Sintaxe da linguagem visual

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A SfNTESE

SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL

Nas artes visuais, o estilo é a síntese última de todas as forças e fatores, a unificação, a integração de inúmeras decisões e estágios distintos. No primeiro nível está a escolha do meio de comunicação, e a influência deste sobre a forma e o conteúdo. Depois vem o objetivo, a razão pela qual alguma coisa está sendo feita: sobrevivência, comunicação, expressão pessoal. O ato de fazer apresenta uma série de opções: a busca de decisões compositivas através da escolha de elementos e do reconhecimento do caráter elementar; a manipulação dos elementos através da escolha das técnicas apropriadas. O resultado final é uma expressão individual (às vezes grupal), regida por muitos dos fatores acima enumerados, mais influenciada, especial e profundamente, pelo que se passa no ambiente social, físico, político e psicológico, todos eles fundamentais para tudo aquilo que fazemos ou expressamos visualmente. Qual é a influência perceptiva das forças exteriores sobre a criação de todas as classes de objetos visuais, e sobre a expressão de idéias? Acostumado a viver num espaço reduzido e com pouca luz, o habitante das grandes florestas tem uma enorme dificuldade para enxergar numa planície aberta e intensamente iluminada. A formulação oposta se aplica ao habitante dos desertos: acostumado às grandes distâncias, enxerga com dificuldade quando se encontra em ambiente fechado. Es-tas são condições puramente psicológicas, mas os padrões sociais e o comportamento dos grupos entre si e com relação a outros grupos exercem enorme influência sobre a percepção e a expressão. As percepçõ~ são formadas por crenças, religião e filosofia; aquilo em que acreditamos exerce um enorme controle sobre aquilo que vemos. As classes dominantes e as que são dominadas, ou seja, os fatores de ordem política e econômica, atuam em conjunto para influenciar a percepção e dar forma à expressão. Juntos, a política, a economia, o meio ambiente e os padrões sociais criam uma psique coletiva. Essas mesmas forças, que se desenvolvem em linguagens individuais no plano verbal, combinam-se no modo visual para criar um estilo comum de expressã.Q... Ao longo de toda a história do homem, quase todos os produtos das artes e dos ofícios visuais podem ser associados a cinco grandesl categorias de estilo visual: primitivo, expressionista, clássico, ornamental e funcional. Os períodos estilísticos e as escolas menores se associam, por suas características, a uma ou algumas dessas categorias gerais

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DO ESTII.O VISUAl.

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~s. Para entender e executar essascategorizações,é preciso elevar-seacima dos rótulos estereotipados e ascender a um nlvelde definições arquetípicas. Por exemplo, as primeiras tentativas que o ho. mem fez de registrar e transmitir informações nas pinturas rupestres do sul da França e do norte da Espanha costumam ser chamadas de primitivas. Em The History of Art, E. H. Gombrich diz: "não por serem maissimplesque nós - seusprocessosmentaissão freqüentemente mais complexosque os nossos - mas por estarem mais próximos do estado do qual toda a humanidade emergiu".

Primitivismo

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Já que a única coisa que resta das intenções do homem primitivo ao criar seus desenhos, trinta mil anos atrás, são os próprios desenhos, só podemos formular hipóteses sobre os objetivos que tinham em mente. Para esses homens, os animais em seu meio ambiente representavam tanto uma ameaça mortal quanto um meio de sobrevivência. Em quase todos os casos, esses animais constituíam o tema principal de suas obras. Por que eles os desenhavam nas profundezas das cavernas em que se abrigavam no inverno, e sempre na parte mais alta das paredes? Algumas hipóteses parecem mais prováveis que outras. Uma das qualidades das pinturas rupestres é seu realismo, uma característica incomum da arte primitiva, o que sugere que eram concebidas para ser uma ajuda visual, um manual de caça composto para recriar os problemas da caça e revigorar o conhecimento do caçador, além de instruir os que ainda eram inexperientes. Essa teoria encontra apoio em detalhes de desenhos com flechas que apontam para órgãos vitais e partes vulneráveis dos animais. Os desenhos têm linhas de um lirismo surpreendente, e são realmente encantadores, indicando ser provável que tenham sido feitos com grande amor e apreço pelos animais representados. É possível que nosso homem das cavernas de trinta séculos atrás realmente compartilhasse da nostalgia de seus predecessores arborícolas, bem como da lembrança de estações mais quentes, quando a caça era abundante, e havia, portanto, muito alimento. Pode ser que essas obras tenham saído das mãos dos primeiros pintores de domingo da sociedade, e deve-se enfatizar o fato de serem de grande beleza e extremamen-


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