the kiss of deception mary e pearson

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Ela repetiu as palavras que dissera, quase as mesmas que o sacerdote havia usado naquela manhã. Pauline deve ter visto a aflição em meu rosto, porque deu uma risada. “Lia, não se preocupe! Sou eu quem tem o dom da visão! Não você! Para falar a verdade, estou tendo uma visão agora mesmo!” Ela se pôs de pé e levou as mãos até a cabeça, fingindo que estava se concentrando. “Estou vendo uma mulher. Uma bela mulher idosa trajando um vestido novo. Ela está com as mãos nos quadris. Seus lábios estão franzidos. Ela está impaciente. Ela está...” Revirei os olhos. “Ela está parada atrás de mim, não está?” “Sim, estou”, disse Berdi. Girei e vi que Berdi estava parada à entrada da taverna, simplesmente conforme a descrição. Pauline soltou um gritinho agudo com deleite. “Mulher idosa?”, disse Berdi. “Venerável”, corrigiu Pauline, beijando-lhe a bochecha. “Vocês duas estão prontas?” Ah, eu estava pronta. Esperei a semana inteira por aquela noite.

Grilos trinavam, dando as boas-vindas às sombras. O céu acima da baía estava drapeado com faixas rosas e violetas enquanto o restante das cores ia desaparecendo, dando lugar ao cobalto. A lua lembrava uma foice de bronze com uma estrela na ponta. Terravin pintava uma paisagem mágica. O ar ainda estava parado e quente, mantendo a cidade toda em suspensão. Em segurança. Quando chegamos à estrada principal, um cruzamento de lanternas de papel piscava acima de nossas cabeças. E então, como se a paisagem não fosse o bastante, a canção. A prece era entoada de uma forma como eu nunca ouvira antes. Uma evocação sagrada aqui. Outra ali. Vozes separadas, combinando-se, reunindose, cedendo, uma melodia se formando. Ela era entoada em ritmos diferentes, palavras diferentes erguendo-se, caindo, seguindo um fluxo como um coro


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