes do mundo e da vida do espírito abriram-se então para mim. Comecei a compreender quem eu era e o que desejava realizar. Não podia voltar atrás. Não podia voltar para casa, para a vida de minha mãe e das mulheres de nossa cidade, presas ao lar, ao bridge, às compras, às crianças, ao marido, às roupas, às obras de caridade. Mas agora que chegara o momento de concretizar o meu futuro, dar o passo decisivo, de súbito não sabia o que fazer. Fiz o curso de pós-graduação, mas na primavera seguinte, ao sol estranho da Califórnia e de uma nova universidade, a pergunta 62