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actividade arqueológica

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Escavações no Largo Duque de Cadaval (Lisboa) Teresa Miguel Barbosa, Tânia Manuel Casimiro, Rodolfo Manaia, Telmo Silva e Andreia Torres

s trabalhos arqueológicos desenvolvidos no Largo Duque de Cadaval - Rossio, em Lisboa (a Sul da Estação de Comboios do Rossio, no sopé da colina de São Francisco), tiveram como objectivo o cumprimento de medidas de minimização de impacto de obra, cuja finalidade passou pela requalificação urbana e arquitectónica do local, através da instalação de infra-estruturas de saneamento e águas pluviais. A intervenção foi financiada pela empresa Teixeira Duarte Ldª, promotora da obra, e coordenada por um dos signatários (T. M. B.), contactado apenas após a abertura de algumas valas. Os trabalhos desenvolveram-se em Setembro e Outubro de 2006, sendo intervencionada área com cerca de trinta metros de comprimento por quatro metros de largura. Foram identificados nove compartimentos, que acreditamos coincidirem com algumas das dependências do Palácio dos Duques de Cadaval, o qual, segundo informações históricas e cartográficas, ruiu com o terramoto de 1755. O compartimento 1 ofereceu paredes revestidas a azulejo, com motivos geométricos e vegetalistas. Apresentava vários tipos de padrões que coincidiam em ambas paredes, formando padronizado, em tons de amarelo e azul, característico de meados do século XVII. No corte Este, o lambrim dos azulejos inflectia para cima, denotando a presença de escada, facto que nos levou a considerar este compartimento como corredor de acesso a primeiro andar.

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Adivisão 2 revelou paredes revestidas a estuque branco, bastante danificado, em função de incêndio que destruiu o edifício. Daqui foi recolhido fragmento de coluna ornamentada a branco e negro que, devido à ausência de bases ao nível do solo, devia pertencer ao 2º piso. Aquando do seu aparecimento, o compartimento 3 foi interpretado como uma única sala. Contudo, com a escavação da camada 2 foi identificada, a arrancar do muro Norte, parede edificada em estuque e tijolo, cuja espessura não ultrapassava os 0,15 m, adossada posteriormente, surgindo a sala 4 e criando duas divisões independentes. O compartimento 5 parece tratar-se de via de acesso a pátio central do complexo. O pavimento apresentava empedrado de seixos (típico de arruamento), organizado, com excelente qualidade. A ausência de derrubes e cinzas revela que se tratava de zona a céu aberto. O material exumado neste contexto era constituído, quase exclusivamente, por objectos de metal, grande parte deles identificados como arreios de cavalos, argolas para os prender e objectos similares. O compartimento 6 apresentava chão argamassado e paredes sem revestimento. A partir daquele acedia-se, através de três degraus em pedra de lioz, a sala de grandes dimensões, pavimentada a tijoleira. O compartimento 8 encontra-se anexo ao 7, por entrada situada a Sul daquele. Por ser de pequenas dimensões, parece tratar-se de cor-

redor de acesso a outras dependências a Oeste, área que a escavação não abrangeu. Aestratigrafia do arqueossítio revelou seis camadas. O nivelamento da actual estrada de alcatrão (C1), que claramente cortou as estruturas arqueológicas, uma vez que o topo dos muros estava perfeitamente afeiçoado e impregnado de brita. O nível de destruição do palácio, definido por nível de incêndio com desmoronamento do telhado (C3). As paredes que, com o enfraquecimento da estrutura, derrubaram num só momento (C2). Nos compartimentos 3 e 4 pudemos distinguir um primeiro incêndio e o posterior desmoronamento do telhado (C6), caso que não se parece verificar nos outros compartimentos. As camadas 4 e 5 revelam a existência de soalho em madeira (C4) e o respectivo nível de nivelamento (C5) no Compartimento 2. Deste modo, e tendo em conta os dados que aferimos da análise estratigráfica, podemos considerar que a destruição do Palácio Duque de Cadaval não se deveu ao terramoto propriamente dito, mas ao incêndio daí decorrente. Ainterpretação das estruturas exumadas no Largo Duque de Cadaval passou pelo estudo da sua disposição. Estamos perante diversos compartimentos de palácio, um deles podendo mesmo ter servido de entrada a pátio central. O próprio topónimo sugere a habitação em Lisboa da família dos duques de Cadaval, título criado em 1640, após a Restauração, como agra-

decimento perante a ajuda prestava à Coroa. Supomos ter sido por esta época, ou nos anos imediatamente subsequentes, que o palácio foi edificado. Estilisticamente, a sua organização obedece ao género de muitos dos palácios edificados em Lisboa, bem como no resto do país, na segunda metade de seiscentos. Na capital destacam-se diversos exemplos, como o Palácio de Alvor-Pombal, actualmente o Museu Nacional de Arte Antiga, o palácio dos Condes da Calheta, onde funciona o jardim-museu Agrícola Tropical, o Palácio de Fronteira, ou os desaparecidos palácio dos Corte Real (VALE e MARQUES 1997), Marialva (SANTOS 2006; MARQUES e FERNANDES 2006) ou dos Estaus (PINTO 1995). O local não ofereceu cerâmica em abundância, mas a recolha é representativa do contexto e cronologia sugeridos. Foram identificados pouco mais de duas dezenas de objectos, os quais podem ser atribuídos funcionalmente a louça de mesa e louça de cozinha. Entre estes consideramos cerâmica comum, cerâmica vidrada, faiança e porcelana, com formas e decorações idênticas às que têm sido recolhidas em Lisboa em contextos do Terramoto (DIOGO e TRINDADE 1995). De entre as centenas de fragmentos de vidro recolhidos na escavação, apenas cinco deles correspondem a vasilhas tipologicamente atribuídas à primeira metade do século XVII (CUSTÓDIO 2002). O restante espólio vítreo é o resultado da destruição das janelas.

Comp. 4 Comp. 1

Comp. 2

Comp. 5 Comp. 3

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CENTRO DE ARQUEOLOGIA DE ALMADA

al-madan online adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (15) | Dezembro 2007

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