A garota que voce deixou para trás jojo moyes

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iluminação fraca da vasta sala, brilhavam como um tesouro. Virei-a nas mãos. Era um Braque. Fiquei olhando para a tela um instante, depois a repus cuidadosamente no suporte e continuei andando. Comecei a puxar coisas ao acaso: ícones medievais, obras impressionistas, enormes telas renascentistas, com molduras delicadas, em alguns casos apoiadas em armações especialmente construídas. Corri meus dedos sobre um Picasso, espantada com a minha liberdade de tocar fisicamente uma obra de arte que eu só vira antes em revistas ou nas paredes de galerias. “Meu Deus, Krabowski. Viu isso?” Ele olhou para a obra. “Hum… já, minha senhora.” “Sabe o que é? É um Picasso.” Ele não reagiu. “Um Picasso? O famoso artista?” “Não entendo muito de arte, minha senhora.” “E acha que sua irmã caçula poderia ter feito coisa melhor, certo?” Ele me deu um sorriso aliviado. “É, minha senhora.” Pus o quadro no lugar e puxei outro. Era um retrato de uma garotinha, as mãos pousadas com garbo nas saias. No verso, dizia: “Kira, 1922.” “Todas as salas são assim?” “Há duas salas lá em cima com estátuas, modelos e objetos em vez de quadros. Mas, basicamente, sim. Treze salas de quadros, senhora. Esta é uma das menores.” “Meu Deus.” Olhei em volta para as fileiras de estantes que iam até o fundo da sala com aquelas pilhas retas arrumadas nas prateleiras, e depois para o retrato em minhas mãos. A garotinha me olhava solenemente. Só então realmente me dei conta de que cada um daqueles quadros tivera um dono. Estivera pendurado na casa de alguém. Fora admirado por alguém. Uma pessoa de verdade posara para ele, ou economizara para comprá-lo, ou o pintara, ou tivera a esperança de deixá-lo para os filhos. Então pensei no que Danes dissera sobre se livrar dos corpos a alguns quilômetros dali. Pensei em seu rosto assombrado e marcado, e estremeci. Repus o quadro da garotinha cuidadosamente na prateleira e cobri-o com um cobertor. “Vamos, Krabowski, vamos voltar lá para baixo. Você pode me arranjar uma xícara de café decente.” A manhã deu lugar à hora do almoço e logo chegou a tarde. A temperatura subiu, e o ar em volta do depósito ficou parado. Escrevi um artigo para o Register sobre o depósito e entrevistei Krabowski e Rogerson para um pequeno artigo da Woman’s Home Companion sobre as esperanças dos jovens soldados ao voltar para casa. Então, fui lá fora esticar as pernas e fumar um cigarro. Subi na capota do Jeep do Exército e fiquei ali sentada, a carroceria de aço estava quente embaixo das minhas calças de algodão. O silêncio nas ruas era quase total. Não se ouviam


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