Onde foi que voces enterraram nosso mortos edição atualizada

Page 175

esquema de segurança extremamente rígido e aqueles que eram apanhados em fuga sofriam castigos físicos. Na noite que passamos no dormitório dos trabalhadores solteiros da Fazenda Rami, falamos de liberdade, socialismo e revolução. Quando fomos embora, antes do dia amanhecer, muitos daqueles peões queriam ingressar na guerrilha. Desconversamos e saímos de fininho. Ainda não era a hora para aquele tipo de recrutamento. A Dissidência Comunista do Estado do Rio foi a única das organizações político-militares oriundas do PCB que tentou pôr em prática ao pé da letra a proposta guevarista do foco guerrilheiro. Nós éramos extremamente rígidos na defesa da teoria de que um grupo de combatentes enraizados numa área rural, com um mínimo de infraestrutura e combatendo esporadicamente, poderia mobilizar o país para a luta contra a ditadura e pelo socialismo. Foi para pôr em prática esse projeto que eu, Nielse Fernandes, Milton Gaia Leite,

operário

naval

de

Niterói,

Mauro Fernando, bancário, Bernardino

Jorge Velho, Cândido Gaia, estudante de Curitiba, César Cabral, comerciante de Foz do Iguaçu, e João Manoel Fernandes, estudante de Curitiba, ficamos quase um ano internados no Parque Nacional do Iguaçu. Nosso instrutor era o paraguaio Rodolfo Ramirez Villalba, membro da Frente Revolucionária Colorada - FRC e conhecedor das técnicas de combate das guerrilhas 13. Os primeiros contatos da Dissidência com a FRC, uma espécie de agrupamento de esquerda dentro do Movimento Popular Colorado - Mopoco, foram feitos por intermédio de César Cabral, que veio em definitivo para Foz do Iguaçu alguns anos antes de nossa chegada à região. Ele estudava economia na Universidad Del Nordeste, na Província do Chaco, Argentina, e devido a sua militância de esquerda passou a ser perseguido naquele país. Em Foz, César foi ajudar o pai a tocar um açougue e em pouco tempo fez amizade com o Fábio Campana, que passava uma temporada com a família.

O clima político em

Curitiba estava carregado e Fábio vinha sendo ameaçado em virtude de suas atividades no meio estudantil. 11

Sete anos após esses acontecimentos, Rodolfo Villalba foi preso, quando ingressava em território paraguaio regressando da Argentina, e levado para o Departamento de Investigações da Polícia Política, em Assunção, juntamente com seu irmão Benjamim, sendo torturado até a morte.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.