TCC arqurbuvv Capixaba – roçado para plantar

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CAPIXABA – “ROÇADO PARA PLANTAR”: SEMEIO DAS SEMENTES ANCESTRAIS AO CONCRETO URBANO HOMEGENIZADO DO ESDRAS PONTES DUARDO ALMONFREY UVV UNIVERSIDADE DE VILA VELHA 2022

UNIVERSIDADE DE VILA VELHA

ARQUITETURA E URBANISMO

CAPIXABA – “ROÇADO PARA PLANTAR”:

DO SEMEIO DAS SEMENTES ANCESTRAIS AO CONCRETO URBANO HOMOGENIZADO

ESDRAS EDUARDO PONTES ALMONFREY

VILA VELHA

2022

ESDRAS EDUARDO PONTES ALMONFREY

CAPIXABA – “ROÇADO PARA PLANTAR”: DO SEMEIO DAS SEMENTES ANCESTRAIS AO CONCRETO URBANO HOMOGENIZADO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Vila Velha, como pré-requisito para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Dra. Melissa Ramos da Silva Oliveira.

VILA VELHA 2022

AGRADECIMENTO

Primeiramente agradeço aos meus pais, Ney Carla Macedo Pontes Almonfrey e Olidair Francisco Almonfrey e ao meu irmão, Leonardo Naom Pontes Almonfrey, por serem a minha base e o meu alicerce. Sempre me apoiaram na minha vida, trabalho e projetos como também me deram oportunidades inesquecíveis. Amo vocês e muito obrigado por tudo!

Às minhas amigas de coração Amanda, Ana Luiza, Iná, Isabella, Julia, Miriã e Victória que conheci na faculdade e viraram uma família para mim. Nunca esquecerei as noitadas de projetos e surtos. Amo vocês para sempre e muito obrigado pelo apoio emocional.

À cantora Adele pelos seus álbuns 19, 21, 25 e 30 com músicas maravilhosas que foram fontes de criatividade e desenvolvimento do meu TCC. Muito obrigado por existir!

A todos os meus amigos da faculdade que eu conhecei e pelas trocas de conhecimentos, gratidão por todos vocês.

Quero agradecer os professores Giovanilton Ferreira e Luiz Marcello Ribeiro pela troca em sala de aula e pela disponibilidade em ajudar. Vocês são perfeitos e obrigado!

Agradeço a prof. Dr. Melissa Ramos da Silva Oliveira pelos três anos de pesquisa com grandes ensinamentos, por fim aceitar ser a minha orientadora por esse projeto inesquecível sei que estamos plantando uma semente muito grande com esse trabalho. Obrigado pela confiança, seriedade, amizade e gratidão por tudo. Guardarei de coração eternamente a nossa parceria!

“Somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro.” (Provérbio Indígena)

RESUMO

A cultura é uma diversidade global e é a base de uma nação. O Brasil, é um país que a sua cultura reflete entre misturas de povos primitivos e dominantes, sendo os indígenas os primeiros povos originários da América latina e especificamente ao território brasileiro. Atualmente, vivemos em processo chamado “globalização” ocasionado pela dominação das culturas dominantes sobre as culturas reprimidas, dessa forma desencadeou no aniquilamento da cultura, identidade e memória coletiva e ancestral como os povos indígenas. São povos milenares, com conhecimento e saberes vastos, são resistentes e sobreviventes e quando se questiona o seu futuro muitos não reconhecem a sua contribuição e existência, no qual representam um anexo na nação brasileira. Diante dos meios, levou uma proposta de criar um espaço cultural em Vitória — ES, de modo a conectar a sociedade com imersão na cultura indígena para conhecer, experimentar e praticar as mais diversas manifestações dessa sociedade. A metodologia, apresenta considerações fundamentais dos povos indígenas e sobre a construção de uma cultura. O resultado mostra que é possível e funcional o uso das técnicas e práticas indígenas, como também difusão da cultura indígena para a sociedade, influenciado na coexistência e resgatando da identidade e memorial ancestral, levando a continuidade para as gerações futuras. O maior legado dessa cultura está nas suas tradições, técnicas, no lugar das práticas e materialização e crenças. Palavras chaves: Cultura, Globalização, Povos Indígenas, Espaço Cultural;

ABSTRACT

Culture is a global diversity and is the basis of a nation. Brazil is a country that reflects its culture between mixtures of primitive and dominant peoples, the indigenous being the first original peoples of Latin America and specifically of the Brazilian territory. Currently, we live in a process called “globalization” caused by the domination of dominant cultures over repressed cultures, thus triggering the annihilation of culture, identity and collective memory and ancestral as the indigenous peoples. They are millennial peoples, with vast knowledge and wisdom, they are resistant and survivors, and when their future is questioned, many do not recognize their contribution and existence, which represent an annex to the Brazilian nation. Given the means, took a proposal to create a cultural space in Vitória – ES, in order to connect society with immersion in indigenous culture to know, experience and practice the most diverse manifestations of this society. The methodology, presents fundamental considerations of the indigenous people and about the construction of a culture. The result shows that it is possible and functional the use of indigenous techniques and practices, as well as the dissemination of indigenous culture to society, influencing coexistence and rescuing the identity and ancestral memorial, taking continuity to future generations. The greatest legacy of this culture is in its traditions, techniques, in the place of practices and materialization and beliefs.

Keywords: Culture, Globalization, Indigenous Peoples, Cultural Space;

FIGURAS

IMAGEM 01 concepções de cultura

IMAGEM 02 – mapa do brasil e a sua diversidade cultural

IMAGEM 03 biblioteca de Alexandria

IMAGEM 04 – manifestação cultural indígena

IMAGEM 05 migração ancestral

IMAGEM 06 – distribuição dos povos indígenas: do período anterior ao descobrimento até o período colonial

IMAGEM 07 – distribuição dos povos indígenas e terras atualmente

IMAGEM 08 – expressão cultural da dança

IMAGEM 09 expressão cultural da cestaria

IMAGEM 10 – expressão cultural do grafismo

IMAGEM 11 expressão cultural dos rituais

22 25 30 36 39 40 50 52 53

IMAGEM 12 distribuição dos tupiniquins no espírito santo

IMAGEM 13 – demarcação da terra indígena no Espírito Santo

IMAGEM 14 - origem dos índios Tupiniquins e dos Guaranis

IMAGEM 15 distribuição das terras indígenas

IMAGEM 16 – croqui da implantação da aldeia Piraquê-Açu

IMAGEM 17 opy: tipologia advinda da ancestralidade

IMAGEM 18 – técnica construtiva da opy

IMAGEM 19 evolução da casa indígena

IMAGEM 20 – técnica construtiva da nova versão da casa indígena

IMAGEM 21 técnica do pau-a-pique

54 55
58 59 60 63 65 66 67 67
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FIGURAS

IMAGEM 22 museu do índio Funai

IMAGEM 23 – implantação museu do índio Funai

IMAGEM 24 Memorial dos povos Indígenas

IMAGEM 25 – implantação Memorial dos Povos Indígenas

IMAGEM 26 – croqui forma do Memorial dos Povos Indígenas

IMAGEM 27 setorização do Memorial dos Povos Indígenas

IMAGEM 28 perspectiva Memorial dos Povos Indígenas

IMAGEM 29 – Centro Cultural Jean Marie Tjibaou

IMAGEM 30 implantação Centro Cultural Jean Marie Tjibaou

IMAGEM 31 Centro Cultural Jean Marie Tjibaou

70 71 72 73 74 74 75 75 76 77

IMAGEM 32 setorização Centro Cultural Jean Marie Tjibaou

IMAGEM 33 climatização Centro Cultural Jean Marie Tjibaou

IMAGEM 34 – estrutura Centro Cultural Jean Marie Tjibaou

IMAGEM 35 diagnóstico Aspecto socioambiental

IMAGEM 36 – diagnóstico construtivo gabaritos

IMAGEM 37 diagnóstico construtivo usos

IMAGEM 38 – diagnóstico infraestrutura e mobilidade

IMAGEM 39 diagnóstico aspectos urbanísticos

IMAGEM 40 – implantação geral

IMAGEM 41 implantação do museu

IMAGEM 42 – Diagrama da forma do museu

77 78 78 82 83 83 84 84 86 88 89

FIGURAS

IMAGEM 43 Museu planta baixa subsolo

IMAGEM 44 – Museu planta baixa térreo

IMAGEM 45 Museu planta baixa 1 pav

IMAGEM 46 – Museu planta baixa 2 pav

IMAGEM 47 Museu vista do corte

IMAGEM 48 – Museu vista 1 da entrada principal

IMAGEM 49 Museu vista 2 da entrada principal

IMAGEM 50 – Museu vista 1 da fachada principal

IMAGEM 51 Museu vista 2 da fachada principal

IMAGEM 52 – Museu vista do interior com expositores

IMAGEM 53 Museu vista da oca

IMAGEM 54 – Museu vista da fachada com paisagismo

91 92 93 94 95 97 98 99 100 101 102 103

IMAGEM 55 Museu vista 1 dos brises

IMAGEM 56 – Museu vista 2 dos brises

IMAGEM 57 Museu vista 3 dos brises

IMAGEM 58 – Museu vista 1 do paisagismo 2 pav

IMAGEM 59 Museu vista 2 do paisagismo 2 pav

IMAGEM 60 – Museu vista 1 do espaço de estar no 2 pav

IMAGEM 61 Museu vista da cafeteria no 2 pav

IMAGEM 62 – Museu vista da recepção

IMAGEM 63 Museu vista do prólogo

IMAGEM 64 – Museu vista para o exterior

IMAGEM 65 implantação do centro de inovação

IMAGEM 66 – centro de inovação modulo 01

104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 116

FIGURAS

IMAGEM 67 centro de inovação modulo 02

IMAGEM 68 – centro de inovação modulo 03

IMAGEM 69 centro de inovação modulo 04

IMAGEM 70 – centro de inovação modulo 05

IMAGEM 71 centro de inovação modulo 06

IMAGEM 72 – centro de inovação modulo 07

IMAGEM 73 centro de inovação vista do corte

IMAGEM 74 – centro de inovação vista do corte sistema climático

IMAGEM 75 – Centro de inovação vista do módulo 01

IMAGEM 76 Centro de inovação vista do módulo 02

IMAGEM 77 – Centro de inovação vista da passarela

IMAGEM 78 Centro de inovação vista dos módulos

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IMAGEM 79 Centro de inovação vista do módulo 05 e 06

IMAGEM 80 – Centro de inovação vista 1 do paisagismo

IMAGEM 81 Centro de inovação vista 2 do paisagismo

IMAGEM 82 – Centro de inovação vista do módulo 06 e 07

IMAGEM 83 – Centro de inovação vista do módulo 07

IMAGEM 84 Centro de inovação vista da passarela de pedra

IMAGEM 85 – Centro de inovação vista 1 do píer

IMAGEM 86 Centro de inovação vista 2 do píer

IMAGEM 87 – Centro de inovação vista 3 do píer

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TABELAS

TABELA 01 níveis de memória

TABELA 02 – Programa de necessidade do Museu do Índio

TABELA 03 – Programa de Necessidades Memorial dos Povos Indígenas

TABELA 04 Programa de Necessidades Centro Cultural

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IDENTIDADE, MEMÓRIA E CULTURA SUMÁRIO 01 OBJETIVOS G\ERAIS OBJETIVOS ESPECÍFICOS METODOLOGIA INTRODUÇÃO 02 2.1 CULTURA E DIVERSIDADE 2.2 IDENTIDADE E MEMÓRIA: DESENHANDO OS CONTORNOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL 2.3 CENTRO CULTURAL O ÍNDIO 03 04 05 A GÊNESE DOS POVOS ÍNDIGENAS 4.1 MIGRAÇÃO ANCESTRAL 4.1 DISTRIBUIÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS NA AMÉRICA LATINA 5.2 PERÍODO DA COLONIZAÇÃO 5.1 O PRIMEIRO CONTATO 5.3 INFLUÊNCIA DOS JESUÍTAS NARRATIVAS ÍNDIGENAS: DESCOBRIMENTO DO HOMEM BRANCO E A COLONIZAÇÃO 17 20 32 32 41
ARTE E ALUTA: TRADIÇÕES E EXPRESSÕES CUTURAIS SUMÁRIO 06 OS ÍNDIOS DO BRASIL: ETNOGÊNESE E MESTIÇAGEM 07 08 09 O ESPÍRITO SANTO: CAPIXABA EM TUPI “ROÇADO PARA PLANTAR” ESTUDOS DE CASOS 45 51 56 61 6.1 UNIFICAÇÃO DE
E
6.2
6.3
8.1
8.2
7.1 DANÇA E
7.2
7.3
7.4RITUAIS 9.1
9.2
9.3
9.4
VÁRIOS BIÓTIPOS: MISCEGENAÇÃO
TRANSFIGURAÇÃO
ANTROPOLOGIA E ETIMOLOGIA APLICADA A CULTURA INDÍGENA
POVOS E TERRAS ÍNDIGENAS ATUALMENTE
POVOS INDÍGENAS DO ES
DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS
MÚSICA
ARTESANATO: CESTARIA E CERÂMICA
PINTURAL CORPORAL E GRAFISMO
ESTUDO TÉCNICO EM ARACRUZ: ALDEIA PIRAQUÊ AÇU EM GUARANI “RIO DO PEIXE GRANDE”
MUSEU DO ÍNDIO FUNAI
MEMORIAL DOS POVOS INDÍGENAS
CENTRO CULTURAL JEAN MARIE TJIBAOU

SUMÁRIO

10 O PROJETO 11

10.4 IMPLANTAÇÃO

10.6 CENTRO DE INOVAÇÃO

10.1 terreno 10.2 PROGRAMA 10.3 CONCEITO 10.5 O MUSEU REFERÊNCIAS

79 139

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO

A cultura é uma diversidade global, que apresenta um conjunto de manifestações de povos e suas determinadas culturas. No momento presente, vimemos em processo de globalização no que torna a nossa sociedade homogeneizada, dessa forma estamos perdendo a nossa identidade e memória dos nossos povos ancestrais.

O Brasil em sua formação da população corresponde uma “natureza triíbrida” (Penna, et al. 2000, p.16) composta por três etnias-base seguindo por ameríndios, europeus e africanos. Os indígenas são os nossos ancestrais bem antes de ser o Brasil esses povos estiveram aqui.

“Milhões de índios viviam no Brasil na época da conquista e apenas cerca de 250 mil existem nos dias de hoje” (Fausto, 1996, p. 22).

A aculturação foi uma ação ocasionada pela mestiçagem, principalmente no período colonial, onde a cultura indígena foi relativamente modificada ou até mesmo de alguns grupos extintos para se adaptar a cultura e valores eurocêntricas.

Hodiernamente, os grupos indígenas são formados por misturas culturais sofridas ao longo da narrativa de lutas e resistências ao homem branco, mas também pelos grupos, que salvaguardam as origens. “Milhões de índios

O legado dos povos indígenas possui significados singulares que reverberam a sua importância para a construção da cultura, da identidade, da história, da memória, assim como na formação do próprio território brasileiro. Nesse sentido, preservar a cultura indígena implica reconhecer sua contribuição para diversos aspectos da sociedade brasileira.

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A Constituição Federal de 1988, no artigo 231, reconheceu a importância da cultura indígena para a “organização social, costumes, línguas, crenças e tradições” brasileiras e destacou ainda a responsabilidade do governo em realizar a demarcação de terras e a proteção dos bens indígenas. O

Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) tem buscado reconhecer a relevância da cultura indígena em algumas ações protetivas. Desde 2002, o Iphan registrou diversas expressões e saberes da cultura indígena, tais como Arte Kusiwa do Amapá em 2002, a Cachoeira de Iauaretê em 2006, o Ritual Yaokwa do Povo Indígena Enawene Nawe em 2010, o Ritxòkò Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá & Saberes e práticas associados aos Modos de Fazer Bonecas Karajá em 2012, a Tava — lugar de referência para o povo Guarani em 2014. As ações supracitadas, apesar de incipientes, não conseguem reverter o quadro de desvalorização, negligência e esquecimento da cultura indígena no nosso país, que permanece resistindo à “colonialidade do

poder”. (Costa, 2017, p. 73), na tentativa de valorizar um “patrimônio territorial latino americano” (Costa, 2016) subalternizado, também denominado por Costa (2017, p. 55) como “territórios da exceção”.

Por estes fatos, é necessário a criação de um espaço cultural, no qual haja diálogo e integração da cultura indígena na sociedade, principalmente no meio urbano, para dar voz, reconhecimento, conscientização e valorização da cultura que é essência da nação brasileira. Reconhecer as nossas bases culturais e preservar é um ato de salvaguardar o futuro das próprias gerações e não renegar.

OBJETIVOS GERAIS

O presente trabalho visa apresentar as considerações fundamentais dos povos indígenas e consequentemente a criação de um espaço cultural das manifestações dos povos Indígenas na capital em Vitória.

Um espaço arquitetônico, paisagístico, ambiental,

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dinâmico e comunicativos das múltiplas diversidades culturais, contemporâneo, inovador e difusor da identidade e memória dos povos indígenas e a sua valorização, reconhecimento e conscientização.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Definir o que é cultura e diversidade cultural, como também identidade, memória e patrimônio cultural

• Analisar o que é o índio, e sua importância para a sociedade brasileira. Além da sua história de surgimento ao continente americano, o processo da colonização aos dias atuais. Verificar as manifestações culturais indígenas.

• Analisar um estudo antropológico aplicada a etnogênese mestiçagem como forma de interpretar o índio do Brasil.

• Efetuar um estudo e comparativo de projetos voltado ao patrimônio cultural.

• Realizar diagnostico e caracterizar o terreno no caso a Ilha da Fumaça em Vitória ES

• Propor um projeto de um espaço cultural Indígena para Grande Vitória.

METODOLOGIA

A metodologia está dividida em quatro etapas:

Etapa 01: Revisões bibliográficos sobre cultura e diversidade aos povos indígenas, como também a história, processos evolutivos, e o resultado da nação, o que é hoje.

Etapa 02: Analisar e verificar os estudos de casos como formar de aplicar aspectos positivos ao projeto que será elaborado neste trabalho.

Etapa 03: Realizar diagnostico do terreno na Ilha da Fumaça, como característica socioambientais, uso do solo e gabarito, infraestrutura e mobilidade e por fim aspectos urbanísticos.

Etapa 4: Proposta Arquitetônica e paisagística: programa, conceito, implantação e partido.

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IDENTIDADE, MEMÓRIA E CULTURA

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IDENTIDADE, MEMÓRIA E CULTURA

Não podemos começar sem entender o que é cultura e a diversidade, dessa forma neste capítulo será abordado uma perspectiva de como a cultura se desenvolve, a suas características, expressões, a identidade e a memória de um povo, nação e civilização, pôr fim aos seus patrimônios culturais. Como também, o conceito e o processo evolutivo de um centro cultural, pois é a tipologia arquitetônica proposto neste específico trabalho.

determinado tempo e lugar, dessa forma: Cultura diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos humanos. Quando se considera as culturas particulares que existem ou existiram, logo se constata a grande variação delas. (SANTOS, 1996, p. 8)

Vale ressaltar, que será levantado os efeitos da globalização, consequentemente a homogeneização cultural no Brasil, visando entender esse fenômeno nas questões indígenas.

2.1 CULTURA E DIVERSIDADE

A cultura é uma diversidade global, no qual é um conjunto de elementos como expressões, comportamentos, crenças e mitos elaborados pelos seres humanos em um

As complexas variedades culturais correspondem no resultado em particular de características distintas, sendo assim, essa variação é necessário entender os conceitos básicos de concepção de cultura para compreender a forma de como os grupos se desenvolveram e resultaram em uma cultura e os elementos que a constituem segundo SANTOS (1996, p.23) “A primeira concepção de cultura remete a todos os aspectos de uma realidade social; a segunda refere se mais especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças de um povo”.

A primeira concepção por Santos (1996) descreve com todos os aspectos que corresponde à realidade e a existência social de um grupo ou nação, assim a cultura

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são realidades bem distintas como os franceses para os povos indígenas Xavantes, de tal modo essa concepção mostra cada caso característico dos agrupamentos, no qual concebe e organiza a vida social e de seus aspectos materiais. Essa ideia é mais usada para se referir aos povos com realidades bem distintas como na organização da sociedade, na produção e da forma de sobreviver, ou seja, são formas e perspectivas bem complexas culturais. Podemos observar pela (imagem 01), essa concepção no lado esquerdo.

Em vista da segunda concepção, em linha com Santos (1996) retrata a cultura por meio de conhecimentos, ideias e crenças e inclusive a maneira de como os povos vivem na sociedade, ou seja, entendesse que a cultura nesta ideologia evidenciará uma esfera, a um domínio da vida social com ênfase no conhecimento e dimensões associadas. Como exemplo, ao falar da cultura francesa “referência à língua francesa, à sua literatura, ao conhecimento filosófico, científico e artístico produzidos

na França e às instituições mais de perto associadas a eles” (SANTOS, 1996, p.25). Essa concepção é mostrada na (imagem 01) no lado direito. Imagem 01 concepções de cultura

Fonte: Santos, 1996

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Através dessa perspectiva levantada por Santos (1996), a cultura é retratada como um perfil de uma realidade social ou a respeito ao conhecimento dos seres da realidade e a forma de como se expressam. A relação entre as duas concepções é chave para interpretar as variações culturais. Especificar uma cultura como característica total é muito amplo e profundo, mas é cabível ao comparar realidades sociais distintas como consequências em experiências dispares nos processos históricos:

Sociedades assim comparadas podem diferir fundamentalmente em sua organização da vida social, nas maneiras de definir as relações de parentesco entre seus membros, de regular o casamento e a reprodução, na produção do necessário para a sobrevivência, nas técnicas, nos instrumentos e nos utensílios, nas suas concepções, crenças e em tantos outros aspectos. Preocupar se com a totalidade dessas características é inevitável em casos assim, já que é tudo isso que torna cada uma das sociedades diferente. (SANTOS, 1996, p. 38)

Na aceleração do processo da globalização nas interações entre povos e nações inevitavelmente, segundo Santos

(1996) leva a singularidade de povos, ou até mesmo a extinção cultural de tradições, expressões e outros aspectos. Pelo fato da formação de um civilização global, ou seja, uma cultura homogênea, no qual partilhem características comuns entre os meios, assim não podemos descrever a cultura de grupo como característica total. Vale ressaltar, que a cultura é expressa pela diversidade e o aspecto não material é mais evidente e expressivo. Nesse ponto a vida social foi transformada “dimensão da realidade social, a dimensão não material, uma dimensão totalizadora [...] fala se agora em cultura como a totalidade de uma dimensão da sociedade” (SANTOS, 1996, p. 41).

A cultura então passa a se tornar uma dimensão ampla que corresponde no “processo social, da vida de uma sociedade” (SANTOS, 1996, p. 44). Podemos dizer por Santos (1996) que a cultura é um produto da humanidade como bases históricas, das dimensões do processo social. A cultura é móvel e maleável, ou seja, vai sendo construído

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a partir de várias transformações sociais.

2.2 IDENTIDADE E MEMÓRIA: DESENHANDO OS CONTORNOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL

Na atualidade vivemos em um mundo integrado de multiculturas, ação feita pela globalização, no entanto, dentro desse universo cultural temos vários povos, nações e civilização que carregam elementos que formam uma identidade particular que distingue de outros indivíduos.

A identidade é o sentimento de um indivíduo ou grupo em pertencer a uma determinada região, prática social, ideia ou sistema de valores. A identidade cultural é construída a partir do conflito da visão de mundo do “outro” como diferente da visão do mundo do “eu”, ou seja, das diferentes identidades. Pode-se acrescentar, ainda, que as identidades expressam uma postura e ação de afirmação (étnica, local, ideológica, etc) no jogo político do cotidiano. (IPHAN, 2013, p.7)

Importante salientar, que a identidade nesses novos tempos não podemos descrever como “específica”, pelo

ato e efeito dos eventos que constrói e moldam a cultura, assim novamente caracterizamos como uma identidade de transformações e formação. Assim, a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento. Existe sempre algo ‘imaginário’ ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre ‘em processo’, sempre ‘sendo formada’ (HALL, 2015, p24)

O Brasil apresenta uma cultura nacional, que provém de uma diversidade de identidades culturais particulares e juntas formam a cultura brasileira. Pelo fato de sua extensão territorial, assim o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) definiram em cinco regiões o país como norte, nordeste, centro oeste, sul e sudeste. Dentro dessas regiões possuem características naturais (biomas, ecossistemas e climas) e aspectos sociais (econômicos, políticos e culturais) que caracterizam uma identidade própria regional. Assim pela (imagem 02).

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Podemos perceber as diversidades culturais de cada região, por meio de costumes como vestimentas, gastronomia, religiosidade, tradições e entre outras manifestações.

Imagem 02 – mapa do brasil e a sua diversidade cultural Fonte: IPCC Braganca,2018

Entretanto, por Stuart Hall (2006) a globalização ocasionou apropriação das culturas dominantes, ou seja, os países desenvolvidos como os Estados Unidos (EUA) que tem mais poder sobre os países subdesenvolvidos como o Brasil, tendo a finalidade de espalhar uma ideologia capitalista, no qual desencadeou impactos no consumo de produtos estrangeiros e desvalorizando os aspectos regionais. Por esses fatos:

As identidades nacionais estão se desintegrando, como resultado do crescimento da homogeneização cultural e do ‘pós-moderno global’. As identidades nacionais e outras identidades ‘locais’ ou particularistas estão sendo reforçadas pela resistência à globalização. As identidades nacionais estão em declínio, mas novas identidades híbridas estão tomando seu lugar. (HALL, 2006, p.69)

A identidade é a essência cultural de um grupo e sua produção, dessa forma a “memória” é o laço entre as lembranças e experiencias de um indivíduo, por meio dos sentimentos que dão continuidade, assim “recria e se apropria criativamente de um sem fim de possibilidades,

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uma vez que é na memória e pela memória que o indivíduo reafirma seu percurso identitário” (OLIVEIRA E OLIVEIRA, 2014, 674)

As memórias constituem a nossa capacidade de perceber e reunir experiências, saberes, sensações, emoções e sentimentos que, por um motivo ou outro, escolhemos para guardar. Elas são essenciais a um grupo porque estão atreladas à construção de sua identidade. São o resultado de um trabalho de organização e de seleção do que é importante para o sentimento de continuidade e de experiência, isto é, de identidade. (HALL, 2015, p24)

O indivíduo ao nascer é como uma papel em branco, de tal modo a memória é fundamental para sua formação, assim o conhecimento é desenvolvido pelas experiências e relações, onde a memória armazena os dados, consequentemente criando a nossa identidade.

A memória é um dos mais importantes processos psicológicos, pois além de ser responsável pela nossa identidade pessoal e por guiar em maior ou menor grau nosso dia a dia, está relacionada a outras funções corticais igualmente importantes, tais como a função executiva e o aprendizado. (MOURÃO JUNIOR E FARIA, 2015, p.780)

A memória social, no raciocínio de Silva Junior e Oliveira (2018), desempenha um processo de cada indivíduo por fragmentos da memória de captar, guardar e recuperar os meios no qual o sentimento provoca o pertencimento, ou seja, na reconstrução da identidade entre o passado e o presente, no resgate da identidade.

Memória em todas as esferas como um fenômeno construído social e individualmente, e que ao discorrer acerca de memória herdada, constata se a relação fenomenológica intensa existente entre ela e o sentimento de identidade. Em outras palavras, a relação entre memória e identidade se dá ao passo que esta última se funda como patrimônio de significados, que fazem uma ponte até a criação de uma memória e de um discurso que fundamente a noção de pertencimento.

(SILVA JUNIOR E OLIVEIRA, 2018, p. 8)

Na perspectiva de Assmann (2008), a memória é a formação da consciência da identidade. A identidade envolve o tempo, ou seja, é a construção da mesma por meio das ações do espaço e tempo. Assim a memória difere em três níveis de tempo, identidade e memoria como mostra a (tabela 01).

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Tabela 01 – níveis de memória

Fonte: Assmann, 2008

O nível interno é “a memória é uma matéria de nosso sistema neuromental. Essa é a nossa memória pessoal” (ASSMANN, 2008, p. 117) são memórias individuais, ou seja, vivenciados somente por um indivíduo. O nível social é “a memória é uma matéria de comunicação e interação social (…) e nossa memória depende, como a consciência em geral, de socialização e comunicação” (ASSMANN, 2008, p. 117), são memorias coletivas onde os indivíduos compartilham a construir uma memória cultural. O nível cultural é a “Memória cultural é uma forma de memória coletiva, no sentido de que é compartilhada por um conjunto de pessoas, e de que transmite a essas pessoas

uma identidade coletiva, isto é, cultural.” (ASSMANN, 2008, p. 118) é a memória como herança que são armazenadas e objetivadas, transferidas ou transmitidas para outras geradas (Assman, 2008) O termo ‘memória’ não é uma metáfora, mas uma metonímia baseada no contato material entre uma mente que lembra e um objeto que faz lembrar. Coisas não ‘têm’ uma memória própria, mas podem nos lembrar, podem desencadear nossa memória, porque carregam as memórias de que as investimos, coisas tais como louças, festas, ritos, imagens, histórias e outros textos, paisagens e outros ‘lieux de mémoire’ . No nível social, com respeito a grupos e sociedades, o papel dos símbolos externos se torna cada vez mais importante, porque grupos que, é claro, não ‘têm’ uma memória tendem a ‘fazê la’ por meio de coisas que funcionam como lembranças, tais como monumentos, museus, bibliotecas, arquivos e outras instituições mnemônicas. (ASSMANN, 2008, p. 119)

Dessa forma, o Patrimônio cultural, é a consequência que diz respeito a cultura de cada identidade de um povo e a memória faz a interligação entre o passado e o presente, em vista de conduzir para as gerações futuras as heranças culturais e consequentemente a continuação da

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identidade de um determinado povo. “O patrimônio cultural de um povo é formado pelo conjunto dos saberes, fazeres, expressões, práticas e seus produtos, que remetem à história, à memória e à identidade desse povo.” (IPHAN, 2012, p. 12). No do patrimônio é composto por bens culturais sendo materiais como tangíveis (pode ser tocado como exemplo um violino) e imateriais sendo intangíveis (algo que intocável como exemplo uma festa ou música de uma determinada cultura de um povo).

A ideia de patrimônio não está limitada apenas ao conjunto de bens materiais de uma comunidade ou população, mas também se estende a tudo aquilo que é considerado valioso pelas pessoas, mesmo que isso não tenha valor para outros grupos sociais ou valor de mercado. (IPHN, 2012, p.13)

O IPHAN foi criado em 1937 no Brasil, para gerir os patrimônios culturais existentes em um povo, no qual reconhece e preserva como Patrimônio da Humanidade. Institui o conhecimento e aprendizado dentro a definição do Patrimônio:

O conjunto de bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico (IPHAN, 2020)

A arte do conhecimento, de compreender a história que levou o surgimento e o que torna de ser hoje o papel fundamental do IPHAN, na construção e ampliação do saber, do conceito e prática do patrimônio histórico/cultural para a nossa sociedade brasileira, intitulado pela Constituição Federal de 1988, em seu Artigo

216: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I as formas de expressão;

II os modos de criar, fazer e viver;

III as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

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V os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico

Inicialmente, Oliveira (2009) descreve que o IPHAN era chamado de SPHAN em que buscava um conceito além da criação, consequentemente do SPHAN, como resultado almejado por Mário de Andrade, em que tinha o objetivo de buscar as origens da brasilidade e abrasileirar o povo brasileiro, assim tornando a população mais patriota ou até mesmo uma identidade referencial para o Brasil. No entanto, essas ideias não foram levadas em considerações pelo fato que o atual governo daquela época, por Getúlio Vargas, tinha uma visão de um estado burocrático centralizado de construir uma história nacional, por meio de monumentos históricos que só privilegiava a unidade nacional. Decerto, por meio dessa perspectiva demonstra de que o Brasil é um país miscigenado e deve-se ter respeito pelas diversas culturas existentes no país, nenhuma deve se sobrepor a outra, mas devem contar suas histórias como parte evolutiva do país.

A mudança de perspectiva, segundo Oliveira (2009) o ato modernista para o momento atual, promoveu o encontro de colocar as discussões a respeito das variantes culturas brasileiras. A carta de 1988, como também permitiu a retomada do conceito inicial de Andrade onde os termos considerados mais amplos que o de patrimônio, e inclusive que a preservação deve existir até mesmo independente do ato de tombamento. Por meio desses atos e leis, obteve a entrada de novos atores sociais de diversas naturezas, logo percebesse o ato da força dos movimentos sociais depende da participação e do conhecimento da população quanto ao assunto.

2.3 ESPAÇO CULTURAL

Atualmente, passamos por um processo de globalização ocasionando as emergências culturais, dessa forma medidas políticas foram tomadas para preservação da identidade e memória que constitui a cultura de um povo.

Os meios foram a criação de espaços voltado segundo

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Silva (1995) para manifestações como os centros culturais definido: É aquilo que pertence ou é relativo à cultura. Esta noção, do vocábulo latino cultus, diz respeito às faculdades intelectuais do homem e ao cultivo do espírito humano. Um centro cultural é portanto o espaço que permite participar em atividades culturais. Estes centros têm o objetivo de promover a cultura entre os habitantes de uma comunidade. (CONCEITO, 2019)

Os espaços culturais são originados por Silva (1995) aos museus e bibliotecas fundidas em suas funções e a etimologia. No século XVI a ciência, filosofia e arte era um conjunto voltado aos estudos em um único espaço onde praticava variáveis tipologias de manifestações. As manifestações ocupavam um mesmo espaço como exemplo a Biblioteca de Alexandria ilustrada na (imagem 03) originalmente era um local voltado para as artes e a ciência:

Biblioteca era um local destinado à cultura das artes e ciências. Sua principal preocupação: o saber existente naquele tempo nos campos de religião, mitologia, astronomia, filosofia, medicina,

zoologia, geografia, etc. A Biblioteca de Alexandria constituía, na verdade, um complexo cultural, formado por palácios reais. (SILVA, 1995, p.17)

Imagem 03 biblioteca de Alexandria

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Fonte: History of Yesterday, 2020

Os museus, narrados por Silva (2015), era atribuído como aos “mouseion” uma palavra grega caracterizado na mitologia como a casa das musas, onde a mente repousava e o pensamento era dedicado as artes e a ciências. A Biblioteca de Alexandria se correlacionava com essa ideologia, em vista das diversidades das manifestações, onde é um local destinado a reuniões, exposições, atividades e expressões árticas, coleção e entre outros aspectos, desse modo é uma grande inspiração para os centros culturais contemporâneos.

cidade se reinventar e criar novos espaços físicos e se desenvolvendo perante a sociedade. (Gastaldo, 2010)

“Os centros culturais surgiram como esse modelo alternativo que foi sendo desenhado e experimento em diversos lugares do mundo” (GASTALDO, 2010, p.22)

Vale ressaltar apenas nos anos 50 os centros culturais tornaram destaques pela ação cultural no qual destinado ao processo da industrialização na França com o intuito de gerar lazer aos operários, logo as mudanças dos espaços se tornam uma relevância, ou seja, começaram a criar espaços voltados a convivência e centros sociais provocando a transformação das bibliotecas e centros dramáticos em casas culturais e por fim centro culturais pela modernidade. O efeito das transformações é o ato da

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O ÍNDIO

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ÍNDIO

O foco neste trabalho é voltado para os povos indígenas, de tal forma atualmente a população indígena corresponde mais de “300.000 índios” (BANIWA, 2006, p.27), para introduzir a discussão é necessário entender “o que é ser índio”, “por que” é designado este nome, “qual é a imagem do índio para nação brasileira”, seus “patrimônios” e o “futuro” desses povos.

Ser índio, descrito por Baniwa (2006), é ser sobrevivente e resistente a dominação eurocêntrica. Hoje os indígenas estão no processo de reconhecimento e recuperação da sua identidade, pôr fim a integração ao espaço na história e a cultura brasileira. “O processo de reafirmação da identidade indígena e o sentimento de orgulho de ser índio estão ajudando a recuperar gradativamente a autoestima indígena perdida ao longo dos anos de repressão colonizadora.” (BANIWA, 2006, p.42)

3.1 SER ÍNDIO

Os índios apresentam uma diversidade de povos que contém muitas história e lutas. “falar de índio diz respeito a uma diversidade de povos no qual habitava bem antes do descobrimento das terras brasileiras” (BANIWA, 2006, p. 27). Dessa forma, o Brasil não foi descoberto e sim “invadido” pelos portugueses. Até hoje sofrem com a miscigenação e a etnogênese consequentemente o desaparecimento e extinção de muitos povos étnicos nativos, por negarem a sua identidade e a cultura descrito por Baniwa (2006), como forma de sobreviverem e se adequarem na sociedade proposto pelos portugueses.

O reconhecimento da sociedade brasileira aos índios do Brasil, segundo Baniwa (2006), está gerando novas perspectivas de respeito e conscientização para sociedade. Além dos índios, reivindicarem seus direitos na política, cultura, economia e social e legitimar a suas narrativas pertencentes a história da nação brasileira.

Os povos indígenas do Brasil vivem atualmente um momento especial de sua história no período pós-colonização. Após 500 anos de massacre, escravidão, dominação e repressão cultural, hoje respiram um ar menos repressivo, o suficiente

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para que, de norte a sul do país, eles possam reiniciar e retomar seus projetos sociais étnicos e identitários. Culturas e tradições estão sendo resgatadas, revalorizadas e revividas. Terras tradicionais estão sendo reivindicadas, reapropriadas ou reocupadas pelos verdadeiros donos originários. (BANIWA, 2006, p.39)

3.2 POR QUE SER ÍNDIO

O nome “índio” seguinte a Baniwa (2006), foi designado pelos europeus, pelo fato de irem à direção as Índias, no entanto, quando chegaram ao continente americano aparenta no choque de culturas e etnias diferentes. Assim, designaram um povo único, mas são indivíduos em particular pertencente de uma determinado povo de etnia própria, mas: Não existe nenhum povo, tribo ou clã com a denominação de índio. Na verdade, cada “índio” pertence a um povo, a uma etnia identificada por uma denominação própria, ou seja, a autodenominação, como o Guarani, o Yanomami etc. Mas também muitos povos recebem nomes vindos de outros povos, como se fosse um apelido, geralmente expressando a característica principal daquele povo do ponto de vista do outro. (BANIWA, 2006, p.30)

No primeiro momento, na chegada dos portugueses, essa designação foi pejorativamente, mas foi moldada até presentemente como uma união de uma identidade multiétnica demonstra Baniwa (2006) que representa todos os povos nativos. Essa união facilitou por dar mais força e junção para reivindicar os seus direitos, como também as terras de direito e reconhecimento da cultura e memória.

“O termo parente não significa que todos os índios sejam iguais e nem semelhantes. Significa apenas que compartilham de alguns interesses comuns, como os direitos coletivos, a história de colonização e a luta pela autonomia sociocultural de seus povos diante da sociedade global.” (BANIWA, 2006, p.31)

3.3 IMAGEM DO ÍNDIO NO BRSIL

A nossa sociedade apresenta várias imagens ao se falar sobre os índios, correlacionando aos animais selvagens e ao primitivismo. São múltiplas discriminações e preconceitos estruturados pelo fenômeno do eurocentrismo, no qual muitos consideram os povos indígenas como culturas

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inferiores. Assim, a sociedade globalizada aparenta “as contradições e os preconceitos têm na ignorância e no desconhecimento sobre o mundo indígena suas principais causas e origens e que precisam ser rapidamente superados.” (BANIWA, 2006, p.35)

como danças, grafismo, artesanato e entre outros elementos fazem parte de uma cultura em que:

O índio ao contrário do que a sociedade descreve, são povos em constante evolução como qualquer outra cultura, como exemplo índios possuem internet, celular, roupas, TV, carro, moto, fogão, geladeira e entre outros tipos de materialização presente no meio contemporâneo, ou seja, são povos que são indígenas e estão integrados a cidade e por estes fatos não deixa de ser índio como muitos relatam descrito por Baniwa (2006)

O legado cultural dos povos indígenas tem singular relevância para a formação da identidade cultural do povo brasileiro. De acordo com o IBGE (Censo 2010), são 305 etnias indígenas, falantes de 274 idiomas, que mantêm viva a cultura dos povos originários no Brasil e, portanto, se somam às comunidades que atuam diariamente na salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro. (IPHAN, 2018)

3.4 PATRIMÔNIO ÍNDIGENA E O FUTURO

As manifestações indígenas carregam muitos traços e essências da cultura brasileira e a sua construção como nação. É notável, que suas expressões culturais e artísticas

O patrimônio indígena como exemplo a (imagem 04) exibi a manifestação e : Em 19 de abril, declarado como Dia dos Povos Indígenas no Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) celebra as culturas indígenas destacando os seus bens culturais registrados como Patrimônio Cultural do Brasil e as línguas indígenas incluídas no Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL). Essa é uma parte do extenso repertório de referências culturais indígenas que integra a diversidade cultural brasileira. (IPHAN, 2018)

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O indígenas são povos milenares, com conhecimento e saberes vastos, são resistentes e sobreviventes e quando se questiona o seu futuro é o reconhecimento e a conscientização da sociedade. Começando aprendendo sobre a sua história e suas narrativas que será abordada ao longo deste trabalho e como forma de conhecer a sua cultura, identidade, memória e patrimônio cultural.

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Imagem 04 manifestação cultural indígena Fonte: IPHAN, 2015

A GÊNESE DOS POVOS ÍNDIGENAS

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4 A GÊNESE DOS POVOS ÍNDIGENAS

Neste capítulo será abordado o processo de migração para o Continente Americano na Era Glacial e as distribuições dos povos indígenas na América Latina.

4.1 MIGRAÇÃO ANCESTRAL

A história indígena enceta bem antes da chegada dos portugueses no território brasileiro, por conseguinte a junção de pesquisas e os avanços tecnológicos permitiram a interpretação significativa sobre a linhagem ancestral dos povos indígenas e ao primeiro processo de migração no território americano. Por meio de dados genéticos, segundo Genera (2020), foi possível identificar que os primeiros paleoindígenas chegaram há mais de 15 mil anos, em um processo migratório de haplogrupos (linhagens) maternos e paternos.

(...) os seres humanos colocaram os pés no continente americano pela primeira vez há cerca

de 15 mil anos, vindos da Ásia. Para isso, atravessaram a Beríngia, uma ponte de terra que existia entre a Sibéria e o Alasca na última Era Glacial (Genera, 2020)

O estreito de Bering foi uma ponte natural emersa que o processo de travessia levou anos por conta das condições climáticas da Era Glacial, sendo assim foi elemento eminente para a divisão entre os grupos que “viriam a formar os nativos da América do Sul e os do Norte, inclusive com uma separação entre os que seguiram pelo litoral e os que seguiram pelo interior” (Genera, 2020,).

Podemos observar na (imagem 05) o processo migratório e a divisão dos haplogrupos nas rotas A, B e C. Destaca se que os grupos C e B caminhavam juntos antes de saírem da Ásia para América e seguiam sempre no litoral. O grupo A seguiu pelo interior do continente e esperaram a Era Glacial terminar, e demorou cerca de 2 mil anos, pois o grupo acompanhava o movimento migratório dos animais de grande porte por ser a subsistência da caça e alimento fundamental à sobrevivência dos indivíduos.

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Imagem 05 migração ancestral

Fonte: elaboração própria, 2022

O modo de vida dos paleo índios, seguia uma relação íntima com a natureza e com a ancestralidade. Segundo a arqueóloga norte americana Anna Curtenius Roosevelt, os índios “alimentavam-se de peixes pequenos, frutos e óleos de palmeiras, como murici, ou da vagem de leguminosas, como o jatobá. Também comiam animais pequenos. Adoravam tartarugas” (Zorzetto, 2018, p.32).

4.2 DISTRIBUIÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS NA AMÉRICA

LATINA Importante destacar que nesse processo migratório para o continente americano, o Brasil apresenta remanescentes como o esqueleto humano mais antigo da América Latina, conhecido pelo nome de Luzia. Esse esqueleto, do gênero feminino, viveu a cerca de 11 mil anos atrás.

O povo de Luzia seria descendente de uma leva migratória vinda da Austrália e da Melanésia há cerca de 14 mil anos. Seria, portanto, uma leva distinta daquela que veio da Ásia 12 mil anos atrás pela rota da Beríngia. A chegada dos bereianos teria causado uma substituição da população com características australo melanésias, deixando apenas vestígios dos habitantes originais. (Salles, 2018)

Análises científicas constataram que os traços fenotípicos da Luzia tiveram uma relação muito forte com o grupo indígenas Botocudos ou Aimorés que habitavam o sul da Bahia, norte do Espírito Santo e Leste de Minas Gerais. Ao contrário do que se pensava antes do descobrimento do

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Brasil, há indícios da existência da presença de humanos no continente americano, como ilustra a (imagem 06), demonstrando a distribuição dos grupos indígenas que mais predominavam antes da chegada dos portugueses. Historiadores calculam existirem de 3 a 4 milhões de índios no Brasil antes de 1500, espalhados pelos quatro cantos do país. Imagem 06 – distribuição dos povos indígenas: do período anterior ao descobrimento até o período colonial

Fonte: elaboração própria, 2022

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NARRATIVAS ÍNDIGENAS: DESCOBRIMENTO DO HOMEM BRANCO E A COLONIZAÇÃO

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NARRATIVAS ÍNDIGENAS:

DESCOBRIMENTO DO HOMEM BRANCO E COLONIZAÇÃO

O processo de descobrimento será abordado neste capítulo, como a expansão ultramarina, o choque entre as culturas, as primeiras cidades colonizadas e como ficaram os índios nesse processo, além da influência dos jesuítas para catequizar esses povos.

5.1 O PRIMEIRO CONTATO

A expansão ultramarina comercial portuguesa, conhecida como o período das grandes navegações ou “quinhentismo português” (Moraes, 2000), enquadrou a expansão colonizadora nos trilhos de uma política mercantilista (Novais, 1995) que culminou no descobrimento da América (Faoro, 1998) e na “visão edênica do Novo Mundo” (Holanda, 1969, p. 45).

A 9 de março de 1500, partia do Rio Tejo em Lisboa uma frota de treze navios (...) aparentemente com destino às índias, sob o comando de um fidalgo de pouco mais de trinta anos, Pedro Álvares Cabral. A frota, após passar as Ilhas de Cabo Verde, tomou rumo oeste, afastando-se da costa africana até avistar o que seria terra brasileira a 21 de abril. Nessa data, houve apenas uma breve descida à terra e só no dia seguinte a frota ancorou no litoral da Bahia, em Porto Seguro (Fausto, 1996, p.16).

O processo de ocupação do território brasileiro ocorreu primeiramente no litoral da Bahia, especificamente na região de Porto Seguro. Nesse local, aconteceu também o confronto inicial entre os europeus e os povos nativos ameríndios com língua e cultura diferentes. Vale ressaltar que não a população indígena não constitui uma cultura única, mas sim diversa, pois cada tribo contém sua própria língua e costumes. A (imagem 06) ilustra os povos indígenas localizados na parte litorânea brasileira, certamente os principais grupos a entrarem em contato/ conflito com o homem branco. Nesse momento, houve um processo simultâneo de “construção de uma

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sociedade e de um território, em um movimento que sincronizou o povoamento, a apropriação do solo e a exploração produtiva do solo” (Moraes, 2000, p. 24).

Imagem 06 – distribuição dos povos indígenas: do período anterior ao descobrimento até o período colonial

Anterior a essa ocupação, essas terras eram habitadas por seres nativos caracterizados entre Pataxós de língua Jê, Tupinambás, os Tupiniquins e os outros grupos. O processo de colonização brasileiro, instaurado desde o descobrimento até a implantação do sistema colonial, passou por grandes conflitos entre disputas pelas terras e exterminações e desolação étnico cultural. A família étnica indígena mais afetada foi a Tupi guarani, que se “estendia se por quase toda a costa brasileira, desde o Ceará até a Lagoa dos Patos, no extremo sul do Brasil” (Fausto, 1996, p.20).

Fonte: elaboração própria, 2022

As primeiras terras ocupadas pelos portugueses localizamse na parte litorânea em decorrência da proximidade ao mar, determinando um território de “ocupação marinha” (Becker & Egler, 1993) com foco para a exploração.

5.2 PERÍODO DA COLONIZAÇÃO

O período posterior ao descobrimento do Brasil, denominado pelos portugueses como “colonização”, iniciou se em 1530 com a criação das capitanias hereditárias, que almejam promover a ocupação das terras brasileiras (Reis Filho, 1968). Inicialmente, buscou-se utilizar a escravidão indígena como mão-de-obra, pelo uso

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da violência e captura. Houve resistência, conforme relatado por Fausto (1996), o que culminou com a busca pelo povo africano. Moraes (1996) ressalta que a sociedade escravocrata se consolidou pela força e pela violência. Fausto (1996) destaca que os índios tinham uma cultura oposta ao trabalho escravo intensivo na perspectiva dos europeus, visto que não eram preguiçosos, mas sim sobreviviam conforme as necessidades de subsistência e a forma de viver livre perante a natureza no qual os seus costumes foram retidos. Uma forma de dominação dos portugueses ao índio foi a designação de missões missionárias religiosas, principalmente pelos jesuítas como ato de catequização (Smith, 2012).

alterada. No processo de “conversão dos índios” (Smith, 2012, p. 99), os costumes, a linguagem e o modo de viver foram praticamente extintos ao serem direcionados para a cultura do homem branco. Algumas tribos distantes conseguiram desviar as influências dos portugueses a final estão localizados na região norte, localizados principalmente na Amazônia bem distante do litoral sudeste.

5.3 INFLUÊNCIA DOS JESUÍTAS

A influência dos jesuítas foi fundamental para descaracterização e extinção das tribos indígenas: não apenas perderam a suas terras, como tiveram sua cultura

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OS ÍNDIOS DO BRASIL: ETNOGÊNESE E MESTIÇAGEM

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OS ÍNDIOS DO BRASIL: ETNOGÊNESE E MESTIÇAGEM

O Brasil é formado por natureza triíbrida, ou seja, índios, portugueses e africano. Neste capitulo abordará a formação da população brasileira e as questões de miscigenação e transfiguração dos povos indígenas. Como também um estudo antropológico e etimológico aplicado a cultura indígena e seus processos. Será apresentado também como está os povos indígenas e suas terras.

6.1 UNIFICAÇÃO DE VÁRIOS BIÓTIPOS: MISCEGENAÇÃO E TRANSFIGURAÇÃO

Não tem como entender os povos indígenas brasileiros sem estudar o que é o Brasil sobre as questões de identidade e memória. A formação da população corresponde uma “natureza triíbrida” (Penna, et al. 2000, p.16) composta por três etnias-bases seguindo por ameríndios, europeus e africanos. No qual um estudo científico na coleta de DNA de brasileiros mostra que a

“maioria das linhagens paternas da população branca do país veio da Europa, mas que, surpreendentemente, 60% das linhagens maternas são ameríndias ou africanas.” (Penna, et al. 2000, p.16). Por este fato justifica e comprova o processo resultante da colonização onde o homem europeu saia em direção para o Brasil e se relacionavam com mulheres de etnia africana ou ameríndia e assim as primeiras famílias brasileiras são formadas.

A união desses vários biótipos ocasionou “um complexo processo de miscigenação” (Penna, et al. 2000, p.16) dos povos indígenas, ou seja, a mistura genética entre grupos étnicos distintos. Fausto (1996, p. 22) descreve que o contato com o povo europeu “resultou em uma população mestiça, que mostra, até hoje, sua presença silenciosa na formação da sociedade brasileira”. O Brasil possui, na atualidade, uma população total aproximada de 214,8 milhões de habitantes (IBGE, 2020). Nesse montante, é possível verificar uma diversidade étnica e cultural, ou seja, uma “sociedade plural” (SOAVE, 2017, p. 51)

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Nas formações das primeiras famílias brasileiras é de fato que houve a mistura cultural e uma influência indígena diretamente no delineamento da cultura brasileira, segundo os fatos mencionados acima, por meio da integração dos saberes como a arte, conhecimentos medicinais e astronômicos, culinária e linguagem ao homem branco. No entanto, os europeus aqui no Brasil construíram uma narrativa de uma “nação homogênea e branca” (SILVEIRA, 2021, p. 220). Devidamente uma elite explorativa, dominante de poder e de prestígio social as etnias inferiores. O ‘mito da miscigenação’, entendido como a realização generalizada de uma síntese racial e cultural em toda a América Latina, alimentou também a ideologia conforme a qual os índios tinham desaparecido e agora todos os habitantes de cada Estado eram homogêneos graças a esse processo. (BARTOLOMÉ, 2006, p. 44 45)

europeia de nação” (SILVEIRA, 2021, p. 220), ou seja, o que se designa a definição de uma cultura só e era cabível aos aspectos convicções epistemológica europeia, dessa forma surge a ideologia “eurocêntricas” (ALMEIDA, 2021, p. 19) onde a memória foi construída em cima deste conceito. A sociedade foi se formando e acertadamente não são capazes em “romper as bases culturais da tutela, do colonialismo e do imperialismo da ciência moderna, na medida em não são capazes de abrir mão de suas matrizes cosmopolíticas epistemológicas eurocêntrica.” (BANIWA, 2015, p.239)

O branqueamento se tornou inevitável como a mestiçagem e consequentemente por Freyre (2003, p. 178) “extermínio ou degradação” aos povos indígenas pela aculturação e transfiguração étnico cultural.

Por este modo ideológico a construção da cultura brasileira passou ser influenciada no “modelo a ideia

A transfiguração cultural a adoção de numerosos traços materiais e simbólicos da sociedade envolvente não implica o enfraquecimento automático das identidades étnicas, mas sua reformulação em um novo

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contexto que ela qualifica como ‘cultura do contato’. Todavia, a antropologia e as políticas públicas tenderam a esquecer, ou a não reconhecer, essas presenças étnicas não mais redutíveis aos arquétipos indígenas nacionais (BARTOLOMÉ, 2006, p. 49)

6.2 ANTROPOLOGIA E ETIMOLOGIA APLICADA A CULTURA INDÍGENA

que viveram na parte litorânea do Brasil onde foram dizimados e os que sobreviveram carregam traços da influência branca a sua cultura.

A aculturação foi uma ação ocasionada pela mestiçagem principalmente no período colonial em que a cultura indígena foi relativamente modificada ou até mesmo de alguns grupos extintos para se adaptar a cultura e valores eurocêntricas, no qual foram retirados traços como a linguem, vestimentas, religião e entre outros aspectos que defini ser índio, ou seja, sua identidade. “Muitas vezes, a sobrevalorização de uma noção substancializada-não atenta às ideologias étnicas — influiu na aparente extinção de alguns grupos” (BARTOLOMÉ, 2006, p. 48). Por este fato a descaracterização é evidente como os grupos indígenas

A situação colonial instaura novas relações entre as sociedades indígenas e seus territórios e leva a transformações sociais e culturais, uma vez que a territorialização supõe um processo de reorganização social radical. Tal reorganização implicaria: 1. a criação de uma nova unidade sociocultural mediante o estabelecimento de uma identidade étnica diferenciadora; 2. a constituição de mecanismos políticos especializados; 3. a redefinição do controle social sobre os recursos ambientais; e 4. a reelaboração da cultura e da relação com o passado. ( BARTOLOMÉ, 2006, p.53)

A antropologia “é uma ciência comparativa que analisa todas as sociedades, antigas e modernas, simples e complexas” (KOTTAK, 2011, p.26) permitindo interpretar a sociedade e a diversidade cultura distantes como os povos indígenas, extinguidos na história do Brasil. Na antropologia, como um método de estudo, recorre se a etnogênese que é a “parte constitutiva do

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próprio processo histórico da humanidade” (BARTOLOMÉ, 2006, p.68) um processo de interligações em etnias como consequenciais migrações, lutas, dominações, rupturas e junções etnoculturais.

A etnogênese aplicado aos indígenas reconstrói os grupos que foram definitivamente aculturados ou miscigenados, enfim de refletir a dinâmica cultural dessas comunidades nos dias atuais como também investigando quais são os seus valores e o processo de criação da cultura étnica dos grupos. Dessa forma dar voz a esses grupos e reconhecem como atuantes históricos do Brasil. “os povos nativos sempre estiveram ali, não como fósseis viventes do passado, mas sim como sujeitos e participantes da história, como sociedades dotadas de dinâmicas próprias que transcendem as percepções estáticas” (BARTOLOMÉ, 2006, p.44)

ancestrais dos povos indígenas no qual reconstrói a identidade e memória em síntese de promover a “reatualização étnica” (BARTOLIMÉ, 2006, p.46) como o resgate da língua e também da cultura e da sua história “A etnogênese propõe então um novo conteúdo e um sentido étnico, e ético, possível à diferenciação historicamente constituída. Nesses casos, as identificações não se “inventam”, mas se atualizam, embora a atualização não recorra necessariamente a um modelo pré-hispânico já inexistente. Recupera-se um passado próprio, ou assumido como próprio, a fim de reconstruir um pertencimento comunitário que permita um acesso mais digno ao presente.” (BARTOLOMÉ, 2006, p.57)

Muitos estados estão tentando resgatar por meio de unidades políticas a recriação dos aspectos culturais.

6.3 POVOS E TERRAS ÍNDIGENAS ATUALMENTE

Hodiernamente os grupos indígenas são formados por misturas culturais sofridas ao longo da narrativa de lutas e resistências ao homem branco, mas também pelos grupos que salvaguardam as origens. “Milhões de índios viviam no Brasil na época da conquista e apenas cerca de 250 mil

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existem nos dias de hoje” (Fausto, 1996, p. 22). Na (imagem 07) ressaltai se os grupos indígenas existentes e a sua distribuição no território brasileiro. Segundo dados da Funai (2020), existem na atualidade cerca de “817.963 indígenas, dos quais 502.783 vivem na zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas brasileiras. (…) representando 305 diferentes etnias. Foram registradas no país 274 línguas indígenas” (Funai, 2020).

Imagem 07 distribuição dos povos indígenas e terras atualmente

Segundo Costa (2017), a exploração de riquezas no território latino-americano extirpou a cultura e a vida de muitos indígenas. As terras indígenas resultam dessas lutas e conquistas, que segundo a Funai (2020) representam 13,75% da extensão do território brasileiro. Essa área corresponde a uma porção de terra proveniente de um processo administrativo e legal, habitada por uma ou mais comunidades indígenas. Compreende uma área que expressa as atividades culturais, produção e reprodução física. Dessa maneira, averígue-se, na Fig. 04, a distribuição das terras indígenas no território brasileiro.

Como destacou Luciano (2006, p.28), existem no Brasil, na atualidade, cerca de “3.225 aldeias, pertencentes a 291 etnias e falantes de 180 línguas, divididas por 35 grupos linguísticos”.

Fonte: elaboração própria, 2022

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ARTE E ALUTA: TRADIÇÕES E EXPRESSÕES CUTURAIS

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7 ARTE E ALUTA: TRADIÇÕES E EXPRESSÕES CUTURAIS

A cultura indígena tem uma forte manifestação e identidades dos povos indígenas, neste capítulo irá abordar um pouco as expressões culturais indígenas e seus respectivos significados.

7.1 DANÇA E MÚSICA

A dança é uma expressão cultural muito forte para os povos indígenas devido ser ato espiritual com a música podemos observar pela (imagem 08).

As danças são realizadas em passos e gestos ritmados aos instrumentos criados pelos índios, feitos de sementes, madeiras, pedras, objetos cerâmicos, ovos, ossos, chifres, cascos de animais, etc., sendo o maracá um instrumento comum entre muitas tribos. A música indígena é ligada a mitos fundadores e ao animismo, realizadas para atos como procriação, nascimento, puberdade, casamento, morte, doenças, epidemias, flagelos, caçadas, vitórias, etc. (LEAH, 2012)

7.2 ARTESANATO: CESTARIA E CERÂMICA

O processo de arte e expresso é muito rico na cultura indígena pelo fato das crenças e tudo tem um significado.

A cerâmica é uma mistura de barro e água, dessa forma: A cerâmica é usada de muitas formas na cultura e na arte da maioria das tribos indígenas: par

Imagem 08 expressão cultural da dança Fonte: PINTEREST, 2022
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fabricação de objetos e utensílios ou como decoração. A cerâmica é um dos materiais mais utilizados pelos indígenas, provavelmente devido à versatilidade do material. É utilizado na confecção de diversas utilidades domésticas, tais como jarros, panelas e vasilhas para armazenamento de alimentos. (SIGNIFICADOS, 2022)

A cestaria é uma técnica desenvolvida pelos indígenas que consta na confecção de cestos,por meio de fibras de árvores e entre outros meios podemos observar na (imagem 09).

Inicialmente utilizados para armazenamento e transporte, principalmente de alimentos. Hoje em dia, também são vendidos como itens de decoração. São feitos a partir de materiais naturais, como folhas de árvores diversas (dependendo da região habitada pela tribo) e materiais como palha, junco e folhas de palmeiras. Em geral, a cestaria também executada quase sempre por mulheres é feita a partir de tramas com as folhas e fibras naturais utilizadas. (SIGNIFICADOS, 2022)

7.3 PINTURAL CORPORAL E GRAFISMO

A pintura corporal representa vários significados como a identidade e hierarquia dentro de um grupo. Deste modo podemos analisar a (imagem 10).

Imagem 09 expressão cultural da cestaria Fonte: PINTEREST, 2022
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Grafismos e das pinturas corporais para os indígenas vai muito além do decorativo. Eles marcam a identidade dos povos originários, considerando sempre as diferenças e as particularidades de cada etnia para estabelecer simbologias próprias. (...) partir de frutos de cores fortes, como o urucum e o jenipapo, os indígenas produzem suas tintas, que por vezes misturadas com carvão para obter outras tonalidades de cor. (...) E é na natureza que as menires encontram a inspiração para criar seus desenhos: peixes, aves, mamíferos e plantas são um prato cheio para que elas exercitem a criatividade e ainda aprimorem suas técnicas, gerando infinitas possibilidades de variações e combinações. (FUNBIO, 2021)

7.4 RITUAIS

Os indígenas, expressão muitos rituais pelo fato de acreditarem em divindades da natureza e prática é o retorno e a comunicação desses seres espirituais como a (imagem 11). Os rituais indígenas são uma celebração das diferenças. Em primeiro lugar, das diferenças entre os seres que habitam o cosmos. Os humanos sabem que muito do que possuem –aquilo que chamamos de cultura não foi meramente ‘inventado’ por eles mesmos, mas sim tomado, no tempo do mito, de outras espécies, e mesmo de inimigos há muito não vistos. Os rituais indígenas são, além disso, uma celebração das diferenças entre os próprios seres humanos, diferenças sem as quais não haveria nem troca nem cooperação. E para celebrar essas diferenças uma intensa trama de prestações de comida e bebida, sobretudo, mas também, em certas ocasiões, de cantos e artefatos – é posta em movimento. (POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2008)

Imagem 10 – expressão cultural do grafismo Fonte: PINTEREST, 2022
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Imagem 11 – expressão cultural dos rituais

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Fonte: PINTEREST, 2022

O ESPÍRITO SANTO: CAPIXABA EM TUPI “ROÇADO PARA PLANTAR”

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8 O ESPÍRITO SANTO: CAPIXABA EM TUPI

“ROÇADO PARA PLANTAR”

Neste capítulo abordará o estado do Espírito Santo devidamente, por ser o local de aplicação do projeto, dessa forma é necessário entender a contextualização quais povos habitam pelo estado e as demarcações das terras indígenas.

8.1 POVOS INDÍGENAS DO ES

No período das grandes navegações em direção ao Novo Mundo, certamente para exploração de novas terras, no dia 23 de maio de 1535 originou-se a capitania do Espírito Santo. O nome foi atribuído por ser um dia de celebração de Pentecostes na fé católica pelo donatário Vasco Fernandes Coutinho. Segundo Santos (1999), a vegetação era exuberante, misteriosa e densa, o que atraía os marinheiros para o desembarque. O contato primitivo foi

intenso, pois na primeira diligência no território houve o acionamento das armas de fogo apontadas para o alto, impulsionando um ato de pânico aos nativos. Esse ato demonstra a primeira hostilidade entre as raças e as culturas entre povos distintos (Santos, 1999).

O primeiro assentamento no contexto capixaba ocorreu na área hoje ocupada pela cidade de Vila Velha (ES), aonde os portugueses chegaram com a sua embarcação. A história relata que, nos primeiros anos, houve muitos confrontos indígenas e, por uma questão de segurança, transferiram a capital para ilha de Santo Antônio, conhecida como a ilha de Vitória (Bentivoglio, 2019; Santos, 1999).

Segundo Bentivoglio (2019), os primeiros aborígenes que evidenciaram a chegada dos portugueses foram os “Tupiniquins”, um povo adaptado às condições climáticas e às fontes naturais locais. Os Tupiniquins, como ilustrado na (imagem 12), ocuparam amplamente a costa litorânea,

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no trecho correspondente do sul da Bahia até São Paulo.

Por meio de análises genéticas, Souza (2020) destacou que foi possível comprovar essa hipótese: Indígenas Tupiniquim que habitam Aracruz, no Espírito Santo, (...) têm a mesma linhagem genética do grupo que povoavam o litoral brasileiro na época da chegada dos portugueses, no século 16. Eles possuem 51% de DNA nativo americano, 26% europeu e 22% africano (Souza, 2020).

Imagem 12 distribuição dos Tupiniquins no Espírito Santo

A (imagem 12), mostra a distribuição e migração das tribos Tupiniquins, a partir da lógica que conduziu a ocupação ao longo do período colonial e determinou a ocupação do aldeamento jesuíta no estado do Espírito Santo. Certamente, vale mencionar que as rivalidades de outras tribos resultaram no escoamento para o norte do estado.

8.2 DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS

O estado do Espírito Santo possui três terras demarcadas como reserva indígena, em uma área de aproximadamente 18 mil hectares, localizadas por Zorzetto (2020) a 80 quilômetros ao norte de Vitória, no município de Aracruz.

A (imagem 13) mostra a demarcação e a localização no território. O estado apresenta duas etnias indígenas os Tupiniquim e Guarani que juntas contemplam nove aldeias distribuídas em torno de Aracruz, com cerca de 3.800 índios (Teão e Loureiro, 2009).

Fonte: elaboração própria, 2022

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Imagem 13 Demarcação da terra indígena no Espírito Santo

nhandereko, ao modo de ser guarani” (Bentivoglio, 2019, p.10). Desse modo, são dois grupos aldeados em Aracruz na atualidade.

Existem duas principais hipóteses de como se deu essa movimentação, baseadas em evidências linguísticas e arqueológicas. A primeira delas indica que essas populações partiram juntas em descida pelo território até a região da fronteira com o Paraguai, e ali se dividiram, uma parte continuando pelo sul, que daria origem à etnia Guarani (Tupi-Guarani do sul), e outra para o litoral, onde surgiriam os Tupiniquim (Tupi Guarani da costa). Já a segunda hipótese é de que essas duas ramificações tiveram início ainda na Amazônia, e os povos teriam partido de lá já como grupos independentes os Guarani direto para o sul, e os Tupiniquim (junto com Tupinambá e outros Tupi costeiros) para o norte e em seguida o litoral (Souza, 2020).

Fonte: elaboração própria, 2022

Os povos Tupiniquins são denominados de “Tupi, que englobam os falantes de todas as línguas derivadas do tronco linguístico Tupi” (Souza, 2020, [s. p.]) e os Guaranis, conhecidos “pela etnologia por acreditarem na busca da terra sem mal, que consiste em um local apropriado ao

A (imagem 14) mostra essa migração originados na floresta amazônica, a dispersão pode ter ocorrido pelo crescimento populacional, ou seja, novas necessidades e busca por alimentos. Assim, com o movimento de novas terras surgiram as variações linguísticas e culturais.

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Imagem 14 - origem dos índios Tupiniquins e dos Guaranis
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Fonte: Souza, 2020

ESTUDOS DE CASOS

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10 ESTUDOS DE CASOS

Será abordado, inicialmente, um estudo técnico na Aldeia Piraquê-Açu para entender melhor os materiais, a forma de organização, técnicas construtivas como também a forma de implantação na paisagem.

Os estudos de casos visam em absorver as informações e analisar as aplicações projetuais futuramente. Dessa forma, foi escolhido o Museu do Índio FUNAI pelo fato de ser um dos museus mais simbólicos dos índios aqui no Brasil, entretanto há algumas divergências em sua representação. O segundo estudo de caso é o Memorial dos povos indígenas em Brasília, é um ícone da arquitetura moderna brasileira com uma ideologia da oca futurista, porém a divergências na integração da cultura indígena. O terceiro estudo de caso é o Centro Cultural Jean Marie Tjibaou, onde é um projeto muito tecnológico e eficiência em conforto pelas técnicas utilizadas.

10.1 ESTUDO TÉCNICO EM ARACRUZ: ALDEIA PIRAQUÊ AÇU EM GUARANI “RIO DO PEIXE GRANDE”

As aldeias em Aracruz correspondem a dois grupos étnicos, os Tupiniquins e os Guaranis (Prefeitura de Aracruz, 2021), visto que são povos que perderam as suas características, mas mantiveram a sua cultura viva e modo de viver ancestral no meio da floresta. A (imagem 15) demonstra as sete aldeias existentes: Areal, Amarelos, Caieiras Velhas, Irajá, Pau Brasil, Comboios e Córrego do Ouro de etnia tupiniquim e três aldeias da de etnia Guarani - Boa Esperança, Três Palmeiras e Piraqueaçu. As aldeias estão localizadas na região litorânea do município e às margens do Rio Piraquê Açu considerado o maior estuário do Espírito Santo e um dos mais representativos da América Latina. O bioma criado pelo clima tropical, as matas, rios, manguezal e mar, dão o tom da vida indígena aracruzense (Prefeitura de Aracruz, 2019).

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Imagem 15 distribuição das terras indígenas

Os guaranis não são precedentes no território capixaba, pois vieram do Sul. “Em 1967, cerca de 30 índios guaranis chegaram ao Espírito Santo de trem” (Bentivoglio, 2019, p.16). São grupos conhecidos por se deslocar de regiões para outras em busca das “Terras sem Males” coincidindo com as terras capixabas.

Foram expulsos de suas terras por fazendeiros de erva mate na década de 1940, sendo guiados durante vinte anos pela chefe espiritual Tãtãtxi Ywa Reté até a Terra sem Males, um lugar apropriado ao seu modo de vida e que reunisse condições físicas (Neiva, 2016).

Fonte: elaboração própria, 2022

A área de estudo desta pesquisa corresponde a Aldeia Piraquê Açu, da tribo de etnia Guarani, que segundo a Funai (2020), compreende nove famílias, em sua maioria com Kaiowá, que ocupam aproximadamente 50,5 ha. Constitui a aldeia menos povoada e se localiza a 45 km da BR ES-010 - a rodovia que liga a região metropolitana de Vitória (capital do Espírito Santo) ao norte do estado.

A terra nas quais os Guaranis procuravam deveria permitir a subsistência da tribo por meio da retirada de riquezas da natureza, tais como alimentos, água e a liberdade. O processo de deslocamento é realizado pela busca do Tekoa. Para os Guaranis, a escolha do território é fundamental, pois está associada ao seu modo de vida, à nomeação da aldeia e à formação das suas regras.

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Os Guarani Mbya da Região Sudeste buscam um território com as seguintes condições ambientais: localizado em sentido leste, situado próximo ao mar e com presença de Mata Atlântica. Os Guarani Mbya buscam esses lugares próprios ao seu modo de vida e nomeiam as aldeias conforme os elementos míticos para identificar esses espaços. A religião é um fator decisivo de diferenciação étnica que se dilui no cotidiano, nas diferenças de hábitos, na dieta alimentar. O território guarani é formado pela relação entre os aspectos socioambientais, espaciais e de acordo com os princípios éticos que regem o modo de ser guarani. As regras de reciprocidade e de convivência social mantêm a dinâmica de ocupação territorial guarani (Bentivoglio, 2019, p.12).

Vale ressaltar, que o deslocamento dos Guaranis provém de questões ecológicas culturais na busca de suas necessidades econômicas e sociais (Bentivoglio, 2019). O deslocamento é gerado na ausência da caça, pesca e do cultivo, assim como os conflitos internos. Na Fig. 09 é perceptível a localização da área de estudo da Aldeia Piraquê-Açu - uma região que apresenta condições ambientais segundo o Tekoa dos Guaranis, um lugar que coincide com a presença da Mata Atlântica, que está no Leste e próximo ao mar.

A tribo Guarani de Piraquê Açu é formada por astros que interligam com os meios naturais da terra. A aldeia exibe uma relação de reciprocidade entre os índios que identificam os seus espaços por meio dos elementos místicos, que articula a consciência da identidade por meio de características próprias e intransferíveis do lugar (Bentivoglio, 2019). A forma de implantação (imagem 16), demonstra que a Aldeia Piraquê-Açu, apresenta uma forte relação com a natureza — está circundada por uma área de mata e se localiza defronte às margens do Rio Piraquê-Açu — um patrimônio espiritual pelo fato de exibir a força da natureza e resistências das tribos que vivem em suas margens. De fato, pelo seu nome ser dado pela tribo significa na língua Tupi rio do peixe grande. Possui uma fauna e flora riquíssimas com peixes que servem como alimento principal da pesca para tribo. Além da aldeia, estar bem integrada com a Mata Atlântica e pelo mangue. A tipologia do solo é arenosa e com mistura de barro

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diagnosticado pela visita técnica.

Imagem 16 croqui da implantação da Aldeia Piraquê Açu

Aparenta nos limites da aldeia as casas segregadas conectadas por caminhos ociosos. “Elas são uma espécie de rede que se espalha pela mata” (Neiva, 2016). Assim, considera uma rede inteligente e mutável, formam uma identidade para aldeia guarani a impermanência, a fluidez e a fragmentação.

Fonte: elaboração própria, 2022

A organização espacial da tribo provém de um centro geométrico indefinido, onde as casas têm prioridade sobre a aldeia, certamente sobrepõe a mesma com forma distinta sem organização descrito por Neiva (2016). Na (imagem 16) percebe-se essa idealização.

O local de moradia ou habitação dos índios Guaranis corresponde por ´Opy´ traduzido por casa. Na Aldeia Piraquê-Açu, observa-se duas formas habitacionais, certamente corresponde essa tipologia pelo fato das dimensões e formas estarem interligadas com o número de habitantes da tribo e as interferências da história dos índios com o “homem branco” assim modificaram significantemente a cultura e seus costumes. Os guaranis como os outros grupos étnicos indígenas conduzem o meio de viver perante a natureza, através desses fatos é possível averiguar que esse modo corresponde a forma mais sustentável de se construir no qual retiram os materiais da floresta. Esse processo na linguagem

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arquitetônica expressa a prática vernacular (recursos tirados do próprio ambiente ou local para promover edificações de materiais provindas de recursos regionais) são de pura elegância e tecnológica avançada que lidam com as questões climáticas, adaptação e interlocução.

Em uma primeira aproximação pode-se dizer que tecnologia avançada é aquela que permite, com base em recursos humanos e materiais acessíveis, alcançar, mediante seu aperfeiçoamento e desenvolvimento, o mais alto grau de produtividade para conseguir um habitat adequado para cada região e seus modos de vida, tanto em qualidade como em quantidade (Moreira, 2021)

As construções indígenas, na contemporaneidade, são carregadas pela ancestralidade, se adaptam e seguem o processo de evolução de cada aldeia, resultando em identidades próprias cores, costumes, interligações e harmonia. A (imagem 17) mostra a tipologia provinda da ancestralidade com uma forma curva, achatada, característica dos povos guaranis. Os materiais utilizados

correspondem a madeira e a palha.

Imagem 17 opy: tipologia advinda da ancestralidade

Fonte: elaboração própria, 2022

A (imagem 18) exibe o processo construtivo da forma curva achatada. Inicialmente ergue-se a estruturação principal por meio dos esteios representados pelas madeiras de espessuras maiores consideradas como fundação e a cumeeira como vingas principal. Assim, o próximo passo é a colocação de madeiras menores nas extremidades conhecidas como ripas e por fim o

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Fechamento, por meio de um painel constituídos por amarrações por folhas de palmeiras entrelaçados por grampos no fechamento secundário servindo como cobertura.

Imagem 18 técnica construtiva da Opy

homem branco, em que o material é composto por alvenaria e telhado cerâmico ou cimentício sujeitando a descaracterização cultural. Já as casas localizadas mais adentro da mata possuem uma materialização ancestral do barro, madeira e da palha. Conhecido pelo uso da técnica construtiva, o pau-a-pique.

Imagem 19 evolução da casa indígena

Fonte: elaboração própria, 2022

A (imagem 19) mostra a tipologia retangular constituída por dois tipos de materiais, pelo visto as casas mais distantes, ou seja, nas extremidades da aldeia, possuem descaracterização intensiva pela influência externa do

Fonte: elaboração própria, 2022

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A (imagem 20) exibe o processo construtivo da forma retangular ancestral. O processo do pau a pique primeiramente pela preparação do terreno onde será concebido a edificação, assim é exercido os esteios que são os pilares formados por madeiras mais grossas, a cumeeira como viga principal, traves e cruzetas como vigas secundárias, encaibramento e ripas como elementos terciários, ocasionalmente as janelas e portas como molduras. Por fim, a colocação do pau a pique que são os frechais e varas que formam um conjunto xadrez formados por madeiras mais finas, logo o barramento (mistura terra, água e areia) são postos nos vazios do pau a-pique formando consequente as paredes e divisórias da edificação. Vale ressaltar, que a etapa final construtiva corresponde a inserção da cobertura preenchida com sapê.

Imagem 20 técnica construtiva da nova versão da casa indígena

Fonte: elaboração própria, 2022

Os índios possuem amplo domínio das técnicas construtivas observadas na aldeia de estudo, a saber: amarrações com a palha, enlaçamento por meio de cipós nas interligações das estruturas, encaixes e conexões e o pau-a-pique. Essas técnicas podem ser reconhecidas como patrimônio imaterial, preservados pela perpetuação do saber-fazer. A (imagem 21) demonstra a técnica de

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amarrações que correspondem ao fechamento das construções indígenas tanto lateral e superior. As folhas das palmeiras tinham um tratamento em que os índios trabalhavam por meio de amarrações individuais posto em ripas. Imagem 21 técnica do pau-a-pique

Os índios utilizam o enlaçamento (imagem21) para fazer as amarrações, correspondendo a utilização do cipó para amarrar a superestrutura para conectar os subsistemas que formam a edificação. Os encaixes são soluções e adaptações para conectar as estruturas e vigas por meio de peças detalhadas em suas extremidades, servindo como encaixe mais efetivo (imagem 21).

Fonte: elaboração própria, 2022

A técnica construtiva, denominada de pau-a-pique ou taipa de mão, corresponde a um sistema construtivo que utiliza a madeira como sistema estrutural e o pau a pique (madeiras finas, bambu ou cipó, amarrados para formar uma trama, com linhas horizontais e verticais), posteriormente preenchidos com barro umedecido, misturado a um agregante, como fechamento.

Os indígenas das aldeias Tupinikins e Guarani moram, há alguns anos, em casas de pau-a-pique ou alvenaria e não em ocas como se tem no imaginário. Recentemente o banheiro foi inserido nas casas. A implantação das casas

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destaca outra mudança significativa: as casas são edificadas em grandes clareiras ao longo da estrada. Algumas soluções e adaptações às condições ambientais adotam materiais retirados da natureza. No entanto, verifica-se que aspectos externos à sua cultura estão presentes nas construções, como o uso de alvenaria, telhado em duas águas, telhas cerâmicas e de amianto. As construções são simples e pequenas, porém refletem o modo de vista dos indígenas, que sobrevivem da caça, da lavoura, da venda de artesanato nas cercanias das aldeias e do turismo por meio de visitações ao local. As aldeias ainda possuem forte relação com o rio, de onde garante sua sobrevivência. Todas essas relações supracitadas influenciam na configuração da paisagem cultural das aldeias indígenas, pois a paisagem cultural configura uma "porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores" (Depam/Iphan, 2009).

10.2 MUSEU DO ÍNDIO FUNAI

O Museu do Índio fica localizado na cidade do Rio de Janeiro, na Rua da Palmeiras em Botafogo podemos analisar pela (imagem 23). O edifício era um antigo casarão de acordo com Museu do Rio (2021), onde era uma residência construída no final do século XIX, com natureza de estilo arquitetônica neoclássica podemos observar pela

Imagem 22 museu do índio Funai Fonte: Museu do Rio, 2021
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(imagem 22), por fim no processo de urbanização da cidade a edificação foi reconhecida e tombada pelo IPHAN. Conforme o MUSEU DO RIO (2021) “O museu foi criado por Darcy Ribeiro, inaugurado, no dia 19 de abril de 1953, por ocasião das comemorações do Dia do Índio Americano.”

O objetivo do projeto por Museu do Índio (s.d.) é conscientizar a humanidade e a importância da cultura para contribuir por meio da difusão do patrimônio culturais indígenas no qual exibi as diversidade e a história étnica da nação indígena no Brasil. O museu é referência para a pesquisas antropológicas e é o maior acervo do país, sendo assim por: Guarda documentos relativos à maioria das sociedades indígenas contemporâneas, constituídos de 15 mil 840 peças etnográficas e 15 mil 121 publicações nacionais e estrangeiras, especializadas em etnologia e áreas afins. Seus diversos Serviços são responsáveis pelo tratamento técnico de 76.821 registros audiovisuais e 833.221 documentos textuais de valor histórico e contemporâneo. (MUSEU DO INDIO, s.d.)

Fonte: elaboração própria, 2022

Imagem 23 Implantação Museu do índio Funai
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O programa de necessidade do museu apresenta por Museu do Índio (s.d.)

Tabela 02 Programa de necessidade do Museu do Índio

ESPAÇO DESCRIÇÃO

Casarão Central

Principal espaço voltado para as exposições de longa duração do museu. Há também um espaço chamado Museu da Aldeias, onde é destinado para exposições temporáreas.

Localizada no térreo, possui 150 m² diluido em sala de leitura, multimídia, acervos e processamento.

Espaço Muro do Museu

Varanda do Museu

São exibições no muro do Museu, no qual já fazem partem da paisagem urbana da cidade. O espaço apresenta paineis fotográficos e divulgações dos aspectos socioculturais dos povos indígenas de todas as regiões do país com a finalidade de chamar atenção para quem passa no local.

Apresenta painéis fotográficos da diversidade cultural indígenas.

Jardim do Museu

É um recurso do Museu para mostrar a diversidade cultural do modeo de organização como arquitetura, materiais, funções do espaço e o modo de vida dos povos indígenas.

10.3 MEMORIAL DOS POVOS INDÍGENAS

Local do projeto: Brasília DF

Arquiteto: Oscar Niemeyer

Ano do Projeto: 1987

Tipologia: Memorial

Imagem 24 Memorial dos Povos Índigenas

Galeria de Arte

Auditório

Loja índio e Arte

Reserva Técnicas

Espaço multiuso que é direcionado para divulgação das expressões artisticas das naçoes indégenas

Funciona como uma galeria de arte e um espaço multiuso para recepção do público e atividades educativas.

Um espaço para divulgação e comercialização dos materiais produzidos pelo indígenas

Lugar destinado para armazenamento do acervo como obras, fotográfias, documentos e entre outros aspectos.

Fonte: elaboração própria, 2022

Fonte: Pinterest, 2022

Biblioteca Marechal Rondon
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O Memorial dos Povos Indígenas foi idealizado segundo o Governo do Distrito Federal (s.d.) por Darcy Ribeiro um antropólogo brasileiro que defendia as causas indígenas, assim criou o Memorial com a intenção de mostrar as raízes brasileiras, pelo fato de ser a base da civilização do país. O objetivo do projeto é mostrar a diversidade e os valores da cultura indígena e pela sua localização intensificar ainda mais o reconhecimento dos povos indígenas. O edifício fica localizado pela (imagem 25) no Eixo Monumental oeste de Brasília, ou seja, um local muito privilegiado em frente ao Memorial do Juscelino Kubitschek, foi o 21° presidente do Brasil, criador da Capital do país. Além disso, o “Memorial abriga um acervo de 380 peças de artesanato indígena, doado pelo casal de antropólogos Darcy e Berta Ribeiro e, reunido em mais de 40 anos de pesquisa pelo interior do Brasil.” (SÉCULOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2007).

Imagem 25 – Implantação Memorial dos Povos Indígenas

Fonte: elaboração própria, 2022

O projeto foi conduzido por Oscar Niemeyer, com uma área de 2984,08 m² edificado. O conceito foi inspirado na aldeia Yanomami assim o edifício possui por Séculos Indígenas no Brasil (2007) uma forma circular simulando uma maloca de forma “moderna” exibido pela (imagem 26), em sua composição há elementos da tradição indígena e técnicas avançadas da arquitetura moderna.

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Imagem 26 Croqui forma do Memorial dos Povos Indígenas

A setorização e o fluxo do Memorial podemos perceber o funcionamento por meio da (imagem 27)

Imagem 27 setorização do Memorial dos Povos Indígenas

Fonte: Séculos Indígenas no Brasil, 2007

O programa de necessidade do Memorial apresenta por Governo do Distrito Federal (s.d.):

Tabela 3 Programa de Necessidades Memorial dos Povos Indígenas

ESPAÇO DESCRIÇÃO

Exposições Espaço voltado para exposições do acervo próprio e de temporários Laboratório local destinado para conservação e restauro do Memorial como também uma reserva técnica

Telecentro Ambiente atribuido para inclusao digital e pesquisas educativas, dessa forma composto por computadores de acesso a internert

Auditório É um recinto que designado para conferências, palestras, concertos e entre outros.

Pátio interno e Jardim externo Área para eventos maiores voltado para manisfestação cultural dos povos índigenas

Arena Local reservado para rituais e manisfestções culturaiss

Fonte: elaboração própria, 2022

Fonte: Séculos Indígenas no Brasil, 2007

O projeto foi feito com estrutura de concreto armado e aço, grande aspecto do movimento da arquitetura moderna no século XX. De acordo com o século Indígenas no Brasil (2007) Oscar N. projetou uma forma circular com 70 metros de diâmetro, onde as salas se abrem para o interior do pátio. O edifico compreende ainda com uma grande rampa na entrada no qual as pessoas entram são direcionadas para o primeiro

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pavimento. Em questão de materialização o concreto e o vidro são evidentes na composição e fechamentos. A fachada do Memorial exibi o grafismo indígena como mostra a (imagem 28).

Imagem 28 perspectiva Memorial dos Povos Indígenas

Fonte:

10.4 CENTRO CULTURAL JEAN MARIE TJIBAOU

Local do projeto: Nouméa, Nova Caledônia (Ilha do Pacífico)

Arquiteto: Renzo Piano

Ano do Projeto: 1998

Tipologia: Centro Cultural

O projeto começou inicialmente descrito pelo Archdaily (2016) como um concurso internacional pelo governo do país para um centro cultural voltado para cultura nativa de Kanak, assim Renzo Piano foi o ganhador do concurso. Historicamente a ilha foi colonizada pelos franceses no século XIX, de tal forma o território sofreu grandes explorações tanto naturais como escravidão. No processo

Pinterest, 2022 Fonte: Archdaily, 2016 Imagem 29 Centro Cultural Jean Marie Tjibaou
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de independência liderado por Jean Marie Tjibaou em nome dos povos nativos resultou em várias guerras dolorosas como reconhecimento heroico o governo francês nomeou o centro cultural pelo seu nome. O objetivo do concurso era valorizar os povos nativos, sendo a base étnica do país, no qual estava sofrendo deterioramento e se extinguindo. A implantação do projeto pela (imagem 30) fica em Nouméa, uma região que apresenta uma grande fauna e flora nativa como também é uma região que apresenta povos Kanak.

Imagem 30 Implantação CENTRO CULTURAL JEAN MARIE TJIBAOU

O centro cultural relatado pelo Archdaily (2016) uma área de 8550 m² de construção. Renzo P. idealizou na inspiração nas casas do povo Kanak, como conceito dar “influência do local e do ambiente como determinantes do projeto e performance” (ARCHDAILY, 2016). A forma do edifício, como mostra a (imagem 31), apresenta uma desconstrução das casas nativas e transformando em conchas monumentais, sua construção de um perfil cônico desmaterializado e similar as texturas das árvores da região. As conchas, transmiti uma monumentalidade que vão variando de 20 a 20 metros de altura, dando presença na paisagem da ilha. O edifício aparente ser uma tipologia arquitetônica orgânica e efêmera, misturando as geometria e matérias da natureza.

Fonte: elaboração própria, 2022

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Imagem 31 CENTRO CULTURAL JEAN MARIE TJIBAOU

A setorização e o fluxo do Memorial podemos perceber o funcionamento por meio da (imagem 32).

Imagem 32 setorização CENTRO CULTURAL JEAN MARIE TJIBAOU

Fonte: Archdaily, 2016

O programa de necessidade do Centro Cultural JEAN

MARIE TJIBAOU Archdaily (2016): ESPAÇO DESCRIÇÃO

Tabela 4 Programa de Necessidades Centro Cultural

Exposições Espaço voltado para exposições do acervo próprio e temporários

Auditório É um recinto que designado para conferências, palestras, concertos e entre outros.

Anfiteatro Ambiente destinado para manisfestação cultural como dança, teatro, músicas e entre outros.

Zona de Investigadores Lugar para realização de pesquisas, experimento e como também um área técnica

Administração Tem como função administrar e gerir o centro cultural

Fonte: elaboração própria, 2022

Fonte: Archdaily, 2016

O Centro Cultural Tjibaou por Archdaily (2016) apresenta várias soluções, uma delas é questão climática, o edifício exibi vazios exteriores e aberturas que abrem fisicamente ao projeto assim criando ventilação passiva inteligente que eliminar o ar artificial e fornecendo ar natural devido ao

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design que Renzo desenvolveu, podemos observar pela (imagem 33)

Imagem 33 Climatização CENTRO CULTURAL JEAN MARIE TJIBAOU

Fonte: Archdaily, 2016

O edifício tem técnicas construtivas muito tecnológicas pela (imagem 34), visto que a estrutura é feita à base de concreto armado, a estrutura em aço inoxidável, pilares de madeira Iroko e os fechamentos de vido e brises de madeira em Iroko. (Archdaily, 2007).

Imagem 34 Estrutura CENTRO CULTURAL JEAN MARIE TJIBAOU
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Fonte: Archdaily, 2016

O PROJETO

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Através da fundamentação teórica transmitiu o processo da construção da cultura brasileira um reflexo de misturas de povos primitivos e dominantes, sendo os indígenas os primeiros povos originários da América latina e especificamente ao território brasileiro. Sendo assim, foram fundamentais na base da formação e identidade da sociedade, todavia muitos não reconhecem a sua contribuição e existência, no qual representam um anexo na nação brasileira. São povos ancestrais do acúmulo da luta e repressão desde o imperialismo português “colonialidade do poder” ao sistema atual, ameaçados, como outras culturas, secundarias, pelo idealismo Global intitulado pelas grandes nações mundiais do capitalismo.

salvaguardar a cultura dos povos originários do Brasil. A partir da idealização do projeto foi traçado as diretrizes projetuais, no qual orientou nas decisões da concepção da escolha do terreno, programa de necessidades, implantação, enfim, conceito e partido.

10.1 terreno

Diante dos meios, levou a criação desse devido trabalho como proposta um espaço cultural, com objetivo de conectar a sociedade com imersão na cultura indígena para conhecer, experimentar e praticar as mais diversas manifestações dessa sociedade, quebrando, assim, as barreiras da estruturação da exclusão, por fim

A primeira diretriz é designada na escolha do terreno, em que consiste nas mesmas condições territoriais que os indígenas idealizam levantando no capítulo 9 do estudo técnico em Aracruz na Aldeia Piraquê açu. “Em sentido leste, situado próximo ao mar e com presença de Mata Atlântica” (Bentivoglio, 2019, p.12), esse aspecto é importante, pelo fato de aproximar os fatores, do modo de vida e a correlação com os indígenas e mostra como forma de incentivar a correlação dinâmica com os aspectos socioambientais.

A próxima diretriz é determinadora da escolha do local de implantação do projeto no qual estabelece um

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impacto cultural no meio urbano homogeneizado influenciado pela globalização de maneira impactar e impor a existência da manifestação indígena.

socioambiental, construtivo, infraestrutura e mobilidade, por fim aspecto urbanístico que serão essenciais para concepção do projeto, por fim as conclusões.

O território que atende as exigências das diretrizes está localizado no Espírito Santo, na capital de Vitória, sendo o terreno a Ilha da Fumaça situado no Leste da baía. Geograficamente faz parte da paisagem da Avenida Beira Mar e apresenta resquícios da Floresta da Mata Atlântica. A Ilha atualmente é um terreno privado, pertencente à família Guimarães, desde 1985 descrito GAZETA (2017). A ilha já teve vários tipos de usos como desembarque de café, deposito de explosivos, ambiente de festas e nos dias atuais uma marina.

10.1.1 Aspecto socioambiental

A intenção do projeto é levar reconhecimento, conscientização, aprendizado, integração cultural é fundamental para criar um potencial econômico, social, político e ambiental para a região que está inserida. A seguir será mostrado os levantamentos de dados

As características naturais do terreno possui uma complexidade por ser uma ilhota, no qual apresenta um relevo topográfico de altitude de 20 metros acima do nível do mar (Topoggraphic-map, 2022). A natureza expressa resquício do bioma da Mata Atlântica com ecossistema de florestas pluvial tropical de encosta, pela análise é possível perceber que a biodiversidade entre fauna e flora estão sendo ameaçadas pelo mau uso do território. A ilha é banhada pelas águas do Atlântico e demostra poluição hídrica do despejo de esgoto e óleo das embarcações.

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Aos aspectos climático apresenta um clima tropical quente super úmido. A temperatura representa em média de 18° a 24° C. Os ventos predominantes da área com maior velocidade é o Nordeste e seguidamente o norte como dessa forma o direcionamento das aberturas dos edifícios estarão direcionadas para maior influência da corrente de ar.

Imagem 35 diagnóstico Aspecto socioambiental

Fonte: elaboração própria, 2022

10.1.2 CONSTRUTIVO

No contorno do terreno estão as regiões da Ilha de Santa Maria, Monte Belo e Bento Ferreira. Os usos predominantes na região da Ilha de Santa Maria são residenciais, no entanto, as regiões de Monte Belo e Bento Ferreira é constituído pela mescla entre residencial e predominância de instituições como IPES, Justiça Federal, Instituto Nacional do Seguro Social, Prefeitura de Vitória e escolas. Por fim, há usos comerciais. O gabarito acompanha o porte do uso, as residências Variam de 1 a 3 pavimentos, as instituições e comerciais predominam o uso de 2 a mais de 4 pavimentos.

82

10.1.3 INFRAESTRUTURA

MOBILIDADE

E

A região possui uma das grandes avenidas de Vitória, a Av. Mal. Mascarenhas de Moraes com perfil arterial conectando a grande metrópole de vitória. É uma área com alto teor de tráfego de automóveis e bicicletas. Possui ponto de ônibus, entretanto o calçamento é muito precário com buracos e pisos rachados sem acessibilidade alguma. Em alguns pontos foi perceptível poste e arvores no meio do caminho da passagem de pedestre e ciclistas. Além do terreno, está em uma região portuária, possui tráfego de embarcações de múltiplos portes.

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Imagem 36 diagnóstico construtivo gabaritos Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 37 diagnóstico construtivo usos Fonte: elaboração própria, 2022

Imagem 38 diagnóstico infraestrutura e mobilidade

neste devido território. Dessa forma inseriu um instrumento de análise construtivo que é o estudo Antrópico que determina a área de Antropização, ou seja, é ação do homem na natureza, no qual modificou o meio. Por meio desse diagnóstico foi determinado uma área de intervenção propondo uma nova diretriz projetual, assim determinado parâmetros urbanísticos para criação das edificações como mostra no mapa a seguir.

Imagem 39 diagnóstico aspectos urbanísticos

Fonte: elaboração própria, 2022

10.1.4 ASPECTOS URBANISTICOS

O local de concepção projetual consta pela análise do Plano Diretor de Vitória em uma região de Área de preservação ambiental. Entretanto, por ser uma propriedade privada e já habitada surge como consequência uma intervenção para concepção do projeto

Fonte: elaboração própria, 2022

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Diante das análises foi criado duas novas diretrizes no qual diz respeito aos aspectos urbanísticos e a outra na consequência do resultado dos diagnósticos, assim resolver as questões ambientais e sociais do território empregando medidas de recuperação da biodiversidade, incentivar a vitalidade da Beira Mar, potencializar o entorno tanto visual e a mobilidade (pedestre, ciclista e hídrica). Permitindo uma valorização e conexão ambiental, social, político e econômico com o entorno.

10.2 O PROGRAMA

O projeto tem uma visão de idealizar um espaço cultural visando integrar as múltiplas manifestações e renascer a cultura ancestral, por meio do diálogo do conhecimento, a experimentação e a prática. Assim, a escolha do terreno, a Ilha da Fumaça sustentou a base da definição do programa final.

Visando um espaço contemporâneo e dinamizador seguindo as diretrizes mencionados ao longo do trabalho.

Foi disposto oito espaços culturais de múltiplas atividades e usos, seguindo o objetivo e a função do projeto. Dessa forma os uso:

1. Praça flutuante: local receptor e introdutório ao espaço cultural, também um ambiente de permanência e movimento. A concepção de uma estrutura acima d’água de modo a evitar o aterramento na entrada do projeto e o desequilíbrio ambiental.

2. Praça: Espaço de recreação nos vazios na da Ilha. Idealizado áreas de permanecia, trilhas ecológicas e convivência.

3. Recepção: Edifício de controle para os múltiplos usos dentro do espaço cultural.

4. Teatro: Edifício destinado às manifestações árticas como danças, peças teatrais, espetáculos e musicais.

5. Centro de Inovação: Edifício desenvolvido para inovação e dissipação da cultural. O espaço apresenta laboratórios de pesquisas, ateliê, estúdio de filmagem, gravação e fotografia, midiateca, coworking, cafeteria e auditório.

6. Museu: Proposta do primeiro museu do índio brasileiro.

7. Memorial: Espaço destinado à memória dos povos indígenas e reflexão ao futuro.

8. Espaço Gastronômico: Edifício destinado a culinária da cultura indígena.

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10.3 CONCEITO

Após análise das diretrizes e o programa foi definido o conceito em que consiste na “manifestação cultural do índio brasileiro como alta performance projetual e contemporâneo”, ou seja, A proposta é criar uma arquitetura pragmática, ou seja, que tem objetivo de gerar um proposito além da imagem do edifício, no qual será uma ponte de interligação de uma cultura ancestral para a sociedade globalizada, a fim de gerar um impacto de subsistência mútua e quebrar paradigmas, consequentemente inclusão cultural no resgaste da identidade e memória do embrião da nacionalidade brasileira.

10.4 IMPLANTAÇÃO E PAISAGISMO

Em síntese do conceito foi elaborado a implantação de cada edifício em forma do assentamento das aldeias guaranis, ou seja, no formato de rede que isoladamente os edifícios se conectam por meio de caminhos.

Centro gastronômico museu

Imagem 40 implantação geral

memorial teatro

Recepção

Centro de inovação

Fonte: elaboração própria, 2022

Parque flutuante

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0 15 30 60 m

O partido do posicionamento de cada edifico, segue uma idealização temporal da construção da história indígena. O primeiro edifico, é a recepção, no qual é o primeiro contato com o público ao espaço cultural, desse modo o formato seria o esboço das construções indígenas. Em seguida, o teatro a concepção é trazer o resgaste aos povos nômades que povoaram a América Latina, assim o formato circular das geometrias puras e elevação, onde o público pode andar por cima do edifício trazendo o canto com os astros celestes.

O edifício Centro de Inovação é representado pelo primeiro contanto do índio com o homem branco, resultando nas trocas de conhecimento, miscigenação e repressão. Assim, a ideia era criar múltiplos módulos trazendo as técnicas construtivas indígenas na estruturação da forma usando aço e o fechamento com material translúcido mostrando a estrutura como expositor, ou seja, mostrando as trocas de conhecimentos, logo em seguida um modulo separado, no qual a forma e a estrutura seguem as concepções indígenas. O isolamento

mostra a repressão que os grupos indígenas viveram e a conexão entre os modulas é composta por caminho de pedra.

O museu traz uma abordagem da atualidade do efeito da globalização e a resistência dos grupos indígenas, o edifício é tomado pelo concreto, aço e vidro, um reflexo da sociedade atual, mesclado com detalhes construtivos indígenas na resistência aos dias atuais. A ideia é criar estruturas de influência indígena que impactasse com meio e demostrasse uma discussão e reflexão com as formas.

O memorial é um edifício que a idealização de um espaço aterrado que fosse subindo diante da topografia, com poucas aberturas sendo zenitais, assim levando o espectador para o centro do espaço, onde a única abertura é apontado para as árvores do parque e direcionado para Amazônia. A concepção é levar o espectador a alta reflexão para o futuro ambiental do planeta e o futuro dos povos indígenas.

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Imagem 41 implantação do museu

O Centro Gastronômico, a ideia é criar um formato em lua e caixas se sobressaindo da estrutura em direção ao entorno como reflexão do futuro da cultura.

O desenho do paisagismo foi inspirado na natureza e no grafismo indígena, com várias tramas determinando as áreas de permanência, caminhos de pedestre e automóveis, e a própria malha da vegetação. Os mobiliários seguem uma forma fluida e robusta. As vagas de carros foram distribuídas no terreno na praça flutuante, sendo que vagas para idosos e vagas para PCD estão dentro e perto dos usos para maior acessibilidade.

10.4 O MUSEU

O museu é o edifico mais importante entre os espaços culturais, dessa forma o projeto está localizado em uma região estratégica pelo favorecimento das visuais e as condições climáticas. Além de permitir um grande destaque no ponto em que está inserido para composição da forma.

0 05 10 15 m

Fonte: elaboração própria, 2022

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O desenho do edifício é composto por quatro andares, no entanto, criaria um grande paredão se fosse sobreposto linearmente, logo impactaria negativamente a paisagem, desse modo, foi proposto o escalonamento acompanho as linhas da topografia e recortando em algumas partes o terreno. Para criar fluidez, os pavimentos foram inspirados no movimento da natureza, ou seja, o resgaste da percepção visual dos índios. Assim, cada pavimento se sobressai para exterior da implantação ao contrário da forma inicial, desta maneira com o movimento de um lado para outro criou se beirais consequentemente para o sombreamento. Para promover uma dinâmica cultural entre o contemporâneo e as técnicas construtivas indígenas foi criado ocas desconstruídas com elevações diferenciadas, permitindo um impacto visual na paisagem como alta performance conceitual. A (imagem 42) mostra as fases projetuais da concepção da forma.

42 Diagrama da forma do museu

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Fonte: elaboração
2022 Fase 01 Fase 02 Fase 03
4 andares 4 implantação Fase 04 ocas
Imagem
própria,
movimento escalonamento

A setorização e o fluxo no pavimento do subsolo apresenta a setor de serviço de apoio ao funcionário, serviço gerais, infraestrutura, instalações técnicas e manutenção. O fluxo apresenta o acesso de funcionários, mercadorias e distribuição de produtos. Os corredores são bastantes largos por conta das obras de artes e seu deslocamento. Assim, o fluxo para o pavimento térreo é por meio de escada e elevador de carga.

O pavimento térreo apresenta o setor do acesso em comum como recepção, prólogo, lounge, guarda-volumes e banheiros. Por outro lado, o setor de serviço corresponde o acervo técnico e serviço ao acervo é direcionado para o outro lado. O fluxo é dividido entre comum e de serviço. O fluxo comum é composto por uma entrada principal contendo escada e rampa de acesso e para interligação aos pavimentos acima por uma escada helicoidal estruturada e um elevador social. O fluxo de serviço privado no qual é interligado com o subsolo, por meio de escada e elevador de carga. Para interligação do

serviço do museu ao demais pavimento, o elevador de carga é exclusivamente para o setor de serviço e ao acervo.

O primeiro pavimento é composto por zonas comuns do museu, ou seja, galerias e banheiros, sendo uma adição na forma por meios de ocas que fazem parte do fluxo do museu com a finalidade de gerar uma experiência imersiva aos espectadores. O fluxo para os próximos pavimentos corresponde por uma escada helicoidal e elevador interligando o segundo pavimento.

O segundo pavimento apresenta o setor comum do museu, por meio das galerias e ocas e uma setor de serviço ao público como cafeteria, livraria e loja do museu.

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Serviço de Apoio ao Funcionário

1 Entrada 11 m² 2 Refeitório 11 m² 3 Vestiário Masculino 18 m² 4 Vestiário Feminino 20 m2

Serviço

5 Carga e Descarga 34 m² 6 Triagem do acervo 22,5 m² 7 triagem de mercadorias 7,5 m² 8 Triagem de Alimentos 7,5 m² 9 Deposito de materiais 10 m² 10 Deposito de loja 14 m² 11 Deposito livraria 14,5 m² 12 Setor Jardinagem 44 m² 13 Setor de Manutenção 48 m² 14 TI 25 m² 18 cisterna 53 m² 15 CPd Servidores 20 m² 16 Área de serviço e DML 21 m² 17 Sala de segurança 23 m² 3 Vestiário Masculino 18 m² 4 Vestiário Feminino 20 m2

Fonte: elaboração própria, 2022

A – escada (serviço) B – elevador de carga (serviço)

1 2 3 4 5 6 8 7 9 10 11 12 14 13 15 17 16 18
A B 0 02 04 06 m Imagem 43 Museu planta baixa subsolo
3 4 5 6 A B 1 2 c D E F 24 8 9 10 11 12 13 14 15 17 23 16 21 20 19 18 7
ao publico 1 Recepção e Lounge 30 m² 2 Guarda volumes 11 m² 3 sanitário pdc feminino 2,54 m² 4 sanitário pdc masculino 2,54 m2 5 sanitário feminino 12 m² 6 sanitário masculino 12 m² Serviço ao Acervo 8 multimidia 12 m² 9 Bibliotecário 9 m² 10 Bh masculino 6 m² 11 Bh feminino 6 m² 12 Sala de Arquivos 6 m² 13 Documentação 8 m² 14 Dml 9 m² 21 laboratório 25 m² 23 Preparação para exposição 22 m² Acervo técnico 15 Acervo-01 19 m² 16 Acervo-02 23 m² 17 Acervo-03 21 m² 18 Acervo-04 21 m² 19 Acervo-05 22 m² 20 Acervo 06 18 m² 22 Acervo 07 16 m2 A – escada (acesso comum) B Rampa (acesso comum) C escada (acesso comum) D elevador (acesso comum) E elevador de carga (serviço) F – escada
Galeria do museu 7 Prólogo 340 m² 0 02 04 06 m
44 Museu planta
Fonte: elaboração própria, 2022
Serviço
(serviço)
Imagem
baixa térreo
93 A B C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 E D Galeria do museu 1 Exposição 01 173 m2 2 Exposição 02 56 m2 3 Anexo exposição-02 55 m2 4 Exposição-03 81 m2 5 Anexo exposição-03 60 m2 6 Exposição-04 380 m2 7 Anexo exposição-04 57 m2 Serviço 8 DML m² 9 m2 9 Depósito 3 m2 A – escada (acesso comum) B – escada (acesso comum) C – elevador de carga (serviço) D escada (acesso comum) E Elevador (acesso comum) 0 02 04 06 m Imagem 45 Museu planta baixa 1 pav Fonte: elaboração própria, 2022

A escada (acesso comum) B Elevador (acesso comum)

Galeria do museu

Serviço ao publico

4 sanitário pdc feminino 2,54 m²

5 sanitário pdc masculino 2,54 m2

6 sanitário feminino 12 m²

7 sanitário masculino 12 m²

8 Cafeteria, Livraria e Loja 195 m2

B 0 02 04 06 m

3
A 1 2
4 5 6 7 8
1 Exposição 05 150 m2 2 Exposição temporária 01 62 m2 3 Exposição temporária 02 60 m2 Imagem 46 Museu planta baixa 2 pav
Fonte: elaboração própria, 2022
PROLÓGO ENTRADA EXPOSIÇÃO 01 EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA 02 0 02 04 06 m Imagem 47 Museu vista do corte Fonte: elaboração própria, 2022 95

A fachada do museu apresenta parcialmente aberturas de vidro para exterior, assim trazendo a paisagem para o interior como quadros vivos e exibir como partido das visuais, servindo como mirante em cada pavimento. Para o controle da incidência do sol foi proposto a colocação no primeiro pavimento brises de alumínio imitando madeira automatizados com rotação de 360° para o controle em qualquer época do ano e horário. No segundo, pavimento, foi proposto colocação de painéis vazados de alumínio imitando madeira com articulação automatizada com aberturas em camarão.

Os materiais utilizados no museu correspondem visualmente natural, mas com estrutura contemporânea em aço, vidro e concreto. Assim, como a madeira foi utilizado em muitas partes em lâminas coladas. Foi empregado tintas acrílicas imitando o barro e pedras ornamentais trazendo uma aparência de arquitetura vernacular.

A estrutura da edificação é composta por pilares em aço com enchimento, e lajes treliçadas de EPS (isopor) garantido grandes vãos que vão até 15 metros. As lajes treliças são compostas por vigotas com banzos e nós rígidos e intercaladas com elementos inerentes (isopor).

O sistema possui alta rigidez e leveza projetual. Além promover isolamento térmico sem absorver calor externo.

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97
Imagem 48 – Museu vista 1 da entrada principal Fonte: elaboração própria, 2022
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Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 49 Museu vista 2 da entrada principal
99
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 50 Museu vista 1 da fachada principal
100
Imagem 51 Museu vista 2 da fachada principal
101
Imagem 52 – Museu vista do interior com expositores Fonte: elaboração própria, 2022
102
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 53 – Museu vista da oca
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Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 54 – Museu vista da fachada com paisagismo
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Imagem 55 Museu vista 1 dos brises Fonte: elaboração própria, 2022
105
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 56 Museu vista 2 dos brises
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Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 57 Museu vista 3 dos brises
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Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 58 Museu vista 1 do paisagismo 2 pav
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Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 59 Museu vista 2 do paisagismo 2 pav

2022 Imagem 60 Museu vista 1 do espaço de estar no 2 pav

109
Fonte: elaboração própria,
110
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 61 Museu vista da cafeteria no 2 pav
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Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 62 Museu vista da recepção
112
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 63 Museu vista do prólogo
113
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 64 Museu vista para o exterior

10.4 Centro de Inovação

O centro de inovação está situado em um ponto estratégico no qual faz parte da visual de quem está olhando para ilha. Diante desse fato, a escolho do local foi proposital para evocar no destaque performática do projeto.

A composição do centro de inovação foi divido em módulos para criar uma espécie de um conjunto espelhando os povoamentos indígenas, no qual o formato é inspirado nas casas de palafitas, no entanto, o desenho é desconstruído exibindo um aspecto contemporâneo. Os módulos são conectados, por meio de uma passarela que interliga todos os edifícios. Por fim, o último modulo com formato orgânico inspirado nas grandes malocas, a sua conexão entre os outros módulos é por meio de uma passarela de pedra robusta. Foi criado um grande píer em formato circular para contemplação da natureza.

Fonte: elaboração própria, 2022

114
Imagem 65 – implantação do centro de inovação
1 3 2 5 4 6 7 1 Laboratório 2 Estudio 3 Ateliê 4 Cafeteria 5 Midiateca 6 Coworking 7 Auditório 0 05 10 15 m

O primeiro modulo é representado pelo laboratório e banheiros independestes. O segundo modulo são os estúdios de filmagem, gravação e fotografia. O terceiro modulo é o ateliê. O quarto modulo cafeteria. O quinto é a midiateca. Assim, o sexto o coworking de dois andares. Por fim, o último modulo com forma orgânica é o auditório.

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Ateliê

Midiateca

Coworking

Auditório

Modulo 1 - Laboratório

Fonte: elaboração própria, 2022

Apresenta um layout com mobiliários dinâmicos. Composto pela recepção, áreas de estudos, descanso e o laboratório.

116
1 3 2 5 4 6 7 1
2
3
4
5
6
7
0 01 02 03 m Imagem 66 centro de inovação modulo 01
Laboratório
Estudio
Cafeteria

Auditório

Fonte: elaboração própria, 2022

Foi idealizado 3 espaços destinado para gravação, filmagem e edição. Como também foi adicionado lavabos internamente pela necessidade do programa. Há uma cabine de controle e recepção.

1 3 2 5 4 6 7 1
2
3
4
5
6
7
0 01 02 03 m
Laboratório
Estudio
Ateliê
Cafeteria
Midiateca
Coworking
Imagem 67 centro de inovação modulo 02

Estudio

Ateliê

Midiateca

Coworking

Auditório

Fonte: elaboração própria, 2022

O ateliê possui um espaço para estudo e pesquisa e o espaço de produção. O layout possui grandes mesas e mobiliários de apoio.

118
1 3 2 5 4 6 7 1
2
3
4
5
6
7
0 01 02 03
Laboratório
Cafeteria
m
Imagem 68 centro de inovação modulo 03

Modulo 4 - cafeteria

Fonte: elaboração própria, 2022

A cafeteria é um espaço de permanecia e de apoio para o centro de inovação, um local para descanso e interação. Foi criado um layout flexível e permitindo o olhar para exterior.

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1 3 2 5 4 6 7 1
2
3
4
5
6
7
0 01 02 03 m
Laboratório
Estudio
Ateliê
Cafeteria
Midiateca
Coworking
Auditório
Imagem 69 centro de inovação modulo 04

Modulo 5 - midiateca

Fonte: elaboração própria, 2022

A midiateca foi idealizada um espaço de conhecimento. O layout apresenta um desenho orgânico permitindo uma fluidez visual e aconchegante para áreas de leituras.

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1 3 2 5 4 6 7 1
2
3
4
5
6
7
0 01 02 03 m
Laboratório
Estudio
Ateliê
Cafeteria
Midiateca
Coworking
Auditório
Imagem 70 centro de inovação modulo 05

Laboratório

Estudio

Ateliê

Midiateca

Coworking

Auditório

Fonte: elaboração própria, 2022

O coworking apresenta um espaço de produção e inovação. Possui um mobiliário dinâmico e, simultaneamente, único com espaços de estudos individuais e coletivos.

121
1 3 2 5 4 6 7 1
2
3
4
5
6
7
Cafeteria
Imagem 71 centro de inovação modulo 06

Modulo 7 – Auditório

Fonte: elaboração própria, 2022

O auditório foi criado pela necessidade de um espaço para realização de conferências, solenidades e eventos. Um formato circular e orgânico garante o maior uso do espaço. Com banheiros, foyer, sala do palestrante e deposito.

1 3 2 5 4 6 7 1 Laboratório 2 Estudio 3
4 Cafeteria 5 Midiateca 6 Coworking 7
0 01 02 03 m
Ateliê
Auditório
Imagem 72 centro de inovação modulo 07

Os edifícios apresentam um material translúcido de policarbonato com 45% de opacidade, utilizado na cobertura e na concepção da fachada ventilada. Os fechamentos da edificação é composta por drywall e placas cimentícias para o uso externo e aberturas de vidro.

água, muito utilizado pelos indígenas. Ainda foi elaborado uma fachada ventilada para minimizar a insolação.

O sistema estrutural é constituído por pilares são de aço e a estrutura do telhado em aço com acabamento de lâmina de madeira. Foi utilizado técnica construtiva indígenas de conexão na inspiração do telhado. A translucides do acabamento de fechamento da cobertura foi proposital para expor a técnica estrutural como um grande obra expositora. A idealização da altura da cobertura dos módulos foi inspirada nas técnicas indígenas de conforto que utiliza grandes alturas do telhado para criar efeito chaminé. No qual, o ar quente sai do interior para o externo. Foi utilizado aberturas zenitais com valetas de escoamento do ar quente. Outra técnica utilizada é a armazenagem de

123

LABORATÓRO

124
01 02 03 m
Fonte:
própria, 2022
Imagem 73 – centro de inovação vista do corte
elaboração

LABORATÓRO

01 02 03 m
2022
125
Fonte: elaboração própria,
Imagem 74 – centro de inovação vista do corte sistema climático
126
Imagem 75 Centro de inovação vista do módulo 01 Fonte: elaboração própria, 2022
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Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 76 Centro de inovação vista do módulo 02
128
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 77 Centro de inovação vista da passarela
129
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 78 Centro de inovação vista dos módulos
130
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 79 Centro de inovação vista do módulo 05 e 06
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Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 80 Centro de inovação vista 1 do paisagismo
132
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 81 Centro de inovação vista 2 do paisagismo
133
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 82 Centro de inovação vista do módulo 06 e 07
134
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 83 Centro de inovação vista do módulo 07
135
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 84 Centro de inovação vista da passarela de pedra
136
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 85 Centro de inovação vista 1 do píer
137
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 86 Centro de inovação vista 2 do píer
138
Fonte: elaboração própria, 2022 Imagem 87 Centro de inovação vista 3 do píer

CONSIDERAÇÕES FINAIS

139

A construção da cultura brasileira é um reflexo de misturas de povos primitivos e dominantes, sendo os indígenas os primeiros povos originários da América Latina e especificamente ao território brasileiro. O legado dos povos indígenas possui significados singulares que reverberam a sua importância para a construção da cultura, da identidade, da história, da memória, assim como na formação do próprio território brasileiro. Todavia, muitos não reconhecem a sua contribuição e existência, no qual representam um anexo na nação brasileira. São povos ancestrais do acúmulo da luta e repressão desde o imperialismo português — “colonialidade do poder” ao sistema atual, ameaçados, como outras culturas secundárias, pelo idealismo Global intitulado pelas grandes nações mundiais do capitalismo.

Através da fundamentação teórica aprofundado na investigação da cultura indígena e seu processo que levaram ser índio do sec. XXI, como resultado na criação de um espaço cultural de modo a conectar a sociedade com imersão na cultura indígena para conhecer, experimentar e praticar as mais diversas manifestações dessa sociedade. O maior legado dessa cultura está nas suas tradições, técnicas, no lugar das práticas e materialização e crenças. Difundir esse legado na construção contemporânea, almeja no resgate de soluções inteligentes e ao compartilhamento do conhecimento.

O resultado do projeto foi o ensaio projetual, mostrando ser possível e funcional ao uso das técnicas e práticas indígenas, como também difusão da cultura indígena para a sociedade influenciado na coexistência e resgatando da identidade e memorial ancestral, levando a continuidade para as gerações futuras.

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REFERÊNCIAS

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