melham-se morfologicamente a esteios, levando-nos a equacionar a hipótese de poderem tratar-se de ortóstatos pertencentes à Mamoa de Chã de Afife (Figs. 19 e 20). Para o efeito estes foram medidos e registados fotograficamente. O primeiro ortóstato apresenta 1,30 m de altura, 0,98 m de largura e 0,24 m de espessura. Já o segundo tem 0,86 m de altura, 0,74 m de largura e 0,25 m de espessura.
4. DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS
Tendo em conta os monumentos megalíticos existentes e a toponímia da área de estudo, preservada em mapas antigos e na memória popular, podemos afirmar que as populações neolíticas e, talvez, calcolíticas (no caso da Mamoa de Aspra) construíram os seus monumentos funerários em diferentes contextos físicos e topográficos, quer em ambientes de vale quer de serra e em áreas graníticas, sobre terraços fluviais e em áreas de substrato metamórfico (no caso da Mamoa do Alto da Croa), o que revela, também, a ocupação, vivência e conhecimento de todos esses espaços. Em termos arquitetónicos notam-se vários estilos construtivos, com tumulus de diversas dimensões e de diferentes composições, sendo de destacar em três monumentos a existência de couraças líticas, assim como de estruturas dolménicas. Tal é o caso das Mamoa de Eireira, Veiga de Paçô e Chã de Afife. Em dois monumentos verificámos tumulus apenas de terra (Mamoas de Aspra e do Alto da Croa), um deles com possível fossa de enterramento (Mamoa de Aspra). Na ausência de datas de radiocarbono e de mais dados é impossível afirmar se estas diferenças correspondem a cronologias, grupos culturais ou a monumentos de genealogias distintas. No entanto, os dois
monumentos escavados (Mamoas de Eireira e de Aspra), pelo tipo de oferendas que apresentam, parecem corresponder a momentos cronológicos distintos. A Mamoa de Eireira seria inserível no Neolítico, quer pela iconografia das suas gravuras (SILVA, 2003; SOARES, 2013) e pinturas (ALMEIDA, 2008; SOARES, 2013), quer pela comparação com o espólio existente noutros monumentos megalíticos do norte e centro-norte de Portugal. Já a Mamoa de Aspra poderia ser mais recente, talvez do Calcolítico, embora esta hipótese se coloque com muitas reservas. Admite-se, ainda, a reutilização no Calcolítico da Mamoa de Eireira. Em termos das matérias construtivas podemos dizer que os montículos foram construídos maioritariamente com matéria local. No caso da Mamoa de Eireira, a que pudemos analisar de forma mais pormenorizada, o montículo e o contraforte foram construídos com granitos acinzentados, maioritariamente locais, granitos de tonalidade avermelhada também locais e seixos rolados de quartzito do litoral de diferentes tonalidades. Também a câmara e o corredor foram construídos com matérias locais, mas com características e tonalidades distintas. Tal denota que as matérias usadas na construção destes monumentos foram criteriosamente escolhidas, não sendo, portanto, aleatórias e tendo, certamente, um simbolismo muito preciso para os grupos que os construíram. No caso dos seixos rolados, aliás comuns em muitos monumentos megalíticos do norte de Portugal, poderá ter havido mesmo uma vontade de associar os monumentos dos mortos ou os seus espíritos com o mundo das águas. Em termos das matérias usadas nas oferendas líticas, verificámos que muitas são de origem local (como o xisto, o quartzo e o quartzito), embora algumas sejam exógenas (como o sílex acinzentado, provavelmente da área de Cantanhede, e o avermelhado, provavelmente da
FIGS. 19 E 20 - Esteios (?) constituintes do muro divisor de propriedades próximo da Mamoa de Chã de Afife, no sentido sul-sudeste.
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