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NOTICIÁRIO ARQUEOLÓGICO

FIG. 13.

É ainda de salientar a presença de duas aras em granito de grandes dimensões, tendo sido uma delas retirada no decorrer da primeira campanha de trabalhos arqueológicos. Esta encontrava-se no cunhal Sudoeste da capela e, embora muito desgastada devido aos vários reaproveitamentos, foi ainda possível observar duas letras (…AE), correspondentes ao nome de uma divindade, possivelmente TOGA ou REVA (Fig. 13). Pela moldura que apresenta, podemos datá-la do século I d.C. (SANTOS e ALBUQUERQUE 2008: 98; ALBUQUERQUE e SANTOS 2009). A outra ara, colocada na parede Norte, apresenta os toros do capitel, assim como uma marca resultante de reaproveitamentos anteriores (Fig. 14). Ainda dentro do contexto dos materiais construtivos reaproveitados no local, é importante referir a piscina baptismal, constituída por silhares de granito aparelhados de grandes dimensões e um lintel reutilizado como uma das paredes da estrutura, representando, assim, mais uma clara evidência de reutilização de materiais construtivos documentada em São Pedro (SANTOS e ALBUQUERQUE 2008: 106; ALBUQUERQUE e GUIMARÃES 2008: 5). A prática da reutilização de materiais construtivos na arquitectura durante o período cronológico em questão, Antiguidade Tardia/Alta Idade Média, poder-se-á atribuir à desarticulação do sistema económico e político romano e, consequentemente, à desagregação de muitos ciclos produtivos que se tinham desenvolvido no território do Império (QUIRÓS CASTILLO 1998: 235). Uma destas alterações ter-se-á dado ao nível da desactivação de

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II SÉRIE (17)

Tomo 1

JUNHO 2012

FIG. 14.

grande parte das pedreiras, não significando, por isso, a inexistência de canteiros, pois mesmo estes materiais reutilizados necessitavam de cuidados de adaptação às novas estruturas. Progressivamente, as pedreiras são substituídas, como fonte de matéria-prima, pela recolha de materiais de construção em edifícios arruinados, localizados nas proximidades das novas construções. O processo construtivo sofre, então, uma simplificação, face ao aumento da necessidade de reutilização dos materiais de construção, tanto no que se refere a silhares, materiais arquitectónicos e decorativos, como também de revestimento e cobertura, nomeadamente telhas e ladrilhos.

Paralelamente, assiste-se ao aumento do uso das argilas em detrimento das argamassas, tal como sucede em São Pedro, designadamente nos paramentos de alvenaria do interior do edifício. Atendendo ao que foi referido, poder-se-á dar a ideia de um dinamismo limitado durante este período cronológico, considerando as dinâmicas de reutilização de material. Contudo, o recurso à dita prática resultaria de uma soma de necessidade e vontade, factores que pesaram mais ou menos, consoante o espaço e o momento (VIZCAÍNO SÁNCHEZ 2002: 218).

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de la Lusitania: las áreas rurales”. In IV Reunió d’Arqueologia Cristiana Hispànica, Lisboa 1992. Barcelona, pp. 359-375. QUIRÓS CASTILLO, Juan Antonio (1998) – “La Sillería y las Técnicas Constructivas Medievales: historia social y técnica de la producción arquitectónica”. Archeologia Medieval. 25: 235-246. RAMOS, Sebastião Caldeira (1999) – Memórias da Capinha (uma aldeia no concelho do Fundão). SANTOS, Constança e ALBUQUERQUE, Elisa (2008) – “Capela de São Pedro da Capinha (Fundão): primeiras impressões (campanhas 2006/2007)”. Ebvrobriga. VIASCAÍNO SÁNCHEZ, Jaime (2002) – “Reutilización de Material en la Edilicia Tardoantigua. El caso de Cartagena”. Mastia. 1: 207-220.


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