Revista MAMBEMBARCA

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paraense, é mestra pelo Programa de pós-graduação em Artes da UFPA, e graduada no Curso de Filosofia (Licenciatura e Bacharelado) pela mesma Universidade. A outra, Valéria Andrade, já veio para Belém com experiência em teatro e televisão e é formada em comunicação social pela UFPA, além de mestra em Artes e professora da ETDUFPA. Esse tipo de trabalho é gratificante de se ver, merece destaque e estudos, afinal, não é comum experiências dessa natureza nos palcos: a fala cabocla em cena. O gestual, aparentemente meio desarticulado do caboclo, exige das atrizes um preparo adquirido na prática, no estudo, na dedicação, na sensibilidade e competência. Estas habilidades elas têm e precisam ser conhecidas por todos os amazônidas, em primeiro lugar. O tratamento que as pesquisadoras-atrizes dispensaram ao objeto de estudo – histórias de vida – é digno de nota e merece a longevidade – o espetáculo estreou em 2006 - nos palcos. Enquanto as cenas acontecem, o cenário, os sons, as falas, o gestual, as expressões, todos os signos visuais e perceptivos remetem o espectador a outro espaço e tempo “mágico-vivenciado”. É o canto do galo ao amanhecer, é o barulho da água escorrendo e, principalmente, a dramaturgia pessoal de cada uma das atrizes que fixam e fisgam o olhar de quem assiste, não dá para desviar a atenção, não há como quebrar a sinestesia e o todo harmônico das cenas. A linguagem oral, a mais antiga forma de transmissão do saber, confirma: o jeito de falar, aparentemente simples do povo, transmite uma inegável reflexão sobre os mais diversificados temas que todo ser humano experimenta. Das relações familiares às indagações impertinentes, tudo está lá, o que muda é a maneira descomplicada de dizer e de narrar as experiências vividas. As explicações ficam para quem tiver preparo para ligar com o “simples”, no sentido de tocar naquilo que é essencial, sem adereços e enfeites, ao público cabe sentar para embarcar na deliciosa conversa, tão rara nos dias atuais. Parabéns ao trio: Nani Tavares, Valéria Andrade e Alberto Silva Neto. A Amazônia precisa, além da preservação da biodiversidade, de novos dramaturgos e estudiosos das expressões culturais do povo amazônida, patrimônio imaterial, tão importante quanto as riquezas naturais. É, Parésqui há esperança para todos os tipos de vozes, de todos os povos. Parésqui há espaço e há público para esse tipo de espetáculo, também. Parésqui essas falas caboclas ficarão a ecoar na mente e no coração de pessoas sensíveis, dispostas a ver outras formas de expressão como elementos indispensáveis à formação cultural de um povo. É, Parésqui! 15


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