TCCArqUrb GATILHOS MENTAIS ESTUDO DA PERCEPÇÃO DO PATRIMÔNIO DE GUARAPARI SOB ANÁLISE NEUROCIENTIFÍC

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UNIVERSIDADE VILA VELHA

I

ARQUITETURA E URBANISMO

ALEXIA SUHETT CAIADO

GATILHOS MENTAIS:

O ESTUDO DA PERCEPÇÃO ESPACIAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL DE GUARAPARI/ES SOB UMA ANÁLISE NEUROCIENTÍFICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha como requisito para obtenção do grau de bacharel em Arquitetwura e Urbanismo. Orientadora: Prof. Dr. Melissa Ramos da Silva Oliveira

VILA VELHA 2020



UNIVERSIDADE VILA VELHA

I

ARQUITETURA E URBANISMO

ALEXIA SUHETT CAIADO

GATILHOS MENTAIS:

O ESTUDO DA PERCEPÇÃO ESPACIAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL DE GUARAPARI/ES SOB UMA ANÁLISE NEUROCIENTÍFICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha como requisito para obtenção do grau de bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Prof. Dr. Melissa Ramos da Silva Oliveira

COMISSÃO EXAMINADORA Orientadora: Melissa Ramos da Silva Oliveira Primeiro membro: Iago Longue Martins Segundo membro: Sthephi Lubki Wagmacker


“MOQUECA SÓ CAPIXABA; O RESTO É PEIXADA” JOSÉ CARLOS MONJARDIM

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AGRADECIMENTO Após esses longos anos, chego ao fim de mais uma etapa; encerro aqui mais um ciclo na minha vida e sou muito grata a Deus, pois sei que sem Ele nada seria possível. Deus com suas mãos abençoadas escolheu, perfeitamente, uma linda família, a qual me fez chegar até aqui e ser quem sou hoje. Aos meus pais, Alex e Zeni Caiado, por todo amor, compreensão, apoio e por comemorarem cada pequena conquista minha. À minha irmã, Yaritza Caiado, que esteve junto comigo nos piores e melhores momentos e que, principalmente, nessa reta final foi meu braço direito (esquerdo, mão e pé). Ao meu namorado, Higor Baptista, que me apoiou e esteve ao meu lado me dando forças sempre que precisava. À minha avó, Irany Rodrigues, por sua tão grande ajuda e sabedoria. Às minhas amigas, Isabela Bazzarella e Luísa Campos, e colegas, Izabela Buback e Brunela Botelho, que fizeram dessa jornada mais leve. Agradeço, também, à minha orientadora Melissa Ramos, que me acalmou em momentos difíceis e compartilhou seus ensinamentos e conhecimentos. 7


RESUMO O ritmo acelerado do cotidiano, as explosões de informações e a agitação global fazem com que a socidade se distancie da sua identidade, memória e das sensações. O patrimônio histórico-cultural de Guarapari (Espírito Santo - Brasil), ainda que situado no centro e coração da cidade, torna-se cada vez mais esquecido pelos seus habitantes/visitantes. Hoje, alguns grupos buscam a preservação de tais edificações, mas para que isso ocorra, é necessário que a população conheça, valorize e, assim, perceba sua memória nos bens que as materializam. A partir disso, este trabalho relaciona os estudos e conhecimentos da Neurociência com a Arquitetura Patrimonial do centro urbano de Guarapari. Objetiva-se entender como o cérebro se comporta diante da modulação das emoções, memórias e sensações através da percepção espacial, bem como a preservação do patrimônio por meio do conhecimento da história municipal e da evocação cognitiva. A metodologia adotada para a pesquisa, analisa a percepção dos espaços da cidade mediante entrevistas com participantes de diversos grupos sociais, semiestruturadas de forma a registrar com desenhos ou fotografias as lembranças ou imagens mentais dos voluntários, relacionando estas com o estudo de diferentes autores da psicanálise, neurociência e arquitetura. Visa-se a reflexão da identidade local, além da apropriação e da preservação efetivas da memória materializada no bem edificado. Palavras-chave: patrimônio, neurociência, memória, percepção e sensação.

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ABSTRACT The fast pace of daily life, the explosions of information and the global agitation cause society to distance itself from it’s identity, memory and sensations. The historical and cultural patrimony of Guarapari (Espírito Santo - Brazil), although located in the center and heart of the city, becomes increasingly forgotten by it’s inhabitants/ visitors. Today, some groups seek to preserve such buildings, but for this to happen, it’s necessary for the population to know, value and, thus, perceive their memory in the patrimony that materialize them. From this, this work relates the studies and knowledge of Neuroscience with Heritage Architecture in the urban center of Guarapari. The objective is to understand how the brain behaves in the face of the modulation of emotions, memories and sensations through spatial perception, as well as the preservation of heritage through knowledge of municipal history and cognitive evocation. The methodology adopted for the research, analyzes the perception of the city’s spaces through interviews with participants from different social groups, semi-structured in order to register with volunteers’ mental memories or images with drawings or photographs, relating these to the study of different authors of psychoanalysis, neuroscience and architecture. Proposes is to reflect on the local identity, in addition to the effective appropriation and preservation of the materialized memory in the built property. Keyword: patrimony, neuroscience, memory, perception and sensation

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PRÓLOGO

INTRODUÇÃO

RESGATE DE CONCEITOS Neurociência: emoção, memória e percepção Patrimônio Histórico, Cultural e Social

SUMÁRIO

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Relação entre a Neurociência e a Arte e o Patrimônio

12 14 20

De A Área

C


GUARAPARI

Aldeira à Cidade de Intervenção

Memória que Transcende à Condição Física

PERCEPÇÃO ESPACIAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE GUARAPARI Metodologia da Anamnese

DA IDEIA À AÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

ANEXOS NOTAS CRÉDITOS DAS IMAGENS BIBLIOGRAFIA

Anamnese Diagnóstico da Percepção

42 62 80 120124 11


PRÓLOGO “Era uma vez uma baleia que morava no fundo do mar; ela nadava, nadava, nadava e não saia do lugar”. Um tanto quanto intrigante iniciar um trabalho acadêmico com uma história infantil. No entanto, é possível que o cérebro tenha uma maior capacidade de resposta às histórias do que aos fatos em si, isto é, as histórias são mais interessantes, atrativas e são memorizadas com maior facilidade pelo cérebro. Neste contexto, o patrimônio histórico-cultural da cidade de Guarapari é um fato construído no ambiente urbano e, em sua maioria, no bairro do centro, que ainda é uma região com grande vitalidade. Contudo, será que as pessoas conseguem percebê-lo efetivamente na cidade em meio ao seu cotidiano? Provavelmente, para a efetiva percepção espacial das pessoas perante o bem, falta a história, a qual irá chamar a atenção do habitante/visitante da cidade. Aqui há quatro capítulos que traçam um caminho sensível até as intervenções urbanas no entorno imediato dos bens patrimoniais. Através do estudo da neurociência, foi possível construir um novo olhar para a formatação do trabalho de conclusão de curso: não muito técnico ou frio, mas artístico e sensível, no desejo de suscitar ao leitor reflexões, em meio a uma vida agitada e genérica, sobre como o meio urbano, numa complexa relação com o patrimônio cultural construído, pode ajudar no bem-estar individual e coletivo, evocar memórias, despertar emoções e estimular novas experiências para as pessoas e para a cidade.

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“O mundo que vemos não é o universo inteiro, mas uma parte limitada com a qual a mente se importa” Haemin Sunim

A recomendação é que as pessoas percebam este trabalho com calma, apreciem as ilustrações, por exemplo, que remetam ao tato ou ao paladar, e se sensibilizem com o conteúdo abordado; que ele desperte um desejo de buscar suas raízes e preservá-las, onde quer que estejam fincadas. Cada capítulo começa com a imagem de um dos bens patrimoniais, na qual está o nome da música “Valsa de Guarapari”, escrita por Pedro Caetano, em epígrafe; e abaixo uma barra de rolagem que vai “carregando” a cada novo capítulo. É preciso sentir como se a música estivesse tocando, como se a letra passasse pela mente repetidamente, tentando evocar memórias e lembranças vividas na cidade; no último capítulo tem uma pitada das experiências que podem ser vivenciadas em Guarapari, evocando a lembrança dos cheiros, dos gostos, da agitação das praias ou da tranquilidade das montanhas. E caso os leitores ainda não tenham essa memória ou não conheçam a citada valsa, convidamos a conhecê-la: no final do capítulo “Guarapari” transcrevo a letra completa da música que é o hino da cidade. Este trabalho é para ser sentido e para entender que é possível romper um provável limite criado entre a mente/corpo e o meio/mundo. A percepção deste mundo se dá de forma diferente para cada pessoa, cada um direciona a sua atenção a uma parcela do mundo, com a qual a mente se importa ou então, como aqui buscado, com a qual recebe estímulos ou gatilhos para se importar.

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desacelere

e sintoniz


ze a percepção

INTRO DUÇÃO

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O que dá sentido à vida? O quanto a nossa memória pode influenciar em quem somos? Perguntas profundas e difíceis de serem respondidas, visto que suas respostas não são exatas ou únicas, pelo contrário, totalmente variáveis, dependente do contexto e da singularidade de cada pessoa. Contudo, temos a certeza de que muitas memórias estão consolidadas em bens materiais e imateriais deixados por gerações de pessoas que marcaram o passado e, de algum modo, elas influenciam em quem somos hoje e ajudam a decifrar onde podemos chegar no amanhã. Ou seja, como podemos afirmar nossa atual identidade se não sabemos quem fomos no passado? Isto nos provoca um sentimento de busca das raízes, da memória e da tradição. Dessa forma, o presente trabalho pretende identificar as possíveis relações cognitivas existentes entre o patrimônio histórico-cultural e a memória dos habitantes/usuários da cidade, em uma busca de compreender a consolidação de sua identidade e o provável vínculo desses, com a relação ao espaço público e as edificações construídas. Para tal, emprega conceitos e conhecimentos da Neurociência aplicados a Arquitetura e Urbanismo em estudos teóricos e práticos desenvolvidos na cidade de Guarapari, Espírito Santo. Guarapari é um pequeno balneário localizado no estado do Espírito Santo. Em contra partida ao movimento do urbanismo moderno, em meados do século XX, o qual os centros originais das cidades que exerciam funções principais de comércio e serviço sofreram com o abandono e a marginalização do espaço; Guarapari ainda permanece com seu centro vivo e como principal articulador da dinâmica urbana da cidade. Área, onde também está presente grande parte da herança edificada, o que provoca a indagação de como tantas pessoas passam por tamanha riqueza patrimonial e não a percebe? No Brasil, sobretudo no Espírito Santo, o vetor econômico ligado ao turismo histórico-cultural ainda é pouco explorado. Conforme aponta um levantamento da Global Destination Cities Index, em 2017 houve um aumento de 91% de desembarques internacionais realizados por brasileiros em relação à 2009. Portanto, os brasileiros preferem pagar passagens caras e sair do país, do que vivenciar a diversidade histórico-cultural do Brasil. Isso ocorre porque, na maioria das vezes, não conhecem sua história; então como valorizar algo que não conhecemos? Guarapari, por exemplo, ainda passa por inúmeras discussões a respeito de sua origem.

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introdução


A partir desses questionamentos, a pesquisa se propõe a utilizar a análise neurológica, com foco nas questões de memória, sensação e percepção cerebrais, aplicada ao patrimônio históricocultural demarcado através de uma poligonal de estudo no centro da cidade. Esta abrange o centro original e o conjunto de bens erguidos, engloba também, algumas principais ruas e avenidas em uma área de múltipla funcionalidade, como residencial, comércio, serviço e institucional. Ao tomar este cenário como base, o estudo correlaciona a história de Guarapari com mapas cerebrais de voluntários por intermédio da metodologia adotada, a qual pretende evocar ou reevocar possíveis sensações e memórias de pessoas em diferentes grupos sociais e faixas etárias. Para que desse modo, a compilação e sistematização das informações desses mapas sejam fidedignas a todos os habitantes/usuários da cidade, de forma a compreender o comportamento e a percepção destes indivíduos no espaço urbano e, principalmente, diante do patrimônio.

Dinâmica do Processo do Estudo Capítulo 1 Resgate de Conceitos: conceituação da neurociência e do patrimônio histórico, cultural e social e qual a relação entre eles; Capítulo 2 Guarapari: investigação a história da cidade e suas peculiaridades e apresentação a área de estudo; Capítulo 3 Percepção espacial do patrimônio cultural de Guarapari: apresentação a metodologia da pesquisa que analisa a relação habitantes x patrimônio; Capítulo 4 Da ideia à ação: possíveis estratégias para consolidação da identidade e percepção espacial;

introdução

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1.1 Problemática Uma das características intrínsecas aos seres humanos é a percepção espacial, isto é, como o cérebro relaciona os objetos no espaço por meio de estímulos sensoriais. Para a neurologia, o córtex parietal posterior é responsável pela interação multimodal da consciência das formas no meio externo e suas relações. Essa área também é responsável pelo direcionamento espacial da atenção. Ao entrelaçar essas informações com o campo da arquitetura patrimonial, o questionamento objeto deste estudo, o qual diz a respeito da falta de percepção do patrimônio pelos habitantes/ usuários que passam sem o perceber é ainda mais frisada. Ou seja, mesmo que no cérebro exista um campo responsável pela questão cognitiva uma parte desses indivíduos que transitam pelo local não conseguem estimular determinada percepção. Na arquitetura, a cognição espacial está muito relacionada aos sentimentos, emoções e sensações. Portanto, é importante que os espaços/lugares estimulem essa percepção ativa, a qual, diferentemente da recepção passiva, – apenas observar uma imagem na retina – referese a interpretação do cérebro diante do que se vê com informações já absorvidas pela memória de longo prazo, conduzindo por exemplo a noção de função do objeto e as sensações que ele desperta. Com isso, a percepção e a memória estão intimamente ligadas. Logo, será que as pessoas não percebem ativamente aquilo que não está na memória? É possível que a falta de informação e conhecimento a respeito do patrimônio histórico-cultural e da história de Guarapari, faça com que as pessoas não o perceba e o valorize da forma devida, sendo, para elas, apenas um obstáculo na paisagem, traduzido enquanto mais um prédio antigo e abandonado, o qual acarreta medo e insegurança. Como fora visto, em contraponto ao que acontece nas grandes cidades brasileiras, onde os centros estão marginalizados e em situação de contínuo abandono, o centro de Guarapari ainda

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introdução


é uma das áreas mais importantes e vivas da cidade. E é lá que se encontram os bens históricoculturais que compõe a análise deste trabalho. Embora, os habitantes/usuários da cidade não têm o sentimento de pertencimento em relação aos bens materiais e de sumo valor para a memória e identidade do lugar. Bens, esses, que fazem parte e estão presentes no cotidiano das pessoas que ali se encontram.

“Todo o nosso conhecimento se

inicia com sentimentos” Leonardo Da Vinci

introdução

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RESGATE DE CONCEITOS

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2.1 Neurociência: memória, emoção e percepção “Se o corpo e o cérebro interagem entre si, o organismo que eles formam interage de forma não menos intensa com o ambiente que o rodeia. Suas relações são mediadas pelo movimento do organismo e pelos aparelhos sensoriais.” (DAMÁSIO; António, 1994, p. 117) Neurociência é o estudo complexo do sistema nervoso, explorando seu funcionamento, estrutura, desenvolvimento e alterações que possam ocorrer. Esse sistema coordena todas as atividades do corpo, tanto voluntárias quanto involuntárias; compreende o cérebro, a medula espinhal e os nervos periféricos. O médico e biofísico, Roberto Lent, chama de neurociências, no plural, pois segundo ele, pode-se dividir o estudo de acordo com seus níveis de abordagem, sendo o mais simplificado e importante para este trabalho, a divisão em cinco grandes disciplinas neurocientíficas¹: Neurociência molecular: estudo das moleculas com importância funcional e a interção com o sistema nervoso Neurociência celular: estudo das células que compõe o sistema nervoso Neurociência sistêmica: populações de celulas nervosas situadas em diversas regiões do sistema nervoso, que constituem sistemas funcionais, como visual, auditivo, etc. (sentidos) Neurociência comportamental: estruturas neurais que produzem comportamentos e outros fenômenos psicológicos como sono, comportamentos sexuais e emocionais (conexão entre sistemas) Neurociência cognitiva: capacidades mentais mais complexas, como memória, linguagem, autoconsciência

Desenvolvimento do Cérebro Teoria Evolucionista de Darwin

A imagem ao lado, mostra o desenvolvimento do homem, simultaneamente ao desenvolvimento do cérebro. Como é visto, o começo dessa evolução é marcado com a mudança na alimentação. O homem, a partir do

Figura 1. 22

resgate de conceitos

Neuro = ner Ciência = con


rvo

nhecimento

domínio do fogo, deixou de comer alimentos crus para comer alimentos cozidos, essa nova dieta facilitou a absorção de calorias a partir da mesma quantidade de alimento, resultando no “excesso” de energia no corpo, que pôde ser gasto com o desenvolvimento de novos neurônios, além de sobrar mais tempo durante o dia para exercer outras funções.² Vale ressaltar que, essa é uma das hipóteses para o desenvolvimento da massa encefálica, defendida pelo antopólogo da Universidade de Harvard, Richard Wrangham. É possível observar também, que a transição para o Homo sapiens sapiens é caracterizada pelo desenvolvimento do lóbo pré-frontal, frontal e occiptal; mesmo momento em que começam os registros de enterros de corpos como oferenda e desenhos nas paredes das cavernas. Ou seja, essa nova parte evolutiva é responsável, entre outras coisas, pelo pensamento e racicínio. Neste momento, o homem começa a entender o ‘dia depois de hoje’, planejar e pensar o futuro, o que acontece com o ser depois da morte e começa a compreender o seu próprio ser, sua existência, a ter autoconsciência.³

Sistema Nervoso Encéfalo Sistema Nervoso Central

Organização anato-funcional

Medula espinhal

Nervos Sistema Nervoso Periférico

resgate de conceitos

Figura 2.

Somático Visceral

Parassimpático Simpático

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“A bailarina g Encéfalo Figura 3.

Figura 4.

Hemisfério esquerdo Lobo frontal

Hemisfério direito

Lobo parietal Lobo occipital

Telencéfalo

Cérebro

enquanto cent

Cérebro - Telencéfalo

Mesencéfalo

Encefálico

A bailarin

saltava, enqua

corações salt

Diencéfalo

Tronco

atentos a

Ponte Bulbo

Lobo temporal

Cerebelo

Todos deseja

mesma liberd destreza e o

O sistema nervoso, com base na divisão por critérios anatômicos, é dividido em sistema nervoso central (encéfalo e medula espinhal) e sistema nervoso periférico (nervos, gânglios e terminações nervosas); já com base em critérios funcionais, o sistema nervoso periférico divide-se em somático, aquele que relaciona o organismo com o meio ambiente, e visceral, o qual apresenta o componente sistema nervoso autônomo, sendo importante para a manuntenção interna do corpo. O encéfalo é composto pelo cérebro (telencéfalo e diencéfalo), tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo) e cerebelo. Tem-se o telencéfalo situado nos dois hemisférios cerebrais e sua superfície apresenta várias depressões, os sulcos. Esses sulcos ajudam a delimitar os lobos cerebrais em quatro: (1) lobo frontal onde localiza-se uma das áreas da linguagem e do pensamento e a principal área motora do cérebro; (2) lobo parietal no qual está uma das mais importantes áreas sensitivas do córtex, a área somestésica; (3) lobo occipital, único lobo que corresponde a uma divisão funcional, o qual está todo, direta ou indiretamente, ligado à visão; (4) lobo temporal, localiza-se a àrea da audição, entre outras áreas não tão importantes para este estudo. É importante ressaltar que, existem dois sulcos que passam do lobo frontal para o pariental, nele há uma região chamada de área septal, a qual considera-se um dos centros do prazer do cérebro, bem como na face inferior do lobo frontal destaca-se um único sulco importante, o sulco olfatório.⁴

sobre seu pr

A bailari

conduzindo a p com

A bailarina ca

pé e chora

Mas ela não

centenas de l

compartindo Claudine

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resgate de conceitos


girava e girava

tenas de olhos observavam.

na saltava e

Neurônios-Espelho

anto centenas de

tavam com ela.

avam sentir a

dade, a mesma mesmo controle

róprio corpo.

ina dançava

plateia à dançar ela.

aiu, torcendo o

ando de dor.

o estava só,

lágrimas caíram

o a sua dor.”

Em 1994, o neurocientista Giacomo Rizzolatti e sua equipe, descobriram os neurôniosespelho durante um estudo realizado com macacos. Esses neurônios estão localizados Figura 5. na parte inferior do lobo frontal, inferior e posterior do lobo pariental, superior do lobo temporal e na ínsula; e são esímulados quando o homem observa com atenção as ações alheias, para depois repetir o mesmo movimento. Iste é, essas células nervosas estão próximas a área da linguagem, o que possibilitou estudos sobre a relação entre a fala e os gestos e sons, sendo essenciais nas pesquisas de interações sociais humanas, intenções e emoções.⁵ Existem inúmeros exemplos práticos de como agem esses neurônios, um deles é através da empatia: ao observar um espetáculo de dança muitas vezes as pessoas têm vontade de experimentar e até mesmo sentem toda a emoção passada na dança apenas observando. Pode-se dizer que eles têm um papel fundamental na sociabilidade.

Corpo e Mente António Damásio, renomado médico neurologista, escreve sobre como o corpo e a consciência relacionam-se intimamente e este, enquanto conjunto único, relaciona-se com o meio. A mente e o corpo são elementos indissociáveis, assim, estão em constante comunicação. É visto que, a maior parte do corpo conecta-se com o cérebro por meio da corrente sanguínea ou dos nervos periféricos. Estes últimos, por sua vez, são os mais importantes para este estudo, pois os sinais dos sentidos (exemplo: visão e tato) são enviados ao cérebro por meio deles. Em animais complexos como o ser humano, as informações obtidas através das sinapses⁶ são processadas

Bernardes resgate de conceitos

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Sinapses Figura 6.

pelo cérebro como estímulos e resultam, não apenas em comportamentos, mas também em imagens, as quais podem ser visuais, auditivas ou somatossensoriais. Logo, a correlação de ambos os agentes, corpo e cérebro, forma um organismo intrínseco. Este organismo conecta-se com o mundo exterior por meio dos seus movimentos e dos aparelhos sensoriais; assim, o ambiente o qual está inserido, deixa marcas registradas pelos estímulos da atividade neural, transformando-se em gatilhos mentais mediante os sinais captados pelos olhos, ouvidos (sensíveis ao som e ao equilíbrio) e terminações nervosas presentes na pele, papilas gustativas e na mucosa nasal. Esses sinais chegam aos córtices sensoriais de entrada presentes no cérebro, os quais se organizam de forma independente; por exemplo, os circuitos nervosos de um determinado sentido não se integram ao outro: os sinais vindos da visão caminham para os córtices visuais iniciais. A partir dessas atividades, o cérebro gera representações neurais que se convertem em imagens manipuláveis, as quais se expressam como percepção, sentimento, ações motoras, relógio biológico e liberação hormonal, por intermédio de processos resultantes dos setores de saída do cérebro chamados de comportamento e pensamento. O pensamento, por sua vez, é tido como uma atividade mental organizada, pelo qual o conhecimento é estruturado. Mesmo que seja um processo com alto grau de liberdade, ele é modulado pela compreensão da cultura e da experiência de vida de cada indivíduo. Portanto, o pensamento é moldado pela memória, como proferiu o filósofo Jiddu Krishnamurti, que em sua vida discursou a respeito da natureza e a mente e da origem do pensamento: “Que é, pois, o pensamento? Ele é, obviamente, a reação da memória; se não tivéssemos memória, não existiria pensamento.” (KRISHNAMURTI; Jiddu, 1976, p. 26). O fato de não existirem duas pessoas iguais no mundo, não se dá apenas pela questão da genética, do DNA ou de impressões digitais. A memória é, também, uma das grandes razões para tal afirmação. Pontos como individualidade, personalidade e identidade são moldados de acordo com a memória de cada indivíduo, tornando-os, únicos em sua essência. Em termos científicos, as memórias e lembranças que são adquiridas ao longo da vida são

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resgate de conceitos


processadas por diferentes áreas do cérebro, sendo assim, a memória é entendida em duas qualidades: quanto ao tempo de retenção e quanto a natureza. Assim, o cérebro filtra e organiza aquilo que deve ser armazenado, onde será armazenado e o que pode ser decaído ou esquecido. Para tanto, o neurocientista Roberto Lent, apresentou em seu livro “Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência” (Atheneu, 2001) uma tabela distinguindo os diferentes tipos de memória (tabela 1).

Tabela 1. Tipos e características da memória, adaptada pela autora. Fonte: LENT, R. 2001, p. 650.

resgate de conceitos

Roberto Lent, em seu livro, relata a respeito de um neurocirurgião que ao estimular eletricamente regiões do córtex cerebral de uma mulher obteve respostas diferentes de acordo com a área estimulada, isto significa que as memórias explícitas ficam armazenadas em suas zonas específicas de acordo com sua origem (visuais, auditivas etc.). Mais adiante, será abordada uma metodologia de pesquisa que busca evocar essas memórias de maneira visual e perceptiva através de entrevistas com habitantes/usuários de Guarapari.

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Cada pessoa é capaz de contar a sua própria história por meio da seleção consciente ou inconsciente das suas vivências e dos seus sentimentos ao longo da vida, a partir do que considerou mais importante de ser armazenado na memória, criando assim, sua autobiografia. Fica evidente que, entre a relação corpo-mente existe uma complexa correlação dos pensamentos, emoções e da memória, o que condiciona o pensar e o armazenamento de experiências às emoções. Do ponto de vista evolutivo, essa associação se dá em uma das estruturas mais antigas do cérebro, o sistema límbico, também conhecido como cérebro emocional, mesmo exercendo uma série de outras funções. Conforme é visto na figura ao lado, o sistema límbico, além de localizar-se na região central do cérebro, Tálamo é admitido como painel de controle emocional, pois configura-se de várias estruturas que captam Fórnix Corpo caloso as informações sensoriais do ambiente externo, Área septal Estria traduzem-nas e enviam ao corpo respostas que terminal serão expressas como reações motoras. O sistema Bulbo olfatório límbico coexiste em diferentes regiões anteriormente (cheiro) citadas, ele não é componente específico isolado. A Hipotálamo exemplo disto, o tálamo - em verde na figura ao lado Sistema Límbico Amígdala - e o hipotálamo são áreas que compõe o diencéfalo, Figura 7. (emoções básicas) Hipocampo ambos estão presentes no sistema límbico, pois Córtex entorrinal o primeiro está relacionado pincipalmente a (memória) sensibilidade e o segundo a homeostase, sobretudo, do comportamento emocional. A amígdala tem papel fundamental como moduladora emocional da memória, ela envia fibras ao hipocampo reforçando o arquivamento dos eventos com maior impacto emocional na memória de longa duração. Ou seja, o processo de consolidação da memória pode ser modulado de acordo com a carga emocional e estado de atenção depositados em determinado acontecimento. A palavra emoção significa “movimento para fora”, uma sensação física em direção externa ao corpo, a qual provem dos sentimentos. Com o corpo desperto e atento, um sentimento é baseado na percepção subjetiva de um certo objeto ou estímulo, de seu

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resgate de conceitos


estado corporal ou das modificações de estilo e eficiência do pensamento processado.⁷

Homúnculo Sensitivo Figura 8.

Por fim, alguns psiquiátras defendem a existência de dois mundos: (1) o mundo real e (2) o mundo percebido. O primeiro baseia-se em entidades físicas e/ou químicas, já o segundo na capacidade de absorção sensorial dessas informações pelos neurônios, por exemplo: uma pedra ao cair de um penhasco emitirá vibrações que se propagarão no meio, porém só emitirá um som se existir um ser vivo próximo capaz de senti-lo ou percebe-lo através do seu sistema nervoso. Com isso, é visto que, cada indivíduo é capaz de sentir a energia físico-química daquilo que o circunda, mas a percepção dessa energia se dá de forma distinta em cada um ou também pode modificar de acordo com sua idade. Isso ocorre em virtude da diferença entre as sensações e a percepção, uma vez que as sensações surgem a partir da captação dos estímulos externos por meio dos impulsos nervosos, condicionando a existência dos sentidos e, principalmente, fornecendo dados para a percepção, a qual vincula essas informações ao comportamento e ao pensamento. Logo, os indivíduos são qualificados a detectar diversos sons por intermédio do sentido auditivo, porém apenas consegue identificar, apreciar e lembrar da música devido a percepção auditiva. Na medicina ‘concreta’, esses ‘mundos’ são chamados de áreas sensitivas do córtex e estão dispostos nos lobos parietal, temporal e occipital. Sendo elas divididas em área primária e secundária, respectivamente, mundo real e mundo percebido. Ou seja, uma é a sensação do estímulo recebido e a outra a percepção desse estímulo. Afim de representar essa correspondência entre as partes do corpo e as áreas somestésicas⁸, Penfield e Rasmussen criaram um ‘homúnculo sensitivo’, no qual as regiões do corpo estão proporcionalmente exageradas de acordo com a quantidade de receptores e maior capacidade discriminativa (figura ao lado). Os sinais de cada sentido são captados e processados minuciosamente conforme sua origem, porém ao final do processo perceptivo, após inúmeras sobreposições das traduções dos sinais – que ocorrem gradualmente durante essa atividade –, os objetos são tidos como percepção global e unificada, conferindo-lhes um sentido mediante um conjunto de traduções e propriedades.

resgate de conceitos

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No dia a dia, as pessoas se deparam com inúmeras “coisas” do mundo: objetos, vozes, músicas, cheiros. Essas coisas são conhecidas através dos sentidos e reconhecidas pela percepção. Isto é, para um objeto visual, por exemplo, existem inúmeros dados que são sobrepostos a fim de reconhece-lo, como: (1) neurônios sensíveis às cores, formas e texturas, (2) o mapa retinotópico perde importância ao longo da via ventral⁹, assim os estímulos podem reconhecer o objeto independente da localização que esteja, (3) os estímulos complexos e imparciais diante do tamanho e brilho, podendo o objeto estar próximo ou longe, bem ou mal iluminado e (4) a atenção que o indivíduo dá aquele objeto. O cérebro é capaz ainda de separar o objeto de demais e/ou do fundo. Com isso, a figura global do objeto pode ser reconhecida e comparada a outras armazenadas na memória para que seu reconhecimento seja concreto.

2.2 Patrimônio Histórico, Cultural e Social Em toda história da humanidade, os diversos povos criaram seus objetos, rituais, suas invenções artísticas e sociais através dos seus olhares diante do mundo, que por muitas vezes estiveram vinculados a religião. Os princípios que versam sobre a conscientização dos valores históricos e artísticos dos monumentos arquitetônicos datam por volta de 1420, quando o papa Martinho V, com o objetivo de afirmar a glória de Roma sob a Grécia, decide restabelecer a sede do papado na cidade. Contudo, tratava-se mais da apropriação dos monumentos gregos numa primeira valorização das obras da Antiguidade, do que uma atitude reflexiva de preservação patrimonial.10 O século XX foi marcado por vários encontros, seminários e congressos internacionais e nacionais afim de discutir e pensar as variáveis que envolvem o patrimônio histórico, cultural e social, além disso, muitos deles abriram o debate a respeito do turismo e outras formas de desenvolver a econômia a partir da promoção e preservação do patrimônio. A exemplo a Carta de Atenas (Sociedade das Nações - outubro de 1931); Carta de Veneza (maio de 1964); Convenção de Paris (Patrimônio Mundial - novembro de 1972); Recomendação de Nairobi (UNESCO - novembro de 1976); Carta de Petrópolis (Centros Históricos - 1987); Compromisso de Brasília (abril de

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resgate de conceitos

Patri = pa Monium =


ai recebido 1970); Compromisso de Salvador (II Encontro de Governadores - outubro de 1971); Conferência Mundial do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS, México - 1985), do qual ficou estabelecido: O patrimônio cultural de um povo compreende as obras de seus artistas, arquitetos, músicos, escritores e sábios, assim como as criações anônimas surgidas da alma popular e o conjunto de valores que dão sentido à vida. Ou seja, as obras materiais e não materiais que expressão a criatividade desse povo: a língua, os ritos, as crenças, os lugares e monumentos históricos, a cultura e as obras de arte e os arquivos e bibliotecas (ICOMOS, 1985 in: Brasil, op.cit: 314 e 315).

Ademais, Françoise Choay define patrimônio histórico como: A expressão designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas-artes e das artes-aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos (CHOAY, 2001.p.11).

A consolidação ao que hoje é pensado por patrimônio, corresponde a época da Revolução Francesa. Em função da preocupação com as grandes destruições, o Estado estimulou a formulação da primeira Comissão dos Monumentos Históricos em 1837. A partir disso, foi visto como uma problemática mundial a questão da preservação do patrimônio histórico, cultural, social e artístico, tendo em vista sua efetiva conservação e restauração que, para isso, embasouse nas ciências, principalmente, a arqueológica. Patrimônio, então, compreende-se por uma herança paterna; riqueza ou bem moral, histórico, cultural e intelectual que pertence ao povo, o qual constitui-se em 3 categorias: (1) engloba elementos da natureza; do meio ambiente, como parques ambientais, morros, montanhas e paisagens naturais; (2) bens imateriais, que correspondem ao saber intelectual, às tradições eruditas ou populares baseadas no conhecimento de um grupo social, o qual transpassa gerações e está em contínuo processo de modificação, por exemplo literatura, música, dança, culinária e festas populares, manifestações artísticas, sociais e culturais; e (3) bens materiais, se apresentam em “dimensões concretas das relações

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sociais” (LIMA, 2011), a cultura de um determinado povo materializada em artefatos, construções e/ou monumentos, obras de arte, objetos artesanais ou industriais e documentos. De acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, art. 216: Art. 216: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988, art.216)

E aduz o seu parágrafo primeiro: “O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.” e ressalta-se, também, o parágrafo terceiro: “A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.” (BRASIL, 1988, art.216). Nessa concepção moderna de patrimônio, independente da sua natureza material, imaterial ou ambiental, esses bens herdados marcam a história e a identidade de um grupo social, carregando consigo a cultura desse povo traduzida como traço inerente e definidor da sua personalidade sendo transmitida ao longo dos anos. A consciência que o patrimônio consolida “quem é” determinado grupo deve ser reafirmada perante toda a sociedade, para que esta tenha participação ativa na preservação dessas memórias. É perceptível, então, a importância desses bens se integrarem ao contexto urbano atual, visto que essa memória coletiva molda o presente e constrói o futuro.

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Em alusão a este pensamento, o governo brasileiro, diante da Lei número 378 de janeiro de 1937, adotou políticas de reconhecimento e valorização do patrimônio com a criação do “Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional” (SPHAN) como uma ramificação do Ministério da Educação e da Saúde (BRASIL, 1937, art. 46). Mais tarde, em 1970, intitulou-se Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), conforme disposto no Decreto-lei número 66.967/1970, art. 14. Contudo, Carlos Lemos, em seu livro “O que é um patrimônio histórico”, discorre sobre a tardia conscientização do Brasil a respeito da preservação do passado, colocando a forma individualista - que ocorria até então - do ‘o quê’ preservar; e que apenas na década de 30, Mário de Andrade desenvolveu um projeto concernindo o patrimônio a ser resguardado, projeto este que foi base para a criação do SPHAN, ainda que este serviço tivesse olhares voltados aos interesses públicos. Diante da importância do patrimônio histórico-cultural em uma íntima relação com o povo, é colocado por Maciel Henrique Silva e Kalina Silva em seu livro “Dicionário de conceitos históricos”, que o patrimônio “não se restringe à produção material humana, mas abrange também a produção emocional e intelectual. [Isto é] tudo o que permite ao homem conhecer a si mesmo e ao mundo que o rodeia pode ser chamado de bem cultural.” (SILVA, 2008, p. 325) O patrimônio cultural deve ser preservado não só enquanto acervo de bens tombados no território brasileiro pelo IPHAN, mas sim como elementos que se integram a vida cotidiana das pessoas, com seus valores históricos, artísticos e sociais para a construção de um futuro, do qual as próximas gerações poderão usufrui-lo. Os bens materiais edificados – monumentos e construções – apresentam-se em um contexto urbano devendo interagir com a estrutura das cidades com uso e manutenção adequados, a fim de manter viva a memória enquanto consciência social. Lemos defende ainda, o conceito de Patrimônio Ambiental Urbano, o que também já era analisado por Mario de Andrade, ambos enfatizavam a importância de salvaguardar o contexto urbano o qual o monumento faz parte. O acervo de bens como um todo é um conjunto bem vasto e variado devido ao tamanho do território nacional encontram-se diferentes origens e povos, com isso diferentes culturas que expressam à sua maneira singular o seu olhar através dos objetos e manifestações artísticas e sociais. Dispersos por todo país, muitas vezes estão em condições precárias de preservação e/ou caem

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no esquecimento e abandono, outras vezes ainda não foram reconhecidos como patrimônio e tombados como tal. Para lidar com esses objetos, sobretudo as construções, as quais são o intuito deste estudo, primeiramente é necessário identificá-las, classificá-las, contextualizá-las, analisar suas técnicas de construção e qualidades artísticas, culturais e históricas com o propósito de intervir corretamente para manter sua integridade e fazer com que a comunidade aproprie-se deste bem como seu, como é o processo utilizado neste estudo. Lemos ainda reforça: Devemos, então, de qualquer maneira, garantir a compreensão de nossa memória social preservando o que for significativo dentro de nosso vasto repertório de elementos componentes do Patrimônio Cultural. Essa é a justificativa do “por que preservar” (LEMOS, 2000, p.29)

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2.3 Relação entre a Neurociência e a Arte e o Patrimônio “Costumamos pensar que a ‘mente’ e o ‘mundo’ coexistem de forma independente. [...] No entanto, de acordo com os ensinamentos de Buda, o limite entre a mente e o mundo na verdade é frágil, permeável e, no fim das contas, ilusório.” (SUNIM, 2012, p. 19) Este capítulo pretende abrir a discussão a respeito da possível concordância entre as neurociências vistas no subcapítulo 2.1 e o patrimônio histórico, cultural e social conceituado no subcapítulo 2.2, entremediada pela arte ou manifestação artístico-cultural. Busca-se então, romper o limite entre mente/corpo e o mundo/ambiente, afim de torná-los um elemento intrínseco, cuja essência transceda ao entendimento humano e ao ‘saber-fazer’ arquitetônico e urbano, na preservação daquilo que é visto como identidade cultural de um povo, além de conceder a este o “seu lugar no mundo”, a sua raiz, reafirmando a ideia de bem-estar ambiental e, possivelmente, ajudando a lidar com sentimentos e emoções que possam o desequilibrar.

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O esquema da evolução humana na visão de Charles Darwin apontado acima, mostrou importantes transições no desenvolvimento do corpo humano. Sendo duas muito importantes para esse estudo: (1) a transição do Australopithecus para o Homo habilis, na qual, segundo Richard Wrangham, se deu, principalmente, com a mudança na alimentação; e (2) a transição do Homo sapiens neanderthalensis para o Homo sapiens sapiens, em que é possível observar o crescimento de parte relacionadas ligadas ao pensamento, raciocínio, linguagem, as sensações e a visão. Observa-se através das linhas do tempo: 4 mi anos

2,5 - 1,5 mi anos

1,5mi - 300mil anos

Australopithecus

Homo habilis

Homo erectus

Homo sapiens

Homo sapiens sapiens

Onívoro África, Ásia e Europa

neanderthalensis

Onívoro Todos os continentes Enterravam corpos como oferendas Pintura rupestre Arte e magia 12 mil anos

Herbívoro África

Onívoro África Produção dos utensílios

150 - 30 mil anos

Onívoro África, Ásia, Europa e Oceania Habitavam cavernas

2,7 mi anos

120 mil anos

6 mil anos

Paleolítico

Neolítico Idade dos metais Pedra polida Pedra lascada Organização social mais Cultos funebres Religião primitiva complexa Consolidação da religião O homem do paleolítico começou a produzir utensílios relacionados com a sua sobrevivência, traçando um caminho de dominação da natureza. Eles auxiliavam na caça e na pesca, na proteção contra outros animais, na utilização de peles para a proteção contra o frio e para fazer abrigos. A partir do desenvolvimento da massa encefálica com o Homo sapiens neanderthalensis e, principalmente, o Homo sapiens sapiens, esses utensílios tiveram outros significados.

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“A arte Segundo os estudos do professor e pesquisador do Laboratório de Pesquisa Sujeito e Corpo, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Henrique da Silva, com o desenvolvimento das partes encefálicas, o homem começou a pensar sobre o futuro e a tomar consciência de si. Foi no período chamado paleolítico superior, que Silva investiga ter iniciado essa possível tomada de consciência racional, pois com maior número de neurônios surgidos a partir do desenvolvimento do encéfalo, o homem se tornou um ser pensante. Até o momento, ele acredita, que o homem agia de forma semelhante aos animais não racionais, vivendo cada dia por vez, sem pensar ou planejar o futuro; sem entender a sua própria existência. Essa mudança neurobiológica foi marcada pelas pinturas rupestres em cavernas. Muitos pesquisadores, como o britânico Nigel Spivey, professor da Universidade de Cambridge, apura sobre a motivação das pinturas. Em seu documentário exibido pela corporação de rádio e tevelisão British Broadcasting Corporation (BBC), ele entrevista o arqueólogo David Lewis Williams, na qual Williams explica sobre a sua hipótese mais provável da motivação da arte rupestre. Eles apontam três hipóteses existentes, a primeira que seriam desenhos do mundo ao redor, contudo ela é contestada devido aos desenhos serem sempre bem específicos, de animais ou homens; a segunda seria um plano de caça ou para representar como foi ela teria ocorrido, a qual também foi contraposta, por muitas pinturas localizarem-se em locais muito profundos e de difícil alcance nas cavernas, sendo assim, o homem paleolítico não iria lá apenas para apresentar o plano ou desenvolver estratégias; a terceira hipótese, pesquisada por Williams, é que seriam testemunhos de experiências do estado alterado da mente durante as transes nas manifestações religiosas. Ainda exposto pelo documentário, o sedentarismo de povos, antes nômades, seria em consequência, da necessidade desse povo em permanecer no local onde teria erguido enormes esculturas, as quais acreditam que tenham mesmo fim religioso. Esse movimento teria ocorrido, primeiro, na região da Turquia, onde acharam pedras esculpidas datadas em 12 mil anos. Logo, a grande descoberta da agricultura, decorreria desse patrimônio artístico-religioso. Portanto, pode-se começar a entender como desde o princípio da humanidade - na forma que se conhece hoje -, a arte influenciou fortemente o desenvolvimento do ‘ser pensante’, numa relação peculiar ‘arte x mente’, onde uma desenvolve a outra. E como produto desta relação, tem-se os patrimônio histórico-culturais da humanidade.

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O córtex pré-frontal seria responsável pela habilidade cognitiva referente a simbolização, além de ser o centro executivo do cérebro, responsável também pelo pensamento abstrato simbólico, planejamento, dirigir atenção, modular o afeto e as emoções, adiar gratificações, lidar com frustrações, resolver problemas novos. (DAMÁSIO, 2001, n.p.)

“A arte e nada mais que a arte! Ela é a grande possibilitadora da vida, a grande aliciadora da vida, o grande estimulante da vida.” Friedrich Nietzsche (1844-1900). António Damásio explicíta a função do córtex pré-frontal, a qual, para muitos filósofos e pensadores, vai de encontro ao significado da arte e a importância de sua existência. O filósofo alemão, Nietzsche, acreditava que era através da arte que o ser humano lidava com as frustrações e as angústias do mundo. A arte é usada como instrumento de autoinvestigação, para compensar as falhas humanas, ou seja, se conhecer - conhecer a sua essência - é útil saber o que a arte procura aliviar. Sendo ela, uma forma de conhecer a própria identidade ou existência, cuja finalidade, também pode ser descrita com um sentido de continuidade, relação entre o passado, presente e planejar o futuro. Tendo assim, arte como ciências, capaz de colocar para o mundo a forma com a qual se pensa. Dessa forma, para este estudo, tem-se arte expressa enquanto patrimônio. Como visto no subcapítulo anterior, o patrimônio histórico-cultural de um povo representa a sua identidade, a sua história; seus desbravadores, os caminhos que percorreram e, inclusive, os caminhos que se pode percorrer. É possível observar em diversos museus, a exemplo o Museu Britânico em Londres e o Museu de Artes e Ofícios em Belo Horizonte, que por intermédio da arte/patrimônio da humanidade, a história é passada aos visitantes e, assim, eternizada. Essa relação arte x identidade sempre teve um vínculo muito forte, desde os homens pré-históricos, posteriormente os greco-romanos nas construções de grandiosos monumentos enriquecidos de significados, as guerras contadas por meio de pinturas, as conquistas, a religião, o realismo, o abstrato e o absoluto, por fim, a nossa memória ancestral está intimamente ligada ao ‘fazer’ arte. Hoje, contudo, o processo de urbanização e globalização induzido ao caos urbano tem afetado diretamente o cérebro com doenças neurológicas. Segundo a reportagem: “Médicos veem relação entre vida urbana e distúrbios mentais”, publicada no site da empresa alemã de rádio e

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“A art televisão Deutsche Welle, psiquiatras britânicos constataram em um estudo a respeito do estado psicológico de moradores de um determinado bairro de Londres que, entre 1965 e 1997, houve um grande crescimento do bairro e, com isso, o número de pacientes com esquizofrenia quase dobrou, superando até mesmo o crescimento populacional; também foi relatado na reportagem que na Alemanha o número de licença médica no trabalho por distúrbios mentais dobrou no período entre 2000 e 2010, bem como, na América do Norte, estimativas mostram que 40% dos casos de licença estão relacionados à depressão. Andreas Meyer-Lindenberg, diretor do Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim, Alemanha, explicou que ao analisar as áreas do cérebro, as amígdalas cerebelosas, localizadas no sistema límbico já visto anteriormente, reagiram de maneira mais intensa ao estresse social nos voluntários que vinham de um ambiente urbano. Logo, tão importante quanto o estudo técnico da arquitetura, do patrimônio e do urbanismo, é a possível influência destes no cérebro humano. É de suma importância que os arquitetos pensem na cidade e nos seus elementos constituintes não só na forma organizacional, em preencher espaços vazios ou na eficiência do transporte público, mas também em como poderiam estimular percepções e sentimentos, aguçando sensações e lembranças ao cotidiano dos habitantes/ usuários, resultando no bem-estar e prazer urbano. A arquitetura tem o poder de inspirar e transformar nossa existência do dia-a-dia. O ato cotidiano de agarrar a maçaneta de uma porta e abri-la a um campo banhado de luz pode se converter num ato profundo se o experimentamos com uma consciência sensibilizada. Ver e sentir estas qualidades físicas significa tornar-se o sujeito dos sentidos. (HOLL, 2011, n.p.)

Seguindo esse pensamento, nos países do norte, a exemplo Estados Unidos e países europeus, a política de requalificação dos centros históricos considera a escala humanitária, para a qual os pré-requisitos são: o bem estar da população; o contexto urbano, histórico e técnico; e as relações sensoriais e perceptivas para com a história transcrita através das edificações e dos monumentos. Para isso, compreende-se a identidade de um grupo, de um povo ou uma nação, assim, essas requalificações conseguem despertar memórias e valorizar a história do povo em questão. Nesses países, a agenda turística vem a partir do modo de vida e da ressignificação da cultura local. No caso do Brasil, nota-se algumas lacunas em relação a sua autobiografia,

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bem como um contexto marcado por uma grande miscigenação em um vasto território e que, principalmente, não conseguiu consolidar sua cultura material e imaterial enquanto um país independente antes da forte influência da industrialização e globalização. Ainda que, na Era Moderna, os países europeus passaram por grandes revoluções industriais, o que levou ao ápice do êxodo rural, tal qual houve um grande crescimento da migração dos agricultores para as cidades, em busca de novos empregos, nova qualidade de vida e maior renda familiar. Logo, havendo um processo de urbanização acentuado dos centros urbanos e, no século XX, com a cidades maiores do que nunca, começou a era da globalização. A Europa já havia se consolidado a séculos atrás, cada país teve sua formação gradativa, sua história concretizada e sua cultura estava fortemente enraizada em cada cidadão. Ou seja, mesmo com a vinda do progresso e das novas formas de viver nas cidades, o europeu conhece sua origem, sua história e tem sua memória eternizada para as gerações futuras. O que torna sua identidade concreta e palpável, sendo valorizada pelos europeus e milhões de pessoas no resto do mundo. Em países emergentes e em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, a industrialização e a globalização são catalizadoras de problemas e empobrecimento cultural. O Brasil, até o século XVI, era habitado por diversos povos indígenas com seus modos de vida muito ligados a relação homem-natureza e suas peculiaridades culturais, ainda pouco registradas para as próximas gerações. A vinda dos europeus, em 1500, fez do país uma colônia de exploração portuguesa, cuja consequência foi a escravização de muitos povos africanos, sendo que cada um desses povos tinha sua cultura singular, mas que fora oprimida através de imposições dos colonizadores. Posteriormente, no início do século XIX, imigrantes suíços, italianos, entre outros países europeus e também asiáticos deslocaram-se em busca de terras férteis e das novas oportunidades do “novo mundo”. Em decorrência da miscigenação entre as diversas etnias ocorrida no Brasil, diferentes culturas se interligaram, algumas, ainda, sobrepuseram outras, resultando na perda de identidade de determinados grupos sociais. Além disso, a partir de meados do século XX, teve início a Era Tecnológica que acarretou fortes consequências nas relações interpessoais, acelerou o fluxo de informações no mundo inteiro e, sobretudo, encheu as pessoas de aparatos mundanos os quais chamam atenção com a ilusão de satisfazer todos os desejos, mas visa apenas fins lucrativo. Esta

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era impulsiona o empobrecimento das diversas culturas por uma única: a cultura da compra, a qual todos devem seguir um determinado padrão previamente instituído. “A existência comercial moderna enturva a questão acerca do essencial. [...] No entanto, havendo nascido neste mundo de coisas, somos capazes de experimentar plenamente os fenômenos de sua interrelação, de obter prazer de nossas percepções?” (HOLL, 2011, n.p.). O arquiteto Steven Holl indaga a respeito das percepções individuais em um mundo ligado a coisas materiais em que o cotidiano está cada vez mais automático e frenético. É possível que esse aceleramento da vida, não permita as pessoas sentirem e lidarem com suas angústias e frustrações do dia-a-dia, o que remete a um novo questionamento: Será que a busca pela arte não faria o homem desacelerar e o permitiria ver e sentir o mundo de forma saudável? E assim, a arte/patrimônio poderia ser o tratamento dos transtornos mentais maximizados com a urbanização frenética? O cérebro humano foi desenvolvido para viver e sobreviver à natureza, local este, onde existe o maior número de estímulos para com todos os sentidos. Seria possível então, o indivíduo ter uma autêntica experiência física sensorial na cidade? Como o meio poderia provocar as sensações de prazer, bem estar e convívio social nos habitantes/usuários? Ao adentrar a uma igreja gótica em um dia ensolarado, por exemplo, a arquitetura oferece ao indivíduo sensações de um clima mais ameno, devido as suas espessas paredes, pelas quais é possível sentir a textura fria da pedra; da experiência da luz cênica dos lustres pontuais, mas principalmente, dos vitrais coloridos criando a chamada “luz suprema”; do movimento vertical da sua estrutura como se tocasse aos céus em relação a escala do homem; do cheiro da madeira dos bancos; dos sons que ecoam no espaço; uma sensação de que o mundo ficou da porta para fora e ali está apenas a pessoa e Deus. Toda essa experiência é sentida e percebida por meio do processo visto no subcapítulo 2.1 da neurociência, pelo qual através da exterocepção, onde os estímulos serão recebidos pelo sistema nervoso, e da interocepção, a percepção efetiva desses estímulos são comparados na memória, a arquitetura transcende sua condição física. As edificações patrimoniais por si só guardam uma memória; um contexto; rementem ao passado do povo que pertencem e a ele devem contar a sua história, pois esta constitui a

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base da sua identidade. Compreendendo o patrimônio como uma biografia construída, a sua efetiva preservação deve considerar bem mais do que o contexto no qual ele está inserido ou as técnicas de execução que foram empregadas, é importante que os profissionais analisem a atual característica do habitante/usuário daquele meio, conseguindo, assim, atrair a sua atenção para o bem histórico cultural, explorando todos os sentidos e as complexidades da percepção, para que desse modo, esses indivíduos vivam a arte/patrimônio e estimulem sua percepção ativa e sentimentos diante do mesmo. Diante disso, a arquitetura patrimonial é complexa, ela não só é capaz de estimular diversas sensações e percepções, como também possui memória coletiva, ou seja, ponto comum que reune toda a comunidade. É importante ressaltar, que ao contextualizar o patrimônio edificado com o seu entorno, o mesmo dialogue com a cidade cotidianamente, é possível que as pessoas passem a ter boas experiências, transmitem como exemplo: um habitante ao esperar o ônibus que o encaminha ao seu trabalho logo pela manha e, sendo este ponto de espera localizado em um contexto histórico bem definido, ele pode se sensibilizar com o perfume de uma certa árvore inserida especificamente no entorno deste contexto, esse estímulo será captado pelo sistema nervoso e transmitido ao cérebro, durante o processo de reconhecimento do aroma, a mente irá compará-lo com algo na memória, podendo, assim, o perfume remeter a uma lembrança agradável de sua infância, onde passeava com a família no patrimônio inserido nesse contexto; essa lembrança, pode ainda, conectar-se a outras relacionadas a sua identidade, a sua vida. Segundo Alex Korb, neurocientista do site Psicologia Hoje, um dos sintomas da depressão é esquecer situações felizes, então, se o patrimônio é a memória edificada apta a transmití-la a quem o percebe, sua preservação deve ser moldada de forma ativa na vida dos habitantes/ usuários, pois o bem deve incitar não só as memórias muito antigas de gerações passadas, mas como também, das gerações que ali estão e que virão.

“Para uma mente completa, estude a arte da ciência, estude a ciência da arte, aprenda a enxergar, perceba que tudo se conecta a tudo” Leonardo resgate de conceitos

da

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GUARA PARI

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3.1 De Aldeia à Cidade Atualmente, a história da cidade de Guarapari passa por algumas analises e contestações técnicas a respeito da sua origem, data de fundação e motivação do nome da comarca. É sabido, pois, que com a chegada dos colonizadores portugueses em 1535 na atual cidade de Vila Velha, começou-se expedições de exploração e catequização dos índios pelo litoral do Espírito Santo.1 Segundo o que discorre no site da Prefeitura de Guarapari, Padre José de Anchieta aportou no Brasil em 1553 para evangelizar a nova terra, mas só em julho de 1569, ao percorrer terras capixabas como visitador dos jesuítas afim de estabelecer novas aldeias, que fundou a Aldeia do Rio Verde ou Aldeia de Santa Maria de Guaraparim. Determinou, então, que fossem erguidos um convento para os missionários e uma igreja dedicada a Sant’Ana, ambos no alto da colina à beira mar e inaugurados em 1585. Após a inauguração outras tribos foram trazidas do interior para a aldeia, tornando-a próspera. Assim, com o seu crescimento, foi elevada a categoria de Vila, pelo então donatário da capitania Francisco Gil de Araújo, em 1679. Como consequência disso, os jesuítas abandonaram em definitivo a vila e fixaram-se em Reritiba, atual cidade de Anchieta. Já em 1835, foi nomeada como Comarca de Guarapary e de acordo com a Lei Provincial, compreendia o Rio Itaperirim, Benevente (Anchieta) e Guarapary. Apenas em dezembro de 1878, passou Figura 9. a ser considerada como município, contudo, conforme apontado pela prefeitura, ainda pertencia a Anchieta. A emancipação política Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição

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Guarapari


foi sancionada pela Lei Estadual de 19 de setembro de 1891 sob jurisdição do Coronel Manoel da Silva Mafra, presidente da província.² Beatriz Bueno, graduada em educação física pela Universidade do Espírito Santo e amante da história de Guarapari e dos seus patrimônios, argumenta em seu livro: “Guarapari Muito Mais que um Sonho Lindo”, que a fundação da Aldeia do Rio Verde ou Santa Maria de Guaraparim, teria ocorrido junto a inauguração da Igreja de Sant’Ana em 1585, pois segundo ela: “[...] as cidades brasileiras nasceram à sombra da cruz [...]”. E ainda, relata que em novembro de 1872, fato que intermediou a comarca de 1835 e a nomeação como cidade em 1878, foi instituída a nova Comarca de Iriritiba, envolvendo Guarapari e Benevente (Anchieta) – sendo este último município desde 1759 – excluindo, pois, o município de Itapemirim por não fazer fronteira com Guarapari, ocorrência devido ao pouco conhecimento de geografia do Brasil na época. Ressalta também, uma citação de Euripedes Queiroz do Valle no seu livro “O Estado do Espírito Santo e os Espíritos-Santenses”:³ Guarapari era uma aldeia dos jesuítas fundada pelo Padre Anchieta em 1585. Foi elevada a freguesia à 11/01/1611, sob a proteção de Nossa Senhora da Conceição e a vila por ato do donatário Francisco Gil de Araújo, à 02/01/1679, com o patrimônio próprio por ele mesmo concedido... Em 1679, com uma população calculada em 1729 pessoas livres e 728 escravos, em todo o distrito. Honra lhe a história a glória de ter sido o terceiro município criado na capitania (VALLE, 1971, n.p.)

Contrapondo tanto a prefeitura quanto a professora Beatriz Bueno, as investigações do historiador José Amaral Fernandes Filho, afirmam ter o registro, por meio de documentações que comprovam a existência de Goarapari já em 1555, como uma carta do padre Francisco Pires ao padre Manoel da Nóbrega – ambos sacerdotes da Companhia de Jesus cujos membros são conhecidos como jesuítas Figura 10.

Guarapari

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– a qual relata a migração da tribo dos índios Guará de Niterói para Guarapari (chamada, na carta, por Goarapari) após um acordo entre Vasco Fernandes Coutinho, donatário da Capitania do Espírito Santo, e o Padre Bráz Lourenço, jesuíta que se encontrava na capitania. José Amaral diz ainda que a carta poderia ser considerada como certidão de nascimento da cidade.⁴ Segundo o historiador, outra boa fonte que evidencia a existência de Guarapari, são as cartas geográficas. Uma delas é a de Fernão Vaz Dourado, datada antes do ano de 1580. Outra, tendo como autor um importante cartógrafo real português do século XVII, João Teixeira Albernaz, que expõe Goropari enquanto vila: [...] João Teixeira Albernaz não só situa Guarapari, mas também destaca em sua carta a vila, a serra e os engenhos de Marcos Fernandes Monsanto que mais tarde darão origem às fazendas do Campo e do Engenho Velho que 1769 se tornaram palco de um dos mais importantes levantes de escravos que culmina na chamada República Negra descrita em 1815 por Maximiliano de Vied e Newvied, príncipe austríaco e naturalista que viaja pelo Brasil descrevendo suas peculiaridades e mais tarde acompanha o imperador D. Pedro II em sua visita ao Espírito Santo com passagem por Guarapari (FILHO, 2019, n.p.)

Figura 11.

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Figura 12.

Guarapari


Com isso, para o historiador José Amaral Fernandes Filho e com base nas documentações por ele levantadas, Guarapari passou de aldeia à vila e de vila à cidade, sendo assim, não teria pertencido a outro município para que ocorresse o processo emancipatório, cujo é indicado na biografia da cidade publicada pelo site da prefeitura. Além disso, torna-se evidente, perante as cartas, que Guarapari possui certa Figura 13. importância para a época dada a sua aparição em várias cartas geográficas do passado. A partir de todo esse estudo, o historiador apresentou-se na Câmara Municipal e com o apoio do vereador Thiago Paterlini, os parlamentares aprovaram, no dia 08 de outubro de 2019, o Projeto de Ementa a Lei Orgânica Municipal nº 0001/2019, o qual defere a fundação de Guarapari em 1555, tendo assim, 464 anos: (PATERLINI, 2019, n.p.) “Nós não vamos tirar a emancipação política, só vamos reconhecer a existência de Guarapari desde 1555. Com isso, Guarapari fica reconhecida no turismo histórico”. A cidade, então, encontra-se como destino do turismo histórico, em consequência aprovaram na Câmara também, no dia 17 de outubro de 2019, o Projeto de Lei nº 163/2019 cujo institui que todos os veículos de excursão tenham um guia de turismo regional. Ambos projetos ainda precisam ser sancionados pelo prefeito para serem de fato aplicadas.⁵ Visto que Guarapari tem mais de 400 anos de existência e que durante todo esse tempo importantes fatos ocorreram na cidade, como a passagem dos jesuítas por essas terras e a visita de Dom Pedro II que conheceu, inclusive, as rendas de bilro, muita memória permanece viva em resquícios de um passado colonial, porém, com o desenvolvimento da cidade e a agitação urbana, esses vestígios estão relegados a segundo plano e, em sua maioria, os habitantes/ usuários não conhecem a maior parte deles.

Guarapari

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3.2 Área de Intervenção

A CIDADE

Na busca de estimular a percepção ativa do patrimônio cultural de Guarapari, deve-se primeiro entender o seu contexto urbano, para assim, conhecer cada bem em suas pelculiaridades históricas, visto que a percepção está intimamente relacionada à memória, e posteriormente, compreender todos como uma unidade de preservação e memória somatossensorial, possibilitando a inserção destes no cotidiano do habitante/usuário da cidade. Guarapari, localiza-se no sul da região metropolitana da Grande Vitória, no estado do Espírito Santo, região sudeste do Brasil. Um famoso balneário conhecido por suas belas praias, mergulhos náuticos e passeios de barco, mas também pelo harmonico contraste com a zona rural e suas belas cachoeiras.

Brasil

Figura 14.

Espírito Santo Figura 15.

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Guarapari


Prevalencia residencial Prevalencia comercial Centro

Guarapari Figura 16.

Uso e ocupação

Zona rural Zona urbana Limite dos bairros Logradouros Sistema viário projetado

Figura 17.

Observa-se no mapa, que Guarapari segue a mesma tendência de povoamento brasileira, com maior urbanidade mais próximo à costa. A poligonal de estudo refere-se ao bairro Centro, o qual é cercado pelo mar e pelo mangue, ancorado ao continente em apenas um de seus lados. O recorte urbano, acima, marca dois polos comerciais, sendo um mais alongado e outro centralizado; embora o primeiro seja maior, in loco verifica-se sua forma expraiada de comércios e serviços, bem como a vida ativa apenas no turno diurno; em contrapartida, o segundo polo comercial é mais centralizado, promovendo o deslocamento a pé, inclusive, para fazer diferentes atividades, além disso existem comércios e serviços abertos em turnos maiores, diurno e noturnamente.

Guarapari

49


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A Área de Estudos Figura 18.

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estudo, confere-se a figura ao lado, incluindo seus bens enumerados a seguir: Igreja de Nossa Senhora da Conceição (representada pelo número 1); Ruínas da Igreja de Guarapari (representadas pelo número 2); Gruta de Sant’Ana (representada pelo número 3); Poço dos Jesuítas (representado pelo número 4); Casa da Cultura (representada pelo número 5); Radium Hotel (representado pelo número 6).

, pode ser observado que eles se encontram próximos uns aos outros, com exceção do Radium Hotel, este pois, fica a cerca etros da Igreja Nossa Senhora da Conceição. Ainda assim, pode ser visualizado na representação ao lado, que todos estão ão só na zona urbana do município, como também, no centro e coração da cidade. Esta situação favorece a percepção pessoas diante do patrimônio, pois, assim que for incentivado o conhecimento a respeito dele, criado uma memória afetiva orial e implementado estímulos sensitivos, o patrimônio será, espacialmente, perceptível ao habitante/usuário em sua vida podendo sempre despertar boas sensações.

ainda, que a partir dessa percepção os indivíduos tenham o sentimento de apropriação daquele espaço pela identificação smo, o que contribui para a conservação e preservação do patrimônio. “A arquitetura constitui um testemunho excepcional ão da memória histórica dos povos e, por conseguinte, na formação da identidade.” (GUTIÉRRES, 1989, n.p.).

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3.3 Memória que Transcende a Condição Física A arquitetura como testemunho histórico [...] é mais do que um simples documento que nos relata um acontecimento, já que a obra ou o conjunto nos permitem recriar hoje, com nossas próprias vivências, não só a concepção original da obra como também as experiências e transformações acumuladas que o homem introduziu no curso da história (GUTIÉRREZ, 1989, n.p.)

Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição Vista Aérea Figura 19.

Como visto, Guarapari foi o primeiro aldeamento jesuítico ao sul de Vitória no estado do Espírito Santo e, conforme é evidenciado na figura ao lado, a igreja e o convento foram implantados estrategicamente em um local elevado, às margens do litoral e na entrada para o Rio Guarapari.

Inaugurada em 1585 pelo Padre José de Anchieta e originalmente dedicada a Sant’Ana, a igreja foi recebida com festa e um auto escrito pelo próprio padre em tupi, homenageando a alma do índio Pirataraka como personagem principal da obra – ele teria acabado de falecer e era conhecido na aldeia por ser muito bom.

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Em 1751, a Capela de Sant’Ana encontrava-se em péssimo estado de conservação, assim, o Padre Antônio Siqueira Quintal recebeu uma verba para que fosse construída uma nova capela filial, a qual teria como padroeira Nossa Senhora da Conceição, contudo o padre usou o dinheiro para reforma-la e ampliá-la e modificou a padroeira conforme solicitado. Um pouco mais de 100 anos depois, em 1878, a igreja foi novamente reformada, mas dessa vez foram feitas grandes modificações. Com influência da arquitetura barroca que se estendeu no Brasil do século XVII ao XIX, o frontão foi interrompido em volutas fantasiosas e a fachada recebeu enfeite de conchas no contorno das partas e janelas e também no barrado. Essa reforma envolveu a comunidade local, contava uma senhora, Ana Ribeiro – nascida em 1834 e falecida em 1964 – que junto à sua mãe, recolherem conchas na praia para emoldurar a igreja. No dia 16 de setembro de 1970, perante o processo nº 382 – T 46, inscrição 428, Livro Histórico folha 70, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) registrou a Igreja da Nossa Senhora da Conceição de Guarapari como patrimônio nacional. Assim, o serviço restaurou o telhado e removeu dois altares laterais não originais da igreja. Posteriormente, em 1982, a igreja foi reformada, sendo aplicado novo reboco e pintura de cal nas paredes e as portas central e laterais substituídas, o que removeu as conchas que as contornavam. Prosseguindo, em 1987, a sacristia foi tratada para receber o museu sacro. Hoje, a matriz apresentase bem conservada, em pleno uso de suas funções e mantém suas características barrocas. O frontão remodelado tem como centralidade um óculo, o qual foi fechado e mantendo um baixo relevo para representar simbolicamente o Sagrado Coração de Jesus.

Interior da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição

Figura 20.

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Diferente das sensações mencionadas anteriormente numa igreja gótica, o interior barroco da Igreja de Nossa Senhora da Conceição através de sua dimensão menor e o pé direto elevado, aliado as paredes brancas, janelas em vitrais coloridos, óculo que permite a passagem de luz natural e cores em tons claros e pastéis transmitem uma percepção de aconchego, de paz e tranquilidade. Assim como na gótica, as paredes em pedras largas isolam o mundo externo e potencializam as sensações propagadas pela igreja. É comum o enaltecimento do sentido da visão, por exemplo, é por ele que se torna perceptível uma iluminação mais acentuada vinda da imagem central de Nossa Senhora da Conceição no altar da igreja, porém esse sentido não é o único que transmite sensações ao entrar nessa matriz. Antes mesmo de entrar à igreja, a parede da fachada revestida por conchas pode ser sentida através do tato pela sua forma, pelas ondulações das características das conchas, tamanho, textura, temperatura; e percebida pelo cérebro que junto à memória sensitiva as identificam, a pessoa que traduz essa informação grava que nesta certa igreja tem esta certa peculiaridade. Bem como, ao adentrar à antiga matriz, o cheiro da madeira dos bancos preenche o nariz e as mucosas nasais e a reverberação sentida pelos ouvidos por meio do prolongamento do som no interior da igreja, remete a esse ambiente religioso, cujas características são ímpares. Infelizmente, contudo, o contexto o qual a igreja está inserida não a enaltece, os moradores da região cuidam dos jardins em volta, mas as referências históricas e culturais estão abandonadas e depredadas. Óculo para entrada de luz no altar da Igreja

Figura 21.

Placa de referência histórica da Igreja

Figura 22.

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Ruínas da Igreja Figura 23.

Tombada em novembro de 1989 pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC), as ruínas já foram uma matriz construída pelo donatário da capitania, Francisco Gil de Araújo, em 1677. A igreja dedicava-se a Santa Virgem Nossa Senhora da Conceição, enquanto a Antiga Matriz (1585) estava em estado de depredação, as ruínas funcionavam como a matriz, no início do século XIX, e tinham suas paredes revestidas com placas de agradecimentos por bençãos alcançadas. Em 1833, o vigário da igreja solicitou o conserto da igreja à Câmara, contudo não foi atendido e, em 1867, a parede lateral inclinou, com isso condenou o telhado e a travessa do corpo da matriz foi escorada com pau de prumo. O engenheiro Maximiliano Maria foi chamado para inspecionar o edifício, porém achou por bem restaurar a igreja de Padre José de Anchieta e transferir a matriz para lá. Os vestígios em ruínas da igreja, mostram a qualidade e os detalhes arquitetônicos com que foi construída, dialogava-se diretamente com a igreja de 1585, erguidas frente a frente. Hoje, porém, sua entrada é pela rua na fachada lateral, encontra-se oprimida pelos postes, fiação elétrica, casas construídas em suas proximidades e, principalmente, por uma companhia de saneamento do outro lado rua. Ainda que, já foi palco de apresentações teatrais e do Quarteto de Cordas da Sinfônica do Espírito Santo, seu contexto urbano não favorece para a percepção espacial enquanto patrimônio histórico-cultural da cidade, muito menos a insere no cotidiano ativo dos habitantes/usuários, motivos pelos

Detalhe das Ruínas da Igreja

Figura 24.

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quais levaram ao seu atual estado de abandono. Placa de referência histórica da Ruína Figura 25.

O poço dos jesuítas é datado no mesmo ano da Antiga Matriz, 1585, é uma nascente de água potável, hoje, pois, encontra-se imprópria para consumo, devido a poluição das construções do entorno e do seu mau uso. Chamado pela população de “Poço de Beber”, até pouco tempo, era utilizado quando faltava água na cidade e mantido pelas lavadeiras que moravam nas ruas conhecidas como “Caminho da Fonte”.

Poço dos Jesuítas Figura 26.

Em 2013, Beatriz Bueno, moradora de Guarapari e autora do livro já mencionado “Guarapari muito mais que um sonho lindo”, junto a outros moradores, revitalizaram o poço que estava encoberto pela vegetação e abandonado,

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aplicaram também um mosaico feito em fragmentos de vidro e conchas. Ao subir o Morro da Igreja e com um olhar muito atento, avista-se a Gruta Gruta de Sant’Ana de Sant’Ana construída em 1942 por Figura 27. Joaquim Leopoldino Lopes. Concebida em pedras, a gruta abrigava a imagem da Nossa Senhora de Lourdes e Bernadete, da Sant’Ana e da Nossa Senhora Menina – as duas últimas do século XVI – porém nenhuma dessas imagens encontram-se, hoje, na grutinha. Atualmente, ela guarda em seu interior, um quadro de Sant’Ana e Nossa Senhora Menina, obra do Padre Antônio Nuñes, e um nicho com a imagem da Nossa Senhora de Lourdes, feita em mármore, a pedido do padre com a ajuda da população, tem tamanho maior do que o nicho original, o qual deveria ser colocada, com isso o padre aumentou e modificou essa estrutura mesmo sem autorização. Restaurada e entregue à comunidade, foi tombada como Patrimônio Afetivo do Município em 1991. Acima, a figura mostra a razão da necessidade do olhar atento para perceber esse patrimônio no espaço. A implantação da gruta fica na parte superior lateral da escadaria que interliga duas ruas em diferentes níveis. Entretanto, foi construído logo ao lado um edifício residencial com onze pavimentos que esconde e oprime a gruta. O acesso de veículos ao prédio se dá por meio de uma rampa que interrompe a passagem das pessoas da escadaria para a gruta, bem como da calçada para a mesma, não existindo assim, um acesso direto e prioritário à Gruta de Sant’Ana.

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Casa da Cultura

Contava o senhor Antônio Schneider, antigo morador de Guarapari nascido em outubro de 1898, que a atual Casa da Cultura foi construída em 1749, ainda que não existem registros que possam comprovar este dado, o prédio possui características arquitetônicas da época. Em meados do século XVIII, o Brasil colônia, aos poucos, deixava a arquitetura barroca e aderia às influências do movimento neoclássico, contexto visto na fachada simétrica, na simplicidade da forma, no uso de colunas nas sacadas e na varanda, ainda discreta. Figura 28.

Segundo o livro de Beatriz Bueno, o registro mais antigo encontrado é o livro “Guarapari é seu nome” do padre Antônio Nuñes, o qual cita a já existência do prédio em 1808. O edifício tornou-se a Câmara Municipal de Guarapari em 1927, quando passou por uma reforma na fachada e esta foi enriquecida com arabescos característicos da arquitetura eclética da época. Posteriormente, em 1971, o prédio foi abandonado pelas autoridades locais, por ser considerado pequeno e estar em péssimo estado de conservação. Assim, todo seu patrimônio se perdeu, restando apenas, uma mesa de reunião em madeira de jacarandá maciça. O edifício então, ruiu e só foi reconstruído em 1988, quando foram derrubadas algumas de suas paredes com 65 centímetros de espessura, mantendo-se somente as paredes laterais e a fachada. Em dezembro de 1993, o piso térreo do prédio foi utilizado como Espaço Cultural “José Augusto Castro” e Centro de Informações Turísticas; enquanto ao primeiro pavimento foi atribuído um museu. Seu acervo possuía peças valiosas cultural e financeiramente, em destaque 3 quadros doados que juntos valiam quinze mil dólares. Logo, sob o Decreto nº 274/96, a antiga Câmara

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Municipal abrigou o Museu Histórico Municipal vinculado à Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura. Entretanto, na administração subsequente, o secretário Carlinhos Bossa Nova desativou o museu e deixou que o acervo se desfizesse, alegando que “não gostava de velharia”. Por tanto, a Casa da Cultura já abrigou a Câmara Municipal, a Prefeitura e também uma cadeia pública, em sua última função foi a biblioteca pública, recentemente fechada. Detalhe da fachada da Casa da Cultura

Figura 29.

O famoso Radium Hotel foi inicialmente construído com a finalidade de ser uma Escola Naval, isso explica o seu formato em âncora. O edifício foi implantado em um local estratégico, no centro da cidade e em frente à praia Areia Preta, assim, a beleza paisagística e o valor terapêutico das areias radioativas, encontradas em abundância na praia, chamaram a atenção do Alberto Quatrini Bianchi, da empresa hoteleira Bianchi Hotéis e Turismo, com isso, ele o arrendou do

Radium Hotel Figura 30.

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governo do estado, sob o mandato do governador Jones dos Santos Neves, por 10 anos, sendo prorrogado por mais 5 anos. Inaugurado em 1953, o prédio foi transformado em hotel cassino de padrão internacional, contando com 3 pavimentos, 37 apartamentos e 26 quartos, sendo duas suítes especiais para as autoridades. Contando com uma área de quase 10.000 m², ele possui um traçado simples com referência na arquitetura neocolonial, onde tentou-se buscar um desenho genuinamente brasileiro, sem arabescos e muitos detalhes, tem suas paredes pintadas em branco e suas portas e janelas com destaque em azul e diferentes tamanhos. A empresa dispunha de aviões para transportar seus importantes hóspedes e clientes, dos quais faziam parte a elite política e social do país, bem como turistas vindo de vários países ao redor do mundo. Para atender a essa demanda, logo foram construídos o aeroporto e a ponte, visto que a travessia de um lado ao outro da cidade era feita por meio de balsas e canoas. O arrendatário do hotel, a partir da divulgação do mesmo, e o médico dr. Silva Mello, por levar amostras da areia à Berlim para serem analisadas as suas propriedades medicinais, foram os pioneiros na publicidade de Guarapari. Ainda que os cassinos eram proibidos no Brasil pelo decreto-lei 9215 de 1946, o cassino apenas encerrou as atividades em 1964. A parte hoteleira passou a ser administrada pela Empresa Capixaba de Turismo (EMCATUR), assim entrou em decadência e foi interditado pelo Corpo de Bombeiros em 1992. O hotel foi depredado, lacrado pela justiça em 1998 por dívidas trabalhistas e, apenas em 1993, foi acordado um comodato entre o município e o governo do estado para destinar a utilização em atividades Fachada do Radium Hotel culturais e sociais. Em 1998, foi tombado Figura 31. como Patrimônio Histórico Cultural pelo Conselho Estadual de Cultura, mas posteriormente penhorado pela Justiça do Trabalho para garantir o pagamento das dívidas. O déficit foi liquidado e o governo estadual recuperou a posse em 2004. Hoje, a associação de moradores e grupos sociais lutam para que o hotel tenha um fim cultural e seja preservado.

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“Quer viver o sonho lindo Que eu vivi? Vá viver a maravilha De Guarapari. Um recanto que os poetas E os violões Não conseguem descrever Nas mais lindas canções. Pelas suas noites claras, A lua serena Vem brindar os namorados Na areia morena. Ninguém poderá sonhar Nem viver o que eu vivi Longe desta maravilha Que se chama Guarapari.” Pedro Caetano Guarapari

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PERCEPÇÃO ESPACIAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE GUARAPARI

04


4.1 Metodologia da Anamnese O diagnóstico de como o processamento neural pode impactar na percepção espacial do patrimônio histórico cultural se baseia na metodologia adotada por Melissa Oliveira, Rachel Zuanon, Cláudio Ferreira, Evandro Monteiro e Haroldo Gallo, nos artigos: “Memórias e mapas cerebrais: representações do medo, do risco e da insegurança em áreas urbanas centrais” e “Arquitetura em mente: memórias afetivas dos idosos e as percepções espaciais de uma área central da cidade”. Por tanto, a metodologia adotada para esta anamnese, compreende quatro etapas: (1) preparação do material para entrevista; (2) entrevistas semiestruturadas com pessoas de diferentes idades e grupos sociais; (3) compilação, transcrição e análise sistematizada dos dados coletados; (4) definição de um cenário estratégico para aplicação prática em prol de gatilhos mentais na percepção espacial do patrimônio. Na fase (1) de preparação do material para entrevista optou-se por desenvolver dois tipos de questionários: (a) o voluntário, primeiramente, desenvolve um desenho à mão livre a respeito de como o Centro está representado na memória do voluntário, sem que seja citado o patrimônio, conforme anexo A e, posteriormente, aplica-se três questões focadas na percepção e na influência do patrimônio da cidade na vida e no cotidiano desta pessoa, anexo B; (b) nesta outra, o questionário ocorre de forma virtual e, também, configura-se em duas etapas, a primeira com seis perguntas relacionadas com a vida do voluntário e aspectos pessoais sobre lembranças e conhecimento, também, sem citar o patrimônio histórico-cultural, já a segunda etapa, com quatro perguntas mediante exibição de registros fotográficos dos bens patrimoniais, a fim de entender se o voluntário conhece e/ou reconhece a história e o patrimônio da cidade, visto no anexo C. A seleção do público alvo dos questionários se deu em dois grupos distintos com base na faixa etária, isto é, para o primeiro questionário os voluntários apresentam até 17 anos de idade e são estudantes de escola da rede municipal; para o segundo questionário não houve requisito.

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Na fase (2) de entrevistas, são aplicados os questionários de acordo com o público alvo previamente estipulado com base na faixa etária do voluntário, sendo a idade mínima 14 anos, não havendo idade máxima. Para o primeiro tipo de entrevista, anexos A e B, contatou-se a professora Fernanda Geraldo, discente de artes na Escola Municipal de Ensino Fundamental Candida Soares Machado, para a realização da pesquisa com seus alunos. Assim, a entrevista ocorre em duas turmas do 9º ano do ensino fundamental. No segundo modelo de entrevista, utilizou-se a plataforma digital do Google para realização de questionários e disseminou-se o link por meio da rede social Whatsapp. É importante ressaltar que, além dos questionários impressos, o primeiro grupo, recebeu o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), para preenchimento e assinatura acordando a voluntariedade na pesquisa e autorização para a publicação na mesma. A fase (3) de compilação, transcrição e análise sistematizada dos dados coletados, consiste, previamente, na compilação das informações recebidas de cada tipo de entrevista, em seguida, empenha-se na identificação, para o tipo 01: (1) da representação do espaço/lugar, o qual é definidor da identidade do centro na visão de cada voluntário; (2) do estímulo neural, a partir do uso da palavra “patrimônio”, da memória afetiva do participante; (3) da possível correlação entre as memórias evocadas. Para o tipo 02: (1) da relação destes com a cidade e nas memórias que eles têm sem nenhum estímulo; (2) das possíveis lembranças a partir de estímulos visuais baseados em registros fotográficos do patrimônio; (3) da plausível correlação entre as memórias evocadas e reevocadas. Finalmente, os resultados são sistematizados identificando o grau de memória e influência que o patrimônio realiza na vida do habitante/usuário, e com isso, na porventura, percepção espacial deles na cidade. Na fase (4) diagnóstico da percepção: definição de um cenário estratégico para aplicação prática em prol de gatilhos mentais na percepção espacial do patrimônio, com os resultados sistematizados, é possível verificar se o patrimônio exerce, atualmente, o papel de transmitir memórias e sensações nos habitantes/usuários da cidade. Assim, identifica-se e estimula-se: (1) as potencialidades que ele possui; (2) os objetos e ações de interesse da população; (3) as estratégias para o conhecimento e domínio da história de Guarapari, expressada a partir do que é de interesse da comunidade; (4) a apropriação e transmissão das sensações para a percepção espacialmente ativa do patrimônio.

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4.2 Anamnese O PRIMEIRO GRUPO A entrevista ocorrreu com a ida da autora à escola durante o horário da aula da professora acompanhante. Foram entrevistados um total de 58 alunos, incluindo as duas turmas de nono ano previamente combinadas: Total de Respostas Obtidas

8

58

50

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Dentre os que responderam ao questionário: Alunos que fizeram um passeio escolar afim de visitar alguns bens, realizado em outro momento com a discente de português

Desenhos relacionados a:

5

3

2

1 1

16 7 50

50

10

45

10

Dentre as respostas “sim”, pontuação

Visitação a algum patrimônio de Guarapari:

do bem visitado

3 2

10

10 27

17

50

40

17

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19

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Memória em relação ao bem, entre o grupo que disse “sim”para visita:

Influência deste bem no cotidiano:

1

2

2

3

13

13

9 40

50 26 11 10

Relatos: “Posto dos Jesuítas, Tigrão e Radio Hotel e as Ruínas. Eles são bem antigos esses patrimônios, e históricos que refletem a cultura da cidade, eles me trazem uma sensação histórica” (Victória Vasconcelos da Silva, 17 anos) “Poço dos Jesuítas, Ruínas, Igreja Católica ‘Matriz’, Radium Hotel. Ruínas eu me lembro que é realmente ruínas, restos, tudo acabado. Radium Hotel é bem antigo também, e é bom ver coisas que fazem parte da história da nossa cidade” (Layza Souza Santos, 15 anos) “Radium Hotel. Só vi por fora. Vejo toda vez que vou no Santo Antônio [supermercado]” (Yasmim Tavares Santos, 15 anos)

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“Poço dos Jesuítas, Ruínas da Igreja, Igreja Católica Matriz, Radium Hotel. [Lembro] Quando a professora de português levou alguns alunos para conhecer o famoso Radium Hotel” (Maria Eduarda Santos Deiró, 15 anos) “Poço dos Jesuítas, Dino, Marlim, Ruínas, Igreja Matriz. Eu lembro do poço dos jesuítas e das ruínas, onde a professora Fernanda contou a história dos monumentos. E a Igreja Matriz onde foi a formatura da minha mãe” (Luís Fabiano Santos Alcântara, 14 anos) Desenhos:

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O SEGUNDO GRUPO A entrevista ocorreu por meio virtual com intermédio da plataforma Google. Obteve-se um total de 105 respostas, contudo tiveram algumas perguntas que determinados participantes não responderam, podendo assim, variar o total.

Faixa etária dos participantes:

8 9

28

16

101

22 18

72

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Nascidos em Guarapari:

Tempo que residem a cidade: 12

6

3 2

10

101

101 57

23 90

Lugares importantes da cidade, na visão dos entrevistados: 6

6

7 7

45

8

Ressalto ainda, que alguns participantes citaram os Quilombos, a feira e o mercado de peixe, as cachoeiras e alguns bairros como Muquiçaba e Meaípe.

8 15 34

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Memória/lembrança da época em que o participante era criança/jovem na cidade:

O participante conhece a história da cidade: 6

30

99

42

102

54

69

Identificação dos bens nas imagens mostradas:

Total de respostas: 103 74

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Influência desses bens no cotidiano:

Total de respostas: 83

Conhece a história dos bens: 6

33

103 61

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Relatos de memórias/lembranças na cidade: “A cidade era mais bucólica, ruas de areia, sem calçamento e sem prédios, portanto tranquila e ensolarada. As pedras livres de construções, podíamos caminhar por elas e nas noites enluaradas com ou sem violão cantávamos serenata. Na Praia das Castanheiras e em duas casas que tinham quadra de Vôlei, eram realizados torneios. Quando adolescente todos amigos e familiares, íamos ao Morro da Pescaria pegar pita para fazer jangada, mamãe costurava a vela de saco de açúcar e Lelete - filha de pescadores e depois Professora de EF no Polivalente, fazia a amarração da jangada e todos passeávamos de jangada na Prainha de Muquiçaba. Esta é uma Pequena descrição de ‘Guarapari das minhas saudades’” (Beatriz Vieira Bueno, acima de 70 anos) “A cidade era nossa, como se houvesse uma única família. Brincávamos nas ruas, sem qualquer perigo; em época de festa religiosa, todas as pessoas se uniam para ajudar, inclusive as pessoas que moravam no interior. Na época de comemorações de datas cívicas, as familias, mesmo as mais pobres, não mediam esforços em arrumar os filhos, conforme personagem que iriam representar. Àquela época, todos me pareciam pobres, porque nas escolas, igreja, praias, ruas, festas, éramos iguais” (Alda Regina Castro, acima de 70 anos) “O cheiro do verão (maresia), vento nordeste forte e em toda cidade, casas de arquitetura praiana, batucada, puxar rede de pesca, tamancos, coreto da praça, banda de musica e tantas outras coisas...” (Ludmilla Dutra, entre 50 à 60 anos) “Dias de praia, verões agitados” (Kamila Grassi, entre 18 à 30 anos)

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Relatos da motivação pela degradação do patrimônio histórico-cultural: “Falta de investimento no turismo cultural da cidade, focando apenas nas praias. Além de serem mal sinalizadas ou em áreas em que a redondeza não as valorizem, como no caso da grutinha, que perde sua importância por ser escondida entre os prédios ao seu ao redor, e o fato da própria população desconhecer, muitas vezes, a existência delas (uma possível intervenção seria as escolas levantarem essa questão, fazendo passeios por elas e mostrando a história para as crianças)” (Yaritza Suhett Caiado, entre 18 à 30 anos) “Valorização exclusiva de praias. Falta de conhecimento histórico. Falta de divulgação. Falta de apoio político” (Marcus, entre 40 à 50 anos) “Falta de educação, cultura e consciência dos governantes e do povo” (Alex Rodrigues, entre 50 à 60 anos) “Os próprios moradores da cidade ou os nativos daqui não se preocupam verdadeiramente com a história do município, apenas na época do verão para atrair os turistas, muitas das histórias ninguém sabe ao certo, ou seja não tem interesse da parte deles passar a diante este conhecimento, vejo pessoas que não são daqui lutando para que estas histórias não se percam com o passar do tempo. A própria prefeitura não dá muito valor a isso. Colocam as placas indicativas e alguns destes lugares estão em ruínas verdadeiramente, como é o caso do Radium hotel, onde não temos acesso a várias áreas pois está tudo caindo aos pedaços literalmente, o piso comido por cupins e a infiltração acabando com o resto. Temos no Brasil muitas cidades com histórias antigas , e lugares fantásticos abertos a visitação e que te levam ao passado, e lugares muito bem conservados, esperando pelo público, como as Ruínas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, e muitas outras. Acredito que não é necessário gastar fortunas para manter estes lugares e sim uma manutenção adequada para que as pessoas não percam o interesse e assim manter viva a história por mais tempo” (Patrícia Ortiz, entre 30 à 40 anos)

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4.3 Diagnóstico da Percepção Os resultados enfatizaram a falta de informação e conhecimento a respeito do patrimônio históricocultural da cidade. No segundo grupo, ainda pôde-se perceber um certo vínculo dos participantes para com alguns bens culturais e preocupação com o atual estado de abandono. Já no segundo grupo, o resultado é alarmante, pois são adolescentes que serão o futuro da cidade, contudo, eles não têm vínculo ou preocupação com o patrimônio, se quer sabiam o que a palavra significa. Ainda que muitos relataram que passam pelo Radium Hotel na maioria das vezes que vão ao local, eles não conseguem percebe-lo efetivamente, o bem não exprime nenhuma importância ou vínculo afetivo para com esses voluntários. A maior parte dos voluntários do segundo grupo, pontuaram políticas públicas e o descaso do governo diante do patrimônio, consequentemente, da história de Guarapari. Contudo, a partir dos resultados obtidos e da análise dos dados, é visto a necessidade de transpassar o conhecimento histórico a respeito de cada bem, juntamente, da formação da cidade de Guarapari. Bem como, trazer insights ou gatilhos mentais no meio em que o patrimônio está inserido para que chame atenção do habitante/usuário que esteja usando o local, além da participação efetiva das pessoas para que crie um vínculo afetivo. No próximo capítulo serão apresentadas as possíveis estratégias definidoras da percepção ativa espacial, utilizando diretrizes definidas a patir dos resultados aqui obtidos, bem como, a base teórica vista anteriormente. Dentre essas diretrizes estão: (1) a inserção da arte para criar um vínculo pessoa x patrimônio; (2) o uso de plantas que despertem os mais variados sentidos e que, de alguma forma, estejam vinculadas a identidade do bem; (3) a participação da população, direta ou indiretamente, nas estratégias levantadas; e (4) a identidade da população.

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percepção espacial do patrimônio cultural de Guarapari


percepção espacial do patrimônio cultural de Guarapari

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DA IDEIA À AÇÃO

05


EVOLUÇÃO Conceito + Partido Já sentiu um cheiro e teve automáticamente o pensamento transportado para outro lugar, outra época? Como visto nos capítulos anteriores, o estímulo dos sentidos influencia diretamente no armazenamento das memórias, bem como esses mesmos sentidos podem, facilmente, evocar lembranças emocionais. A intenção desta pesquisa é buscar soluções que ajudem na construção sensitiva da consciência coletiva por meio de elementos que evoquem memórias, tanto passadas - contando histórias - como a formação de novas. Foram pensados em diversos elementos que poderiam configurar um possível cenário de desenvolvimento de uma cultura urbana focada na afirmação da identidade local, para então, efetivar a percepção espacial do patrimônio históricocultural da cidade.

82

da ideia à ação


PALETA CROMÁTICA Impressões Psicológicas A identidade visual do trabalho foi desenvolvida com base na paleta criada pela autora, composta por cinco cores, entre elas: primárias (azul e vermelho); secundárias (laranja e verde) e mista (rosa). De acordo com HELLER, 2000, escritora e cientista social, em seu livro “A Psicologia das Cores: como as cores afetam a emoção e a razão”, cada acorde de cores caracteriza um sentimento ou uma impressão e a combinação das cinco cores citadas acima causa o salutar.

O azul e o rosa foram escolhidos primeiramente por serem as cores da bandeira do estado do Espírito Santo, fazendo referência às cores das vestes de Nossa Senhora da Vitória, padroeira da capital do estado, Vitória. Contudo, a tonalidade de ambas as cores foi alterada de acordo com a harmonização criada. Ainda segundo Eva Heller, o azul simboliza todos os sentimentos bons, é a cor associada ao divino, a cor da eternidade, ou seja, as pessoas o relacionam àquilo que é imutável, que durará para sempre. Sendo assim, ela não só um elemento ativador de boas sensações, mas também relaciona-se à preservação, posto no contexto do patrimônio histórico, cultural e social de Guarapari.

da ideia à ação

83


Tipicamente atribuída à feminilidade, o rosa é descrito por HELLER, 2000, como sendo a única cor pela qual ninguém pode atribuir algo negativo, portanto, simboliza a amabilidade, sentimentalidade e a cortesia. O mundo cor-de-rosa é irrealista por ser considerado demasiadamente belo para ser real. Nesse sentido, o ditado “think pink” (pense cor-de-rosa) expõe a maneira de pensar e viver de forma positiva sobre um mundo cinzento, o que para os franceses é “ces’t la vie en rose” (a vida é cor-de-rosa) expressando que a vida é um sonho e deve ser vivenciada da melhor maneira possível. Muitos críticos de arte acreditam que nas pinturas da Idade Média, quando os artistas destacavam casas no tom rosa em meio a uma cidade monótona, significava que eram nessas casas que os santos faziam seus milagres. Atualmente, no cotidiano frenético e automático das grandes cidades, é necessário perceber lugares, cores e ter experiências que tenham caráter ilusório, despertam estímulos sensoriais e imaginações. A paleta contempla outras três cores: vermelho, laranja e verde; sendo cada tom escolhido não só através da harmonização do acorde cromático, mas também pelos seus significados e impressões psicológicas. O vermelho, assim como o azul, é caracterizado como cor primária, ou seja, aquela coloração que não é obtida por meio da mistura de outras cores. Curiosamente, ele em seu estado mais puro é o chamado “magenta”, o que para muitos é um tom derivado do rosa ou do violeta; ao passo que a tonalidade conhecida pelo senso comum como vermelho puro é o vermelho misturado com um pouco do amarelo. Os tons do “vermelho terra” foram os primeiros conhecidos pelo homem ao pintar nas paredes das cavernas, dentre eles, o mais popular era o “vermelho ocre”, do qual originou-se o tom do vermelho escolhido nesta cartela. O vermelho está intrinsecamente ligado a história, enraizado em cada fase ou período da humanidade; a título de exemplo, é a denominação cromática mais antiga do mundo, por conseguinte foi considerado como fonte de força e poder, por uma crença mágica, o que levou ao seu uso abundante pela realeza europeia e pela Igreja durante a Idade Média, tendo caráter de nivelamento social e, atualmente, é visto com efeito estimulante sendo muito usado para o marketing. Esta cor representa a vida, a atividade, a agressividade e o dinamismo, e é associada à atitude que exige mais paixão do que compreensão ou razão, podendo-se dizer que ela permeia as emoções primárias mencionadas no capítulo anterior. A intenção geral deste projeto é a percepção do bem histórico-cultural na cidade por intermédio

84

da ideia à ação


da neurociência com, por exemplo, estímulos sensoriais e emocionais; para tanto, a cor laranja tem valiosa função, pois é, segundo Roland Hunt (Apud. ZOLAR, 2004, p. 60): “[...] uma ação libertadora sobre as funções corporais e mentais, aliviando repressões [...]”. Também enfatizado por HELLER, 2000, esta cor alegra o corpo e a mente, ela nem é o vermelho com seu alto grau de excitação tampouco o amarelo, leve e pacífico, sendo assim, é a cor estimulante e, para os chineses, representante da transformação. No budismo é a cor do mais alto grau da perfeição, da sociabilidade e da energia. Para muitos, como mostra a sua pesquisa, o laranja relaciona-se diretamente com o aroma, o que por vezes, estimula também o paladar, tornandose assim, a cor aromática e saborosa. Como bem visto nas referências, o laranja é uma cor muito conceituada em países asiáticos, principalmente China e Índia. Acredita-se, pois, que o motivo é o conhecimento tardio da Europa pela fruta laranja, da qual originou-se a cor. E é, também, por esse mesmo motivo, que o europeu, bem como o brasileiro, não a enxerga com a mesma importância dos orientais. Por fim, a cor verde; na psicologia analítica de Carl Jung (Apud. URRUTIGARAY, 2008, p.125) “[...] as cores exprimem as principais funções psíquicas do homem, ou seja, pensamento, sentimento, intuição e sensação sendo representadas pelas cores: azul [...]; amarelo [...]; vermelho [...] e verde: cor da natureza, do crescimento no plano psíquico, função sensação.”. A simbologia do verde já é muito presente no cotidiano, é muito comum que as pessoas o usem para tudo aquilo que tem relação com o meio ambiente ou com o orgânico. Na arquitetura, por exemplo, a inserção da vegetação de forma contínua na paisagem urbana é chamada de corredores verdes, tal qual comércios ou serviços ligados a uma vida saudável e bem estar, em sua maioria, privilegiam o verde na sua identidade visual. Logo, esta cor, sobretudo o verde musgo, reconecta o homem à natureza, desperta memórias e sensações vividas no útero e também estimula sensações de sons e toques suaves.

da ideia à ação

85


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Estes parâmetros foram inspirados em “os doze critérios de qualidade” apresentados nos livros “A Vida na Cidade: como estudar”1 e “Cidades para Pessoas”² de Jan Gehl; e no diagrama de atributos das autoras Jeniffer Heemann e Paola Santiago descrito no “Guia do Espaço Público para Inspirar e Transformar”³. Após a análise da neurociência comportamental e ri perceptiva relacionada ao patrimônio cultural, formulou-se a quatro qualidades fundamentais que serviram como diretrizes para o desenvolvimento de intervenções de curto prazo e economicamente viáveis nos entornos imediatos dos bens históricosculturais elegidos dentro da poligonal de estudo.

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CRITÉRIOS DE 86

da ideia à ação


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A forma de apresentar os critérios de qualidade imprime referência à dança do congo, em uma projeção da saia usada pelas mulheres e suas posições nos passos da dança. A congada é uma expressão cultural e religiosa que o manifesta o canto, a dança, o teatro e a espiritualidade enraizada çã na cultura capixaba, onde originou-se dos povos indígenas e o m teve influência católica e africana. Para Guarapari, o congo é um E patrimônio cultural, o qual representa a história de comunidades como a do Perocão, Rio Claro, Mucambo e do Mestre Domingos.

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E QUALIDADE da ideia à ação

87


EXPERIÊNCIAS

Nasceu, dessa terra, um povo de sangue indígena, africano e europeu. Povo esse, que deixou sua marca em bens imateriais, em receitas suculentas e em bens construídos, dos quais são tema de estudo desta pesquisa os bens 88 religiosos e culturais.

Figura 36.

Figura 33.

Mo de

Figura 37.

Renda de Bilro

Bens Culturais

Mo Ca

Ma

Casaca das Bandas de Congo

Artesanato

Bo de

To Ca Figura 38.

Uma terra que harmoniza as belas praias e diversidade marinha com a paisagem montanhosa e encantadoras cachoeiras.

Bens Religiosos

Figura 34.

Em seus mais de 400 anos de história, Guarapari foi cenário de diversas manifestações culturais e acontecimentos históricos.

Comunidade Quilombola do Alto Iguape

Figura 35.

U ma p i ta d a d a s m a is d i v e rs a s exper i ê n c i a s d e G u a ra pa ri

Memória construída

Figura 32.

História e Cultura

da ideia à ação

Bens Residenciais

Co


Figura 48.

Figura 45.

Areia Monazítica Radioatividade

Figura 49.

Figura 40.

Pedra do Elefante

Figura 46.

Parque Estadual Paulo Cesar Vinha

Efeito Medicinal Figura 50.

oqueca apixaba

Mar e Montanhas

Figura 41.

oqueca e Banana

Figura 42.

olinho e Aipim

Cidade Saúde

Figura 39.

Gastronomia

ocada

da ideia à ação

Figura 47.

Areia Atômica: Extração e Exportação em Tempos de Guerra

Três Ilhas

Figura 51.

Figura 44.

orta apixaba

Figura 43.

ariscada

Cachoeira do Bravin

89


PICTOGRAMAS

Memória Construída

Memória Construíd

Bem religioso Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição 90

Bem religioso Ruínas da Igreja de Guarapari da ideia à ação


da

Desenhados em parceria com Willian Vailant, a sinalização do patrimônio históricocultural faz-se por meio de um pictograma específico para cada bem. Em traços livres e contornos imperfeitos, os pictogramas exprimem a ideia de ilustração objetiva e leve, como rabiscos; as cores da paleta cromática estão presentes contudo mudam a tonalidade em razão da luz e exposição, dando assim, destaques pontuais aos desenhos.

Memória Construída Bem religioso Gruta de Sant’Ana

da ideia à ação

91


Memória Construída

Memória Construíd

Bem cultural Poço dos Jesuítas 92

Bem cultural Casa da Cultura da ideia à ação


da

Memória Construída Bem cultural Radium Hotel

da ideia à ação

93


MOBILIÁRIOS URBANOS Fruto de uma necessidade observada na cidade, os desenhos do mobiliário urbano tiveram como base materiais como as ripas de madeira certificada e o aço galvanizado com pintura eletrostática preta. Foram projetados cinco famílias de mobiliário, mantendo um traçado mais regular e contemporâneo, que dialogasse com todas as qualidades de cenários que viessem a ser implantados, além disso, assegurando o curto prazo e o baixo custo de execução.

A 1 Ripas de madeira certificada

B

C

Postes de iluminação em LED A: Iluminação viária, poste à 7 metros, permitindo instalação em duas alturas, sendo implantada em vias arteriais B: Iluminação urbana, poste à 5 metros, implantada em vias coletoras C: Iluminação ambiente, poste à 4 metros, implantada em vias locais e no entorno imediato aos bens D: Balizador (70 centímetros de altura), direcionamento do tráfego tanto para pedestres quanto ciclistas

Aço galvanizado com pintura eletrostática preta 2

Lixeiras: individual com 60lts e dupla 2x60lts. 3

94

D

da ideia à ação

Paracilos


Bancos: se adequadam às diferentes necessidades e intenções; para estadias prolongadas acrescentamse encosto e braços laterais, bem como, o sistema modular possibilita alterar o comprimento

A B

A sinalização

Sinalização A: Tótem vertical indicativo, indica a C direção do patrimônio referido B: Tótem interpretativo, informação do patrimônio onde ele está situado C: Marco de distância para a rota “Os Passos de Anchieta”

Os elementos de sinalização foram propostos de forma a aproximar-se mais do conceito buscado pelo trabalho, não seguindo o padrão recomendado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

a

b

a

b

a

5

e

e

a

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c

b

4

a: Pictograma do patrimônio b: Nome do patrimônio e seta indicativa de direção c: Ilustração a ser desenvolvida em parceria com alunos de escolas das redes municipal e estadual. d: Texto informativo do patrimônio e: Nome do município (Guarapari, ES) f: Emblema da rota “Os Passos de Anchieta g: Nome da rota e km do marco

95


Figura 52

96

sociabilidade

iluminação em LED

ANTIGA MATRIZ


Antiga Matriz Nossa Senhora da Conceição

mobilidade e acessibilidade

conhecimento

13 Bem Religioso

Memória Construída

4

2

97


2

1

Mobiliário de descanso organizado de forma a incentivar a interação

Iluminação ambiente e balizadores

4 3

Ciclorota e paracilos

98

da ideia à ação

Corrimãos instalados nas ladeiras de acesso


Memória Construída

Gatilhos Mentais A

E

C 2

C

D

Bem Religioso

M U S E U

2

B 1 Módulo fixo do Museu à Ceu Aberto:

Antiga Matriz Nossa Senhora da Conceição

Este espaço caracteriza-se por seu traço retilíneo e simples, contudo focado em um complexo resgate à memória através de texto e ilustrações e de insights sensoriais. 1 Estrutura em aço galvanizado com pintura eletrostática preta; Pavimentação Calçada

2 Bancos de descanso em madeira certificada;

Elementos Ativadores A Pé de maracujá. Um dos frutos silvestres que os índios da região litorânea comiam; B Piso que imita terra batida em textura e cor. Piso da igreja na época da sua fundação;

Faixa lenta

Faixa rápida

Símbolo da rota “Os Passos de Anchieta”

C Expositor vertical que receberá as ilustração e narrativas contando a história da igreja e da cidade, sendo desenvolvido em parceria com alunos de escolas das redes municipal e estadual; D Expositor horizontal que apoiará a maquete tátil da igreja para que os deficientes visuais possam entender a sua forma e composição; E Artesanato: bastidores (exemplo na imagem ao lado) com bordados e com a renda de bilro. da ideia à ação

99


Figura 53

100

paisagismo

mobilidade e acessibilidade

iluminação em LED

RUÍNAS


Legenda Instalação da Companhia de Saneamento 01 Instalação da Companhia de Saneamento 02 Bem Religioso

Memória Construída

1

Ruínas da Igreja de Guarapari

TAC com a Companhia de Saneamento

dinâmica urbana

2

101


1

Flor de lótus

Iluminação ambiente e balizadores

Alec

A flor de lótus para muitas culturas representa o renasc triunfar diante das adversidades, assim, confere-se à ciência comprovou a crença ante ao potencial genético d da flor e da propriedade de manter a sua semente pre séculos.⁴ O alecrim é a erva divina, de acordo com uma lenda c germinado pela primeira vez no local onde Maria jogou a de Jesus. Essa erva exala um aroma marcante e para a função de ativar a memória.⁵ Ambas as plantas foram escolhidas, especificamente, p renascimento da flor de lótus equipara-se ao renascer da ruína, perpetuando-se enquanto patrimônio. Já o alecr cristão, aliando-se a igreja e na ciência enquanto gatilho Pavimentação Calçada

2

Faixa lenta

Ciclorota e paracilos 102

Sentido único da rua Extensão da calçada da ideia à ação

Faixa rápida

Símbolo da rota “Os Passos de Anchieta”


cigana, pois teria a água de banho a medicina tem a

para este local. O a igreja enquanto rim, em seu teor da memória.

Memória Construída

A Lei número 7.347, de 24 de julho de 1985, em seu artigo primeiro, dispõe ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados, entre outros, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; em seu artigo terceiro, possibilita a condenação em dinheiro ou o cumprimento de fazer ou não fazer; e em artigo quinto, parágrafo sexto, legitima os orgãos públicos a tomar dos interessados o compromisso de ajustamento de sua conduta, o chamado TAC, às exigências legais. Como visto no capítulo 2 deste trabalho, o entorno imediato das ruínas não foi preservado com devida qualidade de um patrimônio tombado. A implantação da companhia de saneamento (Cesan) rompe com qualquer vínculo paisagístico, afetivo e íntimo do bem para com a cidade e seus habitantes. Contudo, uma grande infraestrutura já foi firmada no local; retirá-la iria contra o preceito do trabalho de viabilidade e prazo. Logo, a proposta prevê: (1) a retirada dos muros frontais de ambas as instalações e do muro de fronteira na adjacente ao bem; (2) modificação da fachada; e (3) adequação ao pavimento da calçada proposto. Ficará por conta da empresa, a passagem subterrânea da fiação elétrica em um raio de 20 metros do bem histórico. Arte referente às placas de agradecimento a bençãos alcançadas que eram pregadas quando a ruína funcionava como igreja. Fachada instalação 01 Esc.: ilustrativa

Espelho d’água com parede revestida em azulejo ilustrado pelos alunos das escolas de rede municipal e estadual para plantar as flores de lótus. da ideia à ação

Fachada instalação 02 Esc.: ilustrativa

Bem Religioso

cer em plenitude, à longevidade; a de auto reparação eservada durante

Termo de Ajuste de Conduta

Ruínas da Igreja de Guarapari

crim

Gatilhos Mentais

103


Figura 54.

104

acessibilidade e sociabilidade

intervenção artística

GRUTINHA


Gruta de Sant’Ana

Bem Religioso

paisagismo

Memória Construída

iluminação em LED

1

105


Mural “Nossa Gente”

Abacateiro

Begônia

1

Iluminação ambiente e balizadores

106

Áreas de convívio e sociabilidade

Rampa ao centro da escada

Unha de gato Petúnia Plantas que, científic au


Memória Construída

Gatilhos Mentais

Dama da noite ca ou holisticamente, uxiliam na fertilidade

Elementos Ativadores Intervenção no muro da propriedade adjacente às escadarias da Gruta. A partir da arte urbana, representam-se as gerações de famílias de pescadores, artesãos e guaraparienses num geral que marcaram e fizeram história nessa cidade. Além de resgatar a identidade e o vínculo familiar, o mural fundamenta-se na narrativa de que Santa Ana, mesmo sendo considerada infértil, concebeu Maria, mãe de Jesus. Com isso, a arte homenageia a família em suas gerações descendentes. B A B O T Â N I C A

D 2

3

C

1

1 Estrutura em aço galvanizado com pintura eletrostática preta; 2 Rede de pesca; 3 Banco de descanso em madeira certificada. A Cachepot fixado na estrutura, em madeira certificada para as flores begônia; B Cachepot fixado na estrutura, em madeira certificada para as flores petúnia; C Cachepot fixado no piso, em madeira certificada para a planta lagrima de nossa senhora,

Gruta de Sant’Ana

G A L E R I A

Bem Religioso

Mural “Nossa gente”

da qual as sementes são utilizadas para desenvolvimento do rosário; D Cachepot pendurado na estrutura para ambas as flores begônia e petúnia.

107


Figura 55.

108

acessibilidade

vitalidade

POÇO DOS JESUÍTAS


109

Poço dos Jesuítas

Bem Cultural

Memória Construída

sociabilidade

paisagismo


Escada de acesso Quiosque

Poço dos Jesuítas

Palmeira

Paisagismo

Bananeira

Deck de permanência

Planta esquemática do entrono imediato ao Poço Esc.: ilustrativa

110

da ideia à ação


Memória Construída

Gatilhos Mentais Elementos Ativadores

4

Caminho da Fonte

2

1

Escada de acesso ao Poço dos Jesuítas: 1 degraus em madeira certificada; 2 toras verticais em madeira certificada; 3 mosáicos de ilustrações históricas sobre os jesuítas e as lavadeiras; 4 conexão em aço galvanizado envolto de cordas náuticas.

4

Quiosque Pakuá

P A K U Á

Pakuá significa banana na língua nheengatu, língua que nasceu da mescla dos dialetos indígenas do Brasil. Os jesuítas ao chegarem, encontraram mais de 50 dialetos diferentes, assim, os documentaram e unificaram em um idioma comum entre colonizadores, indigenas, escravos e colonos6.

Bem Cultural

3

3

1

a ad

ch

Fa

B

B

V

2

2 Piso que imita a terra batida em textura e cor;

Fa

ch

ad

A

V

1 Estrutura em aço galvanizado com pintura eletrostática preta;

5

aA

Fachada A Esc.: ilust.

3 Cobertura em fibra de bananeira trançada (como a trama dos balaios das lavadeiras) e tratada. 4 Telha sanduíche com isolamento termoacústico; 5 Paredes com revestimento que imita o estuque branco. B Parede para lembranças deixadas pelos peregrinos; C Parede para ilustração da história da cidade resumida e mapa demonstrativo “olá peregrino, você conhece nossa história?”.

C

Fachada B Esc.: ilust.

A Balcão revestido em lamina de fibra da bananeira;

Poço dos Jesuítas

A C E S S O

111


Figura 56.

112

vitalidade em uso e paisagem

acessibilidade

CASA DA CULTURA


Bem Cultural

Memória Construída

2

Casa da Cultura

dinâmica urbana

sociabilidade

intervenção artística

1

113


Iluminação ambiente e balizadores

Faixa de pedestre artística “essa rua é nossa”

1

Extensão da calçada U S O S

A

Rampa de acesso em todo o perímetroda calçada

A Arte do Cin

Elemento so madeira e aç ao ser ilumin manifestação

B Recanto dos Poetas

À Casa da Cultura é propos Devido a sua localização em residencial, este serviço cotidianamente. O café conc a biblioteca/livraria, um loc livros à disposição para ler in

Pavimentação da via: A: Asfalto B: Paralelepípedo

2

Lavanda 114

C U L T U R A I S


Memória Construída

Gatilhos Mentais Elementos Ativadores

nema

ombreador de dia e cinema ao escurecer. Em ço galvanizado, ele possui recortes superiores que nado pelo sol exprime palavras que incentivam a o artística.

1

3

Relocação da feirinha hippie que existia no local, mas devido a uma reforma na pracinha foi retirada e encontra-se hoje no Radium Hotel dividindo espaço com a feira de lá. 1 Estrutura em aço galvanizado com pintura eletrostática preta; 2 Cobertura textil translúcida; 3 Estande em aço e madeira; 4 Iluminação em LED. Os elementos sombreadores externos foram escolhidos na cor verde, na busca de aumentar a pregnância da paisagem visual da Casa da Cultura. O interior da edificação segue o pensamento pré Gestáltico, experiência passada, para isso são escolhidos elementos que mantém uma linguagem arquitetônica neoclássica.

da ideia à ação

Bem Cultural

Feirinha

Casa da Cultura

sto uma cafeteria conceitual. m uma zona majoritariamente atrairia mais pessoas ceito, mescla a cafeteira com cal onde pode-se encontrar n loco, alugar ou vender.

4

2

115


Figura 57.

116

vitalidade

dinâmica urbana

acessibilidade

RADIUM HOTEL


117

Radium Hotel

Bem Cultural

paisagísmo

Memória Construída

sociabilidade

intervenção artística


3 6

7

4

1 5

118

8

2


Piso antiderrapante vermelho com borda em amarelo, relembrando os cassinos Piso antiderrapante em madeira certificada Piso ecológico drenante, devido aos alagamentos no local

Memória Construída

Gatilhos Mentais Elementos Ativadores Piso antiderrapante terracota Grama 1 Radium Hotel 2 Espaço para feira estruturado em aço galvanizado, com coberturas sanduíche termoacústica e tela micro perfurada, em frente ao espaço de dança à céu aberto 3 Faixa de pedestres artísticas com dados e roleta 4 Ponto de ônibus em aço galvanizado, madeira, cobertura em tela micro perfurada e material textil azul

Bem Cultural

5 Banca de jornal existente, mas com nova estrutura em aço 6 Espaço para a feira sazonal e apropriações, como piquinique 7 Vitalidade com canteiro de flores e paraciclos 8 Elemento sombreador para execução de atividades ao ar livre, como yoga Araçá

N A T I V A

Chuva de Ouro

Caroba

Ipe Amarelo

Jatobá

Pau Brasil

Urucum

Jerivá

Goiabeira

Manacá da serra

Radium Hotel

M A T A

Aroeira-salsa

119


120


CONSIDE RAÇÕES FINAIS

06

121


MISSÃO A presente pesquisou buscou contribuir com os recentes estudos das neurociências entrelaçadas ao campo da arquitetura e urbanismo. Essa relação ainda é pouco explorada, em suas inúmeras facetas e possibilidades, contudo exerce um papel fundamental para o futuro das áreas, principalmente, para a arquitetura e o urbanismo. Hoje, o país se vê diante de uma pandemia e é necessário que fiquemos em casa, mas como estão nossas casas? Será que são agradáveis para a permanência e para exercermos todas as nossas funções? As pessoas se viram perante a, quase, obrigatoriedade de parar, de respirar e, principalmente, desacelerar - a mente e o corpo. Então, neste momento, apenas diante da dificuldade, estamos observando o quão importante é que tenhamos um lar agradável, onde o bem-estar seja primordial e que expresse nossa personalidade, para que assim, passemos por esse difícil período com boa saúde mental, em equilíbrio e, também, produtivos em nossos afazeres. Perceba, então, como o meio é importante para o nosso corpo, como a relação mente x ambiente é crucial para uma vida saudável, prazerosa e com perspectivas para o futuro. Com o ambiente urbano ocorre à mesma maneira. Para que tenhamos uma vida urbana saudável é necessário que transformemos as cidades em ambientes com uma permanencia agradável e que, assim como os lares, prezem pelo bem-estar e personalidade/identidade. Como visto no capítulo “Resgate de Conceitos”, o que melhor expressa a identidade de um povo, do que seus bens patrimoniais naturais, imateriais e materiais? Guarapari é uma cidade rica em história, em heranças e culturas, embora, ainda precisam ser reconhecidas, sentidas e percebidas, afim de perpetuarem nos caminhos da vida.

122

considerações finais


VISÃO Diante de uma rica e profunda investigação teórica sobre o que são as neurociências, como a mente humana se tornou o que é hoje e como ela funciona, bem como o que representa o patrimônio, qual a importância da sua efetiva preservação e, especialmente, como essa relação é fundamental para uma vida prazerosa; o trabalho desenvolveu estratégias para que o bem histórico-cultural seja preservado, com tudo não como um monumento intangível, mas como uma herança da humanidade, algo que pertence às pessoas e elas possam sentí-lo e percebe-lo. Foram definidas diretrizes, transcritas aqui, como critérios de qualidade, com a finalidade de intervir no entorno do patrimônio cultural da cidade, assim, até para a pessoa mais distraída, os bens seriam perceptíveis e a sensibilizaria. Este trabalho foi visto com um olhar sensível, capaz de entender cada bem com a sua peculiaridade, para então, ser proposto um plano de ações e elementos que imprime a essência daquele local e, ainda, sem deixar de lado os aspectos técnicos do urbanismo, como a acessibilidade, a segurança e melhorando a infraestrutura da poligonal definida para o estudo. As estratégias buscam estimular todos os sentidos, na pretenção de engatilhas memórias, bem-estar e prazer. A simplicidade da cidade, dos seus habitantes e o cenário municipal, resultaram em medidas que fossem economicamente viáveis, de fácil aplicação e que pudessem ser implementadas em curto espaço de tempo, contudo, não diminuindo a importância das intervenções, tão pouco o possível impacto que elas podem causar nos habitantes/usuários de Guarapari. Para tanto, o estudo seguiu determinados valores: Ética e moral; Responsabilidade e respeito com a história e a identidade Amor ao desafio proposto Soluções sensíveis e perceptíveis

considerações finais

123


ANEXOS

124


125


ANEXO C

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NOTAS CAPÍTULO 2: 1 LENT, Roberto. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2010 2 ROSA, Guilherme. Hábito de Cozinhar Desenvolveu o Cérebro Humano. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/ ciencia/habito-de-cozinhar-desenvolveu-o-cerebro-humano/> Acesso em: 17 de abril de 2020. 3 SILVA, Marcelo. Neurociências e artes: curso livre. 17-18 de abr de 2020. Notas de aula. 4 MACHADO, Ângelo B.M.; HAERTEL, Lúcia M. Neuroanatomia Funcional. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014. 5 RIZZOLATTI, G.; FADIGA, L.; GALLESE, V.; FOGASSI, L. Premotor cortex and the recognition of motor actions. Cognitive Brain Research, 3, 131-141, 1996. 6 A sinapse é uma área entre neurônios, onde os neurotransmissores conduzem o impulso nervoso de um neurônio a outro ou a uma célula muscular ou glandular. MACHADO, Ângelo B.M.; HAERTEL, Lúcia M. Neuroanatomia Funcional. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014. 7 DAMÁSIO, Antônio. Erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano. São Paulo: Schwarcz S.A., 1994. 8 A somestésica é a capacidade de receber estímulos ou informações de diferentes partas do corpo. MACHADO, Ângelo B.M.; HAERTEL, Lúcia M. Neuroanatomia Funcional. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014. 9 A via ventral é um dos principais caminhos por onde as informações do córtex visual primário são transmitidas até o lobo temporal. MACHADO, Ângelo B.M.; HAERTEL, Lúcia M. Neuroanatomia Funcional. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014. 10 APIEZINKAS, Aline. Do patrimônio histórico ao patrimônio cultural: diálogos e interações na aplicação das políticas públicas de preservação. Habitus. Goiania. V.6, n 1/2, p 67-101, jan./dez. 2008.

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CAPÍTULO 3: 1 RODRIGUES, Acácio. Colonização do ES: historiador diz que biodiversidade humana do estado foi perdida. Disponível em: <https://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/05/2019/colonizacao-do-es-historiador-diz-que-biodiversidadehumana-do-estado-foi-perdida> Acesso em: 10 de setembro de 2019. 2 História. Prefeitura de Guarapari Espírito Santo. Disponível em: <https://www.guarapari.es.gov.br/pagina/ler/14/historia> Acesso em: 10 de setembro de 2019. 3 BUENO, Beatriz. Guarapari Muito Mais que um Sonho Lindo. 1ª ed. Brasília: Thesaurus, 2011. 4 FILHO, José A. F. Sobre a Emancipação Política de Guarapari. 1ª ed. Guarapari, 2019. 5 PATRÍCIO, Rafaela. Câmara rejeita vetos do prefeito e município vai poder instalar geradores nas unidades de saúde. <https://www.cmg.es.gov.br/noticia/ler/2036/camara-rejeita-vetos-do-prefeito-e-municipio-vai-poder-instalar-geradores-nasunidades-de-saude> Acesso em: 20 de outubro de 2019. CAPÍTULO 5: 1 GEHL, Jan; SVARRE, Birgitte. A Vida na Cidade: como estudar. 1ª ed. São Paulo, 2018. 2 GEHL, Jan. Cidade para Pessoas. 3ª ed. São Paulo, 2017. 3 HEEMANN, Jeniffer; SANTIAGO, Paola. Guia do Espaço Público para Inspirar e Transformar. 2015. 4 FIGUEIRA, André; VIEIRA, Paulo. Flor de Lótus: significado holístico e científico. Disponível em: < https://www. psicanaliseclinica.com/flor-de-lotus/> Acesso em: 06 de fevereiro de 2020. 5 YACHAY, Qoya. O poder das flores. Disponível em: <https://sagradofeminino.qoya.shakti.org.br/o-poder-das-flores-opovo-flor-significado-flores/> Acesso em: 06 de fevereiro de 2020. 6 SIMAS, Diego; BARBOSA, Yêda. Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/ uploads/publicacao/dossie_19__sistema_agricola__web___12jul19.pdf> Acesso em: 02 de junho de 2020. FREITAS, Ana. Nheengatu, A Língua (não tão) Perdida Comum dos Índios, dos Escravos e dos Jesuítas. Disponível em: <https://pt.babbel.com/pt/magazine/nheengatu-a-lingua-nao-tao-perdida-comum-dos-indios-dos-escravos-e-dos-jesuitas> Acesso em: 02 de junho de 2020.

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CRÉDITO DAS IMAGENS Figura 1. Teoria evolucionista de Darwin. Fonte: Ciencianautas, adaptado pela autora. Disponível em: https://ciencianautas. com/de-lucy-a-nos-quanto-mudou-o-cerebro/ Figura 2. Organização anato-funcional do sistema nervoso. Fonte: Wikimedia, adaptado pela autora. Disponível em: https:// commons.wikimedia.org/wiki/File:Nervous_system_diagram_numbered.svg Figura 3. Encéfalo. Fonte: Wikipédia, adaptado pela autora. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Encéfalo Figura 4. Cérebro - telencéfalo. Fonte: Toda Matéria, adaptado pela autora. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/ cerebro/ Figura 5. Neurônios-espelho. Fonte: Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola. Disponível em: http://cpfg.blogspot. com/2012/05/neuronios-espelho-uma-grande-descoberta Figura 6. Sinapses. Fonte: A Mente é Maravilhosa. Disponível em: https://amenteemaravilhosa.com.br/tipos-de-sinapsescomunicacao-neuronal/ Figura 7. Sistema límbico. Fonte: News Medical, adaptado pela autora. Disponível em: https://www.news-medical.net/health/ Limbic-System-and-Behavior-(Portuguese).aspx Figura 8. Homúnculo sensitivo. Fonte: Sharp Brains. Disponível em: https://sharpbrains.com/blog/2006/10/04/brain-exercisewho-is-this/ Figura 9. Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. Fonte: Portal 27. Disponível em: https://www.portal27.com.br/pesquisaguarapari-428-anos-nao-122/ Figura 10. Fragmento da carta do Pe. Francisco Pires ao Pe. Manoel da Nóbrega. Fonte: FILHO, J. A., 2019, n.p. Figura 11. Carta geográfica atribuída a Fernão Vaz Dourado, em meados do século XVI. Fonte: FILHO, J.A., 2019, n.p. Figura 12. Detalhe da carta geográfica de Fernão Vaz Dourado, onde pode ser observado o nome de Guarapari. Fonte: FILHO, J.A., 2019, n.p. Figura 13. Detalhe da carta geográfica de João de Teixeira Albernaz de 1671, onde se vê representada Guarapari, a serra (hoje chamada de Buenos Aires) e os engenhos de Marcos Fernandes Monsanto. Fonte: FILHO, J.A., 2019, n.p. Figura 14. Brasil com ênfase no sudeste. Fonte: InfoEscola, adaptado pela autora. Disponível em: https://www.infoescola. com/geografia/mapa-do-brasil/ Figura 15. Espírito Santo; Grande Vitória; Guarapari. Fonte: Wikipédia, adaptado pela autora. Disponível em: https:// pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%ADrito_Santo_(estado)

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Figura 16. Guarapari. Fonte: Prefeitura Municipal de Guarapari, adaptado pela autora. Disponível em: https://www.guarapari. es.gov.br/documento?tipo=153 Figura 17. Recorte focado no maior uso e ocupação do solo. Fonte: Prefeitura Municipal de Guarapari, adaptado pela autora. Disponível em: https://www.guarapari.es.gov.br/documento?tipo=153 Figura 18. Mapa da área de estudo com enumeração dos bens patrimoniais, objetos deste estudo. Fonte: Prefeitura Municipal de Guarapari, adaptado pela autora. Disponível em: https://www.guarapari.es.gov.br/documento?tipo=153 Figura 19. Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, vista aérea. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 20. Interior da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 21. Óculo da Igreja para iluminar o altar. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 22. Placa de referência histórica da Igreja. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 23. Ruínas da Igreja de 1677. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 24. Detalhes arquitetônicos da fachada das Ruínas. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 25. Placa de referência histórica das Ruínas. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 26. Poço dos Jesuítas. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 27. Gruta de Sant’Ana, patrimônio afetivo de Guarapari. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 28. Casa da Cultura. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 29. Detalhe arquitetônico da fachada da Casa da Cultura. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 30. Radium Hotel, vista aérea, observa-se seu formato de âncora. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 31. Fachada frontal do Radium Hotel. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora Figura 32. Comunidade quilombola de Alto Iguape. Fonte: Portal 27. Disponível em: https://www.portal27.com.br/caminhadaecologica-neste-domingo-guarapari/ Figura 33. Renda de Bilro. Fonte: Catálogo do Artesanato Capixaba, 2012.

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Figura 34. Casaca das bandas de Congo. Fonte: Realidade Capixaba. Disponível em: https://www.realidadecapixaba.com/ tradicional-feira-de-artesanato-de-guarapari-comeca-dia-30-de-dezembro/ Figura 35. Artesanato. Fonte: Hora Agha. Disponível em: https://www.horaagha.com.br/mais-de-100-expositores-participaraoda-feinartg-com-apoio-da-aderes/ Figura 36. Bens religiosos. Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2020 Figura 37. Bens culturais. Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2019 Figura 38. Bens residenciais. Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2019 Figura 39. Bolinho de aipim. Fonte: A Gazeta. Disponível em: https://www.agazeta.com.br/entretenimento/gastronomia/ondecomer-em-guarapari-7-locais-que-sao-tradicao-na-cidade-saude-0120 Figura 40. Moqueca de banana. Fonte: A Gazeta. Disponível em: https://www.agazeta.com.br/entretenimento/gastronomia/ onde-comer-em-guarapari-7-locais-que-sao-tradicao-na-cidade-saude-0120 Figura 41. Moqueca Capixaba. Fonte: A Gazeta. Disponível em: https://www.agazeta.com.br/entretenimento/gastronomia/ onde-comer-em-guarapari-7-locais-que-sao-tradicao-na-cidade-saude-0120 Figura 42. Mariscada. Fonte: A Gazeta. Disponível em: https://www.agazeta.com.br/entretenimento/gastronomia/ondecomer-em-guarapari-7-locais-que-sao-tradicao-na-cidade-saude-0120 Figura 43. Torta Capixaba. Fonte: Tudo é Mara. Disponível em: https://www.tudoemara.com.br/onde-comer-torta-capixaba/ Figura 44. Cocada. Fonte: Rotas Capixabas. Disponível em: https://www.rotascapixabas.com/2010/11/01/a-moqueca-docuruca/ Figura 45. Areia Monazítica. Fonte: CBN Vitória. Disponível em: https://www.cbnvitoria.com.br/cbn_vitoria/entrevistas/2019/05/ estudo-analisa-se-areia-monazitica-de-guarapari-reduz-dor-no-joelho-1014180294.html Figura 46. Efeito medicinal. Fonte: G1, Globo. Disponível em: https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/areias-deguarapari-previnem-cancer-de-mama-diz-pesquisa-no-es.ghtml Figura 47. Areia atômica, extração e exportação em tempos de guerra. Fonte: Morro do Moreno. Disponível em: http://www. morrodomoreno.com.br/materias/contrabando-nos-poroes-dos-navios-em-guarapari.html/ Figura 48. Pedra do Elefante. Fonte: Capixaba da Gema. Disponível em: https://www.capixabadagema.com.br/cachoeira-doturco-buenos-aires-guarapari/ Figura 49. Parque Estadual Paulo César Vinha. Fonte: G1, Globo. Disponível em: http://g1.globo.com/espirito-santo/ fotos/2012/03/vejas-fotos-do-parque-estadual-paulo-cesar-vinha-em-guarapari-no-es.html#F389664 Figura 50. Três Praias. Fonte: A Gazeta. Disponível em: https://www.agazeta.com.br/es/gv/arquipelago-das-tres-ilhasparaiso-permitido-mas-ha-regras-para-visitar-0220

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Figura 51. Cachoeira do Bravin. Fonte: Tempo Real. Disponível em: https://www.ftemporeal.com.br/cachoeira-do-bravininterior-de-guarapari-um-local-inesquecivel-a-vontade-de-servir-bem-e-uma-tradicao-que-passou-de-pai-para-a-filha/ Figura 52. Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2020 Figura 53. Ruínas da Igreja. Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2020 Figura 54. Gruta de Sant’Ana. Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2020 Figura 55. Poço dos Jesuítas. Fonte: Google Maps Figura 56. Casa da Cultura. Fonte: Google Maps Figura 57. Radium Hotel. Fonte: Fotografia registrada por Crio Produções a pedido da autora

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BIBLIOGRAFIA APIEZINKAS, Aline. Do patrimônio histórico ao patrimônio cultural: diálogos e interações na aplicação das políticas públicas de preservação. Habitus. Goiania. V.6, n 1/2, p 67-101, jan./dez. 2008. BUENO, Beatriz. Guarapari Muito Mais que um Sonho Lindo. 1ª ed. Brasília: Thesaurus, 2011. CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. Lisboa: Edições 70, 2000. DAMÁSIO, Antônio. Erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano. São Paulo: Schwarcz S.A., 1994. FILHO, José A. F. Sobre a Emancipação Política de Guarapari. 1ª ed. Guarapari, 2019. História. Prefeitura de Guarapari Espírito Santo. Disponível em: <https://www.guarapari.es.gov.br/pagina/ler/14/historia> Acesso em: 10 de setembro de 2019. HELLER, Eva. A Psicologia das Cores: como as cores afetam a emoção e a razão. 1ª ed. Barcelona, 2000. HELLER, Lydia. Médicos Veem Relação Entre Vida Urbana e Distúrbios Mentais. Deutsche Welle, 2012. Disponível em: <https://www.dw.com/pt-br/médicos-veem-relação-entre-vida-urbana-e-distúrbios-mentais/a-16328906> Acesso em: 06 de setembro de 2019 HOLL, Steven. Questões de Percepção: fenomenologia da arquitetura. ArchDaily, 2011. Disponível em: <https:// www.archdaily.com.br/br/01-18907/questoes-de-percepcao-fenomenologia-da-arquitetura-steven-holl> Acesso em: 06 de setembro de 2019 KRISHNAMURTI, Jiddu. Fora da Violência. Londres: Cultrix, 1973. LEMOS, Carlos A. C. O que é um patrimônio histórico. São Paulo, Brasiliense, 1981. LENT, Roberto. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2010 MACHADO, Ângelo B.M.; HAERTEL, Lúcia M. Neuroanatomia Funcional. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014. MATTEI, Tobias Alécio; MATTEI, Josias Alécio. A cognição espacial e seus distúrbios: o papel do córtex parietal posterior. Revista neurociências, 2005. Disponível em: <http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2005/RN%20 13%2002/Pages%20from%20RN%20-13%2002-6.pdf> PATRÍCIO, Rafaela. Câmara rejeita vetos do prefeito e município vai poder instalar geradores nas unidades de saúde. <https://www.cmg.es.gov.br/noticia/ler/2036/camara-rejeita-vetos-do-prefeito-e-municipio-vai-poder-instalar-geradores-nasunidades-de-saude> Acesso em: 20 de outubro de 2019. RIZZOLATTI, G.; FADIGA, L.; GALLESE, V.; FOGASSI, L. Premotor cortex and the recognition of motor actions. Cognitive Brain Research, 3, 131-141, 1996. 134


RODRIGUES, Acácio. Colonização do ES: historiador diz que biodiversidade humana do estado foi perdida. Disponível em: <https://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/05/2019/colonizacao-do-es-historiador-diz-que-biodiversidade-humanado-estado-foi-perdida> Acesso em: 10 de setembro de 2019. ROSA, Guilherme. Hábito de Cozinhar Desenvolveu o Cérebro Humano. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/ciencia/ habito-de-cozinhar-desenvolveu-o-cerebro-humano/> Acesso em: 17 de abril de 2020. SILVA, Marcelo. Neurociências e artes: curso livre. 17-18 de abr de 2020. Notas de aula. YACHAY, Qoya. O poder das flores. Disponível em: <https://sagradofeminino.qoya.shakti.org.br/o-poder-das-flores-o-povoflor-significado-flores/> Acesso em: 06 de fevereiro de 2020.

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