Uma curva no tempo dani atkins

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Mas ele não respondeu à pergunta e, em vez disso, se virou para uma pessoa atrás dele que só agora eu via. O desconhecido baixinho e de meia-idade olhou para mim e para Jimmy antes de perguntar, hesitante: – Está tudo bem, policial? Consegui me levantar, esfregando os olhos como se aquilo fosse um sonho maluco do qual eu pudesse me livrar com um gesto. Baixei as mãos. Não, ambos continuavam ali. Com a mão firme, Jimmy conduziu o homem pelo apartamento, até a porta da frente, durante todo o tempo agradecendo pela sua ajuda. O homem se deixou ser levado, parecendo ao mesmo tempo admirado e um pouco decepcionado por ser tão prontamente excluído do possível desenrolar de um drama. – Se o senhor precisar de mim para dar um testemunho ou qualquer coisa... – A voz se perdeu. – Não vai ser necessário. Mas fico realmente grato pela sua ajuda. Esperei Jimmy fechar a porta e voltar para a sala. Não falei nada enquanto ele guardava o distintivo policial no bolso do casaco, mas a inclinação da minha cabeça e minhas sobrancelhas erguidas diziam tudo. Ele se mostrou vagamente constrangido, mas não de todo arrependido. – Isso está dentro da lei? – O que está dentro da lei? – Usar o seu distintivo para invadir a residência de alguém? Os olhos dele se fixaram nos meus, mas não consegui decifrar sua fisionomia. – Eu não invadi o apartamento – corrigiu-me ele. – Pedi ao zelador que abrisse a porta. – Dizendo a ele o quê, exatamente? Que sou uma terrorista? Uma assaltante de bancos? Ou uma doida fugida? Ele pareceu incomodado com a minha última sugestão. Cobriu a distância que nos separava com dois passos curtos e respondeu em voz baixa: – Que ninguém estava conseguindo falar com você... Que você sofreu um trauma há pouco tempo e depois teve uma notícia muito ruim. E que você podia estar... mal. Ele me abraçou, e senti o tremor de suas mãos quando me puxou para perto. Então consegui enxergar tudo por outros olhos, diferentes dos meus, entendendo por que a preocupação logo se tornara pânico. – Você falou com meu pai? – perguntei contra a camisa dele, onde meu rosto ainda estava enterrado. – Falei. – Ele não disse que eu só queria ficar aqui para esvaziar o apartamento? Que voltaria para casa amanhã? Ele suspirou, e sua voz parecia um pouco rouca ao responder: – Eu precisava falar com você. Ter certeza de que estava bem. E quando tentei, só Deus sabe quantas vezes, telefonar...


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