Querida Brett, Quero começar dizendo que sinto muito por tudo que você aguentou nesses últimos quatro meses. Você foi minha força, minha alma, e por isso eu lhe agradeço. Eu não queria ter deixado você ainda. Tínhamos tanta vida e tanto amor pela frente, não é? Mas você é forte, vai aguentar, vai até ficar mais forte, embora não acredite em mim agora. Eu sei que hoje você está triste. Deixe que essa tristeza fique um pouco com você. Eu gostaria de estar aí para ajudá-la a passar por esse período. Eu a envolveria em um abraço apertado até você retomar o fôlego, como eu costumava fazer quando você era uma menina. Ou talvez a levasse para almoçar. Encontraríamos uma mesa aconchegante no The Drake e eu passaria a tarde toda ouvindo sobre seus medos e suas mágoas, afagando seu braço para você saber que sinto a sua dor. A voz de Midar soa um pouco densa. Ele olha para mim. — Você está bem? Respondo que sim com um aceno, incapacitada de falar. Ele segura o meu braço e o aperta de leve antes de continuar: Você deve ter ficado muito confusa hoje, quando seus irmãos receberam a herança deles e você não recebeu a sua. E posso apenas imaginar o tamanho da raiva que sentiu quando o cargo mais alto da empresa foi dado a Catherine. Acredite em mim: sei o que estou fazendo, e tudo que faço é pelo seu bem. Midar sorri para mim. — Sua mãe amava você. — Eu sei — digo em um sussurro, com o queixo tremendo. Um dia, há quase vinte anos, eu estava esvaziando a sua lixeira da série Barrados no baile e encontrei uma bolinha de papel amassada. É claro que fiquei curiosa demais para simplesmente deixar pra lá. Você pode imaginar como fiquei feliz quando a abri e descobri que você tinha escrito uma lista de sonhos. Não sei ao certo por qual motivo você a jogou fora, porque eu a achei adorável. Mais tarde eu lhe perguntei sobre a lista, naquela mesma noite, você se lembra? — Não — digo em voz alta. Você me disse que sonhos eram coisa para os tolos. E falou que não acreditava em sonhos. Acho que isso teve alguma coisa a ver com o seu pai. Ele deveria ter ido buscá-la para sair naquela tarde, mas não apareceu. A dor se apodera do meu coração, torcendo-o em um nó miserável de vergonha e raiva. Mordo o lábio inferior e aperto bem os olhos, fechando-os. Quantas vezes meu pai me deixou esperando e não apareceu? Perdi as contas. Depois de uma dúzia de vezes, eu devia ter aprendido. Mas eu era muito ingênua.