ESTUDOS denominando as cerâmicas portuguesas produzidas com pastas vermelhas, alaranjadas, castanhas ou negras identificadas fora de Portugal. Importa referir que, muito embora as cerâmicas de pastas vermelhas sejam as mais frequentes, outros tipos de produções, nomeadamente de pastas negras, foram já identificadas em Inglaterra e na Holanda. Grande maioria destas cerâmicas não apresenta tratamento de superfície e, quando tal ocorre, limita-se a engobe, brunidos, decoração modelada, incisa ou plástica. Em algumas cerâmicas aparece o característico empedrado, organizado em desenhos. De notar que, ainda que a cerâmica vidrada tenha sido deixada fora deste projecto, essencialmente devido ao facto de nenhuma ter sido identificada fora do espaço português, parece ter sido realizada com as mesmas pastas que a cerâmica comum.
FIG. 2 − Púcaro tipo Estremoz encontrado nas escavações da Rua da Judiaria (Almada).
De facto, várias têm sido as definições dadas por diversos autores ao longo dos tempos fora de Portugal. Reconhecidas em diversos países um pouco por todo o mundo, foram apelidadas de diferentes maneiras. A mais conhecida é certamente a designação Merida type ware, oferecida por John Hurst nos inícios dos anos 60, acreditando que se tratava de produção espanhola que mantinha a tradição romana das sigillatas produzidas na região de Mérida (HURST, NEAL e VAN BEUNINGEN, 1986). O próprio John Hurst reconheceu o seu erro anos mais tarde. No entanto, a designação já havia sido adoptada pelos arqueólogos ingleses que a aceitaram sem discussão e, mesmo reconhecendo o erro, não houve tentativa de corrigir a nomenclatura. Na verdade, a primeira vez que estas cerâmicas foram identificadas e publicadas fora de Portugal remonta a 1854, em Inglaterra, quando uma referência é feita a cerâmica empedrada como produção de Estremoz (HURST, 2000: 24). Não há nenhuma ideia de como este autor do século XIX chegou àquela conclusão, mas é certamente a primeira referência a cerâmica vermelha portuguesa numa publicação estrangeira.
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II SÉRIE (19)
Tomo 2
JANEIRO 2015
Ainda que, a partir do final dos anos 60, tanto John Hurst como outros arqueólogos não tenham duvidado da origem Portuguesa desta cerâmica, acreditava-se ser uma produção exclusiva do Alto Alentejo, sobretudo da zona de Estremoz, cuja literatura (PARVAUX, 1968) indicava ali ter existido um importante e grande centro produtor. No entanto, é agora evidente que as peças identificadas fora de Portugal não são produção exclusiva desta área, mas de diversos centros produtores que estavam espalhados por todo o país. A primeira vez que um outro centro exportador, além do Alto Alentejo, foi indicado na bibliografia estrangeira deve-se a Colin Martin, em estudo sobre a cerâmica da Incrível Armada, afirmando que os Merida type wares nesta colecção eram semelhantes às produções de Lisboa (MARTIN, 1979: 291). Alexandra GUTIERREZ (2007) foi, como mencionado, a primeira autora a chamar o Merida type ware de Portuguese coarse ware, quando estudou centenas de peças oriundas de uma única escavação em Southampton. Este excelente estudo só pode ser criticado pela impossibilidade da autora em designar centros produtores com maior precisão. Contudo, a falta de publicações arqueológicas sobre cerâmica comum portuguesa, descrevendo pastas e formas em Portugal e no estrangeiro é escassa, pelo que Alexandra Gutierrez optou pela designação generalista de Portuguese coarse wares. Contudo, as formas apresentadas na publicação sugerem que aquelas foram produzidas pelo menos em Lisboa, Aveiro e Coimbra. Outros nomes têm sido dados a estas produções. Jan BAART (1992) publicou algumas cerâmicas portuguesas encontradas nos Países Baixos designando-as como sigillatas de Estremoz, ainda que na sua designação não tenha incluído apenas as peças vermelhas brunidas mas igualmente as peças mais comuns, tais como aquelas decoradas com quartzo e feldspato, produzidas em diversos locais. No Novo Mundo, a sua presença é frequente nas colónias Inglesas e Espanholas e regularmente apelidada de Orange micaceous ware ou Feldspar inlaid red ware (DEAGAN, 1987: 40-41). A variabilidade nos nomes atribuídos a estas produções torna evidente que Portugal não estava apenas a exportar cerâmica de Estremoz, Aveiro ou Lisboa, mas de diversos centros produtores e com diferentes características.
DISTRIBUIÇÃO
ATLÂNTICA
Cerâmica comum portuguesa é frequentemente identificada fora de Portugal, ainda que com maior incidência no espaço do Atlântico e como importante reflexo do já bem estabelecido comércio.