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PATRIMÓNIO adenda electrónica

Figuras 2 e 3 Fotografias aéreas do Castelo de Monforte de Rio Livre, nas escalas 1/5000 (à esquerda, em levantamento de 1958) e 1/25 000 (à direita, em levantamento de 1995). Fonte: Centro Nacional de Informação Geográfica.

1 Doação de Odoino ao Mosteiro

de Celanova, de 1 de Outubro de 982: “…data est terra ad populandum illustrissimo viro domno Odoario digno bellatori, in Era DCCCCX, a príncipe serenissimo domno Adefonso; qui venit in civitate Flavias, secus fluvium Tamice, viços et castella erexit, et civitates minivit, et villas populavit, atque eas certis limitibus formavit, et terminis certis locavit, et inter utrosque habitantes divisit, et omnia ordinate atque firmate bene cuncta disposuit” (cit. in BARROCA 1990-1991).

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IX.2

O conjunto classificado é constituído pelas ruínas da vila de Monforte de Rio Livre, compreendendo o Castelo propriamente dito, com a torre de menagem e o respectivo pátio, implantado na zona mais elevada, e a cerca vilã, que define um recinto subelíptico, estendendo-se ao longo da encosta declivosa, com um traçado algo irregular adaptado à topografia do terreno. A origem do castelo propriamente dito, enquanto estrutura muralhada que define um pequeno espaço, deve procurar-se nos primórdios da Reconquista Cristã. Eram estruturas exclusivamente militares, bastante rudimentares, quase sempre fruto da iniciativa das populações locais, implantadas em locais elevados e acidentados, privilegiando o campo de visão, ocupando, muitas vezes, antigos povoados fortificados. Estes castelos roqueiros dos primórdios da Reconquista foram a resposta encontrada pelas populações locais face às razias muçulmanas e incursões normandas (BARROCA 1990-1991). O século IX ficou marcado por um avanço significativo da Reconquista Cristã, graças à acção de Afonso III das Astúrias, que levou a cabo uma série de presúrias. A presúria de Chaves no ano de 872 pelo Conde Odoário 1 garantiu o controlo pelas forças cristãs de um eixo de circulação vital − a bacia tectónica Régua-Verín −, que permitia o acesso até junto do Douro (BARROCA 1990-1991). Este processo foi acompanhado de perto por uma reorganização militar e administrativa com base nos condados (unidades políticas), nos territoria (unidades eclesiásticas) e nas civitates (unidades militares e administrativas). Importa destacar as civitates, que eram grandes unidades territoriais dirigidas por condes, onde um castelo presidia aos destinos militares, estando

dele dependentes uma série de estruturas castelares. A fase das civitates foi, de resto, o período áureo do “incastelamento” do Norte de Portugal, multiplicando-se a construção de estruturas militares (BARROCA 2003). Eram referidos na documentação por vocábulos como “monte”, “mons”, “castrum” ou “alpe”, sendo, contudo, estruturas bastante rudimentares. Chaves era sede de civitas, estando dela subordinados uma série de castelos roqueiros, pelo que interessava averiguar se o Castelo de Monforte de Rio Livre seria já um desses castelos. A bibliografia tradicional refere a construção do Castelo de Monforte por D. Afonso Henriques, após conquista aos Mouros em 1139, embora tal não passe de uma mitificação historiográfica. A mais antiga referência ao Castelo de Monforte de Rio Livre, que primeiramente se denominaria S. Pedro de Batocas, data de finais do século XI. No referido documento do Liber Fidei da Sé de Braga consta: “civitatem Batocas […] in territorio Flaviensis discurrente rivulo Tamica” (cit. in TEIXEIRA 1996). Noutro documento do Liber Fidei pode ler-se: “territorio Flabias subtus mons Batocas discurrente flumen Tamice in villa quod vocitant Sancti Stephani” e “[…] per mediatorio de Marius […] et inde per Aquas Frígidas et sub ipsa civitatelia de Batocas” (idem). Já no século XII, noutro documento do Liber Fidei surgem novas referências a Batocas: “in villa que vocatur Turris sub monte Batocas discurrente flamine Tamice territorio Flavias” e “in villa Sancti Stephani de Flabias sub monte Batocas aquis discurrentibus ad flumen Tamice” (idem). Na documentação da época os sítios eram inúmeras vezes localizados no espaço geográfico pela proximidade ou dependência de uma estrutura militar. As expressões “subtus”, “sub”,

CENTRO DE ARQUEOLOGIA DE ALMADA

al-madan adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (13) | Julho 2005


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